Distribuição gratuita
Uberaba/MG
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confraria cidade vitrola Literal Panorama
mosaico
Perfil
aldo Pedrosa
Meio pop, meio artista
editorial Há três meses convidamos novos e velhos amigos, leitores e parceiros a sentar-se num banquinho em nossa varanda para desfrutar um olhar mais demorado sobre nossa cidade. Esse cafezinho que oferecemos tem marca doce das poesias da nossa terra somada às notas de acidez de uma troçada mineira, sagaz e tímida. Apresentamos o Quixote vivendo o próprio sonho e desafiando esse Boi-pai, criando um mugido de inovação e ocupando as ruas com um questionamento em forma de bailado. Essa quarta edição revela que nas profundezas de toda rebeldia existe o conflito entre o moderno e o tradicional. Muito além de sofrer pelo encontro dessas duas riquezas, estamos dispostos a aproveitá-las. -jornalmuh NOSSA CAPA #4 A foto de capa desta edição foi produzida pelo fotógrafo Guilherme de Sene, que utilizou uma câmera Yashica-Mat de 1957.
Há uma gota de memória e desejo em cada olhar que se lança sobre a cidade. Praças, casarios, parques, avenidas, ruas, escolas, clubes, igrejas, museus, edifícios, condomínios, becos, casas de tapume e matagais. As inscrições do passado presentificam-se nas leituras da cidade do futuro, no momento mesmo em que se vai construindo a sua realidade urbana e projetando-a em sua arquitetura e economia para as próximas décadas, para as próximas gerações. Neste processo é preciso que se cuide para que não seja excluída a sua identidade cultural, tecida no encontro da memória e do desejo, especialmente de milhares de jovens para os quais, em discurso, se justificam tantos projetos, ações e investimentos. Tenho me perguntado com frequência qual é a voz, o espaço, a colaboração do jovem na transformação da paisagem urbana, da dinâmica social, da linguagem das mídias, da 2
produção cultural, comercial e industrial de Uberaba. Aos jovens ─ urbanista, profissional da saúde, engenheiro, jornalista, artista , estudante, comerciário ─ tem sido dada a oportunidade de pensar a cidade, interferir em sua dinâmica, expressá-la em suas linguagens? Lembro-me aqui de uma fala de Mia Couto, escritor moçambicano, em um de seus ensaios: A questão é esta: fala-se muito dos jovens. Fala-se pouco com os jovens. Ou melhor, fala-se com eles quando se convertem num problema. A juventude vive essa condição ambígua, dançando entre a visão romantizada (ela é a seiva da Nação) e uma condição maligna, um ninho de riscos e preocupações (a Sida, a droga, o desemprego). Sonhemos para Uberaba o diálogo entre memória e desejo. Que não se apaguem as diferentes fronteiras, mas que aprendamos a caminhar por entre elas. -Ivanilda Barbosa muh! • #4
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MUH! Uberaba/MG Fundado em 25 de outubro de 2012
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Conselho editorial Ana Márcia Lima, Bruno Assis, Juliana Castejon, Law Cosci, Mariana do Espirito Santo, Thaís Cólus | Parceria Livraria Alternativa | Editora Mariana do Espirito Santo | Projeto editorial, gráfico e editoração Mari Comunicação | Impressão Gráfica Novatta | Tiragem Mil
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Literal
2013 AINDA NEM ACONTECEU, MANO
Minhas aulas ainda estão em 2012 (com previsão de terminarem só em abril); meus cabelos estão em 2034; meu filho tá em 2017, crente que virará adolescente; meus pais estão mais ou menos em 1950; a literatura que eu leio é atemporal; alguns relógios parados, estragados, errados. Então eu tô sem noção de tempo. Tempo, tempo, mano velho. Só que sei que é assim: quando eu pergunto as horas, não é que eu queira saber que horas são; eu quero é saber quanto é que falta pra acabar. - Ana Elisa Ribeiro / Belo Horizonte-MG
Só
Onde estão minhas janelas? Quero abri-las por inteiro Ver a vida lá de fora Não a minha só Quero a realidade, mas encasqueto coisas Só eu as sei Pesam-me o seu encanto Sou louca, só!
Versos românticos
Eu te esperava, eu te chamava, E entre os caminhos eu te perdi, Fui lágrima que a chuva lava, Foi a vida que vivi por ti!
