Abril de 2012
Edição: Nome dos Editores Edição: Nome dos Editores
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Jornal Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 3 - Edição Nº 13 - Fevereiro de 2014
Or o e profundo g r a l r a c i f io s a Cader não quer chegar, m no Es pecial
Acúmulo de lixo pelas ruas de Mariana. A culpa é de quem?
Página 4
O samba de João Bosco em seus dias em Ouro Preto
Página 13
Os bastidores e os personagens do Carnaval de rua
Páginas 15 e 16
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Fevereiro de 2014 Arte: Cristiane Guerra
Editorial
Lixo que para, ribeirão que corre, carnaval que chega
Tirinha
"O correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta, esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem". (Guimarães Rosa) Coragem... É com ela que começa a 13ª edição do LAMPIÃO. Coragem de descobrir histórias, ou “estórias”, apresentar fatos e intrigar o que não é questionado, o que desde sempre permanece calado. Temos de ser francos e assumir que o “trágico não vem a conta-gotas”, e logo, temos um rio de problemas, mais precisamente, um ribeirão: o do Carmo, que nasce não sei lá onde pelas bandas de Ouro Preto e percorre as montanhas devagarinho até virar gente grande e chegar em Mariana. E como chega! Cheio de histórias, de causos, de contos e tristezas. E é envolto a tudo
isso que o Ribeirão se torna grande e passa a fazer parte da vida das duas cidades. Mas, é nesse “faz parte” que ele se entristece. Lixo, esgoto, descaso e abandono. Com o tempo, o Ribeirão se tornou invisível, mesmo cortando nosso cotidiano, e passou a receber indiferença e nosso lixo, nosso resto. E é justamente essa questão que o Caderno Especial retrata. O “Do Carmo” é nosso personagem principal. Mas, as cidades vão além do Ribeirão, e o lixo também. Aos cantos de Mariana, que não se prendem aos quatro, se amontoa nossa sujeira de cada dia, dia após dia. Culpa
nossa ou de quem? A expansão que fez surgirem novos bairros também trouxe novos problemas. Como ser cidadão onde sua casa não ”pertence” à cidade oficial? O Carnaval que bate à porta, e as escolas que “ensaiaram seu samba o ano inteiro, compraram surdo e tamborim” e podem voltar a desfilar nas ruas de Ouro Preto. E, por fim, o Zé Pereira, carinhosamente conhecido como zé… Mas de Mariana ou Ouro Preto? Independente delas, nosso Zé. O LAMPIÃO é feito para você, leitor. E também para que você o faça conosco.
poesia
Lampejos Queremos trabalhar o tripé: escola, biblioteca e família. No lar é que deve ser dado o pontapé inicial para o gosto de leitura. Idealizadora do projeto Poesia Viva, Andreia Donadon Leal - Pág. 14
Eu espero que com essa mudança nos nossos bolsos, também venha mudanças na qualidade e na distribuição de água. Morador do Bairro Antônio, Mauro Martins- Pág. 3
A história de Mariana com o Ribeirão do Carmo é de degradação desde o início. Há relatos de inundações desde 1730.
Mestranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ana Maia - Pág. 9
Santo
Quem nunca perdeu? A derrota faz parte do jogo e ensina a viver.
Vice-presidente do Tabajaras, Geraldo Magela Ferreira, “Ladinho” - Pág. 12
Estou no Coral desde que ele surgiu, eu tinha 10 anos, é muito bom fazer parte dessa história, é uma das coisas mais importantes da minha vida. Dona de casa Sueli Pereira, 63 anos - Pág. 13
A poesia foi enviada pelo leitor José Januário, morador de Mariana e catador de recicláveis; com toda sua simplicidade, ele deixa claro que tristeza é uma questão de prefixo
A agência é muito pequena. Precisa-se de mais caixas eletrônicos. A cidade cresceu, mas os bancos não acompanharam.
Turista de São Bernardo do Campo (SP), João Rosa da Silva, 55 anos - Pág. 6
Paula Bamberg
Entre Olhares
“Entendo que as palavras essenciais, as que me exprimem, estarão nessas folhas. Que não sabem quem sou, não nas que escrevo. Mais vale assim.”
Jorge Luiz Borges
Jornal Laboratório produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA) / Universidade Federal de Ouro Preto - Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Prof. Dr. Jose Benedito Donadon-Leal Presidente do Colegiado de Jornalismo: Prof. Dr. Ubiratan Garcia Vieira - Professores responsáveis: Adriana Bravin (Reportagem), Denise do Prado (Reportagem), Ana Carolina Lima Santos (Fotografia) e Priscila Borges (Planejamento Visual) - Editores chefes: João Gabriel Nani e Maria Fernanda Pulici - Sec. de redação: Gisela Cardoso - Editor de Arte: Osmar Lopes - Editor de fotografia: Thiago Anselmo - Editor Multimídia: Cristiano Gomes - Reportagem: Aldo Damasceno, Ana Elisa Siqueira, Bárbara Monteiro, Bianca Cobra, Daniella Andrade, Fernanda Marques, Hélen Cristiano, Isabella Madureira, Jéssica Michellin, Jéssica Moutinho, Kênia Marcília, Laura Vasconcelos, Lucas Machado, Marcos Resende, Marllon Bento, Mayra Santos Costa, Maysa Alves, Nathália Souza, Pablo Bausujo, Paula Bamberg, Pedro Carvalho, Rodrigo Pucci, Rosana Freitas, Tamara Pinho, Thiago Huszar - Fotografia: Bruna Fontes, Bruna Lapa, Daniela Júlio, Danielle Diehl, Éllen Nogueira, Fernanda Belo, Fernanda de Paula, Geovani Fernandes, Isadora Lira, Rosi Silveira, Teka Lindoso, Túlio dos Anjos - Diagramação: Carolina Brito, Caroline Gomes, Cristiane Guerra, Dayane Barreto, Ester Louback, Gabriel Koritzky, Hiago Maia, Janine Reis, Kaio Barreto, Mylena Pereira, Roberta Nunes, Thaís Corrêa, Viviane Ferreira - Multimídia: Marllon Bento, Rosi Silveira Revisão: Dalília Caetano, Filipe Monteiro, Gisela Cardoso, Israel Marinho - Monitoria: Isabela Azi - Colaborador: Neto Medeiros - Tiragem: 300 exemplares. Endereço: Rua do Catete, nº 166, Centro, Mariana - MG. CEP 35420-000
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Fevereiro de 2014 Arte: Caroline Gomes
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CIDADE
Plano Municipal de Saneamento Básico começa a ser discutido Elaboração do Plano marianense vai custar cerca de 500 mil reais e tem até 10 meses para ser concluída DANIELA KARINE
Maysa Alves Esgoto à céu aberto, falta ou má qualidade de água e enchentes são algumas das reclamações recorrentes por parte dos moradores de Mariana. Buscando solucioná-las, a Prefeitura Municipal de Mariana está prestes a criar um Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). Segundo o diretor executivo do Sistema Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), Valdeci Luis Fernandes Junior, o Plano consiste em um planejamento que envolve todas as áreas do saneamento: abastecimento de água; esgotamento sanitário; drenagem e manejo das águas pluviais urbanas; limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos. O PMSB é feito a partir de um levantamento que leva em conta os mananciais, captações de água existentes, tipo de água proveniente e o que é absorvido deles, número de estações de tratamento de água (ETAs), estações de tratamento de esgoto (ETEs), número de habitantes e consumo de água da população, entre outros aspectos. Por meio dessa sondagem é possível descobrir o que é utilizado desses recursos e estabelecer metas para suprir as necessidades do município. Além do fornecimento regular de água, que passará por todas as etapas necessárias de tratamento (coagulação, floculação, decantação, filtração, desinfecção, fluoretação e correção de pH), a população terá outros benefícios no âmbito da saúde. “Se o município tem um Plano de Saneamento Básico adequado e bem executado evitam-se enchentes, inundações, doenças vinculadas a esse tipo de situação, como leptospirose, hepatite A, viroses, leishmaniose, doenças do trato digestório, esquistossomose e verminoses”, explica o biólogo da Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Mariana, João Aranha. O biólogo ainda ressalta melhorias como a diminuição e o controle de pragas (como ratos e mosquitos transmissores de doenças) e bactérias, além de um melhor reaproveitamento dos materiais descartados pela população.
Ações de drenagem de águas pluviais contidas no plano prometem solucionar improvisos como este realizados pelo SAAE no bairro Cabanas
O Plano pretende atender a Lei Federal no 11.445 de 2007, que estabelece as diretrizes para o saneamento básico no Brasil, além de garantir que a população tenha total acesso a um sistema de saneamento básico de qualidade. Foram destinados aproximadamente meio milhão de reais para a contrução do PMSB. A presidente do Comitê Executivo, Rogéria Cristina da Trindade, conta que “a empresa contratada para redigir o Plano - a Engecorps - já está vindo à Mariana para colher os dados necessários e precisará de um acompanhamento ferrenho de todos os setores envolvidos”. Além da Engecorps, também estão envolvidas no processo de elaboração do Plano de Saneamen-
to Básico o Instituto BioAtlântica (IBIO), que é a Agência de Água na bacia hidrográfica do Rio Doce, e a Prefeitura Municipal de Mariana. O Plano Municiapal de Saneamento Básico começou a ser discutido oficialmente no dia 06 de janeiro deste ano e já tem previsão para ficar pronto. “Espera-se que o Plano seja elaborado e aprovado em dez meses a partir do lançamento oficial, previsto ainda para o mês de janeiro, e seja executado o quanto antes”, afirma Rogéria da Trindade. O projeto está em fase de planejamento de oficinas e reuniões com as lideranças de bairros e distritos, representantes das comunidades, para que a temática seja discutida de forma mais colaborativa e dinâmica possível.
ETAPAS DO SANEAMENTO BÁSICO Abastecimento de Água: desde a condução das águas pelo sistema de distribuição até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição (hidrômetros).
Esgotamento Sanitário: coleta, transporte, tratamento e disposição final de esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o lançamento final no meio ambiente.
Drenagem e Manejo das Águas Pluviais Urbanas: transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas.
Limpeza Urbana e Manejo dos Resíduos Sólidos: coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário de varrição e limpeza de ruas e vias públicas, além da recuperação de áreas degradadaspor lixões.
SAAE inicia a instalação de hidrômetros em Mariana DANIELA KARINE
Aparelhos já medem consumo de água em instituições e residências
Mayra Santos Cerca de 12.000 hidrômetros começaram a ser instalados em alguns bairros de Mariana. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), responsável pela instalação dos aparelhos, pretende mensurar os gastos da população para, em seguida, realizar um estudo tarifário. Depois disso, o SAAE deve iniciar a cobrança de água na cidade. As taxas sobre a consumação de água são uma das exigências do Governo Federal para liberação de recursos a serem empregados no saneamento básico da cidade. Segundo o controlador de perdas e consumo do SAAE, Jozimar Cota, “uma verba de 18 milhões, aproximadamente, está destinada ao SAAE para e execução de melhorias no sistema de distribuição e de qualidade da água. Ela só não foi liberada, pois ainda não cobramos água da população”. O SAAE também alega que a instalação dos aparelhos é necessária para ajudar a regular o consumo, coibindo o desperdício e melhorando a distribuição de água. A primeira fase de instalação dos hidrômetros foi em estabeleci-
mentos que consomem uma maior quantidade de água, como os órgãos municipais, empresas, hotéis, entre outros. Na segunda fase, os aparelhos foram destinados a algumas residências dos bairros Santo Antônio, Jardim dos Inconfidententes, Santa Rita de Cássia e Cruzeiro do Sul. Mauro Martins, morador do bairro Santo Antônio, teve um hidrômetro instalado em sua casa. Ele afirma que depois de tantos anos sem a cobrança, a conta de água pode assustar a população. “Seria mais uma conta no final do mês para pagar. Algumas pessoas são contra essa cobrança por Mariana estar em uma região com muitos rios e muita água. Eu espero que com essa mudança nos nossos bolsos, também venha mudanças na qualidade e na distribuição da água”, disse ele. Atualmente, cerca de 30% da água consumida em Mariana não passa por nenhuma estação de tratamento. De acordo com a proposta do SAAE, a tarifação vai possibilitar a ampliação do volume de água tratada, pois deve viabilizar a criação de novas Estações de Tratamento de Água (ETA) na cidade.
