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ANO XI- NÚMERO 68 – CURITIBA, SET.DEZ DE 2020
LEIA NESTA EDIÇÃO Doenças crônicas aumentam riscos de morte frente ao Covid - Página 3 Cromossomo do amor: a vida de quem convive com Síndrome de Down - Página 4 Sustentabilidade, liberdade e amor em quatro rodas - Página 9
A educação na pandemia Impacto do isolamento social na educação fundamental e média é preocupação constante de pais e especialistas.
Conteúdo exclusivo
Jornal Laboratório - Curso de jornalismo do Centro Uninter
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Opinião
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N.º 68 – Setembro a dezembro de 2020 Arquivo Público
Ao Leitor
Boa leitura!
Opressão nas telas do cinema brasileiro Eliana
BURATTI
O longa resgata a vida de um dos personagens emblemáticos na resistência à ditadura
A
imprensa divulgou que o filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, foi lançado no Festival de Cinema de Berlim. Baseado na biografia, escrita por Mário Magalhães. Escolhido entre tantos personagens da ditadura, por ser Carlos Marighella, tão controverso e multifacetado quanto o período em que viveu no comando da luta armada da extrema esquerda brasileira. Político, herói guerrilheiro, fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN) e assaltou o trem pagador. Propagandista político, editou o manual do guerrilheiro, desmoralizando a classe dominante do país. Guerrilheiro para uns, foi
chamado de terrorista quando morto por policiais, em 1969. História essencial para a historiografia brasileira, mostra a crueldade e o recrudescimento da ditadura militar, após a decretação do Ato Institucional 5 - 1968, que fechou o congresso, perseguiu, torturou, matou, exilou e desapareceu com os militantes, instituiu a censura e acabou com liberdade de expressão. O período mais rigoroso e cruel do regime militar, denominado “anos de chumbo”, se estendeu até 1974. O “disforme” milagre econômico, o pleno emprego, a copa de 1970 e a chegada da tv em cores ao país, aconteceram dentro deste período.
Passo 1 Use o QR-Code ao lado para ser encaminhado à área do aplicativo no Google Play
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á pensou em assistir a uma entrevista nas páginas de um jornal impresso, em vídeo? Ou quem sabe conferir um mapa em terceira dimensão, ou ainda interagir com elementos gráficos que saem das páginas? O que há poucos anos seria um sonho, agora é possível e está nas suas mãos. Isso mesmo! Venha com o Marco Zero na onda
Passo 2 da Realidade Aumentada, uma tecnologia que permite a interação entre elementos reais e virtuais. Para entrar nesta viagem, é fácil e rápido. Siga as instruções e participe da experiência da notícia interativa. Nesta primeira versão, o recurso pelo aplicativo do Marco Zero está disponível apenas para aparelhos com sistema operacional Android.
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Moura, compara os assassinatos de Marighella e Mariela Franco, numa alusão ao que acontece no Brasil hoje. Traz à tona a perversidade dos governos militares da época, sem deixar de “provocar” o atual. Delicada democracia vive a nação brasileira: Incertezas política desde as manifestações de julho/13, impeachment de uma presidente eleita pelo povo. Ex-presidentes presos e eleição de um militar da reserva do exército Brasileiro, simpatizante da ditadura ironiza seus crimes e determina a comemoração dos 50 anos do golpe militar. O que é mesmo um “estado de exceção”?
Moura compara os assassinatos de Marighella e Mariela Franco, numa alusão à perversidade dos governos militares da época, sem deixar de “provocar” o atual EXPEDIENTE
Os desafios do ensino fundamental em meio ao cenário de pandemia são vários e têm dividido opinião de especialistas. Por um lado, a falta de acesso aos equipamentos e serviços de conexão e pacote de dados são os entraves que dificultam o acompanhamento do ensino remoto. De outro lado, este é o formato que permite alunos e professores manterem ativos o sistema de ensino com o isolamento social e garantindo ao menos a segurança na saúde. Em meio a isso, estudos apontam que levará anos para recuperar o retrocesso que a pandemia promoveu na educação nacional. Entre falta de infraestrutura e a a reinvenção do ensino a partir das tecnologias da comunicação, a reportagem de capa do jornal Marco Zero, de autoria do aluno de jornalismo Rodrigo Sepini, busca estabelecer um diagnóstico do ensino no Brasil durante os meses de pandemia. A repostagem especial ouve especialistas e familiares de estudantes para destacar as dificuldades e as superações no ensino remoto frente ao isolamento social. Ainda nesta edição do jornal Marco Zero você conhecerá a história de coragem e de reinvenção do casal que abriu mão do emprego e da vida na cidade para cair na estrada sobre as quatro rodas de uma Kombi. Leia na reportagem de Patrícia Gaudêncio a história de um casal apaixonado por viagens e fotografia.
O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter
Coordenador do Curso: Guilherme Carvalho Professor responsável: Alexsandro Ribeiro Diagramação: Equipe Marco Zero Projeto Gráfico: Equipe Marco Zero Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131, CEP 80410-150 |Centro- Curitiba PR E-mail - alexsandro.r@uninter.com Telefones 2102-3377 e 2102-3380.
