Foto: Terra de Direitos
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ANO IX- NÚMERO 60 – CURITIBA, OUTUBRO DE 2018
LEIA NESTA EDIÇÃO Pais ausentes e filhos abandonados: a ferida que não cicatriza - Página 3 Agricultura urbana e a oportunidade de colher o próprio alimento - Páginas 4 e 5 Arte nas ruas: confira a história do pintor japonês Tadashi Ikoma - Página 10
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Jornal Laboratório - Curso de jornalismo do Centro Uninter
Opinião
MARCO
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N.º 60 – Outubro de 2018 Foto: Divulgação
Ao Leitor Ter o direito é uma coisa, conseguir a efetividade do direito é outra. E ter acesso ao direito é ainda outra coisa. E é isso que vemos em várias situações no país. Um abismo entre a realidade e o rol de direitos dos cidadãos. O direito de ter acesso à assistência jurídica é um deles. No Paraná, este direito, que deveria ser amparado pela Defensoria Pública, carece de atenção. Uma das últimas defensorias a ser instaladas no país, a paranaense também está entre as últimas em termos de abrangência. Ou seja, a assistência é baixa justamente pelo baixo número de defensores. De uma proporção de 1 defensor a cada 15 mil habitantes com renda entre um e três salários-mínimos, o estado atende apenas 8% disso. No fim das contas, quem precisa de um auxilio deve passar horas em filas para conseguir atendimento, ou ainda procurar um advogado dativo. Esta matéria, que ilustra a capa da atual edição do Jornal Marco Zero, foi produzida pelos alunos Patrícia Lourenço e Eduardo Igor. Nas páginas do Marco Zero, você também encontrará uma reportagem sobre alimentação e áreas urbanas. Já pensou em plantar alface, cenoura, tomate e até árvores frutíferas em seu quintal ou na saca da do seu prédio? Pois bem, milhares de pessoas estão levando a agricultura urbana a sério e produzindo alimento no meio da cidade. E tem aplicativo que ajuda. A matéria de Luis Gustavo traZ exemplos de agricultura entre prédios. A dor de quem busca saber sua origem é contada pela aluna Ivone Souza em reportagem sobre a luta de filhos que vivem à sombra do abandono de pais. E tem muito mais no Jornal Marco Zero: cultura, tecnologia, política, direitos humanos e esporte são temas com matérias aprofundadas nesta edição do seu jornal da região central de Curitiba. Boa leitura!
O luto através do tempo
As batalhas contra a memória e a dor da perda são temas representados no filme A Ghost Story, um drama sobre a vida e a morte Larissa
OLIVEIRA
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Ghost Story é um filme de 2017 e pertence ao gênero drama (meu preferido, por sinal). Quem dirigiu esta poesia cinematográfica foi David Lowery, (quem espero que continue nos presenteando com obras assim) pois este filme é simplesmente incrível. O enredo do filme retrata um casal apaixonado que se muda para uma casa, e lá eles vivem tranquilamente até que o marido (Casey Affleck) sofre um acidente de carro e morre. Ele se torna um fantasma, e daqueles bem “cartunescos”. Mas há um motivo para isso, acredite.
Tudo o que vemos no filme é um lençol branco com recorte nos olhos. Ele caminha por aí sem ser notado, e vive vigiando a esposa (Rooney Mara). Parece muito simples, não? Mas esta obra é rica em detalhes, simbologias e significados filosóficos. Em diversos momentos me lembrei de Nietzsche e seu conceito de eterno retorno. Caso o demônio te questionasse se estaria disposto a viver esta vida novamente, da mesma forma, sem nenhuma mudança, por inúmeras e inúmeras vezes, sem nada novo, qual seria sua resposta? As mesmas dores, os mesmos erros, a mesma vida. Di-
Passo 1 Use o QR-Code ao lado para ser encaminhado à área do aplicativo no Google Play
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á pensou em assistir a uma entrevista nas páginas de um jornal impresso, em vídeo? Ou quem sabe conferir um mapa em terceira dimensão, ou ainda interagir com elementos gráficos que saem das páginas? O que há poucos anos seria um sonho, agora é possível e está nas suas mãos. Isso mesmo! Venha com o Marco Zero na onda
Passo 2 da Realidade Aumentada, uma tecnologia que permite a interação entre elementos reais e virtuais. Para entrar nesta viagem, é fácil e rápido. Siga as instruções e participe da experiência da notícia interativa. Nesta primeira versão, o recurso pelo aplicativo do Marco Zero está disponível apenas para aparelhos com sistema operacional Android.
Confira se o seu celular e a versão do seu Android são compatíveis. Depois, clique em instalar.
Passo 3 Com o APP aberto, aponte a câmera do seu celular para a página do MZ quando tiver a imagem ao lado
fícil dizer qual seria nossa reação. Com a premissa do filme estabelecida, vemos a moça entrando em uma rotina de sofrimento pela ausência do amado. Notamos o passar do tempo pelo mudar das estações. Vemos ela se fortalecendo, voltando a “viver” novamente, a sorrir, sair, conhecer outras pessoas. Fernando Pessoa já falou sobre isso em um de seus poemas mais dolorosos: “Depois, lentamente esqueceste. Só és lembrado em duas datas, aniversariamente: Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste”.