O SAAE ainda pretende realizar a instalação de hidrômetros em outros bairros de Mariana, atingindo um maior número de estabelecimentos. Para atender o aumento da demanda de equipamentos, uma empresa terceirizada vai ser contratada para dar continuidade às instalações. A terceirização de serviços é também importante em função dos cuidados exigidos pelo Iphan. Conforme determinações do Instituto, a implantação dos aparelhos no centro histórico não deve causar danos ao patrimônio público. As tarifas de água serão destinadas em primeiro lugar para os maiores consumidores, como empresas e comerciantes. As residências somente serão cobradas em um segundo momento. Ainda que o prazo para o início das cobranças não tenha sido anunciado, as previsões são de médio a longo prazo para a adoção da medida. Mesmo sem datas definidas para a cobrança, o SAAE dará início a uma campanha informativa. O objetivo será orientar a população sobre os planejamentos e futuras mudanças em relação à questão da água.
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Fevereiro de 2014 Arte: Mylena Pereira
CIDADE Túlio dos Anjos
Lixo jogado por estabelecimentos comerciais e pela população deixa em segundo plano o encanto dos pontos turísticos de Mariana. A Praça da Sé é um dos principais exemplos deste descaso
Um problema (in)visível
Indiferença do poder público e falta de conscientização dos moradores com o lixo reflete-se nos locais públicos Túlio dos Anjos
Pedro Carvalho Andando pelas ruas de pé-demoleque da cidade de Mariana, é fácil notar as suas belezas. Mas, por outro lado, até os olhos mais desatentos dividem a atenção entre sacolas de lixo e históricos monumentos. E não precisa procurar muito. Basta olhar nas esquinas, praças e canteiros, que logo se pode notar o descaso da população e do poder público com o lixo. Em um dos principais pontos turísticos do município, na Praça da Sé, sacolas e caixas de papelão são diariamente despejadas no passeio. O problema se dá pela falta de lixeiras, que além de estarem em mau estado, não suportam a atual demanda. Devido à ausência de informação e conscientização sobre a coleta de lixo, moradores levam sacolas às ruas em qualquer horário do dia, sem se preocupar. E é no meio das calçadas que os detritos permanecem expostos, durante horas, até a chegada dos lixeiros. Na Rua Direita, a comerciante Denise Souza, 33 anos, reclama da falta de lixeiras. “Não tem lugar para colocar o lixo. Em geral, existe um descaso do poder público”. Segundo ela, deveria ainda haver uma campanha educativa sobre o lixo.
Já no Santana, o morador Júlio Flausino, 51, aponta a própria população como problema. “Alguns não contribuem e colocam lixo na rua em horário errado. Se o caminhão passa e a população não respeita o horário, cachorro rasga tudo”. Coleta Para a secretária adjunta de Serviços Urbanos de Mariana, Denise Almeida, a disposição irregular de detritos em áreas verdes, lotes vagos e cursos d’água atrapalha a coleta na cidade. Além disso, há também o despejo dos resíduos em horários impróprios. “O ideal é que os moradores disponham o lixo para coleta a partir das 17 horas, de segunda a sexta-feira, e a partir das 16 horas, aos sábados”. Segundo Geraldo Alberto Brandão, gerente operacional da empresa Império, responsável pela coleta dos resíduos em Mariana e distritos, são quatro caminhões funcionando durante o dia, e dois à noite. Na região central, o trabalho é realizado 7 e às 10 horas. A partir de 17 horas, a coleta acontece tanto no Centro Histórico quanto nos demais bairros. Questionado sobre a atual inexistência de uma conscientização sobre o lixo, Geraldo afirma que em cer-
DanieLLE DIEHL
Na reciclagem, Dona Zizinha encontrou forças para construir sua trajetória
ca de 40 dias a empresa iniciará uma campanha educacional em rádios locais, além de usar adesivos e carros de som. Neste mesmo prazo, a empresa, junto à prefeitura, disponibilizará contêineres nos pontos mais críticos de acúmulo de sujeira, para minimizar os problemas de proliferação de ratos e insetos. Quanto à falta de lixeiras, Denise Almeida afirmou que irá começar a instalação de mais unidades ainda este mês. “Já estamos providenciando a compra de mais lixeiras para que possamos estender o atendimento a todos os bairros e também aos distritos”. Mariana, por ser uma cidade histórica e possuir algumas ruas muito apertadas para trânsito dos caminhões, tem uma dificuldade a mais na realização da limpeza. De acordo com a secretária, nestes pontos, a coleta é executada manualmente e o lixo é levado para o local mais próximo onde possa ser recolhido pelo caminhão compactador. Atualmente 50 funcionários fazem a varrição nas ruas da cidade. E é bem cedo, que os varredores encontram a Praça Gomes Freire, mais conhecida como Jardim, com os canteiros completamente tomados pelo lixo.
Jardim amanhece às segundas-feiras sob a sujeira deixada pela população
Entre lixos e flores Em Mariana, muitas pessoas utilizam o Jardim para passar o tempo ou descansar do dia-a-dia. Mas qual seria a sensação, ao encontrá-lo coberto pelo lixo? Com certeza não seria uma boa impressão. E é por isso que Geraldo da Silva, 46, funcionário público, chega às 7 horas, de segunda a domingo, para realizar o árduo trabalho de manter os canteiros limpos da sujeira. No entanto, quem chega ao Jardim durante as manhãs, se engana em pensar que este sempre esteve limpo. Durante as noites, principal-
mente no final de semana, a praça se torna uma lixeira a céu aberto. Vários copos, garrafas e sacolas são deixadas pelos moradores que frequentam a praça diariamente. “Quando a gente chega, principalmente nas manhãs de segunda-feira, a praça está em estado crítico”, afirmou o varredor. “As lixeiras são pequenas”, reclama Geraldo, “quem frequenta a praça, as encontra lotadas e acaba jogando tudo no chão”. Mas, para ele, dificuldades ficam à parte, “o importante, é tentar manter tudo sempre limpo”.
Vida que se recicla Jéssica Moutinho Um galpão de reciclagem de 170 metros, no Bairro São Cristovão, em Mariana, esconde as histórias de uma mulher guerreira. Aos 67 anos, Maria Raimunda, mais conhecida como Dona Zizinha, não descuida da aparência. Morena, cabelo preto chanel bem arrumado, unhas pintadas, brinco, anel e um colar com uma medalha de Nossa Senhora Aparecida. É assim que a encontro em seu local de trabalho, em meio a prensa, papelão e plástico. Dona Zizinha já trabalhou como lavadeira, cozinheira e faxineira. A idade fez com que ela fosse demitida e, com o desemprego, vieram a perda do pai e do irmão. Desorientada e precisando dar um novo rumo à sua vida, resolveu procurar trabalho. Encontrou no antigo lixão de Mariana, o único lugar que a aceitou independente de idade, cor ou situação financeira. Em seus 20 anos como catadora vivenciou momentos que marcaram sua vida. Um deles foi quando encontrou dois recém-nascidos mortos no lixo. Nunca teve uma vida fácil. Foi vítima do preconceito de pessoas que a julgaram inferior pelo traba-
lho no lixo, mas que acabaram precisando dela e do seu dinheiro, e ela ajudou. A discriminação não a abala e diz não ter vergonha do que faz, pois foi dessa forma que conseguiu criar com dignidade seus três filhos: Luiz Fernando da Silva, 46, Lucilene Silva Dutra, 40, e Maria das Graças da Silva, 50. No lixão havia matéria orgânica, reciclável e o pensamento de Dona Zizinha sobre a questão ambiental de Mariana , o que a motivou a tomar uma atitude. Procurou os governantes da cidade para que junto de engenheiros ambientais pudessem tomar providências e fazer algo por esse material que poderia ser reciclado. A partir daí começaram a acontecer reuniões entre catadores e Prefeitura em que o apelo principal era a construção de um galpão para fazer a reciclagem. Após vários pedidos e reuniões, veio a conquista: a construção do Centro de Aproveitamento de Materiais Recicláveis de Mariana (Camar), em 2008. Com orgulho, Dona Zizinha foi ao cartório fazer o reconhecimento da firma e assinar um documento que, na verdade, lhe concedia a presidência do Camar. Não havia emo-
ção maior do que ver o galpão pronto e saber que os catadores teriam condições mais dignas de trabalho. Reconhecida por ajudar idealizar a Associação de Catadores em Mariana, ela recebeu em 2012, o titulo de cidadã honorária, em uma cerimônia solene realizada na sede do Sistema Nacional de Emprego (Sine). Ficou na presidência por um ano e há quatro ocupa a vice-presidência. Dona Efigênia do Nascimento Felipe trabalha com Dona Zizinha desde antes da fundação do Camar, em Mariana, e quando a pergunto sobre a vice-presidente ela diz: “Dona Zizinha é uma pessoa muito boa, sempre procura ajudar a todos, tiro o chapéu para essa mulher, que faz de tudo aqui. Ela gosta de trabalhar com reciclagem e, independente do cargo que ocupa, coloca a mão na massa e está a toda hora aqui no galpão nos ajudando”. Nunca frequentou uma escola e aprendeu a ler com o pai. As experiências vividas lhe trouxeram a sabedoria que vai muito além do que é ensinado numa sala de aula. “Vivendo, aprendendo e morrendo sem saber nada”, é assim que ela interpreta a vida.
Fevereiro de 2014 Arte: Roberta Nunes
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CIDADE
Novo bairro, velhos transtornos Escassez de água, rede de esgoto e iluminação pública deficientes são problemas recorrentes no Nossa Senhora Aparecida FERNANDA BELO
Tamara Pinho Com a falta de opção de moradias e o alto valor de aluguéis nas áreas centrais de Mariana, novos bairros vão surgindo ao redor da cidade. Exemplo disso é o Nossa Senhora Aparecida, próximo ao Bairro Colina. A falta de informação sobre o Nossa Senhora Aparecida, que fica a cerca de cinco quilômetros do Centro, dificulta a chegada ao local, uma vez que não existem placas que indicam o caminho até lá e as próprias vias do bairro são mal sinalizadas. Em cerca de 10 anos, o local cresceu bastante. O operador Valdecir Ferreira Chagas, morador há oito anos, foi um dos primeiros a se mudar para lá. “Quando cheguei só tinha umas duas casas nessa rua, hoje já tem bastante. Eu acredito que ele irá crescer ainda mais nos próximos anos”, disse, referindo-se à principal rua, a Ipanema. A região possui potencial para expansão e isso pode ser visto nas construções em andamento e nos lotes à venda. Valdecir conta que a procura por terrenos cresceu bastante e que isso pode ser constatado nos preços, que giravam em torno de R$ 40 mil, há três anos, e hoje chegam a 80 mil. Infraestrutura Com o crescimento, os problemas de infraestrutura se tornaram mais evidentes no Nossa Senhora Aparecida. Os principais são o esgoto, que corre pelas ruas de boa parte do bairro, a falta de iluminação pública em várias delas, além do abastecimento de água, que ocorre apenas na parte da manhã. A solução encontrada pelos moradores foi instalar uma segunda cai-
Com pouco mais de dez anos de existência e ainda em expansão, o bairro tem construções recentes que agravam a infraestrutura precária do local
xa d’água, para evitar o desabastecimento ao longo do dia. A representante da Associação de Moradores, Adriana Carvalho, afirma que as reclamações mais frequentes são a falta da rede de esgoto, que já foi comunicada à Prefeitura, por meio de ofício. “Em fevereiro de 2013, quando enviei à Prefeitura o oficio, disseram que em até dois meses seria marcada uma reunião, com o prefeito e os secretários, para buscarmos soluções, mas a reunião nunca foi marcada”. No ofício, Adriana comunicou sobre o problema da rede de esgoto, a iluminação
Respostas vagas
pública e a falta de uma área pública para realizar algumas atividades no bairro. “Na primeira terça-feira do mês temos a celebração de missa no bairro, mas utilizamos um galpão emprestado por um morador. Com um centro comunitário, poderíamos transferir as atividades, como as aulas de catecismo e crisma, para lá. O problema é que a Prefeitura apenas empurra com a barriga (sic) e não traz nenhuma solução”, diz Adriana. As opções de lazer no bairro também são escassas, se limitando a uma quadra que foi construída há alguns anos.
Mariana possui atualmente 28 bairros registrados mas, segundo a assessoria de Comunicação da Prefeitura, o Nossa Senhora Aparecida possui apenas parte de sua área regularizada, enquanto a outra está em processo de regulamentação. Esse é o motivo de algumas regiões não possuírem iluminação pública. Por se tratar de uma bairro que surgiu de um empreendimento particular, o órgão delimita-se à fiscalização das obras em andamento e cobrança de melhorias junto aos proprietários de imovéis.