N.º 68 – Setembro a dezembro de 2020
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Saúde
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3 Marcelo Camargo / EBC
Doenças crônicas aumentam riscos frente ao Covid Diogo
FERNANDES
Pesquisa aponta que, no período de 13 anos, mais brasileiros estão diabéticos, hipertensos, com obesidade ou excesso de peso
Entre 2006 e 2019, a obesidade, que atingia 11,8% da população, saltou para 20,3%
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Pesquisa Vigitel Use o Qr-code e confira a íntegra do levantamento de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico
boa alimentação. Mas nem sempre é tão simples assim. Para o nutrólogo Luiz Armond, um dos problemas é viver numa sociedade que busca sempre o prazer imediato. “Pra você aderir a hábitos saudáveis, você
A pessoa já tem que ter uma bagagem de querer se cuidar, de saber que aquilo é importante pra ela, que as conseqüências vão muito além da aparência física, mas vem também sob forma de prevenção de doenças tem que abdicar de hábitos ruins”, pontua. Segundo o especialista, alguns sacrifícios são necessários para ter uma recompensa no futuro. O sedentarismo gera consequências que interferem em todos os sistemas. “Quando você co-
meça a praticar atividades físicas, você melhora o metabolismo e isso tem repercussão para prevenção de doenças cardiovasculares e diabetes”, explica o médico. O excesso de peso é agravante para inúmeras doenças, não apenas para Covid-19. O médico alerta: “O metabolismo da pessoa obesa não é tão preparado assim para situações que necessitam de uma demanda energética maior. Também tem a questão da dificuldade de tratar um obeso, as doses das drogas variam de pessoa para pessoa, fica mais difícil de entubar no caso de um agravamento.” Embora ele oriente, o próprio médico relata a dificuldade de convencer alguém a aderir à uma vida mais saudável. “A pessoa já tem que ter uma bagagem de querer se cuidar, de saber que aquilo é importante pra ela, que as conseqüências vão muito além da aparência física, mas vem também sob forma de prevenção de doenças, sensação de bem estar, melhora de qualidade de vida.” Para o nutricionista Ricardo Márcio e Silva, nunca é tarde para melhorar o sistema imunológico através da alimentação. Ele explica que o consumo adequado dos alimentos garante que o organismo funcione bem aumenta a proteção contra microrganismos invasores causadores de doenças, como a Covid-19. Ele alerta, porém, que é importante procurar um profissional antes de fazer qualquer mudança radical na alimentação. Fazer dietas por conta própria pode afetar a imunidade, pois restringe ou elimina o consumo de grupos alimentares e a quantidade de calorias adequadas nas refeições. Quem viu os benefícios dos
novos hábitos foi o arquivista Ramon Félix, 30 anos. Tudo começou quando um médico chamou sua atenção por estar com a pressão alta, mesmo tendo apenas 23 anos na época. Até então, era descuidado em relação a alimentação. Ele, que desde criança sempre esteve acima do peso, sofria ainda com dores no joelho. A partir desse susto no médico, mudou seu comportamento. Ele procurou um nutricionista para que a perda de peso não fosse marcada por sacrifícios tão grandes,
nem deixasse marcas como estrias, comuns em quem perde peso muito rapidamente. Conforme ganhou condicionamento físico, Ramon ficou mais empolgado, e passou praticar outros esportes além da musculação, fez boxe e participou de provas de corrida de rua. Como resultado, saiu dos 115 quilos para os 85, 30 quilos no total. “Considero que melhorou tudo, desde o sono até o desempenho sexual”. Segundo Ramon, agora é bem raro dele ficar doente. Ramon Félix
m conselho bastante conhecido de qualquer pessoa que vai ao médico é: faça exercícios físicos. E os médicos não estão falando sem motivo. Segundo pesquisa da Vigitel, braço do Ministério da Saúde no acompanhamento de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas, o brasileiro está mais gordo. E com esse aumento de peso, aumenta também o percentual de pessoas no grupo de risco para a Covid-19. O monitoramento da Vigitel começou em 2006, muito antes do Coronavírus virar assunto nos jornais. Entre 2006 e 2019, a obesidade, que atingia 11,8% da população, saltou para 20,3%; a hipertensão arterial subiu de 22,6% para 24,5% e a diabetes aumentou de 5,5% para 7,4%. Metade dos brasileiros (55,4%) está com excesso de peso. Estes distúrbios estão entre os fatores de risco para que a Covid-19 evolua para a sua forma mais grave. Até o início de setembro, a doença já matou mais de 830 mil pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. Os problemas decorrentes do excesso de peso podem ser controlados através de exercícios físicos e
30 quilos e mais saúde separam as duas versões de Ramon nas fotos
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Comportamento
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Cromossomo do Amor Hemelyn
PARAHYBA
O universo de quem cuida e convive com a Síndrome de Down
Ney na festa junina da Apae de 2018 com seus colegas Quando um casal recebe a notícia de que seu bebê tem Síndrome de Down, não é raro que a primeira reação seja de rejeição. Afinal de contas, quem não sonha com filhos “perfeitos”? Mas com o tempo e a ajuda de profissionais, essa reação muda. Muitos pais e mães acabam se apaixonando pela causa dos portadores da síndrome, e entram
na luta contra a discriminação e o preconceito, tão comuns em nossa sociedade, contra essas pessoas que nasceram com um cromossomo a mais. Pois é como se surgisse um novo cromossomo também no coração desses pais e mães, e de outros membros da família que passam a se dedicar ao cuidado de um portador de Down. Arquivo Pessoal
Ney com sua irmã em uma confraternização de família
A história de Marina Vaz, de 49 anos, e seu irmão Claudinei Alves da Silva, de 45 anos, está repleta de companheirismo, amor, humanidade e irmandade. Segundo Marina, mesmo que o tempo voltasse, nada seria diferente, pois é exatamente desse jeito que ela se sente feliz. A irmã, que assumiu o papel de mãe, demonstra um amor inesgotável para dar e receber. Quando Claudinei nasceu no interior do Paraná, na cidade de Jaboti, em 1975, a linguagem comum ainda não havia se desvinculado do termo mongoloide para designar as pessoas que possuíam a síndrome. Isso porque o médico John Longdon Down, que primeiro descreveu essa síndrome em 1866, achava as características físicas dessas pessoas semelhantes às das pessoas nascidas na Mongólia. Mesmo depois do termo ter sido abandonado, o preconceito continua. Logo após o nascimento de Ney (como é carinhosamente chamado por sua família), os médicos disseram pra seus familiares que ele não sobreviveria. Porém sua mãe, Maria Aparecida de Souza Silva, que na época tinha 36 anos e cinco filhos, não acreditou nos médicos e levou seu filho para casa. Aos 4 anos de idade, mudou-se com a família para Curitiba. Por causa da síndrome, o pequeno Ney ainda não falava nem andava. Sua mãe então procurou recursos para que pudesse melhorar o desenvolvimento da fala e da coordenação motora do filho, e o matriculou na
