8 minute read

Frei Carlos Silva é ordenado Bispo pelo Cardeal Odilo Scherer

Next Article
Página

Página

‘Pertencemos ao Senhor. Não tenhamos medo de testemunhar a alegria do Evangelho’

AFIRMOU DOM CARLOS SILVA, NA 1ª MISSA COMO VIGáRIO EPISCOPAL DA REGIãO BRASILâNDIA

Advertisement

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Ordenado Bispo Auxiliar de São Paulo no sábado, 13, na Catedral da Sé, Dom Carlos Silva, OFMCap, presidiu na tarde do domingo, 14, na Paróquia São Luís Gonzaga, na Vila Pereira Barreto, a missa em que foi apresentado como Vigário Episcopal da Região Brasilândia.

Dias antes de sua ordenação, porém, ele já procurou ter contato com a realidade de algumas das 36 paróquias, duas áreas pastorais e 145 comunidades que compõem a Região (leia mais na página 8).

“Ele pediu para começar a conhecer a Região pelo extremo, pelo Setor Perus, onde foi ao território de todas as paróquias. Depois, fomos ao Setor São José Operário”, contou ao O SÃO PAULO o Padre Aldenor Alves de Lima, um dos sacerdotes que acompanharam o Frade nas visitas. “Eu fiquei impressionado em ver alguém muito simples e que abraçará esta nova missão com muita tranquilidade”, complementou.

“Nestas primeiras visitas, conhecendo nossa Região, dei-me conta de que se trata de uma Igreja presente nas estradas. Continuemos, pois, irmãos e irmãs, esta história de salvação operada por Cristo, que se encontra com a nossa história. Pertencemos ao Senhor. Não tenhamos medo de testemunhar a alegria do Evangelho”, afirmou Dom Carlos Silva, durante a homilia da missa do domingo, que teve entre os concelebrantes Dom Ângelo Mezarri, RCJ, e Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispos Auxiliares da Arquidiocese, além de padres que atuam na Região Brasilândia e frades franciscanos.

Dom Carlos Silva, Bispo Auxiliar da Arquidiocese, preside missa na qual é apresentado como Vigário Episcopal da Região Brasilândia, dia 14

o novo Bispo: “O anjo que Deus hoje nos envia chegou trazendo uma mensagem que ele recupera do apóstolo Paulo, uma mensagem que em si lembra a nossa origem, o nosso jeito de viver, a liberdade cristã e, ao mesmo tempo, aponta para o nosso fim como povo da Aliança: ‘Pertencemos ao Senhor’”, afirmou, em alusão ao lema episcopal de Dom Carlos Silva.

“Para uma região periférica como a nossa, é um privilégio receber um bispo formado na escola do pobre de Assis, no ideal da paz e do bem e que nos chama a vivenciar a perfeita alegria”, disse o Cônego, fazendo menção, ainda, à trajetória do religioso que trabalhou em bairros carentes no México e no interior paulista, incluindo a vivência em uma favela.

Entre 1985 e 1986, logo após ter ingressado no postulantado da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, Carlos Silva e um grupo de franciscanos pediram que os deixassem montar uma comunidade na favela do Jardim da Glória, em Piracicaba (SP). “A intenção era viver com os pobres, para os pobres e como os pobres, assumindo todos os riscos e dificuldades que esta decisão acarretava”, recorda Claudinei Pollesel, historiador do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. Uma comunidade franciscana foi inaugurada em um barraco reformado, e ali ocorriam as celebrações e diversas ações caritativas. Os franciscanos deixaram a favela no ano 2000. No ano passado, o barraco se tornou patrimônio histórico do município de Piracicaba.

AO LADO DO POVO

Dom Carlos Silva, na homilia, exortou os padres, religiosos e leigos a auxiliá-lo nas iniciativas de evangelização e manifestou o desejo de que seu ministério episcopal “seja para a purificação das almas, para curar as feridas corporais e espirituais e, sobretudo, para que, em cada ação sacramental e pastoral, percebamos a chegada do Reino de Deus”.

O Prelado pediu que os fiéis e ministros ordenados o ajudem a perceber as realidades da Brasilândia e retomou um discurso do Papa Francisco feito, em junho de 2013, aos bispos da coordenação do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), no qual o Pontífice aponta que os bispos devem ser pastores, próximos das pessoas, agir com mansidão e misericórdia, sendo “homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior, como liberdade perante o Senhor; quer a pobreza exterior, como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham ‘psicologia de príncipes’. [...] O lugar onde o bispo deve estar com o seu povo é triplo: ou na frente, para indicar o caminho; ou no meio, para mantê-lo unido e neutralizar as debandadas; ou atrás, para evitar que alguém se desgarre do rebanho”.

Nesse sentido, Dom Carlos Silva ressaltou querer sempre estar próximo dos fiéis, ouvir suas histórias e experiências de fé. Ele exortou que os padres façam o mesmo, sendo homens de compaixão: “O colo, o abraço e o sorriso de Deus”.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

UMA REALIDADE JÁ CONhECIDA

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, participou do início da celebração. Ele saudou o novo Bispo, desejou-lhe uma boa trajetória no episcopado e anunciou que Dom Carlos Silva será o Referencial das Pastorais Sociais na Arquidiocese de São Paulo.

