O São Paulo - 3334

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo ano 66 | Edição 3334 | 18 a 23 de fevereiro de 2021

Na Quaresma, renovar a fé e retomar o caminho de Cristo Luciney Martins/O SÃO PAULO

www.osaopaulo.org.br | R$ 2,00

Editorial A busca da unidade dos cristãos a partir dos laços visíveis de comunhão

Página 4

Encontro com o Pastor

Os exercícios da Quaresma estão voltados para a celebração da Páscoa Página 2

Espiritualidade Que aprendamos a dialogar como Jesus Cristo nos ensina constantemente

Página 5

Liturgia e Vida

40 dias para nos exercitarmos na perseverança, paciência, fé e amor

Página 16

Comportamento O empenho dos pais para que os irmãos sejam amigos e companheiros

Página 7

A Igreja Católica continua a missão de seu fundador, Jesus Cristo A partir de fontes bíblicas, da Tradição e do Magistério eclesiástico, é possível reconhecer que a Igreja é um projeto que nasceu do coração do Pai e foi instituída por Cristo com a missão de anunciar o Evangelho da salvação a todos os povos. Páginas 10 e 11

Frei Carlos Silva é ordenado Bispo pelo Cardeal Odilo Scherer Ordenação ocorreu na Catedral da Sé, no sábado, 13. Novo Bispo Auxiliar foi designado como Vigário Episcopal da Região Brasilândia. Páginas 8 e 9

Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, durante o rito de imposição das cinzas na Catedral da Sé, na quarta-feira, 17

O Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a missa com o rito de imposição das cinzas, na quartafeira, 17, na Catedral da Sé, no início do tempo da Quaresma. Na mesma data, houve a abertura da Campanha da Fraternidade Ecumênica. Na homilia, o Arcebispo Metropolitano recordou que a Quaresma é um tempo de preparação para a Páscoa, mistério da Paixão, Morte

e Ressurreição de Jesus, e que a participação dos cristãos nesse mistério se dá por meio do Batismo. No Vaticano, o Papa Francisco presidiu missa na Basílica de São Pedro e ressaltou que a Quaresma é o melhor momento para “discernir para onde está orientado o meu coração”. Páginas 19 e 20

Fevereiro Laranja alerta para a prevenção da leucemia Além de incentivar o diagnóstico precoce, campanha motiva que mais pessoas sejam doadoras de medula óssea. Página 14


2 | Encontro com o Pastor | 18 a 23 de fevereiro de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

C

om a Quarta-feira de Cinzas, a Igreja inicia o tempo quaresmal, durante o qual nos preparamos para a celebração da Páscoa deste ano. São 40 dias de exercícios, no ritmo da liturgia, da pregação e de práticas voltadas a nos ajudar na preparação para celebrar a Páscoa da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, mistério central da nossa fé. Com a celebração da Páscoa estão relacionados o nosso Batismo e toda a nossa vida cristã. Fomos batizados na morte de Cristo para, com Ele, vivermos vida nova, conforme palavras de São Paulo. Por isso, na Quaresma, recordamos as referências centrais da nossa fé e das promessas batismais, para confrontar-nos com os propósitos da vida cristã; e ouvimos muitas vezes o chamado à penitência e à conversão, para assumirmos em nossa vida aquilo que nos une à Paixão e Morte de Cristo (morte ao pecado) e para

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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Apelos da Quaresma assumirmos, com renovada alegria, aquilo que nos une a Cristo ressuscitado (vida nova segundo o Evangelho). Os múltiplos exercícios da Quaresma estão voltados para a celebração da Páscoa, como aparece de forma eloquente na vigília pascal, do Sábado Santo: escuta e acolhida atenta da Palavra de Deus, renovação da profissão de fé e das promessas do Batismo, participação na vida nova de Jesus Cristo ressuscitado. São muitos os exercícios quaresmais, aos quais a Igreja nos chama durante este tempo precioso. O exercício da “conversão” é o primeiro e significa o retorno a Deus, de todo o coração. A conversão, antes de se referir a questões da vida moral, refere-se à observância do primeiro mandamento da lei de Deus: amar a Deus sobre todas as coisas, reconhecer e adorar a Deus sinceramente, orientando para Ele a vida, com fé e confiança, sem reservas. Não podemos dar a Deus apenas uma parte de nossa vida, reservando para os próprios caprichos e gostos uma outra parte da vida, na qual Deus não tem nada a dizer. A conversão a Deus também inclui a escuta de Deus: ouvir

com atenção e interesse, acolhendo sua Palavra sábia e sempre boa para nós. Quantas vezes ouvimos dos profetas e do próprio Jesus este apelo: “Não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor!”. Ouvir a Deus e acolher sua vontade, que se expressa nos mandamentos, nas palavras do Evangelho e, de modo geral, nas palavras da Escritura e, também, da Igreja, encarregada de proclamar e testemunhar com autoridade a palavra de Jesus Cristo e de Deus. É claro que a conversão também requer mudanças em nosso comportamento moral, quando vivemos de forma contrária a Deus e seus mandamentos. De nada adiantaria honrar a Deus com os lábios e com ritos exteriores, se o nosso coração e a nossa vida não estiverem voltados para Deus. Nossa vida moral, em todos os sentidos, deve ser coerente com a graça recebida no Batismo: somos filhos de Deus e membros da Igreja, testemunhas da vida nova que vem do Evangelho. Exercício indispensável da Quaresma é a prática das obras de misericórdia, como expressão concreta da caridade e da fraternidade cristã. De fato, não há

vida cristã verdadeira e fecunda sem a prática do amor fraterno e, portanto, a exercitação diária nas obras de misericórdia deve fazer parte da vivência da Quaresma. A Campanha da Fraternidade propõe, todos os anos, durante o período quaresmal, alguma dimensão da caridade e da fraternidade, pela qual se faz necessária a conversão pessoal e social. Assim, a Campanha da Fraternidade cabe muito bem na vivência da Quaresma, embora ela não realize todas as dimensões deste tempo. A Campanha faz parte dos exercícios da Quaresma e tem alcance social, envolvendo vários aspectos da vida cultural e do convívio social. Nesse sentido, ela é uma expressão da ação evangelizadora, mediante a qual a Igreja vai além de sua vida interna e proclama o Evangelho à sociedade e ao convívio humano mais amplamente. Qualquer que seja o tema, o foco será sempre a promoção da fraternidade, como dimensão inerente à vida segundo o Evangelho. E todos somos chamados a promover o diálogo e a fraternidade para a superação dos conflitos e das polarizações que promovem todo tipo de violência.

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Reportagem: Padre Bruno Muta Vivas e Fernando Geronazzo • Auxiliar de Redação: Flavio Rogério Lopes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Fotografia: Luciney Martins • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Edição Gráfica: Ana Lúcia Comolatti • Impressão: S.A. O ESTADO DE S. PAULO • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222• Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 2,00 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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| 18 a 23 de fevereiro de 2021 | Geral/Atos da Cúria | 3

RCC da Arquidiocese de São Paulo

Reprodução

MISSA NO XXVIII ALEGRAI-VOS

Na tarde do domingo, 14, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu a missa de encerramento do XXVIII Alegrai-vos, evento de carnaval organizado pela Renovação Carismática Católica (RCC) da Arquidiocese de São Paulo. Em razão da atual pandemia, todas as atividades do evento, que ocorreram na Paróquia Nossa Senhora do Pilar, na Região Episcopal Belém, foram transmitidas on-line pelo YouTube e o Facebook. (Com informações da RCC da Arquidiocese de São Paulo)

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 08/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia São João Batista, no bairro Vila Mangalot, na Região Episcopal Lapa, o Reverendíssimo Padre Jean Ordean Alves dos Santos, CSSp, pelo período de 03 (três) anos.

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PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 02/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Brasil, no bairro do Jardim América, na Região Episcopal Sé, do Reverendíssimo Padre Michelino Roberto, pelo período de 03 (três) anos. Em 02/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Santíssimo Sacramento, no bairro do Paraíso, na Região Episcopal Sé, do Reverendíssimo Padre Aparecido Silva, pelo período de 03 (três) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 15/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Sant’Ana, no bairro de Santana, Região Episcopal Sant›Ana, o Reverendíssimo Padre Rafael Tavares da Mota, ISch. Em 10/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro Vila Alpina, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Benedito Aparecido Maria de Borba. Em 10/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora do Loreto, no bairro de Vila Medeiros, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Chinaka Justin Mbaeri. Em 09/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia São Judas Tadeu, no bairro do Jabaquara, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Aloísio

Wilibaldo Knob, SCJ, pelo período de 03 (três) anos. Em 09/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia São Judas Tadeu, no bairro do Jabaquara, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Cláudio Weber, SCJ, pelo período de 03 (três) anos. Em 08/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia São João Bosco, no bairro Alto da Lapa, na Região Episcopal Lapa, o Reverendíssimo Padre Ailton António dos Santos, SDB, pelo período de 03 (três) anos. Em 08/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia São João Bosco, no bairro Alto da Lapa, na Região Episcopal Lapa, o Reverendíssimo Padre Paulo Manoel de Souza Profilo, SDB, pelo período de 03 (três) anos. POSSE CANÔNICA: Em 07/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Imaculada Conceição, no bairro do Ipiranga, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre Boris Agustin Nef Ulloa. Em 07/02/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia São João Evangelista, no bairro Casa Verde, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Antônio Messias Gomes Fernandes. Em 06/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São Vicente de Paulo, no bairro do Moinho Velho, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre Leocádio Zytkowski, CM. Em 31/01/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Santa Edwiges, no bairro do Sacomã, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre Hilton Carlos Soares, OSJ. Em 31/01/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Santa Edwiges, no bairro do Sacomã, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre Orestes Monteiro de Melo, OSJ.


4 | Ponto de Vista | 18 a 23 de fevereiro de 2021 |

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Editorial

Para que todos sejam um!

P

oucas aspirações do coração humano estiveram mais universalmente presentes na história do que o desejo de união e o anseio por uma sociedade de pessoas que se enxergam como irmãos. Se pensarmos um pouco mais sobre esta ideia, no entanto, veremos que o conceito de fraternidade (do latim frater, “irmão”), por definição, pressupõe as noções de paternidade e de família. Por isso é que qualquer projeto de irmandade global que não reconheça a figura de um Pai comum está fadado ao fracasso – pelo contrário, nossa religião nos ensina que, quando criou o universo, Deus tinha em mente a união de todos os seus filhos, numa grande família espiritual (cf. Catecismo da Igreja Católica, CIC, 758-759). Esta “família de Deus” (CIC, 759), que começou a ser preparada desde a vocação de Abraão a ser pai de “uma grande nação” (cf. Gn 12,3; 15,5-6) e a eleição de Israel como o povo de Deus (cf. Ex 19,5-6), foi depois constituída por Cristo por meio da redenção realizada na Cruz, e organizada hierarqui-

camente com pastores (os apóstolos e seus sucessores, os bispos) designados para cuidar do rebanho. Tal estrutura, no entanto, é temporária, e destinada a durar apenas durante a peregrinação desta vida terrena, pois, quando Cristo retornar, Ele reunirá os membros desta família no Céu. É preciso reconhecer, no entanto, que, ao longo dos séculos, esta família passou por diversas fraturas em sua unidade – decorrências, muitas vezes, do pecado de homens de ambas as partes (cf. CIC, 817). A existência das igrejas e comunidades cristãs desvinculadas da unidade católica está hoje tão arraigada que não se pode imputar aos que nascem em tais comunidades o pecado de separação (cf. CIC, 818) – e é preciso reconhecer que o Espírito Santo pode, sim, se utilizar das comunidades cristãs separadas como meios de salvação (cf. CIC, 819). Chamamos de ecumenismo os esforços no sentido de reencontrar a unidade dos cristãos. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, essa unidade tão desejada deve ser buscada sobretudo por meio

Fabricação de bebês

nico, e com razão podem chamar-se ecumenismo espiritual; - o mútuo conhecimento fraterno; - a formação ecumênica dos fiéis, e especialmente dos sacerdotes; - o diálogo entre os teólogos, e os encontros entre os cristãos das diferentes Igrejas e comunidades; - a colaboração entre cristãos nos diversos domínios do serviço dos homens (cf. CIC, 821). Diz ainda: “A preocupação em realizar a união diz respeito a toda a Igreja, fiéis e pastores. Mas, também, se deve ter consciência de que este projeto sagrado da reconciliação de todos os cristãos na unidade de uma só e única Igreja de Cristo ultrapassa as forças e as capacidades humanas. Por isso, pomos toda a nossa esperança na oração de Cristo pela Igreja, no amor do Pai para conosco e no poder do Espírito Santo” (cf. CIC, 822). Rezemos, pois, por todos os nossos irmãos que creem no Cristo, para que a integridade da fé e os laços da caridade unam os que foram consagrados por um só batismo.

Opinião Arte: Sergio Ricciuto Conte

EDUARDO R. CRUZ Não muito tempo atrás, o ter uma criança era algo natural na sociedade. Apesar das preocupações e durezas de gestar e acompanhar uma criança, supunha-se que o ter filhos era um papel importante para a manutenção e o reavivamento da sociedade. Ademais, a criança vinha como uma graça, uma surpresa, em geral positiva. Aceitava-se a criança assim como a natureza a fornecia. Mas uma rebelião silenciosa se instalou entre os adultos. Ter uma criança tornou-se uma questão de escolha, inclusive quanto ao genótipo do ser em questão. Duas notícias recentes reforçam esse viés narcisista de nossa geração. A primeira diz respeito a uma startup em Israel que desenvolveu uma tecnologia que torna a fertilização in vitro mais barata, segura e eficiente. Uma consequência dessa nova facilidade é que realizar uma fertilização deixa de ser a última opção de um casal que apresenta dificuldade de ter filhos, e passa a ser mais um procedimento rotineiro para quem quiser ter um bebê sob demanda, ajustado geneticamente de acordo com a preferência. Os outros embriões são

da caridade, já que ela é o vínculo da perfeição (cf. Cl 3,14). Mas a unidade da Igreja peregrina é assegurada, também, por laços visíveis de comunhão, a saber: “A profissão de uma só fé, recebida dos apóstolos; a celebração comum do culto divino, sobretudo dos sacramentos, e a sucessão apostólica pelo sacramento da Ordem, que mantém a concórdia fraterna da família de Deus” (CIC, 815). Como caminhos de perseguição dessa unidade da família de Deus, o Catecismo da Igreja aponta as seguintes exigências: - uma renovação permanente da Igreja, numa maior fidelidade à sua vocação. Essa renovação é a força do movimento a favor da unidade; - a conversão do coração, com o fim de levar uma vida mais pura segundo o Evangelho, pois o que causa as divisões é a infidelidade dos membros ao dom de Cristo; - a oração em comum, porque a conversão do coração e a santidade de vida, unidas às orações, públicas e privadas, pela unidade dos cristãos, devem ser tidas como alma de todo o movimento ecumê-

descartados por serem “menos viáveis”. É a reprodução por capricho, não somente para um casal que só admite ter filhos se puder controlar a “qualidade de fábrica” deles, mas, também, mais uma possibilidade para que mulheres deixem de se dar ao trabalho de se relacionar e amar um homem para ter seus próprios bebês. Além disso, como é quase senso comum hoje, ter um filho acaba se subordinando às demandas da carreira. Como diz a reportagem, como mais e mais mulheres

atrasam o ter filhos devido ao estilo de vida e à busca de sucesso na carreira, a demanda pela In Vitro Fertilization (IVF) está aumentando e vai acelerar nos próximos anos. A outra notícia diz respeito a um holandês que já doou sêmen para mais de 200 mulheres, uma prática que levantou preocupações com casamentos consanguíneos. Entretanto, talvez a preocupação seja outra. Pessoas normais se relacionam com pessoas similares, gerando bebês normais, mas isso dá lugar agora a

mulheres que procuram doadores que apresentam características ideais em uma sociedade de consumo, desacoplando as relações sexuais da procriação (como no “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley). Tanto na primeira matéria quanto na segunda, a palavra “casal” não surge, reforçando-se, assim, a impressão de um capricho para combater a solidão, como se fosse o mesmo que adotar um pet. Tanto no caso da IVF quanto no caso da doação, o que se tem efetivamente é uma forma de eugenia (ainda que todos digam que não), pura e simples. É verdade que no passado já existiam situações diferenciadas daquilo que se considerava um padrão, mas hoje há uma recusa de qualquer padrão que seja. O bebê deixa de ser o fruto da relação de um casal e passa a ser uma entre outras comodities, passível de escolha como se faz, por exemplo, ao se mudar a decoração da casa. Não se “tem” mais crianças, agora elas são feitas. Há a urgência, portanto, de denunciar essa nova forma de eugenia, que infelizmente está se tornando o “novo normal”. Eduardo R. Cruz é professor titular do Departamento de Ciências da Religião da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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belém