- AdeliaApa / Uberaba-MG
Não é preciso de nada especial, Nem de um lugar lindo e florido, Se ela está comigo tudo é legal Porém, sem ela nada tem sentido! Entre mil beijos que eu já lhe dei, E tantos outros que ainda vou lhe dar, Não sei dizer em qual deles me apaixonei, Por que a razão me foge ao te beijar! - J.N.Assis / Ituverava-SP
Caso de Padaria
O gato com quem Benedita cruzou certa manhã cinzenta quando saíra de casa para ir à padaria comprar quitutes para sua tia Berenice e em sua volta à casa ser atropelada por um ônibus amarelo era preto. - Bruno Assis / Uberaba-MG muh!
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mosaico
˜ é paris uberaba nao um conjunto arquitetônico precioso, formado por exemplares dignos de admiração estética e que chamavam a atenção tanto para si quanto para o seu entorno característico. Conjunto arquitetônico que realçava o traçado das ruas e que muitas vezes culminava (e por sorte ainda culmina), em belas catedrais no topo das colinas. De tudo isso, muito (ou quase tudo) se apagou num processo de rápida transformação urbana: atualmente Uberaba tem gueto, tem shopping, tem condomínio intramuro, tem arquitetura afetada e descontextualizada. Parece querer ser Ribeirão, Goiânia, Paris. Mas não é coisa nenhuma. É somente Uberaba que, bem ou mal, parece estar a procura de uma nova identidade.
Uberaba pensou em ser apenas Uberaba outrora, não pensou ser cópia de nada e se formou cidade singular. Consolidou-se nela
- Giuliano Orsi, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura Urbanismo da Universidade Federal de Tocantins
google.com
Já ouvi por aí que se Paris fosse habitada por uberabenses, Paris não mais existiria. Bobagem? Sim e não. Sim porque realmente a cidade mineira não é europeia e seria um disparate confrontar as duas cidades: Paris é Paris; Uberaba é Uberaba. Ou seja, nenhuma cidade é igual a outra. Ela é o produto das relações sociais que nela se estabelecem e ponto final. No entanto, partindo desse mesmo princípio, não seria bobagem a dita afirmação justamente pelo viés sociológico que nela está embutido. O que levaria a crer que os uberabenses, de fato, demoliriam Paris em três tempos e Paris não mais existiria. Ou seja, o espírito de renovação dos uberabense botaria Paris abaixo.
Bibliotecando
A exposição “Drummond, testemunho da experiência humana” poderá ser visitada na Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães, de 04 a 10 de março de 2013, de 8h às 21h. O Projeto Memória é realizado pela Fundação Banco do Brasil desde 1997 com o objetivo de resgatar, difundir e preservar a memória cultural brasileira por meio de homenagens a personalidades que contribuíram para a transformação social e para a construção da cultura nacional. A exposição já percorreu diversos centros culturais do país e está pela primeira vez em Uberaba. A entrada é gratuita.
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semana de arte urbana
Bambolêˆ
De 15 a 20 de abril será realizada a I Semana de Arte Urbana em Uberaba. A iniciativa foi criada para divulgar, conceituar e levantar o debate sobre as manifestações artísticas desenvolvidas em espaço público e que se diferenciam das manifestações de caráter institucional ou empresarial, bem como do mero vandalismo.
Garimpando no sebo da Livraria Alternativa encontrei o livro de um clássico do cinema. “A História Sem Fim”, filme de 1984, encantou muitos oitentistas com sua fantasia envolvente. A descoberta do livro de Michael Ende entre as prateleiras me causou um verdadeiro frisson. Fiquei emocionada. Como se revivesse a história ali contada, o livro de capa acobreada parecia ter uma espécie de magnetismo que me atraía irresistivelmente. Não muito diferente do garoto Bastian, comprei aquele exemplar e fui correndo para casa iniciar a leitura.