A assessoria informou ainda que estão em andamento projetos que preveem parcerias, com empreendedores locais, para a regularização das áreas restantes do bairro. Sobre o esgoto que corre pelas ruas, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), por meio da assessoria de Comunicação da Prefeitura, informou que não pode fazer intervenções nas áreas que não são regularizadas. O abastecimento, desde outubro, foi ampliado e o período passou a ser das 19 às 8 horas. Segundo o Saae, “a
falta de água ocorre em vários bairros da cidade, devido a expansão imobiliária dos últimos anos. Com o projeto de ampliação da estação de tratamento sul em fase final, espera-se que seja suprida a falta de água não só no Nossa Senhora Aparecida como em outros bairros da cidade”. A respeito da construção de uma praça no Nossa Senhora Aparecida, a Prefeitura confirma que existe uma proposta em andamento para uma área de convivência no local, porém, não informou detalhes a respeito do projeto.
Construção de túnel é cercada de dúvidas quanto preservação do objeto e sua imagem é fundamental, só que a preservação dele passa pela boa técnica, boa forma de execução, qualidade de manutenção e isso tudo está ligado à execução”, diz João Carlos de Oliveira. Quanto ao custo da obra, o secretário municipal de Cultura e Patrimônio, José Alberto Pinheiro, não tinha conhecimento do valor total, até 15 de janeiro. “Estamos acabando de fechar o orçamento. O
to, a área de construção do túnel é considerada de risco médio a alto, o que não impede a construção. “Do ponto de vista da engenharia, qualquer obra é possível”, afirma. A pedido do Ministério Público, o Igeo mapeou as áreas de risco e produziu um laudo em que ressalta os cuidados que se deve ter na realização da obra. O edital para contratação da empresa que irá executar o projeto está previsto para este ano.
Rodoviária Rodoviária
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Trajeto do túnel
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Mapa de localização do túnel
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Campo de Futebol
A aposentada Maria dos Anjos Pereira, 69 anos, moradora há mais de 40 anos da Rua Henri Gorceix, nas proximidades onde o túnel será construído, está apreensiva com a obra. “Ouço falar desse túnel desde menina, mas não sei se é seguro. O que pode acontecer com minha casa?”, questiona, preocupada. Segundo o presidente do Igeo, Michel Fontes, criado para subsidiar a gestão de risco das encostas de Ouro Pre-
Rua P aran á
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prefeito vai ver se é viável e onde ele vai conseguir recursos. É uma construção possível de se fazer e nós vamos fazer esse túnel sobre a melhor técnica”, ressaltou. Previsto para ser construído em uma área considerada de alto risco geológico pelo Instituto de Geotécnica (Igeo), interditada em períodos chuvosos, a segurança quanto aos riscos de desmoronamentos ainda é uma das maiores dúvidas da população.
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Praça. O MP não respondeu ao LAMPIÃO sobre a situação atual desse inquérito. Apesar da necessidade de aprovação do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para ser executado, até o fechamento dessa edição, em 28 de janeiro, o projeto não havia chegado ao diretor do Iphan em Ouro Preto, João Carlos de Oliveira. Ele só tomou conhecimento da “ideia”, a partir das discussões iniciadas em 2011, em Brasília (DF), sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), quando a Prefeitura de Ouro Preto apresentou ao órgão a proposta, pleiteando recursos federais, que não foram liberados para sua execução porque as verbas do PAC destinamse, dentre outras, à recuperação das estruturas históricas. Estar vinculado a um projeto mais amplo de mobilidade é apenas uma das preocupações quanto a obra. A preservação do Centro Histórico é outro agravante, já que o túnel atravessará o subsolo, próximo à Praça Tiradentes. “A ideia de preservação da imagem de patrimônio en-
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Kênia Marcília O projeto de construção de um túnel de aproximadamente 270 metros, orçado em R$ 800 mil, no Centro Histórico de Ouro Preto, que pretende ligar a Rua Padre Rolim, próximo a antiga Santa Casa, à Rua Conselheiro Quintiliano, nas imediações do Corpo de Bombeiro, ainda gera dúvidas quanto à segurança, consequência e viabilidade da obra, decorrentes da insuficiência de informações. A obra é uma proposta da Prefeitura, e objetiva desafogar em até 50% o trânsito na região da Praça Tiradentes. Com o aumento da frota de automóveis, que duplicou na última década, passando de 13,3 mil para 27,1 mil veículos, Ouro Preto enfrenta problemas comuns dos grandes centros urbanos, como congestionamentos e a falta de vagas para estacionamento. Em julho de 2013, o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) instaurou um inquérito civil questionando a viabilidade do projeto, a fim de compreender se é a solução mais adequada para diminuir o fluxo de carros na região da
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Praça Ana F. Guimarães
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Reitoria da Universidade Federal de Ouro Preto
Praça Tiradentes
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Fonte: Institito Geotécnico (Igeo)
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Fevereiro de 2014 Arte: Carolina Brito
serviço
Cidade cresce e sistema bancário piora As seis agências instaladas no Centro de Mariana são insuficientes para atender população que cresceu 23% em 13 anos Teka lindoso
Daniella Andrade Os atendimentos bancários estão entre as principais queixas feitas junto ao Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), em Mariana. No ano passado, foram registradas 139 reclamações vinculadas aos bancos. Elas só perdem para as empresas de telefonia. As seis agências bancárias existentes na cidade não dão conta de atender a população, estimada em 57.639 habitantes, de acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013. Nos últimos 13 anos, a população saltou de 46.710 para 57.639 habitantes. Os bancos tomam como parâmetro o censo populacional do IBGE e a quantidade de clientes para definir estruturas e serviços. No entanto, não consideram a população flutuante da cidade, que inclui os trabalhadores das mineradoras e os estudantes que, em sua maioria, ingressam na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Isso resulta na sobrecarga dos serviços bancários na cidade. Filas, caixas eletrônicos inoperantes, falta de dinheiro e de informação e a demora para o atendimento são reclamações constantes. O turista de São Bernardo do Campo (SP), João Rosa da Silva, 55 anos, utilizou a agência do Itaú, em Mariana, para fazer um saque, mas encontrou dificuldades. “A agência é muito pequena. Precisa de mais caixas eletrônicos. A cidade cresceu, mas os bancos não acompanharam”, afirmou o aposentado. O mecânico João Paulo Fernandes, 28, reclama das condições de atendimento. “As filas não obedecem a lei dos 15 minutos de espera. O Itaú e Bradesco não possuem assento e falta dinheiro nos caixas em finais de semana. Além da falta de manutenção dos caixas eletrônicos e de serviços de saque 24 horas”. As cinco empresas responsáveis pelos serviços bancários da cidade – Bradesco; Banco do Brasil (BB); Caixa Econômica Federal (CEF);
Consideradas opção alternativa ao serviço bancário, lotéricas também sofrem com o aumento na demanda. Tempo de espera nas filas é reclamação constante
Itaú e Santander – estão todas locaNo Banco do Brasil, “em janeiro lizadas no Centro. Os nove distritos de 2014, foi concluída a obra de amdo município não possuem agências, pliação da Sala de Autoatendimeno que obriga os moradores a se locoto da Agência Mariana, com maior moverem até o Centro de Mariana. capacidade”, informou a assessoA Caixa tem um quiosque com terria da instituição. Essa medida visa minais de autoatendimento apenas atender o aumento da base de clienno distrito de Pastes da agência. Em Por incrível que pareça, sagem de Mariana. Mariana, o BB tem Diante das re- os bancos se encaixam no pontos de atendiclamações, os gru- perfil que a lei exige” . mento na Prefeipos financeiros Emanuel Camacho tura e em prédios responderam ao da Ufop. De acorLAMPIÃO por meio de suas assesdo com a assessoria, “o horário de sorias. A Caixa informou que 85% funcionamento dos caixas eletrônidos clientes de Mariana, em 2013, cos de pontos externos é condicioforam atendidos dentro do prazo. nado ao horário dos locais nos quais Ressaltou que o banco possui maior estão instalados”. demanda dentro da cidade e, nos úlO BB ainda conta com Bantimos anos, teve um aumento consico Postal dos Correios e Corresderável no fluxo de clientes. pondente Comercial, no Bairro A CEF conta com as lotéricas, Rosário. Com relação à falta de disuas correspondentes, onde vários nheiro nos finais de semana, a insserviços estão disponíveis para destituição informou que a medida de congestionar e descentralizar o atenredução das cédulas disponíveis é dimento na agência. tomada “em alguns períodos, com o
objetivo de inibir os ataques aos terminais e aumentar a segurança dos clientes dentro da agência”, explica. O Santander apenas informou que “está adequado ao tempo de fila previsto em lei”. O banco reforça, contudo, que “busca constantemente aprimorar seus serviços para melhor atender os clientes”. O Bradesco afirma que, além da agência equipada com 11 máquinas de autoatendimento, os clientes do município têm à disposição quatro unidades do Bradesco Expresso, correspondentes bancários que funcionam em estabelecimentos comerciais. E ressalta que o processo de melhoria no atendimento é contínuo. Até o fechamento dessa edição, a assessoria do Banco Itaú não respondeu à reportagem.
mero de reclamações de clientes junto ao órgão, seguido pelo Bradesco. Com relação às estruturas físicas das agências, o Procon fiscaliza mediante a requisição do Ministério Público e denúncias dos clientes. “Por incrível que pareça, os bancos se encaixam no perfil que a lei exige”, afirma. “O consumidor reclama, nós fiscalizamos e, quando chegamos, o serviço já está normalizado”. Não há uma legislação específica sobre os direitos do consumidor bancário. Existe apenas a resolução 2878, ainda vigente, criada pelo Banco Central, em 26 de julho de 2001. O documento contem os deveres e medidas normativas das instituições bancárias, ou seja, um padrão de atendimento para as agências. VEJA O RANKING DE RECLAMAÇÕES DO PROCON: http:// migre.me/hD075
Procon De acordo com o gerente do Procon Mariana, Emanuel Camacho, o Grupo Itaú concentra o maior nú-
Falta de equipamento pode comprometer emissão de CNH Aldo Damasceno O mecânico de manutenção Aldeir Gomes Chaves, 37 anos, é morador de Mariana e assim como milhares de outros candidatos, está tentando tirar pela primeira vez a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) categoria B, válida para carro. Ele que já frequenta as aulas de legislação, iniciou em janeiro deste ano o processo para adquirir a carteira. Porém, corre o risco de não conseguir a habilitação mesmo que seja aprovado em todos os exames que antecedem o de direção, devido a falta de aulas no simulador. Desde o início do ano, está em vigor em todo o Brasil a Resolução 444 do Conselho Nacional de Trânsito, que estabelece o uso obrigatório do simulador durante os cursos para obtenção da CNH da categoria. Com isso, os candidatos matriculados desde 1º de janeiro deste ano, que não tenham feito o mínimo de cinco aulas no simulador, exigidas pela nova resolução, mesmo sendo aprovados em todas as etapas, poderão ficar impedidos de realizar o exame final de direção. Das 15 autoescolas de Ouro Preto e Mariana, apenas uma possui o simulador de trânsito, porém, o aparelho, comprado há mais de um ano, precisa de adequações para ficar de acordo com as novas exigências.
Outro problema encontrado pelos donos de autoescola são os custos do equipamento, que variam entre R$ 33 mil e R$ 40 mil. Além disso, eles deverão ficar em um espaço com, pelo menos, 15 metros quadrados, onde deverá haver uma webcam para transmitir imagens ‘online’ para órgãos executivos estaduais de trânsito (Detrans) para fiscalização das aulas em tempo real. Prazo O tempo médio para um aluno terminar o curso teórico e fazer os exames que antecedem o teste de direção veicular é de 90 dias. Porém, segundo o diretor suplente do setor financeiro do Sindicato dos Proprietários de Centro de Formação de Condutores do Estado de Minas Gerais (Siprocfc) e proprietário do Centro de Formação de Condutores Ouro Preto, Marcelo Ramos Teixeira, as autoescolas não conseguiriam receber os simuladores antes desse prazo. “Com a Resolução em vigor, todos precisam adquirir o produto, porém, só no Estado de Minas Gerais, existem pelo menos 2,2 mil centros de formação e, com a grande demanda vinda de todo o país, os fabricantes credenciados ficaram sobrecarregados. Com isso, estipularam um prazo mínimo de 120 dias para
Rosi Silveira
Em Mariana, simulador ainda precisa de adaptações para ser utilizado nas autoescolas
entregar os equipamentos para as autoescolas”, comentou Marcelo. A nova legislação ainda determina que os candidatos façam aulas no simulador logo após iniciarem as teóricas e antes da expedição da licença para aprendizagem de direção, que autoriza as práticas de rua. Um acordo verbal entre o Departamento
Nacional de Trânsito (Denatran) e os Detrans deixa em aberto o processo para que o candidato frequente as aulas de simulador até o último dia da prática de direção. A informação é do chefe da Divisão de Habilitação do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Anderson França Menezes, em matéria publicada no Estado de Minas, em 8 de janeiro de 2014.