A vida segue. A mulher reforma a casa e decide buscar novos rumos em outro lugar. O espirito fica. Há um apego do espectro com a casa. Outras pessoas passam a morar lá, e Affleck dá um show de atuação, mesmo limitado pelo pano branco, ele nos faz perceber suas angústias, o ciúme que sente do seu lar, da sua morada. São poucos os diálogos no filme, seu ritmo não é como os dos filmes comerciais, é lento e contemplativo, sua fotografia é bela e encantadora, o roteiro é bem escrito e a trilha sonora é um show à parte. Tudo neste filme me deixou boquiaberta. Porém, tenho consciência que ele não é uma obra para qualquer pessoa. É um filme para quem está disposto a entender um pouco mais sobre o universo. Este filme me fez pensar sobre a complexidade da existência, sobre a morte, sobre a perda, sobre o tempo, sobre outras dimensões, sobre amor, sobre apego, sobre as dores, sobre as cicatrizes, sobre o meu propósito em meio a essa multidão de bilhões de pessoas. A pouco mais de uma hora e meia do filme me fez pensar muito sobre quem sou, sobre a realidade que me rodeia. “A Ghost Story” é um filme que marca a alma, é uma história pura que nos dá uma lição. Mesmo que ela pareça dolorosa e nos arranque lágrimas, vale a pena.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente: quando faz anos que nasceste, quando faz ano que morreste EXPEDIENTE
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O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter
Coordenador do Curso: Guilherme Carvalho Professor responsável: Alexsandro Ribeiro Diagramação: Equipe Marco Zero Projeto Gráfico: Equipe Marco Zero Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131, CEP 80410-150 |Centro- Curitiba PR E-mail - alexsandro.r@uninter.com Telefones 2102-3377 e 2102-3380.
N.º 60 – Outubro de 2018
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desconfortável. Hoje, aos 44 anos, ela diz que o encontro foi distante. “Ela parecia uma pessoa estranha para mim”, lembra. Casos de abandonos como o de
Elisandra ocorrem diariamente no país. A cada hora, ao menos uma denúncia de abandono de criança é feita no Brasil. Os dados são do Ministério dos Direitos Humanos (MDH). Segundo o órgão, entre 2012 a 2018, foram registradas mais de 56 mil denúncias de abandonos de crianças. Em seis anos, o total de denúncias aumentou em cerca de 45% em todo o país. Elisandra foi abandonada com menos de um ano de idade, logo após o falecimento do pai. A mãe dela não deu conta de criar os sete filhos e por isso teve que doar todos. Cada um para uma família diferente. Uma carta escrita pela mãe pedindo para que a cunhada cuidasse de sua filha confirma o abandono. A menina foi criada pela tia e pela avó, e diz não ter sentido falta da mãe. “Minha mãe adotiva, minha avó e Deus me criaram muito bem”, esclarece. Segundo a psicóloga Priscila Rocha Biral, a família exerce papel importante no desenvolvimento de cada
Número de denúncias de abandonos de crianças Disque Direitos Humanos do MDH - 2012/17
indivíduo. Priscila afirma ainda que cada pessoa irá sentir a falta materna ou paterna de uma maneira diferente. “Na ausência materna ou paterna a criança poderá encontrar outras referências, como tios, avós e mesmo irmãos mais velhos”, declara. Ainda sem conhecer pessoalmente seu pai, Janaina Cristina da Silva, 24 anos, sente a falta paterna. Apesar de ter no padrasto uma figura paterna, ainda criança a jovem passou a sentir que o companheiro da mãe não era o verdadeiro pai. Foi então que a sensação de abandono passou a fazer parte de sua vida. Em um certo momento da vida, a mãe dela disse que o padrasto não era seu verdadeiro pai, mas era muito criança para entender. “Foi um choque muito grande, afinal eu não tinha nada a ver com o passado deles!”, desabafa. Casos como de Janaina são explicados pela psicóloga como a necessidade de preencher um vazio quase que físico. “Quando a criança não entende o contexto e não compreende as razões dessa ausência esse sentimento de vazio pode se transformar em uma ferida emocional ou problemas de comportamento”, alega Priscila. Há situações também em que o abandono afetivo se torna tão grande ou maior que a distância física, podendo ocasionar diversos distúrbios. O problema mais recorrente no desenvolvimento pessoal, aponta a psicóloga, é o sentimento de inferioridade. “Toda criança precisa do tempo de qualidade e de sentir esse afeto que vem do cuidador, independentemente se é pai ou mãe, pois a ausência pode se caracterizar também pela
falta de qualidade de tempo junto com a criança”, defende a psicóloga. Há três anos Janaina tomou a decisão de procurar o pai biológico e fazer com que ele a reconhecesse como filha. A jovem busca diariamente na internet, referências e formas de o encontrar, e está cada vez mais perto disso. No entanto, a rejeição permanece mesmo após anos. Procurando por ele em uma rede social, viu o rosto dele e o da nova mulher. Chegou até a conversar com um irmão dele, mas ele disse que não iria “se meter” nessa história do passado do irmão. Chegou a tentar falar com ele, mas o pai não quis contato. “Ele não se mostrou interessado”, lamenta. Janaina diz ficar mais triste ao descobrir que toda a família dele nunca quis saber dela. Apesar disso, ela está determinada a seguir em frente, mesmo que isso lhe cause algum desgaste emocional.
