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MARCO ZERO

Curitiba, junho-julho de 2011

MARCO ZERO

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano III • Número 12 • Curitiba, junho-julho de 2011

Um passeio pela cozinha

Ronaldo Freitas

Alexsandro Teixeira Ribeiro

Sessenta estabelecimentos do centro da cidade já foram denunciados por falta de higiene (p. 6 e 7)

Um shopping de histórias O Museu Ferroviário de Curitiba conta com o maior acervo sobre a história ferroviária no Paraná (p. 9)

O melhor do flamenco Cintia Conceição

A dama do flamenco La Morita (centro) conta um pouco da sua história (p. 3)

Por onde ir? Com a falta de investimentos da Prefeitura de Curitiba em vias exclusivas, ciclistas são expostos ao perigo, dividindo espaço com automóveis e veículos maiores (p. 4 e 5)


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EDITORIAL

Ao leitor

Esta edição do jornal Marco Zero trata dos problemas de deslocamento enfrentados pelos ciclistas na capital paranaense. Reportagem mostra a busca por melhorias, como um espaço exclusivo e seguro para quem utiliza a bicicleta para se locomover e hoje divide espaço com automóveis e veículos maiores, e mostra os benefícios que a cidade teria com o incentivo ao uso da bicicleta. Também nesta edição, uma matéria revela como está a higiene nos restaurantes, lanchonetes e outros estabelecimentos desse gênero no centro da cidade. O que as pessoas estão comendo nesses lugares? Quem pode denunciar irregularidades para a Vigilância Sanitária? A matéria mostra ainda quais os motivos que mais geram reclamações em lanchonetes e restaurantes. Conheça Amália Moreira, uma distinta senhora de 67 anos que, ao dançar, se transforma em La Morita, uma das pessoas responsáveis por trazer a dança flamenca para o Brasil. Além disso, esta edição apresenta uma viagem à história das ferrovias do estado. Localizado no Shopping Estação, o Museu Rodoviário conta com um rico acervo que traz curiosidades do período em que as ferrovias alimentavam o comércio e a indústria do Paraná. Alunos do curso de Produção Editorial e Multimídia promoveram na Facinter uma instigante palestra de especialistas sobre o tema: “Mídias Sociais: Mais ouvir do que ser ouvido”. Assim está o Marco Zero nesta edição, com uma grande variedade de temas e um conteúdo desenvolvido especialmente para você. Boa Leitura!

Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter) Coordenador do Curso de Comunicação Social: Tomás Eon Barreiros Professores Responsáveis: Roberto Nicolato Tomás Barreiros Editores: Eliseu de Oliveira Juliana Morelli André Halmata Diagramação: André Halmata (7º período) Gabriel Sestrem (7º período) Facinter: Rua do Rosário, 147 CEP 80010-110 • Curitiba-PR E-mail: assessoriajr@grupouninter.com.br Telefones: 2102-7953 e 2102-7954.

ARTIGO

Curitiba, junho-julho de 2011

Boca no trombone!

O “boom” já foi, e ninguém acordou dois grupos quando o assunto é atendimento aos clientes via web: os que demoram a responder e os que nem ois é! A internet já passou pelo se dão ao trabalho de fazê-lo. “boom”, e as empresas ainda Dias atrás, fiz um teste enviando não acordaram para a revolu- e-mails para algumas lojas, demonsção digital. Nos EUA, por exemplo, trando interesse em comprar, persegundo pesquisa realizada pela guntando sobre valores de produtos, Forrester, o americano já passa o custos dos serviços, esse tipo de coimesmo tempo na internet e na tevê, sa. Quantas delas me responderam? aproximadamente 13 horas sema- Nenhuma! É de admirar, mas é vernais. Isso não só revela que lá a dade: nenhuma me respondeu! Afiinternet já passou pelo “boom”, mas nal, eu não consigo entender por que também que o americano busca um razão oferecer atendimento on-line meio em que possa ser mais ativo se a empresa não consegue atender no conteúdo, algo que só a internet a demanda. Cheguei a fazer umas permite. perguntinhas via Twitter apenas para E o Brasil não está distante des- testar, e, novamente, nada! Parece sa realidade! Somos o quinto maior que não há interesse em quem quer mercado do mundo em vendas de comprar. Estranho, não?! computadores, caminhamos para Numa tentativa de profetizar soser o terceiro. Dos e-consumidores, bre a web, penso que em breve (mui52% já são da classe C. to em breve) o grande mercado de A Internet é compras estará onA internet é campeã de campeã de cresciline. O custo na web mento publicitário, e crescimento publicitário, é inferior quando se e o Nordeste é a região considera que não o Nordeste é a reque mais cresce em gião que mais cresce há aluguel, manutenna internet, com um termos de acesso à rede ção, luz, água, funaumento considerácionários, seguranvel de 7,53% de acessos na região. ças, vendedores e empacotadores As redes sociais já são acessadas que precisam estar nas lojas fixas. por 67% dos internautas brasileiros. O preço, por sua vez, será mais Dos acessos ao Orkut, 50,6% são do competitivo em razão desse baixo Brasil. Isso tudo mostra que, cada custo. Não existirão mais tantas lovez mais, estamos migrando para jas fixas. Uma única coisa continuesse meio com grande intensidade e ará sendo o diferencial no momento velocidade. da decisão do consumidor: o famoso O comércio eletrônico deve en- bom atendimento. Aquele que melhor cerrar o ano com faturamento de R$ atender, com agilidade e personali15 bilhões, segundo a Câmara Brasi- zação, ganhará o cliente, e poucas leira de Comércio Eletrônico. Essa é empresas já colhem frutos por estamais uma tendência que deveria es- rem atentas a esse comportamento. tar sendo acompanhada pelas empreAs empresas, de um modo gesas. Muitas oferecem seu “fale conos- ral, ainda não acordaram para esse co” nos sites institucionais, que não novo canal de vendas e não consepassam de um “fale consigo mesmo”. guem vislumbrar a quantidade de Algumas, mais ousadas, já oferecem usuários transitando entre sites de atendimento via Orkut, Facebook e compras e a quantidade de cliques Twitter, mas continua o monólogo. que feitas diariamente com a intenOs usuários não gostam de es- ção de gastar dinheiro. Definitivaperar, não gostam de perder tempo mente, as empresas não estão prena web, e o atendimento deveria ser paradas para esse novo ambiente e o mais rápido possível. Surpreenden- nem para esse novo comportamento temente, as empresas dividem-se em do consumidor!

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PERFIL

O delicado rosto do flamenco

La Morita, rainha da dança espanhola: “Venha dançar comigo para entender o que eu estou falando”

Humberto Souza

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Divulgação

Cíntia Conceição

Cíntia Conceição

Qual a sua opinião sobre situação da Rua 24 Horas? Natali Carlini

“É uma pena que um lugar como este, que foi cartão postal da cidade, seja abandonado desse jeito ou se torne em pouco caso da Prefeitura de Curitiba”. Mauren Ospedal Ritter, 25 anos, representante comercial “No meu caso, a Rua 24 Horas sempre foi ponto de encontro de amigos que seguiam para a balada, mas infelizmente virou ponto de moradores de rua e traficantes. Espero que com a reforma e a reativação possamos usufruir dela como antigamente”. Raphael Castro, 27 anos, técnico em informática “O comércio decaiu desde que a rua foi inutilizada. Com a reforma da Rua 24 Horas, espero que os turistas voltem a comparecer a este lugar e fortaleçam as compras na região”. Ricardo Pedroso, vendedor “É precário o estado em que deixaram a Rua 24 Horas se transformar, é até perigoso transitar por aqui. A reforma está demorando, o que já se esperava , pelo tempo que ficou abandonado, mas ainda tenho esperança de vê-la funcionando normalmente”. Arlete Soares, 32 anos, dona de casa “A Rua 24 Horas tinha uma arquitetura invejável, construída juntamente com a Ópera de Arame e o Jardim Botânico. Não devia ter ficado em descaso por tanto tempo, é vergonhoso para a nossa cidade”. Carlos Alberto Medeiros, 45 anos, professor

