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Comportamento

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Liturgia e Vida

1º DOMINGO DA qUARESMA 21 DE FEVEREIRO DE 2021

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Quarenta dias para amar

PADRE JOÃO BEChARA VENtURA

Períodos de prova decisivos foram assinalados pelo número 40. Durante 40 dias, o dilúvio caiu sobre a terra (cf. Gn 7,12); por 40 anos, os israelitas andaram errantes no deserto (cf. Nm 32,13); na revelação dos mandamentos, Moisés esteve com o Senhor 40 dias sem comer nem beber (cf. Ex 34,28); 40 dias foi o prazo anunciado por Jonas para que Nínive fosse destruída (cf. Jn 3,4). Após esses períodos duros de “quarenta”, a relação dos homens com Deus se estreitou e se aprofundou de um modo novo.

Também Nosso Senhor Jesus Cristo quis que sua pregação fosse precedida por 40 dias e 40 noites no deserto, durante os quais Ele jejuou, orou e foi tentado por satanás (cf. Mt 4,2; Mc 1,13). Depois da Ressurreição, Ele apareceu por 40 dias aos apóstolos, confirmando-os na fé (cf. At 1,3). Movida por essa tradição que vai do Gênesis à Redenção, a Igreja, desde a época apostólica, prepara a celebração da Páscoa e o Batismo dos novos fiéis com a Quaresma: 40 dias de jejum, oração e esmolas. Estas são as obras que Cristo nos mandou fazer assiduamente e em segredo, para adquirirmos “um tesouro nos Céus” (Mt 6,1-21); elas predispõem a alma para a graça santificante.

A Quaresma é um tempo de prova e de purificação! Pelo jejum, expiamos os pecados e pedimos, como os ninivitas, que o Senhor afaste as penas temporais por eles merecidas. A privação de satisfações sensíveis prepara-nos, como a Moisés, para enxergar a vontade de Deus. Pela esmola, libertamo-nos da avareza – que é uma idolatria (cf. Cl 3,5) – e do egoísmo, para nos colocarmos à disposição de Cristo, que continua sua obra por meio da Igreja. Pela oração, cumprimos a finalidade da nossa existência no “deserto” deste mundo: unir-nos a Deus já aqui para, ao fim da peregrinação terrestre, vivermos definitivamente com Ele no Céu, a verdadeira Terra Prometida.

Como todos os períodos de prova, a Quaresma é uma preciosidade! “Feliz o homem perseverante na provação pois, uma vez provado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu àqueles que O amam” (Tg 1,12). Na vida, somos constantemente postos à prova: as circunstâncias, as fraquezas pessoais, as pessoas hostis, a falta de saúde, a dificuldade econômica, o tentador… Tantas coisas põem à prova nosso amor, fé e paciência, que poderíamos até nos assustar! Porém, tudo se transformará em instrumento de Deus para que aprendamos a amar e a crer. A provação nos tece uma linda coroa de glória, e a finalidade da Quaresma é que, por meio de uma purificação mais intensa, nos exercitemos na perseverança, na paciência, na fé e no amor.

Façamos propósitos concretos para este tempo de graça! Seremos sustentados pela oração da Igreja inteira e sustentaremos também os outros. Deus proverá tudo e nos concederá graças especiais. Com Jesus no deserto, cantemos: “Bendito o Senhor, meu rochedo, que treina minhas mãos para a batalha e meus dedos para a guerra” (Sl 144,1). Bendito o Senhor que nos exercita no amor!

SÃO GREGóRIO DE NAREk Abade, poeta e Doutor da Igreja

FLAVIO ROGéRIO LOPES

osaopaulo@uol.com.br

São Gregório de Narek, abade e Doutor da Igreja, foi inscrito no Calendário Romano por meio de um decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, promulgado pelo Papa Francisco no início do mês. Gregório é venerado como Santo pela Igreja Católica Armênia e reconhecido também pela Igreja Católica Romana. Sua memória litúrgica será celebrada no dia 27 de fevereiro.

“A santidade está unida ao conhepara que ele pudesse se dedicar mais às suas funções eclesiais.

Ananias, também chamado “o filósofo”, era abade do mosteiro de Narek e fundador da escola local e do mosteiro do povo, que estava situado às margens do lago Van, em Vaspuracã (atual Turquia), e era conhecido pelas vocações e a vida espiritual.