Saiba quanto você poderá gastar com a primeira habilitação * Inscrição
R$
52,00
* Valores aproximados
Boletim
R$
10,00
Exames médico e psicológico R$
166,50
Curso de teoriatécnica
Exame de legislação
R$
R$
250,00
52,76
Simulador 5 aulas R$
450,00
Licença de aprendizagem R$
39,57
20 aulas práticas R$
860,00
Exame de direção R$
52,76
Aluguel de veículo para exame R$
150,00
R$
Sem simulador Com simulador
R$
Total
1.633,59
2.083,59
Fonte: Proprietários de autoescolas
Fevereiro de 2014 Arte: Hiago Maia
A importância e os reflexos da ação humana no Ribeirão em Mariana e Ouro Preto
Páginas 8 e 9
7
A história de Dona Anita e seus gatos em Passagem de Mariana
Página 10
Osmar Lopes | Thiago anselmo
RIBEIRÃO DO CARMO
8
Fevereiro de 2014 Arte: Ester Louback
contornando os obstácul Fernanda de paula
Rodrigo Pucci Próxima ao município de Ouro Preto fica a Serra do Espinhaço, cadeia montanhosa com picos de até 2 mil metros de altura. É neste local que encontramos a nascente do Ribeirão do Carmo, um curso d’água que no final do século XVII testemunhou o início de nossa Corrida do Ouro. Atualmente, podemos encontrar em suas margens a Estação Ecológica do Tripuí e uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH). Perto de seu início, o ribeirão é chamado de Córrego Tripuí, um nome derivado do Tupi que significa “água de fundo sujo”. Não muito longe, distante aproximadamente
90 Km de Belo Horizonte, seguindo a BR – 040, encontra-se a Estação Ecológica do Tripuí. Ela foi fundada em 1978 com o intuito de preservação de uma espécie de lagarta, a peripatus acacioi. Esse animal típico da região é considerada um “fóssil vivo” e está na lista de ameaçados de extinção. A estação não fica aberta para visitação do público em geral, por estar voltado exclusivamente para a prática de pesquisa e educação ambiental. Quando chega em Ouro Preto, o Córrego Tripuí passa a ser conhecido como Ribeirão do Funil e reflete em suas águas nossa história de exploração. A professora do curso
Níveis de Arsênio no Ribeirão do Carmo Casas nas margens do rio, como as de Passagem de Mariana, são consideradas legais, mas causam problemas
Ocupação urbana nas margens do rio atravessa séculos Bárbara Monteiro A ocupação urbana nas margens do Ribeirão é antiga e revela a relação conturbada entre a população ribeirinha e o rio. A urbanização na cidade começou no século XVIII, pelo bairro Santo Antônio, localizado à beira do Ribeirão do Carmo. Por ser uma área propicia à atividade mineradora, iniciou-se um processo de degradação pela retirada do ouro de aluvião e depois pelo ouro de encosta. “A história de Mariana com o Ribeirão do Carmo é de degradação desde o início. Há relatos de inundações desde 1730”, conta a mestranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ana Cristina de Souza Maia. Por serem cidades históricas, Ouro Preto e Mariana foram ocupadas pela população sem que houvesse, naquela época, uma legislação que advertisse os moradores dos riscos de fixarem suas casas próximas ao rio. Por esse motivo, as constru-
ções datadas da época do ciclo do ouro não são consideradas irregulares, entretanto estão sujeitas a enchentes, alagamentos e inundações. Foi apenas em 1990, por meio de um Decreto Federal, que o Sistema Estadual de Meio Ambiente (SISEMA) foi regulamentado, definindo como irregular a ocupação urbana nas margens de rios e córregos. “É difícil entender que uma área toda ocupada e degradada é legal. A mesma legislação que fala que não pode no momento atual, fala que a ocupação consolidada é regular”, explica o secretário de Meio Ambiente de Mariana, José Miguel Cota. Para traçar os rumos do desenvolvimento e ordenar a expansão urbana, as cidades passaram a utilizar os planos diretores. Esses planos levam em conta a atual situação dos municípios com relação a serviços básicos como habitação, transporte, saneamento, saúde e educação para manter a qualidade de vida dos moradores. Em Mariana, o plano foi
elaborado em 2003, aprovado no ano seguinte e ainda está em vigor. De acordo com a Legislação Federal, os planos diretores devem ser revistos a cada dez anos, o que coloca Mariana em sua data limite para a revisão que deverá ocorrer este ano. Segundo a secretária de Obras e Urbanismo de Mariana, Fátima Guido, a revisão do plano diretor da cidade irá seguir o que já prevê a legislação vigente, que impede novas ocupações nas margens do Ribeirão. O impedimento de novas ocupações e o planejamento de ações a partir dos planos diretores são importantes, pois além dos riscos de enchentes e inundações, há uma série de doenças causadas pelo contato da população com o esgoto.
3,0mg/l
2,7mg/l
2,4mg/l
2,1mg/l
1,8mg/l
O Ribeirão do Carmo nasce em Ouro Preto e, até chegar em Mariana, seus afluentes recebem diversos nomes: Nome
Bairro que passa
Córrego do Caquende
Água Limpa, Rosário e Pilar
Córrego dos Contos
Centro e Pilar
Córrego Sobreira
Lages, Palácios Velhos e Barra
Córrego do Vermelhão
Saramenha, Maria Soares e Tavares
Córrego dos Barcelos
Saramenha
Córrego das Lages
Lages
Córrego do Tomabadouro
Pocinho e Fábrica de Tecidos
Ribeirão do Funil
Saramenha, Estação e Barra descendo em direção à Mariana
0,010mg/l 0,008mg/l 0,006mg/l
1,5mg/l
limite permitido 0,01mg/l
0,004mg/l 0,002mg/l
0,002mg/l
0,000mg/l 1,2mg/l
0,9mg/l
0,6mg/l
0,3mg/l
limite permitido 0,01mg/l 0,0mg/l
ilustração: Mayra costa
Você sabia?
2,98mg/l
O arsênio é um semimetal de ocorrência natural, de cor cinzaprateada, amarelo ou negro. Ele é utilizado no reforço de ligas metálicas, produção de fogos de artifício, conservação da madeira, além de clarificador em vidros. A forma mais comum de exposição humana ao arsênio é o consumo de água e alimentos contaminados. Ele afeta os sistemas respiratório, cardiovascular, nervoso e hematopoiético. Tem sido observada também a relação carcinogênica do arsênio com o câncer de pele e brônquios.
Seguindo a indicação da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil adotou a concentração de 0,01mg/L como o limite tolerável de arsênio em águas potáveis. Em águas coletadas em algumas minas auríferas e nascentes de Ouro Preto e Mariana, pertencentes à bacia do Ribeirão do Carmo, foram encontradas concentrações de arsênio total variando de 0,002 mg/L a 2,98mg/L.
Fevereiro de 2014 Pesquisa de dados: Ana Elisa Siqueira
9
los com o passar do tempo Isadora RIBEIRO
de Geologia da Ufop, Adivane Costa, em uma análise das águas da bacia, constatou um número 60 vezes maior do que é aceitável no nível de arsênio (substância altamente tóxica). “Com 50 ppm (partes por milhão) de arsênio na água, deve haver uma intervenção agrícola, ou seja, você não pode ter nenhuma atividade desse tipo na região. Eu encontrei um nível de 3 mil ppm, mesmo assim as pessoas fazem de tudo, plantam na beira do rio” diz a professora. Adivane explica ainda que esse alto índice de arsênio é decorrente da exploração de ouro, além de outros metais na região do quadrilátero ferrífero ao longo dos anos.
O rio ainda cruza a cidade de Mariana, rumo ao distrito de Furquim, localizado a 28 km do município. É lá que fica a PCH – Furquim, que aproveita a correnteza para a geração de energia. Segundo dados do Observatório Sócio-Ambiental de Barragens (OSAB), a represa foi fundada em meados de 2002, gera seis megawatts de potência e serve de abastecimento para a mineradora Novelis. Seja para a preservação de uma espécie ameaçada, exploração de ouro ou geração de energia, são vários os aspectos que fazem do Ribeirão do Carmo um pedaço importante de nossa história.
Estação Ecológica do Tripuí A Estação Ecológica do Tripuí tem uma área de 337 hectares de Floresta Atlântica e Cerrado. Localiza-se às margens da rodovia dos Inconfidentes, no município de Ouro Preto. Sua paisagem inclui parte das serras que constituem o Quadrilátero Ferrífero, uma unidade geológica conhecida por suas reservas de minério de ferro.
PCH Furquim A Pequena Central Hidrelétrica (PCH) de Furquim, está localizada no município de Mariana. Ela pode gerar 6MW de energia e possui um reservatório de 213 km². A PCH entrou em operação em 2003, produzindo energia para o abastecimento da Novelis Alumínio do Brasil.
Rio Doce O encontro do Ribeirão do Carmo com o rio Piranga, que nasce em Ressaquinha, Minas Gerais, forma o Rio Doce. Ele possui uma extensão territorial com cerca de 83.400 km², dos quais 86% pertencem a Minas Gerais e o restante ao Espírito Santo. Segundo o Instituto Bio Atlântico (Ibio), um dos grandes problemas ambientais enfrentados pelo Rio Doce é o desmatamento da mata ciliar, que apresenta uma perda de 100 mil hectares em seus principais rios. Além de causar impactos nos solos ao longo do rio, como erosão de suas margens e mudança na topografia do fundo do leito, também interfere no equilíbrio do ecossistema aquático contribuindo para a redução da população de peixes.
No bairro Santo Antônio, em Mariana, esgoto e lixo lançados no rio favorecem a disseminação de doenças
O esgoto e suas consequências Isabella Madureira Degradado desde o século XVIII pela mineração, o cenário do Ribeirão do Carmo hoje é ainda menos animador. A falta de planejamento urbano vem se tornando um problema ambiental, social e de saúde pública na região. Um desses problemas é o descarte de dejetos, que em Mariana vai direto para o rio. “98% do esgoto é coletado mas não é tratado, vai in natura para o Ribeirão”, contou o chefe do departamento de comunicação do Sistema Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), Lauro Souza Soares. Em Ouro Preto, o esgoto é lançado no Rio das Velhas. Nesse mesmo rio, no distrito de São Bartolomeu, está localizada a única estação de tratamento do município, que trata apenas 0,4% do esgoto. Existe também o problema dos resíduos domésticos que a população, pouco consciente, descarta a
todo instante dentro do Ribeirão. “Esses moradores costumam jogar muita sacola de lixo no rio e nessa rua mesmo tem caminhão de coleta de dois em dois dias”, contou a moradora de Passagem de Mariana, Maria Conceição Gomes. Com o tempo, o acúmulo desse lixo provoca o assoreamento do Ribeirão. Durante o período das chuvas a vazão do rio diminui, causando alagamentos em suas margens, enchentes e sérios prejuízos para quem mora em suas proximidades. “O assoreamento no Ribeirão do Carmo em Mariana é consequência da mineração, ainda hoje recorrente, e do acúmulo de lixo, já que o rio é disposição final de rejeitos domésticos e de esgoto”, esclareceu o Engenheiro ambiental da Prefeitura Municipal de Mariana, Alex Luz Tomaz. A contaminação do rio favorece também a propagação de doenças hídricas. A ingestão, o contato ou o
consumo de alimentos lavados com água infectada, além do contato direto com o esgoto, são as formas mais comuns de transmissão. A presidente do comitê executivo de saneamento básico da Prefeitura, Rogéria Cristina da Trindade, afirmou que “o tratamento de água e esgoto está diretamente ligado a saúde da população e a menos gastos com o tratamento de doenças de veiculação hídrica, relacionadas a falta de saneamento, como verminoses, parasitoses, entre outras”. De acordo com o sistema de dados online do Sistema Único de Saúde (SUS), no ano de 2013 quase 50% das notificações de doenças infecciosas e parasitárias na região de Ouro Preto e Mariana são causadas pelo consumo de água não tratada. Entre as doenças mais recorrentes estão esquistossomose, diarreia, septicemia e amebíase. (vide infográfico).
Doenças transmitidas pela água contaminada Doença
Amebíase Diarréia Infecciosa Septicemia
Esquistossomose
O que é? Infecção causada por protozoário através de ingestão dos cistos presentes em alimentos e água contaminados
Síntomas Cólicas abdominais, evacuação com perda de sangue, fadiga, gases em excesso, dor ao evacuar, perda de peso involuntária.
