Distribuição gratuita
Uberaba/MG
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2012 • #1
Cinema Causos Crônica Literal Entre Aspas
mosaico
Perfil
Douglas Oliveira
Dedilhando tempos que não viveu
editorial Pedimos licença para conduzi-lo a uma dança e passagem para colocar nosso bloco na rua. Perdoe-nos as metáforas, mas em tempos nos quais, todos os dias, se diz tudo sempre igual, MUH! solicita um cadinho de sua atenção para o mugir – licença poética – de seu brado cultural. Solicitamos uma brecha para mostrarmos o invisível aos olhos, para cochichar histórias esquecidas ou, quem sabe, ofuscadas nas paredes da memória, em terras uberabenses. Terras essas provincianas, talvez, contudo calorosas o suficiente para fazer com que você se assente em um tamborete e ouça o que temos pra contar. MUH! tem trejeito mineirinho. Tem sotaque popular, gostoso de ouvir e de ler. Dedos de prosa que se entrelaçam em um abraço. Traços de causos e causas, de gente, por gente. Sem vaidade, nem egoísmo. Queremos mesmo é compartilhar. Somar. Trocar. Nesta primeira edição, nosso muito obrigado a todos que contribuíram para este plano quixotesco. Entre e aconchegue-se para nossa primeira roda de prosa. - @jornalmuh
˜ Opiniao Saber tocar e ouvir Apesar de assunto corriqueiro, pouco é feito sobre o ensino musical. Um artista leigo acerca da história da música corre o risco de simplesmente tocar notas, pouco para emocionar o público. Conhecer a linguagem de determinado estilo musical e o comportamento de artistas ligados a um movimento, contribui para o bom desempenho e entendimento de músicos e ouvintes. O estilo de determinados artistas é marcante. No jazz, a influência de Jaco Pastorius, a sutileza de Chet Baker, o
MUH! Uberaba/MG
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#Primeira edição
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fraseado de Coltrane ou a voz de Billi Holiday, são inconfundíveis. Beatles, Stones ou Sabbath, os acordes de Page, Jeff Beck e tantos outros. Mas, como perceber isso? Audições, leituras e atenção ao que se ouve. Para um ouvinte comum, a solução seria a música como matéria regular, nas escolas. Estudar a história permitirá maior interesse sobre a canção executada. De onde veio a música do Oasis ou do Green Day? O que foi o movimento Punk ou o Heavy Metal? O que foi o Clube da Esquina, e que relação tem com os Beatles? Blues e jazz são a mesma
coisa? Existem mais de um período no jazz? O que é improviso? Qual a origem da música sertaneja atual? Pagode e samba são diferentes? Existe um samba diferente do outro? Afoxé é uma dança ou um estilo? E a Ciranda e o Maracatu? O tango vem de onde? O estudo musical exigirá, não só do músico, mais estudo e comprometimento. Todos ganharão com isso: o público, adquirindo cultura, a música, sendo menos banalizada e o artista, mais valorizado. • - Ricardo Moraes
Projeto Editorial: Mari Comunicação | Jornalistas: Ana Márcia Lima • Mariana do Espirito Santo |
Parceria: Livraria Alternativa Cultural | Revisão: Iara Fernandes | Ilustrações: Gab Moraes • Law Cosci | Fotografia: Guilherme de Sene | Projeto gráfico e editoração: Mari Comunicação | Impressão: Gráfica Novatta | Tiragem: Mil | Contato: @jornalmuh • jornalmuh@gmail.com • www.facebook.com/jornalmuh | Anuncie: 034-9162.7809 muh!
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Literal Fragilidade
Flores
Num sopro se vai a vida
Acaso não são as flores que necessitam de água e uma boa terra para crescer? mulheres são como flores, desabrochando, crescendo.
mariposa no para-brisa - Rodrigo Domit / @rodrigodomit
Entre o caos e o frenesi As flores no jardim, Calmaria de domingo... Quem diria! Finalmente me sinto em paz. Após as cartas escritas no abrigo nuclear. Calmaria de uma solidão. Quem diria! A guerra nem mesmo começou.