Dom Odilo inaugura Gruta de Nossa Senhora de Lourdes em paróquia no Brás Pascom Paroquial

Padre Valdeir Goulart e Fernando Arthur

COLABORADORES DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

A Paróquia São João Batista do Brás comemora anualmente a festa de Nossa Senhora de Lourdes em 11 de fevereiro. A devoção à Padroeira dos Enfermos vem de longa data, desde 1929, quando uma gruta para ela foi construída no interior do templo. Na noite da quinta-feira, 11, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu missa na Paróquia, concelebrada pelos Padres Valdeir dos Santos, Pároco, e Carlos Cirto, com a participação presencial dos fiéis, respeitando-se todos os protocolos sanitários. No fim da missa, o Arcebispo abençoou a imagem mariana, confeccionada em pó de mármore branco, e inaugurou a nova gruta na parte externa da Igreja. Graças à colaboração financeira dos fiéis e dos amigos da Paróquia, por meio da campanha “Aos pés da Virgem Maria”, foi possível construir a gruta e remodelar o largo em torno da igreja, com a ampliação do estacionamento e nova iluminação. Os nomes de todos os colaboradores foram

Reprodução da intenet

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[BELÉM] No dia 11, Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, presidiu a Eucaristia na festa da Padroeira da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, na Água Rasa. No início da celebração, ele recordou que Nossa Senhora “quer nos conduzir ao encontro de seu Filho, Jesus Cristo, Aquele que nos liberta de todos os males, e assim, cada vez mais, nós possamos cumprir nossa missão; e que possamos nos tornar mais seguidores de Jesus Cristo”. Na homilia, o Bispo exortou os fiéis a construírem uma sociedade cada vez mais capaz de amar e acolher o próximo. Ao final, Dom Luiz Carlos rezou diante da imagem de Nossa Senhora de Lourdes. (por Fernando Arthur) Luiz Ivanov

Dom Odilo Scherer durante inauguração da gruta de Nossa Senhora de Lourdes, dia 11

colocados na gruta, logo abaixo dos pés da imagem de Nossa Senhora de Lourdes. “A devoção a Nossa Senhora de Lourdes quer lembrar a verdade sempre afirmada nas orações, de que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à Sua proteção, im-

plorado a Sua assistência, reclamado o Seu socorro e invocado o Seu Santo Nome, fosse por Ela desamparado, pois a Virgem Maria sem pecado socorre os pecadores e intercede por todos nós, e Deus continua operando maravilhas por meio da Sua e Nossa Mãe”, afirma o Padre Valdeir.

[BELÉM] Em missa na Paróquia São José do Belém, no domingo, 14, o vocacionado Felipe Matos Cândido foi enviado ao Seminário Propedêutico Arquidiocesano. A celebração foi presidida pelo Pároco, Padre Marcelo Maróstica Quadro. Um dos participantes da missa foi o vocacionado Gabriel Caetano, da Paróquia Santa Isabel Rainha, que também será enviado ao seminário. (por Fernando Arthur)

Espiritualidade

Aprender dos diálogos de Jesus Dom Carlos Lema Garcia

V

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE E VIGÁRIO EPISCOPAL PARA A EDUCAÇÃO E A UNIVERSIDADE

ejo muito oportuno o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, sobre o diálogo como compromisso de amor, porque todos nós precisamos de alguém para conversar, ou seja, sentimos a falta do diálogo nos momentos de grande alegria ou de séria preocupação, por uma decisão importante, em que temos dúvida ou incerteza. Necessitamos tanto do diálogo humano quanto do diálogo com Deus. Para aprender a dialogar, repassemos algumas páginas do Evangelho e encontraremos essa atitude constante de abertura ao diálogo por parte de Jesus. Ele é a Palavra viva e, portanto, o seu diálogo traz luz e alegria aos corações. As palavras de Jesus penetram o íntimo das pessoas, iluminam a sua inteligência, inflamam seu coração e suscitam em suas

almas a correspondência ao amor e o desejo de reconhecer a verdade e, portanto, entrar no caminho da felicidade. É também frequente encontrar no Evangelho pessoas que, ao conversarem com Jesus, descobrem a sua vocação ou têm uma conversão profunda e mudam de atitude, fazendo de suas vidas uma entrega a Deus e aos irmãos. Assim o vemos no diálogo de Jesus com a mulher samaritana: ainda que ela, de início, rejeite conversar, acaba se interessando quando Jesus fala de uma água viva, que sacia a sede de maneira definitiva. Aquela mulher percebe que Jesus a conhecia por dentro e todo o seu passado: isso a deixa radiante e transformada... Outra situação surpreendente acontece na entrada de Jericó: Jesus vê um homem em cima de uma árvore e lhe diz: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje eu devo me hospedar na tua casa...”. As palavras do Senhor demonstram confiança, tocam o seu coração e resgatam o que há de melhor naquele homem. Por isso sua reação é generosa: “Dou metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, restituirei o quádruplo...”. Jesus demonstra carinho, esbanja generosidade, comove e converte aquele publicano. Zaqueu recebeu Jesus em sua casa e se

encantou, porque entendeu que a caridade, o amor aos outros, vale muito mais que o dinheiro acumulado. Assim, também, acontece em muitos outros diálogos de Jesus: com Nicodemos, com Bartimeu, com a mulher cananeia, com Judas, o traidor, com o bom ladrão. Jesus dialoga com todos: pobres e ricos, homens e mulheres, judeus e gregos, sãos e enfermos, crianças e idosos... Sempre aberto a todos, disponível a todos. No entanto, não compactua com o erro e o pecado, e fala claramente ao coração de cada pessoa. São Paulo VI escreveu em 1964 a encíclica Ecclesiam suam (ES), em que, na terceira parte, trata de maneira prática do diálogo. Vejamos apenas dois textos: “É preciso que tenhamos sempre presente esta inefável e realíssima relação de diálogo, que Deus Pai nos propõe e estabelece conosco por meio de Cristo no Espírito Santo, para entendermos a relação que nós, isto é, a Igreja, devemos procurar restabelecer e promover com a humanidade” (ES, 42). “O colóquio é, portanto, modo de exercer a missão apostólica, arte de comunicação espiritual. As suas características são as seguintes: l) Primeira, a clareza. O diálogo supõe e exige compreensibilidade, é transfusão do pensamento, é estímulo

do exercício das faculdades superiores do homem. (...) 2) Outra característica é a mansidão, aprendida na escola de Cristo, como Ele nos recomendou: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). O diálogo não é orgulhoso, não é pungente, não é ofensivo. A autoridade vem-lhe da verdade que expõe, da caridade que difunde, do exemplo que propõe; não é comando, não é imposição. O diálogo é pacífico, evita os modos violentos, é paciente e é generoso. 3) Outra característica é a confiança, tanto na eficácia da palavra-convite quanto na receptividade do interlocutor. Produz confidências e amizade, enlaça os espíritos numa adesão mútua ao Bem, que exclui qualquer interesse egoísta. 4) E a última característica é a prudência pedagógica, que atende muito às condições psicológicas e morais de quem ouve (cf. Mt 7,6): se criança, se inculto, indisposto, desconfiado e mesmo hostil. Essa prudência leva a tomarmos o pulso à sensibilidade alheia e a modificarmos as nossas pessoas e modos, para não sermos desagradáveis nem incompreensíveis” (ES, 47). Vamos pedir a Nossa Senhora e a São José, neste seu ano, que aprendamos a dialogar assim como Jesus nos ensinou constantemente.


6 | Regiões Episcopais | 18 a 23 de fevereiro de 2021 |

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Pascom Paroquial

Arsenal da Esperança realiza programação no ambiente digital Reprodução

POR ARSENAL DA ESPERANÇA Fundado em 1996 por iniciativa de Ernesto Olivero e Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, o Arsenal da Esperança acolhe diariamente 1,2 mil homens que se encontram em dificuldades, o assim chamado “povo em situação de rua” – jovens e adultos que sofrem pela falta de trabalho, casa, alimentação, saúde e família. Localizado nas instalações da antiga Hospedaria de Imigrantes, o Arsenal é habitado pela Fraternidade da Esperança-SERMIG, uma comunidade de casais, consagrados e sacerdotes fundada em 1964, na Itália, pelo próprio Ernesto Olivero e sua esposa, Maria. Para manter o serviço de acolhida e as muitas atividades que realiza, o Arsenal da Esperança pede a doação de

Podcast do Arsenal nas multiplataformas

itens diversos, listados em seu Facebook (@arsenaldaesperanca), ou contribuições financeiras, pelos seguintes canais: PIX: CNPJ 62.459.409/0001-28; ou em conta bancária: Banco Santander - Agên-

cia: 0144 - Conta: 13-003147-6 - Associação Assindes Sermig. O Arsenal também tem ampliado sua presença no ambiente digital. Às segundas-feiras, é apresentado em multiplataformas – Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, Deezer e Castbox – um episódio inédito do “Buona Giornata”, o podcast do Arsenal da Esperança. Nesta semana, o assunto é sobre o bloco de rua “Batuca Bresser”, que, devido à atual pandemia, não desfilou neste ano. Às terças-feiras, às 20h, acontecem lives. A última, no dia 16, com o título “Todos sob a mesma tenda”, mostrou a história, o carisma, a espiritualidade e o método do Sermig. A transmissão é sempre pelo canal do YouTube do Arsenal da Esperança (youtube/arsenaldobrasil), por onde também são transmitidas as missas dominicais às 11h.

Servo de Deus Franz de Castro em destaque no ‘Brasil Terra de Santos’ Conhecido popularmente como mártir da Pastoral Carcerária, Franz de Castro Holzwarth nasceu em 18 de maio de 1942, em Barra do Piraí (RJ). Na juventude, não escondia o desejo de ser sacerdote, de “doação total a Cristo”, e, por isso, iniciou o discernimento com os Dehonianos, de Taubaté (SP). Ali, foi convidado a preparar os encarcerados

para a Crisma e, então, descobriu sua vocação: trabalhar com os condenados. Em 1973, ingressou na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) e ali permaneceu até o dia de sua morte, 14 de fevereiro de 1981, ao tentar mediar o fim de uma rebelião na cadeia pública de Jacareí (SP). Em março de 2009, a Diocese de São Caroline MYiabi Caires

José dos Campos iniciou o processo de beatificação do Servo de Deus. Esses e outros detalhes estão no vídeo deste mês do projeto “Brasil Terra de Santos”, mantido pelas Paróquias Nossa Aparecida dos Ferroviários e Nossa Senhora de Casaluce, Setor Brás. O acesso pode ser feito pelo Instagram ou YouTube (@BrasilTerradeSantos). Pascom Candelária Setor Vila Maria

[BELÉM] No domingo, 14, Dom Luiz Carlos Dias presidiu missa na Paróquia São Carlos Borromeu, na Vila Prudente, durante a qual deu posse ao Cônego César Gobbo como Pároco e apresentou o Padre José Osterno de Aquino como Vigário Paroquial. (por Fernando Arthur)

[SÉ] A Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, Setor Perdizes, realizou a festa da padroeira com uma novena, entre os dias 2 e 10, e duas missas no dia 11, Solenidade de Nossa Senhora de Lourdes, presididas pelo Padre Lucas Pontel, Pároco, com a bênção e Unção dos Enfermos. (por Pascom paroquial)

[SÉ] No domingo, 21, às 18h, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidirá missa na Paróquia Santo Inácio de Loiola, Setor Paraíso, durante a qual oficializará São Paulo Apóstolo como novo copadroeiro da Paróquia. Irão concelebrar a missa os Padres Claudiano Avelino dos Santos, Superior Provincial dos Padres Paulinos (SSP), e Mário Pizetta, Pároco. A matriz paroquial está localizada na Rua França Pinto, 115, na Vila Mariana. [LAPA] Começará em 1º de março, com término previsto para 6 de dezembro, o Curso de Liturgia On-line, promovido pelo Curso de Teologia para Agentes de Pastoral (CTAP-Lapa). As aulas serão quinzenais, às segundas-feiras, das 20h às 22h, com o professor Sérgio Abreu, filósofo, teólogo e pós-graduado em Liturgia. O investimento mensal é de R$ 20, e os interessados podem se inscrever pelo e-mail ctaplapa.liturgia@gmail.com. Outras informações com Caci Amaral, pelo telefone (11) 3022-6821. [LAPA] Os coordenadores da Pastoral da Comunicação da Região Lapa convocam os agentes da Pascom das paróquias da Região a participarem de uma reunião on-line que acontecerá na sexta-feira, 19, às 20h30, com a participação de Dom José Benedito Cardoso e do Padre Antonio Francisco Ribeiro, Assistente Eclesiástico da Pascom da Região Lapa.

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan ministrou o sacramento da Crisma a um grupo de jovens e adultos da Paróquia Santa Joana D’Arc, Setor Tremembé, no sábado, 13. Concelebrou o Pároco, Padre Antônio Bezerra Moura (Padre Toninho), assistido pelo Diácono Permanente Ailton Machado Mendes. (por Caroline Miyabe Caires) Fernando Fernandes

[SANTANA] Na sexta-feira, 12, em missa na Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Matias, Setor Pastoral Mandaqui, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, deu posse ao novo Pároco, o Padre Jairo dos Santos Bezerra. (por Fernando Fernandes)

[SANTANA] No domingo, 14, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, Setor Medeiros, Dom Jorge Pierozan ministrou o sacramento da Crisma para jovens e adultos. Concelebrou o Pároco, Padre Maurício Vieira, assistido pelo Diácono Permanente Jorge Fernandes. (por Pascom Candelária Setor Vila Maria)

Pascom da Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários

[SÉ] Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, visitou na manhã do dia 11, as obras da Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários, Setor Pastoral Brás. Na sequência, esteve nas instalações do Arsenal da Esperança, com o Padre Lorenzo Nachelli. (por Pascom paroquial)

Ka.Ma. Produções

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan deu posse ao Padre Antônio de Pádua Santos como Pároco da Paróquia São Francisco de Paula e São Benedito, Setor Imirim, durante missa no sábado, 13, na matriz paroquial. (por Padre Salvador Armas)

[IPIRANGA] O Centro de Estudos Teológicos do Ipiranga (Ceti) está com inscrições abertas para o Curso de Formação Teológico-Pastoral, que terá início no dia 27, às 14h, com a aula inaugural ministrada por Dom Ângelo Mezzari, RCJ. Inicialmente, haverá apenas aulas on-line, por meio de lives com os professores e envio de vídeos e materiais de leitura. O investimento é de R$ 70 mensais. Informações e inscrições pelo telefone (11) 2274-8500 ou pelo e-mail ceti@regiaoipiranga.com.br. [BRASILâNDIA] Por ocasião da designação de Dom Carlos Silva como Vigário Episcopal da Região Brasilândia, o Padre Cilto Rosembach, Coordenador Regional da Pastoral Presbiteral, escreveu mensagem de boas-vindas ao novo Bispo Auxiliar da Arquidiocese: “Santo Inácio de Antioquia nos ensina que um bispo sem o seu presbitério e seu povo é como um violão sem cordas, mas o senhor pode ficar tranquilo! Queremos contigo ser as cordas e, com harmonia, juntos compor um perfeito louvor ao Senhor da Vida”. A íntegra pode ser lida no link a seguir: https://cutt.ly/Wk08j0W.