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ma pequena argentina, em seu andador, balançava os pés e as mãozinhas todas as vezes que escutava música flamenca no rádio. Essa pequena argentina cresceu e chama-se Amália Moreira, uma distinta senhora de 67 anos que, ao dançar, se transforma em La Morita, uma das pessoas responsáveis por trazer a dança flamenca para o Brasil. La Morita, de estatura mediana, longos cabelos negros e olhos marcantes, sentou-se em seu estúdio da dança, com grandes espelhos e imagens ligadas à Espanha e ao flamenco, para La Morita, nos tempos em que dançava em Buenos Aires, na Argentina, e hoje, com alunas de sua academia em Curitiba contar que a dança foi algo que veio Em Curitiba incompatível ficar em qualquer escola Nesse aprendizado, também está com ela de nascença. “Comecei a danFaz 28 anos que Amália trouxe a de dança. Temos que ficar isoladas, já envolvida a castanhola, que, ao contráçar com oito anos na Argentina, mas a dança nasceu comigo. Minha mãe dizia dança ao país. “No Brasil, só se implan- que o flamenco é uma dança barulhen- rio do que muitos pensam, não teve sua que quando tocava música espanhola tou a dança flamenca quando nós che- ta, com muito sapateado. Aqui não in- origem na Espanha. “Datam da época no rádio eu balançava as mãozinhas e gamos, eu e meu marido”, garante. Sua comodamos ninguém, e ninguém nos do Cro-magnon e se tornaram um insvinda para o país foi inesperada. Durante incomoda”. Isso foi possível graças a trumento importante para a dança flasapateava no andador.” Quando fez cinco anos, Amália um intercâmbio cultural com o Paraguai, um acordo que a professora fez com o menca”, afirma Morita. “O verdadeiro foi levada pelo pai para assistir a uma o grupo de balé do qual Morita era con- colégio. Durante a semana, La Morita flamenco não é com castanholas, já que apresentação no Teatro Avenida, em tratada acabou ficando preso na cidade dá aulas particulares, e às sextas-feiras elas foram implantadas na década de Buenos Aires. “Ele disse que enlouque- devido ao assassinato de uma moça. sua atenção se volta para alunos caren- 30; por isso, atualmente, não podemos ci. Foi um tipo de espetáculo chamado Na mesma época, foi declarado estado tes que têm aulas de graça, vinculadas dizer que dançamos o flamenco original”. Para a dançarina, hoje em dia, de romerias, que também existiam aqui de sítio por causa da guerra, e assim as ao projeto Amigos da Escola. As aulas recebem elogios das alu- dança-se o flamenco “de turista”. “A no Brasil, em cidades maiores, como fronteiras foram fechadas. “Quando o problema se resolveu, conhecemos um nas Anita Maria da Costa Felix e Juliana mulher não é mais feminina, sapateia Rio e São Paulo.” Após a apresentação, o pai de empresário que nos trouxe a Curitiba. de Araújo Bumbeer. “Escolhemos justa- como homem, não tem a feminilidade Morita prometeu que, quando chegas- Conhecemos o cônsul da Espanha na mente a professora Morita por saber de que tinha antes”, afirma. cidade, e ele nos contra- toda a vivência que ela tem. Temos uma As apresentações da dança espase alguma professora de tou para algumas apre- admiração profunda por ela, e posso nhola giram em torno de uma história dança espanhola ao bair“Nasci com o sentações”. garantir que, se eu tenho uma diva, sem que tem início no século 16. “Com a ro, ela faria as aulas. Mas, flamenco em mim. Devido a um proble- exagero, é La Morita”, afirma Juliana. falta de luz elétrica, o homens se reudevido ao preconceito ma de saúde, Amália, que O flamenco trazido pelo casal a niam em tavernas, bebiam e converda época, seus pais reEle me motiva, é havia se casado recenteCuritiba floresceu. “Semeamos muito. savam. No local, havia uma mulher, a lutaram em colocá-la na uma relação mente com Santa Ana, Hoje, todos que você vê por aí, dando prostituta, e um cavalheiro que tocava dança quando a profesmuito forte” acabou ficando em Curi- aulas de flamenco, foram meus alunos”, guitarra. Enquanto o guitarrista toca, os sora chegou. “Eu chotiba. “Fiz o tratamento diz animada. bêbados cantam, e a prostituta dança, é rava todos os dias e sofri Uma dificuldade o trio perfeito”. Toda a temática do esmais três anos pedindo para aprender.” com um médico daqui, logo nasceu miSegundo Amália, a dança flamenca petáculo gira em torno desee universo. Ela conta que começou a fazer nha filha, e por isso fiquei em Curitiba. O flamenco é carregado de histódanças espanholas e, para se aperfeiço- Ela é curitibana”. La Morita e seu marido é muito complexa. “Está muito envolar, fez dança clássica no Teatro Cólon, Santa Ana, falecido em 1993, abriram a vida com a cultura espanhola, e o que rias e de cultura, além de ser muito enem Buenos Aires. Esse foi o ingresso da Casa de Balé Flamenco La Morita y San- se dança em uma região da Espanha volvente, diz Juliana, para quem a dança dançarina na carreira artística, pois logo ta Ana, que funcionou por muitos anos não é o mesmo que se dança em outra”. atrai por ser completa. “É maravilhosa, começou a trabalhar em uma academia no Largo da Ordem. Devido a alguns O ritimo foi influenciado por culturas tem música, expressão, trabalha a indide dança. “Um dia, me chamaram para problemas, Amália acabou tendo que como a indiana e a judaica. “Dançamos vidualidade. No flamenco, cada dançacobrir o lugar de uma moça em um balé deixar o local. “A casa era muito antiga, o flamenco que vem da Índia, misturado rina é única.” Amália é entusiasta de sua arte. espanhol, e foi assim que comecei nes- precisava de reformas que os donos do com a dança árabe, mas quem colocou o se teatro”. A partir daí, La Morita foi se imóvel não conseguiriam bancar, então tempero da dança foram os ciganos que “Não existe nada na dança de que eu não goste. Posso ficar aqui mais duas aperfeiçoando e com muita dedicação acabou sendo vendida e se transformou chegaram ao sul da Índia”, explica. Atualmente, a dança é muito estu- horas falando bem do meu flamenco. conseguiu se tornar uma profissional. em um restaurante. Fico feliz em saber “Você pode dizer que é um profissional que pessoas com dinheiro conseguiram dada. Tornou-se curso universitário em Nasci com o flamenco em mim, ele me Granada, na Espanha. “O flamenco é motiva, é uma relação muito forte. Veda arte quando consegue se sustentar conservar a casa”, destaca. No momento, a dançarina dá au- difícil de interpretar, porque, além de nha dançar comigo para entender o que com ela. Eu comprei minha casa, mantive minha família e agora estou aqui, dan- las no colégio Barão do Rio Branco, ritmo, talento e perseverança, é preciso eu estou falando”, desafia a professora que é o rosto do flamenco no Brasil. do aula, trabalhando com arte”, ressalta. em um espaço reservado para ela. “Foi tocar um instrumento e sapatear.”.