Escola de Educação Especial Nilza Tartuce. Lá ele fazia fono e fisioterapia e aos poucos foi evoluindo. Ney ficou nessa escola até os 15 anos de idade, e então passou a frequentar a Escola Especial Menino Jesus, onde ficou até os 20. Cada ano era uma conquista e um aprendizado para toda a família. Porém, em um certo momento, Ney não quis mais frequentar a escola e passou a ficar dentro de casa com os pais. A mãe sempre fora muito dedicada a ele. Sem o acompanhamento de profissionais, Ney começou a ficar agressivo: “Ele invocava com algumas pessoas. Eram poucos os vizinhos e amigos de que ele gostava e se ele não gostasse era uma luta para conviver,” diz Marina. A mãe de Ney ficou muito doente e faleceu em 13 de junho de 2010. Então Ney passou três anos morando com o pai. Quem virou sua tutora legal, em 2013, após seu pai sofrer um AVC, foi Marina, por quem Ney sempre teve mais carinho e respeito. Ela e o marido o acolheram e passaram a cuidar dele como um filho. Hoje, quando alguém pergunta qual foi o presente mais especial que Marina já ganhou na vida, ela responde: “Com toda certeza, meu irmão e minhas filhas.” Ney ensinou a irmã a ter mais paciência, mais cumplicidade, a entender olhares. O pai de Ney também adoeceu, ficou anos em uma cama e faleceu em 2019. Por um tropeço do destino, Marina acabou perdendo seu marido exatamente 18 dias depois de seu pai. Nesse momento tão difí-
cil e de tanta fragilidade, em que não conseguimos entender as surpresas que a vida nos dá, temos que nos apegar em algo. Marina se apegou ao amor que sente por seu irmão e pelas filhas. “O Ney me ajudou sempre com meu pai e quando ele e meu marido vieram a falecer, ele mesmo sem entender muitas coisas ficou quieto em seu canto, não se revoltou. Eu sigo em frente, pois sei que tenho ele para cuidar”, diz Marina Vaz Ney atualmente frequenta a Apae de Santa Felicidade, em Curitiba. Por ter um acompanhamento contínuo com profissionais especializados, conseguiu lidar bem com a morte do pai e também do cunhado, que sempre o tratara como filho. Segundo Marina: “Ney ama ir às aulas e tem muitos amigos, ele faz acompanhamento no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) de Campo Magro, pois ao longo dos anos ele acabou desenvolvendo uma esquizofrenia que graças à ajuda dos profissionais está bem controlada.” Ney e Marina têm quase 4 anos de diferença um do outro. Marina sempre teve um grande afeto pelo irmão, o amou desde o primeiro momento e desde pequena ajudava a mãe a cuidar dele. Ela sabia exatamente como lidar com os comportamentos e como amar todas as diferenças do irmão. Logo após sua mãe falecer, o levou para sua casa. “As pessoas dizem que nem parecemos irmãos e sim mãe e filho, pois nos tratamos com o maior cari-
Cidades
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Afinal, o que é sindrome de down? Nós, seres humanos, possuímos em cada célula 23 pares de cromossomos, o que totaliza 46. Uma pessoa com Síndrome de Down possui um distúrbio genético que cria um cromossomo extra no cromossomo 21, totalizando 47, por isso Trissomia 21, 3 cromossomos no par 21, onde normalmente só possuímos 2, caracterizada como a primeira alteração cromossômica da espécie humana. A Síndrome de Down foi descrita em 1866 por um médico pediatra inglês chamado John Longdon Down. Sua especialidade era tratar de crianças com deficiência intelectual. Em seu trabalho John identificou as características dessa síndrome. Para as pessoas que possuem Síndrome de Down, não existem limitações ou graus, o acompanhamento com profissionais da área tem que ser frequente para que a pessoa possa se desenvolver de uma maneira ampla tanto na fala, quanto na coordenação motora, na convivência com as pessoas e com o mundo. Essa síndrome mostra que com a ajuda da inclusão e dos acompanhamentos as pessoas podem sim viver de maneira normal como todas as outras pessoas. A psicóloga Gislene Gouvea, que também atua na ONG Reviver Down em Curitiba, explica que “a síndrome de Down não é uma doença e sim uma ocorrência ge-
nética normal, todos nós temos 46 cromossomos e as pessoas com SD possuem 47 cromossomos, a única diferença é o cromossomo a mais que traz com ele também umas ca-
Não é uma doença e sim uma ocorrência genética normal. Todos nós temos 46 cromossomos e as pessoas com SD possuem 47 cromossomos, a única diferença é o cromossomo a mais que traz com ele também umas características físicas semelhantes racterísticas físicas semelhantes entre essas pessoas.” Os olhos puxados, o cabelo liso, a palma da mão com um único traço são características físicas. Existe também uma deficiência intelectual que é o traço marcante dessa síndrome, que faz com eles tenham um desenvolvimento mais lento no andar, no falar, entre outras coisas. A Síndrome de Down é uma das síndromes mais estudadas hoje em dia e também a mais fácil de ser acompanhada. Segundo especialistas, 50% das crianças que nascem com Down desenvolvem também um pequeno problema que se chama Cardiopatia, que é má formação estrutural no coração. Antigamente, isso levava as crianças a óbito. Porém, com os avanços na tecnologia,
Comportamento
ZERO sa equipe, então Neco chamou Renato Gregorio citado ali em cima e outros meninos que já conhecia para participar dessa equipe. Os treinos começaram em setembro de 2018, e em dezembro a equipe disputou o campeonato brasileiro, sagrando-se campeã após derrotar na final a equipe do Corinthians, até então invicta há 10 anos. Em janeiro de 2019, o Ituano F.C firmou uma parceria com o Instituto Mozione nesse projeto e em dezembro do mesmo ano eles ganharam novamente o campeonato brasileiro. “Trabalhar com eles é aprender a todo momento, um prazer indescritível, o melhor dia da minha semana é quando encontro eles”, diz Neco Neco conta que o maior aprendizado é que com o amor conseguimos compreender as limitações do ser humano e aprendemos a esperar o tempo do outro. Para ele, o trabalho com esses meninos lhe ensina que além de serem craques no futsal eles também sabem respeitar e ajudar o próximo de uma maneira diferente. “Um dos maiores desafios de trabalhar com eles é vencer o preconceito que até hoje existe na sociedade, e também conseguir fazer com que empresas apoiem e abracem cada vez mais essa nossa causa”, afirma o treinador. “Eu ganhei crescimento pessoal, profissional e espiritual. Hoje sou um ser humano mais centrado em tudo que faço e tudo isso devo ao convívio que tenho com esses meninos”, finaliza Neco.