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Fé e Cidadania

lapa

Dom Martinho Adilson Fábio Furtado professa os votos monásticos perpétuos Tiago Donizeti Bueno

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

No dia 10, aconteceu a festa de Santa Escolástica, irmã gêmea de São Bento, no mosteiro beneditino de São João Gualberto, Setor Pastoral Pirituba. Durante as comemorações, Dom Martinho Adilson Fábio Furtado, OSB, professou os votos monásticos perpétuos e recebeu a solene consagração monacal pelas mãos do Prior, Dom Robson Medeiros Alves, OSB. A celebração eucarística contou com a presença de diversos amigos do professando e religiosos, e também foi acompanhada ao vivo pelas redes sociais. Dom Robson, na homilia, ressaltou o chamado de Deus ao professando, primeiramente o da santidade, depois o chamado particular à vida monástica. Destacou, também, a vida de comunhão com Deus, e lembrou que agora, consciente e maduro, sabendo tudo o que comporta o chamado comunitário, Dom Martinho deve persistir na vocação, e exortou-o à

Padre Alfredo José Gonçalves, CS

Dom Robson preside a solene consagração monacal de Dom Martinho Adilson

fidelidade à vocação que recebeu de Deus. A Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Lapa conversou com o Irmão Matias Moraes de Barros, OSB. Ele explicou que a profissão dos votos monásticos solenes inaugura um tempo de maior vivência e experiência da vida comunitá-

ria. A missão do monge, o próprio rito acentua, é “ressoar nos seus lábios o louvor a Deus e orar sem cessar pela salvação de todo o mundo”. O Irmão ressaltou, ainda, que o sentido de uma comunidade monástica é ser, na Igreja e com a Igreja, um instrumento de oração pela salvação de todas as almas.

Comportamento Como ajudar os irmãos a crescerem na amizade Simone Ribeiro Cabral Fuzaro Em algum momento da vida, todos os pais têm esta preocupação: medo de que os filhos não se entrosem, não consigam estabelecer vínculos sólidos nem manter uma amizade pela vida afora. É comum essas preocupações tomarem conta do imaginário, especialmente das mães, a cada briga, a cada dificuldade no trato de um para com o outro. Como podemos trabalhar essa questão? Em primeiro lugar, precisamos ter em mente que os comportamentos e as virtudes são formados com o tempo, não são inatos. Ao contrário, todos nascemos com tendência a buscar facilidades, prazer e comodismo. Sair dessa posição é fruto de exercícios, e, por isso, precisamos exercitar os nossos filhos a crescerem na capacidade de amar os outros, de modo especial seus familiares. Vou enumerar a seguir algumas atitudes que os pais podem ter para formar os filhos nesse aspecto: 1. Sempre falar com alegria da chegada de mais um irmãozinho – estar convencidos de que sempre é um ganho a chegada de um irmão e jamais o contrário. Já ouvi, inúmeras vezes, mães lamentando o fato de que o filho vai sofrer pois terá que

Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021

dividir tudo: a atenção dos pais, dos avós, o quarto, os brinquedos. Esse é um grande equívoco. Ele ganhará muito – ganhará uma companhia para brincar, conversar, viajar, ajudar nas tarefas e projetos futuros, enfim, é preciso olhar sempre o lado positivo da situação. Aliás, precisar dividir todas as coisas e a atenção das pessoas é um grande presente, pois, quando se tem tudo para si, o resultado é desastroso: forma-se uma pessoa mimada e incapaz de servir aos demais. 2. Cuide de cada um em suas necessidades – não é porque são irmãos que tudo precisam fazer juntos. Cada um tem um temperamento, uma necessidade, um tempo. Cabe aos pais cuidar desses aspectos sem estimular a competição ou o espírito de crítica entre eles. A justiça consiste em tratar de modo diferente os que são diferentes; portanto, não tema agir assim. Quando os filhos se sentem atendidos em suas necessidades, ficam mais felizes e se relacionam melhor com os outros. 3. Exercite-os desde pequenos para que se ajudem, que agradeçam um ao outro o apoio que recebem, que identifiquem virtudes no irmão para elogiá-lo – como as críticas costumam brotar mais facilmente

do que os elogios, ajude-os a enxergar os aspectos positivos dos irmãos. 4. Quando há uma reclamação, ajude-os a identificar como podem contribuir para que o irmão melhore naquele aspecto. É uma excelente oportunidade de trabalhar com a capacidade de ajuda mútua no crescimento pessoal; afinal, somos responsáveis pelos que amamos, não é mesmo? 5. Outro aspecto que ajuda bastante é conhecer os diferentes temperamentos e ajudar os filhos a crescerem no conhecimento próprio e no dos irmãos, pois pequenos desentendimentos podem ser frutos dos diferentes modos de perceber e se manifestar diante das situações. Quando compreendem melhor isso, acabam se entendendo melhor. Como se pode ver, o caminho para crescerem na capacidade de serem amigos verdadeiros e se amarem é longo e exige trabalho da parte dos pais. Há uma tendência natural de se quererem bem pelos próprios laços familiares, mas com certeza serão mais amigos e companheiros se forem formados para isso! Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro

Num Brasil política e ideologicamente polarizado, a Campanha da Fraternidade de 2021, que será ecumênica, “cai como uma luva”. O debate político, se e quando levado adiante de forma aberta, responsável e transparente, é reciprocamente enriquecedor e saudável. A polarização exacerbada dos últimos anos, entretanto, tende a gerar tensões e atritos que empobrecem o processo democrático. No fim da linha, não raro tem nutrido as fake news, a difamação e, até mesmo, a agressão. Nesse contexto conflagrado, as Igrejas ligadas ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), em sintonia com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), promovem a CFE 2021. Esta tem como tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”, acompanhado pelo lema bíblico “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a). A reflexão remete ao objetivo das campanhas dos anos anteriores: à luz da Palavra de Deus e por meio de um diálogo franco, buscar unir o que está disperso e causa discórdia. Somente desse modo podemos reencontrar a harmonia e a paz que nos pede o Evangelho. Desta vez está em jogo o amor que gera compromisso social diante das assimetrias, injustiças e disparidades socioeconômicas. Historicamente, a CF no Brasil tenta atualizar a dimensão transformadora da Boa-Nova do Evangelho, de acordo com os desafios do contexto em que vivemos. Daí decorre a escolha do tema e do lema, bem como o rosto ou a situação concreta de determinados destinatários. É ainda uma forma de retomar, anualmente, a “questão social”, linha mestra da Doutrina Social da Igreja, desde seus primórdios. Esse olhar atento, sensível e solidário para com os “rostos feridos” mergulha suas raízes nos livros da Sagrada Escritura. Representa o olhar do pastor sobre a “ovelha perdida”. Nas páginas bíblicas, não é difícil tropeçar com diversas listas que indicam os prediletos do Pai. “Eu vi, ouvi, conheço e desci para libertar o meu povo escravo no Egito” (Ex 3,7-10); o carinho com o trinômio “órfão, viúva e estrangeiro” (Lv 19, 9-14); o anúncio de Jesus sobre sua missão voltada para os pobres, os presos e os oprimidos, extraída do livro de Isaías (cf. Lc 4,16-21; Is 61,1-3); e ainda, na parábola do juízo final, desfilam “os famintos e sedentos, os nus e prisioneiros, os doentes e migrantes (Mt 25,31-46). Igual solicitude se encontra nas assembleias episcopais da América Latina e Caribe. No Documento de Puebla, lê-se: “Esta situação de extrema pobreza generalizada adquire, na vida real, feições concretíssimas, nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredoras de Cristo”. E seguem os rostos: crianças, jovens, indígenas, camponeses, operários, subempregados e desempregados, marginalizados e anciãos (Documento de Puebla, 31-39). O número dessas feições marcadas pelo sofrimento será posteriormente ampliado pelos documentos de Santo Domingo e de Aparecida. Este último, por exemplo, dedica um subtítulo a esses “rostos sofredores”, destacando as pessoas que vivem nas ruas das grandes cidades, os migrantes, os enfermos, os dependentes de drogas e os prisioneiros (Documento de Aparecida, 407-430). Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).


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Frei Carlos Silva é ordenado Bispo na Catedral da Sé Luciney Martins/O SÃO PAULO

Rito de ordenação do Religioso da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos foi presidido pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na tarde do sábado, 13, na Catedral da Sé, Frei Carlos Silva, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap) foi ordenado Bispo pela imposição das mãos do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, ordenante principal, e de Dom José Soares Filho, OFMCap, Bispo Emérito de Carolina (MA), e Dom Manoel Delson Pedreira da Cruz, OFMCap, Arcebispo da Paraíba, também bispos ordenantes. O Frade foi nomeado Bispo Titular de Summula e Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo pelo Papa Francisco em 16 de dezembro de 2020. Até então, era Conselheiro-Geral da OFMCap, em Roma, na Itália. Representante de Cristo No início da celebração, Dom Odilo lembrou que a ordenação de um bispo sempre recorda a todos que a Igreja é a comunidade reunida em torno de Cristo, conduzida concretamente e animada por pastores, por Ele escolhidos e sobre eles invocado o Espírito Santo. “Nós, bispos aqui presentes, repetiremos o gesto dos apóstolos, impondo as mãos no Frei Carlos, para, assim, invocar sobre ele a unção do Espírito Santo e fazê-lo mem-

Cardeal Odilo Pedro Scherer preside os ritos de ordenação do Frei Carlos Silva na Catedral da Sé

bro do Colégio Episcopal na sucessão dos apóstolos.” (Leia abaixo detalhes do rito.) Dom Odilo, na homilia, falou da responsabilidade eclesial dos pastores que são os representantes de Cristo: “No Bispo, com os seus presbíteros, está presente na Igreja o próprio Jesus Cristo, Senhor e Pontífice eterno. Pelo ministério do Bispo, é Cristo que continua a proclamar o Evangelho e a distribuir aos que creem os sacramentos da fé”, disse. “O Bispo deve distinguir-se mais pelo serviço prestado do que pelas honrarias recebidas”, complementou. Dom Odilo agradeceu a Dom Carlos Silva por ter aceitado a nomeação episcopal e ao Papa Francisco pelo carinho e solicitude em enviar o novo Bispo: “Frei Carlos veio para ser Bispo Auxiliar, como missionário desta Igreja, que chama, envia, e continua a impor as mãos para, assim, dar continuidade à missão apostólica, confirmando os irmãos na fé recebida dos apóstolos e de Jesus Cristo”.

A serviço da Igreja e a pertença a Cristo Em entrevista ao O SÃO PAULO, Dom Carlos Silva manifestou o seu desejo de servir a Cristo, à Igreja e ao povo de Deus: “Sou um humilde servo à disposição de Cristo e a serviço da Santa Igreja. O ministério episcopal é um dom divino que me abre possibilidades para amar e servir a Cristo e ao povo de Deus sedento da sua Palavra. Que Deus me dê a graça necessária para viver bem o ministério episcopal. Que vocês rezem por mim, estejam comigo no exercício do meu mandato episcopal. Vamos caminhar juntos, em sintonia de fé e orações. Não estamos sozinhos. Somos de Deus”. Ao comentar seu lema episcopal – “Domini Sumus” – (“Pertencemos ao Senhor”), Dom Carlos Silva explicou que “o senso de pertença ao Senhor, ressignificado e renovado a cada dia, na perspectiva da Nova Aliança, comunica a verdadeira alegria de ser povo de Deus e instrumento da sua paz”.

Gratidão e disposição para servir Após a comunhão, Dom Carlos abençoou a todos como bispo pela primeira vez, percorrendo o corredor central da Catedral da Sé. Na sequência, o Cardeal Scherer o empossou no ofício de Bispo Auxiliar da Arquidiocese e foram lidos os decretos de nomeação como Vigário-Geral da Arquidiocese e Vigário Episcopal da Região Brasilândia, e do mandato especial de, nessa Região, nomear, provisionar, transferir e remover párocos, administradores e vigários paroquiais. Ao fim da celebração, Dom Carlos Silva fez diversos agradecimentos: a Deus, pela vocação recebida; ao Papa Francisco, “pela missão confiada de apascentar o rebanho de Cristo na Arquidiocese de São Paulo”; a Dom Odilo, “pela acolhida paterna e solicitude fraterna”; e a todos os que participaram de sua caminhada religiosa e sacerdotal. Falou com emoção de seus pais e do ambiente de fé que viveu em família e saudou os parentes e amigos que participaram de sua ordenação episcopal. “Conforme aprendemos de Santa Benedita da Cruz (Edith Stein), ‘é sempre um risco responder ao chamado de Deus’, diz ela, porém, Deus merece este risco, porque pertencemos ao Senhor, pois morremos com Ele e com Ele ressurgimos para a vida eterna. Pertencer a Cristo é anunciar a vitória da vida, mesmo em meio à transitoriedade, enquanto nos preparamos para receber Dele pessoalmente a caridade plena”, concluiu. “Assumo esta missão com profunda gratidão, zelo apostólico e espírito missionário para conduzir o povo a Deus”, declarou em entrevista. (Colaborou: Daniel Gomes)

Mistagogia da ordenação episcopal Mistagogia é a ação de guiar e conduzir para dentro do grande mistério da salvação. A ordenação episcopal é dotada de um rito próprio e marcado por momentos solenes de oração e entrega. O rito de ordenação começa após a proclamação do Evangelho, com a invocação ao Espírito Santo, momento em que os bispos e a assembleia suplicam a presença do Espírito, recordando Pentecostes e o sopro do Espírito sobre os apóstolos. Na sequência, é feita a apresentação do eleito para o episcopado por meio da leitura do mandato apostólico, pelo qual o Papa nomeia o bispo da Igreja. A bula papal é o documento pontifício expedido pela Chancelaria Apostólica, no qual consta a nomeação e a missão do novo bispo. A bula confirma, ainda, as motivações para a escolha do eleito e os

desígnios da nova função, seguindo as normas da Igreja. Conforme o costume dos Santos Padres, aquele que é escolhido para bispo é interrogado diante do povo, quanto à sua fé e sua futura missão. Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese, manifestou seu propósito de viver com fidelidade e amor os aspectos fundamentais da sua missão episcopal. Comprometeu-se a desempenhar a missão recebida até a morte; de anunciar o Evangelho com fidelidade; conservar o tesouro da fé recebida dos apóstolos; de edificar a Igreja e permanecer na comunhão com o colégio episcopal; viver a misericórdia para com os pobres, peregrinos e necessitados e a desempenhar com fidelidade a missão do sumo sacerdócio. A manifestação do propósito adquire fundamental importância para que toda

a Igreja esteja ciente do compromisso assumido e possa caminhar ao seu lado, demonstrando a graça da solicitude e da fraternidade, unidos numa grande corrente de oração e um só coração, confiando na intercessão de todos os santos e santas de Deus. Com o eleito prostrado diante do altar, como sinal de humildade e entrega, a assembleia ajoelhada invoca a intercessão de todos os santos com a entoação da Ladainha de todos os santos. O momento central da ordenação é a imposição das mãos, um rito milenar pelo qual a Igreja confere ao eleito o dom do Espírito Santo, para que, ungido, possa exercer sua missão de bispo; momento de grande mistério, em que a Igreja, por meio dos bispos presentes, manifesta o sentido de colegialidade episcopal. Com o livro dos Evangelhos aberto

sobre a cabeça do novo bispo, é proferida a prece de ordenação. O conteúdo da oração é um pedido ao Pai, para que o ordenando obtenha o mesmo Espírito de governo que Jesus recebeu e transmitiu aos seus apóstolos, para a edificação da Igreja. A Unção da cabeça com o óleo do Santo Crisma é um gesto que significa a especial participação do bispo no sacerdócio de Cristo. Gesto que representa o bálsamo da unção e a fecundidade espiritual. O novo bispo recebe o Livro dos Evangelhos, um gesto que representa o compromisso de viver e anunciar os ensinamentos de Jesus Cristo. Na oportunidade, recebe as insígnias episcopais próprias do múnus de santificar, governar e dirigir a Igreja: o anel, símbolo da sua fidelidade para com a Igreja; a mitra, símbolo de santidade; e o báculo, símbolo do serviço pastoral. (RW)