São Gregório viveu em plena época da separação entre a Igreja Apostólica Armênia e a Igreja em Roma, uma época anterior às invasões dos turcos e dos mongóis, anos nos quais a Igreja Armênia experimentou um autêntico milagres foram atribuídos por sua intercessão. Morreu no ano de 1005, no Mosteiro de Narek, onde ainda hoje está sepultado. O seu túmulo foi durante muito tempo local de peregrinações.

DIVERSAS OBRAS

São João Paulo II fez referência a Gregório de Narek em diversos discursos, assim como em sua encíclica Redemptoris Mater e em sua carta apostólica sobre o 1.700º aniversário do batismo do povo armênio.

Gregório é mencionado também no artigo 2678 do Catecismo da Igre-

cimento, que é experiência do mistério de Jesus Cristo, indissoluvelmente unido ao mistério da Igreja. Esta união entre santidade e inteligência das coisas divinas em conjunto com as humanas resplandece, de modo particular, naqueles que são ornados com o título de ‘doutores da Igreja’”, afirma o decreto assinado pelo Cardeal Robert Sarah e por Dom Arturo Roche, respectivamente, Prefeito e Secretário da Congregação.

O documento reforça, ainda, que esta memória constará em todos os calendários e livros litúrgicos para a celebração da missa e da Liturgia das Horas, cabendo às conferências episcopais, com a

Reprodução ja Católica: “A piedade medieval do Ocidente propagou a oração do Rosário como alternativa popular da Liturgia das Horas. No Oriente, a forma litânica da oração ‘Acatisto’ e da ‘Paráclise’ ficou mais próxima do ofício coral nas Igrejas bizantinas, ao passo que as tradições armênia, copta e siríaca preferiram os hinos e os cânticos populares à Mãe de Deus. Mas, na Ave-Maria, nos theotokía, nos hinos de Santo Efrém ou de São Gregório de Narek, a tradição da oração é fundamentalmente a mesma”.

São Gregório de Narek é o autor de uma interpretação mística do “Cântico dos Cânticos” e de diversas outras obras poéticas. Seu

aprovação vaticana, traduzir as variações e acréscimos nos devidos textos litúrgicos.

ESPÍRItO ECUMÊNICO

Em 12 de abril de 2015, em missa presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em memória do 1,5 milhão de mártires armênios, São Gregório de Narek foi elevado à categoria de Doutor da Igreja universal.

A celebração foi um ponto culminante do espírito ecumênico entre as duas igrejas, pois pela primeira vez se reuniram todos os líderes da Igreja Armênia com o Romano Pontífice.

“São Gregório de Narek, monge do século X, mais do que qualquer outro, soube manifestar a sensibilidade do vosso povo, dando voz ao clamor, que se torna oração de uma humanidade dolente e pecadora, oprimida pela angústia da própria impotência, mas iluminada pelo esplendor do amor de Deus e aberta à esperança da sua intervenção salvífica, capaz de transformar qualquer situação”, afirmou Francisco, em mensagem aos armênios naquela ocasião.

UM SANtO EM VIDA

Gregório nasceu no ano de 951, em Andzevatsik, Vaspuracã, na antiga Armênia. Perdeu a mãe ainda criança e, quando seu pai, Khosrov, foi eleito Arcebispo de Andzevatsik, sua educação foi confiada a Ananias de Narekavank, renascimento cultural, ao qual contribuiu fortemente o próprio Santo.

Gregório permaneceu no mosteiro por toda a vida: foi ordenado sacerdote aos 25 anos e eleito abade após a morte de Ananias. Não faltaram demonstrações de sabedoria em seus vários escritos teológicos, que o tornaram um importante poeta da literatura armênia.

Tinha fama de santidade e alguns “Livro de Orações”, também conhecido como “Livro de Lamentações” – um longo poema místico dividido em 95 seções e escrito provavelmente em 977 –, foi traduzido para diversas línguas e permanece, ainda hoje, como uma das mais importantes obras da literatura armênia.

(Com informações de Vatican News, ACI Digital e Portal A12) *Notícia produzida sob a supervisão de Daniel Gomes

Quaresma: tempo de conversão e de reconciliação

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Luciney Martins/O SÃO PAULO - fev.2020

Iniciada na Quarta-feira de Cinzas, a Quaresma propõe um itinerário aos cristãos para bem celebrar a Páscoa da Ressurreição do Senhor, a partir da preparação e da renovação do Batismo, escuta da Palavra, revisão dos hábitos de vida, reconciliação com Deus e os irmãos e a prática dos exercícios quaresmais do jejum, esmola e oração.