A diarreia é geralmente provocada por micróbios adquiridos através de alimentos ou água contaminados.
Cólicas abdominais, evacuação de fezes pastosas ou líquidas.
Infecção generalizada causada pela presença de micro-organismos no sangue, vindos de outro foco infeccioso (estômago, intestino e fígado).
Febre, infecção, confusão mental, alteração da pressão arterial, taquicardia, respiração rápida e ofegante, pouca urina.
Também conhecida como “barriga d’água”, a esquistossomose é uma infecção causada por um parasita. O contato humano com águas infectadas é a forma pela qual o indivíduo adquire a doença.
A doença tem uma fase aguda e outra crônica. Na fase aguda, apresenta coceiras e dermatites, febre, falta de apetite, tosse, diarreia, enjôos, vômitos e emagrecimento. Na fase crônica, apresenta diarreia alternada com períodos de prisão de ventre, aumento do fígado e cirrose, aumento do baço, hemorragias e dilatação abdominal.
Ao perceber um destes sintomas, procure uma unidade básica de saúde e tratamento médico adequado
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Fevereiro de 2014 Arte: Hiago Maia
A DONA DOS GATOS Texto: Pablo Silva | Fotos: Bruna Lapa
O entulho acumulado às margens e o esgoto jogado no leito do Ribeirão do Carmo fazem com que os ratos se proliferem em Passagem de Mariana. Por causa do problema, boa parte da população do distrito tem o costume de criar gatos em casa. Iracema Castro Cavalcante, 83 anos, conhecida como Dona Anita dos Gatos, é famosa por sua criação. Segundo ela, que hoje tem por volta de 12 gatos, a prática começou há anos, com uma gata dada de presente por um amigo do Seminário Menor de Mariana. Dona Anita vive com a mãe, Isabel, 101 anos, em uma casa antiga construída à beira do Ribeirão. Segundo ela, seus gatos são bem domesticados. “Eles não são gatos de rua. Eu os solto pela madrugada para irem caçar e, mais tarde, eles retornam”, conta a criadora. Os animais caçam ratos ao redor de sua casa, onde o entulho acumulado e o mato que cresce às margens do curso d’água servem de esconderijo para os roedores.
Por causa dos ratos, a vizinhança também recorre à criação de Dona Anita, que diz já ter doado gatos a muitos moradores de Passagem e até vendido animais. “Na época em que eu tinha gatos de raça, há anos atrás, eu cheguei a vender gatos para o Mercado Central de Belo Horizonte”, conta a senhora. Segundo Dona Anita, sua criação nunca foi muito maior do que uns 15 gatos, apesar de seu irmão Teteco, que não gosta nada dos bichos, dizer que a irmã já teve mais de 40. No entanto, os altos custos com rações e vacinas, além da morte dos animais devido ao veneno contra ratos colocado pela população nos locais de proliferação, levaram à redução do tamanho de sua criação. Ao ser questionada sobre a afeição que tem pelos animais, a Dona dos gatos responde que até gosta dos bichos, mas reafirma a necessidade da criação: “eu crio tantos gatos para me proteger, minha responsabilidade é para com a minha propriedade”.
Fevereiro de 2014 Arte: Janine Reis
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SAÚDE isadora lira
A agente de saúde, Maria Aparecida de Oliveira, visita cerca de 40 casas por dia, informando como evitar a proliferação do mosquito transmissor da dengue e aplicando larvicida nos possíveis criadouros
Mariana reforça combate à dengue Número de agentes passa de nove para 30, mas é insuficiente para controlar focos do mosquito sem ajuda da população trem em suas residências e realizem o serviço de limpeza e conscientização, é dever do cidadão manter a casa limpa e livre de latinhas de refrigerantes, garrafas pets, pneus, etc. “O agente sozinho não dá conta. É preciso que a população colabore e se empenhe. Eu posso colocar 500 funcionários no setor de vigilância, eles não vão dar conta de limpar o município todo. A população tem que estar alerta”, declara Ana Vitória. Reforço Em fevereiro de 2013, a vigilância contava com apenas nove agentes de saúde e alguns bairros da cidade apresentavam índices de 12% de infestação predial, ou seja, porcentagem de imóveis em que foram encontradas larvas do mosquito. O preconizado pela Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais é que cada agente seja responsável pelo combate à dengue em mil residências do município. Logo, Mariana que tem aproximadamente 22 mil imóveis, deveria ter 22 agentes. Para reverter a situação,
foram treinados e contratados mais 21 agentes de saúde durante março do último ano. Junto aos novos agentes, agiu também a Força-Tarefa Estadual do combate à dengue – equipe preparada para realizar bloqueios contra a proliferação do transmissor, eliminando os criadouros das larvas, conscientizando a população a respeito de seu ciclo e tratando os focos do Aedes aegypt. Foram realizados mutirões de limpeza em todos os bairros de Mariana. A operação reuniu 60 agentes e retirou cerca de 120 caminhões de lixo em todo o município. Ainda esse ano, a Secretaria de Saúde de Mariana planeja implantar um novo método de trabalho para a conscientização da população: realizar mutirões de uma semana de duração em cada um dos bairros da cidade, intensificando a prevenção da dengue. Assim, o mutirão reuniria os agentes em um só bairro e recolheria todo o lixo do local. De acordo com a chefe do Departamento de Vigilância e Saúde de Mariana, Ana Paula Borges Camelo, o projeto está em fase de iniciação, mas ain-
da depende que a Prefeitura determine um local apropriado para o descarte do lixo recolhido nos bairros.
Barro Preto
5
Cabanas
O lixo De acordo com dados do ano de 2013 fornecidos pela Secretaria de Saúde de Mariana, os bairros com maior incidência de focos e criadouros de dengue são os tomados por invasão – como Alto do Rosário, Alto da Colina, Santo Antônio e São Gonçalo. Uma das principais causas citadas como determinante para essa variação nos números é a coleta de lixo inadequada, além da falta de saneamento básico. Para a servente e moradora do Bairro Alto do Rosário, Efigênia Benigna Gonçalves, 44 anos, levar o lixo até o ponto de coleta mais próximo de sua residência é uma tarefa complicada e estressante. “O caminhão de lixo não passa aqui na rua. Eu tenho que andar uma longa distância para deixar meu lixo e o horário é muito incerto. Às vezes, eu passo dois minutos do horário marcado e tenho que voltar com o lixo pra casa”, reclama a moradora.
Casos contraídos no município
1
Bandeirantes
Casos contraídos em outro município
1
1
Centro
16 10
Colina
5 5
Cruzeiro do Sul 1 Furquim
1
Galego
2
Jardim dos Inconfidentes
2
Marília de Dirceu
1
Morada do Sol
1
Morro Santana
2 3
Passagem
12
Rosário Santa Rita de Cássia
5
1 2
Santana
5
1
Santo Antônio
31
São Cristovão
1
São Gonçalo
8
São José
2 2
São Pedro
2 2
Santa Rita Durão Vargem
Fonte: Secretaria de Saúde de Mariana
Laura Vasconcelos Mais de 80% dos focos do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypt, se encontram dentro das residências, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais. Os principais fatores que colaboram para essa proliferação do mosquito são a falta de combate, o indevido descarte do lixo doméstico e a presença de água parada em locais como pratos de plantas, caixas d’água abertas e demais recipientes expostos à chuva. Na cidade de Mariana, entre agosto e setembro de 2013, o número de casas encontradas fechadas, ou abandonadas, pelos agentes do combate à dengue girava em torno de 45%. Uma das providências tomadas pela Vigilância Epidemiológica Municipal para que o número fosse reduzido a 19% foi a implantação de turnos em dois horários, alcançando maior quantidade de proprietários em casa. Para a secretária adjunta de Saúde de Mariana, Ana Vitória, a população tem um papel essencial no combate à dengue, porque além de permitir que os agentes en-
2
2 1
Vila Aparecida Vila Maquiné
3
1
3
1
00
88
16 16
24 24
32 32
Em 2013 foram notificados 405 casos suspeitos de dengue, sendo 144 confirmados.
Vacina contra HPV chega em março A médica Carolina Coimbra Marinho, do Centro de Saúde da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), adverte que a doença pode levar ao desenvolvimento de lesões precursoras, que se não forem identificadas e tratadas podem progredir, além do câncer do colo de útero, mas também na vagina, vul-
Atapem Centro de Saúde Rua Bom Jesus, 314 Barro Preto
Unidade Básica de Saúde Rua Gomes Freire, 30 Distrito Furquim
Concel Rua André Corsino da Silveira, 155 Dr. Oscar M. Ferreira
Hospital Monsenhor Horta Rua Colina de S. Pedro, 1 São Pedro
va, ânus, pênis, orofaringe e boca. “Para estar protegida, cada menina deverá receber três doses do imunizante, com intervalo de dois meses entre as aplicações. Assim, a terceira dose será aplicada seis meses após a primeira”. Marinho também destacou que os pais ou responsáveis devem autorizar a vacinação e, se pudePOSTOS DE SAÚDE OURO PRETO
do vírus. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de cólo do útero é o segundo tumor mais frequente entre as mulheres brasileiras e fez 5.160 vítimas fatais no Brasil apenas em 2011, perdendo apenas para o câncer de mama. Ainda de acordo com o Instituto, todo ano surgem 17.540 novos casos.
POSTOS DE SAÚDE MARIANA
Fernanda Marques “A gente sabe que as crianças estão, a cada dia, mais presentes no mundo dos adultos, inclusive sexualmente. A minha única preocupação é tentar garantir a vacina da minha filha, mesmo ela sendo tão nova”, afirmou Silmara Maria Rocha, mãe de Bianca de 11 anos. A dona de casa se referia a vacina contra o Vírus do Papiloma Humano (HPV), que é capaz de infectar a pele ou as mucosas. Existem mais de 100 tipos diferentes de HPV, e sua vacina previne doenças sexualmente transmissíveis, entre elas o câncer de cólo de útero. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo o mundo 291 milhões de mulheres são portadoras de algum sorotipo
rem, acompanhar seus filhos durante a aplicação. No dia 10 de janeiro, o Ministério da Saúde recebeu o primeiro lote da vacina contra o vírus. Estão sendo entregues aos postos de saúde brasileiros 4 milhões de doses de um total de 15 milhões, ao custo total de R$ 465 milhões, destinadas a imunizar 5
Centro de Saúde da Ufop Rua Três, Universidade Federal de Ouro Preto (Campus Morro do Cruzeiro) Bauxita
Policlínica Municipal de Ouro Preto Rua Padre Rolim, s/n São Cristóvão
milhões de meninas de 11 a 13 anos, já a partir de março. Em 2015, a faixa etária deverá incluir meninas de nove anos. A coordenadora da Central de Vacinação de Mariana, Jazera Tostes, informou que o Ministério da Saúde prevê a distribuição da vacina nas cidades brasileiras a partir de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e que o município também participará da campanha contra o vírus. “Ainda não sabemos a estimativa de quantas meninas de 11 a 13 anos serão atendidas durante a campanha, o Ministério da Saúde ainda não nos apresentou números concretos”, declara. Tostes pede ainda que os pais fiquem atentos às datas e aos postos responsáveis pela vacinação
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Fevereiro de 2014 Arte: Viviane Ferreira
esporte
Inspirado nas glórias do passado O Tabajaras se orgulha das conquistas de outrora e faz delas combustível para manter o clube vivo no campo e na vida dos ouropretanos Nathália Souza “Espere um pouco! Vou abrir as janelas para arejar. Faz duas semanas que ninguém vem aqui, deve estar tudo mofado”. Assim, o presidente, cozinheiro, lavador de chuteiras, enfim, a base do Tabajaras Futebol Clube, Antônio Mendes, o “Negão”, 48 anos, nos recebeu para contar a história do segundo time mais antigo de Ouro Preto, depois do Guarani Esporte Clube.