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‘Pertencemos ao Senhor. Não tenhamos medo de testemunhar a alegria do Evangelho’ Priscila Rocha

Afirmou Dom Carlos Silva, na 1ª missa como Vigário Episcopal da Região Brasilândia Daniel Gomes

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Ordenado Bispo Auxiliar de São Paulo no sábado, 13, na Catedral da Sé, Dom Carlos Silva, OFMCap, presidiu na tarde do domingo, 14, na Paróquia São Luís Gonzaga, na Vila Pereira Barreto, a missa em que foi apresentado como Vigário Episcopal da Região Brasilândia. Dias antes de sua ordenação, porém, ele já procurou ter contato com a realidade de algumas das 36 paróquias, duas áreas pastorais e 145 comunidades que compõem a Região (leia mais na página 8). “Ele pediu para começar a conhecer a Região pelo extremo, pelo Setor Perus, onde foi ao território de todas as paróquias. Depois, fomos ao Setor São José Operário”, contou ao O SÃO PAULO o Padre Aldenor Alves de Lima, um dos sacerdotes que acompanharam o Frade nas visitas. “Eu fiquei impressionado em ver alguém muito simples e que abraçará esta nova missão com muita tranquilidade”, complementou. “Nestas primeiras visitas, conhecendo nossa Região, dei-me conta de que se trata de uma Igreja presente nas estradas. Continuemos, pois, irmãos e irmãs, esta história de salvação operada por Cristo, que se encontra com a nossa história. Pertencemos ao Senhor. Não tenhamos medo de testemunhar a alegria do Evangelho”, afirmou Dom Carlos Silva, durante a homilia da missa do domingo, que teve entre os concelebrantes Dom Ângelo Mezarri, RCJ, e Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispos Auxiliares da Arquidiocese, além de padres que atuam na Região Brasilândia e frades franciscanos. Uma realidade já conhecida O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, participou do início da celebração. Ele saudou o novo Bispo, desejou-lhe uma boa trajetória no episcopado e anunciou que Dom Carlos Silva será o Referencial das Pastorais Sociais na Arquidiocese de São Paulo. Dom Odilo mencionou a vitalidade pastoral da Região Brasilândia, a fé do povo diante dos desafios para a evangelização e exortou que o clero e os fiéis colaborem com o Bispo, para que juntos “possam testemunhar que Deus também habita nesta parte da cidade, que Ele quer muito bem este povo e que somos suas testemunhas”. Falando em nome de toda a Região, o Cônego José Renato Ferreira saudou

Dom Carlos Silva, Bispo Auxiliar da Arquidiocese, preside missa na qual é apresentado como Vigário Episcopal da Região Brasilândia, dia 14

o novo Bispo: “O anjo que Deus hoje nos envia chegou trazendo uma mensagem que ele recupera do apóstolo Paulo, uma mensagem que em si lembra a nossa origem, o nosso jeito de viver, a liberdade cristã e, ao mesmo tempo, aponta para o nosso fim como povo da Aliança: ‘Pertencemos ao Senhor’”, afirmou, em alusão ao lema episcopal de Dom Carlos Silva. “Para uma região periférica como a nossa, é um privilégio receber um bispo formado na escola do pobre de Assis, no ideal da paz e do bem e que nos chama a vivenciar a perfeita alegria”, disse o Cônego, fazendo menção, ainda, à trajetória do religioso que trabalhou em bairros carentes no México e no interior paulista, incluindo a vivência em uma favela. Entre 1985 e 1986, logo após ter ingressado no postulantado da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, Carlos Silva e um grupo de franciscanos pediram que os deixassem montar uma comunidade na favela do Jardim da Glória, em Piracicaba (SP). “A in-

tenção era viver com os pobres, para os pobres e como os pobres, assumindo todos os riscos e dificuldades que esta decisão acarretava”, recorda Claudinei Pollesel, historiador do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. Uma comunidade franciscana foi inaugurada em um barraco reformado, e ali ocorriam as celebrações e diversas ações caritativas. Os franciscanos deixaram a favela no ano 2000. No ano passado, o barraco se tornou patrimônio histórico do município de Piracicaba. Ao lado do povo Dom Carlos Silva, na homilia, exortou os padres, religiosos e leigos a auxiliá-lo nas iniciativas de evangelização e manifestou o desejo de que seu ministério episcopal “seja para a purificação das almas, para curar as feridas corporais e espirituais e, sobretudo, para que, em cada ação sacramental e pastoral, percebamos a chegada do Reino de Deus”. O Prelado pediu que os fiéis e ministros ordenados o ajudem a perceber

as realidades da Brasilândia e retomou um discurso do Papa Francisco feito, em junho de 2013, aos bispos da coordenação do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), no qual o Pontífice aponta que os bispos devem ser pastores, próximos das pessoas, agir com mansidão e misericórdia, sendo “homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior, como liberdade perante o Senhor; quer a pobreza exterior, como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham ‘psicologia de príncipes’. [...] O lugar onde o bispo deve estar com o seu povo é triplo: ou na frente, para indicar o caminho; ou no meio, para mantê-lo unido e neutralizar as debandadas; ou atrás, para evitar que alguém se desgarre do rebanho”. Nesse sentido, Dom Carlos Silva ressaltou querer sempre estar próximo dos fiéis, ouvir suas histórias e experiências de fé. Ele exortou que os padres façam o mesmo, sendo homens de compaixão: “O colo, o abraço e o sorriso de Deus”.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

CONHEÇA MAIS SOBRE DOM CARLOS SILVA atural de Andradina (SP), nasceu N em 05/12/1962. Iniciou a formação religiosa na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap), em 1984, em Piracicaba (SP), tendo emitido os primeiros votos em 1988, e os votos perpétuos em 1991, em Sumaré (SP). Foi ordenado sacerdote em 1º de agosto de 1992, na Diocese de Lins (SP). De fevereiro de 2004 a outubro de 2013, foi missionário no Norte do México. De 2013 a 2018, foi Ministro Pro-

vincial em São Paulo e Presidente da Conferência dos Capuchinhos do Brasil (CCB). A partir de setembro de 2018, foi Conselheiro-Geral da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, função que exercia até ser nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo, em 16 de dezembro de 2020, pelo Papa Francisco. Ordenado Bispo na Catedral da Sé, em 13 de fevereiro, foi designado pelo Cardeal Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano, como Vigário Episcopal da Região Brasilândia. Lema episcopal: “Domini Sumus” (“Pertencemos ao Senhor”).


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Fundada por Cristo, na fé dos apóstolos, para a salvação da humanidade Vatican Media

Fernando Geronazzo

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Não há dúvidas de que a Igreja Católica seja a instituição internacional mais longeva em atividade no mundo. No entanto, ao longo dos seus 2 milênios de existência, ainda há quem se pergunte como ela surgiu, quem a fundou ou mesmo no que consiste. A partir de fontes bíblicas, da Tradição e do Magistério eclesiástico, o Catecismo da Igreja Católica sintetiza que a Igreja é um projeto que nasceu do coração do Pai, prefigurada desde o início dos tempos, preparada na Antiga Aliança com Israel e instituída por Cristo Jesus. Destaca-se, ainda, que, como já diziam os primeiros cristãos, “o mundo foi criado em vista da Igreja”, uma vez que Deus criou o mundo para a comunhão com sua vida divina, que se realiza pela “convocação” (em grego: ekklésía, de onde vem a palavra “igreja”) dos homens em Cristo. História da salvação No século II, Clemente de Alexandria escreveu: “Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, assim também sua intenção é a salvação dos homens e se chama Igreja”. Nesse sentido, Padre José Ulisses Leva, professor de História da Igreja na PUC-SP, ressaltou ao O SÃO PAULO que não é possível entender a origem da Igreja fora da história salvífica da humanidade e, consequentemente, do ministério da encarnação de Jesus Cristo. “A Igreja nasce do querer de Jesus Cristo, sob o alicerce dos apóstolos, confiando-a à pessoa de Pedro”, explicou, fazendo referência às palavras de Jesus a Simão: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18-19a). Embora esse seja um texto-chave para a compreensão da instituição da Igreja por Cristo, na Sagrada Escritura, sobretudo no Novo Testamento, há ou-

Catacumba de Comodila, um dos cemitérios subterrâneos romanos onde os cristãos perseguidos pelo Império celebravam a Eucaristia

tras passagens que ajudam a fundamentar sua origem, como, por exemplo, a escolha dos Doze Apóstolos e seu envio missionário (cf. Mt 10,2-4; Mc 3,13-19; Lc 6,12-16). Outro momento fundante se dá na Cruz, com a imagem do lado aberto de Cristo, de onde jorraram sangue e água (cf. Jo 19,34). Sobre essa cena, Santo Ambrósio afirmou que, da mesma forma que Eva foi formada do lado de Adão adormecido, assim a Igreja nasceu do coração traspassado de Cristo morto na cruz. Padre Rodrigo Pires Vilela, Mestre em Ciências Patrísticas e Coordenador da Pastoral Universitária da PUC-SP, salientou que, mais do que declarar a fundação da Igreja, a Sagrada Escritura

Afresco ‘Cristo dando as chaves a Pedro’, de Pietro Perugino

testemunha esse fato, “pois a origem da Igreja está no próprio mistério de Cristo e na sua missão”. Desenvolvimento Já em Pentecostes, com a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos (cf. At 2,1-4), a Igreja se manifestou publicamente diante da multidão e começou a pregação da Boa-Nova, realizando o mandato apostólico de Jesus: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Em sua “História Eclesiástica”, do século IV, Eusébio de Cesareia mostra que os apóstolos, de fato, foram até os “confins do mundo habitado” na época, chegando por exemplo à região da Ásia,

conhecida como Índias, ultrapassando as fronteiras do Império Romano. O livro dos Atos dos Apóstolos, as cartas de Paulo e os demais textos do Novo Testamento são fontes que ajudam a compreender como se organizava a Igreja nascente. Outra fonte importante é a “Didaqué”, ou Instrução dos Doze Apóstolos, uma espécie de catecismo primitivo, que apresenta orientações sobre a doutrina, a conduta dos fiéis, a vida sacramental, os ministérios e a centralidade da celebração dominical (Eucaristia). Apostólica A Igreja cresce, portanto, a partir do testemunho dos apóstolos, transmitido aos seus sucessores, em comunhão com


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o sucessor de Pedro, Bispo de Roma, princípio da unidade eclesial. Essa configuração já é percebida no chamado Concílio Apostólico de Jerusalém (cf. At 15), ocorrido por volta do ano 48, para resolver uma questão doutrinal na qual cristãos de origem judaica defendiam que os pagãos que aderiam ao Cristianismo deveriam ser circuncidados. Paulo e Barnabé foram ao encontro de Pedro e dos outros apóstolos em Jerusalém para discutir a questão. O colégio apostólico, então, decidiu que não era necessária a circuncisão aos cristãos de origem pagã, uma vez que se aderia a Cristo pelo Batismo. Padre Rodrigo sublinhou que a apostolicidade da Igreja não é compreendida apenas como uma herança de sedes episcopais assumidas pelos sucessores dos apóstolos ao longo dos séculos. “Ela se dá no fundamento da fé dos apóstolos, em uma vida fundamentada nessa mesma fé”, afirmou, explicando que, portanto, participam da dimensão apostólica da Igreja todos aqueles que recebem o Batismo e professam essa fé.

que a Igreja, com sua estrutura já consolidada, é reconhecida oficialmente, mantendo-se fiel ao anúncio do Evangelho”, esclareceu Padre Ulisses. Padre Rodrigo alertou para o risco de confundir o reconhecimento estatal da Igreja com o seu surgimento. “Isso seria semelhante ao fato de considerar que uma pessoa só passa a existir após ter a certidão de nascimento ou outro documento de identidade. A Igreja é anterior ao reconhecimento de Constantino e de qualquer outro imperador. Ela existe desde Cristo, pois Ele não é apenas o fundador, como também é o seu fundamento”, afirmou.

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unidade eclesial a quem foram dadas as chaves do Reino dos Céus. “A Igreja tem o rosto do seu tempo. No século primeiro, esse rosto é de uma comunidade mais judaica. Depois, ao se espalhar pelo mundo, teremos uma Igreja romana, siríaca, malabar, etíope, cada uma com uma expressão cultural própria, mas permanecendo com a mesma fé e essência”, concluiu Padre Rodrigo. Católica A referência mais antiga que se refere à Igreja fundada por Cristo como “Católica” é atribuída a Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Mártir do século II,

o primus-inter-pares (o primeiro entre os iguais) na ordem de precedência das Igrejas. Após o chamado grande Cisma entre os cristãos do Oriente e do Ocidente, em 1054, causado por fatores políticos, culturais, eclesiásticos e doutrinais, os cristãos do Oriente passaram a ser chamados “ortodoxos” (do grego orthos = reto, correto; e doxa = louvor, doutrina ou opinião), enquanto os do Ocidente se denominaram “católicos romanos”, por sua ligação com a Sé Apostólica de Roma. Entretanto, algumas comunidades orientais independentes mantiveram os vínculos com o Papa ou retornaram à plena comunhão com Roma com o passar dos Vatican Media anos. Desse modo, a Igreja Católica é constituída de 24 Igrejas autônomas em plena comunhão com o Romano Pontífice. A maior e mais conhecida delas é a ocidental, a Igreja Católica Apostólica Romana, também chamada de Igreja Latina. As demais seguem os diversos ritos orientais, como os maronitas, greco-melquitas, siríacos, ucranianos, entre outros.

