Jornal Lampião - edição 20

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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA lampiao@icsa.ufop.br LEIA E REPASSE

Jornal - Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 5 - Edição Nº 20 - Julho de 2015

Saúde O público contra o privado p.3

Política

Educação

Mariana: cenário instável p.6

Outras formas de ensinar p.7

Patrimônio A casa está em reforma p.8


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Arte: Camila Gonçalves

editorial

O impresso reinventado O jornalismo está mudando. O jornal que é comprado nas bancas pode deixar de existir nas próximas décadas. Os cursos de jornalismo do Brasil têm de começar a adequar os jornais-laboratórios a um ambiente completamente digital. Os grandes jornais mundiais já trabalham com um sistema de fidelização do assinante em diversas plataformas, bem parecido com os serviços de streaming. Esses serviços tornaram-se uma tendência nos últimos dez anos. Canais como Netflix e Hulu, para filmes e séries, Spotify e Apple Music, para transmissão de música, descobriram uma forma de utilizar as facilidades da internet para distribuição de conteúdo de modo mais prático, tendência que vem se intensificando, ainda que a passos lentos, no jornalismo brasileiro. Por uma mensalidade, o assinante tem acesso a toda uma gama de produtos, acervos com milhões de músicas, filmes, seriados, minisséries e, ultimamente, a uma variedade de conteúdos jornalísticos (o paywall, ou modelo poroso). Segundo o

Instituto Verificador de Circulação (IVC), houve uma aumento de 7,5% nas assinaturas dos grandes jornais brasileiros. As vendas avulsas, no entanto, diminuíram 7,6% e, mesmo assim, a participação de edições digitais na circulação diária mais que dobrou, crescendo 118% de 2013 para 2014. Esses números mostram que a produção de conteúdo para múltiplas plataformas é uma necessidade latente no jornalismo do século XXI. No ano passado, as edições digitais passaram a representar 11,5% da tiragem diária dos grandes jornais brasileiros. O que hoje se vê nas ruas é a massificação dos smartphones: os aparelhos chegaram a representar um terço do acesso dos sites filiados ao IVC em dezembro de 2014. O jornal já se transformou. Gradativamente observamos produtos mais densos na web, mais trabalhados, e o leitor de hoje é muito diferente daquele de vinte anos atrás. Assim, a 20ª edição do LAMPIÃO mergulha numa nova era. A marca que queremos deixar é de

uma abordagem mais ampla e profunda dos problemas enfrentados nas regiões de Ouro Preto e Mariana. Nossa equipe de reportagem fala sobre o fechamento da Santa Casa de Misericórdia, explicando a burocracia e como tudo aconteceu, sem deixar de lado as demandas da população por um serviço de qualidade. No trânsito, constatamos várias aberrações em Mariana. Um produto audiovisual que contempla os descasos tanto do poder público, no que diz respeito à sinalização e à desativação dos semáforos, como na imprudência dos atores desse caos do dia-a-dia. Para debater patrimônio, abordamos a Casa da Ópera, o teatro mais antigo das Américas, que infelizmente não funciona há quinze meses por uma série de burocracias. Vimos o quanto a obra demorou a iniciar e também problemas não resolvidos de uma reforma passada. Ainda fazemos um balanço dos edifícios que passam por problemas similares numa radionovela. O cenário político de Mariana e todas as turbulências do mês de junho são

pauta, assim como um balanço dos escândalos. A arte e educação se misturam para mostrar iniciativas de diversos grupos e projetos que fornecem um caminho diferente da educação tradicional. E, por fim, mapeamos as dificuldades de acesso aos distritos de Ouro Preto e ouvimos movimentos que reivindicam políticas públicas para localidades afastadas da sede. Nossa raiz é impressa. Fomos concebidos assim. Mas com o passar do tempo adicionamos conteúdo complementar na web. Hoje, trazemos uma edição inteiramente digital. Toda mudança é brusca. Para a equipe, é um desafio produzir materiais relevantes com diversos recursos sem correr o risco da redundância. Para o leitor, é um desafio criar um nova forma de enxergar o jornal. Assim como a dificuldade de leitura num aparelho digital pode tornar-se uma das principais resistências a esse novo modo de veiculação de conteúdo. O LAMPIÃO não está deixando de existir, ele está migrando, acompanhando as novidades.

Manual do lampião online: www.jornalismo.ufop.br/jornallampiao A edição digital do LAMPIÃO conta com seis reportagens especiais separadas em editorias com conteúdo multimídia. Confira:

Trânsito A matéria aborda a situação do trânsito após o desligamento dos semáforos, a condição das estradas e o Plano de Mobilidade Urbana. Temos também um diário de bordo sobre buracos e a sinalização das ruas.

Distrito

Os problemas enfrentados pela população dos bairros Dionísio e Metalúrgicos, do distrito de

Cachoeira do Campo, são assunto de um especial. O contraste entre Ouro Preto e um de seus maiores distritos é mostrado em um ensaio fotográfico. Há ainda mapas com a localização e informações sobre cada distrito de Mariana e Ouro Preto, além de um podcast sobre a dificuldade de acesso a eles.

Política

Posse de Duarte Júnior, oposição diante do cenário político marianense, metas da nova administração, detalhes sobre a cassação de Celso Cota e opinião de cientista político sobre a situação da Prefeitura são os assuntos abordados na matéria de política. A reportagem conta tam-

bém com vídeo da população dando seu parecer sobre a atual situação política da cidade.

Educação

Falamos também sobre alguns projetos pedagógicos de arte na região. Osquindô, Grupo Residência e Cine Vila Rica são abordados com suas propostas de arte para o ensino básico. Lá, você encontrará também fotos do Ballet Tânia Suares e Free Som Escola de Música.

Saúde

A crise que assola a saúde da região, a dificuldade de acesso à informação e as declarações controversas dos responsáveis recebem desta-

que na reportagem. Produzimos um vídeo com a opinião da população sobre o caso, um gráfico com os valores pagos mensalmente pela Prefeitura à Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto e um mapa interativo com informações sobre os locais de saúde em Mariana e Ouro Preto.

Patrimônio

O fechamento e reforma da Casa da Ópera são abordados. Uma radionovela sobre o desabamento de uma casa na Rua Dom Viçoso, uma galeria com fotos do anexo da Casa da Ópera e um vídeo sobre outros lugares que estão fechados fazem parte da matéria.

opinião

Estamos em época de inconstância política SILVIA CRISTINA SILVADO

Luiz Carlos Garcia Professor Substituto da UFOP - Direito

A representação é inerente à ideia de democracia. Apesar de por diversas vezes viver-se verdadeiras crises de representação, esta ainda é a forma mais usada no mundo de se fazer a organização estatal, tomar decisões e portanto torna-se essencial a própria realização da democracia. Falar de representação é falar de eleições, de mandato eletivo e consequentemente da perda destes. Afinal de contas aquele que é conduzido pelo voto soberano do povo não o é para sempre. Muito pelo contrário a temporalidade é marca dos mandatos eletivos. Entretanto, não apenas pelo decurso do tempo – o que seria o ritmo natural – há a extinção de um mandato eletivo. Este também pode ocorrer por razões como compra de votos, corrupção no exercício do cargo, dentre outros. Para melhor visualização, podese dividir as formas de extinção do mandato eletivo em dois tipos. Um deles ocorre no processo eleitoral – causa eleitoral de extinção do mandato eletivo – que compreendem os casos onde o registro de candidatura não esteja adequado ou tenha sido indeferido pela Justiça Eleitoral. E ainda os casos de abuso de poder econômico ou político. Este muito comum, e muitas vezes difícil de se