Tudo começou em 1945, quando um jogador do São Paulo Futebol Clube, Remo Januzzi, veio a Ouro Preto e doou cinco jogos de uniforme ao recém-fundado Tabajaras. Desde então, foi decidido que o time ouropretano seria como uma “filial” do São Paulo, com as mesmas cores (preto, vermelho e branco) no uniforme e como única diferença a posição do escudo, que fica do lado esquerdo, uma exi-
gência do tricolor paulista. Com o lema “ser derrotado e não se render é uma vitória”, pintado na fachada da sede do Tabajaras – localizada na Rua Manoel I Carvalho, 47, Bairro Barra – e colecionando mais derrotas do que vitórias, a frase, associada ao militar polonês, Pilsndki, divide opiniões dentro do clube. O vice-presidente, Geraldo Magela Ferreira, o “Ladinho”, não concorda e diz que “é uma ci-
tação derrotista”. Já o presidente “Negão” está de acordo e pontua: “Quem nunca perdeu? A derrota faz parte do jogo e ensina a viver”. Para o ex-jogador Nelson Garcia, 93, que jogou no clube em 1946, em sua época o time mais ganhava do que perdia. Apelidado de “Linguiceiro”, pois vendia linguiças que o sogro fabricava, Nelson guarda lembranças de um tempo que, segundo ele, era muito bom. Bruna fontes
Em 2006, o time conquistou seu último título. Os troféus continuam a ornar a sede, apesar da nítida falta de conservação Fonte: Antônio Mendes
Datas e Títulos importantes Campeão Regional pela Copa Januário Carneiro
Ano de fundação do Tabajaras Futebol Clube
1947 1945
Criação da escola de samba do Tabajaras no Carnaval de Ouro Preto
1971 Campeão da 1ª Divisão
Campeão da 1ª Divisão
1987 1981
Campeão da 1ª Divisão
2006 1993
Campeão da 2ª Divisão
“Eu cheguei a apitar alguns jogos, um em especial, entre os maiores rivais, o Tabajaras e o Guarani”, conta. Arte Como enfatiza o presidente Antônio, o Tabajaras não era só um clube de futebol. Fundado numa década em que não houve Copa do Mundo, o Tabajaras se diferenciava dos demais clubes, pois ia além do esporte. “Numa época ruim para Ouro Preto, na qual a cidade encolhia, a universidade e o comércio estavam fracos, o clube participava ativamente da vida social dos ouropretanos, no futebol, na cultura e no lazer das pessoas”, relembra. Ele possuía uma equipe artística que promovia peças de teatro para a cidade. “O Avarento”, de Molière, já era encenada pelos artistas ouropretanos em 1950. E, mais do que simplesmente fazer arte, os grupos teatrais revertiam parte da verba recebida em doações a entidades da cidade. Uma data importante e histórica para o Tabajaras foi o ano de 1947. O clube criou um projeto com os atos (momentos, coreografias) que seriam feitos para uma escola de samba, que desfilaria com motocicletas e cavalos, como consta na programação e no convite para o Carnaval da época. Mas não se sabe ao certo se houve ou não o desfile. Realidade Atualmente, o Tabajaras não está em sua melhor fase. O último título de campeão foi conquistado em 2006, quando ficou em 1º lugar na segunda divisão do campeonato de Ouro Preto. Hoje, somente quatro pessoas trabalham na diretoria do clube: o presidente, Antônio Mendes;
o vice, Geraldo Magela Ferreira; o primeiro secretário, Ricardo Eugênio Ferreira, 50, e o segundo Fernando César Nonato, 52. Eles fazem de tudo, desde organizar a equipe para as competições até o almoço servido na sede. “Em 2006, havia oito equipes, desde prémirim até master. Atualmente, estamos com o time base que mantém o clube vivo”, desabafa o presidente. “Quando tem mais gente, é possível trabalhar com crianças e veteranos, o que não é nosso caso hoje em dia”. Voluntários O que levou um dos clubes mais antigos de Ouro Preto a uma fase tão ruim quanto essa, em um século em que o futebol movimenta milhões? Segundo “Negão”, faltam voluntários. “Não encontro pessoas dispostas a abrir mão dos seus finais de semana com a família para ajudar o time com suas obrigações”, afirma. O vice-presidente “Ladinho” discorda que o time esteja em sua pior fase. “É fato que o clube está com pouca gente, que só treinamos na véspera das competições, mas há 10 anos nem sede tínhamos. Comparando com o passado, a situação melhorou”. Mesmo tendo sido parte importante no esporte da cidade, o Tabajaras vem perdendo sua identidade versátil de futebol, arte, lazer, e se tornando somente mais um time entre tantos outros existentes em Ouro Preto. Por mais difícil que seja manter equipes e pessoas trabalhando, o clube permanece na ativa, batalhando para que a história seja preservada e o time exista e resista por muitos anos, não só na mente, mas na vida dos ouropretanos.
Skate sobrevive entre rolês e ladeiras Thiago Huszar Já era de se imaginar que a prática do skate em uma cidade como Ouro Preto seria algo complicado, pois a histórica Vila Rica, com sua arquitetura colonial, ladeiras e ruas de pedras não oferece cenário propício para o esporte. Mas se engana quem acredita que não existem skatistas por ali. Na verdade, há vários deles, que continuam fazendo como nos primórdios desse esporte, criando alternativas para seus “rolês” enquanto não conseguem um local adequado na cidade. Entre os principais “picos” – como são chamados os espaços utilizados para a prática – estão a quadra poliesportiva do Bairro Bauxita, o estacionamento do Centro de Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) ou áreas dentro do próprio campus no Morro do Cruzeiro, como a concha acústica. Em todos esses locais, os jovens utilizam obstáculos do próprio ambiente, como bancos e corrimãos, ou juntam madeiras e entulhos. Por se tratarem de locais inadequados à prática, os skatistas geralmente são expulsos, principalmente pelos adolescentes que querem jogar futebol na quadra da Bauxita. As justificativas são sempre as mesmas: “os skates vão estragar o chão”; “aqui não é local apropriado”.
Porém, o único espaço adequado para o esporte em Ouro Preto, uma “mini ramp” (pista em formato de U, denominada “half pipe”, em tamanho menor), na praça do Bairro Vila dos Engenheiros, já nasceu condenado. Quem afirma é o professor de Sociologia do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Guilherme Leonel, 34 anos, praticante do esporte há 26. “Existe um problema estrutural no encontro de uma das transições com o chão da pista (flat), de modo que uma dessas injunções apresenta um ângulo de 45 graus, ao invés de um formato curvilíneo. Isso faz com que os praticantes do esporte tomem um ‘baque’ em uma das transições da pista, perdendo velocidade e correndo sérios riscos de queda, em função deste defeito da rampa”. O estudante de Engenharia Geológica da Ufop, Leo Barbosa, 24, praticante há 13, se juntou a um colega de universidade para encomendar obstáculos móveis a serem utilizados no Centro Acadêmico da Escola de Minas (Caem). O que se iniciou com apenas dois atletas hoje já conta com um grupo de aproximadamente seis jovens, incluindo uma garota. A turma possui um grupo no Facebook, denominado “Skate em Ouro Preto”, onde costuma agendar encontros semanalmente.
Para o comerciante Thiago Cândido, 23, skatista há oito, as redes sociais e a mídia foram, e continuam sendo, importantes aliados para a motivação dos jovens e divulgação do esporte. Thiago é dono de uma loja especializada no esporte em Rio Pomba, a aproximadamente 200 quilômetros de Ouro Preto. Ele afirma que vende muito via internet, e que, em Ouro Preto, entre os clientes estao skatistas que “dão rolês” com ele.
Thiago também batalhou pela construção de uma pista em sua cidade natal, e em Ouro Preto se juntou a Guilherme e Leo na luta por um espaço adequado no município para a prática do skate. Em novembro do ano passado, o grupo realizou uma reunião com o secretário de Esportes e Lazer de Ouro Preto, Marco Antônio de Freitas, o Marquinhos, em que discutiram dois projetos apresentados por eles: um de revitalização da
pista da Vila dos Engenheiros, e outro para construção de uma “Skatepark” na cidade. Segundo Marquinhos, os orçamentos feitos pelo grupo foram encaminhados à prefeitura e incluídos no PPA (Plano Plurianual). Porém, o próprio secretário afirmou que ainda não há nenhuma garantia de que essas melhoras sejam realmente feitas. Enquanto isso, os jovens continuam a gastar suas rodinhas em rolês em picos improvisados. Éllen nogueira
Quando não são expulsos pelos seguranças, skatistas improvisam área da concha acústica da Ufop como pista
Fevereiro de 2014 Arte: Thaís Corrêa
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DISTRITO
Sons e sabores de Padre Viegas
Interdição na igreja tricentenária de Nossa Senhora do Rosário ameaça sobrevivência da cultura local
ROSI SILVEIRA
Rosana Freitas Padre Viegas ou Sumidouro, como é conhecido esse distrito distante nove quilômetros de Mariana, não tem atividades econômicas que sustentem os moradores, mas há uma forte inclinação para atividades culturais. Para falar da cultura local pode-se citar dois segmentos: Coral Nossa Senhora do Rosário e Festival do Cuscuz. O Coral tem 53 anos, mas apenas há cinco obteve registro de instituição musical. O coro já se apresentou em di-
versas cidades mineiras, como Belo Horizonte, Viçosa, Cristiano Otoni, Senhora de Oliveira, Ouro Preto, além de outros distritos marianenses. Todos os anos apresenta o “Oratório de Natal”, no qual homenageia o nascimento do Menino Jesus. A dona de casa Sueli Pereira, 63, é uma das coralistas pioneiras. “Estou no coral desde que ele surgiu, quando eu tinha 10 anos. É muito bom fazer parte dessa história, é uma das coisas mais importantes da minha vida”.
O grupo desenvolve também alguns projetos educacionais, como aulas gratuitas de violão, violino e violoncelo, além da banda Skact’us, formada por jovens e adolescentes da comunidade. A ligação do professor de música Junior Eduardo Nonato, 30, com o coral é tão grande que o jovem decidiu levar sua paixão para a carreira profissional. “Entrei na faculdade de Música e vi que tinha coisas que eu estudava e podia trazer para o grupo. Participei do coral da Universidade Rosi Silveira
Coral ensaia o repertório para apresentação na cerimônia de Ordenação Sacerdotal
Federal de Ouro Preto (Ufop) e de corais de Mariana, e fui aplicando aqui. Hoje sou segundo maestro e cantor”. Cuscuz Nem só de música vive a cultura de Padre Viegas, mas também de um delicioso cuscuz, produzido pelas mulheres do distrito. Desde 2003, todo 12 de outubro acontece o Festival de Cuscuz, uma das principais festas do lugarejo. Vários sabores do tradicional fubá suado são vendidos. O cuscuz doce é feito com queijo, banana, canela e açúcar mascavo. Já o salgado, pode levar frango ou mesmo bacon, torresmo e linguiça. O festival foi uma iniciativa do antigo pároco José Julião da Silva, e das moradoras Cremilda Gonzaga e Maria Gonçalves, com o objetivo de arrecadar fundos para a construção do Centro Pastoral. O evento agradou tanto que recebeu em 2013 um selo comemorativo, criado pela Prefeitura de Mariana, em parceria com os Correios, que simboliza a importância da festa para o município, além de já integrar o calendário oficial de Mariana. “É o primeiro selo comemorativo de culinária regional lançado pelos Correios”, comenta a coordenadora do festival Águeda Gomes. A festa integra as comemorações do aniversário do distrito.
Com habilidade, Dona Maria prepara seu tradiconal cuscuz
Todos esses segmentos culturais estão ameaçados. Isso porque o que sustenta essas tradições culturais, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, erguida no Século XVIII, está interditada há um ano. Problemas na estrutura do telhado, que pode vir a desabar a qualquer momento, afastaram as atividades que eram realizadas ali. O transtorno surgiu após uma reforma inadequada. As apresentações do coral sofreram alterações no mo-
mento da missa, como explica o presidente do grupo Samuel Martins. “Essa situação é muito difícil para os coralistas, pois as músicas sacras são extensas, mas como o salão comunitário é muito pequeno e quente temos que cantar músicas curtas para não causar um desconforto ainda maior aos fiéis que vão à missa”. O que resta aos moradores é esperar, sem saber até quando, a reforma da histórica igreja ser concretizada.
PERFIL
O samba do Pouso, o Bosco da gente Marllon Bento Ao chegar à antiga república federal, sinto um ambiente tranquilo. Toco a campainha. Rapidamente um dos novos moradores abre a janela esperando minha solicitação. Digo sobre quem procuro e pergunto se pos-
so conversar sobre a vida de um ex-morador. Rapidamente ele procura a chave, com a ansiedade de alguém que sabe da importância de quem eu procuro e com uma rapidez que demonstra orgulho por também morar ali e partilhar um pouco desta história.