Ivone
SOUZA
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“Quando a criança não entende as razões da ausência, o de vazio pode se transformar em ferida emocional” “Eu só penso de ir atrás e ouvir o que eu não quero ouvir. Mas hoje já amadureci bastante para poder enfrentar algumas situações emocionais”, garante. Foto: Ivone Souza
Dados: Ministério dos Direitos Humanos/ Gráfico: Marco Zero
Conheça a história de pessoas que cresceram sem a presença dos pais biológicos e que lutam diariamente para enfrentar a dor do abandono
Foto: Ivone Souza
Elisandra foi abandonada com menos de um ano de idade, logo após o falecimento do pai
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Pais ausentes: a ferida que não cicatriza
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oi por meio de um programa de rádio que Elisandra Cristina da Luz, à época com 17 anos, descobriu o paradeiro de sua mãe biológica. Quem fez o anúncio na rádio foi o noivo, que pediu aos ouvintes informações sobre o paradeiro de sua futura sogra. Ele fez isso porque Elisandra precisaria da assinatura da mãe para casar, já que era menor de idade. O reencontro com a mãe foi combinado pelo tio, que ouviu o apelo do noivo na rádio. Poucos dias antes do casamento, mãe e filha, após 17 anos separadas, ficaram frente a frente. Mas a expectativa de Elisandra ficou longe de ser atingida e o que era para ser um momento de felicidade, transformou-se em uma cena
Direitos Humanos
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A esperança motiva Janaína a procurar seu passado na internet
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Cidades
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N.º 60 – Outubro de 2018 Foto: Luis Gustavo
Quando a comida vem do quintal de casa Qualquer vaso ou meio metro de terra se torna área fértil para hortas caseiras na agricultura urbana, prática responsável pela produção de cerca de 20% dos alimentos mundiais
Luis
GUSTAVO
Além da produção de alimentos, a prática da plantação em casa revela benefícios para a educação e até para a saúde mental das pessoas
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casa para plantar os famosos “cheiros verdes” ou pés de alface. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as atividades de hortas comunitárias ou de plantações em casa auxiliam as famílias, pois complementam
tos em seu quintal, em Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba. A atividade ajuda também na educação sustentável da sua filha de sete anos, Ana Lima, que é incentivada a colaborar no trato da horta. Para Lima, nada substitui o prazer de pegar uma fruta direto do pé ou então consumir uma salada sem conservantes e com barata.
Cerca de 800 milhões de pessoas Uma plantação na se dedicam à do prédio agricultura urbana sacada Para o engenheiro agrônomo Eugênio Stefanelo, não é preciso no mundo, estima ter uma área muito grande para a Ong Worldwatch começar a plantar em casa. Segundo o profissional, é fundamental Institute ter sol, água e motivação. “Para as suas rendas e contribuem para criar comunidades mais felizes e saudáveis promove a interação entre grupos excluídos e vulneráveis à sociedade e oferecem um canal construtivo para a energia de jovens e adolescentes. Cobrador ambulante, Pedro Lima, 60 anos, mantém uma plantação em seu quintal. Entre uma cobrança e outra, dedica parte do tempo que resta do dia para cuidar da sua pequena lavoura, que vai muito além de hortaliças. “Aqui tem pé-de-café, limoeiros, pé-de-laranja, cebolinha, salsa, couve e muito mais”. Mesmo não conseguindo todo o tempo que gostaria para se dedicar à plantação, segue firme com a atividade, pois sabe que o que come é saudável e tem todo o cuidado para não perder nada. Além da plantação, Lima tem ainda uma granja e criação de pa-
fazer uma pequena horta caseira, é importante iluminação, um pedaço de terra ou vasos, água, boa vontade e, obviamente, adquirir as mudas e sementes. Com isso é possível fazer uma horta caseira”. Independentemente do tamanho do quintal ou da área dedicada à horta, o engenheiro afirma que é possível em casa plantar praticamente todos os produtos que quiser consumir, como por exemplo tempero verde, alface, repolho, beterraba, rabanete e couve. O benefício, para Stefanelo, também está na terapia que a lida com a horta pode se tornar, principalmente para as crianças. “É comprovado cientificamente que esse contato com a terra deixa a criança mais tranquila e mais cal-
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ma e isso é muito bom para a família, pois é algo simples e bem possível de fazer”.
Um “kit plantação” por mês em casa
Já pensou em receber em casa todos os meses todo o material para cultivar uma horta? Essa é uma Foto: Luis Gustavo
e você acha que agricultura urbana se restringe ao cultivo de meia dúzia de temperos, saiba que está redondamente enganado. Cerca de 20% dos alimentos consumidos no mundo vêm de hortas urbanas, é o que aponta o levantamento feito pela Ong americana Worldwatch Institute, especialista em sustentabilidade ambiental. A organização estima que 800 milhões de pessoas se dedicam à agricultura urbana em todo mundo. Em muitas cidades, a agricultura se dá nas hortas comunitárias, que são espaços cedidos pelo poder público para uso comum ou áreas compartilhadas entre comunidades para pequenas plantações. Dentre as vantagens do cultivo está a promoção de uma alimentação com mais qualidade e sem agrotóxicos. Porém, não é apenas em hortas comunitárias que isso se desenvolve. Muitas pessoas têm um canteiro em
Lima incentiva sua filha de sete anos, Ana, a ajudar na horta e adotar hábitos sustentáveis
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Cidades
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Foto:Luis Gustavo
Um guia de botânica na palma da mão
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gora ao clicar de uma foto é possível descobrir a rica biodiversidade no quintal da casa da sua avó, ou identificar ervas e plantas em qualquer aventura ou passeio na mata. Basta levar seu celular. Isso porque uma série de aplicativos prometem identificar tipos de plantas de forma rápida e fácil. São milhares de referências nas bibliotecas de cada aplicativo, com interfaces diferenciadas e com profundidade de informação condizente com sua necessidade. Além de saber qual tipo de
erva, quer saber também para quais tipos de males e dores é recomendada ou os seus benefícios? Basta usar o aplicativo. Compilamos alguns aplicativos que você pode instalar no seu celular e sair por aí mapeando a flora da sua casa. Instale e descubra!
