NÚMERO 2
FEVEREIRO 2012
O Jornal Pedal é gratuito e não pode ser vendido
2 jornal pedal
número 2 . fevereiro 2012
editorial
derailleur
Fevereiro 2012
O primeiro número do pedal foi uma experiência fora do normal. No campo de batalha, uma publicação gratuita aperta a mão mais facilmente a qualquer pessoa e assim, mesmo que o seu interesse seja nulo na matéria, pode servir-se do que não tem custo para matar a curiosidade, conhecer mais sobre esta realidade e, eventualmente, ser desafiado a pensar de outra forma. Em todas as entrevistas que nos fizeram, a questão económica foi sempre uma pergunta pertinente. A nossa resposta manteve-se — é um investimento proporcional ao tamanho do jornal. Os media que falam da crise falaram do nosso jornal. Alguns, com espanto de trazermos para a rua uma publicação gratuita dirigida a uma minoria — mas é exactamente essa a ideia que está errada. Somos, na verdade, uma minoria a fazer este jornal, um projecto paralelo que,
após este primeiro mês, acabou por engolir a maior parte dos nossos dias. Todo o feedback que temos recebido acabou por provar que num tempo de recessão são as coisas que se fazem e se tornam reais que levantam o espírito e o abrem para novas questões e patamares. A missão foi cumprida. Agora resta continuar, alimentar e desafiar os limites destas páginas. Neste número, falamos de mobilidade e damos a primeira parte de um guia que pretende demonstrar o quão fácil é moldar e criar calo numa cidade pronta a ser pedalada; um guia para uma cidade que pode e deve sofrer intervenções e ser alterada com novas ideias em qualquer área, como no caso do street-artist Pantónio e, continuamente, um guia que sirva de inspiração para tudo o resto que se move dentro da temática da bicicleta. ba
Nº2 – FEVEREIRO DE 2012 Ficha Técnica — Director: Bráulio Amado (BA) Directores Adjuntos: João Pinheiro (JP), Luís Gregório (LG) Editor: Filipe Gil (FG) Redacção: Ricardo Sobral (RS) Fotografia de Capa: Ricardo Filho de Josefina Colaboraram nesta edição: Fotografia: Ricardo Filho de Josefina, Sara Gomes, Óscar Silva, João Amorim Ilustrações: João Maio Pinto, Ricardo Martins, Miguel Reis, Sofia Morais, Bráulio Amado Textos: Ricardo Pinela, P. Vilarinho, Prof. Leopoldo Ramalho, Joana Barrios, Carlos Santos, Ana de Almeida, Miguel Reis, José Romano, Ricardo Filho de Josefina, Duarte Nuno Produção de Moda: Fotografia: Sara Gomes Styling: Bárbara do Ó Maquilhagem: Joana B. Modelo: Francisca Sousa Banda Desenhada: Rick Smith, Brian Griggs Revisão: Babelia Traduções www.babelia.pt Design e Direcção de Arte: Estúdio HHH Comunicação: Helena César Departamento Comercial e-mail: jornalpedal.comercial@gmail.com tlm: 915044437/935586915/933514506 jornal Pedal é uma marca registada / Morada: Praça Gonçalo Trancoso nº2 – 2º esq, 1700-220 Lisboa Tel: 935586915/933514506/915044437 e-mail: jornalpedal@gmail.com web: facebook.com/JornalPedal / jornalpedal.tumblr.com / twitter.com/JornalPedal Impressão: Empresa Gráfica Funchalense S.A. funchalense.pt | email: geral@egf.com.pt Tel. 219677450 Fax 219677459 Tiragem: 5.000 exemplares / Depósito Legal: 340117/12 O Jornal Pedal faz parte da Cooperativa POST postcoop.org / As opiniões expressas no Jornal Pedal são da exclusiva responsabilidade dos respectivos autores, e não vinculam ou reflectem necessariamente a posição da direcção do jornal. Jornal Pedal é uma publicação gratuita que não pode ser vendida.
notícias
Workshops para utilizadores de bicicleta A Cooperativa Cultural Post inicia, durante o mês de Fevereiro, um plano de formação para utilizadores de bicicleta com o objectivo de complementar e aperfeiçoar conhecimentos úteis a quem pretende pedalar com segurança e aumentar a autonomia sobre rodas. Segundo a organização, estão previstos três workshops: “Aprender a andar de bicicleta”; “Condução de bicicleta na cidade” (com três níveis); “Mecânica simples e manutenção da bicicleta para viajantes". A informação sobre datas e preços do workshop estão disponíveis em postcoop.org. fg
BFF 2012: candidaturas abertas Estão abertas as inscrições para participar na edição de 2012 do Bicycle Film Festival (BFF) de Lisboa. De acordo com a organização, o BFF procura obras nas quais esteja presente a temática da bicicleta, “sem restrições de formato, abordagem visual ou estilo”, podendo ser filmes de animação, ficção, documentário, vídeos musicais ou experimentais. O processo de candidatura é gratuito e acessível através do site bicyclefilmfestival.com. O prazo da entrega das propostas termina a 1 de Abril. Em 2012, o BFF celebra o 12.º aniversário e estará presente em 25 cidades em todo o mundo, incluindo Paris, Londres, Tóquio, Sidney e Lisboa. O BFF tem contribuído para a divulgação de obras
Rasto. DR
de cineastas e autores de diversas áreas, incluindo artistas emergentes e consagrados como Spike Jonze, Mike Mills, Tom Sachs, entre outros. fg
Rasto e Dry DrilL Estão a surgir novas marcas e novos serviços para quem utiliza ou quer utilizar a bicicleta no dia-a-dia. Caso da Rasto, marca de roupa para fixed gear que cria e comercializa roupa pensada para o conforto de quem usa a bicicleta diariamente. Também recentemente surgiu a Dry Drill, marca portuguesa de bicicletas personalizáveis. rasto.pt, drydrill.com fg