Dom Odilo mencionou a vitalidade pastoral da Região Brasilândia, a fé do povo diante dos desafios para a evangelização e exortou que o clero e os fiéis colaborem com o Bispo, para que juntos “possam testemunhar que Deus também habita nesta parte da cidade, que Ele quer muito bem este povo e que somos suas testemunhas”.

Falando em nome de toda a Região, o Cônego José Renato Ferreira saudou

CONhEÇA MAIS SOBRE DOM CARLOS SILVA

Natural de Andradina (SP), nasceu em 05/12/1962. Iniciou a formação religiosa na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap), em 1984, em Piracicaba (SP), tendo emitido os primeiros votos em 1988, e os votos perpétuos em 1991, em Sumaré (SP). Foi ordenado sacerdote em 1º de agosto de 1992, na Diocese de Lins (SP). De fevereiro de 2004 a outubro de 2013, foi missionário no Norte do México. De 2013 a 2018, foi Ministro Provincial em São Paulo e Presidente da Conferência dos Capuchinhos do Brasil (CCB). A partir de setembro de 2018, foi Conselheiro-Geral da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, função que exercia até ser nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo, em 16 de dezembro de 2020, pelo Papa Francisco. Ordenado Bispo na Catedral da Sé, em 13 de fevereiro, foi designado pelo Cardeal Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano, como Vigário Episcopal da Região Brasilândia. Lema episcopal: “Domini Sumus” (“Pertencemos ao Senhor”).

Fundada por Cristo, na fé dos apóstolos, para a salvação da humanidade

FERNANDO GERONAZZO

osaopaulo@uol.com.br

Não há dúvidas de que a Igreja Católica seja a instituição internacional mais longeva em atividade no mundo. No entanto, ao longo dos seus 2 milênios de existência, ainda há quem se pergunte como ela surgiu, quem a fundou ou mesmo no que consiste.

A partir de fontes bíblicas, da Tradição e do Magistério eclesiástico, o Catecismo da Igreja Católica sintetiza que a Igreja é um projeto que nasceu do coração do Pai, prefigurada desde o início dos tempos, preparada na Antiga Aliança com Israel e instituída por Cristo Jesus.

Destaca-se, ainda, que, como já diziam os primeiros cristãos, “o mundo foi criado em vista da Igreja”, uma vez que Deus criou o mundo para a comunhão com sua vida divina, que se realiza pela “convocação” (em grego: ekklésía, de onde vem a palavra “igreja”) dos homens em Cristo.

hIStóRIA DA SALVAÇÃO

No século II, Clemente de Alexandria escreveu: “Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, assim também sua intenção é a salvação dos homens e se chama Igreja”.

Nesse sentido, Padre José Ulisses Leva, professor de História da Igreja na PUC-SP, ressaltou ao O SÃO PAULO que não é possível entender a origem da Igreja fora da história salvífica da humanidade e, consequentemente, do ministério da encarnação de Jesus Cristo.

“A Igreja nasce do querer de Jesus Cristo, sob o alicerce dos apóstolos, confiando-a à pessoa de Pedro”, explicou, fazendo referência às palavras de Jesus a Simão: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18-19a).

Embora esse seja um texto-chave para a compreensão da instituição da Igreja por Cristo, na Sagrada Escritura, sobretudo no Novo Testamento, há outras passagens que ajudam a fundamentar sua origem, como, por exemplo, a escolha dos Doze Apóstolos e seu envio missionário (cf. Mt 10,2-4; Mc 3,13-19; Lc 6,12-16).

Outro momento fundante se dá na Cruz, com a imagem do lado aberto de Cristo, de onde jorraram sangue e água (cf. Jo 19,34). Sobre essa cena, Santo Ambrósio afirmou que, da mesma forma que Eva foi formada do lado de Adão adormecido, assim a Igreja nasceu do coração traspassado de Cristo morto na cruz.

Padre Rodrigo Pires Vilela, Mestre em Ciências Patrísticas e Coordenador da Pastoral Universitária da PUC-SP, salientou que, mais do que declarar a fundação da Igreja, a Sagrada Escritura testemunha esse fato, “pois a origem da Igreja está no próprio mistério de Cristo e na sua missão”.

Catacumba de Comodila, um dos cemitérios subterrâneos romanos onde os cristãos perseguidos pelo Império celebravam a Eucaristia

DESENVOLVIMENtO

Já em Pentecostes, com a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos (cf. At 2,1-4), a Igreja se manifestou publicamente diante da multidão e começou a pregação da Boa-Nova, realizando o mandato apostólico de Jesus: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).

Em sua “História Eclesiástica”, do século IV, Eusébio de Cesareia mostra que os apóstolos, de fato, foram até os “confins do mundo habitado” na época, chegando por exemplo à região da Ásia, conhecida como Índias, ultrapassando as fronteiras do Império Romano.

O livro dos Atos dos Apóstolos, as cartas de Paulo e os demais textos do Novo Testamento são fontes que ajudam a compreender como se organizava a Igreja nascente. Outra fonte importante é a “Didaqué”, ou Instrução dos Doze Apóstolos, uma espécie de catecismo primitivo, que apresenta orientações sobre a doutrina, a conduta dos fiéis, a vida sacramental, os ministérios e a centralidade da celebração dominical (Eucaristia).

APOStóLICA

A Igreja cresce, portanto, a partir do testemunho dos apóstolos, transmitido aos seus sucessores, em comunhão com

Afresco ‘Cristo dando as chaves a Pedro’, de Pietro Perugino

This article is from: