Korean Culture and Information Service (Jeon Han)
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ANO XI- NÚMERO 67 – CURITIBA, MAIO.AGO DE 2021
LEIA NESTA EDIÇÃO Os defios da mobilidade urbana frente ao mito da cidade modelo - Página 3 As histórias de superação e amor de quem vive a melhor idade da vida - Página 4 A luta contra o feminicídio e violência contra a mulher a partir do cinema - Página 9
A invasão da cultura sul coreana Conteúdo exclusivo
Aumento deo número de casos de homofobia, racismo e macismo no futebol dentro e fora de campo acende um alerta sobre a intolerância no esporte e o preconceito que afeta um dos principais esportes nacional
Jornal Laboratório - Curso de jornalismo do Centro Uninter
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Opinião
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N.º 67 – Maio a Agosto de 2021
Ramon Espinosa/ AP
Ao Leitor
Boa leitura!
Merecem ser defendidos ou serão sempre oprimidos? Ingridy
RODRIGUES
Com tajes civis, policiais cubanos prendem manifestantes na marcha LGBT
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esde muito cedo começamos a ouvir sobre ativismo. Das mais diversas formas encontramos grupos que levantam suas bandeiras e lutam por aquilo que acreditam estar certo. Discursos sempre muito bonitos, mas na prática nem sempre acontece como o planejado. Militantes saem às ruas para lutar por seus direitos, não demora a ouvirmos relatos de que sentem os mesmos sendo oprimidos, sejam pelo corte de verbas que também se tornam pauta de manifestações, as tentativas de proibirem as mesmas, até o uso de violência para reprimi-los. Um caso que aconteceu no últi-
mo dia 11chamou a atenção. Ativistas LGBT saíram às ruas de Cuba para protestar contra um corte do governo que impediria a tradicional “conga” de acontecer – evento já realizado há mais de 10 anos no país e lembrete de que o governo já enviou gays a campos de concentração durante a revolução de 1959 - no entanto, não conseguiram andar 400 metros quando a polícia interveio fazendo o uso da força e pelo menos três pessoas foram presas. Em nosso país, políticos e representantes que se dizem ativistas da mesma causa não chegaram sequer publicar uma nota nas redes sociais em apoio à classe que dizem defen-
Passo 1 Use o QR-Code ao lado para ser encaminhado à área do aplicativo no Google Play
J
á pensou em assistir a uma entrevista nas páginas de um jornal impresso, em vídeo? Ou quem sabe conferir um mapa em terceira dimensão, ou ainda interagir com elementos gráficos que saem das páginas? O que há poucos anos seria um sonho, agora é possível e está nas suas mãos. Isso mesmo! Venha com o Marco Zero na onda
Passo 2 da Realidade Aumentada, uma tecnologia que permite a interação entre elementos reais e virtuais. Para entrar nesta viagem, é fácil e rápido. Siga as instruções e participe da experiência da notícia interativa. Nesta primeira versão, o recurso pelo aplicativo do Marco Zero está disponível apenas para aparelhos com sistema operacional Android.
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Passo 3 Com o APP aberto, aponte a câmera do seu celular para a página do MZ quando tiver a imagem ao lado
der. Será que aqueles que detêm o poder para lutar pelos interesses da sociedade realmente o fazem ou apenas tomam a luta como deles e a utilizam para manipulação e como palanque político? As repressões podem acontecer das mais diversas formas. No passado, utilizavam-se até de campos de concentração; hoje em dia, além da violência a repressão muitas vezes é psicológica, independentemente de qual seja a sua luta. No entanto, não podemos - nem devemos - desistir de nossos ideais, pois se hoje os direitos deles são reprimidos, quem garante que amanhã não serão os nossos?
Será que aqueles que detêm o poder para lutar pelos interesses da sociedade realmente o fazem ou apenas tomam a luta como palanque político? EXPEDIENTE
A cultura de um povo é a manifestação da sua soberania e da sua história. Compartilhar a cultura é uma forma de ultrapassar as fronteiras geográficas e expandir o conhecimento sobre as origens e comportamentos de um povo. Estas são algumas das estratégias que sustentam a invasão da cultura Coreana pelo globo, encabeçada pela música e pela literatura. Quem acompanhou a febre das boy bands na década de 1990 certamente perceberá que toda aquela produção fica no chinelo se comparada à estrutura e show das bandas de Korean Pop, também conhecida como K-POP, bandas de rapazes e meninas que se caracteriza por ser um show multiartístico com música, coreografia e recursos audiovisuais. A reportagem de capa do jornal Marco Zero, de autoria da aluna de jornalismo Amanda Zanluca, se aprofunda neste universo, e apresenta a história da jornalista e escritora curitibana Gaby Brandalise, que ganha notoriedade como autora de doramas, que são romances e produções de dramas coreanos. Ainda nesta edição, leia a matéria da aluna Patrícia Lourenço sobre as obras cinematográficas que promovem o debate sobre temas como machismo estrutural, violência contra a mulher e feminicídio. A partir do cinema, a reportagem busca destacar como o cinema pode contribuir para discussão de temas sensíveis e urgentes na sociedade.
O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter
Coordenador do Curso: Guilherme Carvalho Professor responsável: Alexsandro Ribeiro Diagramação: Equipe Marco Zero Projeto Gráfico: Equipe Marco Zero Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131, CEP 80410-150 |Centro- Curitiba PR E-mail - alexsandro.r@uninter.com Telefones 2102-3377 e 2102-3380.
N.º 67 – Maio a Agosto de 2021
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Cultura
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Os desafios da mobilidade urbana Kainan
LUCAS
A cidade que já foi exemplo para o mundo, hoje tropeça no seu próprio desenvolvimento
Pesquisa destaca que o morador gasta em média 32 minutos para se deslocar de sua casa até o trabalho
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capital paranaense é conhecida por ser uma cidade com um planejamento urbano bem desenvolvido, em comparação com outras grandes metrópoles brasileiras. Este planejamento deu a Curitiba o título de uma das “Cidades Mais Inteligentes do Brasil”, no ano de 2019, segundo o Ranking Connected Smart Cities, que lista os municípios mais bem planejados do país. Por ser uma das capitais mais desenvolvidas do Brasil, Curitiba atrai todos os anos milhares de turistas por conta da sua infraestrutura, áreas verdes e locais turísticos. Os indicadores apontam, ainda, que o aquecimento no mercado de trabalho, com oportunidades profissionais e terreno fértil para empreendedores, fazem da capital um espaço de desenvolvimento bem planejado. Um estudo importante mostrou que Curitiba tem o modelo de transporte mais eficiente, em comparação com outras grandes capitais, a cidade não tem metrô, mas é um exemplo com suas linhas de ônibus, e seu modelo Bus Rapid Transit (BRT), ou em português “Ônibus de Trânsito Rápido”, e teve o seu modelo exportado para diversas capitais dentro e fora do Brasil. As famosas canaletas por onde passam os conhecidos popularmente como “vermelhões”, em 1974. O sistema contou também com a implantação de terminais de integração para receber os ônibus alimentadores dos bairros mais distantes que completava a integração do sistema. Após a implantação deste novo sistema de transporte público, Curitiba começou a se desenvolver, pois ao longo de toda a extensão dos ei-
xos por onde passavam os ônibus expressos, foi ganhando novos empreendimentos como lojas de comércio e serviços que, antes, só eram encontrados apenas na região central da cidade. Com este desenvolvimento, solucionavam-se então vários problemas de uma só vez, como por exemplo, o deslocamento em massa da população para apenas uma área da cidade, que causava um trânsito intenso de veículos e pedestres na área central. Mas com o passar dos anos foi perdendo o seu espaço, a sua qualidade e principalmente o seu conforto. As ruas e avenidas se tornaram um verdadeiro “mar de carros”, e nos horários de pico a cidade em al-
Ainda faltam políticas públicas para que o aumento da expectativa média de vida seja acompanhado pela melhoria e manutenção da saúde e da qualidade de vida da população idosa. guns pontos praticamente trava, os curitibanos perdem horas no trânsito todos os dias devido a quantidade de carro nas ruas. O Professor do Departamento de Trânsito, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Garrone Reck,
afirma que para desafogar o trânsito, principalmente nos horários de pico, o uso da bicicleta para se locomover em pequenos trajetos, podem diminuir não só a quantidade de carros nas ruas mas também a emissão de gases na atmosfera. “Devemos pensar em alternativas aos ciclistas, em melhorias para quem opta por ir e vir de bicicleta, por isso eu penso que a cidade seja repensada e reorganizada neste quesito e que Estado, município e sociedade civil estejam unidos na proposta de melhorias”, afirmou ele. O professor destacou uma pesquisa realizada pelo Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), em 2019 onde apontou que a cidade possui cerca de 1,42 milhão de veículos. Isso dá uma taxa de 0,740 veículo por habitante, número superior ao da maior cidade do Brasil, São Paulo, que possuí um índice de 0,735 veículo/habitante. “Estamos sobrecarregando as nossas ruas, a cidade possui em média dois carros para cada uma pessoa, já pensou se todos resolvessem sair de carro pela cidade? As nossas ruas não suportariam, consequentemente o caos urbano estará instalado, por isso devemos repensar seriamente nos nossos deslocamentos, e observar se o carro é útil para todas as situações”, completa o professor. Garrone também destaca que pensar num plano metropolitano conjunto de mobilidade entre as cidades da Grande Curitiba, e que tem uma relação direta com a capital, visando a distribuição de empregos, serviços e moradias acessíveis a população traria um impacto direto no que diz respeito a mobilidade urbana de toda a região. “Não podemos pensar que as cida-
des metropolitanas não existam, todos nós fazemos parte, eu sou um cidadão metropolitano, não preciso ficar movimentando de uma cidade a outra, se tivemos mais distribuição de serviços e atividades nestas cidades, automaticamente o deslocamento do cidadão diminuiria, causando um impacto direto na vida da cidade, e estes impactos seriam rapidamente notados, como diminuição de carros nos grandes eixos, o transporte público teria uma redução de passageiros, entre outros”, finaliza. O especialista em Trânsito, Celso Mariano destaca que por mais que a capital sofra com vários problemas ligados a mobilidade urbana, Curi-
Ainda faltam políticas públicas para que o aumento da expectativa média de vida seja acompanhado pela melhoria e manutenção da saúde e da qualidade de vida da população idosa. tiba ainda é exemplo para outras cidades, por vários aspectos acerca da infraestrutura para o transporte coletivo, que ainda é muito marcante, e é símbolo registrado da capital, e que segundo Celso, o cidadão de hoje está colhendo os benefícios dos pro-
jetos planejados na década de 1970, se tornando a prova de que os estudos que se faz em relação a inteligência de como a sociedade pode ocupar o espaço urbano, são realmente medidas de longo efeito. “Eu moro há 24 anos aqui em Curitiba, e no ano de 1996 eu fui muito impactado pela facilidade de deslocamento da cidade, em qualquer modal, até mesmo a pé era muito bom se deslocar por aqui, e eu estranhei em ver os curitibanos reclamando, muitos diziam ainda naquela época que a cidade já foi boa, como era bom o trânsito aqui há 10 anos atrás, e eu ficava imaginando como era então essa uma década antes, se quando eu cheguei já era magnifico”, destaca Celso. Celso afirma que o poder público tem que pensar a cidade como um todo, e planejar o seu crescimento olhando para todos os modais, sem deixar de lado, o compromisso de zelar pelo bem estar social, e destacou também a importância do pensar coletivo, onde o compromisso por um desenvolvimento de qualidade seja também do cidadão. “Naquela época que a cidade já foi boa, como era bom o trânsito aqui há 10 anos atrás, e eu ficava imaginando como era então essa uma década antes, se quando eu cheguei já era magnifico”, destaca Celso. Celso afirma que o poder público tem que pensar a cidade como um todo, e planejar o seu crescimento olhando para todos os modais, sem deixar de lado, o compromisso de zelar pelo bem estar social, e destacou também a importância do pensar coletivo, onde o compromisso por um desenvolvimento de qualidade seja também do cidadão.
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Tecnologia
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N.º 67 – Maio a Agosto de 2021 Beatriz Vasconcelos
A vida na melhor idade em Curitiba Beatriz
VASCONCELOS
Atividades e programas do poder público em Curitiba buscam diminuir os impactos das mudanças fisiológicas e redefinir o cotidiano dos idosos na capital
Estimativas do IBGE apontam um aumento da população idosa no país. Cenário cobra políticas públicas para a terceira idade
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stimativas e projeções desenvolvidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos últimos anos apontam que o crescimento da população idosa no Brasil vem ocorrendo de forma rápida e progressiva. De acordo com o levantamento realizado em 2018 pelo Instituto, cerca de 21 milhões de idosos viviam no Bra-
sil na época, representando 13,5% do total da população. No Paraná, o número de idosos residentes era de 1,7 milhão, o equivalente a 14,98% do total de habitantes do Estado. No mesmo ano, uma pesquisa realizada pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) apontou que em Curitiba a quantidade de pessoas com Beatriz Vasconcelos
Seu José Antônio de Oliveira e seu bigode branco como a neve
idade acima de 60 anos alcançava os 300.401, correspondendo a 15,67% da população. A análise realizada pelo IPARDES também evidenciou que o total da população com idade acima de 65 anos na capital paranaense deverá atingir a marca de 20% em 2040. Para que a sociedade brasileira conheça e entenda melhor os dados estatísticos da população, o IBGE desenvolve uma pirâmide demográfica que representa a distribuição populacional do país de acordo com as faixas etárias dos habitantes. Na Revisão de 2004, os resultados das estimativas oficiais demonstravam a diminuição da participação relativa de crianças e jovens na população total do Brasil a partir de meados dos anos 80, acompanhada do aumento na proporção dos adultos e, principalmente, dos idosos. Na atualização de 2018, o IBGE
A queda no número de crianças e adolescentes irá se acentuar enquanto o número de idosos e super idosos, com mais de 80 anos, irá aumentar bastante com o decorrer dos anos.
desenvolveu novas projeções estatísticas que evidenciaram a tendência da pirâmide de se inverter progressivamente nas próximas décadas. Ou seja, a queda no número de crianças, adolescentes e jovens irá se acentuar enquanto o número de idosos e super idosos, com mais de 80 anos, irá aumentar significativamente com o decorrer dos anos. O aumento no número de habitantes acima dos 60 anos na sociedade brasileira tem caracterizado a chamada transição demográfica. Neiva Silvana Hack, assistente social com experiência no atendimento de pessoas idosas, explica que isso ocorre por estar havendo uma diminuição das taxas de fecundidade. Ou seja, muitas famílias estão optando por ter um número menor de filhos, se comparado a outras décadas e períodos históricos. Além disso, outra característica citada por Hack é o fato de que atualmente temos resultados positivos na área da saúde, o que também influencia no aumento da nossa expectativa de vida. Podemos observar, por exemplo, que a melhoria nas condições de saneamento básico traz benefícios significativos que refletem na longevidade da população.
Ser idoso no Brasil No Brasil, ser considerado idoso é um direito civil que se concretiza quando o indivíduo atinge 60 anos de idade, conforme decretado no Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Hack pontua que a idade referenciada pelo estatuto
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brasileiro como marco para se tonar idoso é influenciada pela qualidade de vida geral exercida no país. Nacionalmente, a marcação do ser idoso são os 60 anos de idade, pelo fato de que existem muitas dificuldades no processo de envelhecimento. Neiva destaca que “ainda faltam muitos recursos essenciais, como moradia, saúde, alimentação e trabalho” para que o aumento da expectativa média de vida evidenciado no Brasil seja acompanhado pela melhoria e manutenção da saúde e da qualidade de vida da população idosa. Além disso, muitos idosos brasileiros exerceram trabalhos árduos na juventude, por exemplo, lidando na roça muitas vezes com exposição excessiva ao sol e à chuva, o que acaba tendo como efeito o envelhecimento precoce. Em contrapartida, o favorecimento de práticas de atividades físicas no cotidiano e no lazer promovem modos de viver mais saudáveis e essenciais para o envelhecimento saudável e ativo, como recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Outro ponto a ser destacado quando atingimos a terceira idade diz respeito às implicações psicológicas
Cidades
N.º 67 – Maio a Agosto de 2021 vida e à saúde mediante a efetivação de políticas públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade”. Apesar de a pessoa idosa ter acesso a vários benefícios previstos na lei a partir do momento em que completa 60 anos de vida, existem alguns direitos que só podem ser desfrutados a partir dos 65 anos, como por exemplo o benefício de prestação continuada (BPC) e a gratuidade no transporte público.
Ser idoso em Curitiba Cabelo grisalho, rugas e pele flácida são algumas das características que se intensificam com o avanço da idade. Além dos aspectos mais apa-
Ainda faltam políticas públicas para que o aumento da expectativa média de vida seja acompanhado pela melhoria e manutenção da saúde e da qualidade de vida da população idosa. rentes, o déficit de força e a maior dependência física, o aumento no risco de lesões, o risco maior de doenças cardíacas e a elevação da pressão arterial são condições fisiológicas ligadas ao envelhecimento humano. Tais fatores já podem ser observados em 15% da população de Curitiba, como apontado pelas estatísticas do IPARBeatriz Vasconcelos
A pernambucana Maria Alves é a alegria em pessoa
Trabalho
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DES em 2018. Levando em consideração o expressivo aumento no número de pessoas idosas projetados pelo IBGE, também no ano de 2018, a capital paranaense tem desenvolvido programas e atividades específicas voltadas para este público. De acordo com informações da assessoria de imprensa da Secretaria da Justiça, Família e Trabalho (SEJUF), Curitiba destaca-se em algumas ações específicas e direcionadas à garantia de direitos da pessoa idosa. Neste sentido, quem define a programação e os eventos são os Centros de Atividades para Idosos (CATIs), vinculados aos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) existentes em diversas regiões da cidade. Segundo o site da prefeitura, o intuito das ações desenvolvidas é contribuir para um processo de envelhecimento ativo e saudável, oferecendo espaços de socialização e lazer aos idosos. Ao todo funcionam 5 CATIs na capital (Boa Vista, Centro, Santa Felicidade, Água Verde e Boqueirão) disponibilizando atividades de canto, dança, artesanato e pintura, coral, ginástica, yoga, teatro, natação, hidroginástica, além de bailes e passeios de turismo. Além disso, algumas instituições religiosas e postos de saúde também promovem atendimentos de cuidado com a saúde e entretenimento para esse público. Felipe Gonçalves Tedeschi, educador físico com experiência no desenvolvimento de atividades com idosos, destaca que a principal vantagem do emprego de atividades físicas para essa população é o fato de “elas serem feitas em grupos, onde eles têm contato com pessoas diferentes e a oportunidade de criar laço e amizades novas, onde uma pessoa apoia a outra”. Conforme observado pelo psicólogo Everton Morais, a criação de laços é um dos fatores que auxiliam na diminuição de quadros clínicos depressivos. A partir das projeções populacionais divulgadas pelo IBGE em 2018, evidencia-se a necessidade de tanto as grandes cidades quanto os pequenos municípios desenvolverem políticas públicas voltadas para atender às demandas que surgem com a inversão da pirâmide demográfica no Brasil. Em Curitiba, conforme apontado pela assessoria de imprensa da SEJUF, “Temos o privilégio de possuir gestores em nosso Estado preocupados com a inversão da pirâmide etária para os próximos 20 anos”. No entanto, Hack afirma que a sociedade não está preparada para essa transformação. Ela salienta que ainda é necessário investimento em políticas públicas que resolvam problemas de mobilidade, inclusão, violência, saúde e educação para o envelhecimento. A assistente social enfatiza que “pensar o envelhecimento populacional envolve pensar em todo o conjunto de iniciativas do poder público, junto com a sociedade civil, para atender o novo perfil da população”. Em contrapartida, Lu-
5 Beatriz Vasconcelos