PORTO ALEGRE RECEBE 1.º FÓRUM MUNDIAL DA BICICLETA A cidade brasileira de Porto Alegre vai receber, entre os dias 23 e 26 de Fevereiro, o 1.º Fórum Mundial da Bicicleta que, segundo a organização, tem como objectivo “promover o debate sobre o futuro das cidades e o papel da bicicleta no âmbito social, económico, ambiental, desportivo e cultural”. Do programa destaca-se a presença do activista norte-americano Chris Carlsson, que em 1992, em São Francisco, deu início à primeira Massa
Crítica. Outro dos destaques é o painel “Cicloativismo: Bicicletada/Massa Crítica, o cicloativismo como agente de mudança para cidades mais humanas”. Para mais informações, consultar o site forummundialdabici.com. fg
Boom de utilizadores de bicicletas no Reino Unido rende 3,3 mil milhões O crescente número de utilizadores de bicicletas no Reino Unido rendeu à economia local, em 2011, cerca de 3,3 mil milhões de euros e criou cerca de 23 mil empregos, segundo um estudo publicado pela London School of Economics (LSE). Encomendado pelo canal de televisão Sky e pela British Cycling, o estudo calculou o “gross cycling product” (produto bruto dos ciclistas), tendo em conta o seu impacto económico nas vendas de bicicletas e respectivo equipamento e criação de emprego no sector. Assim, o estudo da LSE concluiu que o sector movimentou 3,3 mil milhões de euros, o que significa cerca de 256 euros por cada ciclista. O estudo revela ainda que o ciclismo – por lazer ou no trajecto de casa para o trabalho – está a
gozar de um boom sem paralelo no Reino Unido. Para além do bem sucedido lançamento do sistema de partilha de bicicletas de Londres, o célebre "Barclays Cycle Hire", destaca-se ainda a construção de milhares de ciclovias por todo o Reino Unido e a promoção da actividade. Ao todo, o número de utilizadores de bicicleta aumentou 1,3 milhões no último ano, elevando o total da população ciclista para os 13 milhões. fg
MAG Kiosk Abriu recentemente na LX Factory, em Lisboa, o MAG Kiosk, um quiosque de jornais e revistas (nacionais e internacionais) mesmo à medida das mentes criativas que proliferam naquele espaço. Os proprietários, e responsáveis pela ideia - Carlota Ferrão e Pedro Sottomayor - são também criativos, não só pela excelente ideia, mas porque são designers. Aberto de segunda a sábado, das 9h às 19h e ao domingo, das 12h às 19h, é o local ideal para adquirir a revista estrangeira que nem no iPad está disponível – e mesmo que esteja o PEDAL prefere o papel. fg
Jacobsen e Kristiansen moram no Príncipe Real No coração de Lisboa (Príncipe Real) abriu uma nova loja, a MØbler, que vende peças de mobiliário, iluminação e decoração de origem escandinava dos anos 50 e 60 do século passado. Escrito assim faz-nos pensar em velharias, mas todos sabemos a intemporalidade das peças de design feitas por suecos, dinamarqueses e demais habitantes daquela zona. O novo espaço disponibiliza peças desenhadas por Arne Jacobsen, Kai Kristiansen, Jo Hammerborg, Erik Balslev ou Poul Henningsen. A loja, um projecto de Cristiana Vieira, merece uma visita bem atenta pelos seus 50m², a bem do bom gosto das nossas casas e ateliês. A loja está aberta de 2ª a sábado, das 10h às 20h. fg
Camisola Amarela com novo espaço A empresa Camisola Amarela, fundada em 2009, vai inaugurar um novo espaço em Lisboa, junto à rotunda do Marquês de Pombal.
A primeira empresa com serviço de estafetas exclusivamente de bicicletas (e que distribui o PEDAL), esteve até aqui com sede no Cowork Lisboa, em Alcântara. O novo espaço será inaugurado a 2 de Março. fg
Tiago Sousa apresenta novo trabalho em Março Dia 2 de Março, no Vodafone Mexefest Porto (Café Magestic), no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, dia 9 de Março, e no Auditório do Museu do Oriente, em Lisboa, dia 23 de Março, são as próximas datas em que o músico Tiago Sousa irá apresentar o seu novo disco de piano a solo, “Samsara”. Esta é uma “peça densa onde o músico dá expressão à influência do pensamento oriental na sua estética, marcada em particular por algumas das suas figuras fundamentais como Lao Tse, Chuang Tzu, Bodhidharma ou Siddharta". A data de lançamento deste novo disco será anunciada em breve. Mais informações sobre o músico e novas datas de concertos em tiagosousa.org. fg
MØbler. Foto: João Amorim
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Morde alcatraz ao sol na praça do sol. Demorei hora e meia entre avenidas e ruas tuas. Quero tanto algo que não consigo controlar. Dois dias imensos de pedaladas entaladas de pessoas, carros, areia e fresca cerveja e meia. À sombra do sol vejo tanto destino a passar sem sequer abrandar. Longe de casa e do divagar, (tão) perto de um pedalar a chumbar sem parar. Portadas abertas mordazes e audazes anseiam por um passar de horas calmo como um breve abraço de quem não se vê faz tempo. Não escapo ao que sinto. Finto e minto e o que finto não é o que sinto.