identificar. Afinal, a captação ilícita de votos por meio de dinheiro e favores é muito comum e toda a sociedade tem consciência – quando não conivência – de que ela ocorre. De outro lado tem-se as chamadas causas não eleitorais que pode culminar com a extinção do mandato eletivo. Tratam-se de fenômenos ocorridos no transcorrer do mandato. Pode ser algo que não é contra a Administração – morte do titular do mandato, renúncia, encerramento do tempo do mandato – no entanto pode ser também uma sanção, que na atualidade é o caso em si de cassação. Neste tipo de extinção, há um ato cometido pelo titular do mandato que enseja na sua punição, e esta acontece – dentre outras possibilidades – através da perda do mandato eletivo. As hipóteses que podem levar a cassação do mandato estão disciplinadas na lei e em regra se relacionam com atos que vão contra os valores que norteiam – ou pelo menos deveriam nortear – a atividade daqueles que representam o povo e exercem por meio do poder estatal a prerrogativa de decidir como e o que guiará a vida de toda a população brasileira. Essa sanção que é a cassação vincula-se em regra a crimes comuns cometidos pelo titular – havendo sentença penal – e crimes de corrupção. Ocorre também em caso de infideli-

dade partidária, pois entende-se que o mandato pertence ao partido e não a pessoa do candidato. Recentemente falou-se muito na possibilidade de um impeachment que consiste na destituição do chefe do Poder Executivo por meio de votação/ato do Legislativo, tendo como motivo um crime de responsabilidade. No caso, não havia qualquer razão palpável para tal, e sim uma movimentação sem bases legais e nem materiais para tal. Isso ilustra que, o mandato é um direito que seu titular consegue uma vez eleito. Assim sendo, a perda deste não pode ocorrer de qualquer forma e por qualquer motivo. Devendo portanto, resguardar o titular, dando a este um processo devido. Por outro lado, a possibilidade da perda é uma forma de proteger o cidadão de pessoas que sejam corruptas ou negligentes com o bem público. Bem, em épocas de intensa movimentação política e grandes debates como a atual, falar de cassação torna-se ainda mais importante. Afinal, é por meio da política que muito se realiza na sociedade, tanto positiva quanto negativamente. Salientese que em todos os casos há ao final de tudo um grande responsável, aquele que assina em conjunto, indiretamente, os atos de corrupção, os desmandos, abominações que acompanha-se: o ELEITOR.

Jornal Laboratório produzido pelo alunos do curso de Jornalismo – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/ Universidade Federal de Ouro Preto – Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Benedito Donadon Leal Chefe de departamento: Profa. Dra. Vírgina Alves Carrara Presidente do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Denise Figueiredo de Barros do Prado – Professores responsáveis: Karina Gomes Barbosa (Reportagem), Ana Carolina Lima Santos (Fotografia) e Priscila Borges (Planejamento Visual) – Editor chefe: Rodrigo Almeida – Editoras de Texto: Gabriela Santarosa e Thaís Medeiros – Editora de Fotografia: Silvia Cristina Silvado – Editoras de Arte: Camila Gonçalves e Letícia Cristiele – Editores de Audiovisual: Fábio Melo, Larissa Pinto e Lívia Monteiro – Repórteres: Anna Flávia Monteiro, Catarina Barbosa, Cleo Silva, Gabriela Santos, Ingridy Silva, Lara Cúrcio e Luiza Lacerda – Fotógrafos: Fábio Pereira, Gabriela Ramos, Igor Capanema, Isabela Porto, Luana Barros, Lucas Campos e Marina Morgan – Designers: Andrezza Lima, Fabiano Alves, João Vitor Marcondes, Mariana Araújo, Taíssa Faria e Thatyanna Mota – Audiovisual: Ádrean Larisse, Barbara Torisu, Daniela Félix, Francielle Oliveira e Gabriel Campbel – Revisão: Laene Medeiros e Júlia Cabral – Monitoria: Carolina Brito, Silmara Filgueiras e Stênio Lima – Colaboradores: Alexandre Guzanshe, Amanda Sereno, Bruno Arita, Eduardo Moreira, Joyce Afonso, Julia Mara Cunha, Julio César Araújo, Lais de Queiroz, Lucas de Godoy, Luiz Carlos Garcia, Luiz Fernando Loureiro, Marcelo Rodrigues, Paula Bamberg, Rosi Oliveira e Wendell Soares – Tiragem: 3.000 exemplares Endereço: Rua do Catete, nº 166, Centro, Mariana - MG. CEP 35420-000


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Arte: Camila Gonçalves

SAÚDE

Crise na saúde gera debate Santa Casa de Ouro Preto, Unidade de Pronto-Atendimento e Farmácia Popular são os lugares que lutam contra o problema Gabriela Santos Lara Cúrcio

Os problemas da Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto geram controvérsias acerca da situação da saúde pública da cidade. Em meio a discussões que tentam buscar culpados, a dúvida sobre as causas, o impacto e as consequências preocupam a população ouro-pretana, maior afetada. Segundo o antigo provedor da Irmandade, Marcelo Oliveira, os custos da instituição têm défict de R$ 282.440,23, por isso, seria necessário um reajuste dos repasses por parte dos governos federal, estadual e municipal para dar continuidade ao atendimento à população. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) explica que os valores destinados aos hospitais seguem critérios de acordo com a classificação da unidade de saúde. A Santa Casa de Ouro Preto é classificada como grau II. “A unidade pode solicitar uma reavaliação para mudança de nível. No entanto, o hospital precisa atender aos critérios de classificação para o nível desejado”, esclarece a secretaria. Em entrevista à Rádio Itatiaia de Ouro Preto, no dia 12 de maio, o atual prefeito do município, José Leandro, dis-

Gabriel Campbel

se que até aquela data a Prefeitura estaria em dia com a Irmandade. Enfatizou ter certeza, com base nos dados encaminhados pela Santa Casa à Secretaria de Saúde do município, que quem estaria em dívida com a instituição não seria o Sistema Único de Saúde (SUS), e sim os convênios. O secretário de Governo de Ouro Preto, Flávio Andrade, diz que 62% da verba recebida pela Santa Casa para o Pronto Atendimento (PA) são dos governos, porém, segundo o secretário e conforme relatório financeiro da Santa Casa, apenas 32% dos atendimentos são feitos pelo SUS: “É o dinheiro público pagando o atendimento particular. Não está correto isto”, reclama Flávio. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais afirma que foram pagas duas parcelas no valor de R$195.982,00 à Santa Casa, referentes aos meses de janeiro e fevereiro. A quantia é destinada ao Programa Rede Resposta. A SES-MG diz que a parcela, de mesmo valor das anteriores, referente ao mês de março, foi paga no dia 2 de junho e a de abril, no dia 5. Segundo o Governo Estadual, a efetivação dos repasses depende da aprovação do Orçamento de 2015 pelo Poder Legislativo. No dia 1º de junho, os ser-

viços de urgência e emergência foram suspensos na Santa Casa de Misericórdia. De acordo com a assessoria da Prefeitura de Ouro Preto, a Provedoria da Irmandade alegou que o custo para manter o Pronto Atendimento ultrapassaria a verba recebida pelos governos. A entidade diz que a dívida é de R$ 8.712.664. Com o fechamento do único hospital do município, a população se viu obrigada a recorrer à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e ao Hospital Monsenhor Horta, da cidade vizinha, Mariana. De acordo com a Prefeitura de Mariana, “o aumento de atendimento foi percebido principalmente no Hospital Monsenhor Horta, particularmente para os casos de obstetrícia”. A assessoria do hospital declarou que “segue sua rotina normal de atendimento sem alteração no fluxo. A demanda aumentou de forma branda e prevista. Nossa equipe de médicos e infraestrutura é totalmente suficiente para nossas demandas”. Diante do fechamento da Santa Casa, a Prefeitura de Ouro Preto solicitou ao Ministério Público para que interviesse. Segundo o secretário de Governo, Flávio Andrade, a operação ocorreu de maneira sigilosa. Estavam cientes apenas o prefeito, a se-