hoje essa pequena má formação pode ser tranquilamente tratada. Uma das principais obrigações dos médicos, já no parto, é verificar se existe a cardiopatia. “Às vezes ela pode ser tratada somente com medicamentos, em alguns casos existe a necessidade de se fazer uma cirurgia, porém é bem simples e depois que passa o bebê vai normalmente para a estimulação e os acompanhamentos normais de toda criança com Down”, explica Gouvea. As crianças com síndrome de Down são capazes como todas as outras crianças de aprender, de andar, de falar, porém é um processo mais demorado, eles possuem um atraso nessas etapas. Por conta disso, os pais devem colocar seus filhos em escolas especializadas, porque quanto mais estímulo específicos eles tiverem, mais eles irão aprender a fazer coisas que toda criança faz, como aprender a ler e a escrever. Gouvea também explica que a orientação para os pais, quando não querem colocar seus filhos em escolas especializadas é o ensino regular, pois apesar do atraso nos desenvolvimentos e a lentidão no aprendizado, essas pessoas podem ter uma vida normal, concluir os estudos, cursar uma faculdade e entrar no mercado de trabalho. Se essas crianças forem bem acolhidas na família, elas serão bem acolhidas na sociedade também.
A Felicidade em ensinar Carlos Alberto Santos, o Neco, 53 anos, trabalha com crianças especiais desde 2006, quando começou a dar aulas na APAE de Itu/SP. Em 2018, ele recebeu uma ligação da coordenadora do Instituto Mozione (Ong que trabalha com políticas públicas para pessoas com deficiência) convidando-o a montar uma equipe de futsal Down e ser o treinador des-
Cafeteria Especial
Arquivo Pessoal
Sinestri: a Cafeteria Especial nasceu para a inclusão social
Assim como o projeto Ituano, temos diversos outros projetos que beneficiam o desenvolvimento dessas pessoas, seja no mercado de trabalho ou na coordenação motora e da mente. Segundo dados da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, estima-se que em 1 a cada 700 nascimentos no Brasil ocorre o caso de Trissomia 21, que totaliza em torno de 270 mil pessoas com Síndrome de Down atualmente. Giorgio Sinestri e Delfino Andrade, fundadores da Educare Desenvolvimento Humano, desde 2015 trabalham no setor de treinamento empresarial, oferecendo a diversas empresas oportunidades de melhorar o desempenho de seus colaboradores. Em 2017, eles conheceram em São Paulo uma cafeteria onde todos os atendentes possuíam Síndrome de Down. “A Cafeteria Especial nasceu para a inclusão social. Uma empresa provada e construída para provocar a não exclusão de pessoas com Down no mercado de trabalho”, diz Giorgio Sinestri Isso motivou Giorgio e Delfino a fazer algo na área da inclusão. Em Blumenau/SC, onde residem, conheceram a equipe da “Associação Sorrir para Down”. Foi então que
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nasceu o projeto “Culinária Down”, com aulas de gastronomia e atendimento ao público direcionadas a associados maiores de 12 anos. Desde então, a Uniasselvi, instituição de ensino superior de Blumenau, cedeu a cozinha do curso de gastronomia para a realização dessas aulas. No dia 8 de dezembro de 2018 foi inaugurada a Cafeteria Especial, primeira cafeteria inclusiva do sul do país, em Blumenau — SC, com um atendimento todo realizado por pessoas com Síndrome de Down. “O nosso objetivo é promover a inclusão e colocar mais cor e alegria nas conversas e no lazer dos blumenauenses e visitantes, transformando assim as relações e celebrando a diversidade humana”, diz Sinestri. A equipe da cafeteria conta com três colaboradores contratados, além de alguns jovens voluntários que compõem como apoio em atividades e eventos agendados. A Cafeteria é um projeto social que oferece também desenvolvimento psicopedagógico para pessoas com deficiência, com atendimento psicológico, pedagógico, odontológico, de fisioterapia e fonoaudiologia.