.alcatraz mordaz. Texto: Ricardo Filho de Josefina Ilustração: João Maio Pinto pleasepatronizeoursponsors.weblog.com.pt
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Mude de vida. Hoje! José Romano · joseromanoarquitectos.com.pt É um lugar comum afirmar que a crise é uma oportunidade, mas no caso do ordenamento do território, é mesmo verdade. Por estes dias em que tudo está em causa e em que escasseia dinheiro nos bolsos, é o momento certo para que as pessoas reflictam sobre as principais opções do seu modo de vida: o lugar onde vivem, onde trabalham, a distância entre um e outro, a forma como chegam lá e como organizam a sua vida social – como chegam ao supermercado, ao cinema, ao ginásio, à escola dos filhos, a casa dos familiares e amigos, etc.… Esses nossos hábitos e rotinas diárias que são por vezes inatos e consequências de inércias várias que não questionamos, têm uma grande importância para a nossa forma de vida e felicidade individual e familiar, mas sobretudo para a nossa forma de organização colectiva e, por essa via, consequências sobre a nossa economia nacional. Desafio, por isso, cada um a questionar-se sobre estas duas variáveis: local de habitação e de trabalho – pedindo desculpas aos que não têm um, ou o outro, ou ambos!!! Essa reflexão deve estar focada em dois aspectos: a maximização da sua qualidade de vida (felicidade) e a sua sustentabilidade. O modelo económico e territorial português, desde a década de 70, foi concebido com o propósito de ir edificando casas atrás de casas na periferia das urbes, em territórios baratos onde antes não se podia construir – dando assim dinheiro a ganhar aos “patos bravos” que especulam e a quem as autoriza . Casas essas financiadas pela banca que, dessa forma, garante lucros por 40 anos à custa dos desgraçados que dedicam os melhores anos da sua vida
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a trabalhar para pagar a hipoteca que valerá, no final do período, mais do dobro do valor da casa. Este modelo durou enquanto o endividamento foi possível e bom para a banca, mas sucumbiu face à crise financeira mundial. Aqui chegados, verifica-se que gerações inteiras de portugueses experimentam vidinhas tristes e deprimentes dentro do seu carrito que estão a pagar com 10% de juro ao ano, entre o apartamento na periferia e o local de trabalho na cidade. Estas pessoas não têm tempo para viver porque o desperdiçam no IC19 e não têm dinheiro porque o entregam, todos os meses, ao banco para pagar a casa e o carro e, semalmente, à gasolineira para custear as suas deslocações diárias. Feitas as contas, entre o que pagam da casa, dos créditos dos carros, do ATL das crianças, mais a gasolina, as portagens, o mecânico dos carros, imposto de circulação, seguros, alimentação lá no restaurante perto do escritório, etc., perceberão que a família paga mais de 1500 euros por mês para vir trabalhar ao centro da cidade. Como as remunerações são, por regra, baixas, alguns concluirão que não ganham o suficiente para vir trabalhar! Defendo, por isso que cada um deveria tentar aproximar os lugares físicos onde acontecem estas tarefas diárias, economizando assim bastante tempo e dinheiro que depois poderá alocar a fazer coisas de que goste. Tempo e dinheiro compram qualidade de vida – felicidade. Essa opção de felicidade pessoal e do agregado familiar tem ainda maiores consequências para o colectivo do país. A maior fatia da factura das importações portuguesas, mais de 50%, é afecta à energia que compramos ao estrangeiro, sobretudo combustíveis fósseis que usamos nos transportes. Se conseguirmos conter as nossas deslocações com base em energia fóssil – vulgo andar menos de carro – estamos a dar um grande contributo para minimizar as importações, aliviar o défice da balança comercial e, consequentemente, a dar um pontapé na crise.
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A solução passa, pois, por uma reorganização territorial das nossas tarefas, recuperando a escala do bairro heterogéneo que compreende habitação, comércio, serviços, escola, biblioteca, ginásio, etc., de modo a que o nosso quotidiano possa concentrar-se sobretudo numa área de poucos quilómetros, acessíveis por mobilidades ligeiras: a pé, trotineta, bicicleta, patins, skate, segway… Esta solução maximiza a qualidade de vida de cada um, liberta tempo e dinheiro disponível para si, para a sua família e amigos, promove a cidadania e as relações de vizinhança, ao mesmo tempo que minimiza a poluição e a factura energética do país que é só a mais pesada dos países da Europa Ocidental. Ainda tem dúvidas? Sente-se a avaliar os custos do aluguer de uma casa perto do seu local de trabalho. Veja quanto pouparia em todas as despesas e verifique se no final não passa a ter mais duas horas por dia e mais dinheiro no bolso. “É só fazer as contas…”
Em Amesterdão pedala-se Ana de Almeida · aaannnaaa@gmail.com
"Tenho quatro bicicletas... É um transporte barato, bonito e muito prático. Estou contente quando ando. Mas acabo por dar-lhes muito menos uso quanto a minha vontade pede. É a minha frustração... e da minha mulher que, só com muito amor tolera o facto de estarmos rodeados de bicicletas no nosso apartamento. Lisboa, cidade que, pela combinação de amplas zonas planas e de algumas colinas, é óptima. Trânsito? Há algum sim, mas passa ao lado. Bicicleta é liberdade. " Texto e ilustração: Miguel Reis miguel.reis@gmail.com
Amesterdão é uma cidade famosa por vários motivos, mas também por ser um dos melhores exemplos e uma referência no que toca à mobilidade. Aqui a bicicleta é rainha! Dos cerca de 780 mil habitantes, 350 mil usam diariamente a bicicleta como meio de transporte. E se 75% da população tem bicicleta, apenas 37% tem carro. É impossível ficar indiferente. A cidade está mesmo cheia de bicicletas nas pontes, nos postes, nas vedações... em todo o lado. Uma das imagens mais impressionantes ao chegar à cidade de comboio é o Amsterdam Bike Ramp. São três andares com capacidade para 9 mil bicicletas. E o parque está sempre cheio. É difícil precisar como tudo começou, mas há factores que ajudam em muito a perceber. O facto de a cidade não ser muito grande e a sua geografia ajudam bastante. Sendo plana e sem as avenidas enormes, comuns noutras cidades europeias, pedalar é mais fácil e seguro. A cidade foi sendo planeada e pensada para ser vivida sobre duas rodas, tendo actualmente cerca de 400 km de ciclovias e 90% de ruas bike-friendly. Talvez seja este o segredo para que resulte tão bem: fazer com que as pessoas se sintam em segurança na estrada. Aqui, andar de bicicleta é que é normal, seja numa tradicional oma fiets, numa desdobrável, numa fixed gear, numa com caixa à frente para levar crianças... you name it! E, por isso, aos condutores de automóveis não é dada liberdade para acelerar e fazer manobras que coloquem em risco a segurança dos ciclistas. Quase todas as estradas têm limites de velocidade baixos e várias rampas de redução de velocidade. Grande parte das ciclovias tem um pequeno passeio entre as mesmas e a estrada. Há sinalização própria para cada tipo de veículos, mas
