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A pedagogia do encontro

outra pergunta: “Mestre, onde moras?” (Jo 1,38). Para seguir Jesus, não basta se dispor apenas daquilo que escutamos os outros dizerem Dele; faz-se necessário uma experiência pessoal com Ele. Anal, não se pode caminhar atrás de Jesus de qualquer maneira.

Jesus foi pré-anunciado – Podemos encontrar no Antigo Testamento, várias passagens que são o anúncio de Jesus, muito anos antes de seu nascimento. Na minha opinião, a passagem do “servo sofredor”, que descreve com detalhes a Paixão (em Isaias 53), escrita mais de 700 anos antes de Jesus, é uma das mais impressionantes.

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Nossa fé é revelada – Nossa fé não foi escrita por um visionário, um homem inspirado ou com qualidades extraordinárias. Nossa fé foi revelada pelo próprio Deus, desde Abraão, buscando nos resgatar do episódio do pecado original.

Jesus está vivo – Jesus viveu, ensinou e morreu por nossos pecados. Ressuscitou verdadeiramente, seu sepulcro está vazio e Ele está vivo.

É a única via de salvação – Jesus é a única via de salvação, Ele mesmo disse: “Ninguém chega ao Pai senão por mim”.

Ora, se tudo isso é verdade, e cremos que é, se Deus vem pessoalmente até nós, morre por nossos pecados e decide fundar sua própria Igreja, como poderíamos em nossa sã consciência achar minimamente que Deus pode ser encontrado em qualquer religião?

É natural que o mundo, a ito em busca de suas respostas, tente encontrar conforto. Esses a itos buscam pessoas com a mesma a nidade, ou até mesmo com sofrimento comum. Mas a resposta não será encontrada nas coisas.

A criação de uma “grande irmandade”, para “andarmos juntos” e “vivermos melhor”, também não nos dará as respostas, a nal o mundo não as tem. É somente o Cristo, fonte de todo amor e de toda a sabedoria, que pode nos dar o que tanto precisamos. Tenta-se transformar Cristo em algo “pasteurizado”. Já chamam nossa fé de “uma questão de crença pessoal”, como se a existência de Jesus fosse esotérica, como se Cristo pudesse se comparar com outras coisas ou como se Deus pudesse ter algum concorrente.

Nesse mundo de muitas alternativas e poucas respostas, é preciso termos claro onde estamos. Não nos deixemos confundir pelo maligno. Enquanto outros se afastam da fé verdadeira, Jesus nos pergunta “Quereis vós também retirar-vos?”. Para nós, éis batizados, revestidos da unção do Crisma, e com a responsabilidade de levar ao mundo a única luz que é Cristo, só temos uma resposta: “Senhor, a quem iríamos nós? Só Tu tens palavra de vida eterna!”.

LuizVianna éengenheiro,pósgraduadoem marketingeCEOdaMult-Connect,umaempresade tecnologia.Autordoslivros“Preparadoparavencer”e “SocialTransformationeseuimpactonosnegócios”,é também músico e pai de três lhos.

Queremos começar este artigo fazendo referência à atividade pública de Jesus no Evangelho segundo João (1,29). Pode-se perceber no relato uma busca e um seguimento: dois discípulos que escutaram o Batista e começaram a seguir Jesus sem dizer nenhuma palavra (cf. PAGOLA, José. O caminho aberto por Jesus, 2013, p.41). Há algo Nele que os atrai, embora ainda não saibam quem Ele é e para onde os levará. Num determinado momento, Jesus se volta e lhes faz uma pergunta: “Que buscais?” (Jo 1,38). Aqueles dois discípulos ainda não conseguem imaginar aonde pode levá-los a aventura do seguimento de Jesus, mas intuem que Ele pode ensinar-lhes algo que ainda não conhecem, por isso respondem à pergunta de Jesus com

Vale destacar aqui as riquezas que existem por trás das perguntas que nos narram as Escrituras: elas escondem tesouros e nos abrem à revelação (RONCHI, Ermes. Le nude domande del Vangelo, 2017, p.9); espiritualmente, as perguntas são ricas da presença de Deus. As perguntas nos abrem ao novo, são como que um dom, um maná para o nosso peregrinar à terra prometida (Idem, p.13). Com a pergunta “que buscais?”, o Senhor nos faz entender que nos falta alguma coisa, a nal, as nossas buscas nascem sempre de faltas e necessidades, de uma espécie de vazio que pede para ser preenchido (Idem, p.14-15).

Quando alguém não busca nada na vida e se conforma em “ir levando,” ou ser um “vivedor”, não é possível encontrar-se com Jesus. O importante não é buscar algo, mas buscar alguém (PAGOLA, José. O caminho aberto por Jesus, 2013, p.42). Os discípulos não buscam encontrar Nele grandes doutrinas ou sábias - loso as, mas querem que Ele lhes mostre onde Ele vive, isto é, onde é a sua casa. Em outras palavras, os discípulos querem aprender de Jesus o que signi ca viver. A resposta do Senhor é “vinde e vede” (Jo 1,39). Ele não lhes oferece nenhuma explicação nem nenhuma condição, apenas convida-os: “Percorrei o meu caminho”.

Jesus continua se dirigindo a cada um de nós com a pergunta que nos remete ao nosso coração: “O que estais buscando?”. Sua pedagogia é a pedagogia da pergunta que nos movimenta a fazer um percurso interior e a nos encontrarmos com a fonte que nos inspira e nos alimenta. Com seu modo de perguntar, vai nos libertando dos nossos enganos, dos nossos medos e dúvidas que muitas vezes atro am e bloqueiam a nossa vida.

A pergunta de Jesus nos tira da mediocridade e nos coloca novamente em movimento de busca. Quando o Senhor fala, Ele não interroga nossa cultura, competência ou teologia, mas nossa humanidade (RONCHI, Ermes. Le nude domande del Vangelo, 2017, p.15). Deixar-se atingir pela pergunta: “O que buscais?”, signi ca tomar consciência de que nós não estamos prontos, mas vivemos em uma continua peregrinação, em um contínuo ser de passagem. Somente quando acolhemos a pergunta de Jesus em nossa vida é que percebemos como é inacabada nossa existência e o quanto ainda temos que caminhar. Quando a pergunta ressoa no mais íntimo de nós, descobrimos a nossa autêntica forma de ser, isto é, nossa identidade. A pergunta nos arranca da surdez de nós mesmos e nos faz capazes de escutar o que o barulho do dia a dia esconde e abafa; ela nos desperta e nos faz sair do discernimento que confunde.

Nesse sentido, a busca que Jesus desperta em nós, nos orienta para o interior. Por isso, é importante que aprendamos a escutar o nosso “mestre interior”, pois o que buscamos é o nosso “eu verdadeiro”, nosso “eu profundo”, nossa identidade original. Isso faz crescer em nós o desejo do encontro que se converte na força determinante para se manter sempre em um caminho de busca. Vale buscar o que é importante e encontrar Aquele que responde às questões mais profundas de nossa busca. Assim sendo, é preciso aceitar e viver a busca de Deus; é a Ele que se deve buscar. A busca é, portanto, um dinamismo da mente e do coração, é “entrar no território onde Jesus vive”.

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