A situação das UPA’s e da Farmácia Popular Em entrevista com o coordenador da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ouro Preto, Leandro Leonardo de Assis de Moreira, 32 anos, o LAMPIÃO apurou que o fechamento da Santa Casa de Ouro Preto não aumentou o número de atendimentos na unidade. Como providência para atender os usuários que recorreriam a UPA, a Prefeitura de Ouro Preto divulgou em nota oficial que aumentaria o números de técnicos. Segundo Leandro, a Prefeitura enviou dois técnicos para reforço e pagou hora extra para completar os plantões. “A gente conta hoje com cinco médicos por plantão, sendo que quatro fazem atendimento direto – um na pediatria e três no atendimento clínico – e outro fica por conta só dos atendimentos de pacientes em observação e aguardando internação. Com o envio, a gente aumentou um técnico por plantão”, explica o coordenador. Durante a semana que a Santa Casa permaneceu fechada, Leandro afirma que a unidade não extrapolou a capacidade total de 28 leitos, mas, por precaução, desativou uma das áreas da odontologia e separou várias macas e camas. “Por uma semana a gente manteve fechado, só que em momento algum precisou utilizar. A gente conseguiria aumentar pelo espaço que foi separado ali mais uns 15 leitos, mas não foi necessário”, afirma. Mesmo com a média de atendimentos mantida, o coordenador afirma que o maior impacto foi a referência em atendimentos como obstetrícia, ortopedia e pediatria: “Esses pacientes vinham e ficavam aqui – gestante nem ficava, já ia direto pra Santa Casa. Casos de ortopedia passavam aqui e a gente nem precisava cadastrar, já enviava para a Santa Casa”. No caso dos atendimentos de pediatria, se fosse necessário internar, a criança era registrada no SUS Fácil – programa que cadastra no sistema estadual para procura de vaga nos hospitais mais próximos – e, em mais ou menos 24 horas, ela já estava no hospital. Leandro ressalta que os pacientes que procuravam esses atendimentos tiveram uma permanência maior. “O paciente que não ficava aqui passou a ficar. É onde, a longo prazo – que foi uma semana só, graças a Deus – nossos 28 leitos iriam superlotar e

teríamos que usar essa enfermaria anexa que deixamos preparada”. Com o fechamento do hospital da cidade, além dos técnicos, a UPA recebeu materiais de apoio da Prefeitura. “O paciente não foi desassistido por material, inclusive chegaram até lençóis novos, que já era uma briga minha de um ano e três meses. Sempre temos que achar o lado positivo na história”. Para Leandro, a UPA conseguiu lidar com a paralisação da Santa Casa devido à curta duração. “Acho que a gente conseguiu passar pela crise estável. Não vou falar que não teve dificuldade porque houve períodos críticos, de muito movimento, mas a gente esperava muito mais”, conclui. Farmácia Popular de Ouro Preto A Prefeitura recebeu uma ação de despejo, no dia 18 de maio, devido ao atraso de cinco meses de aluguel do imóvel utilizado pela Farmácia Popular. A dívida acumulada era de aproximadamente R$ 3.400,00 por mês. No dia 18 de junho, a secretária de Saúde afirmou durante uma reunião na Câmara Municipal ter pago quatro meses. A proprietária do imóvel, Juliana Chades, preferiu aguardar o encerramento do contrato antes de se pronunciar. UPA em Mariana Em setembro de 2014, a Câmara de Mariana aprovou a construção de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) que funcionará 24h com cinco a oito leitos de observação e capacidade para atender até 150 pacientes por dia. O Ministério da Saúde destinou cerca de R$ 2 milhões para a obra. Em janeiro de 2015, o trabalho já havia sido iniciado. A construção está sendo feita em um terreno de cerca de 13 mil metros quadrados no bairro São Pedro, próximo ao ponto de ônibus da Gameleira. A Prefeitura de Mariana está realizando obras nas vias próximas à nova UPA, que incluem um trevo próximo a Gameleira, além de alças de acesso para auxiliar a locomoção até o local. De acordo com o secretário de Saúde de Mariana, Germano Zanforlim de Araújo, atualmente a Unidade está na primeira etapa do processo da estruturação: o da fundação. “A previsão contratual é de dezoito meses de construção, com previsão de inauguração no 2º semestre de 2016”.

Espera. Pacientes aguardam que situação seja resolvida e o hospital não feche novamente

cretária de Saúde e o procurador-geral do município. De acordo com Flávio, a justiça determinou a ação civil: “A intervenção foi decretada e a justiça definiu que a Fundação São Camilo é quem assumiria a Santa Casa, como assumiu. É uma gestão mais profissionalizada, eles são responsáveis pelo hospital de Mariana e Itabirito. É uma entidade que tem especialidade na gestão hospitalar”, ressalta. A Sociedade São Camilo declarou ao LAMPIÃO que “não assumiu a gestão. Foi realizado um diagnósti-

co por parte da entidade que ainda não teve resultado. Neste momento, a entidade não se pronuncia”. A entidade responsável pela Santa Casa antes da ação judicial era a Irmandade de Sant’Ana. Em decorrência do feriado prolongado de Corpus Christi, a interventora Adriana Aparecida dos Santos estaria à frente do hospital até que a Sociedade São Camilo assumisse a gestão. No dia 7 de junho, os serviços de urgência e emergência foram retomados na Santa Casa. A instituição não quis

esclarecer o processo judicial – que corre em segredo de justiça – à equipe do LAMPIÃO. Um dia após a abertura do Pronto Atendimento, estavam disponíveis as seguintes especialidades: Clínico; Ortopedia; Pediatra; Obstetra e Cirurgião. Nos dias em que a reportagem esteve no local, nem todas as especialidades estavam disponíveis. Até o fim da edição, a Santa Casa se recusou a conceder uma entrevista para a equipe do LAMPIÃO. A Secretaria de Saúde do município também não se manifestou.

Passei mal. E agora? Confira abaixo os locais onde é oferecido atendimento médico nas regiões de Ouro Preto e Mariana:

Ouro Preto: Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Rua Mecânico José Português, s/n, Bairro São Cristóvão Telefone: (31) 3559-3131 Horário de funcionamento: 24 horas

Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto Rua José Moringa, Bairro Vila Itacolomy Telefone: (31) 3551-1133 Funcionamento: 24 horas Horário de Atendimento pelos convênios: 8h às 20h Horário de atendimento pelo SUS: 8h às 21h Horário de visitas: 14h e 20h (1 hora de visita)

Mariana Policlínica Municipal de Mariana Endereço: Rua Wenceslau Braz, Centro. Telefone: (31) 3557-9751 Horário de funcionamento: até meia-noite.

Hospital Monsenhor Horta - Mariana - Sociedade Beneficente São Camilo de Mariana Rua Colina de São Pedro, Bairro São Pedro Telefone: (31) 3557-1244 Horário de funcionamento: 24 horas Horário de atendimento pelo SUS: a partir das 19h e por convênios é 24h Horário de visitas: 15h e 19h30 (1h de visita, apenas duas pessoas)

Farmácia Popular Ouro Preto Farmácia Popular do Brasil - Ouro Preto Rua Alagoas, Bairro Antônio Dias Telefone: (31) 3552-0542 Horário de Atendimento: 8h às 18h, de segunda a sexta-feira.

Mariana Farmácia Popular do Brasil - Mariana Rua do Catete, 308, Centro Telefone: (31) 3557-4031 Horário de Funcionamento: 8h às 18h de segunda à sexta-feira e de 8h às 12h nos sábados.


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Arte: Camila gonçalves

CIDADE

Falhas no trânsito geram caos Pedestres e motoristas disputam espaço em meio a buracos, sinalização ineficiente e descaso da Guarda Municipal em Mariana CA

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Com semáforos desligados, deveria ter alguém controlando o trânsito, mas em vários horários do dia não havia guardas municipais nem no cruzamento da Policlínica, nem no cruzamento do Centro. A primeira placa de “Pare” aparece somente na Avenida João Ramos, próximo ao gabinete do vereador Pedro do Eldorado, enquanto a placa indicando o caminho para Ouro Preto só foi surgir no final da Praia do Canela. É nítido que a sinalização da cidade foi pensada apenas para motoristas. A maioria das ruas não contam com faixas de pedestres, a calçada também é estreita e, em alguns pontos, o cidadão precisa andar na rua para continuar seu caminho, correndo o risco de ser atropelado. Encontramos várias escolas em nosso caminho, mas somente uma possuía a sinalização adequada.