Ilustração: Bráulio Amado
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Ilustração: Sofia Morais
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também há todo um código entre ciclistas que toda a gente respeita. É fácil identificar os turistas ou os recém-chegados à cidade. Quem vive aqui, sabe que há um código e respeita-o. No fundo, é tudo uma questão de mentalidade e de respeito mútuo. Quem conduz um carro, muito possivelmente, também anda de bicicleta e sabe o que é estar do outro lado. E as multas também não são só para os carros... passar um sinal vermelho ou não ter luzes à noite são falhas que a polícia não perdoa a nenhum ciclista. Eu não sou exemplo para ninguém. De um modo geral, sou medricas e tenho receios que nunca mais acabam. Mas sei que tudo funciona e é seguro. E mesmo tendo demorado meses a comprar uma bicicleta e não tendo a destreza dos "profissionais", sei que o meu receio é de mim mesma. A segurança está acima de tudo e supera a minha aselhice. Por enquanto, vou continuando a ficar boquiaberta com a facilidade dos holandeses de gema. Eu costumo dizer que eles aprendem a pedalar ainda na barriga das mães e acredito piamente nisto! Um holandês consegue pedalar e ao mesmo tempo: levar os filhos na sua bicicleta, dar boleia a alguém na traseira ou na frente, carregar compras (já vi pessoas com móveis e árvores de Natal, por exemplo), falar ao telemóvel e escrever SMS. Saltar para uma bicicleta em andamento, para ir de boleia com alguém, também é algo que requer alguma prática. Mas são tantas as risadas que uma pessoa dá nas tentativas que vale muito a pena. Amesterdão é um paraíso para quem gosta de pedalar. Numa altura em que nos questionamos frequentemente em relação à economia e ao ambiente, acredito que esta cidade possa ser um exemplo. Não concordo que se copiem modelos a 100%, até porque cada cidade é única, mas tudo começa por mudar a mentalidade das pessoas e uma visita a Amesterdão pode muito bem fazê-lo.
TRASHÉDIA Joana Barrios · trashedia.blogspot.com Saí de bike em Lisboa, pela primeira vez, no dia 26 de Dezembro de 2011. A grande diferença entre a bicicleta e qualquer outro meio de transporte considerado alternativo (nesta categoria só são aceitáveis skates - nada de longboards, patins em linha ou qualquer coisa do género, porque isso é altamente proibido...) é a locomoção. E a emoção. Ora bem, de bicicleta pode ir-se a quase todo o lado, as pessoas acham bonito e ecológico e alternativo-aceitável porque já viram em blogues de moda internacionais pessoas em bicicletas e, em última instância, fashion. Vivi cerca de quatro anos na cidade dos freaks, Barcelona, e fui muito feliz com o meu skatezinho e com a minha Peugeot dobrável de 197_. Comprei essa bicicleta a um rapaz do Médio Oriente cuja ocupação de tempos livres era roubar bicicletas na Rambla do Raval para depois vender a preços imbatíveis com o intuito de facturar notas rapidamente para comprar ganza. O maior luxo era poder escolher o que é que se queria, que ele orientava. Sempre. Conheci-o quando trabalhava na Riera Baixa. Às vezes dava-lhe bolos ou cerveja e pedi-lhe uma Peugeot dobrável. Nem meia hora demorou a arranjar-ma. Pintei-a e arranjei-a o suficiente para não se notar que era produto roubado e pedi-lhe que apagasse as marcas todas que a identificavam no seu mercado e dos colegas. Paguei-lhe um bocado mais para garantir a permanência da bicicleta. Todos os dias a carregava para casa. Quando eram coisas rápidas, pedia a uma puta cubana da esquina da minha rua com o Carrer d'en Robadors que me deitasse ali um olhinho. Também lhe dava comida. E ela tratava de me guardar a "bina". Andei nela mais de três anos, sempre sem travões. Fui muito feliz. E era dourada. Quando voltei para Lisboa deixei que ele a roubasse
outra vez. Completar ciclos. Cena muito mística. Tenho saudades de Barcelona (embora seja muito beta e comichosa) e de tudo o que era possível viver num só dia, se fosse de bicicleta. Lisboa é uma cidade muito formal e tem sete colinas para galgar. Não é fácil. Além de que, quando voltei, não era possível comprar nenhuma bicicleta decente sem ser uma de montanha da Decathlon. E isso, XAU. Sou uma esteta e não tiro férias. De prenda de anos, decidi oferecer-me uma bicicleta dourada. Um cavalo alado para poder andar de um lado para o outro no eixo Cascais - Expo. Tudo em lisos. Ok, admito que não é muito fácil andar de bicicleta em Lisboa: entre pessoas espantadas a olhar, o carril do eléctrico e todos os condutores de veículos motorizados, mais as colinas e a falta de sítios para deixar o velocípede amarrado, não é nada fácil. É, no entanto, genial. O primeiro dia em que andei de bike foi tremendo. Da Lapa a Oeiras pelo misto ciclovia/estrada. U-A-U. É mais perigoso andar na ciclovia que na estrada. As ciclovias portuguesas estão cheias de mulheres anafadas a andar em passo estugado munidas de esperanças muito próprias acerca do Verão e dos cremes anti-celulíticos, de Homens que possuem TODO o equipamento necessário para a volta a Portugal, jovens pais do sexo masculino de longboards a ensinar filhos cheios de material anti-choque a andar de skate, embora os pobres não se consigam mexer debaixo de tanta foamy protection e prefiram imitar um Transformer, etc.… Rapidamente abandonei a ciclovia para ir pela estrada. Nunca ando vestida de pessoa desportiva. Desprezo toda a espécie de roupa de desporto, especialmente aquele género casual. Para mim não existe casual. E percebi que em Portugal é muito difícil levar qualquer coisa avante sem escapar ao severo escrutínio de umas valentes hordas de gente horrenda e mal informada. Mesmo no que ao andar de bicicleta sem ter o intuito de perder peso ou ensinar as gerações vindouras diz respeito. A actividade solitária, o one on one, é, para muitos, um mistério. O que me leva a andar de bicicleta é, acima de tudo, o vento na cara. O mesmo para o andar de skate. E para isso não é necessário equipar-me com licras... O vento na cara é a melhor coisa do mundo. Com óculos de sol e headphones. É a melhor forma de me fazer transportar na cidade, especialmente se for numa cidade como Lisboa, cheia de rio e de sol e de tempos livres. Compreendo que se pense que é uma moda e que se ache que nos vamos fartar, etc., mas refuto com imagens simples: a Catherine Baba de bicicleta pelas ruas de Paris vestida de YSL a caminho do Jardin des Tuileries ou as pernas do interior de um booklet de um cd de Silverchair (tanta coisa errada neste troço de frase, Cristo!...), que pertenciam a alguém que, segundo reza a lenda, as tinha assim por andar de bicicleta.