Nos kits, os integrantes do clube têm acesso às sementes, fertilizantes, instruções e até a terra
“Eu produzia meu próprio alimento e ainda mantinha um hobby, um prazer pela coisa, sem contar que acordava de manhã, tomava um café e cuidava das plantinhas”
to que ajudasse as pessoas a cultivar seu próprio alimento. No Minhorta todo mês o assinante recebe em casa um kit para plantar de acordo com a estação do momento. O pacote acompanha a terra em quantidade suficiente para as sementes, fertilizantes e inclusive manual de instrução para plantar e cuidar das plantas. Os kits vêm com embalagem ou caixinha de madeira que a pessoa
pode usar como vaso. Segundo Tomio, a startup vem dando resultados positivos. “As pessoas mandam fotos para mim ou mensagens pedindo ajuda de como proceder em certas situações, isso me deixa feliz e mostra que está dando certo”. O engenheiro considera que a startup contribui até mesmo para as crianças, pois segundo relatos de assinantes, quando chegam da escola querem logo mexer nas plantinhas. Foto:Luis Gustavo
das propostas do Minhorta, serviço criado pelo engenheiro Matheus Tomio, parecido com clubes do livro, em que o assinante adquire mensalmente um kit com semente e todos os subsídios para ter uma pequena plantação em sua residência. A ideia, segundo Tomio, surgiu quando foi fazer um intercâmbio na Catalunha. O engenheiro afirma que quando ia ao mercado, comprava hortaliças e temperos que sempre vinham com a raiz. Isso despertou nele o interesse em cultivar na varanda do seu apartamento essas raízes em caixas de leite ou em garrafas pet. “Eu produzia o meu próprio alimento e ainda mantinha um hobby, um prazer pela coisa, sem contar que acordava de manhã, tomava um café e cuidava das plantinhas”. Em 2017, de volta ao Brasil, o engenheiro sentiu a necessidade de incentivar amigos e conhecidos a fazer as plantações em casa. No entanto, desculpas como “ah, eu vivo em apartamento, não dá” e “nunca mexi na terra” sempre persistiam quando dava a ideia para as pessoas. Foi aí que surgiu a ideia de criar um proje-
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aplicativo pode ser usado em coleta, anotação e pesquisa de imagens para identificação de plantas. Nesta plataforma, além de descobrir plantas, você também pode contribuir para o aumento da biblioteca de referência. O app foi desenvolvido por um consórcio que envolve cientistas de organizações de pesquisa francesas.
Gardenia
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plicativo exclusivo para quem tem aparelhos com a plataforma IOS, o programa é um guiia eletrônico de botâqnica desenvolvido por pesquisadores das Universidades de Columbia, de Maryland e da Smithsonian Institute. O app atualmente inclui árvores encontradas no nordeste dos Estados Unidos e no Canadá.
Tomio: ideia é ajudar as pessoas a cultivar seus próprios alimentos
PlantNet
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ais de 90 mil espécies de plantas, além de informações botânicas e dicas de jardinagem, estão no rol de serviços e benefícios prometidos pelo aplicativo. São mais de dois mil bancos de dados que dão informações sobre as plantas, quais os melhores dias ou épocas do ano para determinados tipos de sementes, quando e como regar, e muito mais.
Leafsnap
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Especial
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Foto:Patrícia e Igor
Quando não se alcança a justiça
No fim da lista dentre os estados, Paraná tem apenas 8% do número de defensores públicos recomendado pelo Ministério da Justiça
Patrícia
LOURENÇO
Eduardo
IGOR
Todos os dias, filas se formam em frente à Defensoria Pública. Nem todos conseguem representação jurídica.
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odos são iguais perante a lei. É o que aponta a Constituição Federal de 1988, que completou neste ano três décadas. A Constituição prevê também aos brasileiros e estrangeiros residentes no país o acesso à Justiça. No entanto, para ser representado, diferente de outros países, no Brasil, o cidadão deve se valer da figura do advogado. Pela legislação brasileira, conforme aponta o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instituição que busca fiscalizar e regulamentar o poder judiciário, a figura do advogado só não é obrigatória em três casos: em pedidos de habeas corpus, em processos trabalhistas de primeira e segunda instância e em juizados especiais. Em todos os outros casos, ter um advogado é fundamental. Contudo, o acesso à justiça pode não ser tão acessível assim. É aqui que as defensorias públicas atuam na efetivação deste direito. Em seu site, o CNJ define como defensoria uma “instituição pública que presta assistência jurídica gratuita àquelas pessoas que não possam pagar por esse serviço”. Crianças, adolescentes, grupos minoritários e necessitados estão no grupo de assessorados pela Defensoria, que pode atender qualquer tipo de ação judicial na área da família, criminal, fazenda pública, previdenciária e outras.
