16 | Fé e Vida | 18 a 23 de fevereiro de 2021 |
Liturgia e Vida 1º Domingo da Quaresma 21 de fevereiro de 2021
Quarenta dias para amar Padre João Bechara Ventura Períodos de prova decisivos foram assinalados pelo número 40. Durante 40 dias, o dilúvio caiu sobre a terra (cf. Gn 7,12); por 40 anos, os israelitas andaram errantes no deserto (cf. Nm 32,13); na revelação dos mandamentos, Moisés esteve com o Senhor 40 dias sem comer nem beber (cf. Ex 34,28); 40 dias foi o prazo anunciado por Jonas para que Nínive fosse destruída (cf. Jn 3,4). Após esses períodos duros de “quarenta”, a relação dos homens com Deus se estreitou e se aprofundou de um modo novo. Também Nosso Senhor Jesus Cristo quis que sua pregação fosse precedida por 40 dias e 40 noites no deserto, durante os quais Ele jejuou, orou e foi tentado por satanás (cf. Mt 4,2; Mc 1,13). Depois da Ressurreição, Ele apareceu por 40 dias aos apóstolos, confirmando-os na fé (cf. At 1,3). Movida por essa tradição que vai do Gênesis à Redenção, a Igreja, desde a época apostólica, prepara a celebração da Páscoa e o Batismo dos novos fiéis com a Quaresma: 40 dias de jejum, oração e esmolas. Estas são as obras que Cristo nos mandou fazer assiduamente e em segredo, para adquirirmos “um tesouro nos Céus” (Mt 6,1-21); elas predispõem a alma para a graça santificante. A Quaresma é um tempo de prova e de purificação! Pelo jejum, expiamos os pecados e pedimos, como os ninivitas, que o Senhor afaste as penas temporais por eles merecidas. A privação de satisfações sensíveis prepara-nos, como a Moisés, para enxergar a vontade de Deus. Pela esmola, libertamo-nos da avareza – que é uma idolatria (cf. Cl 3,5) – e do egoísmo, para nos colocarmos à disposição de Cristo, que continua sua obra por meio da Igreja. Pela oração, cumprimos a finalidade da nossa existência no “deserto” deste mundo: unir-nos a Deus já aqui para, ao fim da peregrinação terrestre, vivermos definitivamente com Ele no Céu, a verdadeira Terra Prometida. Como todos os períodos de prova, a Quaresma é uma preciosidade! “Feliz o homem perseverante na provação pois, uma vez provado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu àqueles que O amam” (Tg 1,12). Na vida, somos constantemente postos à prova: as circunstâncias, as fraquezas pessoais, as pessoas hostis, a falta de saúde, a dificuldade econômica, o tentador… Tantas coisas põem à prova nosso amor, fé e paciência, que poderíamos até nos assustar! Porém, tudo se transformará em instrumento de Deus para que aprendamos a amar e a crer. A provação nos tece uma linda coroa de glória, e a finalidade da Quaresma é que, por meio de uma purificação mais intensa, nos exercitemos na perseverança, na paciência, na fé e no amor. Façamos propósitos concretos para este tempo de graça! Seremos sustentados pela oração da Igreja inteira e sustentaremos também os outros. Deus proverá tudo e nos concederá graças especiais. Com Jesus no deserto, cantemos: “Bendito o Senhor, meu rochedo, que treina minhas mãos para a batalha e meus dedos para a guerra” (Sl 144,1). Bendito o Senhor que nos exercita no amor!