CÓDIGO DA ESTRADA Carlos Santos · peaceontheroad77@gmail.com Andar de bicicleta em Viana do Castelo é considerado um erro, especialmente mental. Não passa pela cabeça de ninguém alguém movimentar-se numa cidade tipicamente nortenha com duas rodas desligadas de qualquer máquina ou barulho que não indicie um movimento agressivo e daí proporcione um reflexo de cuidado e atenção. E assim foi, sinal vermelho para os peões: uma mulher forte nos seus quarenta decide avançar o passo após avistar a esquerda e direita e não ver nenhum carro na estrada. Mas eu estava lá, carago! Dois segundos antes de um embate já previsível com uma suposta troca de olhares com a senhora. Ficámos ambos no chão. Irritados. "Então?! Porque não se desviou? Não viu que eu estava a atravessar? Porque é que não está a andar no passeio?". E eu disse "Minha amiga, estava vermelho. O seu lugar é que era no passeio". E arranquei.
Ficção
"Sou só um pedreiro" Duarte Nuno · etraud_@hotmail.com — Fique de frente. Click! e o flash queima-me os olhos. — De lado. Click! faz o sussurrar da máquina fotográfica. — De frente outra vez. - diz o sargento Farias, mais uma flashada - Dirija-se à sala do lado, sente-se e espere pelo Capitão Coelho. Vou cabisbaixo sem perceber porque é que ainda estou aqui. Já estou sentado, a porta abre-se e um grande bigode com óculos escuros e uma grande barriga senta-se à minha frente. Vasculha as folhas, vasculha, vasculha e lá acha o que quer e fecha o dossiê. — Mendes, sabes porque foste trazido para aqui? O encolher dos ombros responde que não. — Muito bem. - o capitão limpa os dedos ao bigode e chega-se para trás. - Estás aqui por contrabando de bicicletas. — Contrabando! - a voz saiu-me ondulada porque já não abria a boca há muito tempo, pigarreio e continuo. — Contrabando, Coelho? Eu não sou nenhum ladrão. — Primeiro, aqui, não sou Coelho, sou Capitão Coelho, segundo ninguém te chamou de ladrão. Então dá-me a tua versão. — Coelho... desculpa... Capitão Coelho, sabes que eu trabalho em Tui como pedreiro e vou de bicicleta. Sim, à volta trago uns tijolos em cima da bicicleta. Sabes que eu estou a desviar aos espanhóis uns tijolos para eu construir um galinheiro... — Sim, sim eu sei isso tudo. E quanto ao facto de que quando vais trabalhar levas uma bicicleta velha e à volta trazes uma nova. Como é que explicas isso? Calei-me porque descobriu-me a careca. Acabou-se o negócio com os meus vizinhos. — Então? Vais dizer-me ou queres passar uns dias na prisão para ver se te lembras? Ou é preciso chamar os agentes da PIDE? Fiquei a pensar. — Com isso quer dizer que o convite que me fizeste para ir jantar a tua casa está descombinado? O Capitão Coelho levanta-se e de cabeça baixa manda o seu amigo para os calabouços. Não podia fazer outra coisa.
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MODA
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Fotografia: Sara Gomes thesecondbushome.com
Styling: Bárbara do Ó barbaradoo.com
Maquilhagem: Joana B. Modelo:Francisca Sousa
Bicicletas: Globe megaaventura.com
On the Road Camisa branca H&M, colar Eliza Spell
Camisola de malha e loafers H&M, jeans MANGO
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MODA
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Camisola de malha e calções, ambos MANGO Bicicleta globe daily 1
Blusa MANGO, óculos da produção Bicicleta globe daily 1
Blusa H&M Bicicleta globe ROLL 1
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ENTREVISTA
Pantónio
Texto: Ricardo Sobral Fotografia: Ricardo Filho de Josefina ricardofilhodejosefina.com
Quando surgiu a oportunidade de entrevistar o Pantónio achei que tinha encontrado a desculpa perfeita para darmos uma volta de bicicleta por Lisboa. É um plano que vínhamos adiando desde os tempos em que ele trabalhava no mundo da publicidade, como designer de comunicação. Sempre falámos da forma como andamos no trânsito e interessava-me acompanhá-lo nas suas voltas, ao seu ritmo, numa tentativa de eu próprio sentir o que o move. Natural da Ilha Terceira, aprendeu a gostar de Lisboa vivendo intensamente as ruas e o que elas têm para lhe oferecer. Um dos seus trabalhos de street art chegou a ser capa no jornal Público, numa altura em que recebeu bastante atenção dos mEdia, tanto pela temática política subjacente como pelo seu sentido de oportunidade.
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Combinámos fazer este passeio num domingo à tarde, longe da adrenalina do trânsito de outros dias da semana. Mas o Pantónio é um homem de desafios e ao chegarmos à sua carrinha, estacionada no parque de caravanas em Belém junto à beira-rio, pediu-nos imediatamente desculpas por não ter tido tempo de a arrumar para nos receber, “é que fui buscar algum material e no regresso encontrei um pelotão de ciclistas a treinar e decidi acompanhá-los, entusiasmei-me, cheguei mesmo a ultrapassá-los e a puxar por eles. Fui até Oeiras, por isso atrasei-me”. Entre outras coisas que tinha ido buscar, acompanhou o pelotão de ciclistas com uma tábua de skate às costas. Bem-vindos ao mundo de Pantónio.