É o caso do costureiro Rafael Henrique, que responde por processo de registro de paternidade. Henrique fez o teste de DNA e descobriu que não é o pai biológico da criança. Sem condições de contratar uma assessoria jurídica privada, viu no estado a oportunidade de conseguir uma defesa. “Como é minha primeira vez buscando essa ajuda, sinto-me feliz por ter a defensoria”, completa. No papel, o direito à defesa do cidadão está garantido. Mas na prática, nem sempre funciona assim. Isso
porque, ao menos do ponto de vista numérico, há um déficit considerável no Paraná. De 333 defensores que a legislação determina para a composição do quando estadual, apenas 96 estão efetivamente contratados. Isso equivale a 28% do que era previsto na criação da defensoria no estado. Isso é pouco? Sim! Mas o cenário é ainda pior. Ainda mais se considerar que o Ministério da Justiça aponta que o ideal para cada estado é ter um defensor púbico para cada 15 mil pessoas com renda mensal de até três
salários-mínimos. Nesta proporção, considerando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), deveriam ser 1,1 mil defensores públicos. Desta forma, os 96 defensores que o estado tem representam apenas 8% do que o ministério considera o ideal. De acordo com a ex-ouvidora da Defensoria Pública, Maria de Lourdes Santa de Souza, falta de defensores tolhe o direito de quem menos tem condições de recorrer à assessoria privada. “A ausência destes defensores é
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extremamente prejudicial à população paranaense, pois impede que o povo acesse a justiça com qualidade e com prioridade”, afirma Maria.
Variação da abrangência por comarcas (2003-2014) e proporção de atendimento em 2014
Dados:Ministério da Justiça
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De 333 defensores que a legislação determina para a composição estadual, apenas 96 estão efetivamente contratados. Isso equivale a 28% do que era previsto na criação da defensoria no estado. Paraná está entre os piores em abrangência da defensoria
O cenário coloca o Paraná no fim da lista de estados com os piores quadros de defensoria pública, é o que aponta pesquisa feita pela Associação Nacional das Defensorias e Defensores Públicos (Anadep). Isso tanto em quantidade de profissionais quanto em abrangência de atuação. De acordo com a associação, das 161 divisões ou comarcas judiciais, o órgão atua em apenas 17, o que representa 11% do total. No plano nacional, o quadro, se-
MARCO gundo levantamento do Ministério da Justiça, não muda muito. A média de abrangência em unidades jurisdicionais das defensorias no Brasil é de 13% segundo o estudo. No Paraná, a situa ção é agravada com a diminuição de atendimento da Defensoria em unidades no interior do estado devido à falta de recursos para ampliar o quadro de defensores, o que torna o acesso ao direito ainda mais precarizado. O resultado é um limite de atendimento diário que reduz a amplitude de defesa dos cidadãos e que aumenta o tempo de espera de quem procura a defensoria. De acordo com a Defensoria, todos os dias são distribuídas 65 senhas às sete horas da manhã. Destas, 35 são para atendimento preferencial – idosos, gestantes, pessoas com deficiência- e 30 para atendimento geral. Se por um lado, conseguir uma senha é uma conquista, por outro, a demora em ser atendido frustra e até prejudica a motivação. “É precário e desumana a situação. Cheguei aqui às nove horas. Mais de três horas e ainda estou aguardando o atendimento”, desabafa José Augusto da Silva, após passar a manhã à espera de ser chamado para averiguar sua demanda jurídica. O mesmo para Henrique, que reservou o dia para buscar esclarecimento sobre seu caso de contestação de paternidade. Com o exame de
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Proporção de comarcas atendidas pela Defensoria Pública Estadual
Dados:Ministério da Justiça
DNA negativo em mãos, chegou às sete horas para pegar uma senha, e cinco horas depois ainda estava sem previsão de ser atendido.
Na falta de defensores, advogados dativos se tornam solução
Foto:Patrícia e Igor
Rafael Henrique: cinco horas na fila por um atendimento
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Quem não consegue atendimento na Defensorias e precisa agilidade na resolução de problemas, a solução é buscar advogados dativos. Conforme define o CNJ, apesar de fazer a vez de defensor no caso em que o cidadão não tem condições financeira de buscar representações, o dativo “não pertence à Defensoria Pública, mas exerce o papel de defensor público, ajudando, por indicação da Justiça, o cidadão comum”. Neste caso, o advogado é custeado pela administração pública. Para ser dativo, contudo, o advogado deve se cadastrar nos tribunais de justiça ou na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), órgão de classe da categoria, que administra as contratações e que regula a função. A diferença principal entre um tipo de profissional e o outro é que
No Paraná, a situação é agravada com a diminuição de atendimento da Defensoria em unidade no interior do estado devido à falta de recurso para ampliar o quadro de defensores, o que torna o acesso ao direito ainda mais precarizado.
o Defensor Público é um servidor de carreira com especialidade em atendimento da população carente, e que está inserido em uma estrutura com serviço multidisciplinar que propõe uma assessoria assistencial e até com atendimento psicológico para o cidadão. Para a ex-ouvidora da Defensoria Pública do Paraná, Maria de Lourdes Santa de Souza, mesmo com os esforços dos advogados dativos na tentativa de suprir a deficiên-
cia de número de defensores, ainda faltam condições de atendimento. “Os advogados dativos têm buscado atender aos anseios e à confiança da população, consolidando-se como importante instituição no cenário paranaense. Desta forma penso que a Defensoria é muito importante mas precisa ser melhor estruturada para atender de fato quem precisa e não tem condições de arcar com despesas de advogados particulares”, afirma Maria.
Qual a função da Defensoria Pública? A Defensoria Pública é uma instituição autônoma que tem o objetivo de dar suporte à população que recebe até três salários mínimos, e também grupos sociais e movimentos sociais. Conforme preconiza a Lei 13.105/2015, sobre o Código de Processo Civil, a “a Defensoria Pública exercerá a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral e gratuita”. Segundo Adrian Wosniak, assessor de imprensa da defensoria, “as pessoas ao procurarem a defensoria, passam por um processo de triagem e logo são encaminhadas aos defensores e defensoras responsáveis por cada assunto,
como família ou execução penal. Em alguns casos, o encaminhamento pode ser para o Centro de Atendimento Multidisciplinar, que dará continuidade ao atendimento através de psicólogos e assistentes sociais.” De acordo com levantamento do Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil, do Ministério da Justiça, a Defensoria Pública do Paraná, instituída por lei complementar em 1991, foi a 11a. instalada no país. Para comparação, o Rio de Janeiro criou a primeira, em 1954, e Santa Catarina a última, em 2012. Na prática, porém, a Defensoria Pública do Paraná só começou a trabalhar em 2011, ano em que o estado publicou a lei orgânica que a organizou.