A cor roxa adotada na liturgia indica que toda a Igreja é chamada a vivenciar um tempo de reflexão, penitência e disposição de conversão.

A constituição conciliar Sacrosanctum concilium (SC) indica que na Quaresma devem ser colocados em destaque, “tanto na Liturgia quanto na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo por meio da recordação ou preparação do Batismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal” (SC, 109)

POR 40 DIAS

Os 40 dias da Quaresma simbolizam “o tempo de espera, da purificação, do retorno ao Senhor, da consciência que Deus é fiel às suas promessas. Este número não representa um tempo cronológico exato, uma soma de dias. Indica, mais que isso, uma paciente perseverança, uma longa prova, um período suficiente para ver as obras de Deus, um tempo no qual é necessário se decidir e assumir as próprias responsabilidades. É um tempo de decisões maduras”, explicou o Papa Bento XVI, na audiência-geral da Quarta-feira de Cinzas de 2012.

O número 40 também remete a outros momentos de provação nas Sagradas Escrituras, como os 40 dias em que o Senhor jejuou e superou as tentações no deserto antes de iniciar sua vida pública; os 40 dias em que Moisés jejuou no Monte Sinai antes de receber a Lei da Aliança; e a peregrinação do povo hebreu à terra prometida, que durou 40 anos.

DIMENSÃO BAtISMAL

Na já referida audiência-geral de 2012, Bento XVI recordou que, desde os primeiros séculos da vida da Igreja, a Quaresma “era o tempo no qual aqueles que tinham escutado e acolhido o anúncio de Cristo iniciavam passo a passo o caminho de fé e de conversão para chegar ao sacramento do Batismo. Tratava-se de uma aproximação ao Deus vivo e de uma iniciação à fé que deveria se cumprir gradualmente, mediante uma mudança interior por parte dos catecúmenos, isto é, daqueles que desejavam se tornar cristãos e serem incorporados ao Cristo e à Igreja”.

Por 40 dias, fiéis são chamados à revisão dos hábitos de vida e às práticas da oração e da caridade

aponta que a Quaresma é um dos momentos apropriados “aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras caritativas e missionárias)” (CIC, 1.438).

Na Quaresma, o cristão é chamado a buscar o sacramento da Penitência para obter a misericórdia de Deus e o perdão às ofensas a Ele feitas (cf. CIC 1.422). Igualmente, deve buscar a penitência interior, “uma reorientação radical de toda a vida, um regresso, uma conversão a Deus de todo o nosso coração, uma rotura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância pelas más ações que cometemos. Ao mesmo tempo, implica o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua graça” (CIC, 1.431).

A penitência interior pode ocorrer pelas práticas do jejum, oração e esmola, “que exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros” (CIC, 1.434).

JEJUM

Na mensagem para a Quaresma de 2009, o Papa Bento XVI deteve-se de modo especial na prática do jejum, que contribui “para conferir unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor (...) Privar-se do sustento material que alimenta o corpo facilita uma ulterior disposição para ouvir Cristo e para se alimentar da sua palavra de salvação. Com o jejum e com a oração, permitimos que Ele venha saciar a fome mais profunda que vivemos no nosso íntimo: a fome e a sede de Deus”, escreveu o Pontífice.

“Privar-se voluntariamente do prazer dos alimentos e de outros bens materiais ajuda o discípulo de Cristo a controlar os apetites da natureza fragilizada pela culpa da origem, cujos efeitos negativos atingem toda a personalidade humana”, prosseguiu.

Na mensagem para a Quaresma deste ano, Francisco lembra que o jejum, “vivido como experiência de privação, leva as pessoas que o praticam com simplicidade de coração a redescobrir o dom de Deus e a compreender a nossa realidade de criaturas, que, feitas à sua imagem e semelhança, Nele encontram plena realização. Ao fazer experiência de uma pobreza assumida, quem jejua se faz pobre com os pobres e ‘acumula’ a riqueza do amor recebido e partilhado”.

ESMOLA

O Catecismo da Igreja Católica indica que “a esmola dada aos pobres é um testemunho de caridade fraterna; é também uma prática de justiça que agrada a Deus” (CIC, 2.462).