Uma realização da Cultura Roulets em parceria com a Alternativa Cultural, Jornal MUH!, E. M. Adolfo Bezerra de Menezes e Navy Tattoo, visa proporcionar à cidade uma cena artística e conceitual das mais diferentes expressões encontradas nas ruas. Além das Oficinas de Rima e Graffitti, será realizada uma exposição de trabalhos de vários artistas, tendo com anfitrião Puff Capitão Caverna e de fotos de Marina Scalon, apresentação de break com participação da Batalha do Calçadão, debate com profissionais de diferentes áreas e exposição com o resultado das oficinas ao final do evento. Mais informações: roulets.blogspot.com.br na aba ‘Concursos e Festivais’
- Lucas Martins Vieira
cinema de prateleira
É bem provável que todo mundo se sinta assim ao ver em cartaz os personagens daquele livro que se tornou especial. A emoção em poder tocar na história ou assistir suas cores é ininarrável. É mais uma forma do casal Cinema e Literatura nos emocionar. Enquanto alguns dizem que as produções cinematográficas superam as obras literárias homônimas, outros que as adaptações para as telas valorizam os clássicos. Acredito que as diferentes linguagens reforçam ainda mais nosso gosto pela ficção, aventura e fantasia e nos deixam mais sensíveis às histórias reais. ‘O Hobbit’, por exemplo, foi publicado em 1937 e, depois de ir para a telona, estabeleceu-se como o mais influente de nossa geração. Deve ser por isto que a venda de livros de histórias que foram para o cinema (ou fizeram sucesso nas telas e depois foram publicados) está sempre em alta. A livreira Thaís citou os livros mais procurados na Alternativa: “On the road”, de Jack Kerouac; “Dexter - a mão esquerda de Deus”, de Jeff Lindsay; “Elite da Tropa”, de Luiz Eduardo Soares; “A rainha do cine Roma”, de Alejandro Reyes; “O Segredo de Brokeback Montain”, de Annie Proulx. Muitos destes livros estão disponíveis no sebo, por um preço bem mais acessível. Fica o convite para uma visita, um café e uma boa leitura.
- Texto: Mariana do Espirito Santo. Siga a Alternativa no Twitter: @alternativa_ A Livraria Alternativa fica na Rua Major Eustáquio, 500. Telefone: 34.3333-6824 muh!
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de jaspion a tarantino
Aldo Pedrosa, o nerd que é meio pop, meio artista
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- Texto: Mariana do Espirito Santo Fotografia: Guilherme de Sene
De cima do Atari, o ‘gigante guerreiro Daileon’ o robô imenso que ajudava Jaspion, o personagem japonês, a ganhar as lutas - assiste à entrevista. As outras prateleiras do armário da sala são a casa de diversos personagens, entre eles Capitão América e Homem de Ferro. Por ali mesmo, a coleção de bonecos-heróis se une à de vídeo-game. Esparramados pela casa, mais objetos colecionáveis: gibis, livros, dvd’s, máquinas fotográficas do século passado e pôsteres de filmes. Há também o canto reservado para guardar imagens de São Jorge, São Longuinho, Buda, duendes e incensos... Aldo Pedrosa se apaixonou pelo vídeo quando criança. Foi fisgado pelos seriados de heróis japoneses. A vontade de ser cineasta também surgiu na infância. Sua brincadeira predileta era criar histórias em quadrinhos e roteiros onde os amigos se fantasiavam e entravam no clima do pequeno diretor. Cinéfilo, Aldo continua cercado de brinquedos e no grupo dos nerds se enquadra na categoria geek. Aldo comeu pelas beiradas para chegar ao conhecimento mais aprofundado do Cinema estudando Artes