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Cultura
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N.º 60 – Outubro de 2018 Foto: CMC
A arte das ruas Bruno
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Teatro, improviso, pintura e música tornam as vias e calçadões de Curitiba pulsantes e alegres. No centro do espetáculo, estão os artistas de rua, personagens centrais no enredo da arte
Legislação em Curitiba regulamenta a profissão de artista de rua e garante benefícios aos profissionais
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as festas dionisíacas da Grécia antiga às peças de Shakespeare ao ar livre, o artista de rua possui um papel fundamental no desenvolvimento da dança, artes cênicas, música, pintura e literatura. Com a institucionalização das artes nos museus, teatros e galerias, a manifestação artística nas ruas é uma resistência. Em Curitiba, o artista de rua é personagem que integra as praças e calçadões da capital paranaense há anos. É impossível não se deparar com um músico, pintor ou palhaços quando se passa pela Rua XV de Novembro ou pela Praça
Rui Barbosa. A pulsão as ruas e a conexão direta com o público são os diferenciais que incita o início de diversos artistas. O músico James Marçal é um deles. Para ele, que atua profissionalmente como fotógrafo, mas que se apresenta vez ou outra na Praça Osório, no centro de Curitiba, a interação com o público é o que o atraiu para se apresentar na rua. A interação com o público vem de várias formas, revela o artista, que se apresenta sozinho tendo como apoio apenas um amplificador e um microfone. Marçal afirma que alguns param para apreciar seu Foto: Acervo Pessoal
se registar como artista de rua, dependendo do caso, é preciso passar por uma banca avaliadora.
Um artista de rua legislando na Câmara dos Vereadores
“A Praça Ruy Barbosa me alimentou por muito tempo”, é o que afirma o vereador Adilson Alves Leandro (PSC), autor da lei que regulamenta as apresentações artísticas em espaços públicos em Curitiba. O vereador, que é conhecido pelo seu nome de capoeira, Mestre Pop, afirma ter se apresentado em mais de 500 cidades em 17 estados ao longo da sua carreira como artista de rua. Seu início no oficio, como na maioria dos saltimbancos, foi tímido. Aos vinte anos começou sua carreira ajudando um grupo de capoeira em São Paulo. Com o passar do tempo foi aprimorando e adicionando elementos à sua performance, como chicotes e facas. “Foi na rua que eu aprendi a me comunicar, a dividir, a entender os problemas da população. Quando sai da minha cidade natal em Minas
Muitas pessoas apreciam o nosso trabalho e param para elogiar, mas existe uma parte da população que não consegue entender que a rua pode ser uma galeria de arte Gerais, as pessoas que me acolheram foram os artistas de rua, eu possuo uma dívida com essa comunidade”. A sua experiência e a histórias de violência e preconceito ao longo da sua carreira foram motivadores para apresentar o projeto que amplia os direitos dos artistas de rua. Sancionada em 2015, a lei garante não só a segurança do artista, mas também a diferenciação em comparação ao vendedor ambulante. “O mais importante dessa lei é o reconhecimento do artista de rua como trabalhador”, completa Pop. Foto: Bruno Curuca
Mestre Pop: de artista de rua a vereador que representa a arte
talento, como funcionários de escritórios e de algumas lojas das redondezas. Muitos o filmam e postam as performances nas redes sociais. O que muitos enfrentam como um “bico” ou até um hobby, para outros é a principal função profissional. É o caso do pintor de quadros, João Carlos Moreira, de 63 anos, que formado em contabilidade há três décadas encontrou sua vocação retratando cenas bucólicas em telas. Autodidata, Moreira começou a se dedicar exclusivamente à pintura por falta de oportunidades no mercado de trabalho formal. “A partir da crise de 1985 que eu descobri que poderia viver das minhas obras”, diz o pintor. As paisagens inspiradas na serra paranaense, morada do pintor, têm venda facilitada para garantir a satisfação do comprador. “Hoje eu faço parcelado no cartão em quantas vezes for melhor para o cliente”. A liberdade de trabalhar nas ruas, no entanto, nem sempre é um paraíso, confessa o artista. “Muitas pessoas apreciam o nosso trabalho e param para elogiar, mas existe uma parte da população que não consegue entender que a rua pode ser uma galeria de arte. Para trabalhar na rua é preciso ter muita paciência e amar o que faz”. Outra dificuldade é a burocracia para buscar a formalização. A prefeitura de Curitiba, por exemplo, estima que apenas 40% atua com registro ou com aval da Fundação Cultural de Curitiba, instituição que coordena e instrui artistas registrados. Para muitos artistas, o entrave está no processo para receber a documentação. Para
Boca Maldita: uma galeria ao céu aberto
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Esporte
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9 Foto: Glória e Jéssica
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e educados!