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Algumas propostas para Motocicletas Cultura nas irão superar resolver o problema Ruínas

TRILHAS DO TEMPO

TRANSPORTE

Lugar de ciclista, onde é? Sem espaço exclusivo para circulação em Curitiba, ciclistas criticam malha cicloviária da capital paranaense e a postura da Prefeitura em relação às suas causas Alexsandro Teixeira

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Alexsandro Teixeira Ribeiro

desviar de um pedestre que resolveu mudar de caminho sem olhar para trás”, critica Martins. Livres das interferências de pedestres e de carros, afirma Belotto, os ciclistas preferem vias exclusivas, como a ciclofaixa (veja no box da página ao lado). “A ciclovia é sinuosa, tem uma série de interrupções. Ela está considerando que o ciclista está passeando, há várias travessias; ora está no canteiro central, ora na margem esquerda ou direita, obrigando-o a fazer uma série de travessias”, reclama. Para contemplar essa reivindicação dos ciclistas, o Ippuc informa que foram iniciadas as obras para a instalação da primeira ciclofaixa em Curitiba, na Avenida Marechal Floriano, entre a Linha Verde e o terminal do Carmo. Uma das soluções defendidas por Belotto é o uso das canaletas de ônibus expresso. “Pedalar nas canaletas é o local mais seguro para o ciclista. É um lugar que liga a alguma coisa, já que a maioria das ciclovias não fazem essa ligação de adensamentos populares até o centro da cidade”, diz. Belotto aponta o uso das canaletas, que totalizam mais de 80 km de vias pavimentadas, a exemplo da que está em implantação na Avenida Marechal Floriano, como forma de garantir a ciclofaixa com custos reduzidos. “É uma ideia que defendemos há muitos Alexsandro Teixeira

Belotto: “A prefeitura promete o término da revitalização das ciclovias há mais de três anos”.

anos: a adaptação das canaletas com uma ciclofaixa lateral. Ou seja, seria retirado uma das faicas de estacionamento das vias laterais às canaletas e incluída a ciclofaixa. “Com o uso das canaletas, Curitiba ganharia 70 km de ciclofaixas totalmente integradas, com baixo custo, usando vias já existentes”, defende. Ele apresenta outras ideias: “Poderia haver bicicletários nos terminais de ônibus, para aquela pessoa que queira fazer parte do trajeto de bicicleta e parte de ônibus. Infelizmente, não há essa vontade política”. Apesar disso, Maria de Miranda, do Ippuc, afirma que nem todas as canaletas têm a mesma largura, o que torna inviável a adaptação de alguns trechos. “A diferença da Marechal Floriano com o restante do eixo estrutural é o espaço disponível. A Marechal é mais larga, o que permite a implantação da ciclofaixa neste momento, mesmo com o

automóveis

Entenda as diferenças entre ciclovia, espaço compartilhado e ciclofaixas

Aumento nas vendas de motos pode fazer com que elas sejam o principal meio de transporte

“Curitiba coloca os ciclistas na sarjeta” desalinhamento e alargamento da via para a ultrapassagem do ligeirão. Nos eixos Norte-Sul e Leste-Oeste, onde a faixa da rua é bem menor do que na Avenida Marechal Floriano Peixoto, também há estudos e projetos para a implantação do Ligeirão, com o desalinhamento das estações-tubo. Nesses eixos, não haverá espaço disponível para a implantação de ciclofaixa”, argumenta. Enquanto a ciclofaixa e as conexões das ciclovias não forem completadas, resta aos ciclistas, na maior parte da cidade, o uso compartilhado de vias com automóveis e outros veículos. De acordo com o artigo 58 do Código de Trânsito, quando não houver ciclovia ou ciclofaixa, o ciclista deve transitar pelo bordo da pista, no mesmo sentido do fluxo dos carros, com preferência em relação aos demais veículos. Apesar disso, Belotto acredita que a maioria dos motoristas não conhece essa regra. “Não há respeito por parte dos motoristas, e não há placa que faça alusão ao artigo. Inclusive, o conceito de calçada compartilhada leva os motoristas a acharem que lugar de bicicleta é na calçada.

Bairro São Francisco é referência cultural

Andrey Takahashi

Bruno Melo

Alexsandro Teixeira

apital Ecológica e Cidade Modelo são alguns dos adjetivos recorrentes aplicados a Curitiba em diversas reportagens e artigos de jornais e revistas em todo o mundo. A capital paranaense também é referência quando o assunto é transporte coletivo, com seus expressos biarticulados e estações tubos. Há quem levante a bandeira em defesa de tais títulos. Por outro lado, existem os que consideram tudo isso um mito, como o ciclista, coordenador do programa Ciclovida e pesquisador do Núcleo de Psicologia do Trânsito da UFPR José Carlos Assunção Belotto. Para ele, Curitiba precisa pensar no modal cicloviário como uma das soluções para o trânsito na capital. Apesar disso, segundo Belotto, a cidade ainda não desenvolveu respeito pelo ciclismo, mesmo com o status de Cidade Com a falta de faixas exclusivas, muitas vezes o ciclista invade a área dos pedestres Ecológica. “Curitiba coloca os ciclispromessa é sempre a mesma: de que tilhada, o que não agrada os ciclistas, tas na sarjeta”, critica. De acordo com Belotto, uma das estão terminando o plano e em bre- que não são escutados no planejamengrandes críticas dos ciclistas é a não ve vão apresentar, mas isso já faz três to”, critica. Segundo Maria de Miranda, alconexão entre os mais de 100 quilô- ou quatro anos. Realmente, o que eles metros de ciclovias que a prefeitura ga- colocam é primeiro recuperar a malha gumas das obras previstas no plano já rante existir. “Hoje, a Prefeitura acha existente para depois instalar novas”, estão sendo incorporadas nos projetos do Ippuc, como na rua Toaldo Túlio, que o ciclista é capaz de se teletrans- lamenta. Apesar de planejar as conexões em Santa Felicidade, e na rua Eduardo portar, pois a ciclovia acaba no nada”, afirma o ciclista. Segundo a funcioná- das ciclovias, de acordo com Maria, Pinto da Rocha, no Sítio Cercado, amria do setor de Coordenação de Mobi- o plano não prevê a ampliação da bas com faixa de circulação de ciclislidade Urbana e Transportes do Insti- malha cicloviária existente. “O Plano tas compartilhada com os pedestres. Diretor Ciclo- Porém, de acordo com Belloto, essa tuto de Pesquisa e Planejamento Ur- “Hoje, a Prefeitura acha viário não é um modalidade de via para ciclista não é plano de obras a mais aceita pelos usuários das bicibano de Curitiba que o ciclistas é capaz para a constru- cletas. “A maioria das ciclovias têm o (Ippuc) Maria de Miranda Gonçalde se teletransportar, ção de ciclovias, conceito de calçada compartilhada, o mas sim um pla- que para o ciclista é muito ruim, pois ves, o Plano Direpois a ciclovia acaba no no que estabelece há pessoa correndo ou caminhando tor Cicloviário de Curitiba foi apro- nada”, reclama Belotto as diretrizes de na ciclovia, já que o pavimento é mais expansão da rede liso, melhor também para caminhar”, vado em 2008. “A de infraestrutura comenta. implantação graO compartilhamento da ciclovia dativa de infraestrutura cicloviária nos cicloviária existente”, comenta. Para ramais propostos no mapa de diretri- Belotto, esse é um dos problemas do é uma das críticas do ciclista Clóvis zes permitirá a conexão da rede exis- posicionamento da Prefeitura para Martins, que usa a bicicleta para ir de tente, bem como a criação de novas li- com os ciclistas. “Aqui, sentimos a sua casa, no bairro Hugo Langue, para gações”, afirma. Apesar de o plano da resistência a abrir mais espaços para o trabalho, no centro da cidade. “Usar prefeitura já estar em fase de implanta- os ciclistas, mesmo com o discurso de a ciclovia com os pedestres é muito ção, Belotto não está muito confiante que a prioridade são dos pedestres e ruim. Não consigo ter rendimento, quanto aos prazos de finalização das ciclistas. Na prática, nos últimos anos, nem maior velocidade, pois tenho obras, alguns estipulados para o final não foram criados novos trechos de que ficar cuidando para não atropelar deste ano. “Há alguns anos que acom- ciclovias. Os que existem foram cria- alguém que esteja na via. Uma vez, panho os projetos da Prefeitura, e a dos no conceito de calçada compar- quebrei um braço em um acidente ao