Taekwondo especial O Taekwondo Especial é outro projeto que lida com o amor pelas artes marciais e a vontade de ajudar ao próximo. É um projeto recente que foi criado pelo professor Felipe Marçal e pela sua esposa, a professora Mônica Pires. Colocado em prática no dia 9 de maio de 2019, o projeto traz a importância das artes marciais e os inúmeros benefícios para a saúde, localizado também em Blumenau-Santa Catarina. “A prática das artes marciais pode ser uma grande aliada no desenvolvimento físico e cognitivo de pessoas com Síndrome de Down. Essa atividade oferece não só as vantagens do exercício físico, mas também a filosofia de cada modalidade, o incentivo à disciplina e ao equilíbrio emocional, o controle da força e o respeito a si próprio e para com o outro”, afirma Felipe. Taekwondo é muito mais do que chutes em raquetes, é qualidade e estilo de vida, ressalta Felipe Marçal. Esse projeto já havia sido planejado há mais ou menos 10 anos, e só agora foi colocado em prática. Felipe é praticamente de Taekwodo desde 1991. O professor de artes marciais tem uma turma exclusivamente de pessoas com Down. O projeto tem uma parceria com a Cafeteria Especial, dando aulas para os atendentes e ensinando a eles a filosofia das artes marciais. Felipe Marçal explica que o Taekwondo ajuda tanto na coordenação motora, na respiração, na função cognitiva, quanto na função cardiorrespiratória. E para pessoas com Síndrome de Down, isso é essencial para um desenvolvimento amplo.
Beatriz Vasconcelos
nho do mundo e eu cuido dele como cuido das minhas filhas. Em casa temos uma convivência muito boa, ele sempre me ajudou a cuidar do nosso pai enquanto ele estava doente, e eu o admiro, pois nunca guardou mágoa nenhuma do meu pai”, diz Marina.
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Especial
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N.º 68 – Setembro a dezembro de 2020 Rodrigo Sepini
O desafio da educação em quarentena Rodrigo
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Com as escolas fechadas, as aulas remotas se tornaram a nova realidade de professores e alunos do ensino básico. A preocupação com a alfabetização é constante
O ensino emparedado pela pandemia. Escolas fechadas, salas vazias
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sinal já não toca. Os quadros estão limpos. As salas de aula vazias. A escola que até então era um lugar de ensino, aprendizagem e de relações sociais, está fechada. Não se ouve vozes, não se vê mais o brilho no olhar da criança quan-
do aprende a ler. A educação está sob quarentena. A rotina de Mirian Pereira não é mais a mesma. A pedagoga e especialista em alfabetização e letramento, mineira de 26 anos, trabalha na educação infantil e enfrenta os mesmos desafios que outros mi-
lhares de professores pelo Brasil: a difícil adaptação ao ensino remoto. Como diminuir os impactos da distância e não se sobrecarregar? Professora em uma escola municipal no Sul de Minas, Mirian mora na cidade vizinha em que leciona, a 30 quilômetros de disRodrigo Sepini
A ausência do contato social pode afetar o desenvolvimento cognitivo infantil
tância. Todos os dias pegava uma van para ir e voltar do trabalho e mantinha um contato diário de quatro horas e meia com seus alunos. Uma rotina já encravada que a pandemia do Coronavírus obrigou a alterar. Mas a alfabetização não pode ser interrompida. Tentando minimizar a ausência do contato presencial com os alunos, ela utiliza a tecnologia a favor da alfabetização e se reinventa. “Durante o dia, eu início passando as orientações das atividades diárias para os pais e alunos, atendo no particular as demandas de cada aluno e família, dou a devolutiva das atividades recebidas. Para as famílias com acesso à in-
Durante o dia, eu início passando as orientações das atividades diárias para os pais e alunos, atendo no particular as demandas de cada aluno e família, dou a devolutiva das atividades recebidas
ternet essa ação é feita pelo aplicativo WhatsApp, e para os alunos que não possuem conexão com a internet a intervenção é realizada via ligação. Depois eu planejo as atividades, crio o material que será postado no portal, participo das gravações para a TV Princesa [canal de televisão local], que tem transmitido as atividades do portal”, explica. O relatório apresentado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) em 2019, em comparação com dados extraídos do DataSUS, aponta para uma queda na taxa de analfabetismo no Brasil entre aqueles com quinze anos ou mais, indo de 9,4% em 2010 para 6,6% em 2019. Mirian acredita que essa melhora se deve ao investimento e projetos de governos anteriores, como o PNAIC (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa). No entanto, mesmo adaptando as formas de ensinar, teme que esse panorama possa se alterar devido da distância entre o aluno e a escola. “A gente vai ter uma queda, uma estagnada nessa melhora, pois a alfabetização é um processo complexo e devido a esse distanciamento, os alunos não possuem o acesso direto aos professores como tinham presencialmente”. Com a transformação da casa em ambiente de aprendizagem e o trabalho redobrado, a exaustão en-
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pelo menos seja estabelecida após
Esse horário de um controle significativo dos casos de infectados, para isso precitrabalho não fica saremos cobrar do governo protocolos bem definidos que busquem bem definido. E o distanciamento entre os alunos e trabalhadores da educação, bem também entrar como a utilização rigorosa dos em contato com equipamentos de segurança para todos”, salienta. gravações de televisão, coisa que O impacto da falta eu nunca imaginei, do convívio entre os alunos em sala participar de A ausência de relacionamentos gravações para TV interpessoais como consequência tre os professores é notada, como afirma a pedagoga. “Esse horário de trabalho não fica bem definido. E também entrar em contato com gravações de televisão, coisa que eu nunca imaginei, participar de gravações para TV”. E complementa: “Hoje em dia a gente pode dizer que um canto da casa é o canto da escola, onde fica tudo ali do seu trabalho, virou a nossa sala de aula”. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) o Brasil se encontra em 2º lugar no mundo com o maior número de mortes por covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos. Sem vacinação, uma volta às aulas presenciais preocupa. “Eu acredito que uma reabertura totalmente segura seria uma após vacinação, mas acho que isso não será realizado. Espero que Mirian Pereira
Mirian Pereira
do fechamento das escolas, afeta o desenvolvimento cognitivo da criança em processo de alfabetização e de aperfeiçoamento de habilidades. Isso é o que afirma a psicopedagoga e especialista em educação básica Iraci Miranda. “O desenvolvimento intelectual é um processo que a criança passa para adquirir e aprimorar as capacidades no âmbito cognitivo, motor, emocional e social, e só quando conquista essas capacidades que ela passa a apresentar comportamentos e ações. Então, tudo isso que vai desenvolver o cognitivo dela, todos esses fatores que são trabalhados na escola, nos relacionamentos interpessoais, agora com a ausência da escola, isso está a desejar no ensino remoto, isto não está acontecendo”. Iraci finaliza com uma observação: “E a gente vê que o aluno, a criança vai ficar prejudicada porque ela não está tendo uma integração, um desenvolvimento com esses aspectos afetivos, do convívio com o outro, o físico, o emocional, o social, o intelectual, que é tudo isso que vai ocasionar uma motivação interna para ela construir o conhecimento ali a todo momento.”