É prática rotineiro jogadores de futebol americano ajoelharem-se em campo em sinal de respeito ou até de homenagem
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Jéssica de
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Ajoelhar-se em campo: o gesto foi usado em 2017 como forma de protesto contra violência às minorias nos EUA
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inspirada na prática do esporte pelos estadunidenses. “Vem da cultura do Futebol Americano nos Estados Unidos. Como o Brasil busca se espelhar na Liga Nacional de Futebol (NFL), College Football e até o High School, tais costumes acabam por influenciar as ações por aqui”, aponta o publicitário e diretor de comunicação da Federação Paranaense de Futebol Americano, Valdomiro Júnior. Esse ato acabou ficando mais conhecido por quem não acompanha a modalidade esportiva com os protestos feitos por jogadores da NFL em 2017, ao se ajoelharem em campo durante a execução do hino nacional americano em repúdio à violência policial contra minorias raciais naquele país. A atitude chegou a ser entendida por alguns como falta de respeito com a nação, mas a verdadeira intenção era protestar e pedir respeito
aos negros. Após esses protestos, muitos atletas de outros esportes e até mesmo celebridades sem ligação com algum esporte adotaram o ato de “joelho no chão” como forma de apoiar os jogadores.
A inspiração para isso veio de Colin Kaepernick, quarterback do 49ers, que começou com essa forma de protesto praticamente um ano antes deles tomarem conta das franquias da NFL. Foto: NFL
uitos encaram o futebol americano como um esporte recheado de brutalidade. Mas quem assistiu ao menos um jogo desta modalidade esportiva já pôde acompanhar um ato comum aos olhos dos amantes da bola oval e que contraria esta imagem de duro e violento. Há muito jogo limpo e sobretudo sinais de respeito dentro do campo. Prova disso é o ato em que os jogadores, em grupo, se agacham e colocam um dos joelhos no chão. Este é um sinal de respeito ao próximo, realizado em alguns momentos do jogo, sobretudo quando um dos jogadores se machuca, ou quando algum técnico quer falar ao time, ou ainda quando fazem um minuto de silêncio pela morte de alguém próximo ao time. Essa cultura de respeito, assim como a prática desta modalidade, é
Colin Kaepernick (direita) é um dos pioneiros da ação na NFL
Um jogo com regras claras! Nem tudo é possível no Futebol Americano. Um dos principais esportes estadunidense, o jogo é composto por regras duras que buscam não apenas garantir isonomia em campo, mas também manter a segurança dos jogadores. Isso mesmo, é muita força bruta em campo, e por isso, toda cautela é pouca. Confira algumas das principais infrações e punições. Facemask: Segurada na máscara (grade do capacete). É a falta mais perigosa do futebol americano. Ocorre quando um atleta segura a grade do capacete adversário. Isso pode causar lesões graves de coluna cervical. Holding: Segurada. Só é permitido segurar o jogador de posse de bola. Os demais podem apenas se empurrar. Se um atacante segurar um defensor, a punição é o recuo de 10 jardas.
Vem da cultura do Futebol Americano nos Estados Unidos. Como o Brasil busca se espelhar na Liga Nacional de Futebol (NFL), tais costumes acabam por influenciar aqui, afirma o diretor da federação, Valdomiro Júnior
Unsportsmanlike: Conduta Anti-Desportiva. Quando um jogador faz algo que não é permitido, como uma violação flagrante de uma regra ou uma falta por causa de provocação do jogador adversário ou até mesmo com um comportamento que, segundo a liga, não condiz com a conduta de um profissional. A falta pode ser uma penalização de 15 jardas ou até mesmo a expulsão do jogador. Intentional Grounding: Ocorre quando um quarterback se livra da bola para evitar um sack (e a perda de jardas). Mas só é considerada falta se ele estiver na área de proteção de seus bloqueadores (pocket) e arremessar onde não haja jogador. Personal Foul: Falta Pessoal. Falta relacionada a segurança e conduta. Significa uso excessivo de força, de qualquer “golpe” (soco, chute, cabeçada etc) ou mesmo um tackle fora de campo ou após o fim da jogada. Penalidade: 15 jardas e 1st down automático.
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Perfil
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N.º 60 – Outubro de 2018 Foto: Eurico Ikoma
O poeta das cores que unem dois mundos Ana
OLIVEIRA
Dono de um acervo de mais de 32 mil pinturas vendidas, por décadas Tadashi Ikoma mergulhou o centro de Curitiba em cores vivas e traços expressivos
Pintura do filho do artista japomnês, Eurico Ikoma, reflete a influência de estilo artístico criado ao longo de décadas no Brasil
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ois mundos se encontram nos traços de Tadashi Ikoma, pintor que do oriente desembarcou no Brasil há 92 anos em busca de uma vida melhor. Natural da província de Mie, o japonês Tadashi Ikoma nasceu em 1911, e logo cedo deixou sua terra natal para enfrentar uma cultura estranha em terras tu-
piniquins. Durante décadas as telas coloridas de Ikoma inundaram o calçadão da Boca Maldita com a leveza da sua poesia pictórica. Os traços que impressionaram os olhares de quem circulava pelo centro curitibano, no entanto, não revelavam uma história de sonho e superação de quem nunca deixou de respirar Foto: Arquivo Pessoal
trabalhos publicado no Brasil e no Japão, colaborando com contos, romances e hai-kai para revistas nipônicas de São Paulo. Em 1960, foi homenageado e recebeu a medalha de ouro no salão Cinquentenário de Presidente Prudente. Logo após, muda-se para Curitiba. Dono de um amplo conjunto de obras, começou a expor seus trabalhos em galerias e salões. De acordo com seu filho, Eurico Ikoma, que hoje herda seus traços e história, o japonês chegou a marca de 32,1 mil pinturas vendidas, das quais 19 mil expostas em diversas galerias do mundo inteiro como Estados Unidos, Japão, México, Argentina, Israel, Espanha, Itália, África do Sul, Alemanha e Portugal. Patriarca de uma família de três gerações de artistas, Ikoma faleceu em 2007, a quatro anos de completar o centenário. Foi autor