do envelhecimento. De acordo com o psicólogo Ivo Carraro, a terceira fase do ciclo de vida pode ser considerada uma fase irreversível, com alterações no equilíbrio emocional que frequentemente desencadeiam sentimentos como “a ansiedade, o medo, o estresse, a tristeza e, como consequência, a depressão”. Segundo o especialista, a maneira como o idoso encara sua condição no desenvolvimento da vida vai refletir diretamente na sua saúde psicológica. Conforme evidenciado na Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE em 2013, a depressão é mais comum em idosos entre 60 e 64 anos. Everton Adriano de Morais, psicólogo e especialista em Reabilitação neuropsicológica de adultos e idosos, explica que isso ocorre principalmente por ser um momento de grandes ressignificações na vida do indivíduo. Ou seja, é um momento de perdas constantes, não só ligadas às capacidades físicas, como também às questões sociais de relacionamento e trabalho. Estes aspectos tendem a sofrer uma redução gradativa na vida das pessoas ao atingirem a terceira idade. Outro motivo aparente no desenvolvimento da depressão por idosos é a falta de atenção por parte da família. “Quanto mais presente os familiares forem, maior possibilidade de saúde, em relação à saúde mental e social do idoso”, salienta Morais. Diante dessa nova fase da vida, o psicólogo Ivo afirma que se os idosos “não dispuserem de uma estrutura psíquica bem elaborada, entram em estado de depressão”. Segundo o Estatuto do Idoso, “o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção, um direito social, e é dever do Estado garantir à pessoa idosa a proteção à
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A rotina animada de Luzia Richter começa às 6 horas da manhã zia Richter (74) e Maria Alves (77), beneficiárias dos programas da prefeitura, compartilham a opinião de que Curitiba oferece uma boa estrutura para o público idoso através dos projetos desenvolvidos pelos Centros Regionais de Ação Social. Além das programações já existentes na capital, a assessoria da SEJUF declara
“O Projeto de Vida deverá tratar de ações, atitudes, tomadas de decisões. A vida é movimento”, ressalta Ivo que o departamento da pessoa idosa está sempre atento e preocupado com essa população. “O nosso departamento já está realizando ações inovadoras que irão propiciar cada vez mais um diferencial significativo no cotidiano das pessoas idosas, beneficiando e apoiando desde o idoso robusto até o idoso institucionalizado”, afirma a assessoria. As ações desenvolvidas pela SEJUF visam contemplar áreas de serviços essenciais,
compreendendo saúde, moradia e segurança atrelados à socialização, bem-estar e qualidade de vida. Diante deste cenário, a sociedade se apresenta como uma grande aliada no sentido de fiscalizar e garantir que os direitos da população idosa sejam cumpridos. Ivo Carraro ressalta que “uma das grandes questões existenciais dos idosos é não serem notados, vistos. A invisibilidade é frustrante”. Nesse sentido, o psicólogo alerta para a necessidade de criação de projetos que promovam a visibilidade da população idosa, evidenciando sua contribuição para uma sociedade melhor. Além disso, Everton salienta que precisamos ter empatia e reconhecer o valor dos idosos na sociedade. Por fim, Carraro destaca que há algumas atitudes pessoais que podem contribuir para o envelhecimento humano com qualidade. Uma das sugestões do psicólogo é que os idosos criem um projeto de vida. Neste projeto devem ser contemplados momentos de lazer, desenvolvimento de funções intelectuais e atividades de caráter voluntário, programas que estimulem a vida do idoso contra a melancolia. “O Projeto de Vida deverá tratar de ações, atitudes, tomadas de decisões. A vida é movimento”, ressalta Ivo.
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Especial
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Korean Culture and Information Service (Jeon Han)
Universo K: a invasão da cultura sul coreana Amanda
ZANLUCA
Com forte investimento público na cultural, a Coreia do Sul se transformou em um fenômeno mundial a partir de estratégia de Soft Power
Febre no mundo todo, as bandas de K-pop são sucesso e movimentam bilhões de dólares
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ma nova cultura vem chamando a atenção e ganhando cada vez mais adeptos em todo o mundo. Diferente do que os ocidentais estão acostumados, essa cultura que mistura música, moda, beleza, fil-
mes e séries, é uma novidade que faz parte de um grande movimento chamado de “onda cultural sul coreana”, ou como é mais conhecido: “Hallyu”. Esse termo que surgiu no final da década de 1990, é atribuído pela mídia a crescente invasão da Gabriela Brandalise
Gaby Brandalise com seu prineiro Dorama: sucesso internacional
cultura sul coreana em todo o mundo. Mas o que explicaria esse fascínio do ocidente por uma cultura tão diferente, como a da Coreia do Sul? A “Hallyu” (que em coreano significa “onda”), tem como base para a sua expansão o estilo musical K-Pop (Korean Pop) e as novelas asiáticas, mais conhecidas como “dramas”, ou as coreanas que são os “k-dramas”. Mas foi com o apoio do KOCIS (o serviço de informação e cultura da Coreia, braço do Ministério da Cultura, Esporte e Turismo do país), que o quê parecia ser mais um fenômeno proporcionado graças ao advento da internet, na verdade, faz parte de um longo plano criado pelo governo em expandir a sua cultura para outros continentes. Foi em 1998 que o governo sul coreano deu início a sua estratégia de soft power, fomentando a sua indústria criativa e investindo na cultura a fim de espantar a crise que o país havia enfrentado no ano anterior. Com um departamento dedicado ao k-pop no Ministério da Cultura, o grande incentivo do governo no setor aconteceu no ano de 2005, com a criação do fundo de US$ 1 bilhão voltado ao estilo musical. Além do investimento do governo, as mídias sociais também foram fundamentais para a expansão da indústria de música coreana. Desde a explosão do hit “Gangnan Style” do rapper Psy em 2012, o k-pop conseguiu assegurar o seu espaço no ocidente, dando bons resultados ao país. O estilo musical rende a Coreia do Sul mais de US$ 4,7 bi-
lhões ao ano, segundo a Agência de Conteúdo Criativo da Coreia. Na América Latina o Brasil foi o primeiro país a estabelecer relações com a Coreia do Sul, quando o país enfrentava problemas econômicos. A parceria entre os países se mantém, e hoje ultrapassa o território da diplomacia com o crescente número de brasileiros que se encantam pelo país. Mesmo sendo um destino caro e distante, o número de visitantes brasileiros
Quando conheci o k-pop - que foi com o clipe do Psy - aquilo foi uma explosão no meu cérebro. Era tão escandaloso e histérico, no sentido de cores e de tudo é um exagero, que eu achei aquilo fantástico na Coreia do Sul, subiu de 4,8 mil em 2003 para 19,7 mil em 2018, segundo o Ministério da Cultura e do Turismo da Coreia do Sul. Outro dado que reforça a participação dos brasileiros na Hallyu, é de que em 2019 foram registrados 6,1 bilhões de tuítes sobre k-pop no mundo, e o Brasil ocupou o sexto lugar na lista