Visuais.m uma instituição pública. “Nunca pensei em ser professor de Arte,” desabafa. Mas a licenciatura o inseriu na área acadêmica e assim pode unir a paixão pelo cinema com o conhecimento artístico. Logo nos primeiros curtas-metragens produzidos com os alunos, - ‘Naftalina’ e ‘Vende-se’ - participou de seletivas de festivais de cinema. O experimentalismo abriu portas para o mestrado em Artes na Federal de Uberlândia. “Quando me inscrevi quis estudar a poética de produção, porque não estava interessado em fazer apenas pesquisa. Queria algo que me obrigasse a produzir, que mostrasse meu trabalho também como artista”. Aldo explica que a pesquisa poética resulta em uma produção; o pesquisador necessita de subsídios teóricos para produzir. “Em alguns editais, para que o artista acadêmico consiga aprovar seu trabalho em galerias, por exemplo, ele precisa ter artigos publicados. Não vale apenas a produção. Quem tem afinidade com a prática acaba tendo obrigação e disposição para a pesquisa”. Como docente, Aldo consegue viver da Arte. Hoje ele coordena o projeto ‘Arte Educação do IFTM. “Pensava que a sala de aula fosse meu
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plano B e a atividade principal fosse a produção artística. Me enganei. Hoje estou no entre as duas áreas.” Sua principal produção está relacionada ao mestrado. A obra ‘Panóptico’ foi embasada nos conceitos de voyeurismo e vigilância. Panóptico é uma construção arquitetônica projetada pelo filósofo e jurista britânico Jeremy Bentham no século XVIII. A construção, que permite a constante vigilância, é um edifício circular com várias celas e uma torre central. Cada uma dessas celas tem janelas altas e largas para que o vigia da torre consiga assistir aos prisioneiros sem ser visto. O panóptico faz com que o prisioneiro se sinta vigiado mesmo na ausência do vigia. Este é o sentimento que todos temos nos dias de hoje. “Com este trabalho quis estudar os atuais dispositivos de vigilância: câmeras, gps, redes sociais... por mais que a privacidade esteja banalizada, sentimos necessidade de exibicionismo”, revela o pesquisador-artista. A partir deste estudo teórico surgiram as videoinstalações ‘Olho Mágico’, ‘Telescópio’, ‘Janela’ e ‘À Espreita’, em uma exposição artística contemporânea que se vale de modernos recursos tecnológicos para permitir a
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interatividade em tempo real. Em fevereiro de 2012 esta obra foi exposta na Galeria de Arte do Sesi Uberaba. No final do ano, Aldo Pedrosa levou seu trabalho para a Europa. Expôs ‘Olho Mágico’ para os franceses na Universidade Paris I - Panthéon Sorbonne, em Paris, junto a outros trabalhos de pesquisa poética.
funkeiro MC Diego, cliente da produtora Artebarata. Aldo Luís Pedrosa já teve vontade de deixar Uberaba com a equipe de produção do filme ‘Chico Xavier’, com quem trabalhou. Mas resolveu ficar para encarar a profissão de professor e suas pesquisas. “As portas estão abertas para todos. Estamos ‘escondidinhos’ no interior de Minas mas temos muito o que apresentar para o resto do mundo. Precisamos fazer as coisas acontecerem na nossa casa primeiro, mas sem perder o foco global”.
“Trabalhar com videoarte me fez conhecer mais sobre cinema europeu, quebrar preconceitos. Estudei vídeo de galeria, sem roteiro com começo-meiofim. Assim meu trabalho ganhou forma artística”.
Hoje, Aldo está focado em conseguir sua qualificação de doutorado no exterior, especificamente na Paris querida do cineasta Woody Allen. Com este currículo, logo teremos boas novas do videoartista uberabense.
A formação acadêmica e profissional de Aldo é fundamentada em muita leitura e tecnologia. “Sou fã de tecnologia, mas a internet é apenas a porta de entrada para o conhecimento. A hipertextualidade apresenta um conteúdo que o internauta talvez não estivesse buscando. São os livros que aprofundam o conhecimento. Sou um viciado neles. Ter a vivência e o contato com a obra de arte também é indispensável”, atenta.
‘Arte barata’ é uma produtora de vídeo com proposta de fazer bons vídeos com poucos recursos. Utilizar um iphone na filmagem, construir os próprios refletores... produzir com pouco deixa a criatividade mais livre. Sempre busco uma produção alternativa, gosto deste desafio.