Francisco, na mensagem para a Quaresma de 2020, afirma que homens e mulheres de boa vontade são chamados “à partilha dos seus bens com os mais necessitados por meio da esmola, como forma de participação pessoal na edificação de um mundo mais justo. A partilha, na caridade, torna o homem mais humano; com a acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no seu egoísmo”.

O exercício quaresmal da esmola remete à realização das obras de misericórdia, como foi lembrado por São João Paulo II na mensagem de 1999: “A Quaresma, vivida com os olhos postos no Pai, torna-se assim um tempo particular de caridade que se concretiza por meio das obras de misericórdia corporais e espirituais. Penso de modo especial nos que estão excluídos do banquete do consumismo cotidiano. Há tantos ‘Lázaros’ que batem às portas da sociedade: são todos aqueles que não participam das vantagens materiais resultantes do progresso. Existem situações perduráveis de miséria que não podem deixar de tocar a consciência do cristão e lembrar-lhe o dever que tem de enfrentá-las urgentemente, seja de modo pessoal, seja comunitário”.

BONS hÁBItOS NA QUARESMA

Na mensagem para a Quaresma deste ano e na audiência-geral da Quarta-feira de Cinzas de 2020, o Papa Francisco menciona alguns bons hábitos para este tempo quaresmal:

Dizer palavras de incentivo, que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam, em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam;

Prestar atenção ao próximo, oferecer-lhe um sorriso e proporcionar-lhe um momento de escuta;

Evitar saturação de informações e de produtos de consumo;

Desligar a televisão e o telefone celular para se conectar mais ao

Evangelho;

Renunciar a palavras inúteis, conversinhas, fofocas e se aproximar do Senhor;

Viver uma Quaresma com caridade, cuidando daqueles que se encontram em condições de sofrimento, abandono e angústia em razão da pandemia de COVID-19.

ORAÇÃO

A prática da oração é recomendada pelo próprio Cristo em diferentes momentos de sua vida pública: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26,41a).

Na mensagem para a Quaresma deste ano, o Papa Francisco afirma que, “no recolhimento e oração silenciosa, a esperança nos é dada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e opções da nossa missão; por isso mesmo, é fundamental recolher-se para rezar (cf. Mt 6,6) e encontrar, no segredo, o Pai da ternura”.

Anteriormente, na mensagem para a Quaresma de 2019, o Pontífice lembrou que neste tempo é preciso “orar, para saber renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia”. Na mensagem de 2020, o Papa indicou que “a oração poderá assumir formas diferentes, mas o que conta verdadeiramente aos olhos de Deus é que ela escave dentro de nós, chegando a romper a dureza do nosso coração, para o converter cada vez mais a Ele e à sua vontade”.

O itinerário da Via-Sacra na vivência da espiritualidade quaresmal

O SÃO PAULO APRESENTA A HISTóRIA DA VIA-SACRA E O CAMINHO DE DOIS SANTOS qUE VIVERAM O MISTéRIO PASCAL DE CRISTO

Arte com a reprodução das Estações da Via-Sacra do Santuário Pai das Misericórdias

ROSEANE WELtER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A celebração da Quarta-feira de Cinzas inaugura o tempo litúrgico da Quaresma, que para nós, católicos, é tempo de conversão e de renovação da vida interior. Entre as práticas de piedade mais indicadas para este período está a Via-Sacra ou Via Crucis (Caminho da Cruz), que consiste na meditação da Paixão e Morte de Jesus Cristo, do momento em que é julgado e injustamente condenado, até a sua crucificação e morte no Monte Calvário.

Dividida em 14 estações, mais do que contar uma história, essa devoção milenar nos pretende fazer percorrer um itinerário espiritual que nos colocará frente a frente com o amor de Deus.

ItINERÁRIO DA CRUZ

Juntos, os quatro Evangelhos narram com riqueza de detalhes todos os acontecimentos da Paixão de Cristo. “O entendimento bíblico é que o momento da cruz é o ápice da vida de Jesus, pois a sua Paixão, ou seja, a cruz, a morte, confere sentido à vida de todo ser humano. A cruz é o símbolo da salvação de cada pessoa”, enfatizou Padre Rafael Vieira, da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos).