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Dados divulgados no mês de maio pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), como resultado da pesquisa intitulada “A mobilidade urbana no Brasil”, apontaram que na última década a compra de carros cresceu 9% ao ano, e a de motos, 19%, enquanto a procura por transporte público caiu 30% anualmente no mesmo período. A enfermeira Keila dos Santos, de 35 anos, faz parte dessa estatística. Obrigada a usar o transporte coletivo, após mudar de emprego, a enfermeira providenciou uma moto e está terminando o processo para conquistar a tão sonhada habilitação para o veículo. “Depois que se acostuma a ir e vir a hora que se quer, é muito difícil ter que esperar e se moldar aos outros”, diz Keila. Isso sem contar o desconforto e as inconveniências do transporte coletivo. De acordo com a pesquisa, a partir do ano que vem, as vendas de motocicletas irão superar as de carros no país. Se a média for mantida, nos próximos dez anos, haverá menos carros do que motocicletas circulando nas ruas brasileiras. Em Curitiba, o grande número de automóveis representa problemas no trânsito. A capital paranaense é a mais motorizada do Brasil, com aproximadamente um carro para cada 1,63 habitante, segundo dados da Associação Nacional de Transportes Públicos. A previsão é de que, em 2013, o número de veículos automotores em Curitiba chegue a 1,5 milhão, passando dos 2 milhões em 2018. O problema é sentido desde já pelo taxista Orácio de Mello Puchta, 43 anos, há 12 na profissão. Ele conta que, no começo da carreira, ser taxista era prazeroso para quem gosta de dirigir, já que se podia admirar toda a cidade e conhecer muitas pessoas. Hoje, o trânsito estressa não só a ele, mas ao passageiro, que paga para ficar parado.

As Ruínas de São Francisco, no centro histórico de Curitiba: local cercado de lendas e mitos

Andrey Takahashi O bairro São Francisco tem diversos pontos históricos, como a Praça João Cândido, a Praça Garibaldi e o Setor Histórico de Curitiba. Mas o local mais intrigante e curioso são as Ruínas de São Francisco, cercadas por lendas e histórias curiosas. Uma dessas histórias conta que um pirata chamado Zulmiro teria enterrado, perto das Ruínas, um tesouro. Mesmo após sua morte, o pirata volta ao local para assustar as pessoas. Para o estudante de publicidade Diego Muller, o local é “tenebroso”. Ele conta que, nas poucas vezes em que passou pela praça, sentia a impressão de ser vigiado por alguém. Mas diz que as Ruínas não o assustam tanto quanto o Mirante que fica ao lado. As Ruínas são hoje um espaço para eventos culturais, desde apresentações de teatro a shows musicais ao ar livre. Há no local uma arquibancada de pedra para o público. Neste ano, aconteceu o Festival Ruído nas Ruínas, nos dias 26 e 27 de fevereiro. A programação era composta por apresentações musicais, exposições de artes plásticas, aulas de ioga e palestras, tudo sem cobrança de ingresso. Para evitar o mau uso e a depredação da antiga construção, foram colocadas grades em volta das Ruínas. Outra construção, abaixo das arquibancadas, são as Arcadas das Ruínas do São Francisco, que abrigam lojas de souvenir e presentes, pizzaria, bar e confeitaria, entre outros serviços disponíveis para o população e os turistas.


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Muito além da cozinha ESPECIAL

Neste ano, já foram denunciados 33 estabelecimentos no centro de Curitiba, por falta de higiene. André Vinícius e Ronaldo Freitas

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ocê sabe o que anda comendo? Quando se trata de alimentação, todo cuidado é pouco. Afinal, nunca se sabe o que há realmente dentro de um prato de comida ou se aquele pastel de carne da lanchonete da esquina foi preparado no momento em que o cliente fez o pedido. Será que é tudo tão apetitoso quanto parece? Embora o número de denúncias contra lanchonetes no centro de Curitiba chegue, neste ano, a um total de 33, as interdições foram apenas duas. No caso dos restaurantes, foram denunciados 27 estabelecimentos, porém, nenhum foi fechado. Conforme explica o diretor do Centro de Saúde Ambiental de Curitiba, Luiz Antônio Bittencourt, durante as vistorias, é emitido um termo de intimação, cujo prazo é definido conforme a situação: “Estipulamos um procedimento a ser seguido, a depender do caso”. Bittencourt explica que, após esse período, muitos estabelecimentos apresentaram condições propícias ao consumidor, evitando assim o fechamento. A variedade de estabelecimentos no centro de Curitiba é impressionante: conforme a Secretaria Municipal de Saúde, eles são, atualmente, 1.579, divididos entre 759 lanchonetes e 820

restaurantes. Diariamente, milhares de pessoas fazem suas refeições nesses locais, a exemplo da promotora de vendas Mariele Morais, de 17 anos, que trabalha na região central da cidade. “Sempre almoço no centro, a localidade é ótima, pois possui várias opções para se fazerem refeições”, comenta. Quanto à higiene, a promotora diz confiar nos estabelecimentos. “Prefiro acreditar que os locais em que almoço são limpos, pois seria uma decepção descobrir que estou comendo em um local sujo” argumenta. Realizar refeições no centro da cidade também é uma rotina na vida de Janete Schlottag, 37 anos, atendente de loja. Ela relata que, por trabalhar o dia todo na região central, é obrigada a se alimentar em estabelecimentos da região, mesmo desconfiada da higiene desses locais. “É grande a quantidade de lanchonetes espalhadas pelo centro de Curitiba em que se percebe a falta de higiene”, comenta a atendente que garante já ter constatado a presença de baratas em lanchonetes próximas à empresa onde trabalha. De fato, existem opções para todos os gostos. Entretanto, é preciso ficar atento se a qualidade atende às normas da Vigilância Sanitária, presentes na Resolução RDC nº 216/2004, a chamada “Cartilha sobre Boas Práticas para Serviços de Alimentação” da

A qualidade dos estabelecimentos tem melhorado, principalmente por causa da exigência dos clientes

Ronaldo Freitas

Funcionários uniformizados e preparação dos alimentos bem visível: nem sempre é o que acontece

Anvisa, voltada para serviços de alimentação de maneira geral. A cartilha trata de temas como Doenças Transmitidas por Alimentos (as chamadas DTAs), descrição do local ideal de trabalho, cuidados com a água e até a forma correta de lavar as mãos. A coordenadora do Serviço da Vigilância Sanitária de Alimentos de Curitiba, Ana Valéria de Almeida Carli, informa que as vistorias da Vigilância Sanitária ocorrem de três formas: por solicitação dos próprios estabelecimentos, seja para liberação de licença sanitária ou análise de projeto, em vistorias no roteiro e a partir de denúncias. “Recebemos (as denúncias) através da Ouvidoria, da Central 156 e do Ministério Público. No caso de mais de uma pessoa passar mal por causa de algum problema na lanchonete ou restaurante, investigamos como um surto alimentar”, esclarece Valéria. A coordenadora do Serviço Alimentar explica os procedimentos de vistoria: “Além de investigar o processo de descongelamento, conservação e preparo dos alimentos, verificamos fatores como o estado de limpeza do local, uniforme dos funcionários, procedência da água e estrutura física do estabelecimento, como coifa e dispensers de papel e sabonete”. De acordo com o diretor do Centro de Saúde Ambiental de Curitiba, Luiz Antônio Bittencourt, os motivos que mais geram reclamações em lanchonetes e restaurantes são a presença de corpos estranhos, ratos, baratas,

falta de higiene de quem manipula a comida e o sabor. “Curiosamente, um mal-estar gerado tem o menor índice, porque o cliente tende a pensar que aconteceu apenas com ele. A não ser em caso de surto alimentar”, diz Bittencourt. “É bom lembrar que o comerciante não sabe quando será investigado”, alerta. O diretor de Saúde Ambiental sugere uma reflexão sobre a alimentação em locais públicos: “A qualidade dos estabelecimentos do centro de Curitiba é muito grande atualmente, mesmo porque a população ficou muito exigente. Mas não dá para garantir tranquilidade absoluta. O consumidor precisa ser observador, ser fiscal do que ele consome”. Nota: A Secretaria Municipal de Saúde não divulga quais foram os estabelecimentos denunciados e/ou interditados.