Roma Corpo de Cristo Nos seus primeiros Outra imagem que define a Igreja é a do Corpo três séculos de existência, a Igreja cristã era Místico de Cristo, apresentada pelo apóstolo perseguida pelo Império Paulo, que a destaca como Romano. No entanto, os um organismo vivo, em cristãos não deixaram que Jesus é a cabeça; e os de realizar a sua missão. cristãos, pelo vínculo do Quando a perseguição romana chegou ao fim, no Batismo, são seus membros. “Portanto, não esséculo IV, quase todo o tamos na Igreja, somos Império era tomado pela Papa Francisco reza diante dos restos mortais de São Pedro, primeiro Bispo de Roma, sepultado sob a Basílica Vaticana a Igreja”, afirmou Padre presença de cristãos, não Rodrigo. somente das classes mais Cipriano de Cartago, baixas, como também nas que afirmou: “Onde está Jesus Cristo está “Se a Igreja não tinha liberdade ao quando escreve sobre a unidade da Igremais elevadas. a Igreja Católica”. sol, por baixo, nas catacumbas, ela cresja, no século III, ressalta: “A unidade não Após o martírio de São Pedro, em A palavra grega katholikos, que quer cia”, complementou Padre Ulisses, explipode ser cindida; um corpo não pode ser Roma, no ano 64, a capital do Império cando que, quando a Igreja “veio à tona”, dizer “aquilo que é conforme o todo” ou dividido pela separação dos órgãos, nem passou a ser o centro da unidade da Igreja, a partir de seus sucessores, chamados ela já possuía força e capilaridade. “As “universal”, era inicialmente atribuída à despedaçado à vontade pela dilaceração de papas. Mesmo na “clandestinidade”, o catacumbas eram como veias que perIgreja como aquela que se destina a todas vísceras arrancadas. Tudo que for sepassavam todo o Império e por onde dos e está presente em todo lugar. No séparado violentamente do seio materno Cristianismo crescia e ganhava força nas culo IV, São Cirilo de Jerusalém usa esse percorria a vitalidade do corpo de Crisnão pode continuar a viver e a respirar, catacumbas, os cemitérios romanos no to”, completou. adjetivo para se referir à fé que aceita a perde a substância da salvação”. subsolo das cidades, e nas domus ecclesiae (igrejas domésticas), germe das pritotalidade das verdades reveladas, em “Jesus fundou uma única Igreja: una, meiras paróquias. No tempo e no espaço contraposição à fé herética, que escosanta, católica e apostólica, que possui À semelhança de seu fundador, o lhe aquilo em que quer acreditar. Desse Também tiveram papel fundamental todos os elementos que Cristo desejou Verbo Encarnado, a Igreja nasceu e se modo, passou a ser chamada de católica os muitos mártires que derramaram seu para a salvação operada por Ele. Porém, desenvolveu inserida em uma realidade a Igreja que inclui todo o depósito deixasangue pelo ódio à fé em Cristo. Os vários Cristo transcende a Igreja”, salientou Pado por Jesus Cristo e transmitido pelos dre Rodrigo, ao explicar a afirmação da temporal, cultural e geográfica. Por isso, relatos da época mostram que, quanto apóstolos, assim como todos os sacraconstituição dogmática Lumen gentium, para realizar sua missão, incorporou, na mais os cristãos eram mortos pela perseguição do Império, mais a comunidade mentos. que recorda que a Igreja de Cristo, conssua organização e até no vocabulário, tituída e organizada neste mundo como crescia. Daí vem a célebre afirmação de elementos dessa realidade local, dando Ocidente e Oriente sociedade, “subsiste na Igreja Católica”, Tertuliano, no século III: “O sangue dos novos significados e valores. Entre os séculos IV e V, as cinco prireconhecendo que, fora da sua comumártires é a semente dos cristãos”. Um exemplo disso são as dioceses, meiras Igrejas apostólicas passaram a nidade, se encontram muitos elementos até então subdivisões administrativas Edito de Milão ser chamadas patriarcados, dando oride santificação e de verdade, os quais, do Império, que, para a Igreja, passaram Em 313, o imperador Constantino gem à chamada pentarquia (do grego: “por serem dons pertencentes à Igreja de a designar um território onde vive uma assinou o famoso Edito de Milão, que penta = cinco, e arquia = governo), isto Cristo, impelem para a unidade católica”. porção do povo de Deus pastoreada por deu ao Cristianismo a liberdade para vié, seus bispos eram patriarcas e tinham Também é Cipriano que, assim como um bispo com seu presbitério, expandinver e conviver no Império, assim como do-se dos grandes centros para o campo. primazia sobre as outras comunidaoutros autores da Patrística, compara o des cristãs. Os cinco patriarcados eram as outras religiões já viviam. Em 380, TeOutro exemplo é a palavra “pontífimistério da unidade da Igreja à túnica odósio publicou o Edito de Tessalônica, ce”, atribuída ao imperador, aquele que Roma, Constantinopla, Alexandria, Ansem costura de Cristo. “Assim como a tútioquia e Jerusalém. Nessa configuração, nica cobre o corpo sobre todas as outras que reconhece o Cristianismo como a refazia a ponte entre o centro do Império ligião do Estado. “Isso não significa que o sucessor de Pedro tinha o primado de peças, a unanimidade cordata na caridae todo o seu território. Na Igreja, é atribuída ao sucessor de Pedro, princípio de de protege e garante a vida da Igreja.” o Estado tem poder sobre a religião, mas honra entre os demais patriarcas, sendo


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Eles superaram o alcoolismo e testemunham a força da fé O SÃO PAULO apresenta as histórias de três homens que chegaram ao extremo do vício, mas encontraram ajuda para dar um novo rumo à vida Nayá Fernandes

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo é comemorado em 18 de fevereiro. A data foi criada para ajudar as pessoas a refletir sobre a doença e os prejuízos que ela causa. Uma pesquisa on-line conduzida pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em 33 países da América Latina e Caribe, com pessoas de 18 anos de idade ou mais, mostrou que o consumo de álcool cresceu em âmbito privado durante a atual pandemia, tendo entre outras motivações as situações de ansiedade, medo, depressão, tédio e incerteza. No Brasil, 74% dos entrevistados consumiram álcool durante a pandemia, o maior percentual entre todos os países. O tipo de bebida mais consumida foi a cerveja, tanto antes da pandemia (52,3%) quanto durante (48,7%); seguida pelo vinho, cujo consumo aumentou de 21,8%, em 2019 para 29,3% em todas as regiões ao longo da pandemia. Em novembro de 2020, foram divulgados dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o consumo de álcool pela população adulta brasileira. Em comparação a 2013, houve um aumento do consumo semanal de bebidas alcoólicas em 2019 (de 23,9% para 26%). Grupos como o Alcoólicos Anônimos (AA) estão espalhados por todo o País, alguns deles em paróquias, e oferecem apoio para quem quer vencer o vício, a partir da troca

de experiências entre os participantes e da ajuda mútua. Em razão da pandemia de COVID-19, os encontros presenciais estão suspensos, mas há reuniões diárias on-line, das 20h às 22h, em diferentes partes do País, por meio de uma plataforma do AA, que pode ser acessada no link a seguir: https://cutt.ly/vk2RSSY. Nesta edição, O SÃO PAULO apresenta os relatos de três homens que receberam ajuda para superar o alcoolismo e testemunham a força da fé para o combate ao vício que degrada a dignidade humana. Emanuel Messias Emanuel Messias Guedes do Nascimento, 42, nasceu na Paraíba e chegou a São Paulo ainda na juventude. Ele estava participando de um retiro na comunidade católica Missão Belém momentos antes de conversar com a reportagem. “Vim para São Paulo aos 18 anos. Quando cheguei, trabalhei numa floricultura e lá, com os colegas, participava de muitas festas. Foi quando comecei a beber com mais frequência. Aos fins de semana, eu bebia até as 3h e no outro dia ia trabalhar. A princípio, era apenas uma ou duas vezes na semana, mas depois começou a acontecer durante a semana toda. Vieram as faltas constantes no trabalho, e a patroa disse que, se eu continuasse assim, ela teria que me demitir. Pouco tempo depois,

fui demitido. Eu morava de aluguel e fui vendendo tudo para comprar bebida, até ser despejado”, recorda. Messias, então, encontrou um albergue onde poderia dormir e conheceu outras pessoas que viviam em situação de rua: “Vivia na rua, ficava dias e dias sem tomar banho, bebia dia e noite, ganhava ou pegava comida no lixo. Levei uma facada e quase morri. Estava convencido de que eu iria morrer naquela situação”. Em 2007, ele teve o primeiro contato com membros da comunidade Missão Belém que conviveram, por uma semana, nas ruas com ele e outras pessoas. “Pelo carinho e dedicação que eles demonstraram, resolvi ir para o sítio [um dos que a Missão Belém mantém]. Lá encontrei pessoas que tinha visto na rua, algumas que tinham sido dadas como mortas”, recorda. “Ali, rezando o Terço todo dia, sentindo-me respeitado, tendo um café da manhã para tomar, alguém sempre preocupado comigo, percebi que seria capaz de sair das ruas e deixar a bebida. Dia após dia, fui deixando tudo para trás e, após seis meses, eu participei de uma missão de rua no mesmo lugar em que eu ficava. Foi uma experiência maravilhosa”, conta. Ele já estava havia nove anos na comunidade e decidiu sair para buscar trabalho. Um ano depois, porém, voltou a beber. “Eu me perguntava: ‘o que faltou em mim?’ Senti que era a fé. Era Deus. Então, voltei para a comunidade e fui muito bem acolhido. Encontrei, mais uma vez, pessoas que não me julgaram. Sinto que aqui é o meu lugar”, comenta sobre a superação do vício. Nazareno Paulino “A bebida queimou minha boca, queimou meu dinheiro, meus relacionamentos, minha moral e quase destruiu minha vida. Mas, graças a Deus, há 25 anos eu não bebo.” O relato é de Nazareno Paulino, 50, que em 2020 comemorou 25 anos de sobriedade. Funcionário público, ele contou à reportagem como conseguiu deixar a bebida após conhecer o AA e o grupo de jovens da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Unaí (MG). “Comecei a beber aos 15 anos, quando vi os mais velhos bebendo. Via as pessoas se divertirem e achei que aquilo era muito bom. Eu era muito tímido. Um dia, cheguei numa festa de aniversário e me ofereceram uma cer-


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veja. Quando bebi, senti imediatamente os efeitos em meu cérebro. Percebi que a bebida me desinibia. Quando eu bebia, era como se as coisas acontecessem, como se eu ficasse até mais inteligente. No início, eu só bebia nas festas. Quando comecei a estudar à noite, nos reuníamos para comer e beber uma vez por mês, às sextas-feiras. Após alguns meses, já bebia quase todos os fins de semana”, recorda. As ausências no trabalho começaram a ser frequentes e, mesmo prometendo a si mesmo que mudaria de hábito, Paulino não conseguia. Deixou o trabalho e os estudos. A rotina era ocupada pelo vício: “Parecia um caminho sem volta. Fui humilhado em muitos lugares, os amigos de copo começam a desaparecer e a bebida se transformou na coisa mais importante da vida. Quando eu não estava bebendo, era como se eu não existisse”. Paulino recorda que sua mãe, muitas vezes, saía de madrugada à sua procura pelos bares. “Ela chorava ajoelhada aos meus pés, pedindo que eu não bebesse, mas eu a ignorava.” Começaram os pesadelos, febres e surtos. Depois, os furtos das moedas da própria mãe para comprar bebida e, não raro, “mendigava para conseguir beber”. Certo dia, ao entrar em um bar, ouviu: “O Nazareno não passa deste ano”. Ele, de fato, adoeceria. “Fui hospitalizado, e todos os que iam me ver saíam de lá desesperados. Eu não tinha mais aparência de uma pessoa viva. Era como se eu estivesse morto”, conta. Ele, porém, sobreviveu. Pouco depois, recebeu a visita de um grupo de pessoas do AA. “Ali começou a mudança. Foi um milagre de Deus. Anjos de Deus foram até minha casa e me fizeram um convite muito especial e eu aceitei”, afirma, recordando que sua mãe jamais deixou de rezar por ele. Depois de começar a frequentar os encontros do AA, Paulino ingressou no grupo de teatro da Paróquia: “Nosso grupo de teatro de jovens da igreja se apresentava nas escolas, na penitenciária, em grandes eventos. Daí em diante, busquei sempre mais a Palavra de Deus e a vivência da espiritualidade. Aprendi a perdoar, a não entrar em confusão e a rezar nas situações boas e ruins”. Hoje, Paulino comemora a vida em sobriedade, o fato de ser ator e a conquista de uma profissão: ele é funcionário concursado da Secretaria de Cultura de Unaí. Reginaldo de Jesus “Tudo começou na adolescência. Durante anos, eu bebia, trabalhava e tinha uma vida normal. Com o tempo, porém, as saídas para beber foram ficando mais frequentes. De repente, percebi que tinha perdido amigos, trabalho e até mesmo minha esposa. A bebida estava me prejudicando muito.” O relato é de Reginaldo de Jesus, 40, que hoje trabalha na área da Saúde e é voluntário no Arsenal da Esperança, em São Paulo. “Há cerca de dez anos, vim para São Paulo, procurei o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod), na Luz, e fiquei dois meses interna-

do. Eles, então, me deram a oportunidade de ficar mais tempo em uma fazenda para continuar o tratamento. Lá, aprendi sobre espiritualidade e, durante oito meses, vivi uma busca pessoal. Hoje, faço parte do coral da minha paróquia, sou voluntário em projetos sociais e também no Arsenal da Esperança, onde morei por algum tempo”, recorda. Reginaldo de Jesus conta que no Arsenal da Esperança encontrou suporte para superar o vício e retribuiu o apoio que recebeu. “Depois, como agente de saúde e trabalhando na Mooca, prestei atendimento para os acolhidos no Arsenal da Esperança. Foi muito importante para mim sentir que estava retribuindo um pouco de tudo o que recebi.”

Onde buscar ajuda No site dos Alcoólicos Anônimos (AA) há inúmeras informações para quem deseja superar o vício, bem como participar dos encontros virtuais dos grupos: https://www.aa.org.br

Sinais e sintomas de alcoolismo F alta de controle do consumo de bebidas alcoólicas; Tolerância cada vez maior à bebida; Manifestações de síndrome de abstinência (ao interromper o consumo de álcool), tremores nos lábios, mãos, pés; náuseas, vômitos, suor excessivo, ansiedade, irritação, podendo evoluir para convulsões; Estados de confusão mental, com falta de orientação no tempo e no espaço; Alucinações.