1. Cruzamento da Rua Castilho com a Rua Rosa Araújo 2. Rua José Gomes Ferreira, Amoreiras 3. Jardim do Campo Grande, junto ao ringue de patinagem
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Em jeito de ovo e galinha, o que é que surgiu primeiro na tua vida: a street art ou a bicicleta? Surgiu primeiro a bicicleta. Foi a primeira coisa, é a bicicleta que é mais importante para mim. A street art começou antes de ser street art, os meus desenhos e rabiscos são exercícios de papel durante muito tempo e eu não os aplico muito, só quando é conveniente ou pertinente. Como começaste a fazer intervenções na rua? Fala-me do teu primeiro trabalho. O meu primeiro exercício em Lisboa, que eu não sei se é street art ou não, foi com um amigo meu numa noite em que íamos de bicicleta à frente do camião da recolha do lixo para pintar as caixas de cartão que eles estavam a recolher. Nós à frente a pintar e eles atrás a recolhê-las, portanto foram sempre intervenções mesmo muito efémeras feitas em coisas que passado momentos iam para o lixo, caixas, tábuas, objectos por aí perdidos. Como vês o mundo da street art e de que forma te inseres nele? Vejo o mundo da street art como a intervenção das vontades. Insiro-me nele porque sou um designer de comunicação que sabe fazer exercícios de como comunicar coisas e a minha única diferença em relação aos designers que fazem coisas em papel é que eu tenho algum atrevimento e vivo na rua, adoro, ando sempre na rua. Tenho uma essência de combate mas sou um bocado marginal.
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E esse contacto com as ruas de Lisboa surge com a ajuda da bicicleta, enquanto meio de transporte? Eu gosto da bicicleta mas se calhar ela não teve aqui muita influência. As cidades tornam-te anónimo e dão-te esse grito. Eu podia ser maluco e andar por aí a gritar só que, como sou de uma terra pequena e envergonhado, tenho esses constrangimentos de não querer fazer má figura... a cidade é um escape! Procuras algo em específico quando escolhes um local onde intervir? Não. Esse exercício é-te dado, pode ser uma sombra que esteja a bater naquele sítio. Pode ser outra coisa qualquer, não faço a mínima ideia. Não tenho ideias pré feitas e tenho a consciência de que não tenho uma cultura geral muito rica e que gosto de exercícios um pouco ingénuos, às vezes sem medo de grandes ideais. Faço exercícios de observação, deixo que as coisas me sugiram, deixo que tudo me sugira. Dos sítios que visitámos hoje, onde tens trabalho feito, o que é que esteve na base dessas escolhas? Fui convidado para pintar os vidrões e segui o processo criativo do design e da ilustração, que é pensar o que é a reciclagem, qual é o jogo que se faz aqui, isto é redondo, há este espaço, questões de dimensão, questões de visibilidade, de cores... o exercício é exactamente o mesmo. Não tive capacidade para fazer uma intervenção social nem crítica, então fiz só o jogo da constatação – a reciclagem é renovarmo-nos, é comermo-nos a nós próprios. Já o mural do bike polo foi feito para quem usa aquilo. Jogamos aqui, portanto vamos fazer um desenho com as características do jogo de uma forma que seja interessante, bonita, com a ajuda do pessoal que esteve lá e deu opiniões. Eu recebo sempre imensa ajuda, há sempre gente que me dá dicas muito ricas. Vimos também o muro partido e aí foi apenas constatação. Algo foi contra aquilo e eu joguei com o design. Quando começaste a usar a bicicleta para te deslocares pela cidade? E porquê? Logo quando vim para Lisboa. Porque fazia-me um bocado confusão andar debaixo de terra e de comboio,
há toda uma série de esperas e não és tu que escolhes o caminho que estás a fazer. Andar de bicicleta em Lisboa parece-me natural. Essa coisa das colinas não sei muito bem o que é, mas parece-me natural andares na rua. A pé leva sempre imenso tempo, de bicicleta é o modo mais natural. Custa ou não custa... as coisas custam todas. A cidade que vês em cima da tua bicicleta é diferente da que vês quando não a usas? Sim. Quando ando de bicicleta não presto assim tanta atenção à cidade, não é muito correcto dizer isto mas é verdade. Eu sei que há aquele ideal que se faz da bicicleta, de parar na padaria para comprar pão... é verdade que é tudo mais prático, mas quando ando sozinho e rápido não sou muito consciente e não reparo assim tanto nas coisas. Quando ando a pé, paro em mais sítios mas não vou a outros que possam ser perigosos. Nisso a bicicleta dá-me segurança, posso andar por todo o lado, por bairros menos aconselháveis, sem qualquer receio. Nesta cidade, que até hoje está sobretudo pensada e desenhada para os automóveis, como lidas com o trânsito quando vais de bicicleta? De uma maneira não muito aconselhável, nem pedagógica. Afirmo-me na estrada de uma forma um pouco agressiva, passei a tomar essa atitude depois de duas quedas mais sérias. Dá-me muito prazer mas não gosto de dizer a alguém que ando assim. Os peões respeito, mas se um carro me tentar ultrapassar já é diferente, há um lado competitivo, é sempre um jogo de forças. Às vezes perco a razão mas é a forma como eu ando, às vezes menos pacífica mas sempre com muita vontade na estrada.