A produção de Aldo vai do artístico ao popular. O fã do cineasta Quentin Tarantino já dirigiu um vídeo-clipe do 8
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panorama
Enfim, brincamos o carnaval
Uberaba reviveu 130 anos de folia e mostrou que pode ser tradicional na maior festa popular do país Carioca, apaixonado por carnaval, me vi este ano entre as discussões sobre como seria a folia em Uberaba. Pensei que estaria ferrado! Deixei de ir pro Rio de Janeiro, casa de mamãe, praia, braços dos amigos, e vou ficar por aqui, logo no ano em que a Prefeitura não tem verba para a festa? No ano em que não haverá desfile de escola de samba? Quase tive um infarto! Mas não tive. Logo surgiu o Bloco da Vaca Verde, com uma proposta muito bacana e me convidou pra compor e cantar o samba na Avenida Leopoldino de Oliveira, que seria minha Marquês de Sapucaí. Depois a Fundação Cultural anunciou um carnaval que há muito não se via: com marchinhas, família, crianças, brincadeiras, blocos e fanta-
sias. Mais uma vez pensei: “Duvido! Vai virar baderna! Aposto com quem quiser que haverá briga, não vou nesse carnaval nem se me pagar”. Errei de novo. A Fundação Cultural cumpriu o prometido. As marchinhas alegraram a todos, famílias divertiram-se muito, blocos apareceram, super-heróis inimagináveis vieram brincar o carnaval de Uberaba: Super-Homem, Batman, O Máskara, misturavamse a Elvis Presley, transformistas, chuvas de espumas, e nem a chuva que caiu do céu conseguiu abater os foliões. Então, nesse carnaval, aprendi que não devemos tirar conclusões precipitadas. Aprendi que pessoas sérias podem fazer um bloco com mais de duzentos integrantes se di-
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vertirem organizadamente, políticos podem cumprir o que prometem. Nesse ano não senti saudade de nenhum coreto em que pulei o carnaval na minha querida cidade. Uberaba tem sim carnaval, mas confesso que lamentei a falta do desfile das escolas de samba. Quem sabe no próximo ano elas voltem a colorir a cidade com suas fantasias? Hoje tenho a certeza que se o Jorge Perlingeiro (o locutor da apuração das escolas de samba do Rio de Janeiro) estivesse presente, diria com todas as letras o seu já tão conhecido jargão: “Carnaval de Uberaba, ano de 2013, DEZ! NOTA DEZ!” -Eduardo Coelho, cantor e compositor apaixonado por carnaval.
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confraria
artesanato de puro malte
A frase “Minas não tem mar, mas tem bar” é muito dita pelos mineiros. Belo Horizonte é oficialmente a capital mundial dos botecos e a prática do “botecar” está ficando mais interessante também do lado de cá do estado. O número de artesãos de cerveja está aumentando e atraindo cada vez mais apreciadores de exemplares especiais da bebida. Em Uberaba, a Biergarten chegou para cumprir esse papel em dezembro de 2012. André Tiso, o diretor da confraria, conta que o objetivo é expandir a cultura cervejeira. A diferença de sabor entre uma cerveja artesanal e uma industrializada é facilmente percebida. André explica: “com a massificação da cerveja lager, que é a cerveja pilsen, a produção em grande escala, numa forma de baratear o produto, fez com que as empresas agregassem outros ingredientes, como arroz e milho na composição.” Já as cervejas artesanais, em sua maioria, procuram respeitar a lei de pureza alemã, de 1516, através do guia de estilos do BJCP - Beer Judge Certification Program (Programa de Certificação de Juízes de Cerveja), uma organização sem fins lucrativos que qualifica e avalia a cerveja. Segundo a lei de pureza, a cerveja 10
necessariamente precisa conter os quatro ingredientes: água, lúpulo, levedura e malte. André aponta um grande interesse das pessoas em conhecer mais sobre a bebida. Um ponto a favor para difundir a cultura foi a formação da ‘Confraria Biergarten de Uberaba’, que já conta com mais de 20 associados. Há reuniões frequentes para estudos e degustações. Hoje, Minas Gerais é o segundo maior produtor de cerveja artesanal do Brasil, só perdendo para Santa Catarina. André veio de Belo Horizonte, onde teve muito incentivo para montar a Biergarten, que em alemão significa Jardim das Cervejas. Ele integra Acerva Mineira, Associação dos Cervejeiros Mineiros, pela qual participou em 2010 de um concurso estilo livre e ficou em segundo lugar com uma cerveja red ale, com guaraná e açaí. No dia 16 de março é realizado o Saint Patrick’s Day, festa irlandesa regada a cerveja e música. A Biergarten traz o festival para a cidade com o famoso chopp verde, mais um motivo para manter Minas Gerais no ranking cervejeiro. -Ana Márcia Lima
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Arquivo Biergarten
Uberabenses afinam o paladar e descobrem a cultura cervejeira
‘Cervezehn’ é produzida artesanalmente pela Biergarten
Agenda Cultural
Março
Cursos e oficinas com inscrições abertas na Alternativa
Dia 05 das 19h às 22h: Show do grupo T3RNO DE OURO - com Eduardo Carioca, Ton Reis e Igor Staniczuzki. Samba, pop, soul, mpb, bossa nova. Ingressos: R$20
• “Desafinados”, com Daniel Lopes. Inscrições abertas para o segundo semestre.