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merciante, que prefere não se identificar, afirmou que quase atropelou uma criança por causa da ausência dos semáforos, enquanto os guardas de trânsito ficaram “apenas olhando”. “O trânsito aqui é muito precário. Os guardas municipais, tinham que ajudar na atuação do trânsito, nos cruzamentos principais, que nem esse aqui no centro, mas não é isso que acontece”, completou. Vivian Lima, pedestre, estava com a filha na tarde do dia 15 de junho e ficou cerca de dez minutos tentando atravessar do ponto de ônibus até a área do Terminal Turístico. “Os guardas ficam parados, ganhando à toa, em vez de ajudar a

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Cidadão marianense

Plano de Mobilidade Urbana De acordo com a Lei Federal nº 12.587/12, municípios com mais de 20 mil habitantes devem elaborar um Plano de Mobilidade Urbana (PMU). No entanto, Mariana ainda não possui um plano e, dessa forma, fica impedida de receber os recursos. A Prefeitura anunciou o plano em 2013, mas até hoje ele não foi protocolado na Câmara Municipal. Segundo o vereador Cristiano Vilas Boas, a Câmara pretende realizar uma audiência pública sobre mobilidade, que seria marcada entre julho e agosto deste ano. Conforme a legislação, a Câmara não pode apresentar o projeto, pois não pode propor nada que gere custos que afetem os cofres públicos. A proposta tem que vir da Prefeitura. Um processo de licitação já está em posse da Secretaria de Planejamento e Gestão para ajudar no plano de mobilidade. A administração municipal prevê investimento inicial de aproximadamente R$ 300 mil. Porém, de acordo com o diretor do Departamento Municipal de Trânsito, Geraldo Simplício, algumas ações sobre acessibilidade foram realizadas com verba municipal, tais como vagas para deficientes e idosos, rampas para cadeirantes e o estacionamento rotativo.

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O trânsito aqui é muito precário. Se eles são guardas municipais, tinham que ajudar na atuação do trânsito, nos cruzamentos principais, que nem esse aqui no centro, mas não é isso que acontece”

controlar o trânsito. Aí a gente corre o risco de ser atropelado a qualquer momento”, afirma Para Cristiano Vilas Boas, o questionamento da Câmara foi feito também porque a cidade não possui um engenheiro de trânsito que trabalhe na Prefeitura. Segundo o diretor do Departamento de Trânsito, para projetos de grande porte é contratado um especialista.

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De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014 a população marianense estimada era de 58.233 habitantes. O número de veículos era de 23.172, ou seja, aproximadamente 39% da população dispõem de carros. É um número pequeno, mas que traz alguns transtornos. Os semáforos de Mariana estão desligados desde o final de 2014, após estudo técnico de viabilidade de fluxo de veículos, realizado pelo Departamento Municipal de Trânsito (Demutran). Conforme o diretor do departamento, Geraldo Simplício, após o desligamento dos semáforos, uma série de deficiências técnicas que prejudicavam o funcionamento deles foi constatada. Segundo ele, desde janeiro algumas empresas especializadas em sinalização semafórica estão sendo convocadas para realizar um estudo, montar um termo de referência e publicar uma licitação para melhorar o trânsito. O edital seria publicado até o dia 24 de junho, prevendo a compra de novos equipamentos para atender principalmente as regiões do Catete, Tancredo Neves e 16 de Julho. Até o fechamento do LAMPIÃO, o edital não havia sido publicado. Na região da rodovia do Contorno, o Departamento de Trânsito concluiu que, com os semáforos desligados, o trânsito flui melhor. Os estudos foram realizado pelas empresas Garra e Contrasin e, já no início do ano, a primeira manutenção foi feita por ambas as empresas. A Câmara Municipal questionou o desligamento dos semáforos, alegando que a ausência destes prejudi-

ca os pedestres da cidade. Segundo o vereador Cristiano Vilas Boas, a Secretaria de Defesa Social respondeu que haveria um agente de trânsito substituindo os semáforos, mas não é o que ocorre. O trânsito complicado é um dos problemas que Mariana enfrenta. Há ausência de sinalização e os pedestres encontram dificuldade para atravessar as ruas. Há também vários relatos de acidentes, alguns com morte. Em janeiro, Magno Evaristo Cota, 54 anos, morreu atropelado na Rua Antônio Olinto por um motoqueiro que fugiu do local. Um co-

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Catarina Barbosa

Dentre o trajeto percorrido pela equipe de reportagem, alguns dos problemas apurados foram: 33 buracos, 13 desníveis de asfalto, 71 placas de “Proibido Estacionar”, quatro lugares que precisam de faixas de pedestres, dois quebramolas não sinalizados, nove semáforos desligados e uma placa de rua sem saída. Para uma cidade pequena, Mariana apresenta grandes problemas de trânsito que afetam motoristas e pedestres.

Moradores enfrentam obstáculos para se locomover pelas ruas da cidade

lucas campos

A equipe do Lampião percorreu o trecho indicado no mapa ao lado para identificar os incovenientes relativos ao trânsito. Foram encontrados buracos, desníveis de asfalto, falta de placas de trânsito e de paradas de ônibus, faixas de pedestres, quebra-molas e semáforos. Verificou-se também lugares onde deveria haver faixas de pedestres e outros em que a presença parece ser desnecessária. É visível a dificulda-

de para um pedestre caminhar em algumas ruas, porque a calçada ou é inexistente ou apresenta problemas. Além disso, alguns trechos apresentam obras em andamento. A Rua Wenceslau Braz (foto acima) é muito estreita e possui trânsito intenso. A calçada é igualmente estreita e, em alguns pontos, o pedestre precisa andar na rua para continuar seu caminho, correndo o risco de ser atropelado.


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Arte: Letícia cristiele

distrito fábio pereira

Ouro Preto além do cartão-postal Longe dos olhares atentos direcionados sempre para o Centro Histórico, população dos distritos sofre com descaso do poder público Luíza Lacerda

Cachoeira do Campo é um dos maiores distritos de Ouro Preto que, com cerca de 9 mil moradores, tem um centro comercial e industrial em constante desenvolvimento. Mas, para as quase 600 pessoas que residem nos bairros Metalúrgicos e Dionísio, a realidade é muito diferente das ruas históricas preservadas vistas por turistas nos cartões-postais da sede barroca do município. Moradores são obrigados a viverem em um ambiente onde o esgoto corre a céu aberto, no meio da rua em que pessoas transitam e crianças brincam diariamente. Obras de urbanização do Bairro Metalúrgicos foram iniciadas no final de 2013 com a instalação dos canos da rede pluvial e de esgoto, mas o trabalho que deveria ser concluído no prazo de doze meses foi interrompido devido a uma liminar do Ministério Público. Irregularidades no processo licitatório da empresa responsável pela execução e manutenção da drenagem pluvial e saneamento básico, assim como pela pavimentação do bairro, suspenderam as atividades e invalidaram o trabalho que já havia sido feito. O Secretário de Obras do município de Ouro Preto, Júlio César Ribeiro dos Reis, afirmou que uma nova licitação para o trabalho de conclusão da obra deve ser aberta dentro de trinta dias. A previsão é

de que tudo seja finalizado até o final deste ano. Iniciativa popular Em outubro de 2014, o Coletivo Construtores de Imagens, que luta para dar visibilidade e enfrentar os problemas dos distritos, promoveu uma mesa de reflexão sobre as necessidades da comunidade. A gente sempre associa patrimônio ao cenário histórico. O primeiro patrimônio sou eu, é a vida. Como essas condições de vida são dadas por aqui?” Liliana Lopes Ruiz