O Sacerdote destacou ainda que “rezar a Via-Sacra significa mergulhar no mistério da vida de cada pessoa, e ela tem a oportunidade de refletir sobre a vida de Jesus para dar luzes e rumos à sua própria vida. É, também, a oportunidade de cada fiel se associar à Paixão de Cristo, entregando os seus próprios sofrimentos e angústias para que sejam transformados pela força do Espírito Santo”.

hIStóRIA

Historicamente, a meditação da ViaSacra foi iniciada no tempo das Cruzadas – expedições militares em direção à Terra Santa, promovidas durante a Idade Média pelos reinos europeus cristãos, com o intuito de reconquistar e libertar os lugares santos do domínio turco, que impedia as peregrinações de cristãos a tais locais sagrados, berço do Cristianismo. Com o tempo, na impossibilidade de visitar presencialmente esses lugares, os cristãos passaram a produzir expressões artísticas (quadros e esculturas) com cenas da ViaSacra descritas no Evangelho, e assim, percorreram esse caminho espiritualmente e de forma contemplativa.

Relatos da Beata Ana Catarina Emmerich registrados no livro “A amarga Paixão”, sobre suas experiências místicas da Paixão de Cristo, indicam que a primeira Via-Sacra ocorreu muito antes, durante a própria Paixão de Cristo, tendo sido percorrida pela Mãe de Jesus, acompanhada de um pequeno grupo de mulheres.

Dados registram que, em Jerusalém, até o século XII, aos peregrinos que lá chegavam só eram oferecidos guias para a visita aos locais santos, sem nenhuma menção à Via Dolorosa. Somente no fim do século XIII começaram a incluir o itinerário da cruz de Cristo e a identificá-lo entre etapas ou estações, cada uma dedicada a um episódio da Paixão.

No final do século XIV, surgiu um roteiro que percorria o sentido inverso da Via Dolorosa, que partia do Santo Sepulcro até o Monte das Oliveiras.

A devoção à Via-Sacra foi amplamente divulgada pelos Franciscanos que se dedicaram à propagação da veneração à Via Dolorosa de Cristo. Em suas igrejas e conventos, ergueram e construíram as estações da Via-Sacra. Foram os Franciscanos que obtiveram dos Sumos Pontífices a concessão das indulgências associadas à prática da Via-Sacra.

Ao longo dos tempos, essa prática sofreu algumas modificações, até que em 1742 o Papa Bento XIV aprovou sua fórmula e recitação composta por 14 estações que representam as cenas da Paixão. São João Paulo II sugeriu a inclusão da 15ª estação: a Ressurreição de Jesus na Via-Sacra.

INDULGÊNCIAS

A Via-Sacra é um momento penitencial no qual, além de meditar os mistérios dolorosos da vida de Jesus, o fiel pode obter as indulgências.

“As indulgências são graças que curam os efeitos do pecado na vida do ser humano, ou seja, apagam as penas temporais. Não é, portanto, o perdão dos pecados, pois esse perdão é dado pelo sacramento da Reconciliação. O pecado sempre deixa consequências ou marcas em nossa vida, que geram penas temporais, e as indulgências apagam essa pena temporal, assim como as penitências, que são atos bons que reparam o mal que nasceu do pecado cometido. A Penitência corrige os maus hábitos”, destacou Padre Rafael.

Ao percorrer o caminho feito por Jesus por meio da Via-Sacra, concede-se a indulgência plenária ao fiel que reza a Via-Sacra meditando cada estação diante da representação das estações ou de um crucifixo, juntamente com as três condições da indulgência: confissão sacramental; comunhão eucarística; oração nas intenções do Sumo Pontífice.

VIVERAM A EXPERIÊNCIA DA VIA-SACRA

Ao longo da história da Igreja Católica, muitos santos se destacaram pela vivência do mistério pascal de Cristo, como é o caso de São Leonardo de Porto Maurício e Santa Eustáquia de Messina. Ambos deixaram um legado de fé por meio do testemunho pautado na espiritualidade e no itinerário da vivência da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.

SÃO LEONARDO DE PORtO MAURÍCIO

Paulo Jerônimo nasceu em Porto Maurício, perto de Gênova, na Itália, em 1676. Ainda pequeno, ficou órfão e foi entregue aos cuidados do tio. Em Roma, concluiu os estudos no Colégio Romano. Ingressou na Ordem Franciscana, no Convento de São Boaventura, vestiu o hábito e recebeu o nome de Leonardo.

No século XVIII, foi o grande apóstolo da devoção à Via-Sacra. Também é considerado o salvador do Coliseu, ao promover pela primeira vez a liturgia da Via-Sacra naquele local que foi marcado pelo martírio dos cristãos.