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de obras resultantes e de ousados traços com cores vivas. Nem suas mãos calejadas pelo cabo da enxada e nem as dificuldades do tempo envelheceram sua alma. A expressividade da sua poesia em cores continua viva e a florescer, agora pelas mãos de seu filho, Eurico Ikoma, que mantém viva a chama e o espírito do poeta do traço. Uma vida de arte que ultrapassa mares, culturas e gerações. Foto: Ana Oliveira
a arte. Ikoma iniciou seus estudos nas artes plásticas quando frequentava o colégio de Mie-Ken. Apaixonou-se pela pintura e desde então diz que nunca abandonou o ofício. Ao menos não em seu coração. Aos 15 anos, o jovem japonês se viu obrigado a se afastar das artes quando em 1926 embarcou rumo ao desconhecido, no ocidente. Veio para o Brasil, terras longínquas, no porão de um navio de imigrantes. Tão logo sentiu o solo sul-americano sub seus pés, começou a trabalhar na lavoura. Mas trocar os pincéis pela enxada não deixou a alma do rapaz menos sensível. A cada terra arada, a cada buraco aberto no solo, Ikoma via crescer e fortalecer o seu sonho de um dia se dedicar exclusivamente às artes. Isso viria quase cinco décadas depois, quando aos 72 anos retomou com vigor a arte. Adotou a técnica de óleo sobre tela para desenvolver suas obras, que tinha como ponto de partida suas experiências vividas, projetando o inconsciente, o mundo imaginário, aliado com a sutileza do toque místico. A cada pincelada, o ex-agricultor expressava a sofrida luta pela sobrevivência. Dono de um estilo peculiar, Ikoma se inspirava na alegria do sol, da natureza, onde encontrava a força. Sutilmente influenciado pelo grafismo e pelo ritmo da pintura clássica japonesa, filtra e dilui na tela as lembranças do Japão e dos cafezais de Mogiana. Ikoma não se aventurou apenas na pintura. Foi escritor, teve
Filho de Ikoma, Eurico Ikoma mantém viva a arte na Rua XV
N.º 60 – Outubro de 2018
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Tecnologia
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Gabriel
MAFRA
Especial
política na rede
Neste Tá na Web recheado de tecnologia e política, troxemos três opções de acompanhamento do cenário público brasileiro. O primeiro deles é uma oportunidade de conhecer não apenas o quadro atual da política nacional, mas também o de descobrir o histórico presidencialista do Brasil e suas curiosidades. Produzida pela Folha de S.Paulo, a série “Presidente da Semana” é inspirada no Presidential, feito pelo jornal Whashington Post
Presidente da semana
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na eleição americana de 2016. O programa traz a história de todos os presidentes do Brasil em ordem cronológica, começando com Marechal Deodoro da Fonseca e chegando até o presidente eleito em 2018, Jair Bolsonaro. A série teve a participação de historiadores e jornalistas. No inicio de novembro, superou a marca de 2 milhões de downloads.
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Politiquês (Nexo) Produzido pelo portal alternativo de notícias o Nexo, o podcast Politiquês funciona como um jornal digital e procura dar explicações e interpretações equilibradas sobre os principais fatos políticos do Brasil e do mundo. No material é possivel conhecer sobre o ‘‘glossário político’’,
Nem só de podcast é feita esta coluna. Trouxemos aqui também uma plataforma que ajuda a acompanhar o cenário político nacional e a fiscalizar. O Politize! é uma das maiores plataformas de educação política do Brasil. A ideia é facilitar e estimular o conhecimento sobre o tema para o maior número de pessoas. Os conteúdos são gratuitos e estão disponíveis em uma série de formatos, como em podcast, em cursos, revistas, livros digitais e muito mais.
Politize! O trabalho é feito de forma isenta, o canal não possui nenhum tipo de vinculação político-partidária. Fundada em 2015 sob a missão “Fortalecer a cultura política democrática no Brasil, levando educação política a qualquer pessoa, em qualquer lugar”, a Politize! é mantida pelo Instituto de Educação Política, e conta com mais de 160 voluntários que produzem conteúdos diariamente para o portal.
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aprender sobre república, democracia, federalismo, patrimonialismo e outros itens que compõe o mundo politico. A ideia do programa, disponível gratuitamente no site do portal e em diversas plataformas e aplicativos de podcast, é mostrar as ideias que movimentam o país e falar sobre os conceitos que estão na base do debate político. Os programas variam de 20 minutos a uma horas, dependendo da complexidade do tema.
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Ensaio fotográfico
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ZERO
N.º 60 – Outubro de 2018
É preciso fazer alguma coisa Trecho de poema de Thiago de Mello Ensaio de
Felipe
MACHADO
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entro do riso torto que disfarça a amargura da tua indiferença, na mágica eletrônica dourada, no milagre que acende os altos-fornos, no desamor das mãos, das tuas mãos, no engano diário, pão de cada noite, o homem agora está, o homem autômato, servo soturno do seu próprio mundo, como um menino cego, só e ferido, dentro da multidão. Ainda é tempo. Sei por que canto: se raspas o fundo do poço antigo da tua esperança, acharás restos de água que apodrece. É preciso fazer alguma coisa, livrá-lo dessa situação voraz da engrenagem organizada e fria que nos devora a todos a ternura, a alegria de dar e receber, o gosto de ser gente e de viver.