O encontro contou com a participação de representantes das secretarias de Meio Ambiente e Desenvolvimento Social. O coletivo apresentou propostas como a criação de um galpão de reciclagem, de uma área verde de convivência e de uma horta para toda a comunidade. O professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Ouro Preto, Maurício Leonard de Souza, também compareceu à mesa e observa que é dever do poder público fornecer saneamento básico e escutar a população, proporcionando às pessoas a capacidade de criar possibilida-

des para a comunidade. Idealizadora do coletivo e moradora de Cachoeira do Campo há quinze anos, Liliana Lopes Ruiz, declara: “A gente sente vergonha do lugar onde mora, mexe com a nossa autoestima”. O esforço agora é para que a Área de Preservação Permanente localizada no bairro seja restaurada e mantida. Liliana enviou um ofício à Secretaria de Meio Ambiente solicitando doação de mudas de árvores, autorização e acompanhamento para o plantio, disponibilizando a mão de obra dos moradores. O documento também pede a instalação de placas no entorno, informando que aquela é uma área em recuperação. Mas falta fôlego para a população que luta há anos com o poder público e, de forma independente, tenta mudar o local com pequenas iniciativas de coleta seletiva ou de mobilização dos moradores. A moradora do Bairro Metalúrgicos, Maria Vicentina Fernandes, lamenta: “Todo mundo já lavou as mãos. Não adianta mais, o pessoal já cansou de correr atrás”. Liliana concorda que “esse é o sentimento: cansaço”. Do lado de lá Na sede do município, obras de drenagem pluvial, instalação de meio fio e asfaltamento ocorrem no Bairro Nossa Senhora do Carmo. Obras de infraestrutura também estão sendo realizadas no Bairro Novo Horizonte, local escolhido pela Prefeitu-

ra para receber melhorias com verba do programa ProMunicípio, do Governo Estadual. Ouro Preto, primeira cidade brasileira a ser declarada Patrimônio da Humanidade, é repleta de museus e de igrejas barrocas preservadas, berço da Inconfidência Mineira, famosa nacionalmente e atrai milhares de

turistas todos os anos. A situação precária dos moradores nos bairros Metalúrgicos e Dionísio impede que eles se sintam parte deste contexto. “A gente sempre associa patrimônio ao cenário histórico. O primeiro patrimônio sou eu, é a vida. Como essas condições de vida são dadas por aqui?”, contesta Liliana.

Diferenças entre subdistrito, distrito, cidade e município Municípios, cidades e distritos são divididos para auxiliar a administração do Estado. Dentro deles há subdivisões que visam atender as necessidades do serviço público. O município é uma unidade administrativa autônoma que possui delimitação territorial e política constituída por um distrito-sede e outros distritos. Conta também com zona rural e urbana. Um município tem também aspectos específicos, como o número mínimo de dois mil eleitores, núcleo urbano com mais de 400 moradias, edifício para o governo municipal, posto de saúde, escola pública, cemitério e serviços públicos básicos. A cidade é o distrito-sede do município, constituída por uma área densamente povoada, com zonas residenciais, comerciais e industriais. O bairro é a subdivisão dentro da cidade, ou seja, uma unidade de referência que possibilita a organi-

zação da administração municipal. Além disso, ele se constitui pela noção de pertencimento e identidade no reconhecimento popular. Os distritos municipais são demarcações administrativas que dividem o município entre distrito-sede e os outros distritos que, normalmente são afastados das sedes. Possuem a categoria de vila e devem ter o nome do povoado que lhes deu origem, de acordo com o artigo 33 da Lei Complementar Estadual 37 de 1995 - MG. Há pré-requisitos para a criação de um distrito, são eles: eleitorado maior que 200 eleitores, existência de pelo menos 50 moradias e escola pública (artigo 34 da Lei Complementar Estadual 37 de 1995 - MG). Nos distritos há os subdistritos, equivalente aos bairros. Eles são pequenas unidades dependentes que não possuem os pré-requisitos para se tornarem um novo distrito.

Informações sobre os distritos da região Ouro Preto

Com renda per capita de R$641,84, Mariana possui 58.233 habitantes (IBGE 2014) divididos em nove distritos e a sede. A área territorial do município, fundado em 1696, é de 1.194,208 km² e a sede ocupa cerca de 5% do total. Fundada em 1711, Ouro Preto é maior e mais populosa do que Mariana. Com 73.700 habitantes (IBGE 2014) divididos em treze distritos e a sede, o município possui renda per capita de R$710,55. Ouro preto possui área de 1.245,865 km² e a sede ocupa cerca de 8% do total.

Mariana


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política

Indefinição na Prefeitura

Condenação da gestão passada continua a causar instabilidade no poder político e administração ainda pode promover nova liderança Isabela Porto

Cleo Silva

O futuro político de Mariana não está definido. Quatro ações tentam anular o registro da chapa de Celso Cota e fazer com que o atual prefeito, Duarte Júnior, também seja destituído, provocando uma nova alternância pouco tempo depois da destituição do prefeito do cargo. O advogado e representante do PTB na cidade, Matheus Silva Campos Ferreira, diz que o pedido de cassação da chapa foi proposto pelos partidos políticos de oposição atuantes no município junto à Justiça Eleitoral. Segundo o advogado, se a anulação da chapa acontecer até quinze meses antes do final deste mandato ou seja, até o dia 30 de setembro deste ano -, as eleições serão nas urnas. Mas se a anulação acontecer a partir do dia 1º de outubro, uma ação provisória concede ao presidente da Câmara o direito de ocupar o cargo até que seja realizada uma eleição indireta, que ocorrerá em noventa dias. Na Câmara, os 15 vereadores deliberariam em uma sessão solene e votariam entre quem tem interesse e condições de ocupar o cargo. Qualquer cidadão que preencha os requisitos da lei pode se candidatar. “Acho que o processo eleitoral de 2012 foi prejudicado porque Celso Cota não poderia concorrer ao pleito, e nada mais justo que a população decida novamente, democraticamente, o rumo da cidade”, afirma o vereador Cristiano Vilas Boas (PT) ao defender o pedido de cassação da chapa. Encarando os desafios Em coletiva de imprensa no dia 29 de junho, Duarte colocou como prioridade unificar algumas secretarias - atualmente são 16-, entre elas: Secretaria de Estrada e Sinais com Transporte; Cultura e Turismo com Esporte; e Desenvolvimento Econômico com Desenvolvimento Rural. Sete secretários não farão mais parte do quadro. Haverá corte de funcionários aposentados que prestam serviços para o município. Em relação aos nomeados, serão dispensados em média 28%, número equivalente a

mais de 100 pessoas. Duarte disse que seria necessário demitir pelo menos 300 contratados, mas, ao invés disso, vai diminuir na carga horária trabalhada, para que recebam pelo menos um salário mínimo. Há um projeto para ser votado na Câmara até janeiro, cancelando o vale alimentação de nomeados e contratados que recebem acima de R$ 2 mil. Também apresentará outro projeto de corte do FGTS dos nomeados, porque a cidade recolhe quase R$ 90 mil por mês e mais de R$ 1 milhão por ano. Um decreto de emergência será feito com o objetivo de trazer para Mariana uma cooperativa de transportes em que a Prefeitura possa pagar um valor de até R$ 1,8 milhão. Hoje são pagos R$ 2,5 milhões. Fazendo cortes no número de funcionários, revendo contratos e equacionando as contas públicas, Duarte diz que a Prefeitura conseguirá economizar R$ 2,5 milhões por mês. Tudo que a população marianense está vivendo hoje nada mais é do que pagar o preço de erros administrativos dos últimos dez anos” Cristiano Vilas Boas

Obras em fase final serão terminadas. Obras em andamento ficarão suspensas, pois, segundo o prefeito, quando iniciadas a cidade tinha recursos, mas houve uma perda de R$ 80 milhões devido à crise que o país atravessa. Casas em construção continuarão, pois caminham para a fase final. “Vou achar uma forma legal de pegar todas as famílias em situação de vulnerabilidade e fazer um sorteio, porque acho essa a forma mais justa”, declarou Duarte. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro São Pedro é uma preocupação a mais para o município. O prefeito contou que não dispõe de recursos financeiros necessários para a obra, pois o custo total fica em torno de R$ 16 milhões e o Governo Federal só repassa R$ 2 milhões. Sobre a construção da nova sede da Prefeitura, disse