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São Gregório de Narek Abade, poeta e Doutor da Igreja Flavio Rogério Lopes
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São Gregório de Narek, abade e Doutor da Igreja, foi inscrito no Calendário Romano por meio de um decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, promulgado pelo Papa Francisco no início do mês. Gregório é venerado como Santo pela Igreja Católica Armênia e reconhecido também pela Igreja Católica Romana. Sua memória litúrgica será celebrada no dia 27 de fevereiro. “A santidade está unida ao conhecimento, que é experiência do mistério de Jesus Cristo, indissoluvelmente unido ao mistério da Igreja. Esta união entre santidade e inteligência das coisas divinas em conjunto com as humanas resplandece, de modo particular, naqueles que são ornados com o título de ‘doutores da Igreja’”, afirma o decreto assinado pelo Cardeal Robert Sarah e por Dom Arturo Roche, respectivamente, Prefeito e Secretário da Congregação. O documento reforça, ainda, que esta memória constará em todos os calendários e livros litúrgicos para a celebração da missa e da Liturgia das Horas, cabendo às conferências episcopais, com a aprovação vaticana, traduzir as variações e acréscimos nos devidos textos litúrgicos. ESPÍRITO ECUMÊNICO Em 12 de abril de 2015, em missa presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em memória do 1,5 milhão de mártires armênios, São Gregório de Narek foi elevado à categoria de Doutor da Igreja universal. A celebração foi um ponto culminante do espírito ecumênico entre as duas igrejas, pois pela primeira vez se reuniram todos os líderes da Igreja Armênia com o Romano Pontífice. “São Gregório de Narek, monge do século X, mais do que qualquer outro, soube manifestar a sensibilidade do vosso povo, dando voz ao clamor, que se torna oração de uma humanidade dolente e pecadora, oprimida pela angústia da própria impotência, mas iluminada pelo esplendor do amor de Deus e aberta à esperança da sua intervenção salvífica, capaz de transformar qualquer situação”, afirmou Francisco, em mensagem aos armênios naquela ocasião. UM SANTO EM VIDA Gregório nasceu no ano de 951, em Andzevatsik, Vaspuracã, na antiga Armênia. Perdeu a mãe ainda criança e, quando seu pai, Khosrov, foi eleito Arcebispo de Andzevatsik, sua educação foi confiada a Ananias de Narekavank,
para que ele pudesse se dedicar mais às suas funções eclesiais. Ananias, também chamado “o filósofo”, era abade do mosteiro de Narek e fundador da escola local e do mosteiro do povo, que estava situado às margens do lago Van, em Vaspuracã (atual Turquia), e era conhecido pelas vocações e a vida espiritual. São Gregório viveu em plena época da separação entre a Igreja Apostólica Armênia e a Igreja em Roma, uma época anterior às invasões dos turcos e dos mongóis, anos nos quais a Igreja Armênia experimentou um autêntico
milagres foram atribuídos por sua intercessão. Morreu no ano de 1005, no Mosteiro de Narek, onde ainda hoje está sepultado. O seu túmulo foi durante muito tempo local de peregrinações.
DIVERSAS OBRAS São João Paulo II fez referência a Gregório de Narek em diversos discursos, assim como em sua encíclica Redemptoris Mater e em sua carta apostólica sobre o 1.700º aniversário do batismo do povo armênio. Gregório é mencionado também no artigo 2678 do Catecismo da Igreja Católica: “A piedade medieval Reprodução do Ocidente propagou a oração do Rosário como alternativa popular da Liturgia das Horas. No Oriente, a forma litânica da oração ‘Acatisto’ e da ‘Paráclise’ ficou mais próxima do ofício coral nas Igrejas bizantinas, ao passo que as tradições armênia, copta e siríaca preferiram os hinos e os cânticos populares à Mãe de Deus. Mas, na Ave-Maria, nos theotokía, nos hinos de Santo Efrém ou de São Gregório de Narek, a tradição da oração é fundamentalmente a mesma”. São Gregório de Narek é o autor de uma interpretação mística do “Cântico dos Cânticos” e de diversas outras obras poéticas. Seu renascimento cultural, ao qual contri“Livro de Orações”, também conhecido buiu fortemente o próprio Santo. como “Livro de Lamentações” – um Gregório permaneceu no mosteiro longo poema místico dividido em 95 por toda a vida: foi ordenado sacerdote seções e escrito provavelmente em 977 aos 25 anos e eleito abade após a morte –, foi traduzido para diversas línguas e de Ananias. Não faltaram demonstrapermanece, ainda hoje, como uma das ções de sabedoria em seus vários esmais importantes obras da literatura arcritos teológicos, que o tornaram um mênia. importante poeta da literatura armênia. (Com informações de Vatican News, ACI Digital e Portal A12) *Notícia produzida sob a supervisão de Daniel Gomes Tinha fama de santidade e alguns