POSSÍVEIS EFEITOS DO ALCOOLISMO Lesões acidentais, como no caso de batidas de automóveis, quedas, queimaduras e afogamentos; Lesões intencionais, como no caso de lesões por arma de fogo, abusos sexuais e violência doméstica;

Aumento das lesões no trabalho e perda de produtividade; Aumento dos problemas familiares, separações; Envenenamento por álcool; Pressão alta, derrame cerebral e outras doenças cardíacas; Doença hepática; Danos neurais; Problemas cerebrais permanentes; Deficiência de vitamina B1 que pode levar a um distúrbio caracterizado por amnésia, apatia e desorientação; Úlceras; Gastrite (inflamação das paredes do estômago); Desnutrição; Câncer na boca e garganta. Fonte: Fundação para um Mundo Sem Drogas


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O alerta do Fevereiro Laranja para o câncer que mais acomete crianças e adolescentes Freepik

Ira Romão

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O segundo mês do ano é marcado pela campanha Fevereiro Laranja, que busca conscientizar a população sobre a leucemia, e a procura pelo diagnóstico precoce, além de incentivar a doação de medula óssea, que para alguns casos é a opção de tratamento. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2021 quase 6 mil homens e 5 mil mulheres serão diagnosticados com leucemia no Brasil, e entre crianças e adolescentes, o número pode chegar a 8 mil novos casos. O movimento Fevereiro Laranja tem abrangência nacional. No estado de São Paulo, a campanha foi instituída em 2019, com a Lei 17.207. Recentemente, a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) lançou a campanha “A leucemia parece invisível. Mas seus sintomas são perceptíveis”. Em Goiás, em unidades da Secretaria da Saúde, ações de conscientização sobre o Fevereiro Laranja foram realizadas no início do mês, e em Santa Catarina, o Conselho Regional de Enfermagem (Coren/SC) publicou em seu site, no final de janeiro, informações sobre os sintomas e o tratamento da leucemia. A DOENÇA A leucemia é uma doença maligna que atinge os glóbulos brancos do sangue, acumulando células doentes na medula óssea e comprometendo o sistema de defesa do organismo. “O que acontece é a substituição [das células sanguíneas normais] por células doentes, que vão crescendo desordenadamente. Assim, a pessoa deixa de fabricar glóbulos vermelhos e plaquetas”, explica o médico oncologista pediatra Sidnei Epelman, presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca). Na medula óssea, que ocupa o interior dos ossos, são produzidas as células sanguíneas. São elas que dão origem aos

Mês de combate à leucemia glóbulos brancos (leucócitos), aos glóbulos vermelhos (hemácias) e às plaquetas, que compõem o sistema de coagulação do sangue. A leucemia pode afetar pessoas de qualquer idade, mas ocorre com mais frequência em adultos com mais de 55 anos, além de ser o câncer infantojuvenil mais comum. Embora as causas ainda sejam desconhecidas, alguns fatores de risco têm sido associados à doença, como o tabagismo, a exposição à radiação ionizante (raios X e gama) e a produtos químicos diversos (benzeno, formaldeído, entre outros), além de anomalias cromossômicas (fatores genéticos), como síndrome de Down e outras doenças hereditárias. SINTOMAS Os sintomas dependem da intensidade da doença e estão relacionados à falência da medula óssea, sendo os principais: anemia, fraqueza, fadiga, sangramentos nasal e gengival, manchas roxas e vermelhas na pele, gânglios inchados, febre, sudorese noturna, infecções e dores nos ossos e nas articulações. A médica hematologista Danielli Cristina Muniz de Oliveira, coordenadora técnica do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), alerta que as manifestações da doença são “muito inespecíficas”, mas que precisam ser diagnosticadas o quanto antes. “A leu-

cemia é uma doença que pode ser muito agressiva. Assim, se a pessoa adia o diagnóstico e o início do tratamento, isso pode prejudicar o resultado”, enfatiza. O exame de hemograma é o que pode indicar a suspeita de leucemia. A partir dele, são realizados outros específicos para obter a confirmação do diagnóstico. TRATAMENTO De acordo com o oncologista Epelman, o tratamento para a leucemia é a quimioterapia. “Hoje temos condição de saber os subtipos [da doença], com base em todos os fatores. Conhecemos os fatores prognósticos que mostram se a leucemia é de altíssimo, médio ou baixo risco, e assim, sabemos se trataremos com quimioterapia mais ou menos intensa”, pontuou o presidente da Tucca, associação que em 23 anos já ofereceu, em parceria com o Hospital Santa Marcelina, tratamento multidisciplinar para 4,1 mil crianças com diferentes tipos de câncer. Além da quimioterapia, o paciente com leucemia pode ser submetido à radioterapia e ao transplante de medula óssea, apenas para casos de altíssimo risco ou que não haja resposta com a quimioterapia. “A leucemia é uma doença curável e sem transplante”, enfatizou a coordenadora do Redome. “O transplante está indicado para um subgrupo de pacientes, mas nem todos precisarão dele. E daqueles que

precisam, a maioria acaba não tendo doador idêntico na família, por isso dependem dos registros”, complementou. ATUAÇÃO DO REDOME Criado em São Paulo em 1993, o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea pertence ao Ministério da Saúde e, desde 1998, está sob a coordenação técnica do INCA. Com mais de 5 milhões de doadores cadastrados, o Redome é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo. Ao se cadastrar, o doador passa a integrar uma rede internacional que hoje conta com 38 milhões de voluntários. “Como trabalhamos com essa integração internacional, quando um paciente no Brasil não tem um doador no Redome, automaticamente fazemos a busca em bancos de cadastros internacionais”, esclarece Danielli Oliveira. Do mesmo modo, bancos estrangeiros buscam doadores compatíveis no órgão brasileiro. Ao se cadastrar, o doador fornece os dados pessoais e uma amostra de sangue para testes de identificação de características genéticas que vão ser cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes para determinar a compatibilidade. É fundamental que o voluntário mantenha seu cadastro sempre atualizado. Se for compatível com algum paciente, o doador será consultado para decidir quanto à doação, e, ao aceitar, passará pelos devidos procedimentos. Antes era feita uma operação casada: a coleta da medula óssea era agendada e o paciente a recebia em até três dias. Com a atual pandemia, a medula óssea passou a ser congelada e o tempo para ser transplantada ao paciente pode chegar até pouco mais de uma semana. COMO SE TORNAR DOADOR Para se tornar doador, é necessário ser maior de 18 anos e realizar um cadastro no Redome nos hemocentros públicos em cada estado. Os endereços dos hemocentros estão disponíveis em http://redome.inca.gov.br.

Você Pergunta O que a Igreja ensina sobre o purgatório? Padre Cido Pereira

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O Antonio Carlos, de Itaquaquecetuba (SP), quer saber o que a Igreja nos ensina sobre o purgatório? Meu irmão, o purgatório existe. A existência dessa purificação dos pecados veniais, ou seja, daqueles pecados que não nos afastam definitivamente de Deus, é uma verdade de nossa fé. Eu costumo explicar o purgatório para as pessoas com uma comparação. Estamos em festa em nossa casa. Pre-

paramos um almoço bem caprichado. Na hora da festa, há quem brigou feio e comprometeu totalmente a unidade da família. Essa pessoa acaba, ela mesma, se separando, vivendo fora da comunhão familiar. A palavra excomunhão quer dizer isso: uma situação de distância da comunhão que deve existir entre as pessoas. Na hora do almoço, há, ainda, aqueles que também pecaram contra a união da família mas não comprometeram definitivamente a sua união. Essa pessoa no momento não vai poder almoçar,

porque tem de resolver algumas questões, tem que se humilhar e pedir perdão, tem que buscar os caminhos de saída para seu erro. Isso não é nada fácil. É um purgatório, isto é, a gente sofre para reparar o mal cometido. E, por fim, na hora do almoço há aqueles que estão de bem com o pai, com a mãe, com os irmãos. E eles fazem a festa. Antonio, um erro que a gente comete é de imaginar aquilo que virá após a nossa morte como um lugar cheio de suplícios bem concretos. Oras: céu, purga-

tório e inferno são realidades espirituais. Fica melhor, então, entender tudo isso como situação e não como um lugar. O céu é a situação dos que foram fiéis e gozam da presença infinita e perpétua de Deus. O purgatório é a situação dos que têm de se purificar antes de usufruir a felicidade eterna da visão de Deus. E o inferno é a situação de eterna solidão para aqueles que decidiram viver longe de Deus. Sua condenação é continuar como sempre quiseram: isolados do Pai e dos irmãos.


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Paquistão

Guiné/Congo

Camilianos inauguram casa para a formação de jovens aspirantes Daniel Gomes

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A Ordem dos Ministros dos Enfermos, Camilianos, inaugurou em 22 de janeiro, na Arquidiocese de Karachi, sua primeira casa de formação para jovens aspirantes no Paquistão. A casa, em Karachi, a cidade paquistanesa mais populosa, é a primeira dos Camilianos no Paquistão e estará sob os cuidados do Padre Mushtaq Anjum, missionário camiliano, que retornou ao país em agosto de 2020, após um período de missão na Indonésia. “Há 20 anos, nunca havia pensado que chegaria este dia. Depois de me unir à Ordem Religiosa dos Ministros dos Enfermos, Camilianos, imediatamente comecei a sonhar com a presença da Ordem também no Paquistão. Hoje, presencio com meus próprios

olhos”, afirmou o Padre Mushtaq, em mensagem à Agência Fides. A casa foi alugada pelos Camilianos em outubro de 2020 e já teve início a formação de jovens aspirantes à vida religiosa camiliana. O programa formativo prevê o pré-noviciado, e, posteriormente, o noviciado nas Filipinas e Indonésia. “Estamos fomentando as vocações e, além disso, contribuindo para a saúde e a pastoral da Arquidiocese. Esperamos ter cada vez mais vocações”, afirmou Padre Mushtaq. No Paquistão, existem três grupos da Família Laica Camiliana (LCF).

Vatican Media

venil assumir o Rosário pelo fim da pandemia. Neste mês, a missão está com os estudantes de colégios católicos. “Há milhares de visualizações todas as noites, de fiéis unidos em oração durante as transmissões ininterruptas. Durante todo esse tempo, permanecemos unidos em oração como uma família, pelo fim da pandemia”, comunica a Diocese de Arecibo. (DG)

Países da África Central estão em alerta após a confirmação de, ao menos, sete casos de Ebola em Guiné, com cinco mortes, no domingo, 14. Também na República Democrática do Congo foram reportados quadros de pacientes com febre hemorrágica típica da doença. O Ebola tem uma taxa de mortalidade de 50%, que, durante algumas epidemias, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aumentou para 90%. Após um período de incubação de dois a 21 dias, este vírus se manifesta com febre repentina, fraqueza severa, dores musculares e articulares, dor de cabeça e de garganta e, em alguns casos, hemorragias. Segundo o chefe da Agência de Saúde da Guiné, o médico Sakoba Keïta, uma enfermeira morreu no final de janeiro em Gouecké, e várias pessoas que compareceram ao seu funeral começaram alguns dias depois a sentir sintomas de diarreia, vômitos, sangramento e febre. Entre 2013 e 2016, uma epidemia de Ebola assolou a África Central, provocando a morte de mais de 11 mil pessoas. Desde então, tem se intensificado a aplicação de vacinas na população dos países da região. A OMS, por meio de seu representante em Conacri, capital da Guiné, já declarou que destinará recursos e doses de vacinas para ajudar o país a enfrentar a epidemia. Além disso, está sendo fortalecida a vigilância sanitária em países vizinhos, como a Libéria e Serra Leoa, onde ainda não há registros de casos de Ebola este ano. (DG)

Fonte: Celam

Fontes: Vatican News e Agência Fides

O primeiro começou em 2012 com o Irmão Luca Perletti, então Secretário-Geral da Ordem Camiliana. Há outros membros na Diocese de Faisalabad e na Arquidiocese de Karachi. Fonte: Agência Fides

Porto Rico Crianças de escolas católicas rezam o Rosário pelo fim da pandemia A Diocese de Arecibo, em Porto Rico, mobiliza neste mês os colégios católicos para que promovam a reza do Rosário pelo fim da pandemia. Desde maio do ano passado, atendendo a um chamado do Papa Francisco, muitas expressões da Igreja em Porto Rico, como seminaristas, Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, missionários e demais fiéis, têm se unido, mês a mês, à iniciativa.

“Os Rosários do mês de maio de 2020 foram dirigidos pelos diáconos permanentes da Diocese de Arecibo. Em junho e julho, continuaram os membros da La Estampa Viviente, junto com o Reitor da Catedral San Felipe Apóstolo e o Vigário de Pastoral”, informou a Diocese em comunicado enviado ao Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Em janeiro, foi a vez de a Pastoral Ju-

Alerta com novos casos de Ebola


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Liturgia e Vida 1º Domingo da Quaresma 21 de fevereiro de 2021

Quarenta dias para amar Padre João Bechara Ventura Períodos de prova decisivos foram assinalados pelo número 40. Durante 40 dias, o dilúvio caiu sobre a terra (cf. Gn 7,12); por 40 anos, os israelitas andaram errantes no deserto (cf. Nm 32,13); na revelação dos mandamentos, Moisés esteve com o Senhor 40 dias sem comer nem beber (cf. Ex 34,28); 40 dias foi o prazo anunciado por Jonas para que Nínive fosse destruída (cf. Jn 3,4). Após esses períodos duros de “quarenta”, a relação dos homens com Deus se estreitou e se aprofundou de um modo novo. Também Nosso Senhor Jesus Cristo quis que sua pregação fosse precedida por 40 dias e 40 noites no deserto, durante os quais Ele jejuou, orou e foi tentado por satanás (cf. Mt 4,2; Mc 1,13). Depois da Ressurreição, Ele apareceu por 40 dias aos apóstolos, confirmando-os na fé (cf. At 1,3). Movida por essa tradição que vai do Gênesis à Redenção, a Igreja, desde a época apostólica, prepara a celebração da Páscoa e o Batismo dos novos fiéis com a Quaresma: 40 dias de jejum, oração e esmolas. Estas são as obras que Cristo nos mandou fazer assiduamente e em segredo, para adquirirmos “um tesouro nos Céus” (Mt 6,1-21); elas predispõem a alma para a graça santificante. A Quaresma é um tempo de prova e de purificação! Pelo jejum, expiamos os pecados e pedimos, como os ninivitas, que o Senhor afaste as penas temporais por eles merecidas. A privação de satisfações sensíveis prepara-nos, como a Moisés, para enxergar a vontade de Deus. Pela esmola, libertamo-nos da avareza – que é uma idolatria (cf. Cl 3,5) – e do egoísmo, para nos colocarmos à disposição de Cristo, que continua sua obra por meio da Igreja. Pela oração, cumprimos a finalidade da nossa existência no “deserto” deste mundo: unir-nos a Deus já aqui para, ao fim da peregrinação terrestre, vivermos definitivamente com Ele no Céu, a verdadeira Terra Prometida. Como todos os períodos de prova, a Quaresma é uma preciosidade! “Feliz o homem perseverante na provação pois, uma vez provado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu àqueles que O amam” (Tg 1,12). Na vida, somos constantemente postos à prova: as circunstâncias, as fraquezas pessoais, as pessoas hostis, a falta de saúde, a dificuldade econômica, o tentador… Tantas coisas põem à prova nosso amor, fé e paciência, que poderíamos até nos assustar! Porém, tudo se transformará em instrumento de Deus para que aprendamos a amar e a crer. A provação nos tece uma linda coroa de glória, e a finalidade da Quaresma é que, por meio de uma purificação mais intensa, nos exercitemos na perseverança, na paciência, na fé e no amor. Façamos propósitos concretos para este tempo de graça! Seremos sustentados pela oração da Igreja inteira e sustentaremos também os outros. Deus proverá tudo e nos concederá graças especiais. Com Jesus no deserto, cantemos: “Bendito o Senhor, meu rochedo, que treina minhas mãos para a batalha e meus dedos para a guerra” (Sl 144,1). Bendito o Senhor que nos exercita no amor!

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São Gregório de Narek Abade, poeta e Doutor da Igreja Flavio Rogério Lopes

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São Gregório de Narek, abade e Doutor da Igreja, foi inscrito no Calendário Romano por meio de um decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, promulgado pelo Papa Francisco no início do mês. Gregório é venerado como Santo pela Igreja Católica Armênia e reconhecido também pela Igreja Católica Romana. Sua memória litúrgica será celebrada no dia 27 de fevereiro. “A santidade está unida ao conhecimento, que é experiência do mistério de Jesus Cristo, indissoluvelmente unido ao mistério da Igreja. Esta união entre santidade e inteligência das coisas divinas em conjunto com as humanas resplandece, de modo particular, naqueles que são ornados com o título de ‘doutores da Igreja’”, afirma o decreto assinado pelo Cardeal Robert Sarah e por Dom Arturo Roche, respectivamente, Prefeito e Secretário da Congregação. O documento reforça, ainda, que esta memória constará em todos os calendários e livros litúrgicos para a celebração da missa e da Liturgia das Horas, cabendo às conferências episcopais, com a aprovação vaticana, traduzir as variações e acréscimos nos devidos textos litúrgicos. ESPÍRITO ECUMÊNICO Em 12 de abril de 2015, em missa presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em memória do 1,5 milhão de mártires armênios, São Gregório de Narek foi elevado à categoria de Doutor da Igreja universal. A celebração foi um ponto culminante do espírito ecumênico entre as duas igrejas, pois pela primeira vez se reuniram todos os líderes da Igreja Armênia com o Romano Pontífice. “São Gregório de Narek, monge do século X, mais do que qualquer outro, soube manifestar a sensibilidade do vosso povo, dando voz ao clamor, que se torna oração de uma humanidade dolente e pecadora, oprimida pela angústia da própria impotência, mas iluminada pelo esplendor do amor de Deus e aberta à esperança da sua intervenção salvífica, capaz de transformar qualquer situação”, afirmou Francisco, em mensagem aos armênios naquela ocasião. UM SANTO EM VIDA Gregório nasceu no ano de 951, em Andzevatsik, Vaspuracã, na antiga Armênia. Perdeu a mãe ainda criança e, quando seu pai, Khosrov, foi eleito Arcebispo de Andzevatsik, sua educação foi confiada a Ananias de Narekavank,

para que ele pudesse se dedicar mais às suas funções eclesiais. Ananias, também chamado “o filósofo”, era abade do mosteiro de Narek e fundador da escola local e do mosteiro do povo, que estava situado às margens do lago Van, em Vaspuracã (atual Turquia), e era conhecido pelas vocações e a vida espiritual. São Gregório viveu em plena época da separação entre a Igreja Apostólica Armênia e a Igreja em Roma, uma época anterior às invasões dos turcos e dos mongóis, anos nos quais a Igreja Armênia experimentou um autêntico

milagres foram atribuídos por sua intercessão. Morreu no ano de 1005, no Mosteiro de Narek, onde ainda hoje está sepultado. O seu túmulo foi durante muito tempo local de peregrinações.