O desenvolvimento intelectual é um processo que a criança passa para adquirir e aprimorar as capacidades no âmbito cognitivo, motor, emocional e social, e só quando conquista essas capacidades que ela passa a apresentar comportamentos e ações
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Dados Públicos
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No Paraná, dobra número de mortes por câncer de mama Segundo especialistas, aumento pode estar associado à má CZAPELA alimentação e o uso de hormônios
Adriana
Estudos apontam que a detecção precoce aumenta em 95% as chances de cura
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nos casos de carcinoma mamário. “Está havendo um aumento em nível mundial. A gente tem uma perspectiva de continuar essa progressão e
Cheguei a operar, em cirurgia radical, uma menina de 20 anos. Então, o que a gente vê, empiricamente, é que o combustível pro crescimento do tumor de mama é o hormônio uma a cada 10 mulheres na próxima década terá câncer de mama ”. Ele alerta para o cuidado em realizar o exame de rotina, também
Câncer de mama: vamos falar sobre isso? Use o Qr-code e baixe a a revista produzida pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) sobre o câncer de mama. A partir de dados, com uma linguagem direta e didática, a revista destaca como identificar o câncer de forma precoce, informa os tipos de câncer, quais os principais sintomas e como fazer em caso de identificação de nódulos
chamado exame periódico, pois com uma detecção precoce é possível obter até 95% de cura. “Essa detecção precoce, durante muito tempo e erroneamente, foi ligada ao autoexame, quando na realidade, a detecção precoce com essa taxa de cura, é preciso detectar tumores de um centímetro pra menos. Então, só com exame de imagem a gente consegue essa detecção ”, explica o médico. Ainda, o que se preocupa o especialista, é o aumento de casos de câncer em mulheres mais jovens. Para ele, um dos fatores que contribuem para isso é o uso indiscriminado de hormônios, seja por meio de pílulas anticoncepcionais ou até mesmo em alimentos. “Cheguei a operar, em cirurgia radical, uma menina de 20 anos. Então, o que a gente vê, empiricamente, é que o combustível pro crescimento do tumor de mama é o hormônio. Não que o hormônio cause o câncer, mas ele acelera. Tanto que justificaria a maior incidência em pacientes mais jovens. Entretanto, ainda é uma doença de causa e teologia viral desconhecida. ” O câncer ainda pode ser causado por fatores externos, presentes no ambiente, como estilo de vida, hábitos, trabalho e consumo ou ainda, causas internas, como mutações genéticas ou fatores hereditários. Por isso, mesmo sem queixas ou histórico familiar, toda mulher precisa fazer o exame periódico, principalmente depois dos 40 anos. “O câncer foi um momento de transformação na minha vida”. A frase é de uma sobrevivente. Erna Fuchs, de 53 anos, descobriu o tumor
de mama em 2016. Ela conta que há algum tempo apareciam pequenos caroços nos exames, mas naquele ano sentiu um incômodo um pouco maior. A detecção veio após um procedimento minucioso de ressonância magnética e biópsia. Erna conta o que sentiu quando o câncer foi confirmado. “A primeira coisa que afeta é o psicológico. Eu estava infeliz, cansada, me alimentando mal e isso gerou um local propício pra célula se desenvolver.”
Como o câncer foi descoberto cedo, ela optou por um tratamento natural, ao invés da quimioterapia. “Eu não comi carne, nada que tivesse hormônio e os medicamentos eram naturais.” Hoje, Erna está curada e agradece tudo que viveu. “Eu costumo dizer que pra mim esse período foi um presente. Transformei tudo na minha vida. E é em momentos de dificuldade que conhecemos as pessoas que estão do nosso lado.” Adriana Czapela
egundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), câncer é o nome dado a mais de 100 doenças, que tem sua origem no crescimento desregulado das células do corpo, invadindo órgãos e tecidos. No Paraná, os casos de câncer aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Nas décadas de 1990 a 2000, a cada 100 mil mulheres, cerca de 9 foram a óbito devido a doença. Já de 2008 a 2018, esse número praticamente dobrou, como mostra o gráfico. Em Foz do Iguaçu, a situação é ainda pior. No comparativo das mesmas décadas, o registro de incidência era de 4,26 mulheres/100 mil. No último estudo, a taxa subiu para 15,02. Ou seja, em dez anos, a cada 100 mil mulheres, 15 acabaram perdendo a vida. Segundo o médico Cancerologista e Mastologista Arnaldo Cortez Junior, que atua na área há quase 50 anos, é verificado sim esse aumento
O câncer foi um momento de transformação na minha vida: Erna
N.º 68 – Setembro a dezembro de 2020
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Comportamento
ZERO
9 Acervo Pessoal
Sustentabilidade, liberdade e amor em quatro rodas Patrícia
GAUDÊNCIO
A história de um casal, apaixonado por viagens e fotografia, que abriu mão da correria de São Paulo para viver uma grande aventura a bordo de uma kombi
Em 2017 o casal trocou a rotina na maior cidade brasileira para enfrentar as estradas brasileiras em quatro rodas