Sessão coruja Sabe quando você é criança e alguém diz: - Coruja piando em cima do telhado é mau agouro, sinal de morte. Para mim, não é! Penso que coruja (es) piando em cima do telhado é sinal de vida. É a sabedoria confessando à lua as suas passarinhagens. - Bruna Bernabei / @brunabernabei
No jardim, a paz. No abrigo, o desespero. Entre o caos e o frenesi. Em tempos de guerra. Em tempos de paz. Vivo entre a bênção e a maldição.
Florindo a vida em teus seios, em teus risos, metamorfoseando. -Pablo Rezende
Carona Queria uma carona. Quando lhe ofereceram cem reais, descobriu a profissão. - Zé Alfredo Ciabotti / @zeciabotti
Entre todos os tempos. Todos os mundos. Seres humanos, animais. Que apenas, ainda caminham... Entre o caos e o frenesi. - Guilherme Lino / @guilon muh!
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perfil
douglas, the Guitar man Dedilhando tempos que não viveu
F
inal da década de oitenta. No alto do bairro Boa Vista, o menino Douglas pede ao pai – o fotógrafo e pedagogo Paulo Lemos – uma gravação, em fita k7, com duas canções: “Imagine”, de John Lennon, e “Always on my mind” por Elvis Presley que, dentre outras, desde sempre faziam parte do seu imaginário.
atenção. Um dos LPs lançado naquele ano encantou o menino. Era o The Traveling Wilburys, grupo formado por George Harrison, Roy Orbison, Bob Dylan e Tom Petty. Embalado por “Tweeter and the monkey man”, uma das faixas do vinil, queria aprender a tocar. Ganhou um violão. A guitarra ainda era cara demais para o orçamento da família.
O pai atendeu, gravou, anotou o nome das canções na embalagem e foi além: mostrou o que de mais importante tinha em seus vinis, explicando canção por canção com a capa do LP em mãos: Beatles, Elvis, Roberto, Creedence. Douglas olhava admirado, consentindo com
Os primeiros acordes aprendeu com Luiz Humberto Ávila, o Luizão. No mesmo período estudou teoria musical com o saudoso pianista Silvio Robazzi. Mas foi mesmo como autodidata e ouvindo muito dos discos do pai que se encontrou. Em companhia do irmão, montou uma banda
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muh!
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para ensaios, na garagem. Diariamente faziam testes com vocalistas. Ninguém era aprovado. Foi por conta dessa lacuna que Douglas começou a cantar. Posteriormente, deixou a garagem para integrar, junto ao vocalista Paulo Moratelli e o baterista Renato Lima, a banda Espelho Mágico. Foi a primeira experiência como músico da noite, tocando por (pouco) dinheiro. A banda se desfez. Não antes de saber o que queria: viver de rock. Junto ao irmão, o baixista Fábio Oliveira, e Diogo Sucupira, o baterista, montou o power trio Mellotron, influenciado pelas sonoridades de idos tempos.
por quase duas horas, um repertório fixado em canções de tempos em que não viveu, o que parece ser detalhe.
Ouvi-los era uma viagem ao universo setentista. Douglas já rasgava notas com sua voz e guitarra. Sua música era feita com a paixão dos tempos remotos, quando os amigos se reuniam para ouvir vinis, tomar cerveja e montar uma banda para tocar o que se gosta – algo que nunca deixou de fazer.
“O público de bar não quer ouvir suas composições. Quer ouvir o de sempre. Não tenho problemas com isso. Creio que não existe música batida, existe música mal tocada.” Ainda sobre os bares: “Em nossa cidade, por exemplo, falta profissionalismo de empresários da noite – salvo exceções – e respeito do público. Pedem música o tempo todo pelo guardanapo, muitas vezes nem escutam. Querem apenas se sentir parte daquele meio, daquela atmosfera momentânea.”
“Me considero uma pessoa de sucesso em Uberaba pois toco o que quero, o que gosto. Nunca precisei ser freelance em dupla sertaneja ou conjuntinho de música baiana.”