Mariele Morais prefere dar um voto de confiança

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ESPECIAL

O que os olhos não vêem, o estômago não sente? Ronaldo Freitas

Os mistérios da cozinha

m Curitiba, diferente do que ocorre em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, o cliente não possui, por lei, o direito de visitar a cozinha de estabelecimentos manipuladores de alimentos (bares, restaurantes, lanchonetes etc.). Soma-se a isso o critério adotado pela Vigilância Sanitária da cidade, que é não divulgar quais os estabelecimentos do gênero denunciados, autuados e/ou interditados pelo órgão, o que, segundo a instituição, é uma questão de “ética”. Assim, consumidores da capital paranaense não possuem muitas informações e dados quanto ao histórico dos locais onde fazem suas refeições diárias, ficando à mercê de vistorias praticadas de forma esporádica (mediante denúncias, a necessidade dos estabelecimentos em renovar suas licenças ou vistorias roteirizadas). Apesar de não existir em Curitiba a obrigação por parte de lanchonetes e restaurantes de permitir que o cliente entre na cozinha, a recusa do estabelecimento pode ser motivo para denúncia. “É uma atitude suspeita, não há motivo para se esconder do cliente. Sempre digo que, na dúvida, o melhor é que o cliente veja como o estabelecimento prepara a comida”, diz o diretor do Centro de Saúde Ambiental de Curitiba, Luiz Antonio Bittencourt. Para verificar a possibilidade de observar cozinhas de restaurantes e lanchonetes no centro da capital paranaense, a reportagem do Marco Zero foi registrar a reação de responsáveis e funcionários, quando solicitada a autorização para acompanhar o preparo de refeições servidas nesses locais, além de constatar as condições higiênicas. Recusa, desconfiança e a alegação de falta de tempo foram alguns dos argumentos registrados na ação, que visitou oito estabelecimentos da região. Confira as reações.

Apesar de não existir em Curitiba a obrigação por parte de lanchonetes e restaurantes de permitir que o cliente entre na cozinha, a recusa do estabelecimento pode ser motivo para denúncia. “É uma atitude suspeita, não há motivo para se esconder do cliente”, diz o diretor do Centro de Saúde Ambiental de Curitiba, Luiz Antonio Bittencourt.

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La Casa di Frango (Praça Rui Barbosa): o gerente José Ademar explicou que não há problema quanto à visita de clientes na cozinha do estabelecimento em horários de pouco movimento. Quando questionado se ele permitiria nossa visita naquele momento, ele negou, apesar do pouco movimento do local no momento. Pastelaria e Lanchonete Wan Le (Praça Rui Barbosa): o responsável pelo local, que preferiu não revelar seu nome, autorizou a visita. Na companhia da atendente Camila Rose, de 22 anos, fomos guiados até a porta da cozinha do estabelecimento. O local pequeno aparentava poucas condições higiênicas. Na pia, havia grande quantidade de louças sujas ao lado de um “panelão” com arroz, usado na preparação

Supermercados

Em Curitiba, a lei não garante ao cliente o direito de visitar o local onde os alimentos são manipulados

dos chamados “pratos feitos”. O fogão tinha uma grande frigideira com gordura em tom escuro, como se já tivesse sido usada diversas vezes na fritura de batatas. As saladas e o feijão estavam aparentemente bem condicionados. Todos os funcionários usavam toucas. Quando questionada se era comum a visita de clientes à cozinha do estabelecimento, a atendente respondeu que nunca ninguém solicitou.

mento, Imad Handar, não hesitou em autorizar a visita. De pronto, solicitou que o chapeiro Raul nos acompanhasse. Na cozinha, não havia nenhum talher sujo sobre a pia, todos os alimentos eram mantidos em recipientes adequados, o chão e as paredes estavam aparentemente limpos. Todos os funcionários usavam toucas. Handar diz que qualquer cliente está autorizado a visitar sua cozinha, basta solicitar.

Pastelaria Asiático (esquina das ruas Pedro Ivo e Voluntários da Pátria): o responsável pelo estabelecimento, assustado, não quis se identificar e pediu que nos retirássemos do local. Alegou que só permitia a entrada de fiscais da Vigilância Sanitária em sua cozinha.

Lanchonete e Restaurante Savoy (Rua XV Novembro): o operador de caixa do estabelecimento, Miguel de Oliveira, de 34 anos, informou que visitas à cozinha não são autorizadas. Alegou que o gerente não se encontrava, encerrando o assunto.

Mei Hau Pastelaria e Lanchonete (Voluntários da Pátria): fomos atendidos por uma jovem oriental. Quando questionada sobre a possibilidade de visitas à cozinha do estabelecimento, a moça desconversou e chamou a atendente Rose Oliveira, de 29 anos, que informou não permitirem a entrada de nenhum cliente na cozinha, devido ao grande movimento do comércio e à falta de tempo para visitas dessa natureza. Pão de Queijo (Voluntários da Pátria): atendidos pela gerente Simone Bernard, de 23 anos, constatamos que toda a preparação das refeições do estabelecimento é feita ante os olhares dos clientes. A cozinha é aberta, próxima ao local em que os clientes realizam suas refeições. Funcionários responsáveis pelo preparo das refeições estavam uniformizados e todos com toucas. Simone argumenta que a preparação das refeições, aos olhos dos clientes, é algo que gera credibilidade ao estabelecimento. Bar e Restaurante Triângulo (Rua XV de Novembro): o proprietário do estabeleci-

Casa de Sucos Wing (Rua XV de Novembro): o atendimento foi feito por Janaine Pereira, 29 anos, gerente da casa. Ela explicou que cozinha possui uma janela na porta, assim, o preparo das refeições fica visível a qualquer cliente. Pela janela, foi possível observar que o local de fato estava limpo. Uma única funcionária, que se encontrava no interior da cozinha, fazia o uso de um uniforme limpo e de touca. Os talheres e pratos estavam aparentemente limpos e organizados. Não era realizada nenhuma manipulação de refeições no momento.

Por aglutinar, muitas vezes, as funções de restaurante, lanchonete, açougue e panificadora, o comércio varejista (supermercados, minimercados e hipermercados) lidera os índices de interdições totais ou parciais: conforme a Secretaria de Saúde, em 2010, foram 43 estabelecimentos dessa natureza contra 18 lanchonetes e 12 restaurantes.

“Pau-de-fogo” Segundo a coordenadora do Serviço da Vigilância Sanitária de Alimentos de Curitiba, Ana Valéria de Almeida Carli, o “pau-de-fogo” é um método comum em lanchonetes. “Utiliza-se uma garrafa repleta de combustível para acender as bocas do fogão rapidamente, com o risco de explosão”. A prática é ilegal.

Fique ligado! Conforme Ana Valéria Carli, a última ação do Distrito Matriz, no Centro, que culminou em interdição aconteceu no dia 16 de maio, numa lanchonete com nome fantasia em mandarim, na qual foram encontradas precárias condições de higiene, presença de ratos e baratas, produtos alimentícios vencidos e mal acondicionados, além de estrutura física irregular.

Você sabia? • A geladeira dos estabelecimentos devem estar registrando menos de 5ºC, e o balcão de self-service, mais de 60ºC; caso contrário, o ambiente estará propício à multiplicação de micróbios prejudiciais à saúde. • Uma boa lavagem de mãos deve levar em torno de 20 segundos. Ronaldo Freitas


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MARCO ZERO

EVENTO

Curitiba, junho-julho de 2011

Alunos da Facinter organizam evento para divulgar uma das habilitações da Comunicação Social

MARCO ZERO

CULTURA

COMPORTAMENTO

Um olhar aberto à Com local e produção editorial hora marcados

Curitiba, junho-julho de 2011

Edno Junior

Um shopping, uma ferrovia e muitas histórias Larissa Glass

Yasmin Feliciano

Cabe no Bolso

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ESPECIAL CINEMA

Há quem diga que não há nada melhor que um bom “cineminha”. Outros afirmam que mesmo com filmes on-line e outros recursos que a internet oferece, além da facilidade de locar uma fita para assistir no conforto do lar, nada supera a sensação de ir ao cinema. Se você é partidário dessa opinião, e como grande parte da população busca diversão que não fira o bolso cruelmente, aqui vão algumas dicas do Cabe no Bolso voltadas especialmente ao cinema.