J
untos há 7 anos, o casal tinha o sonho de viajar pelo mundo. Ela arquiteta, ele engenheiro, abriram mão do trabalho em grandes empresas e decidiram viver nas estradas. Em 2017, lançaram-se em uma aventura sem destino certo, mas com o firme propósito de se tornarem agentes transformadores. Assim, definiram um projeto de vida: o Viagem Kombinada. Trabalharam em cada detalhe de adaptação da kombi, batizada Beatriz, que significa viajante, peregrina. Apesar da experiência do casal, foi um grande desafio montar uma casa sobre rodas, sustentável, em um espaço de 5m2 e sem nenhum
canto reto. A primeira parada de Beatriz foi em Alfenas, no sul de Minas Gerais. De lá, partiram para o norte de Minas, onde estão até hoje, e já passaram por mais de 30 cidades. Por onde chegam, Sandra e Cris buscam os detalhes da região, descobrindo valores que surpreendem até mesmo a população local. “Para nós, tão importante quanto visitar um lugar e fazer um monte de fotos é se conectar com as pessoas, com as histórias”, conta Cris. Assim, começaram a elaborar guias digitais e já veem reflexo disso em lugares onde o turismo era quase nulo. “Um casal nos contou que faria um ensaio fo-
tográfico na Chapada dos Veadeiros. Quando viram nossas fotos da cidade Coração de Jesus, decidiram ficar por lá”, relata Sandra, satisfeita. Em escolas públicas, Sandra e Cris, palestram sobre o estilo de vida que adotaram, ressaltando a importância do estudo e da criatividade. Explicam como poupam recursos de água e como conseguem energia através de um painel solar instalado no teto da kombi. “As crianças ficam eufóricas ao conhecer nossa casa e descobrir cada detalhe. Trazem os pais para nos conhecer e ensinam o que aprendem para suas famílias”, conta Sandra. Os viajantes também convidam a comunida-
de para o plantio de árvores, e falam da importância disso para o meio ambiente. Na cidade Grão Mogol, Beatriz ganhou mais um habitante. Mel,
Acervo Pessoal
As crianças ficam eufóricas ao conhecer nossa casa e descobrir cada detalhe. Trazem os pais para nos conhecer e ensinam o que aprendem para suas famílias uma cachorrinha vira-lata, conquistou o amor do casal, depois de persegui-los por um tempo. Em certa ocasião, Sandra precisou ser internada para tratar de uma infecção. Mel conseguiu localizá-los e ficou esperando pela amiga na saída do hospital. Apesar de não fazer parte dos planos, a pequena seguiu viagem com eles.
Rotina de muito trabalho e mais estudos
O casal palestra sobre o estilo de vida para alunos das redes municipais e estaduais de ensino
Sandra enfatiza que a vida sobre rodas se diferencia pela liberdade de levar a casa e o escritório para onde quiserem. Sem salário fixo, criaram produtos com a marca do projeto, que são vendidos em uma loja on-line e na própria kombi. Para
montagem dos guias, fazem desde a redação, fotografia, diagramação à arte final. Hoje, com a pandemia, a família está estacionada em Janaúba. Fecharam uma parceria com uma faculdade da região e o projeto Viagem Kombinada está se tornando uma startup. Cris destaca que o grande desejo que eles têm é mostrar que é possível realizar sonhos, adotar novos hábitos e viver de forma sustentável. Desejam que a semente que estão plantando, floresça. Sandra afirma que cada dia tem sido transformador, desde o início, quando doaram 80% do que tinham. E que o único arrependimento do casal foi não ter começado essa viagem há mais tempo.
O dia a dia na Kombi em retrato Use o Qr-Code abaixo e acompanhe o casal nas suas viagens a partir da conta do Instagram. Foto a foto você pode viajar junto na Kombi.
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EaD: um Marco Zero em cada canto
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ZERO
N.º 68 – Setembro a dezembro de 2020
Reportagem da Bahia (BA)
Rafaela
Educação inclusiva: um caminho possível
VIEIRA
Os desafios da educação de crianças com necessidades especiais na Bahia
lho e a minha também”, conclui a mãe de do menino, que continua frequentando a escola e participa de atividades e programas da educação regular. O CAEE é vinculado à Secretaria Municipal de Educação e conta com uma equipe multidisciplinar composta por neuropediatra, neuropsicóloga, psicopedagoga, psicóloga, psicomotricista e fonoaudióloga. “Primeiro, nós realizamos uma triagem em alunos da rede municipal com indicativos de necessidades especiais. Estes alunos e famílias recebem acompanhamento na unidade, que também realiza capacitações nas escolas da rede”, diz a psicopedagoga e coordenadora da unidade, Evânia Araújo. A criação do CAEE incentivou a aprovação da Lei Municipal Nº 517/2017, que institui a Semana da Pessoa com Deficiência.
Desafios CAEE acompanha crianças da Rede Municipal de Ensino
A
vida toda de meu filho foi debaixo da mesa, no fundo da sala. Eu não compreendia”. Esse é o relato de D. Marineuda Rabelo, mãe de Felipe (10), que possui Síndrome de Asperger e se assemelha ao de milhares de mães pelo país que tem filhos com necessidades educativas especiais em processo de diagnóstico e/ou tratamento.