O morador leva-me até uma sala repleta de quadrinhos com fotografias dos exmoradores da república, todos sérios, em preto e branco. Ele aponta um deles e uma majestosa barba, que até hoje a mantem, faz-me reconhecer quem procuro. Isadora Lira
A foto na parede da república onde João Bosco morou recorda seu tempo em Ouro Preto
João Bosco de Freitas Mucci, o amigo de Vinícius de Moraes, o compositor que um dia foi aluno da Federal de Ouro Preto e morador da República Sinagoga, é hoje um dos grandes nomes da MPB. Em 2012 foi o homenageado do Grande Prêmio da Música Popular Brasileira, produzido pela Rede Globo, e considerado por muitos, um dos maiores prêmios da música nacional. O cantor, entre outros talentos, é um sambista de grande alma mineira, formou-se Engenheiro Civil pela Ufop, em 1972, tendo assim dez anos de vida estudantil. Os primeiros quatro cursando o científico, em uma escola técnica de mineralogia e os outros seis no curso de engenharia. Terminou os estudos por pressão da família, pois sempre dizia que não era a carreira que queria pra si. Nascido em Ponte Nova, a 63,5 quilômetros de Ouro Preto, em julho de 1946, João Bosco é o sexto filho. Seus pais, o libanês Daniel e a mineira Dona Lilá, tiveram dez filhos. Aos quatro anos, começou suas atividades artísticas cantando em um coral de igreja, nada mais comum para alguém que vinha de uma família de músicos. Aos 16, sai de sua cidade natal para morar em Ouro Preto, uma experiência que decidiria sua vida. Em um vídeo gravado na cidade, João Bosco diz que “não tem como falar de Ouro Preto, sem falar dos bote-
quins”. Em 1967, em uma saída com o amigo Paulo César Pavanelli, foi à procura de Vinícius de Moraes ao saber que ele estava na cidade, hospedado na pousada Pouso do Chico Rei. A responsabilidade pela apresentação dos dois se divide entre Dona Lili Correa Araújo, dona da pousada, e o pintor Carlos Scliar. Bosco e Pavanelli tinham um grupo musical chamado Quarteto de Ouro Preto, com outros dois amigos. O “Poetinha” os recebeu muito bem, com uma garrafa de uísque e, no mesmo dia, letrou os únicos dois O amor é uma coisa linda Ninguém fez melhor depois Mas pra ser mais lindo ainda Precisa de paz De paz pra nós dois” Samba do Pouso João Bosco sambas que João Bosco havia composto. Um deles, o “Samba do Pouso”. João compôs sob a lua e observando a construção barroca. E admite em diversas entrevistas que Ouro Preto o inspirou. Foi ali, na histórica Vila Rica, a partir desse primeiro encontro com Vinícius, um dos grandes amigos que alavancaram sua carreira com parcerias, que foi apresentado a intérpretes, como Elis Regina, para quem compôs, e Aldir Blanc, parceiro de trabalho
que conheceu em 1970. A carreira musical deixou gravadas suas marcas na república. “À Sinagoga de Ouro Preto, o chorinho meu e do meu violão”. É a frase contida no quadrinho 39, do ex-aluno João Bosco. O amigo Perouse Cardoso, empresário do primeiro grupo musical de Bosco, diz que ele tinha uma ótima convivência com os colegas, e que sempre passava noites em “curriolas”, como eram chamadas as rodas de violão promovidas pelo músico. Sua última fotografia nos álbuns da república é de 1997. Os atuais moradores lamentam o afastamento do compositor, que depois de 2002, quando recebeu o prêmio de cidadão honorário de Ouro Preto, não visitou mais a antiga moradia. Após a formatura, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde sua carreira deslanchou. Casou-se com Angela Bosco, que conheceu na época que morava em Ouro Preto, e tiveram dois filhos. Mesmo com o distanciamento, essa terra não esquece o compositor que enalteceu os sons que se ouviam nas ruas, em sua época; muito menos os amigos o esqueceram. João Bosco, sua terra tem saudades. CONFIRA A ENTREVISTA COM O COLEGA DE REPÚBLICA DE JOÃO BOSCO NA VERSÃO ONLINE: http://migre. me/hCZRU
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Fevereiro de 2014 Arte: Dayane Barretos
Cultura
Quando a fé vence o preconceito Práticas religiosas sobrevivem em uma cidade católica onde o que foge ao tradicional é rejeitado
É paz e amor. Um dom e uma missão em busca de fazer o bem.
Maria Marta
É um caminho para Deus mediado por divindades africanas.
Erisvaldo Santos
Adeptos no Brasil:
O outro lado O padre Geraldo Buziani, da paróquia Nossa Senhora da Assunção, coloca a Igreja católica como a favor
Uma doutrina consoladora que orienta o caminho na evolução do espírito.
Uma Igreja mãe com filhos que são acolhidos em suas particularidades na fé cristã católica.
da liberdade religiosa. Mas, acentua que o que não é aceitável é a manipulação da fé. Geraldo defende que toda religião deve ser respeitada quando cumpre com a principal missão de levar o fiel ao verdadeiro Deus. Perguntei o que seria “o verdadeiro Deus” e o padre me explicou com o exemplo: “Existem pessoas que acreditam que Deus é um bem-estar, uma vibração, mas Deus é o que foi revelado por Jesus Cristo, portanto, assemelhando-se a Jesus e vivendo como ele viveu, nos tornamos mais humanos, mais divinos e mais próximos de Deus”. VEJA O ENSAIO FOTOGRÁFICO SOBRE DIVERSIDADE RELIGIOSA NA VERSÃO ONLINE: http://migre. me/hCZQi
ASSEMBLEIA DE DEUS
Tradicionalismo e medo Vilma Conceição, 51, é presidente da Casa Espírita Irmão Horta. Com a voz calma, diz que o espiritismo vive em paz com as outras religiões. Mas, por morar em uma cidade tão católica, Vilma declara ter dificuldades em manter o grupo. Acredita que tudo que foge ao tradicional, no caso, foge ao catoli-
ESPIRITISMO
Salvação pela palavra A paixão por sua igreja, Assembleia de Deus, se reflete em tudo no jovem pastor Davi Roque de Melo, 26. Ele fala com a determinação dos que desejam ensinar, ou em suas palavras, semear boas novas em salvação dos homens. Para ele, “Cristo nos santifica e somente por ele somos salvos perante a Deus”. Por pensar dessa maneira e seguir a verdade de Cristo,
cismo, é visto como errado. “Muitas vezes, as pessoas procuram os centros religiosos de outras cidades, por medo de se expor.” O preconceito, em sua opinião, vem de uma falta de conhecimento, uma ignorância. Conta que quando os membros da casa espírita fazem a campanha do quilo e saem arrecadando alimentos nas casas das pessoas, muitas delas apenas respondem: “Eu não tenho, já ajudo em outra religião”.
CATOLICISMO
Universidade x religião “Não tenho que respeitar por acreditar ou não, mas por respeito ao outro”, diz Erisvaldo Santos, pai de santo e também professor na Universidade Federal de Ouro Preto. Ele diz sofrer muito preconceito, principalmente no meio acadêmico. Conta que as pessoas se questionam sobre como um professor doutor pode ser do candomblé. Pensam que somente pretos, pobres e analfabetos fazem parte dessa prática religiosa. Pergunto se o preconceito vem da falta de conhecimento e
“aquela que está presente na Bíblia e somente nela”, o pastor vê muita rejeição e preconceito das pessoas, que já foi mais acentuado e hoje em dia se encontra velado, mas ainda presente.
CANDOMBLÉ
Dom herdado pela mãe O terreiro de Mãe Maria Marta, 51 anos, se encontra longe do Centro, em uma casa modesta. Ela, uma senhora simples e observadora, quando questionada sobre o comportamento de outras pessoas a respeito de suas práticas religiosas, diz não haver problema, “desde que fique cada um na sua”, afirma, com voz firme e confiante. Entretanto, revela que o preconceito existe desde a época de sua mãe, Dilva da Silva Nativo, criadora do terreiro. Conta que Dilva foi presa mais de 40 vezes e as prisões só pararam quando o terreiro foi registrado em Belo Horizonte, na Federação Espírita Umbandista do Estado de Minas Gerais.
ele diz que as pessoas se negam até mesmo a conhecer. “Acreditam que candomblé é coisa de diabo e não querem saber disso”.
UMBANDA
Bianca Cobra Quinze igrejas. Essa é a quantidade aproximada de templos católicos existentes em Mariana. A porcentagem de adeptos dessa religião em Minas Gerais é de 73,32%, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010. Quem participa de outras práticas religiosas em Mariana acredita haver preconceito em relação a elas, seja por falta de conhecimento ou por desinteresse sobre o que vai além do catolicismo.
Vilma Conceição
Católica 64,4% Assembleia de Deus 22,2% Espírita 2% Umbanda e Candomblé 0,3%
Padre Geraldo Buziani
Tem como compromisso essencial viver, pregar e dar testemunho do Evangelho do Senhor Jesus Cristo na Terra.
Pastor Davi de Melo
FONTE: IBGE
Como as religiões chegaram no país: 1549 Católica: com os Jesuítas durante a colonizacão
1884 Espírita: com a criação da Federação Espírita Brasileira
Candomblé: com os sacerdotes africanos durante a escravidão
1910 1918 Assembleia de Deus: com o casal de missionários suecos
Umbanda: com a criação das 7 tendas
Livros que batem à porta de casa Túlio dos anjos
O gosto de Bianca pela leitura aumentou após ler o livro “Belas Bailarinas”, do projeto Poesia Viva
Jéssica Michellin “A parte que eu mais gosto da aula de português é a da leitura”, conta a marianenseBianca Aparecida Machado, 9 anos. A estudante da terceira série do ensino fundamental passou a gostar mais da disciplina após ler o livro “Belas Bailarinas”, que recebeu do projeto Poesia Viva. A iniciativa, idealizada pela escritora Andreia Donadon Leal e realizada com os demais poetas do movimento Aldravista, J.B. Donadon Leal, J.S. Ferreira, Hebe Rôla e Gabriel Bicalho, teve início em 2008, em Mariana. Andreia se deu conta de que muitos livros, geralmente publicações independentes, ficavam “parados” nas casas dos autores. Então, resolveu distribuir para moradores de bairros humildes no município. “Como escritores, nós queremos atingir o maior número de leitores. Cada vez que eu guardo um livro, é um leitor a menos”, afirma. O projeto sobrevive graças a doações de autores mineiros, como os do Clube dos Escritores de Ipatinga, e, desde então, ampliou sua atuação e passou a presentear famílias de outras cidades. Segundo um dos realizadores, J.B. Donadon Leal, já foram entregues 25 mil livros de 2008
a 2013. “Nas cidades que visitávamos a trabalho, sempre distribuíamos livros. Já passamos por Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e até Lisboa”, conta Donadon. Em 2009, o Poesia Viva ganhou o prêmio Vivaleitura, do Ministério da Cultura (Minc), no valor de R$ 30 mil. O dinheiro foi investido na impressão de publicações de autores locais, incluindo os gêneros de poesia, crônica e literatura infanto-juvenil. Uma das características do Poesia Viva é o fato dos livros serem entregues na residência da família. Assim, pai, mãe filhos e todos mais que tiverem algum intersse compartilham as histórias que leram e o aprendizado de cada uma delas. “Queremos trabalhar o tripé: escola, biblioteca e família. No lar é que deve ser dado o pontapé inicial, para que o gosto pela leitura, desde cedo, se torne um hábito na família”, diz Andreia . E os moradores da cidade aprovam a ideia. Para Adriana Aparecida Silva, dona de casa, 33, mãe de Bianca, não tem benefício melhor do que ver a filha, desde cedo, interessada nos estudos. “Ela e as coleguinhas do bairro se juntam e ficam brincando de escolinha. Cada uma lê uma história para as outras. É uma alegria. Te-
nho certeza que vai ajudar no futuro dela”, conclui Adriana. Entre as ações previstas para 2014, está a entrega de kits com seis livros para alunos da rede pública de ensino de Mariana. A ação, que pretende doar sete mil exemplares, será realizada em parceria com a Prefeitura.
Literatura local Os livros distribuídos pelo projeto são, em sua maioria, de autores locais, residentes em Mariana. De acordo com o professor Associado de Literatura Luso-Brasileira e Comparada do Departamento de Letras (Delet) da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), José Luiz Foureaux, a leitura é a síntese mais eficaz do processo educativo. “As doações marcam o território, antes dominado por outros interesses que não a leitura. Os escritores locais, a partir do ineficiente e elitista sistema de distribuição de livros, têm à sua disposição espaço mais que amplo para a circulação de suas obras, graças ao projeto”, ressalta Foureaux. Sendo assim, o Poesia Viva amplia o alcance das produções editoriais locais, fazendo com que leitores de outras cidades conheçam e apreciem a literatura marianense.