Cinemateca

Tradicional roda de amigos na Boca Maldita: a política é um dos principais assuntos discutidos

Ouvintes assitem a exposições dos ex-alunos do curso de Produção Editorial & Multimídia

responderam algumas perguntas dos ouvintes. Um dos ex-alunos, Gabriel Vardauatro alunos do sétimo pe- na, definiu o curso como “sem fronríodo do curso de Produção teiras”. “Dá uma imensa possibilidade Editorial & Multimídia da de você poder pegar tudo o que aprenFaculdade Internadional de Curiti- deu, ter uma ideia e ir atrás dela”, jusba (Facinter) realizaram no dia 16 de tificou. Quando questionados sobre junho o evento “Mídias sociais: mais o principal desafio após a faculdade, ouvir do que ser ouvido” que ocorreu o ex-aluno Allan Reis respondeu que no auditório da instituição. é “estar preparado”, ou seja, sempre O principal objetivo do evento buscar cursos extras que complemenfoi promover o próprio curso. “Mui- tem e atualizem o aprendizado. tos professores esquecem Produção Na comparação com os outros Editorial quando citam cursos, Vardana descreJornalismo e Publicida- “Muitos professores veu Produção Editode; por isso, não tem esquecem Produção rial & Multimídia como como divulgar o curso “mais plural, ou seja, Editorial quando lá fora se não se consemenos focado. Ele encitam Jornalismo gue divulgá-lo internatrega ao aluno a chance e Publicidade” mente”, declara a aluna de escolher o caminho Juliana Queiroz, uma que mais lhe dá prazer”. das coordenadoras do evento. Mas o que realmente faz um A programação foi dividida em profissional de Produção Editorial & duas partes. A primeira teve como pa- Multimídia? Gabriel respondeu que lestrantes convidados três ex-alunos o estudante aprende como passar indo curso (Gabriel Vardana, Allan Reis formação e como trabalhar os dados e Diego Marx); na segunda, os con- obtidos: “Esse é o principal papel de vidados foram o mercadólogo Moha- um comunicador atual”, definiu. Em mad Hajah Neto e a professora uni- campos como impressos, filmes e áuversitária Renata Freire, falando sobre dio, a produção editorial conta com mídias sociais. uma vasta área de atuação. “TrabaOs três ex-alunos puderam con- lhamos sempre com diversas mídias. tar um pouco sobre a vida pós-facul- O design está em tudo, e por isso tedade, falaram sobre como está o mer- mos um campo mais aberto”, destaca cado de trabalho para os formados e Allan Reis. Natanael Chimendes e Aryadne Fernanda

Q

Edno Junior

Desde 13 de dezembro de 1956, Curitiba tem um reduto onde se debatem todos os assuntos que se passam na capital paranaense, além dos ocorridos no centro da cidade. A Boca Maldita se tornou ponto de encontro entre aposentados, advogados, servidores públicos, juízes, médicos, políticos e jornalistas, entre outras pessoas que passam e param para conversar com amigos e colocar a conversa em dia. Uma dessas pessoas é o servidor público Ney Santos, de 59 anos, 35 deles frequentando a Boca Maldita. “Comecei a vir porque alguns amigos meus sempre vinham. Como ainda tenho amigos aqui, continuo vindo”, frisou. Santos revela que se vê de tudo quando se fica ali: “Aqui tem de tudo, rico, pobre, mentiroso, safado, esportista, médico, gente do bem e gente mal intencionada...” O senhor de cabelos brancos diz que é difícil se lembrar de todas as histórias que ocorreram pela redondeza, mas se lembra de uma que aconteceu perto da Praça Osório e que, segundo ele, foi um milagre. Uma senhora andava pela praça, e o vento estava muito forte, fazendo cair um galho. “Não vimos mais a mulher, pensávamos que havia ocorrido algo mais grave. Logo, depois vimos ela saindo de fininho”, conta.

Outro senhor, que não quis ter seu nome revelado, disse que há um homem cujo apelido é Queboot que não pode ver mulheres e meninas passando que já as “canta”. “É um sem vergonha”, brincou o homem. Na história A Boca Maldita fica na Av. Luiz Xavier, pedaço de rua que passa pela Rua das Flores, outro nome pelo qual a Rua XV de Novembro é conhecida no trecho central. Há uma escultura bem na frente ao local, feita em homenagem à Boca Maldita, por sua importância histórica. Em dias de semana, pode-se ver senhores desde as nove horas da manhã, já confabulando e debatendo sobre os principais assuntos que leram no jornal. Durante o dia, o movimento cai um pouco, mas nada que faça esvaziar o ponto de encontro, e após as 17 horas já começa uma movimentação mais intensa de pessoas buscando uma rodinha mais informada sobre o que aconteceu no local e no calçadão da Rua XV. Com predominância de público masculino, os assuntos são diversos: artes, política, passeatas, shows, mulheres, comícios, entre outros. O comício do movimento Diretas Já!, importante manifestação da história redente do Brasil ocorrida nas principais capitais, passou pela Rua XV, por ser um local central.

Detalhe da antiga composição

época estão com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional A velha Maria Fumaça é uma das relíquias expostas no Shopping Estação (Iphan), aguardando uma decisão sobre quas será seu destino. No caminho, o visitante enconLarissa Glass A bibliotecária do museu, Lutra algumas curiosidades, como o cia Glinski Kintopp, aguarda ansiosa uem passeia pelo Shopping significado das diferentes cores dos Estação, além de fazer as quepes utilizados pelos fiscais, chefes, a decisão do destino das fotografias suas compras, usufruir da agentes, maquinistas e auxiliares. E e deseja que o museu seja o local espraça de alimentação e dos cinemas, também o porquê de nos relógios das colhido para elas. “Estamos com um projeto para ampliapode conhecer um pouco da história Estações os números de Curitiba. Com um rico acervo e aparecerem em alga- O museu recebe em média ção do espaço, e será muita história para contar, o Museu rismos romanos, gra- oito mil visitas por mês de muito bom se o InstiFerroviário traz o registro das fer- fando o 4 como IIII, estudantes, historiadores, tuto mandar as fotos para nós”, afirma. Ela rovias do Paraná. O Shopping Esta- em vez de IV. pesquisadores e informa que o museu O acervo do ção, onde se localiza o museu, abriamantes de ferrovias recebe em média oito gava uma antiga estação ferroviária museu conta com um mil visitas por mês, catálogo de todas a da Capital. Fundado em 1982, o museu do locomotivas que fizeram parte do Pa- sendo boa parte composta por estuShopping Estação tem histórias e raná, livros, jornais e vários outros ob- dantes, historiadores, pesquisadores e curiosidades do período em que as jetos históricos. As fotografias dessa amantes de ferrovias. Larissa Glass ferrovias alimentavam o comércio e as indústrias do Paraná. Nas janelas de um vagão junto à locomotiva Maria Fumaça, alguns objetos contam como era aquele tempo. Entre esses objetos, estão, por exemplo, os apitos da locomotiva, que exerciam a função de alertar as pessoas, animais e motoristas em cruzamentos, além de avisar quando o trem chegava ou partia, e o manômetro, utilizado para medir e controlar a pressão dentro das locomotivas, já que sem esse controle as locomotivas poderiam ter problemas e causar acidentes. Outros objetos que estão expostos na janela são o telégrafo (de 1830), sinos e balanças. Simulação de embarque de um casal de bonecos caracterizados com trajes de época

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Uma boa opção é a Cinemateca de Curitiba. Aberta em 1975, exibe diversos filmes de seu acervo, já que um dos objetivos da Cinemateca é preservar a memória cinematográfica. Há também exibições para o público infantil e mostras de filmes estrangeiros, como de cinema italiano e cubano, entre outros. Os ingressos de segunda a sábado custam R$ 5,00. O meio-ingresso para estudantes é R$ 2,50, e aos domingos o preço único é R$1,00. A Cinemateca fica na Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1.174, São Francisco. O telefone para informações é o (41) 3321-3359.