Os olhos do bar estão em seus gestos, em seus dedos que dedilham o violão. Os seus fechados, por seus gestos. A guitarra brada um som atemporal. Notas musicais dançam endiabradas por entre as mesas. Parte do público não entende. Outros aplaudem. Ele agradece e, por um momento, no espaço entre uma canção e outra, volta a ser o menino do alto do bairro Boa Vista, escutando as histórias de seu pai, com o LP em mãos e sonhando tocar sua música. •
A banda Mellotron durou dois anos. Tempo suficiente para Douglas alcançar o patamar de músico respeitado e admirado na cidade. Suas composições são conhecidas e cantadas por outras bandas. Mantém hoje alguns projetos como o cover do Pink Floyd, Estação Mineira (em parceria com Tito Rios), Black Jack 21 (banda de blues com músicos de Uberlândia) e a Red Dogs (solo, com composições próprias, cantadas em inglês). Enquanto os mantém, toca nos bares de Uberaba e região.
- Texto: Zé Alfredo Ciabotti / @zeciabotti Fotografia: Guilherme de Sene
Douglas tira o violão da caixa, afina, cumprimenta alguns conhecidos e dedilha, muh!
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entre aspas
Salas mudas
O paulista Rizzo percorria o Brasil Central com suas imagens. Em 1900 passou por Uberaba exibindo seu quadro a quadro. Foi a primeira exibição cinematográfica da cidade. Na década de 10, foi inaugurado o Cine Paris Theatro, localizado acima da Câmara Municipal. Foi incendiado dois meses depois. O charmoso
Cine Triângulo, na época localizado na esquina da rua Artur Machado com Leopoldino de Oliveira, era ponto de encontro da mocidade.
Em 1931 foi inaugurado o
Cine São Luiz. Empreendimento do saudoso Orlando
“depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será”
Rodrigues da Cunha. Foi um choque para a população, acostumada até então com projeções amadoras e salas desconfortáveis.
O burburinho começava antes das exibições dos filmes. As moças desfilavam pela praça Rui Barbosa. Os rapazes, na porta do cinema, as paqueravam. Uma placa
substitui o letreiro do Cine São Luiz. Aluga memórias, saudades. O Metrópole abriga comitês nada nobres e elegantes, como nos idos tempos.
O eu-lírico tira-nos o agasalho e questiona: o futuro o que é? Diga lá, meu irmão. (silêncio)
de cinema do shopping, somadas às mudanças culturais, decretaram a morte ao cinemas centrais. •
Resta-nos um alívio cômodo frente à ignorância quando notamos que se nem o poeta sabe, quem há de saber? Passado o susto, voltamos discretos para a zona de conforto, com uma quase certeza de que viver envolto a dúvidas é fundamental. Digo: existencial. •
- Texto: Zé Alfredo Ciabotti / Colaboração: Guido Bilharinho
- Bruna Bernabei / @brunabernabei
As salas
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Em um dos versos presentes em “Não se mate”, do poeta itabirano Carlos Drummond de Andrade, somos convidados a brindar a incerteza. Incerteza que não se manifesta somente em tais versos. No decorrer das estrofes, nos defrontamos com outras passagens como as das bodas que ninguém sabe quando virão se é que virão.
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bamboleˆ Bambolê: um giro pela alternativa cultural O nome “Bambolê” foi escolhido com carinho – e um pouco de saudosismo, é verdade! – pois traz com ele a ideia de prazer e brincadeira, de coisa que se reinventa. Com toda a liberdade, nos leva a pensar numa cultura viva, que lança e relança moda, que precisa de muito jogo de cintura para seduzir os mais novos e oferecer novas experiências aos mais vividos. E, claro, tudo com uma grande dose de diversão, sempre. Nesta página você vai encontrar dicas de literatura, música, arte, artesanato, lazer e gastronomia, com destaque para os eventos que acontecem no “Sabor & Saber”, o café da Alternativa Cultural, lugar para leitores cansados da mesmice e que apreciam saborear a cultura em todas as suas nuances.