Sprint Que bicicleta? Agora só tenho duas bicicletas. A “Jane” de 1972 (marca Jan Janssen) que é belga, e a “Vagabond” (marca VAG) que é portuguesa e não sei nada sobre ela. Sei apenas que custou 15 euros. São ambas bicicletas de estrada, sendo que a Vagabond já passou por fixed gear e eu não gostei nada, por isso voltou ao original com peças dadas pela Cicloficina dos Anjos, pela Ciclone e com outras que sobravam lá em casa. Com ou sem capacete? Com capacete...sempre que tenho juízo e utilizo a cabeça para pensar. Qual a pior queda? Foi uma queda cinematográfica na Rua do Ouro, logo quando cheguei a Lisboa e tive a minha primeira bicicleta. Um taxista ultrapassou-me, um autocarro ultrapassou o taxista e quem sobrou fui eu. Apareceu-me uma sarjeta à frente e dei uma cambalhota, aterrei de costas espectacularmente. A bicicleta caiu uns quantos metros à frente e eu decidi comprar um capacete porque esta era já a minha segunda queda... E nunca mais houve nenhuma, porque eu passei a posicionar-me na estrada a meio da via e com alguma alguma garra... tipo "eu pertenço aqui, ninguém me tira, podem apitar, podem fazer o que quiserem".
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REPORTAGEM
UMA VOLTA PELA CIDADE
Texto: João Pinheiro Fotografia: Óscar Silva oscarsilva.tumblr.com Ricardo Filho de Josefina ricardofilhodejosefina.com
...ou onde comprar bicicleta em Lisboa
A
pós o lançamento do políticas ou argumentos para as mesmas. É Cenas a Pedal. Foto: Óscar Silva primeiro número deste uma imagem cada vez mais comum. A bicicleta, jornal, entrámos em várias na cidade. No entanto, há lojas que só se dedicam a conversas (com amigos, leitores, isso e têm o “uso urbano” como premissa e o seu incentivo em jornais, revistas e televisão) onde nos como objectivo. Nos últimos anos apareceram algumas lojas com este perguntaram e discutimos qual seria a melhor bicicleta para conceito. É impossível estabelecer e chegar a uma conclusão sobre qual o tipo de relação ter na cidade e onde comprá-la. Não é uma breve conversa e há causa-efeito para esse fenómeno mas não podemos ignorar o seu impacto e as dinâmicas inúmeros aspectos a ter em conta, desde o tipo de uso e percursos que têm vindo a introduzir. Sem utilizadores de bicicleta, as lojas não poderiam existir que o futuro comprador tem em mente até ao simples, mas não nem crescer, mas sem lojas especializadas, atentas e que prestem um bom serviço, nunca menos importante, aspecto estético. Na tentativa de alargar o nosso poderíamos ver aumentar o número de ciclistas. Em Lisboa, escolhemos um leque de contributo sobre esta questão, agarrámos nas nossas bicicletas e lojas que estão em fases distintas, têm histórias diferentes e que se distinguem entre si percorremos lojas de Lisboa que se dedicam e oferecem produtos e pelo tipo de bicicletas que oferecem. A nossa escolha pode sofrer de algumas limitações, serviços específicos para a utilização diária e urbana da bicicleta. nomeadamente geográficas. Para quem é de Lisboa esta informação poderá ser mais útil Sejam quais forem as razões (que são muitas) é incontornável e ter resultados mais imediatos, mas não queremos limitar a nossa pesquisa. Tentamos constatar o aumento do número de bicicletas que passam diante ter uma abordagem que faça desta informação um exemplo para qualquer pessoa, os nossos olhos, seja nas ruas e estradas, na publicidade de várias independentemente da sua localização, pois todo este crescimento sente-se a um nível marcas, montras de lojas, nomeadas como temas para discussões muito mais global e foge claramente aos limites geográficos da cidade.
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CICLONE
Partimos da Baixa de Lisboa para o nosso primeiro destino, a loja Ciclone. 2009 foi um ano agitado para Lisboa, foi o ano da primeira edição local do Bicycle Film Festival, o ano em que nasceu a primeira empresa de estafetas em bicicleta (Camisola Amarela) e a primeira loja dedicada ao fixed gear, a Rcicla. E foi também o ano em que nasceu a Ciclone, uma loja dedicada à recuperação de bicicletas antigas, com um pé no clássico e bicicletas de estrada e outro na utilização mais moderna, fixed gear e single speed. Tem uma oferta de marcas conceituadas como a icónica holandesa Gazelle ou a inovadora marca inglesa de dobráveis Brompton. Menos de um ano após a abertura, a loja tornava-se demasiado pequena para todos os pedidos de trabalho e as bicicletas que se iam acumulando, mudando-se em 2010 para um espaço maior, uns números abaixo na mesma rua. É no N.º 47 da R. Poiais de S. Bento, que nos leva da Calçada do Combro à Assembleia da República, que hoje podemos encontrar dentro de duas grandes portas azuis a Ciclone. Fernando Cruz, antropólogo de formação e proprietário da loja, acolhe-nos e abre as portas da loja onde podemos ver emergir todo um universo que vai desde o ciclismo de estrada, peças Campagnolo ou Dura-Ace, a velhas bicicletas de montanha ou outras tantas para arranjos e revisões. Na Ciclone há de tudo um pouco e, com a ajuda do Fernando, podemos perceber que tipo de solução se adequa aos nossos desejos. Pode levar-se uma bicicleta antiga, perdida entre caves e sótãos, e fazer a recuperação total dessa bicicleta, entre componentes usados e novos. Há também quadros velhos, quadros de aço, com história ou, mesmo, quadros Ciclone desenhados pelo próprio Fernando e fabricados no Valdemiro, à espera de novos donos e de serem montados com as características desejadas pelo comprador. Além do atendimento personalizado, a loja tem também uma componente de oficina muito forte. www.ciclone.pt
transportar carga; as Roll destacam-se dos restantes modelos pelo seu quadro em aço (Reynolds 520) e são a resposta à emergente, embora bastante disseminada, cultura do fixed gear e single speed. Na loja também há espaço para oficina e restauro de bicicletas antigas e para marcas como a Brooks e a Knog, marca bastante criativa de cadeados e luzes. Esta marca representa também o virar da indústria para algo incontornável, o uso urbano e quotidiano da bicicleta, que já não é só para uma minoria nem tem contornos de um “culto”, mas é sim uma cultura em crescimento e que atinge de uma forma sustentável necessidades básicas de cada um. É interessante ver como toda esta história do uso urbano da bicicleta não é somente um lugar comum num discurso politicamente correcto, mas sim algo que tem ganho força e mudado comportamentos, mercados e tendências. www.megaaventura.com www.specialized.com/pt/pt/globe/GlobeHome.jsp