• Leitura de I Ching - Livro das Mutações. Por Laura Louise Richardson. R$55.
• “O ofício de contar histórias”, com Adriana Fonseca. Vagas limitadas. Início do curso em abril.
• “Conversas terapêuticas”, com Carmem Lia F. Laterza. O encontro é gratuito, sempre às segundas-feiras, das 19h às 20h30, coordenada pela psicóloga Carmen Lia F. Laterza.
• Treinamento “AT Agente Transformador: seja a mudança que deseja”, com Ana Paula Perez. Necessário agendar entrevista na Alternativa Cultural.
• Exposição “Pintura/Pinturas” do artista plástico Hélio Siqueira. Local: Galeria de Arte do SESI Centro de Cultura José Maria Barra. Aberta para visitação de 01 a dia 30 de março, de segunda a domingo das 9h às 21h. Gratuito. Praça Frei Eugênio, 231.
• Saint Patrick’s Day Uberaba - 16 de março. Mais informações: facebook.com/ biergarten. bebidasespeciais
Blog
Mais eventos e informações:
facebook.com/aondeirura
Prestigie e tenha orgulho dos artistas da sua cidade.
Uberabense, saia da poltrona e vá para a plateia!
blogmuh.wordpress.com Iniciativa
Apoio
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nossa cidade
aos 193, uberaba floresce para o novo
No dia 2 de março Uberaba completa 193 anos. Nesses quase dois séculos de vida, o povoado que cresceu entre as sete colinas viu passar em suas retinas as etapas do desenvolvimento daquela que já foi a Princesa do Sertão. A expansão do gado trouxe para essas bandas, homens corajosos e cunhou a cidade como a capital do zebu. E foi no campo também que despontaram as riquezas que colocaram – e colocam – o município em posição de destaque.
deixando municípios menores e mais novos ultrapassa-la? A resposta talvez advenha daquela máxima de alguns governantes quererem conservar a cidade pequena e tranquila. Se esta não for a resposta o tempo revelará a verdade. O fato é que aos 193 anos Uberaba chega a um ponto em que o desenvolvimento e o crescimento são inevitáveis. Estamos sendo empurrados pelos vizinhos Uberlândia e Ribeirão Preto (SP). Não há como retroceder.
A proporção do crescimento e desenvolvimento da cidade não correspondeu ao fôlego e potencial que os recursos naturais do município tinham a oferecer. Além de solo fértil, Uberaba sempre se privilegiou de sua localização geográfica, estrategicamente benéfica ao escoamento de produtos e fluxo de entrada e saída para os grandes centros do país. O ensino também ocupa lugar de destaque. Desde a década de 40 a cidade atrai jovens universitários em busca de uma formação de excelência.
A cidade está deixando de ser de poucos. Os diversos segmentos da sociedade estão se abrindo – mesmo que na marra – para a entrada do novo. A reserva de mercado está deixando de existir. Gente nova e jovem surge com propósitos de dinamizar e melhorar as relações sociais, culturais e políticas dessa cidade. Uberaba floresce para o novo. E que esse florescer continue pelo menos pelos próximos 100 anos. Parabéns, Uberaba!
É de se perguntar então porque a cidade ficou um longo período caminhando a passos lentos,
cação, coordenadora do curso de Comunicação Social da Uniube.
- Celi Camargo, jornalista, mestre em edu-
vitrola
• Artista: Acidogroove. Faixa: Recado de Geladeira. Disco: Talvez Hoje eu Tope um Plural
• Artista: CéU. Faixa: Falta de Ar. Disco: Caravana Sereia Bloom
• Artista: DIIV. Faixa: Doused. Disco: Oshin
- Douglas Maia, crítico de música, colecionador de discos, sempre antenado acompanhando os lançamentos, festivais e shows que acontecem no Brasil.
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