D
e cantores a caricaturistas, de palhaços a dançarinos. Diariamente os famosos artistas de rua preenchem o centro da cidade de Curitiba de cores e harmonia. Vindos de diferentes cidades do país, os artistas vêem na demonstração pública da arte uma forma de sobreviver financeiramente. Diego Raimundo, 31 anos, é um dos cantores que se apresenta na rua XV, no centro da cidade e que há um ano tem como dupla musical Bruna Bonanato, 22 anos. Ele que é cantor há mais de cinco anos, já tem ponto fixo no centro e fãs que acompanham e admiram seu trabalho. “Um dia cantei uma música que compus chamada ‘isso é só uma viagem’ e ao final da apresentação recebi um e-mail de um rapaz dizendo que a letra da música fez com que ele não desistisse de viver por causa dos problemas que estava enfrentando. Ele me motivou”, conta Diego. Anilson Rocha, garçom do restaurante localizado em frente ao ponto em que Diego canta, comenta: “tudo com música é melhor. Eles gostam da música, compram um doce, um aperitivo e uma coisa puxa a outra. As apresentações em frente ao restaurante atraem mais clientes”. Renata Gaioto, 28 anos,
Na maioria das vezes, o professor é o ponto de partida do processo de diagnóstico, ao observar que determinado comportamento ou incapacidade da criança não é normal para determinada faixa etária.
Encontros e desencontros Foi em sala de aula, aos 3 anos de idade, que a professora notou que
Felipe tinha dificuldades de socialização e só 3 anos mais tarde, ele foi diagnosticado com TDHA - Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. “Mas os remédios só surtiam efeito na primeira semana, depois, alterava o comportamento de Felipe, e isso reforçava minha desconfiança de que o diagnóstico não estava correto”, diz D. Marineuza.
Avanços Só em 2017, o município que D. Marineuda mora, no interior da Bahia, inaugurou o Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAEE). Foram sete anos convivendo com as consequência de diversos diagnósticos médico incorretos. “Isso mudou a vida do meu fi-
A legislação brasileira vem dando suporte às iniciativas que visam a educação inclusiva, mas ainda há mudanças necessárias que superam apenas os legislativos e até a grade curricular. A emancipação dos alunos com necessidades especiais necessita da participação da família, objetivando uma escola de qualidade, com um olhar voltado à educação para cada um e para todos.
Reportagem de Curitiba (PR)
Artistas de rua ativam o comércio em Curitiba
Fazendo dos centros e praças da CRESTANI cidade seus teatros, artistas levam cultura a todos os passantes
Maria
Diego e Bruna se apresentando na Rua XV de novembro, Curitiba estudante, anda com frequência pela Rua XV e gosta de ver a variedade de talentos além de sentir-se mais segura em caminhar pelo centro Mas apesar dos diversos adep-
tos a cultura nas ruas, Zé Queixada, 52 anos, humorista e cantor que se apresenta no centro, diz enfrentar preconceito de alguns pedestres e lojistas mas afirma que isso não o desanimará.
“A arte alegra a vida das pessoas. Muitos param e conversam com a gente, somos psicólogos das pessoas, mas tem os que que não gostam de nós e esses temos que deixar para lá”. Segundo o artista
de rua, atualmente, com o incentivo a regulamentação dos artistas através do Urbanismo e Fundação Cultural de Curitiba, eles possuem mais segurança e sentem-se mais valorizados.
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Tecnologia
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@TÁ NA WEB
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Poliana
ALMEIDA
Especial
Marketing digital
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m tempos de isolamento social, a demanda por marketing digital cresce exponencialmente. No jornalismo essa onda também chegou, e cada vez mais contratantes pedem por textos otimizados para os mecanismos de buscas. Se você gostaria de ter uma formação mais apurada sobre o universo digital, o Facebook lançou uma plataforma para treinamento de publishers, o qual nós, jornalistas, nos encaixamos. O Journalism Project “visa ajudar o setor de notícias a enfrentar os principais desafios de negó-
Facebook Blueprint cios”, como descreve a própria plataforma. Os programas de treinamentos e parcerias funcionam de três maneiras:
Confira o site com o Qr-Code
1 – Criação de uma comunidade por meio das notícias 2 – Com treinamento de redações globalmente 3 – Qualidade por meio de parcerias Ah, e para nós estudantes, tem um programa bem interessante de bolsas de estudos local no Instagram, nos Estados Unidos
Confira o site com o Qr-Code
Ateliê Digital
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quem também pensou nas pessoas com baixo conhecimento do ambiente digital foi o Google. Apesar dos jornalistas não serem o grande público-alvo desta plataforma, é possível usar as certificações gratuitas para incrementar o currículo e aprender mais sobre marketing. Entre as três categorias disponibilizadas gratuitamente pelo Google estão:
- Marketing Digital - Desenvolvimento de carreira - Dados e tecnologia Você poderá escolher entre o seu nível de entendimento, o tempo de duração do curso, qual o tipo de certificação (gratuita ou paga) e o fornecedor do curso. As aulas são online e bem intuitiva o que facilita ainda mais o aprendizado remoto. Além de conquistar conhecimento de uma das maiores plataformas de tecnologia, ainda tem direito a receber certificado. Isso mesmo!
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Ensaio fotográfico
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ZERO
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Anjos na pandemia Ensaio de
Isaak
ALMEIDA
Em meio ao isolamento, os “anjos” são as pessoas que ajudam as outras sem pedir nada em troca
pesar da pandemia de Covid 19, o isolamento social e todos os problemas que trouxe para a sociedade e as empresas em geral, existem pessoas que arrumam um tempo para ajudar as outras de forma solidária. As amigas Janaína Machado e Ediele Marçal, vendo a necessidade de tantas famílias, tomaram a iniciativa de criar um grupo de voluntários para arrecadar alimentos e produtos de higiene pessoal, e distribuir a essas comunidades. O Amigos do Bem foi um projeto que começou atendendo
a comunidade 1° de setembro, na Caximba, região sul da capital e hoje atende várias comunidades de Curitiba e região metropolitana, em uma parceria com a Central Única das Favelas (CUFA). As amigas envolvidas no projeto relatam que chegam cansadas em casa todos os dias, mas com a sensação de dever cumprido. A cada ação as forças se renovam, sabendo que mais uma família terá o alimento na mesa naquele dia. Enquanto relatam algumas cenas que já presenciaram, é inevitável a emoção, que chega com as lágrimas.