Unibanco Arteplex

Para quem é professor, uma boa pedida é o Unibanco Arteplex, que oferece filmes gratuitos para o educador e um acompanhante. Basta fazer uma carteirinha e no dia levar o documento junto com o RG. Nesse cinema, há também a Sessão Popular: um filme selecionado em horário específico a cada semana, com ingresso a R$ 4,00. Para saber qual o filme da semana e o horário, basta acessar www.cinemaunibanco.com.br.

Filme mais cedo

Uma alternativa para quem quer economizar é ir até as 13h30 no Cineplus Jardim das Américas. O valor do ingresso até esse horário é de R$ 4,00 nas segundas e quintas e de R$ 3,50 nas terças e quartas. O cinema fica no Shopping Jardim das Américas, na Av. Nossa Senhora das Lourdes, 63. Essas são algumas opções para curtir um cineminha. Não se esqueça de levar um dinheirinho extra para uma deliciosa pipoca. Boa diversão e bom filme!


MARCO ZERO

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Curitiba, junho-julho de 2011 Larissa Glass

CULTURA

Unidos pela dança Jovens se juntam em espaço aberto no centro de Curitiba pelo amor ao breakdance

I

Alunos no treinamento de planejamento e entretenimento com o professor Ararê de Azambuja

Facinter no projeto Rondon

Larissa Glass Serão 17 dias de convivência, muito trabalho e a necessidade da ajuda mútua. É com essa visão e disposição que dois professores de Turismo e oito alunos dos cursos de Administração, Jornalismo e Turismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter) se preparam para representar a instituição na terceira participação no Projeto Rondon. Segundo o professor e coordenador do projeto Rogério Maioli, este ano foi o mais concorrido, e a faculdade foi escolhida com excelente nota. No dia 9 de julho, a equipe embarca para Laranjal do Jarí, no Amapá. Para chegar até o local, serão aproximadamente nove horas de viagem. No entanto, o tempo de deslocamento não desanima os integrantes da equipe, que estão ansiosos para chegar logo ao destino. Ao longo dos 17 dias, os alunos deverão desenvolver projetos para formar multiplicadores na comunidade, em parceria com vários ministérios, com destaque para os da Defesa e da Educação, e instituições de ensino superior. O Projeto Rondon atua desde 1967, em parceria com as universidades do país, com o intuito de levar estudantes de graduação dos grandes centros para conhecer a realidade de municípios extremamente carentes, com baixos índices de desenvolvimento humano (IDH). Laranjal do Jarí, para onde vão os estudantes, tem apenas 23 anos de existência, 39.805 habitantes e IDH baixo. De acordo com o professor Maiolli, as expectativas para este ano são as melhores possíveis. Ele participou da primeira edição, em Cerro Azul, em 2009, e diz que a experiência foi muito valiosa. “Aprendemos bastante, principalmente no planejamento.” Antes do embarque, os alunos

receberam treinamentos, e cada um apresentou seu projeto. Como se imaginar dividindo tudo com pessoas que você mal conhece? As meninas se preocupam com o chuveiro coletivo, a falta de privacidade, até mesmo com a limpeza em certos ambientes e garantem que na bagagem não irá faltar água sanitária. Segundo os estudantes, a equipe é tranquila, o pessoal é receptivo, comprometido. Eles garantem que todos estão indo com a mesma intenção: deixar multiplicadores. Para isso, os participantes desenvolveram projetos que serão aplicados na região. O aluno do 5º período de Turismo Marcos Alves Goes, de 44 anos, irá desenvolver o projeto de Guia Mirim. Já o estudante do 7º período do mesmo curso Jean Pierreie Silveira, de 31 anos, vai unir suas formações em gastronomia e turismo. “Vou agregar o meu conhecimento nessas áreas e fazer atividades com um conceito de sustentabilidade”. As alunas de Administração Vicentina Santos, do 8º período, e Barbara Cristine Pereira, do 7º, irão trabalhar com cooperativismo e empreendedorismo. “É bem importante, porque lá eles têm muita matéria-prima que não é usada por falta de conhecimento, e o pouco que é usado não tem valor agregado”, diz Vicentina. Os alunos de Jornalismo Geórgia Macedo, Guilherme Pereira e Hamilton dos Santos Junior estão desenvolvendo um videodocumentário que busca resgatar a origem da cidade, junto com sua cultura. Pereira ficou como responsável pelo projeto. “Todos se ajudam, e cada projeto tem duas pessoas comandado. Vou comandar este grupo, e, com o auxílio de toda a equipe, a gente vai filmar e editar lá mesmo. Além disso, também vou participar dos demais projetos, das palestras e das gincanas”, conta.

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TÁ NA WEB

Proporções e probabilidades

Várias versões de uma oração

P

Raíssa Domingues

MARCO ZERO

CRÔNICA

Alexsandro Teixeira Ribeiro

Raíssa Domingues

magine a seguinte cena: pessoas voltando do trabalho, indo para a aula, atravessando a rua e ouvindo ao fundo uma batida diferente, com um ritmo contagiante vindo de um rádio modelo cinza, antigo, alimentado a pilhas, daqueles dos filmes A banda de louvor toca todas as quartas-feiras americanos que os personagens carregavam nos ombros empolgados ao som da música. Pois bem, essa cena não é tão improvável quanto se possa imaginar. Quase diariamente, e há A dança ocorre todas as noites em frente ao mais de 20 anos, um grupo de jovens, Shopping Itália, na área central da cidade que se renova com o passar dos anos, reúne-se para se divertir e praticar líder e que existe apenas a motivação aquilo que muitos deles dizem ser o de cada dançarino em não deixar a que fazem com mais prazer na vida: tradição acabar. Além dos treinos no dançar. É a chamada dança de rua, shopping, muitos deles saem dali para que para esses meninos acontece lite- participar de grandes competições. “A ralmente na rua e que atrai a atenção última de que participei foi no Memode quem passa pelo local. rial de São Paulo, mas existem várias. O breakdance surgiu como uma Pagamos uma inscrição e no final tem vertente do street dance, nos Estados um prêmio alto em dinheiro”. Unidos, sob influência do cantor JaAlgumas pessoas param para mes Brown, e veio para o Brasil nos olhar e se mostram interessadas em anos 80. Desde então, os administra- saber o que está acontecendo ali. A dores do Shopping Itália, na região platéia que se forma não os intimida. central de Curitiba, de“Faz 20 anos que as cidiram ceder a frente Qualquer pessoa que pessoas dançam aqui. do estabelecimento para se sentir à vontade Acredito que a cidade as atividades. Assim que já está acostumada”, pode chegar ali e se encerrava o expediz o separador de vedançar, sem ser diente, os adeptos desse ículos Gil César, de 19 discriminado estilo de dança podiam anos. Um casal de tuse encontrar e passar o ristas que passava pelo tempo ali aprendendo novos passos e local comentou que a atitude é “muito interagindo entre si. A única forma de bacana”, ainda mais quando envolve rivalidade entre eles é dentro da “roda um número grande de jovens que pode break”, pois a dança acontece como diam estar envolvidos com várias coise fosse um jogo, havendo uma dis- sas erradas, mas que preferem cuidar puta entre os passos executados por do corpo e da mente dançando. cada dançarino. Qualquer pessoa que Cada um deles tem sua rotina se sentir à vontade pode chegar ali e diária, como Gil César: “Saio às 18h dançar, sem ser discriminado. do trabalho, passo em casa, tomo um Um estagiário de 18 anos, conhe- banho, como alguma coisa e corro cido popularmente entre seus amigos para cá. Fico aqui até umas 22h30, como Harry, dança há cinco anos. mas tem semanas em que venho to“Não sabia nada de dança e hoje eu dos os dias”. Ele conta que dança há me destaco bastante, aprendi muita três anos e que começou na igreja. coisa aqui. Uma vez por semana, che- Com o tempo, foi conhecendo mais gamos e abrimos a roda, e vem gen- pessoas desse meio e se aprimorante do break de Curitiba toda”, conta. do. Ao ser questionado sobre o sigPara ele, ir até lá duas ou mais vezes nificado da dança, responde: “Danna semana é rotina obrigatória. Harry ço porque gosto, porque eu amo e explica que entre o grupo não há um preciso disso”.