A partir desse ato, a celebração da Via-Sacra tornou-se tradição histórica e permanece viva até hoje: a cada Sexta-feira da Paixão, o Pontífice faz a Via-Sacra no Coliseu, em Roma.

São Leonardo destacou-se pela vivência e devoção da Via-Sacra e o amor à Virgem Maria. O Papa Pio XI o declarou padroeiro dos sacerdotes que se consagram às missões populares no mundo. É o Santo que divulgou e propagou a devoção da Via-Sacra no Ocidente. Construiu 572 Vias-Sacras, na Itália, entre 1731 e 1751.

Morreu em 26 de novembro de 1751, em Roma, no Convento de São Boaventura, mesmo local onde consagrou sua vida a Deus e à espiritualidade da Via Dolorosa de Jesus.

EStAÇõES DA VIA-SACRA

1 Jesus é condenado à morte 2 Jesus carrega a cruz 3 Jesus cai pela primeira vez 4 Jesus encontra a sua Mãe 5 Simão, o Cireneu, ajuda

Jesus a carregar a cruz 6 Verônica enxuga o rosto de Jesus 7 Jesus cai pela segunda vez 8 Jesus encontra as mulheres de Jerusalém 9 Jesus cai pela terceira vez 10 Jesus é despido de suas vestes 11 Jesus é pregado na cruz 12 Jesus morre na cruz 13 Jesus é descido da cruz e entregue a sua Mãe 14 Jesus é sepultado 15 A Ressurreição de Jesus

SANtA EUStÁQUIA DE MESSINA

Descendente de nobre e riquíssima família, nasceu em 25 de março de 1434, em Messina, na Itália. Aos 15 anos, renunciou às núpcias e ingressou no Convento das Clarissas Urbanistas de Basicó.

Dedicou sua vida ao Mistério da Paixão de Cristo. Fundou um mosteiro com o ideal de Santa Clara, pautado na austeridade amorosa a Jesus pobre e sofredor. Deixou como legado uma série de meditações sobre a experiência mística e espiritual do profundo amor à Paixão de Jesus, registrada no Livro da Paixão.

Morreu em 20 de janeiro de 1485 e seu corpo permaneceu incorrupto na igreja do Mosteiro em Messina. Foi beatificada pelo Papa Pio VI em 1782, e canonizada por São João Paulo II em 12 de junho de 1988. Sua memória litúrgica é celebrada em 20 de janeiro.

Cardeal Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano, asperge as cinzas durante missa na Catedral da Sé, no dia 17, na abertura da Quaresma

‘A Quaresma convida a renovar a fé e a retomar o caminho de Cristo’

FERNANDO GERONAZZO

osaopaulo@uol.com.br

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu a missa com o rito de imposição das cinzas, na quarta-feira, 17, na Catedral da Sé, marcando o início do tempo da Quaresma.

Nessa data também foi aberta oficialmente a Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) 2021, que tem como tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a).

A Eucaristia foi concelebrada pelo Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo, pelos bispos auxiliares da Arquidiocese e um grupo de sacerdotes.

Devido aos protocolos sanitários para a prevenção da COVID-19, houve reduzido número de fiéis presencialmente, mas a missa pôde ser acompanhada ao vivo por meio das mídias digitais da Arquidiocese e pela rádio 9 de Julho.

CINZAS

O rito de imposição das cinzas, gesto penitencial, recorda que o ser humano é fisicamente perecível, em alusão ao versículo bíblico: “Tu és pó e ao pó retornarás” (Gn 3,19). Essas cinzas, geralmente, são feitas a partir da queima dos ramos abençoados na missa do Domingo de Ramos, na Semana Santa do ano anterior.

Este ano, devido às recomendações de distanciamento físico para evitar a disseminação do novo coronavírus, a Santa Sé fez uma pequena alteração no rito de imposição. Após abençoar as cinzas, o celebrante diz uma única vez para toda a assembleia a fórmula: “Convertei-vos e crede no Evangelho” ou “Lembra-te de que és pó e ao pó voltarás”; em seguida, após higienizar as mãos e com o uso de máscara, o ministro deixa cair uma porção de cinzas sobre a cabeça dos fiéis, sem tocá-los.

OLhAR PARA O MIStéRIO PASCAL

Na homilia, Dom Odilo recordou que a Quaresma é um tempo de preparação para a Páscoa, mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, e da participação dos cristãos nesse mistério por meio do Batismo.