de países que mais postaram sobre o assunto, segundo o levantamento feito pela plataforma Twitter. Gabriela Brandalise, é uma das brasileiras que se encantou com a cultura, se especializando no assunto e escrevendo um livro inspirado nos doramas. Formada em jornalismo, a curitibana encontrou na cultura coreana a dose de criatividade que precisava para impulsionar a carreira profissional. “Antes de começar a gostar de k-pop, eu estava em um momento meio estático em termos de criatividade. Não ouvia mais música e estava bem exausta de séries americanas, porque nada mais me interessava. Quando conheci o k-pop - que foi com o clipe do Psy - aquilo foi uma explosão no meu cérebro. Era tão escandaloso e histérico, no sentido de cores e de tudo é um exagero, que eu achei aquilo fantástico. Depois conheci o Shinee (grupo de k-pop) e achei incrível as coreografias, as roupas e o conceito. Então, o ganho para mim foi em criatividade. Acrescentou tanto no meu acervo, que depois que conheci o k-pop e os doramas, logo em seguida criei uma história inspirada por essa cultura”, conta Brandalise. Para escrever o romance intitulado de “Pule, Kim Joo So”, inspirado no universo dos doramas, a jornalista precisou fazer pesquisas e se aprofundar no tema de protagonismo, que desejava abordar no seu livro. Brandalise conta que além da busca por informações usando a internet, também contou com a ajuda
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Por mais que você assista doramas, escute k-pop e conheça a cultura, quando você vai para lá, você vê que realmente não tem ideia. Porque é uma nação com uma história que tem traumas, dores e angústias que entendi um pouco sobre isso, comecei a pesquisar sobre a cultura. Estudei o idioma e pesquisei sobre comportamento, sobre como o coreano reagiria em tais situações. E isso foi bem importante porque eu tenho um personagem coreano
e uma personagem brasileira no livro”, explica Brandalise. A jornalista que já teve a oportunidade de conhecer de perto a Coreia do Sul, conta que passou por um grande choque cultural ao conhecer o país. “Por mais que você assista doramas, escute k-pop e conheça a cultura, quando você vai para lá, você vê que realmente não tem ideia. Porque é uma nação com uma história que tem traumas, dores e angústias. E a Coreia do Sul não é só k-pop, ela respira e vive muitas outras coisas. Quando fui para lá pela primeira vez, entendi o que era “choque cultural”, que é quando você está em situações em um outro país em que você não consegue decodificar o que está acontecendo. Então, isso mudou em mim a questão do respeito e percebi que o contato com uma cultura tão diferente como a asiática, é enriquecedor”, revela ela. Atualmente a jornalista mantém um canal no YouTube onde produz conteúdos sobre o universo coreano. O primeiro vídeo do canal de Brandalise sobre k-pop foi em 2016 em que ela falou sobre uma música do grupo Shinee que não saia da cabeça. No entanto, Brandalise conta que o vídeo que mais lhe rendeu destaque, foi o qual ela falou sobre ser fã do estilo musical aos 30 anos. “O vídeo que eu gravei sobre ser fã de k-pop aos 30 anos, foi o que o pessoal mais assistiu e gostou bastante. E no canal, primeiro eu comecei fazendo crônicas a respeito de alguém que tem 30 anos gostando de um gênero que
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No país asiático, a cultura pop do século XXI divide espaço com a tradição
Divulgação
Em livro com Thais Midori, Brandalise se aprofunda no k-pop
Especial
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Embaixada da Coreia do Sul
da melhor amiga Cho He Na (que é sul coreana), para compreender melhor sobre a cultura. “Eu queria criar uma história que misturasse o meu jeito de garota ocidental de contar histórias com o jeito do coreano, em especifico o jeito dos doramas. Então, li sobre roteiro, sobre narrativa, assisti muita produção coreana, pesquisei pelos roteiristas mais conhecidos, e tentei entender sobre a estrutura dos personagens e sobre a criação de narrativa. A partir do momento
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teoricamente, seria para pessoas mais jovens. E depois eu comecei a falar de k-pop e de doramas com mais conteúdo”, completa ela. No Brasil, a música acabou sendo a porta de entrada da cultura coreana no país, mas com o tempo o fenômeno passou a se expandir para outros setores como a o idioma, programas de entretenimento, k-beauty e k-drama. Para a youtuber sul coreana Cho He Na, a explicação para esse encanto seria uma semelhança entre os dois países. “Na minha opinião, o que mais encanta, é na verdade, a semelhança com o jeito de ser dos brasileiros. Porque a nossa cultura (coreana) é totalmente diferente, mas o jeito que as pessoas agem é muito parecido. Então, eu acho que é nisso que os brasileiros começam a ver que é uma cultura totalmente diferente, mas não tão diferente assim. Porque os coreanos acham as mesmas coisas engraçadas e eles agem em vários aspectos da mesma forma que os brasileiros, então, nós somos diferentes, mas ao mesmo tempo iguais”, fala ela. Cho He Na mora no Brasil há cerca de 15 anos e já morou em outros lugares do país como o Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, até chegar à capital paranaense. Fluente no idioma, a sul coreana começou o seu canal no YouTube de forma despretensiosa, com o objetivo de oferecer um material mais complementar aos alunos para os quais dava aula de coreano. Atualmente, o canal “Hey Unnie” de Cho He
Na, conta com mais de 130 mil inscritos que encontram no canal vídeos sobre o idioma, cultura, rotina de beleza, bate papo com outros youtubers, entrevistas com k-idols (ídolos coreanos), entre outros.
A cultura coreana está a princípio sendo bem recepcionada pelos brasileiros, e eu fico muito agradecida pela minha cultura ser tão bem vista Além do canal, Cho He Na já participou de vários eventos ligados a cultura coreana no país, não apenas como apresentadora, mas também ajudando na parte da produção e direção. “Eu fui apresentadora de vários shows e apresentações de
A corrida para criar celebridades do k-pop Use o Qr-code para assistir o documentário na Netflix Blackpink: Light Up the Sky, que detalha a vida do quarteto feminino de k-pop.
grupos de k-idol. Ajudei a produzir dois eventos da embaixada coreana, um que aconteceu alguns anos atrás com o pianista coreano Kun Woo Paik na Capela Santa Maria. E o outro que foi o torneio de Taekwondo no ginásio do Tarumã. Nos Jogos Olímpicos que teve no Rio de Janeiro, também participei pelo Consulado Coreano”, conta ela. Cho He Na enfatiza que apesar de se sentir feliz por sua cultura estar sendo bem recebida, sabe que precisa combater os estereótipos criados em relação a mesma. “A cultura coreana está a princípio sendo bem recepcionada pelos brasileiros, e eu fico muito agradecida pela minha cultura ser tão bem vista, por pessoas que teoricamente não entenderiam nada sobre ela. Mas muitas vezes, justamente pela cultura estar se expandindo tão rápido, tem muitas informações que acabam vindo de forma errada ou muito sensacionalista. Então, eu acho que é uma coisa que eu tenho que corrigir e mostrar de uma forma mais certa”, conclui ela.