Curitiba, junho-julho de 2011

ode parecer estranho, mas algumas coisas na vida seguem certas regras que às vezes desconhecemos. Foi pensando em algumas delas que fiz este texto. Chuvas – É mais provável que a chuva cairá quando você estiver desabrigado, sem guarda-chuva e com pressa para chegar em algum lugar. Se você sai às seis do serviço, a chuva cairá às seis e cinco, quando você estiver no meio do caminho para qualquer lugar. Chuvas caem fora do horário comercial e nos domingos e feriados. Nestes, principalmente, se você planejou algo que não daria certo caso chovesse. Esse “algo” não inclui cortar grama e puxar tijolo. Experiência própria, mais de uma vez, inclusive. Se você é office boy, as chuvas cairão também no horário comercial…principalmente. A probabilidade de, ao fumar na chuva, cair uma gota bem na ponta do cigarro é inversamente proporcional à quantidade de cigarros e dinheiro que te resta. Ônibus – A probabilidade de você pegar um ônibus lotado é diretamente proporcional a sua pressa em chegar a algum lugar. É matematicamente certo que após você ter pego o ônibus lotado passe outro vazio em menos de dois minutos. Se você é fumante e não quer acender um cigarro porque acha que o ônibus está chegando, acenda, pois aumenta a probabilidade de ele chegar. A velocidade com que o ônibus chegará no ponto após você ter acendido o cigarro é diretamente proporcional a sua vontade de fumar. Sendo estudante, no ônibus, SE você conseguir um lugar para se sentar e pegar a apostila, fotocópia, livros e afins para estudar para uma prova, é provável que o volume das conversas, gritarias e músicas nos celulares aumente. A probabilidade de a música que estará tocando no(s) celular(es) ser do estilo ou músico que você odeia chega à casa dos 100%. O volume das conversas, músicas e gritarias e do barulho do motor e a probabilidade de furar um pneu, de o ônibus bater, de o veículo ser atingido por uma manada de elefantes rosa ou de um dodô entrar pela janela do ônibus e decapitar o motorista são diretamen-

te proporcionais à sua necessidade de uma boa nota na prova. Trabalho – A probabilidade de que o cara que você atendeu mal ao telefone seja sobrinho, afilhado ou cupincha de um cara foda da sua empresa é de um pra um. A magnitude da “fodelança” do “cara foda” é inversamente proporcional ao grau de empatia que ele tem por você. A probabilidade de acabar o café bem na hora em que você for pegar é diretamente proporcional à quantidade de vezes em que você foi buscar café anteriormente, que é inversamente proporcional à quantidade de trabalho que você tem. Ou seja, vá arranjar coisa pra fazer e beba menos café. Office boy – O tamanho da fila do banco é diretamente proporcional à quantidade de bancos que você terá que ir depois, que, por sua vez, é inversamente proporcional ao tempo que falta para os bancos fecharem. A probabilidade de que o documento que você vai protocolar esteja errado, faltando alguma coisa etc e tenha que voltar é diretamente proporcional à distância que você terá que percorrer, que é inversamente proporcional à quantidade de ônibus na linha. A probabilidade de chover, caso você tenha saído de casa com aquele tênis furado, é de um pra um. Se saiu sem o desodorante, é matematicamente provável que fará um puta calor… depois choverá. Observações: Não adianta. A natureza conspira contra você. Assim como as filas de banco, os motoristas de ônibus e as sexagenárias senhoras secretárias de entidades públicas. As regras para oficce boy servem também para estagiários. Escola – A probabilidade de o(a) professor(a) aplicar uma prova surpresa é inversamente proporcional ao domínio que você tem do tema da avaliação. A probabilidade de o apelido que te deram emplacar é inversamente proporcional à sua afeição a ele. Gafes – A probabilidade de uma câmera estar ligada e apontada para você quanto estiver cometendo uma gafe é diretamente proporcional à quantidade de álcool ingerido e à magnitude da merda que você está fazendo. A probabilidade de o vídeo ou foto cair na rede é de um pra um, mesma probabilidade de isso cair nas mãos de sua mãe, namorada e chefe.

Larissa Glass Divulgação

A música “Oração”, do grupo curitibano A Banda Mais Bonita da Cidade, estourou na internet e teve mais de cinco milhões de visualizações no Youtube. Gravada em plano-sequência, a música tem seis minutos de duração e inspirou alguns internautas a realizarem e postarem no canal suas paródias da música. Alguns mantiveram a letra original e incluíram no vídeo cenas engraçadas, com novo ritmo e significado. As paródias criadas têm os mais variados temas. A web mostra várias versões da mesma “oração”. Oração com poucos figurantes, música original com um vídeo caseiro, em plano-sequência, com um número reduzido de participantes, e por aí vai...

Tem até o Chaves

Os personagens do seriado Chaves não ficaram de fora e também ganharam algumas versões da música. Em uma delas, personagens como Chaves, Kiko, Chiquinha, Seu Madruga, Professor Girafales e Dona Florinda aparecem cantando e dançando a música Oração. Já outra versão, com os mesmos personagens, recebeu alteração no seu nome para A Banda Mais Bonita da Vila.

Jornalistas de plantão

Um grupo de colegas de jornalistas das redações de “O Tempo”, “Super Notícia”, “Pampulha”, “Portal do Tempo Online” e “WebTV o Tempo”, de Minas Gerais, criaram A Redação Mais Bonita da Cidade, pois “Não existe uma oração para salvá-lo do plantão”. A paródia traz de forma bem humorada a rotina da redação de um jornal, fazendo uma brincadeira com a música e o dia a dia de uma redação jornalística. Mostra um pouco da relação de trabalho dos profissionais de Jornalismo, afinal de contas, “Redação não é tão simples como se pensa.”

Publicitários homenageiam

Os publicitários não ficaram para trás, e a agência Passion for Ideas lançou “Alteração - A Agência Mais Bonita da Cidade”, para fazer uma homenagem de forma divertida aos publicitários, designers, profissionais de Marketing e clientes mais bonitos da cidade. “Eu só peço, por favor, esta é a última reunião, chega de alteração...”. A música traz uma substituição de palavras, deixando o ritmo e o arranjo originais, para instigar aqueles que não sabem o que nem como pedir para uma agência de publicidade.

Protesto na universidade

Oração virou música de protesto em uma Universidade. Alunos do curso de Comunicação em Mídia da UFPB criaram “Protesto – A banda Mais Bonita da Universidade”. O vídeo foi desenvolvido para protestar pelo atraso de um ano de uma obra que tinha previsão de 150 dias para ser concluída. Os estudantes gravaram o vídeo no local onde a obra deveria estar pronta.


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MARCO ZERO

Curitiba, junho-julho de 2011

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Diversidade na feirinha Textos e fotos Priscila Costa

A

Feira de Arte e Artesanato do Largo da Ordem é frequentada pelos curitibanos e muito procurada pelos turistas que visitam a cidade. Funciona a partir das 9 horas da manhã e reúne cerca de 15 mil pessoas aos domingos. Na feirinha, encontram-se mais de mil barracas com os mais diversos produtos, entre artesanatos, esculturas, pinturas, livros e inúmeras peças para decoração. A gastronomia é uma atração à parte, oferecendo comidas típicas locais e de várias regiões do país. No local, encontra-se grande diversidade de culturas. Várias “tribos” se encontram nos arredores da feira, tornando-a uma ótima opção de entretenimento.


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