- Texto: Livraria Alternativa / @alternativa_ A Livraria Alternativa fica na Rua Major Eustáquio, 500. Telefone: 34.3333-6824
˜ “Sabor & Saber” Programaçao da livraria alternativa • “Conversas terapêuticas” – Às segundas, das 19h às 20h30: Grupo com Carmen Lia F. Laterza (Psicóloga). Gratuito • Desafinados – Às 2ªs, 3ªs e 5ªs feiras, das 19h às 20h30. O curso propõe um trabalho de percepção musical para aqueles que possuem dificuldade de afinação e que queiram conhecer – e afinar! – seu próprio corpo como instrumento musical. Coordenação: Daniel Lopes. Inscrições abertas para turmas de 2013. • Oficinas artesanais – Coordenadas pela artista Renata Barillari. Para adultos e crianças. Interessados podem entrar em contato com a artista: rebarillari@hotmail.com
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30 Lançamento “Da minha janela afora pela janela de mim adentro” do escritor português Sérgio Matos. 19h30.
Novembro
05 e 06 Curso “Planejamento Estratégico”. Com Adriana Pessato e Fátima Alves. Público-alvo: gerentes, profissionais liberais, empresários e todos que queiram se apropriar dos recursos do planejamento estratégico a fim de melhorar seu desempenho. R$ 180,00. 19h às 22h. 09 Lançamento “Mudar é possível”, de Fátima Alves. 19h30 com presença da autora para bate-papo e autógrafos. 10 Recital de harpa com Professora Tenara e alunos do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira.10h30. Entrada livre. 11 Encontro Arte Circense: batepapo com palhaço Pernilongo. Promoção: Colégio Marista Diocesano e Cia. Uno. Evento divulgado também como parte da programação da Virada Cultural. 10h30. Entrada livre. •
31/10 a 28/11 Curso “O ofício de contar histórias”. 18h30 às 20h30. Com Adriana Beatriz da Silva Fonseca. R$150,00 (certificado). 12 vagas. Público-alvo: Educadores, estudantes, agentes culturais, psicólogos, bibliotecários, pais, avós e outros. muh!
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Causos A vida é um cobertor curto Sozinho pelas ruas, ele caminhava. Um homem procurando um espelho, qualquer pessoa que o fizesse sentir-se parte da tribo. Sentou-se diante de uma estátua qualquer, em uma praça qualquer. Não sabia quem era aquele estranho que o encarava com olhos de general. Algum presidente? Não importava, como não importa a ninguém que por ali passa, todos os dias. Sentiu-se como a estátua. Alguém importante cuja importância não fazia sentido a mais ninguém, além dele próprio. Sentia que tinha uma missão, um dom que se perdera nos tortuosos desvios pelos quais passou, nas escolhas erradas que a vida fez por ele. Observou ao longe um cachorro manco que mendigava alimentos a um grupo de tran-
seuntes. O animal era magro e puxava uma das patas de forma sincronizada, como um tique nervoso ou um soluço. Era dor. Por algum motivo, algo na estrutura óssea ou muscular daquele bicho estava fora do lugar e causava dor. Uma dor contínua e irreparável. Tão constante que o próprio animal parecia ignorá-la, reduzindo-a apenas a um movimento rítmico e quase involuntário. “Seria essa a fórmula para lidar com a dor? Ou seria simplesmente o caminho inevitável?”, pensou. Cair no esquecimento, tal qual o fardado de cimento, logo à frente, repleto de fezes de pomba. “Queria que minhas dores caíssem no mesmo esquecimento”. O cão foi em sua direção. “Não tenho comida”, esbravejou. O bicho ignorou e deitouse diante dele, como um guardião. Observava as
pessoas solitárias andando e o cão permanecia deitado. O animal levantou-se, caminhou com dificuldade até bem próximo dele, recebeu um pouco de carinho automático, no topo da cabeça, e deitouse novamente, encostando a cabeça em sua panturrilha, de forma que pudesse continuar sendo acariciado. Era agora um amigo. Da mesma maneira que apareceu e se aproximou, o cachorro levantou-se rapidamente para seguir um grupo de pessoas, na esperança de saciar a fome que lhe era tão visível. O homem apagou seu cigarro e caminhou até o ponto de ônibus mais próximo, sozinho, solitário, esquecido, mas com o tique de encher a cabeça com pensamentos repetitivos que aliviavam suas dores. • - Pedro Perassi / @phperassi
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