Troca-Troca. Cenário inconstante cria preocupação de que gabinete do prefeito fique vazio

ser inviável no momento: “Não posso pensar nisso, não tenho recursos para arcar com essa responsabilidade”, explicou. Durante a coletiva, um veículo de informação local mencionou que Celso Cota entrou com um mandado de segurança junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), pedindo para retornar ao Executivo. Duarte disse não saber do caso e desabafou: “Se isso tiver acontecido vou ficar extremamente magoado, uma ligação seria o suficiente pra mim. Entendo que é direito dele, mas me disse que não entraria com mandado de segurança”. Os vereadores da oposição são contra o corte de contratados (aqueles que prestam serviço por meio de contratos por tempo determinado) e a favor de cortes de nomeados (pessoas indicadas para cargos de confiança), pois têm custo muito grande para o município. Cristiano Vilas Boas fala que a cidade era administrada com cerca de 300 cargos de nomeação e hoje conta com 400. Ele não vê justificativa para tamanho aumento de cargos de confiança, já que os serviços públicos não aumentaram tanto. “Sou a favor da redução de cargos nomeados e se ainda houver a necessidade, aí sim, reduzir os contratados”, afirma.

Em relação à arrecadação, o prefeito contou que nos primeiros cinco meses de 2015, Mariana deixou de arrecadar R$ 30 milhões e, se alguma atitude não for tomada de imediato, prioridades como a qualidade da saúde não poderão ser mantidas. Revelou que a Prefeitura de Mariana está com um déficit de R$ 6 milhões por mês, pois arrecada R$ 19 milhões e gasta R$ 25 milhões. “Vou ter que enxugar folhas, rever contratos, mas faço isso com muita tranquilidade, estou preparado pra fazer e vou fazer”, disse Duarte. O vereador Cristiano Vilas Boas explicou que em 2014 a cidade teve uma arrecadação de R$ 380 milhões ao longo do ano. Para 2015 está previsto o mesmo número, mas pode cair para R$ 300 milhões. Cristiano ressalta que, mesmo com a queda da receita, devido à diminuição do preço do minério no mercado, o município ainda tem recursos muito altos, pois em 2011 a cidade foi administrada com R$ 180 milhões. Durante entrevista para o LAMPIÃO, Cristiano disse que a Prefeitura tem um planejamento desnecessário para a construção de uma nova sede, com custo em torno de R$ 60 milhões. Contou que a Câmara realizou uma audiência pública em 2014 sobre a água, e o dire-

tor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) disse que com R$ 30 milhões resolveria todos os problemas de água em Mariana. “Espero que haja uma mudança de rumo da administração, porque não adianta mudar os nomes e não mudarem as políticas públicas”, afirma. Quem levanta a bandeira Duarte disse que não pensa em se candidatar a prefeito nas eleições de 2016, porque suas decisões vão gerar uma impressão negativa a seu respeito, mas não pensa na sua imagem, já que tem uma cidade para administrar: “Prefiro ser prefeito um ano e meio e ser lembrado como alguém que teve de tomar atitudes, preocupado com o município, que ser lembrado como alguém que agradou a todos, mas deixou a Prefeitura quebrar”. Já o vereador Cristiano Vilas Boas não descarta a possibilidade de ser candidato a prefeito nas eleições do próximo ano. Ele diz que não tem nenhuma ambição pessoal de ocupar o cargo, mas sim ambição coletiva de mudar os rumos da cidade. Conta que, caso o PT ache seu nome viável, estará à disposição para contribuir com o município, desde que seja um projeto coletivo e não individual.

Em meio a uma batalha política Cleo Silva

Em 26 de maio desse ano, Celso Cota foi julgado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Condenado, teve como uma das punições a suspensão dos direitos políticos, o que o impede de votar e ser votado, ou seja, não pode exercer qualquer cargo público durante sete anos. Devido a essa sentença, o promotor de justiça de Mariana, Guilher-

me Meneghin, debateu com a Câmara dos Vereadores que, com base na recomendação do promotor e decisão da mesa diretora, destituiu Celso do cargo. Alvo de muitas discussões e críticas sobre financiamento de campanhas, Celso Cota Neto (PSDB), exprefeito de Mariana, foi processado por um ato de improbidade administrativa, ou seja, má utilização do dinheiro público. O Ministério Públi-

co identificou que ele usou dinheiro da Prefeitura para autopromoção, financiando propaganda pessoal, em 2008. Nesse mesmo ano, Celso foi condenado e teve como punição a suspensão dos direitos políticos por sete anos e multa. Além disso, deve repor tudo que foi gasto com propaganda em favor próprio. O advogado Matheus Campos conta que, em 2010, Celso tentou ser candidato a deputado estadual, Isabela Porto

Vice. Com a destituição de Celso Cota, Duarte Eustáquio Júnior assumiu a Prefeitura de Mariana

mas sua candidatura não foi aceita pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandowski, por ter sofrido uma condenação que o tornou Ficha Suja e, portanto, impedido de ser candidato. Segundo Matheus, Celso é o primeiro político considerado ficha suja em Minas Gerais. Logo após a objeção, por volta de outubro de 2010, o ex-prefeito propôs no Tribunal de Justiça de MG uma ação rescisória para tentar anular a sentença. Inicialmente a ação não foi aceita pelo desembargador da época, José Altivo Brandão Teixeira. Contra essa decisão, Celso propôs um recurso pedindo que a Câmara, grupo de desembargadores do tribunal, analisasse os requisitos do caso. Com isso conseguiu uma liminar que suspendeu os efeitos da condenação sofrida em 2008 e, assim, limpou provisoriamente sua ficha. O advogado relata que, em 2012, depois de apresentar recursos e se apoiar numa liminar da Justiça, Celso Cota conseguiu adiar o processo, se candidatou e foi eleito prefeito de Mariana. No dia 1º de janeiro de 2013 foi empossado no cargo pela terceira vez. Celso apresentou ao Tribunal

Regional Eleitoral um recurso chamado exceção de suspeição, dizendo que o juiz eleitoral, Frederico Esteves Duarte Gonçalves, não está sendo imparcial ao julgar o processo. Cabe ao Tribunal Regional Eleitoral decidir o incidente para saber se o juiz tem ou não capacidade de julgar o caso. A ação ainda está correndo na Justiça. Chapa De acordo com o advogado Matheus Campos, o sistema eleitoral não permite que haja distinção entre o voto no prefeito e no então viceprefeito, Duarte Eustáquio Júnior. Assim, como a candidatura de Cota não seria possível porque ele é Ficha Suja, a chapa ficaria inviabilizada. O procurador do Legislativo em Mariana, Corjesu Quirino, explica que há suposições de que com a saída definitiva do prefeito, Duarte Júnior ficaria impedido de comandar a Prefeitura por estar na mesma chapa. Até o fechamento do LAMPIÃO, as ações judiciais para tentar derrubar “Du” estavam em andamento, sem decisão oficial do Tribunal Regional Eleitoral. Por enquanto, Duarte Júnior é o prefeito de Mariana. Até quando?