DIVERSAS OBRAS São João Paulo II fez referência a Gregório de Narek em diversos discursos, assim como em sua encíclica Redemptoris Mater e em sua carta apostólica sobre o 1.700º aniversário do batismo do povo armênio. Gregório é mencionado também no artigo 2678 do Catecismo da Igreja Católica: “A piedade medieval Reprodução do Ocidente propagou a oração do Rosário como alternativa popular da Liturgia das Horas. No Oriente, a forma litânica da oração ‘Acatisto’ e da ‘Paráclise’ ficou mais próxima do ofício coral nas Igrejas bizantinas, ao passo que as tradições armênia, copta e siríaca preferiram os hinos e os cânticos populares à Mãe de Deus. Mas, na Ave-Maria, nos theotokía, nos hinos de Santo Efrém ou de São Gregório de Narek, a tradição da oração é fundamentalmente a mesma”. São Gregório de Narek é o autor de uma interpretação mística do “Cântico dos Cânticos” e de diversas outras obras poéticas. Seu renascimento cultural, ao qual contri“Livro de Orações”, também conhecido buiu fortemente o próprio Santo. como “Livro de Lamentações” – um Gregório permaneceu no mosteiro longo poema místico dividido em 95 por toda a vida: foi ordenado sacerdote seções e escrito provavelmente em 977 aos 25 anos e eleito abade após a morte –, foi traduzido para diversas línguas e de Ananias. Não faltaram demonstrapermanece, ainda hoje, como uma das ções de sabedoria em seus vários esmais importantes obras da literatura arcritos teológicos, que o tornaram um mênia. importante poeta da literatura armênia. (Com informações de Vatican News, ACI Digital e Portal A12) *Notícia produzida sob a supervisão de Daniel Gomes Tinha fama de santidade e alguns


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Quaresma: tempo de conversão e de reconciliação Luciney Martins/O SÃO PAULO - fev.2020

Daniel Gomes

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Iniciada na Quarta-feira de Cinzas, a Quaresma propõe um itinerário aos cristãos para bem celebrar a Páscoa da Ressurreição do Senhor, a partir da preparação e da renovação do Batismo, escuta da Palavra, revisão dos hábitos de vida, reconciliação com Deus e os irmãos e a prática dos exercícios quaresmais do jejum, esmola e oração. A cor roxa adotada na liturgia indica que toda a Igreja é chamada a vivenciar um tempo de reflexão, penitência e disposição de conversão. A constituição conciliar Sacrosanctum concilium (SC) indica que na Quaresma devem ser colocados em destaque, “tanto na Liturgia quanto na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo por meio da recordação ou preparação do Batismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal” (SC, 109) Por 40 dias Os 40 dias da Quaresma simbolizam “o tempo de espera, da purificação, do retorno ao Senhor, da consciência que Deus é fiel às suas promessas. Este número não representa um tempo cronológico exato, uma soma de dias. Indica, mais que isso, uma paciente perseverança, uma longa prova, um período suficiente para ver as obras de Deus, um tempo no qual é necessário se decidir e assumir as próprias responsabilidades. É um tempo de decisões maduras”, explicou o Papa Bento XVI, na audiência-geral da Quarta-feira de Cinzas de 2012. O número 40 também remete a outros momentos de provação nas Sagradas Escrituras, como os 40 dias em que o Senhor jejuou e superou as tentações no deserto antes de iniciar sua vida pública; os 40 dias em que Moisés jejuou no Monte Sinai antes de receber a Lei da Aliança; e a peregrinação do povo hebreu à terra prometida, que durou 40 anos. Dimensão batismal Na já referida audiência-geral de 2012, Bento XVI recordou que, desde os primeiros séculos da vida da Igreja, a Quaresma “era o tempo no qual aqueles que tinham escutado e acolhido o anúncio de Cristo iniciavam passo a passo o caminho de fé e de conversão para chegar ao sacramento do Batismo. Tratava-se de uma aproximação ao Deus vivo e de uma iniciação à fé que deveria se cumprir gradualmente, mediante uma mudança interior por parte dos catecúmenos, isto é, daqueles que desejavam se tornar cristãos e serem incorporados ao Cristo e à Igreja”. Penitência e conversão O Catecismo da Igreja Católica (CIC)

Por 40 dias, fiéis são chamados à revisão dos hábitos de vida e às práticas da oração e da caridade

aponta que a Quaresma é um dos momentos apropriados “aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras caritativas e missionárias)” (CIC, 1.438). Na Quaresma, o cristão é chamado a buscar o sacramento da Penitência para obter a misericórdia de Deus e o perdão às ofensas a Ele feitas (cf. CIC 1.422). Igualmente, deve buscar a penitência interior, “uma reorientação radical de toda a vida, um regresso, uma conversão a Deus de todo o nosso coração, uma rotura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância pelas más ações que cometemos. Ao mesmo tempo, implica o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua graça” (CIC, 1.431). A penitência interior pode ocorrer pelas práticas do jejum, oração e esmola, “que exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros” (CIC, 1.434). Jejum Na mensagem para a Quaresma de 2009, o Papa Bento XVI deteve-se de modo especial na prática do jejum, que contribui “para conferir unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor (...) Privar-se do sustento material que alimenta o corpo facilita uma ulterior disposição para ouvir Cristo e para se alimentar

da sua palavra de salvação. Com o jejum e com a oração, permitimos que Ele venha saciar a fome mais profunda que vivemos no nosso íntimo: a fome e a sede de Deus”, escreveu o Pontífice. “Privar-se voluntariamente do prazer dos alimentos e de outros bens materiais ajuda o discípulo de Cristo a controlar os apetites da natureza fragilizada pela culpa da origem, cujos efeitos negativos atingem toda a personalidade humana”, prosseguiu. Na mensagem para a Quaresma deste ano, Francisco lembra que o jejum, “vivido como experiência de privação, leva as pessoas que o praticam com simplicidade de coração a redescobrir o dom de Deus e a compreender a nossa realidade de criaturas, que, feitas à sua imagem e semelhança, Nele encontram plena realização. Ao fazer experiência de uma pobreza assumida, quem jejua se faz pobre com os pobres e ‘acumula’ a riqueza do amor recebido e partilhado”. Esmola O Catecismo da Igreja Católica indica que “a esmola dada aos pobres é um testemunho de caridade fraterna; é também uma prática de justiça que agrada a Deus” (CIC, 2.462). Francisco, na mensagem para a Quaresma de 2020, afirma que homens e mulheres de boa vontade são chamados “à partilha dos seus bens com os mais necessitados por meio da esmola, como forma de participação pessoal na edificação de um mundo mais justo. A partilha, na cari-

Bons hábitos na Quaresma Na mensagem para a Quaresma deste ano e na audiência-geral da Quarta-feira de Cinzas de 2020, o Papa Francisco menciona alguns bons hábitos para este tempo quaresmal: Dizer palavras de incentivo, que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam, em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam; Prestar atenção ao próximo, oferecer-lhe um sorriso e proporcionar-lhe um momento de escuta; Evitar saturação de informações e de produtos de consumo; Desligar a televisão e o telefone celular para se conectar mais ao Evangelho; Renunciar a palavras inúteis, conversinhas, fofocas e se aproximar do Senhor; Viver uma Quaresma com caridade, cuidando daqueles que se encontram em condições de sofrimento, abandono e angústia em razão da pandemia de COVID-19.

dade, torna o homem mais humano; com a acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no seu egoísmo”. O exercício quaresmal da esmola remete à realização das obras de misericórdia, como foi lembrado por São João Paulo II na mensagem de 1999: “A Quaresma, vivida com os olhos postos no Pai, torna-se assim um tempo particular de caridade que se concretiza por meio das obras de misericórdia corporais e espirituais. Penso de modo especial nos que estão excluídos do banquete do consumismo cotidiano. Há tantos ‘Lázaros’ que batem às portas da sociedade: são todos aqueles que não participam das vantagens materiais resultantes do progresso. Existem situações perduráveis de miséria que não podem deixar de tocar a consciência do cristão e lembrar-lhe o dever que tem de enfrentá-las urgentemente, seja de modo pessoal, seja comunitário”. Oração A prática da oração é recomendada pelo próprio Cristo em diferentes momentos de sua vida pública: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26,41a). Na mensagem para a Quaresma deste ano, o Papa Francisco afirma que, “no recolhimento e oração silenciosa, a esperança nos é dada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e opções da nossa missão; por isso mesmo, é fundamental recolher-se para rezar (cf. Mt 6,6) e encontrar, no segredo, o Pai da ternura”. Anteriormente, na mensagem para a Quaresma de 2019, o Pontífice lembrou que neste tempo é preciso “orar, para saber renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia”. Na mensagem de 2020, o Papa indicou que “a oração poderá assumir formas diferentes, mas o que conta verdadeiramente aos olhos de Deus é que ela escave dentro de nós, chegando a romper a dureza do nosso coração, para o converter cada vez mais a Ele e à sua vontade”.


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O itinerário da Via-Sacra na vivência da espiritualidade quaresmal Arte com a reprodução das Estações da Via-Sacra do Santuário Pai das Misericórdias

O SÃO PAULO apresenta a história da Via-Sacra e o caminho de dois santos que viveram o mistério pascal de Cristo Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A celebração da Quarta-feira de Cinzas inaugura o tempo litúrgico da Quaresma, que para nós, católicos, é tempo de conversão e de renovação da vida interior. Entre as práticas de piedade mais indicadas para este período está a Via-Sacra ou Via Crucis (Caminho da Cruz), que consiste na meditação da Paixão e Morte de Jesus Cristo, do momento em que é julgado e injustamente condenado, até a sua crucificação e morte no Monte Calvário. Dividida em 14 estações, mais do que contar uma história, essa devoção milenar nos pretende fazer percorrer um itinerário espiritual que nos colocará frente a frente com o amor de Deus. Itinerário da cruz Juntos, os quatro Evangelhos narram com riqueza de detalhes todos os acontecimentos da Paixão de Cristo. “O entendimento bíblico é que o momento da cruz é o ápice da vida de Jesus, pois a sua Paixão, ou seja, a cruz, a morte, confere sentido à vida de todo ser humano. A cruz é o símbolo da salvação de cada pessoa”, enfatizou Padre Rafael Vieira, da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos). O Sacerdote destacou ainda que “rezar a Via-Sacra significa mergulhar no mistério da vida de cada pessoa, e ela tem a oportunidade de refletir sobre a vida de Jesus para dar luzes e rumos à sua própria vida. É, também, a oportunidade de cada fiel se associar à Paixão de Cristo, entregando os seus próprios sofrimentos e angústias para que sejam transformados pela força do Espírito Santo”. História Historicamente, a meditação da ViaSacra foi iniciada no tempo das Cruzadas – expedições militares em direção à Terra Santa, promovidas durante a Idade Média pelos reinos europeus cristãos, com o intuito de reconquistar e libertar os lugares santos do domínio turco, que impedia as peregrinações de cristãos a tais locais sagrados, berço do Cristianismo. Com o tempo, na impossibilidade de visitar presencialmente esses lugares, os cristãos passaram a produzir expressões artísticas (quadros e esculturas) com cenas da ViaSacra descritas no Evangelho, e assim, percorreram esse caminho espiritualmente e de forma contemplativa. Relatos da Beata Ana Catarina Emmerich registrados no livro “A amarga Paixão”, sobre suas experiências místicas da Paixão de Cristo, indicam que a primeira

Via-Sacra ocorreu muito antes, durante a própria Paixão de Cristo, tendo sido percorrida pela Mãe de Jesus, acompanhada de um pequeno grupo de mulheres. Dados registram que, em Jerusalém, até o século XII, aos peregrinos que lá chegavam só eram oferecidos guias para a visita aos locais santos, sem nenhuma menção à Via Dolorosa. Somente no fim do século XIII começaram a incluir o itinerário da cruz de Cristo e a identificá-lo entre etapas ou estações, cada uma dedicada a um episódio da Paixão. No final do século XIV, surgiu um roteiro que percorria o sentido inverso da Via Dolorosa, que partia do Santo Sepulcro até o Monte das Oliveiras. A devoção à Via-Sacra foi amplamente divulgada pelos Franciscanos que se dedicaram à propagação da veneração à Via Dolorosa de Cristo. Em suas igrejas e conventos, ergueram e construíram as estações da Via-Sacra. Foram os Franciscanos que obtiveram dos Sumos Pontífices a concessão das indulgências associadas à prática da Via-Sacra. Ao longo dos tempos, essa prática sofreu algumas modificações, até que em 1742 o Papa Bento XIV aprovou sua fórmula e recitação composta por 14 estações que representam as cenas da Paixão. São João Paulo II sugeriu a inclusão da 15ª estação: a Ressurreição de Jesus na Via-Sacra. Indulgências A Via-Sacra é um momento penitencial no qual, além de meditar os mistérios dolorosos da vida de Jesus, o fiel pode obter as indulgências. “As indulgências são graças que curam os efeitos do pecado na vida do ser humano, ou seja, apagam as penas temporais. Não é, portanto, o perdão dos pecados, pois esse perdão é dado pelo sacramento da Reconciliação. O pecado sempre deixa consequências ou marcas em nossa vida, que geram penas temporais, e as indulgências apagam essa pena temporal, assim como as penitências, que são atos bons que reparam o mal que nasceu do pecado cometido. A Penitência corrige os maus hábitos”, destacou Padre Rafael.