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Movimentos
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N.º 67 – Maio a Agosto de 2021 Ministério da Saúde / Divulgação
HIV: quatro décadas de epidemia Oilson
NETTO
Fora da mídia, o HIV ainda vitima milhares de pessoas por ano no Brasil, e força muitos outros a conviver com o preconceito social
Em pouco mais de dez anos, foram registrados mais de 55 mil novos casos no país
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onsultas periódicas, exames regulares para controle de sorologia, dispensa de medicamentos. Assim é a rotina de SM e de vários usuários soropositivos do Sistema Único de Saúde – o SUS. O tratamento para o combate à epidemia do HIV, oferecido gratuitamente pelo governo federal, é pioneiro no Brasil e referência em todo o planeta. A grande maioria de por-
Os dados do SUS apontam que, entre os homens, mais de 50% dos casos foram decorrentes de “exposição homossexual ou bissexual”; apenas 2% dos casos foram com usuário de drogas injetáveis. tadores de HIV/AIDS encontra-se no hemisfério Sul, mais especificamente na África subsaariana. Por mais de 40 anos, a síndrome da imunodeficiência adquirida é sinônimo de segregação e preconceito social. No Brasil, o último boletim de epidemiologia de HIV/AIDS divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que na região sul foram re-
gistrados através do Sinan 55.090 casos entre 2007 e 2019. Os dados do boletim epidemiológico apontam que, entre os homens, no período observado, mais de 50% dos casos foram decorrentes de exposição homossexual ou bissexual; apenas 2 % dos casos foram com usuário de drogas injetáveis. Entre as mulheres, 86,5% dos casos de infecção por HIV resultou em exposição heterossexual. As pessoas indicadas neste relatório são maiores de 13 anos. SM relata que parte do público masculino não reconhece a sua orientação sexual. Muito homens tem orientação bissexual e, por preconceito, não comenta com a sua parceira e aventura-se em relações sexuais fora do relacionamento. Ou ainda que o fetiche por uma relação homossexual sem o uso de algum método preventivo, os homens acabam contraindo o vírus e transmitindo para suas parceiras. Daí o alto índice de transmissão em exposição heterossexual para mulheres. Em relação ao tratamento, SM conta que a adesão ao tratamento é fundamental para o bem-estar das pessoas vivendo com HIV/AIDS. As consultas são periódicas, variando de pessoa para pessoa. Os exames de controle de CD4 e carga viral, testes fundamentais para a avaliação da evolução do vírus no organismo, são feitos antes das consultas com os médicos infectologistas e a medicação é fornecida após as consultas. Durante a pandemia do COVID-19, SM nos diz que as con-
sultas e tratamentos seguiram de forma normal. Entretanto, alguns pacientes que se sentiam bem, optaram por remarcar as consultas e ficar em casa, pois, estão mais suscetíveis a contrais qualquer doença ou infecção oportunista. Quanto a dispensa da medicação, ela foi fornecida para um tempo maior, de acordo com a data de retorno das consultas. Entretanto, muitas outras es-
Não há mais campanhas nos postos, ou palestras nas escolas sobre educação sexual. É muito importante, principalmente nos dias de hoje, que as meninas estão engravidando cada vez mais cedo. pecialidades deixaram de fazer atendimentos e dificultaram o atendimento desses pacientes. Um exemplo são os atendimentos odontológicos. Uma das consequências do uso frequente da medicação para o tratamento do HIV e da AIDS é a perda muscular e óssea, e isso afeta diretamente a arcada dentária, causando a quebra dos dentes ou mesmo a queda.
O Preconceito Mesmo com toda a evolução tecnológica e com os avanços da medicina e da farmacologia, o preconceito e a discriminação com pessoas vivendo com HIV/AIDS ainda é grande. O preconceito está presente em todos os lugares inclusive na área de saúde. “Uma vez eu estava aguardando para receber meu exame de CD4 e carga viral. A recepcionista da unidade de saúde gritou: ‘Cadê a mulher que veio fazer exame de AIDS?’ O constrangimento foi enorme” relata SM. Para ela, o principal motivo de haver tanto preconceito e discriminação é a falta de educação e informação. “Não há mais campanhas nos postos, ou palestras nas escolas sobre educação sexual. É muito importante, principalmente nos dias de hoje, que as meninas estão engravidando cada vez mais cedo. Não apenas a infecção pelo HIV, mas outras infecções também podem ser
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evitadas se houver esse diálogo com a juventude.” conta SM. Em tempo, é preciso destacar que a juventude tem mais exposição e infecção ao vírus HIV, mesmo com diversos métodos de prevenção: do uso do preservativo (método mais conhecido) a metodologias inovadoras de prevenção combinada. No Paraná, em 2019, foram registrados 804 novos casos de infecções por HIV, fazendo as cidades de Paranaguá e Almirante Tamandaré serem duas das 50 cidades com maior índice de soropositivos no Brasil.
Cartilha Tudo Dentro: falando sobre DST/AIDS Use o Qr-code e baixe a cartilha informativa desenvolvida pela ABIA, organização fundada em 1987 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e outros ativistas. Sem caráter médico, a cartilha fomenta a orientação sobre a existência destas doenças e sobre a importância de aprender a cuidar um pouco mais da saúde.
N.º 67 – Maio a Agosto de 2021
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Saúde
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As lentes da violência doméstica Patrícia
LOURENÇO
Mais que entretenimento, o cinema se apropria de temáticas que abordam o pior do ser humano fazendo um paralelo com a vida real
Poder, controle e intimidação dizem muito sobre o agressor
A
história de uma mulher, cujo sonho sempre foi ser escritora, passa por uma reviravolta quando conhece o seu futuro marido. Em um relacionamento que gerou 3 filhos, a vida da protagonista começa a se complicar quando seu marido se mostra um homem violento de muitas formas. A violência vivida em casa, afeta não só a protagonista, como o futuro de seus filhos. O que poderia ser mais uma indicação de filme para assistir nessa quarentena, na verdade é a realidade de muitas mulheres brasileiras. De fato, essa realidade não é nova, mas com a quarentena tem sido agravada. O isolamento social, forma mais eficaz para impedir a proliferação do corona vírus na população, trouxe um alerta de socorro ainda mais alto. De acordo com a Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, houve um aumento de 17% na quantidade de denúncias registradas, quando se comparada com o começo e fim do mês de março, período que deu início ao isolamento social. No Paraná, de acordo com a Polícia Militar, houve um aumento de 15% nos registros de violência doméstica no primeiro final de semana do isolamento. No Rio de Janeiro o aumento foi de 50% dos casos registrados. Esse terror que já é conhecido, passou a assombrar ainda mais em todo o país de formas variadas, já que a agressão acontece de maneiras diferentes. No brasil ainda que, esse terror pelo qual as mulheres são submetidas, a busca de controle, seja muitas vezes silenciada ou mesmo pouco reconhecida nas políticas públicas, vemos também a falta de discussão sobre o assunto na sociedade brasileira, e é nesse sentido que a arte também dá a sua contribuição, afinal, dizem que a vida imita a arte,