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educação

Iniciativas para o ensino da arte Apesar da falta de incentivo, ações públicas e privadas na Região dos Inconfidentes proporcionam diálogo cultural fora das escolas Anna Flávia Monteiro

O Clube Osquindô, com sede em Passagem de Mariana, é uma organização de cunho cultural que desenvolve projetos para e com crianças e adolescentes da região de Mariana e Ouro Preto. O local conta com a Osquindoteca, um cômodo de médio porte, muito colorido, simulando um mundo fantástico, repleto de livros e brinquedos didáticos. Aberto por seis horas diariamente, recebe visitantes durante todo o tempo: crianças que estão saindo ou indo para a escola; pais que trazem os filhos para um momento descontraído e educativo; professores com suas turmas e outros curiosos. O projeto mais recente, Loucos por Leitura, veio expandir ainda mais e de forma mais eficiente, o conceito do espaço, que visa o fácil acesso a livros. Em atividade há sete anos, a associação dispõe de tantos títulos e premiações quanto de livros nas estantes. A produtora do Clube Osquindô, Débora Santos, declara: “A gente é muito lúdico por aqui e procura passar isso em todos os momentos. O importante é o despertar imaginário”. Iniciativas como as do Clube Osquindô se alastram como podem pela região. Seja por iniciativa privada ou pública, a democratização artística e cultural acontece por várias mãos, e segue apresentando novos mundos para crianças e jovens. Luz, câmera, ação! O Cine Vila Rica, em Ouro Preto, articula diversos projetos de extensão, por meio dos quais a linguagem cinematográfica estabelece uma via de entretenimento e produção. A iniciativa visa alcançar toda a comunidade e propõe a simples ideia de que cinema nos é mais íntimo do que imaginamos. O Conversan-

do Cinema, por exemplo, promove debates acerca de filmes e diretores, convidando quem participa a refletir sobre aspectos intra e interpessoais. A parceria com escolas é outra importante atividade do lugar, que recebe turmas de estudantes para sessões gratuitas, estreitando laços entre a tela e a imaginação. Ainda visando uma cultura de democratização cinematográfica, o Cine Teatro Vila Rica vai além e busca não só atiçar o consumo cultural, mas também a criação. Isso se dá com o projeto de produção de curtas, que se empenha com as criações de alunos do ensino básico das cidades de Ouro Preto e Mariana. A iniciativa torna-se uma prática educativa, fazendo do cinema uma ferramenta de aprendizagem. A coordenadora da ação, Lâne Mabel Soares, agrega bolsistas do curso de Jornalismo e Artes Cênicas. “O objetivo é levar crianças e adolescentes a criarem o gosto pela sétima arte e entenderem um pouco como funciona o processo de realização de material audiovisual, passando a ser os autores e atores do tema que escolhem desenvolver”, afirma. Conta também que os bolsistas vão às escolas, enriquecem a noção de audiovisual com os alunos e os trazem ao cinema em seguida para debater sobre o que foi trabalhado. A arte do improviso O desenvolvimento artístico como parte da grade curricular se dá em passos lentos. O estímulo por parte do governo ainda não é eficiente para fazer da medida uma rotina no ensino básico. O tema foi tomado como disciplina curricular em 1996, mas ainda não recebe plena atenção. A professora de arte da Escola Municipal Marília de Dirceu, Nirce Mol Dueli, leciona desde 2003, com um breve afastamento para trabalhar na Fundação de Arte

de Ouro Preto (Faop). Sua aspiração é conseguir uma sala para a matéria, que, atualmente, é dada apenas para alunos do 8º ano. “A proposta da aula não é compreendida muito bem pelo corpo docente e administrativo. Eles não entendem que toma espaço e tempo. Daí temos que trabalhar da forma que der”, conta a professora que traz o próprio material para uso coletivo. A pedagoga Cláudia Susana Cristino, relata que, pela dificuldade de sair da escola para atividades externas, as atividades culturais são propostas mais frequentemente dentro das disciplinas: “É complicado tirar o aluno da escola, mas o fazemos na medida do possível” Ela conta que muitos estudantes participam dos projetos oferecidos pela Faop, localizada nos arredores da escola. “Na casa de Marília (personagem do poema árcade Marília de Dirceu), não há como não respirar cultura”, justi-

fica. Para ela, há um estímulo invisível presente no lugar. Vizinha cultural, a Faop impulsiona a produção e vivência artística de diversas crianças, principalmente por meio de parcerias com escolas públicas da região. Os programas oferecidos atualmente são o Mais Cultura, Mais Educação, ARO e Escola de Tempo Integral. Dentro deles, a fundação disponibiliza o próprio espaço para complemento do horário regular das escolas. Nas turmas de “Práticas Artísticas”, por exemplo, os jovens são convidados a explorar o universo das artes plásticas e visuais, do patrimônio cultural, e, eventualmente, do teatro e da música. A coordenadora do Núcleo de Artes da instituição, Rachel Falcão, sente pesar pelo fato de a atividade se concentrar no espaço físico da fundação. Mudanças que interfiram nesse quadro, no entanto, podem

acontecer no próximo semestre, devido à nova gestão. “Queremos a participação efetiva das escolas na construção de um programa de atividades artísticas e culturais que melhor atenda a cada escola, considerando sua realidade e necessidades específicas, bem como o contexto da comunidade em que ela está inserida”, declara. Segundo ela, as trocas experenciadas favorecem os alunos em outras áreas da vida, como a socialização. Rachel acredita que a concepção de arte ocupa as próprias relações e espaços de vida, fazendo com que os resultados transbordem do âmbito institucional e se espalhem no universo cotidiano. “O potencial da arte na vida de uma pessoa, de uma criança, é enorme. E não me refiro apenas ao desenvolvimento da capacidade de expressão artística, mas ao potencial criativo de uma maneira mais ampla”, afirma. luana barros

Leitura. Clube Osquindô desenvolve projetos que, de forma lúdica, despertam o interesse pela literatura

Dedicado a todos os que sonham em viver a arte fotos: Igor Capanema

“Já que o mundo inteiro procura/ Esse tal de Inhotim/ Vou fazer uma miniatura/ E chamar de Fiotim”. A figura de Jorge K é tão característica e única que se apresenta num cordel. O camelô e arteiro-viajante foi pensado pelo artista autodidata Jorge Fonseca, e colocou no personagem criado traços que brincam com o imaginário. Sua história apresenta fatos fantásticos. Em algum ponto da vida, o camelô foi visto na Índia vendendo raízes que curam o tal de “mal de amor”. Logo depois, na China, perdeu o rosto enquanto inventava fogos cor-

Cultura e pertencimento LAMPIÃO - Como surgiu o grupo Residência? Julliano - O grupo Residência nasceu do encontro de alunos graduandos do Curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto. Seu lançamento oficial ocorreu no festival paralelo ao Festival de Teatro de Curitiba de 2001, com o espetáculo “Os Cadernos”, livre adaptação de “Os Cadernos de Malte Laurids Brigge”, de Rainer Maria Rilke. Qual sua principal proposta e como ele atua? O Grupo Residência acredita que fazer teatro contemporâneo numa cidade como Ouro Preto é uma forma de alimentar o potencial advindo do passado com uma estética que aponte para o futuro, acreditando que o choque entre o velho e o novo valoriza ambos. Trabalha, paralelamente, com a linguagem audiovisual. Em 2005 lançou, em parceria com o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, sete curtas-metragens inspirados em tópicos do Estatuto da Criança e do Adolescente e este foi seu trabalho mais específico para o público escolar.

de-rosa. A desventura lhe rendeu 18 cirurgias plásticas, o que o permite esconder a idade. Dentre tantos feitos, ao visitar Inhotim, surge a ideia do Fiotim, A Oitava Maravilha do Mundo Contemporâneo, que propaga a concepção de que a arte pode e deve acontecer em todo lugar, e nasce das maneiras mais inesperadas. Além das miniaturas, o trailer conta com aparatos para interação das crianças, como uma roda ligada num motor onde podem criar trabalhos com tintas e giz de cera. O Fiotim, no final das contas, é um convite para participar da criação.

Como enxerga o consumo cultural da região? Ouro Preto é uma cidade que produz muita cultura, seja nos festivais estabelecidos, seja porque a própria cidade é um importante equipamento cultural. Contudo, a população usufrui muito pouco da cultura produzida, normalmente porque não se sente pertencente à cidade turística, o que vejo mais como um problema de auto exclusão que de exclusão. Mesmo o estudante universitário, acho que consome pouco a cultura produzida na região. Portanto, acho que uma noção fundamental para o público local é a ideia de pertencimento. Democratizar a arte é uma ação importante? De que maneira o grupo Residência estimula democratização e pertencimento cultural? O Grupo Residência realiza, junto com outros grupos e artistas da região, o Festival Para Gostar de Teatro, que se concentra exatamente na ideia de democratização das artes cênicas em bairros e periferias da cidade, voltando-se principalmente para o público local. O Para Gostar de Teatro inspira-se, conceitualmente, no projeto de literatura Para Gostar de Ler, que oferece grandes autores da língua portuguesa em um formato mais acessível, o formato de pequenos contos de humor. O evento já foi realizado sete vezes e já passou por diversas cidades como: Ouro Preto, Mariana, Nova Lima, Ipatinga, entre outras. A arte no ensino básico das escolas, na sua opinião, é relevante? Muito relevante, porque a escola básica é o primeiro fórum de formação do ser social.