Ao percorrer o caminho feito por Jesus por meio da Via-Sacra, concede-se a indulgência plenária ao fiel que reza a Via-Sacra meditando cada estação diante da representação das estações ou de um crucifixo, juntamente com as três condições da indulgência: confissão sacramental; comunhão eucarística; oração nas intenções do Sumo Pontífice. Viveram a experiência da Via-Sacra Ao longo da história da Igreja Católica, muitos santos se destacaram pela vivência do mistério pascal de Cristo, como é o caso de São Leonardo de Porto Maurício e Santa Eustáquia de Messina. Ambos deixaram um legado de fé por meio do testemunho pautado na espiritualidade e no itinerário da vivência da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. São Leonardo de Porto Maurício Paulo Jerônimo nasceu em Porto Maurício, perto de Gênova, na Itália, em 1676. Ainda pequeno, ficou órfão e foi entregue aos cuidados do tio. Em Roma, concluiu os estudos no Colégio Romano. Ingressou na Ordem Franciscana, no Convento de São Boaventura, vestiu o hábito e recebeu o nome de Leonardo. No século XVIII, foi o grande apóstolo da devoção à Via-Sacra. Também é considerado o salvador do Coliseu, ao promover pela primeira vez a liturgia da Via-Sacra naquele local que foi marcado pelo martírio dos cristãos. A partir desse ato, a celebração da Via-Sacra tornou-se tradição histórica e permanece viva até hoje: a cada Sexta-feira da Paixão, o Pontífice faz a Via-Sacra no Coliseu, em Roma. São Leonardo destacou-se pela vivência e devoção da Via-Sacra e o amor à Virgem Maria. O Papa Pio XI o declarou padroeiro dos sacerdotes que se consagram às missões populares no mundo. É o Santo que divulgou e propagou a devoção da Via-Sacra no Ocidente. Construiu 572 Vias-Sacras, na Itália, entre 1731 e 1751. Morreu em 26 de novembro de 1751, em Roma, no Convento de São Boaventu-

Estações da Via-Sacra 1 Jesus é condenado à morte 2 Jesus carrega a cruz 3 Jesus cai pela primeira vez 4 Jesus encontra a sua Mãe 5 Simão, o Cireneu, ajuda Jesus a carregar a cruz 6 Verônica enxuga o rosto de Jesus 7 Jesus cai pela segunda vez 8 Jesus encontra as mulheres de Jerusalém 9 Jesus cai pela terceira vez 10 Jesus é despido de suas vestes 11 Jesus é pregado na cruz 12 Jesus morre na cruz 13 Jesus é descido da cruz e entregue a sua Mãe 14 Jesus é sepultado 15 A Ressurreição de Jesus

ra, mesmo local onde consagrou sua vida a Deus e à espiritualidade da Via Dolorosa de Jesus. Santa Eustáquia de Messina Descendente de nobre e riquíssima família, nasceu em 25 de março de 1434, em Messina, na Itália. Aos 15 anos, renunciou às núpcias e ingressou no Convento das Clarissas Urbanistas de Basicó. Dedicou sua vida ao Mistério da Paixão de Cristo. Fundou um mosteiro com o ideal de Santa Clara, pautado na austeridade amorosa a Jesus pobre e sofredor. Deixou como legado uma série de meditações sobre a experiência mística e espiritual do profundo amor à Paixão de Jesus, registrada no Livro da Paixão. Morreu em 20 de janeiro de 1485 e seu corpo permaneceu incorrupto na igreja do Mosteiro em Messina. Foi beatificada pelo Papa Pio VI em 1782, e canonizada por São João Paulo II em 12 de junho de 1988. Sua memória litúrgica é celebrada em 20 de janeiro. (Com informações de Paulinas e Eustáquia de Messina Blogspot)


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Luciney Martins/O SÃO PAULO

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www.osaopaulo.org.br No site do jornal O SÃO PAULO, você acessa conteúdos atualizados sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente. Patriarca Maronita fala sobre as práticas penitenciais da Quaresma https://cutt.ly/yk4S8zg Papa: mártires coptas confessaram Jesus até a morte https://cutt.ly/Mk4SKm8

Cardeal Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano, asperge as cinzas durante missa na Catedral da Sé, no dia 17, na abertura da Quaresma

‘A Quaresma convida a renovar a fé e a retomar o caminho de Cristo’ Fernando Geronazzo

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O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu a missa com o rito de imposição das cinzas, na quarta-feira, 17, na Catedral da Sé, marcando o início do tempo da Quaresma. Nessa data também foi aberta oficialmente a Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) 2021, que tem como tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a). A Eucaristia foi concelebrada pelo Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo, pelos bispos auxiliares da Arquidiocese e um grupo de sacerdotes. Devido aos protocolos sanitários para a prevenção da COVID-19, houve reduzido número de fiéis presencialmente, mas a missa pôde ser acompanhada ao vivo por meio das mídias digitais da Arquidiocese e pela rádio 9 de Julho. Cinzas O rito de imposição das cinzas, gesto penitencial, recorda que o ser humano é fisicamente perecível, em alusão ao versículo bíblico: “Tu és pó e ao pó retornarás” (Gn 3,19). Essas cinzas, geralmente, são feitas a partir da queima dos ramos abençoados na missa do Domingo de Ramos, na Semana Santa do ano anterior. Este ano, devido às recomendações de distanciamento físico para evitar a disseminação do novo coronavírus, a Santa Sé fez uma pequena alteração no rito de imposição. Após abençoar as cinzas, o celebrante diz uma única vez para toda a assembleia a fórmula: “Convertei-vos e crede no Evangelho”

ou “Lembra-te de que és pó e ao pó voltarás”; em seguida, após higienizar as mãos e com o uso de máscara, o ministro deixa cair uma porção de cinzas sobre a cabeça dos fiéis, sem tocá-los. Olhar para o mistério pascal Na homilia, Dom Odilo recordou que a Quaresma é um tempo de preparação para a Páscoa, mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, e da participação dos cristãos nesse mistério por meio do Batismo. “Durante todo este tempo, somos orientados a olhar para a Páscoa e, também, para a nossa vida cristã. Recordamos o fundamento da nossa fé e da nossa religião, que é a expressão do nosso relacionamento com Deus”, destacou o Cardeal, convidando todos a viver intensamente a Quaresma. “Que cheguemos bem dispostos à Páscoa, para renovarmos as promessas batismais e, assim, o vigor, a alegria da nossa união com Cristo e da missão que Ele nos dá: sermos suas testemunhas no mundo”, acrescentou o Arcebispo. Penitência e conversão O Purpurado lembrou, ainda, que os apelos à penitência e à conversão deste tempo litúrgico ressaltam a necessidade de os cristãos renovarem a vivência da fé e retomarem o caminho do seguimento de Cristo. Dom Odilo reforçou que, por meio dos exercícios quaresmais da oração, do jejum e da esmola, o cristão é capaz de enfrentar as forças que o impelem ao mal. “A penitência não é para nos castigar, mas para nos fortalecer. É o exercício que fortalece a nossa vontade e nos ajuda a sermos firmes no caminho do Evangelho”, destacou o

Cardeal, enfatizando que, como Jesus exorta no Evangelho proclamado nessa celebração, tais práticas devem ser sinceras e corresponder a uma vontade interior que honre a Deus e não procure a glória pessoal. Sobre a oração, o Arcebispo recordou que esta consiste na busca profunda de diálogo com Deus e escuta de sua Palavra, a frequência aos sacramentos, especialmente a Eucaristia. Já a esmola resume todo o conjunto da caridade e das obras de misericórdia e, recordando o que diz a Sagrada Escritura, Dom Odilo frisou: “Sem a caridade, a nossa fé é vazia, morta”. Campanha da Fraternidade O Cardeal Scherer lembrou que a Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) se insere como um dos exercícios quaresmais de caridade e, neste ano, de modo especial, chamando todos para a busca da unidade entre os discípulos de Cristo que estão divididos. “Jesus quer nos unir em si. Por isso, devemos buscar o diálogo fraterno, o respeito e a escuta, por meio da ação no mundo”, afirmou Dom Odilo, enfatizando que é possível realizar tantas iniciativas comuns, mesmo que haja diferenças na fé. “Fazendo isso, aproximamo-nos, superamos aquilo que nos divide. Se estamos divididos, falta a caridade, falta o amor entre nós”, completou. Comunhão Por fim, o Arcebispo salientou que mesmo entre os católicos existem divisões “contagiadas por uma mentalidade que não é cristã”, sobretudo quando são marcadas por ideologias colocadas acima da fé e da comunhão em torno do mesmo altar. No fim da missa, o Arcebispo e os bispos auxiliares fizeram um envio simbólico

Arquidiocese de La Paz realiza missa em ação de graças por profissionais da Saúde https://cutt.ly/mk4Dzf1 Dom Odilo: ‘Tomemos cuidado com o fermento do ódio e das divisões’ https://cutt.ly/9k4SM40 Projetos sociais ajudam a diminuir os abismos da desigualdade na capital paulista https://cutt.ly/nk4Dqgw Na volta às aulas, o que pode ou não na lista do material escolar? https://cutt.ly/Ak4Dyjf CNBB

Na abertura da CFE, Secretário-Geral da CNBB pede que cristãos busquem a unidade https://cutt.ly/kk4SYMb

para a realização da CFE, entregando exemplares do manual da Campanha a representantes das regiões e vicariatos episcopais da Arquidiocese. Novamente, Dom Odilo chamou a atenção para o tema do diálogo. “Não fazemos a Campanha da Fraternidade para promover a discórdia. Pelo contrário: que seja uma campanha para promover a fraternidade, superar os conflitos, não apenas com quem crê diferente de nós, mas com aqueles que professam a fé na mesma Igreja”, manifestou o Cardeal, concluindo: “A comunhão, expressão do amor fraterno, vem de Deus e leva a Ele”.


20 | Papa Francisco | 18 a 23 de fevereiro de 2021 |

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‘Voltar para Deus’ é o convite do Papa nesta Quaresma Vatican Media

Papa Francisco preside missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano, com o rito da imposição das cinzas, na quarta-feira, dia 17

Filipe Domingues

Especial para O SÃO PAULO

Orientar o coração na direção correta e “voltar para Deus”. Esse foi o centro da pregação do Papa Francisco durante a missa da Quarta-feira de Cinzas, 17, celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano. “Há um convite que nasce no coração de Deus, que, com os braços abertos e os olhos cheios de nostalgia, nos suplica: ‘Voltem para mim com todo o coração’”, recordou o Papa, citando o profeta Joel (2,12). Devemos superar a indiferença e o excesso de “coisas a fazer”, disse o Papa, e, realmente, retornar ao caminho de Deus. Frequentemente, deixamos para amanhã “dia após dia” o momento certo de nos aproximar. Hoje, “Deus faz esse apelo ao nosso coração”, acrescentou o Santo Padre. “Na vida, teremos sempre coisas a fazer e desculpas a apresentar. Mas, irmãos e irmãs, hoje é o tempo de voltar para Deus.” Orientar o coração O Papa disse, ainda, que podemos percorrer vários percursos nesta vida, mas a Quaresma é o melhor momento para “discernir para onde está orienta-

do o meu coração”. Em suas palavras, “busquemos nos perguntar: aonde leva o navegador da minha vida? Em direção a Deus ou em direção a mim mesmo? Vivo para agradar ao Senhor ou para ser notado, louvado, preferido, em primeiro lugar, e assim por diante?” Francisco também usou a expressão “coração bailarino” para se referir àqueles que fazem passos à frente e atrás, amando “um pouco o Senhor e um pouco o mundo”. É preciso lutar contra as próprias hipocrisias e “libertar o coração das duplicidades e das falsidades que o escravizam”, completou. Uma viagem de retorno Voltar para Deus é fazer “uma viagem de retorno possível, porque a viagem de ida Ele já fez em nossa direção”. Como o doente leproso que buscou Jesus após receber a cura, também nós temos que “voltar para Jesus” e pedir a cura das nossas “doenças espirituais”, dizendo: “Jesus, estou aqui diante de ti, com o meu pecado, com as minhas misérias. Tu és o médico, Tu podes me libertar. Cura o meu coração”. Por isso, a Quaresma é o período em

que se busca o perdão “que nos recoloca em pé”, por meio da Confissão dos pecados. Na definição de Francisco, ela é “o primeiro passo da nossa viagem de retorno”. Da mesma forma, os confessores devem acolher os penitentes “como um pai”. Voltar ao Espírito Santo Em referência à Santíssima Trindade, o Papa também falou da necessidade de se “voltar ao Espírito Santo”, o Espírito de vida. “Não podemos viver seguindo o pó, atrás de coisas que hoje existem, mas que amanhã desaparecem. Voltemo-nos ao Espírito Santo, gerador de vida, voltemo-nos ao fogo que nos faz ressurgir das nossas cinzas, aquele fogo que nos ensina a amar”, afirmou. Rezando para o Espírito Santo é possível “se reconciliar com Deus”, pois isso não depende apenas das próprias forças de cada um, mas também “do primado da ação de Deus”. E mais: “A graça nos salva. A salvação é pura graça, pura gratuidade”. Para começar a “voltar para Deus”, é preciso, antes de tudo, “reconhecer-se necessitado” de Deus, de sua misericórdia e de sua graça, “no caminho da humildade”, pregou o Papa Francisco.

Francisco envia mensagem pelo lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica Em sua tradicional mensagem à Igreja no Brasil, por ocasião do lançamento da Campanha da Fraternidade, na Quarta-feira de Cinzas, 17, o Papa Francisco desejou que que o período quaresmal seja “frutuoso”. “A fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de dialogar, encontrar pontos de união e traduzi-los em ações a favor da vida, de modo es-

pecial a vida dos mais vulneráveis”, escreveu. Francisco recordou que esta é a quinta vez que a Campanha é celebrada em caráter ecumênico, ou seja, em parceria com outras Igrejas do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). O tema é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”. “Ao promover o diálogo como compromisso de amor, a Campanha da Fra-

ternidade lembra que são os cristãos os primeiros a ter que dar exemplo, começando pela prática do diálogo ecumênico”, declarou o Papa. Nesta Quaresma, de modo especial, Jesus nos convida “a orar pelos que morreram, a bendizer pelo serviço abnegado de tantos profissionais da Saúde e a estimular a solidariedade entre as pessoas de boa vontade”, acrescenta o Santo Padre. (FD)

Tempo para renovar a fé, a esperança e a caridade Recordando que a Quaresma é um “tempo de conversão”, o Papa Francisco convida os fiéis católicos a “abrir o coração para o amor de Deus”, renovando sua fé. “O jejum, a oração e a esmola, como apresentados por Jesus em sua pregação, são as condições e a expressão de nossa conversão”, escreveu na mensagem para a Quaresma de 2021, publicada na sexta-feira, 12. Dividida em três partes, a mensagem fala da fé como acolhida da Verdade e como pode ser manifestada concretamente no mundo por meio do testemunho de vida; também trata da esperança como “água viva” necessária para o caminho; e apresenta a caridade (ou a esmola) como “a mais alta expressão de nossa fé e nossa esperança”, se vivida no modelo de Cristo. Seu convite é o de viver a Quaresma “como percurso de conversão, oração e compartilhamento dos bens”, para que seja revista “nossa memória comunitária e pessoal, a fé que vem do Cristo vivo, a esperança animada do sopro do Espírito e o amor cuja fonte inesgotável é o coração misericordioso do Pai”. Jejum, oração e caridade O jejum é o “caminho da pobreza e da privação”. A esmola é “o olhar e os gestos de amor para o homem ferido”. E a oração é “o diálogo filial com o Pai”, afirma o Papa. Juntos, esses três pilares “nos permitem encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa”. A Verdade da fé, “transmitida de geração em geração pela Igreja”, não é uma mera construção racional, mas “uma mensagem que recebemos e podemos compreender graças à inteligência do coração”. Por isso, é preciso se abrir a Deus. A simplicidade experimentada no jejum quaresmal ajuda a “redescobrir o dom de Deus e a compreender a nossa realidade de criaturas que encontram Nele sua realização”. Na oração silenciosa, acrescenta Francisco, “a esperança é doada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e escolhas de nossa missão”. A Quaresma nos permite “receber a esperança de Cristo” por meio da oração pessoal. Por fim, a caridade “é dom que dá sentido à vida”, comenta o Pontífice. “O pouco, se compartilhado com amor, não termina jamais, mas se transforma em reserva de vida e de felicidade”, diz ele. “Assim é a esmola, pequena ou grande que seja, se oferecida com alegria e simplicidade.” (FD)


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