Fevereiro de 2014 Arte: Kaio Barreto
CARNAVAL
A certidão da alegria
Devido à falta de documento da Lesop, escolas de samba ainda esperam repasse de recursos Éllen Nogueira
Paula Bamberg Uma parte significativa do Carnaval ouropretano perdeu espaço nos últimos anos: a que agrega as escolas de samba. Em 2012 não houve participação das agremiações por falta de apoio da Prefeitura, principalmente financeiro. Até a segunda quinzena de janeiro deste ano, as escolas não sabiam se poderiam contar com a verba de R$ 270 mil, aprovada no final do ano passado, apesar das reuniões realizadas desde dezembro de 2013, entre a Liga das Escolas de Samba de Ouro Preto (Lesop) e a Secretaria Municipal de Turismo Indústria e Comércio. Após a autorização do repasse, confirmado pelo secretário Jarbas Avelar ao LAMPIÃO, em 20 de janeiro, o entrave passou a ser a falta de uma certidão da Lesop, comprovando a inexistência de débitos junto à Receita Federal. A gestão anterior da entidade não havia declarado imposto de renda, o que gerou uma multa que impedia a expedição do documento. Até 28 de janeiro ele não havia sido liberado. No entanto, o presidente da Liga, Éder Kennedy, mostra-se confiante e acredita que as escolas de samba, mesmo faltando um mês para o desfile, terão condições de voltar às ruas no domingo e na segunda-feira de Carnaval. Quem também se mostra confiante é o coordenador da União Recreativa Santa Cruz, Danilo Nonato, que de acordo com o sorteio que organiza a ordem do desfile, será a última a desfilar no Carnaval Cultural 2014. Segundo ele, a agremiação está se preparando desde julho de 2013. “É tranquilo, nós já colocamos a escola na rua em 15 dias”, afirma Danilo quando questionado sobre o atraso na liberação e repasse da verba. Para promover o Carnaval anu-
almente, escolas como a Unidos de São Cristóvão alugam seus espaços físicos (sedes) durante o ano e algumas, como a União Recreativa Santa Cruz, também utilizam de apresentações da bateria em blocos carnavalescos, tornando possível o adiantamento do processo de produção dos desfiles. Mas, algumas escolas que não contam com outros recursos financeiros, a exemplo da Unidos do Padre Faria, que desfila com 300 pessoas e três carros alegóricos, não conseguem pisar na rua sem o apoio municipal. A maior dificuldade causada pela demora no repasse é o tempo curto para a confecção das fantasias e carros alegóricos, já que o material geralmente é comprado no Rio de Janeiro e em Juiz de Fora. Para o coordenador da Padre Faria, Antônio Carlos, é impossível a escola se preparar sem os recursos. “A gente não começa a mexer em nada até o dinheiro estar em mãos”, afirma. A volta A Liga representa sete escolas de samba do 1º grupo e duas escolas mirins. Em 2012, ano do último desfile, seis agremiações competiram no Carnaval: Inconfidência Mineira, Imperial de Ouro Preto, Morro de Santana, Acadêmicos de São Cristovão, Unidos do Padre Faria e Unidos de Santa Cruz. Para este ano, até 28 de janeiro, todas as agremiações estavam confirmadas para desfilar na segundafeira de Carnaval, exceto a Escola de Samba Sinhá Olímpia. Apesar da proximidade dos desfiles, as escolas não quiseram revelar ao LAMPIÃO os temas de seus sambas-enredos, com exceção da União Recreativa de Santa Cruz, que vai levar “Uma viagem à China Milenar” para a histórica Praça Tiradentes.
Escolas de samba confirmadas para o Carnaval 2014 Acadêmicos do São Cristovão Império do Morro Santana
Inconfidência Mineira - ESIM
União Recreativa do Santa Cruz
Unidos do Padre Faria
Imperial de Ouro Preto
Criada em 1980 no Bairro São Cristóvão. Primeira escola de samba da cidade, fundada em 1957. Fundada no Bairro Antônio Dias, em 1972, após a extinção do Conjunto Brito Filho. Criada em 2009 pela Associação dos Moradores do Santa Cruz. Foi fundada em 1970, no Bairro Padre Faria por um grupo de amigos. Fundação em 1975 para representar , a princípio, os bairros do Pilar e Rosário. Hoje abrange diversos bairros.
Teka Lindoso
Presidente da Morro da Saudade demonstra orgulho da escola no sorriso
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Trabalho pesado durante a folia
Lucas Machado Quando se pensa em Carnaval, logo vem à mente férias, viagem, diversão. Mas, nem todos têm folga nos quatro dias de feriado, principalmente aqueles que perdem o sono para salvar a vida de muitos foliões que passam dos limites nessa data. Todos os anos os bombeiros vivem essa rotina: eles não podem parar, e perdem a chance de um descaso junto com suas famílias. Na 3ª Companhia de Bombeiros de Ouro Preto, todos os 50 homens ficam a postos durante o feriado, mas mesmo assim é preciso contar com um reforço de cerca de 18 militares devido ao aumento de ocorrências. Somente a de pessoas alcoolizadas representam 70% dos casos envolvendo acidentes com veículos, coma alcoólico e ferimentos decorrentes de brigas. Quando me aposentar vou usar meu Carnaval para descansar com minha família.” Willian Martins de Oliveira Apesar do atraso na verba, União Santa Cruz já se prepara para o Carnaval
O caminho do dinheiro A Lei nº 874, de dezembro de 2013, autoriza o Poder Executivo a conceder contribuição para a Liga das Escolas de Samba (Lesop) e demais agremiações de Ouro Preto. O repasse às escolas de samba será realizado em cinco parcelas mensais e iguais. Elas devem ser pagas a partir de outubro do ano anterior à realização do Carnaval, devendo a última delas ser quitada até 15 dias antes da data oficial do evento. A nova legislação ainda estabelece que haja uma seleção prévia, por edital, para a participação das agremiações carnavalescas nos desfiles. Quem define o valor total das contribuições é a Secretaria Municipal de Turismo Indústria e Comércio. Estima-se que diferentemente dos atrasos e impasses desse ano, para o Carnaval de 2015 as escolas de samba recebam todo o repasse antes das festividades. Para isso, a Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão deve receber informações quanto ao valor da contribuição até o dia 30 de setembro deste ano.
As escolas de samba e a Liga das Escolas de Samba, beneficiárias de recursos públicos, serão submetidas a uma fiscalização com a finalidade de verificar o cumprimento do objeto para o qual receberam os recursos. Para obter a contribuição, deverão comprovar a personalidade jurídica, ter cadastro junto à Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio e ao Conselho Municipal de Políticas Culturais. Além disso, as agremiações devem ter sede com endereço comprovado no município e preencher outros requisitos. O prazo máximo para prestação de contas final será de 30 dias após o encerramento das festividades de Carnaval. Para 2014, a estimativa de público no Carnaval Cultural 2014 de Ouro Preto é de 75 mil pessoas. De acordo com a Prefeitura, serão montados quatro portais na cidade para organizar a entrada de turistas. A segurança será reforçada com aumento de 50% no número de policiais em relação ao ano anterior.
Eles ainda têm que lidar com imprevistos dessa época do ano. “Durante o Carnaval é grande o número de turistas na rua, o que atrapalha o deslocamento da viatura. Além dos espertalhões, que ficam querendo subir no carro dos bombeiros para fazer gracinha. Isso faz com que tenhamos que designar de dois a três militares para a segurança do veículo”, conta Fernando Otávio de Andrade, o Cabo Andrade, que é bombeiro há nove anos, e todos os carnavais fica longe da esposa, que está grávida, e da filha de quatro anos de idade. Apesar da distância a que são submetidos os profissionais e seus parentes, as famílias sabem da importância do trabalho dos bombeiros, como relata o soldado Adilson Clério de Souza, há cinco na Companhia. “Meus pais ficam preocupados como todos os pais, mas sempre me apoiam e sentem orgulho por eu estar fazendo uma coisa útil para a sociedade”. Inclusive, a proximidade com a família é o que mais preza Willian Martins de Oliveira, o cabo Gurita. “Quando me aposentar vou usar meu Carnaval para descansar com minha família”.
Quando uma escola de samba cabe no peito Hélen Cristina Uma vida dedicada à construção. De casas e de sonhos. É assim que o pedreiro José Arlindo Pinto, 42 anos, passa seus dias, dividindo seu tempo entre o trabalho rotineiro e a presidência da escola de samba Morro da Saudade, de Passagem de Mariana. Sua relação com a agremiação é tão forte que ele já não se lembra quando foi a primeira vez que desfilou, mas o que importa é que daí em diante não parou mais. Tímido, começou como membro da bateria e, aos poucos, foi conquistando o respeito e a admiração dos dirigentes até ser convidado a se tornar membro da diretoria. Atualmente, ele cumpre seu quarto mandato, somando quase oito anos à frente da escola. Presidente “pé quente”, é assim que ficou conhecido após a escola de samba se tornar tetracampeã do carnaval ma-
rianense em 2010 sob seu comando. Como é cantado no samba-enredo campeão em 2008, Zé Arlindo se tornou prisioneiro do amor, amor tão grande que ele não consegue separar a história da escola da sua própria trajetória. Nas conversas com os amigos, se a Morro da Saudade não for mencionada, é como se O carnavalesco sequer cogita o afastamento da escola. Seu sonho é poder se dedicar exclusivamente à agremiação e à comunidade. não tivessem se encontrado. E tamanho amor não poderia se restringir ao galpão da escola; ele se estende a toda comunidade. Figura atuante, ele participa de todos os eventos do bairro e é sempre lembrado com carinho pelos moradores. Nem mesmo seu jeito
reservado consegue ocultar as características que lhe rendem tanta admiração. “Ele é uma pessoa muito prestativa, que tem esse amor pela escola, mas também faz outras coisas pela comunidade, qualquer coisa que tenha ele está sempre junto”, conta Débora Fernandes dos Santos, produtora cultural do grupo Osquindô. Conhecido como otimista e apaziguador, ele carrega ainda a fama de melhor churrasqueiro de ferro elétrico da região, por utilizar o curioso objeto para preparar espetinhos de carne. O carnavalesco sequer cogita o afastamento da escola. Seu sonho é poder se dedicar exclusivamente à agremiação e à comunidade para realizar, a cada ano, um Carnaval melhor. Acredita estar no caminho, e a prova disso é o reconhecimento que recebe a cada dia de amigos e membros da escola por seu trabalho.
infográfico
O
DUELO DO ZÉ
Marcos Resende Os blocos carnavalescos mais antigos do Brasil: Zé Pereira dos Lacaios e Zé Pereira da Chácara. Mais que tradicionais, os atuais carros-chefe dos carnavais de Ouro Preto e Mariana, respectivamente, já são considerados patrimônios imateriais da região. Ambos possuem rituais, alegorias e organização parecidas. Seus bonecos, os chamados catitões, representam personalidades históricas das cidades. São homenageados, também, literatos, políticos, músicos, entre outros, que, de alguma forma, tornaram-se figuras caricatas da sociedade brasileira. Todavia, cada bloco seguiu seu percurso, fez diferentes escolhas para sua manutenção ao longo do tempo e, com isso, adquiriram diferentes identidades, que vêm sendo enraizadas desde a metade do Século XIX.
zé pereira da
CHÁCARA
zé pereira dos
LACAIOS
Arte: Gabriel Koritzky Danielle Diehl e Pedro Pessoa
com colaboração de
Participantes em 2013
Não houve desfile
Acervo atual de catitões
vs
Com lugar garantido nos carnavais de Ouro Preto e Mariana desde o século XIX, os blocos só não foram às ruas durante o período da Segunda Guerra, de 1939 a 1945.
vs
16.000
20.000
118
11
O catitão mais antigo...
...o mais pesado...
...e o mais alto.
vs
vs
vs
50 anos
60 anos
“A Coisa” Com orelhas de burro, chifre, dentes de vampiro, escamas de jacaré e rabo de dinossauro, o catitão nomeado “A Coisa” é um dos mais peculiares do Bloco do Zé Pereira da Chácara.
Goteira no telhado A atual sede do Bloco Zé Pereira da Chácara carece de reformas em seu telhado. Um sério problema de infiltração afeta seu forro e várias goteiras comprometem a preservação dos bonecos.
60kg
50kg
4,5m
3,5m
Membros da organização
Sta. Efigênia, 55
vs
O Bloco do Zé Pereira dos Lacaios localiza-se à Rua Santa Efigênia, 55, Bairro Antônio Dias, desde 1969, quando teve o espaço cedido pela Prefeitura de Ouro Preto.
30
55
70
Verba repassada para o Carnaval de 2013
vs R$10.000
R$10.000
Documento mais antigo O documento mais antigo do bloco é uma ata de 1938, embora a Organização Zé Pereira dos Lacaios tenha sido registrada em 1867 pelos empregados do Palácio do Governo.