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patrimônio Marina Morgan

O teatro (enfim) está em obras Fora da rota artística há quinze meses, Casa da Ópera permanece em reforma; Segundo a Prefeitura o serviço será concluído em agosto Ingridy Silva

Com 245 anos de história, a Casa da Ópera - teatro mais antigo das Américas, segundo o Guiness Book - está fechada desde janeiro de 2014 para reformas na fiação elétrica e em uma viga de sustentação acima do palco. O lugar precisa também de um projeto de combate a incêndios. No entanto, a obra ainda está na fase inicial, ou seja, nas duas primeiras semanas os móveis foram realocados, as cortinas retiradas, o piano devidamente embalado e o trabalho foi iniciado. A arquiteta e fiscal da obra pela Prefeitura, Maria Raquel Ferreira, 44 anos, é especialista em restauro pela Universidade Federal de Minas Gerais e acompanhará o processo diariamente. Ela afirma que garantirá a preservação do patrimônio histórico do teatro, tanto físico quanto estrutural. Outros profissionais envolvidos na reforma têm experiência com projetos de prédios históricos. O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acompanhará o andamento da obra. Em 2006 a Casa da Ópera passou por uma reforma financiada pelo Iphan. Por ser um casarão do século XVIII, o espaço precisa de constantes reparos. Segundo o vereador Chiquinho de Assis, desde 2013 este cuidado não vem sen-

do realizado pela Prefeitura de Ouro Preto de forma sistemática, pois não havia políticas públicas de investimento destinadas ao imóvel. Com isso, partes essenciais deixam de ser contempladas, como a manutenção dos extintores de incêndio dentro da validade. Depois de muita pressão por parte da sociedade, a Prefeitura fez a licitação para reforma do teatro que foi estimada em R$305.934,31 e tem previsão de entrega para agosto deste ano. Sociedade quer Arte! Em maio, grupos de teatro e artistas locais mobilizaram a população através do facebok para dar vida ao movimento “Abre Casa da Ópera”, que em dois dias de campanha já tinha mais de mil curtidas. No dia 6 de junho foi realizada uma “maniFESTAção”, um apelo pela reabertura da Casa da Ópera e também comemoração dos 245 anos de existência do espaço. A movimentação contou com apoio de moradores e de artistas, que fizeram apresentações durante toda a tarde. “Pensamos na Casa da Ópera como o principal instrumento do teatro ouro-pretano, que além de um edifício histórico é um grande teatro, com uma acústica incrível, com história e onde grandes artistas querem se apresentar. Para nós ele é ao mesmo tempo símbolo do movimento

teatral ouro-pretano e também ícone, porque é, de fato, um lugar incrível”, diz o ator do Grupo Residência, Julliano Mendes. Séculos de cenas Quem entra no anexo do Teatro e vê uma pilha de pesadas cortinas no chão mal consegue imaginar que aqueles panos fizeram parte de um cenário muito diferente. Inaugurada no dia 6 de junho de 1770, aniversário do então rei de Portugal, Dom João VI, a Casa da Ópera foi construída a pedido do português João de Souza Lisboa, que morreu aproximadamente três anos depois da abertura do teatro. Após a morte de Lisboa, o espaço ficou fechado por um período de luto e passou a ser responsabilidade do município, quando começou a ser chamado também de Teatro Municipal de Ouro Preto. A Casa da Ópera tem formato de lira e alguns de seus móveis também seguem esse modelo. As cadeiras têm o desenho de uma lira em seu encosto. Já o palco apresenta um desnível na frente com relação ao fundo para aumentar a visiblidade da plateia. Este palco já recebeu grandes artistas, como a atriz Fernanda Montenegro que, no final de sua apresentação de Dona Doida, se ajoelhou e beijou o palco sob aplausos da plateia.

O que acontece quando a casa cai João Vitor Marcondes

Therezinha Augusto de Araújo viveu 73 anos na mesma casa. Esse tempo só não foi maior em função do desabamento do imóvel, no dia 28 de novembro de 2014. “Quando eu me mudei já sabia que a casa ia cair. O jeito que tinha era mudar, não dava para continuar morando lá. Mas sempre me pergunto como vai ser? O que vai acontecer? Cada um diz uma coisa, você fica perdido. A Prefeitura foi lá, o Iphan, a Secretaria de Ação Social também e você ouve que a casa vai ser entregue, que o imóvel seria reconstruído; estamos indo para um ano e nada até agora”, desabafou. A empresa do engenheiro Alexandre Loureiro, de Mariana, era a responsável pelo orçamento destinado à reconstrução da moradia. Mas, segundo ele, a burocracia im-

pediu o início das obras e a estagnação foi inevitável. Havia um contrato com a Prefeitura desde 2012, que tratava da reforma de imóveis para famílias em vulnerabilidade social. “A Prefeitura detectava as casas e, dentre os imóveis que precisavam receber alguma intervenção, estava a casa da Therezinha. Mas a área é tombada pelo Iphan, então a construtora esbarrou na burocracia.” O local deveria ter sido atendida entre o final de 2013 e início de 2014, o que não ocorreu. A reforma foi inviabilizada após o contrato da construtora ser encerrado em agosto de 2014. Julio César Araújo Dias, sobrinho de Therezinha, relatou a demora das instituições para a resolução do problema da casa. Ele afirmou que a Secretaria de Ação Social e o Iphan foram contatados, mas não auxiliaram na reforma, nem retorLuiz Fernando Loureiro

Burocracia. Disputa entre órgãos impede reconstrução de imóvel

naram. “Eu fui na Secretaria e no Iphan, fiquei esperando o retorno, inclusive o orgão entrou em contato com a Prefeitura, mas nada foi feito”. Ele diz que aproximadamente um mês antes de o imóvel desabar, a família retirou Therezinha da casa. De acordo com o sobrinho, no dia do desabamento, passou em frente ao imóvel e a parede estava estufada. Julio ligou para a Guarda Municipal e pediu o isolamento do local, que não aconteceu. Depois da meia-noite, foi avisado que o imóvel havia desabado. O Iphan disponibilizou os documentos sobre a casa na Rua Dom Viçoso. O órgão encaminhou a ocorrência para a Secretaria de Desenvolvimento Social e, no dia 23 de janeiro de 2014, o requerimento para reforma simplificada foi protocolado pelos engenheiros Carlos Henrique Reis Antunes e Dan Ribeiro Paiva, ambos representando a Prefeitura da cidade. Cinco dias depois, o Iphan também autorizou a reforma simplificada, que consistia na troca da cobertura da casa, alterações no forro e no piso, além do revestimento. Com o aval das instituições, o processo estaria encaminhado. As alterações não foram realizadas e a casa desabou dez meses depois. Em documento enviado ao Iphan em dezembro de 2014, a Prefeitura justificou o caso por meio da demanda de atendimento às casas em Mariana que se encontram em situação semelhante.

História longe do alcance Fotos: Marina Morgan

A Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, encontrase fechada para reforma desde 2013. As obras previstas para começar em setembro de 2014 tiveram início somente este ano

A antiga residência do poeta mineiro Alphonsus de Guimarães foi transformada em museu no ano de 1984 e, atualmente, o acesso à casa está proibido

A situação da casa onde morou o Conde de Assumar, em Mariana, é de abandono. O imóvel foi interditado em 2011 e desde então nenhuma obra ou restauração foi iniciada

A Igreja de São Francisco de Assis, construída em 1794, é um dos principais pontos turísticos de Mariana. Ainda assim, as visitações não são permitidas desde 2012


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