“Durante todo este tempo, somos orientados a olhar para a Páscoa e, também, para a nossa vida cristã. Recordamos o fundamento da nossa fé e da nossa religião, que é a expressão do nosso relacionamento com Deus”, destacou o Cardeal, convidando todos a viver intensamente a Quaresma.

“Que cheguemos bem dispostos à Páscoa, para renovarmos as promessas batismais e, assim, o vigor, a alegria da nossa união com Cristo e da missão que Ele nos dá: sermos suas testemunhas no mundo”, acrescentou o Arcebispo.

PENItÊNCIA E CONVERSÃO

O Purpurado lembrou, ainda, que os apelos à penitência e à conversão deste tempo litúrgico ressaltam a necessidade de os cristãos renovarem a vivência da fé e retomarem o caminho do seguimento de Cristo.

Dom Odilo reforçou que, por meio dos exercícios quaresmais da oração, do jejum e da esmola, o cristão é capaz de enfrentar as forças que o impelem ao mal.

“A penitência não é para nos castigar, mas para nos fortalecer. É o exercício que fortalece a nossa vontade e nos ajuda a sermos firmes no caminho do Evangelho”, destacou o Cardeal, enfatizando que, como Jesus exorta no Evangelho proclamado nessa celebração, tais práticas devem ser sinceras e corresponder a uma vontade interior que honre a Deus e não procure a glória pessoal.

Sobre a oração, o Arcebispo recordou que esta consiste na busca profunda de diálogo com Deus e escuta de sua Palavra, a frequência aos sacramentos, especialmente a Eucaristia.

Já a esmola resume todo o conjunto da caridade e das obras de misericórdia e, recordando o que diz a Sagrada Escritura, Dom Odilo frisou: “Sem a caridade, a nossa fé é vazia, morta”.

CAMPANhA DA FRAtERNIDADE

O Cardeal Scherer lembrou que a Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) se insere como um dos exercícios quaresmais de caridade e, neste ano, de modo especial, chamando todos para a busca da unidade entre os discípulos de Cristo que estão divididos.

“Jesus quer nos unir em si. Por isso, devemos buscar o diálogo fraterno, o respeito e a escuta, por meio da ação no mundo”, afirmou Dom Odilo, enfatizando que é possível realizar tantas iniciativas comuns, mesmo que haja diferenças na fé. “Fazendo isso, aproximamo-nos, superamos aquilo que nos divide. Se estamos divididos, falta a caridade, falta o amor entre nós”, completou.

COMUNhÃO

Por fim, o Arcebispo salientou que mesmo entre os católicos existem divisões “contagiadas por uma mentalidade que não é cristã”, sobretudo quando são marcadas por ideologias colocadas acima da fé e da comunhão em torno do mesmo altar.

No fim da missa, o Arcebispo e os bispos auxiliares fizeram um envio simbólico para a realização da CFE, entregando exemplares do manual da Campanha a representantes das regiões e vicariatos episcopais da Arquidiocese.

Novamente, Dom Odilo chamou a atenção para o tema do diálogo. “Não fazemos a Campanha da Fraternidade para promover a discórdia. Pelo contrário: que seja uma campanha para promover a fraternidade, superar os conflitos, não apenas com quem crê diferente de nós, mas com aqueles que professam a fé na mesma Igreja”, manifestou o Cardeal, concluindo: “A comunhão, expressão do amor fraterno, vem de Deus e leva a Ele”.

www.osaopaulo.org.br

No site do jornal O SÃO PAULO, você acessa conteúdos atualizados sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Patriarca Maronita fala sobre as práticas penitenciais da Quaresma https://cutt.ly/yk4S8zg Papa: mártires coptas confessaram Jesus até a morte https://cutt.ly/Mk4SKm8 Arquidiocese de La Paz realiza missa em ação de graças por profissionais da Saúde https://cutt.ly/mk4Dzf1 Dom Odilo: ‘Tomemos cuidado com o fermento do ódio e das divisões’ https://cutt.ly/9k4SM40 Projetos sociais ajudam a diminuir os abismos da desigualdade na capital paulista https://cutt.ly/nk4Dqgw Na volta às aulas, o que pode ou não na lista do material escolar? https://cutt.ly/Ak4Dyjf

Na abertura da CFE, Secretário-Geral da CNBB pede que cristãos busquem a unidade https://cutt.ly/kk4SYMb

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