mas a arte também trabalha com elementos da vida. Poder, controle e intimidação dizem muito sobre o agressor. Em “Vidas Partidas” de Marcos Schechtman, vemos a crescente do homem violento, até passar a agredir fisicamente sua mulher. Filme brasileiro de 2016, conta uma história que acontece em 1980, mas é facilmente confundida com os dias atuais. O trunfo do longa-metragem está no choque em que a situação, que faz parte do cotidiano de tantas famílias brasileiras, é retra-
O isolamento social, forma mais eficaz para impedir a proliferação do corona vírus na população, trouxe um alerta de socorro ainda mais alto tada. Começam com agressões verbais, até que o ciúme desprovido de uma coerência surge, para a pressão psicológica e, explode na violência física. Tão próximo da realidade, tão inerte a arte de nos fazer enxergar questões importantes e relevantes como essa. O filme retrata o que várias famílias vivem e que, entre as várias causas, justamente o ciúme tem sido a muleta mais constante para justificar a agressão física. Na verdade, a agressão se dá pela falsa ideia de um direito sobre as mulheres, quando a ideologia de controle
falha, então a força física é utilizada. Dizem que filmes de terror, quando trazem temáticas relevantes, adentram com mais facilidade a mente de quem o vê. “O Homem Invisível”, dirigido por Leigh Whannell, é o novo remake de um filme clássico de monstros que traz uma nova abordagem extremamente necessária. Vemos um “novo” monstro a se temer, pior que Freddy Krueger e Jason. A narrativa começa com Cecilia (Elisabeth Moss), fugindo de um relacionamento abusivo, lidando com seus traumas e o aparente suicídio do agressor. A protagonista, na verdade, representa uma situação que é presente nas sociedades patriarcais, ela representa a violência a qual uma série de mulheres são submetidas, e mesmo quando, elas tentam se desvincular dessa submissão, dessa violência, elas carregam consigo, todos os traumas que essa violência gerou, e muitas vezes, tal como a Cecília demonstra no filme, a incerteza do futuro. No entanto, coisas estranhas acontecem e a protagonista passa a suspeitar que seu marido não está morto, mas está invisível para continuar a violentar. Um filme que brinca com as definições de terror, de monstro, traz o desespero para a atualidade e realidade, atormentando por meio da iluminação que trabalha em prol do aumento dessa tensão, sem necessidade de jumpscare em excesso. Outro aspecto interessante é a abordagem do filme quanto ao tema, ao mostrar como a sociedade não dá credibilidade à mulher que sofre agressão, a trata como desequilibrada, Cecília se sente sozinha pois os mecanismos de apoio não funcionam como deveriam no enfrentamento a violência doméstica, outro paralelo com a realidade.
Dentro dessas produções que nos ajudam a refletir sobre a realidade dessas mulheres, ou seja, nesses conteúdos em que a arte usa elementos da vida para, de alguma forma, auxiliar em uma denúncia dessa realidade, temos a série The Handmaid’s Tale, ou “O Conto de Aia”. Por meio de um futuro distópico, a protagonista June (Elisabeth Moss) e outras mulheres vivem em uma sociedade extremamente religiosa e conservadora onde não possuem direito algum. São utiliza-
O monstro, de fato, aparece de muitas formas, não somente como o agressor, mas também a sociedade que colabora com a ação ao se mostrar cega a ele das apenas para procriar, estupradas durante uma cerimônia todo mês. A série incomoda, traz angústia e desespero, ela mistura todos os tipos de violência possível: psicológica (ameaça, constrangimento, humilhação), patrimonial (controle do dinheiro, destruição de bens) moral (calúnias e vida íntima exposta sem o consentimento) e agressão física. É inevitável não fazer um paralelo com a situação brasileira, com a cultura patriarcal que ainda vivemos. O cinema de “Vidas Partidas”, “O Homem Invisível” e “The Hand-
maid’s Tale”, trazem várias temáticas relevantes para discutirmos, como mencionado, uma delas é a violência doméstica vista de muitas formas. A sétima arte sustenta o que vemos no noticiário, os números que tanto nos assustam, dar visibilidade para histórias que busquem um pensamento crítico e que faça o espectador pensar e associar a narrativa a realidade, é cada vez mais crucial. O monstro, de fato, aparece de muitas formas, não somente como o agressor, mas também a sociedade que colabora com a ação ao se mostrar cega a ele, ao criar uma visão estereotipada da mulher, ao permitir o silenciamento. Agressor, sociedade e sistema fazem parte de um filme de terror visto cotidianamente na sociedade brasileira.
Mostra de cinema feminista
Que tal ficar por dentro da produção cinematográfica sobre questões de gênero? A Coletiva Malva realiza anualmente a mostra que debate a construção e o pensamento audiovisual nacional pelo feminino
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EaD: um Marco Zero em cada canto
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N.º 67 – Maio a Agosto de 2021 Haroldo Júnior
Reportagem de Curitiba (PR)
Tradição em inovar Como a diversidade musical do nordeste paraense mistura a tradição com a JÚNIOR inovação em uma experiência singular
Haroldo
Junior Cabrali em apresentação com o grupo “Arraial do Pavulagem”
O
cenário musical paraense sempre foi sinônimo de diversidade. Embora o estado tenha ficado mais nacionalmente conhecido pela ascensão de artistas do “tecnomelody” nos últimos anos, a atual cena musical ainda faz acenos de novidades em diversos estilos. O Carimbó é um ritmo característico do estado do Pará, de procedência indígena que foi mesclado a cultura africana. O rítmico, que é um dos mais característicos do estado, ainda tem fôlego! Um
bó se mantém a mesma. A região Bragantina também tem seus representantes na cena! A rabeca, que é o instrumento típico da região, encontra em Ivanildo Silva Cabral Junior como um dos mais proeminentes representantes. O Arte-Educador/Músico/Professor que mora também na cidade de Castanhal atualmente, adota o nome artístico de “Jnior Cabrali” e é conhecido também pela versatilidade e virtuosismo. O músico tem como hábito utilizar “efeitos” de guitarra e misturar a execução tradicional com
bases de batida eletrônica. Nas festividades religiosas e nas festas de Marujada em Bragança do Pará a rabeca é presença garantida. Muito associada ao violino, por conta da aparência, o instrumento é anterior a ele e está presente em todo o país e em diversos ritmos. O músico diz que “no caso da região norte do país, são incontáveis estilos que usam rabeca, sempre sincretizados entre culturas indígenas com africanas, algumas tendo a influência portuguesa, como é o caso da Rabeca.
Na região do estado temos diversos exemplos. A Marujada com as danças do retumbão, xote, mazurca, o Carimbó, lundú, Síria, bangüê, samba de cacete, toadas de boi e quadrilha.” Sendo uma autoridade no assunto, o músico é um “rabequeiro” que leva o ritmo por onde passa. Como um dos pouquíssimos artistas que tocam esse instrumento na região sua presença nas festas tradicionais tem se tornado cada vez mais frequente. ‘A cada geração os timbres vão mudando, mas o ritmo e a “pegada” do carimbó se mantém a mesma.’ A inegável efervescência cultural nem sempre encontra eco nos espaços de divulgação. Segundo alguns artistas, o mercado encontra-se muito afeito a nichos consagrados pelo gosto popular, o que muitas vezes dificulta o surgimento de novos timbres no mercado musical. Mesmo isso não tira o ânimo dos artistas que fazem o máximo para manter viva a tradição musical do nordeste paraense através de novas linguagens e leituras da música tradicional.
Bruna Silva
A
Feira de Produtos Agrícolas, Pesca e Artesanato de Paranaguá, conhecida como a Ferinha da Catedral, completou, em 2018, 27 anos de atividades. Funcionando todos os sábados, ela já tem um papel de destaque na cultura parnanguara e na produção advinda da agricultura familiar. Localizada bem na área central, o espaço hoje é um ponto de lazer na cidade. São mais de 21 família que sobrevivem da feira, garantindo frutas, verduras e legumes frescos, a toda população. Atualmente maior parte dos alimentos que abastecem a mesa dos parnanguaras vem das pequenas propriedades que estão localizadas na área rural de Paranaguá. No local é possível encontrar de tudo como pimentão, milho, temperos, couve-flor, alface, cebolinha, rúcula, artesanato além de produtos naturais. Dentre eles, mel, ovos, queijo e quitutes preparados nas barracas. Os salgados e pastéis são os mais pedidos. “Para a formação das minhas duas filhas, seja de despesa com moradia na cidade onde moram e o pagamento do curso, tudo foi totalmente pago com o trabalho da feira, 100 % do nosso trabalho aqui. A mais velha tem duas faculdades e
representante já tradicional do estilo é o grupo “Carimbó Modelo” que já está na estrada há 20 anos e não demonstra sinais de cansaço. O Grupo é formado por sete componentes, liderados por José Dalmácio e Ailton, seu irmão. No entanto, recentemente foi incorporado ao grupo, Daniel, de nove anos, neto de José Dalmácio. A família mantém viva a tradição musical da região passando o conhecimento sobre o ritmo de pai para filho. A cada geração os timbres vão mudando, mas o ritmo e a “pegada” do carim-
A cada geração os timbres vão mudando, mas o ritmo e a “pegada” do carimbó se mantém a mesma
Reportagem de Paranaguá (PR)
Feira agrícola movimenta Paranaguá Bruna
SILVA
Espaço que fica em um ponto tradicional da cidade atrai centenas de visitantes durante todos os sábados
A feira que já é tradicional, em Paranaguá, funciona há 27 anos está terminando o mestrado. A mais nova está no 4º ano de farmácia”, disse João Luiz dos Santos, que trabalha no local há 14 anos, vendendo salgados. A feira é uma opção disponível aos pequenos agricultores de Paranaguá, um espaço onde eles podem comercializar seus produtos. “Eu gosto da feira, é um ganho a mais. Além disso, a gente não pre-
cisa bater de porta em porta para vender o que cultivamos. Nós chegamos aqui e o cliente vem ao nosso encontro. A feira é muito boa”, afirmou o comerciante Lourival Gonçalves, que já tem mais de dez anos de trabalho no local. Os agricultores mantêm uma relação de fidelidade com os consumidores tentando sempre oferecer
o melhor serviço da região. Tudo é pensado para agradar e fazer o cliente voltar. “A gente depende do cliente, tem que cuidar, tentar melhorar cada vez mais para não perder”, ressaltou Matilde Petenusso dos Santos, uma das primeiras mulheres a trabalhar como feirante. Os frequentadores assíduos garantem que o preço praticado pelos
agricultores é um dos mais acessíveis da cidade, por isso a procura é sempre grande. “A gente gosta muito de comprar ascoisas aqui porque tudo é mais barato em comparação a outros estabelecimentos comerciais. Bem cedo nós estamos aqui, seja com chuva ou sol”, disse Analice Lúcia de Jesus, que é cozinheira e há anos compra na feira.
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Tecnologia
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Poliana
ALMEIDA
Especial
APP para jornalistas
A
essência jornalística é a entrevista. Isso não é novidade para ninguém. Agora, o que é complicado na entrevista? Degravar e anotar tudo para depois escrever a matéria. Dependendo da competência do jornalista e agilidade em digitar, a degravação pode levar mais tempo que a própria entrevista. Entretanto, com o avanço das tecnologias o nosso trabalho pode ser otimizado – principalmente em tempos de
Fala que eu anoto!
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pandemia. Um dos aplicativos que podem auxiliar-nos é o SoundNote. Ele é a melhor maneira de criar notas durante web conferências, leituras e entrevistas. Isso significa o fim do famoso bloquinho? É claro que não, mas é outra alternativa para anotações durante as produções do dia a dia.
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Leia aí na tela do app
P
recisa realizar um trabalho de telejornalismo? Precisa gravar uma reportagem em vídeo para um site mas estrá travando na leitura do texto durante a passagem? Você não vai precisar memorizar todo o seu roteiro,
A
gora com todo mundo em casa, o que tem ajudado os jornalistas a guardarem pautas, vídeos dos entrevistados e o final da edição são os serviços de armazenamento em nuvem. A grande vantagem de ter um deles por perto é o fácil acesso e o salvamento automático de documento/planilhas. Isso mesmo! Se a internet cair, não se preocupe, tudo vai estar lá. Tanto o Dropbox, quanto o Google Drive possuem interfaces dinâmicas e de
Arquivando na internet fácil compreensão. E olha que ter conteúdo ancorado na web é uma das melhores formas de garantir que não vai ficar na mão quando precisar ou quando dar aquela bugada no HD do seu computador. Já pensou em perder todo o seu conteúdo por uma falha mecânica? Duplica e coloca na rede para garantir.
Use o QR-Code para acessar o Drive
não. Instale o aplicativo em seu celular, digite o texto do seu roteiro e tenha um teleprompter no seu smartphone. Nele é possível ajustar o tamanho e a velocidade do texto, sendo adaptável ao seu ritmo de leitura. A parte ruim desta opção é que o app está disponível apenas para celulares com o sistema operacional Android. Quem sabe os usuários de iOS ganhem uma versão logo, não é?
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Ensaio fotográfico
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Costurando solidariedade Ensaio de
Thaiane
CARVALHO
Matilde Carvalho, costureira há 12 anos, produz máscaras para doar aos seus vizinhos
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atilde trabalha confeccionando vestidos de noiva, por conta da pandemia teve que ser afastada de seu trabalho e entrar em isolamento social. Durante esse período está recebendo seu salário normalmente, pois, a empresa que trabalha entrou em acordo com o governo solicitando o auxílio emergencial. Com o tempo livre, tem passado a maior parte do tempo costurando em seu pequeno ateliê. Numa tarde, resolveu confeccionar algumas máscaras para doar aos seus vizinhos, segundo ela foi uma forma de fazer o bem por mais simples que parecesse. Além disso, diz ser também, uma distração para combater a ansiedade e nervosismo. “Não quis vender, preferi doar. Tinha alguns retalhos, elástico e tempo, muito tempo.” Contou. Para a costureira, a solidariedade neste momento é muito importante, porque mesmo afastados fisicamente, as pessoas se mantêm unidas.