de bicicleta, as suas implicações e o contexto sociocultural. Ao conhecer o Bruno e a Ana percebe-se rapidamente a sua ligação com a comunidade e a responsabilidade do que é ter uma loja com objectivos muito concretos, “uma missão”, como referem. Nada é feito ao acaso. A loja online é uma excelente montra, com produtos escolhidos a dedo: bicicletas urbanas (as Townie da marca Electra), Cargobikes e outras bicicletas de carga, bicicletas reclináveis ou outras soluções para pessoas com necessidades especiais, soluções para andar à chuva, manter a bicicleta em segurança na rua e também um conjunto de publicações recentes sobre bicicletas (desde a mítica revista Roleur ou a mais recente Boneshaker aos álbuns do Yehuda Moon), entre outras cenas. Estas são algumas das características do mundo criado pelo Bruno e pela Ana, uma loja que também organiza uma feira de bicicletas usadas ou mesmo sessões de cinema. cenasapedal.com bicyclerepairman.com.pt
Nuno Sota - Roda Gira Foto: Ricardo Filho de Josefina
RODA GIRA
Globe. Foto: Óscar Silva
GLOBE
No bairro de Campo de Ourique situa-se uma das mais recentes lojas dedicadas exclusivamente à utilização urbana da bicicleta. No Nº 97 da R. Ferreira Borges está a primeira loja a nível mundial da Globe (a vertente urbana da marca Specialized). De portas meias com a loja Mega Aventura, a Globe nasce em Abril do ano passado a partir de um antigo projecto de Leonor Reis em criar uma loja que recebesse actuais e futuros ciclistas urbanos, um espaço para toda a comunidade, disponível para tertúlias, exposições ou ponto de encontro para passeios. Numa loja cuidada e decorada entre motivos e imagens da Globe e alguns objectos pessoais de Leonor, a loja emana o espírito da marca, o cruzamento entre o vintage e o moderno. A marca oferece uma mão cheia de modelos que tentam satisfazer as necessidades de cada utilizador: a Daily, uma bicicleta com aspecto clássico e descontraído, quadro em alumínio e montado com guarda-lamas e cesto é uma boa opção para quem procura conforto e simplicidade; a Haul e a Live são bicicletas mais robustas, com mudanças de cubo, e para quem também pretende
Ciclone. Foto: Óscar Silva
CENAS A PEDAL
Subimos pela R. de São Bento até ao N.º 38 da Av. Álvares Cabral onde um corredor cheio de bicicletas serve de boas-vindas à loja e ateliê da Cenas a Pedal. A CaP surge em 2006, mas só em 2007 se materializa como empresa, servindo-se da plataforma online para venda de bicicletas e acessórios. No ano passado, a Ana Pereira e o Bruno Santos congregaram no novo espaço toda a experiência, contactos e material que foram acumulando ao longo dos anos. É aí que hoje, facilmente, podemos encontrá-los e contar com a sua ajuda para perceber que opções temos, se queremos andar de bicicleta na cidade, mas não só. Na loja, podemos encontrar ou encomendar todo um conjunto de possibilidades de “cenas a pedal” diferentes das convencionais bicicletas de duas rodas. Há soluções para as famílias, transporte de crianças e para pessoas com necessidades especiais. A CaP assenta em valores bastante fortes, presentes na forma como comunicam, nos eventos e workshops que organizam e nos produtos que vendem e o site é a porta de entrada para esse universo, de uma consciência e voz crítica e informada sobre variadíssimos aspectos do que é andar
Por último, fomos ter com o Nuno Sota ao Chiado. O local da futura loja da Roda Gira, no N.º 12 da R. da Misericórdia, é o até agora esquecido Centro Comercial Espaço Chiado. Fomos falando enquanto ainda se arrumavam algumas coisas na loja, ou espaço, como Sota prefere chamar-lhe, pois é uma pequena área interior, sem montra para a rua, que pretende ser um showroom, ponto de encontro e pequena oficina. À partida, o espaço pareceu-nos ser pequeno, mas tendo em conta as origens da Roda Gira, a abertura da loja é mais um grande passo de uma história de sucesso. Após usar a bicicleta diariamente para se deslocar para o trabalho, o Sota foi-se interessando cada vez mais pelo mundo das bicicletas e, particularmente, pela cultura fixed gear. Há quem lhe chame uma doença ou um vírus, pois normalmente quem se interessa por este tipo de bicicletas facilmente torna num vício a constante alteração da bicicleta, compra e procura de componentes novos, no ebay, fóruns e em lojas online espalhadas pelo globo. O fixed gear não é somente uma particularidade no sistema de transmissão da bicicleta - em português, carreto preso ou roda fixa -, é toda uma cultura e movimento, ou a comercialização do mesmo. Já não é só uma coisa de hipsters, tornou-se mais abrangente, hoje o fixed gear está em todo o lado. A Rcicla foi a primeira loja em Portugal dedicada ao género, no entanto, a Roda Gira aparece em Maio do ano passado enquanto pequeno blogue para divulgar a cultura e vendendo componentes em segunda mão e rapidamente cresce para uma completa loja online, que, neste momento, oferece uma vasta gama de produtos (Nitto, Aerospoke, Velocity, Miche, etc.). Através da Roda Gira podemos encontrar praticamente tudo referente à cultura e mercado fixed gear e single speed e, acima de tudo, uma pessoa extremamente disponível e pronta a preparar-nos o projecto que há tanto idealizávamos mas faltava qualquer coisa para arrancar. www.rodagira.com
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REVIEWS
filme
livro
revista
"O Ladrão de Bicicletas" - Vittorio De Sica
“The Hour” - Michel Hutchinson
B - Cultura da bicicleta
"O Ladrão de Bicicletas tem muitos pais putativos. Muitas pessoas que(...)se gabam de ter tido algo a ver com a sua criação(...)mas Vittorio De Sica é o verdadeiro autor do filme, não só porque ele o concebeu, mas também porque ele achou o dinheiro para o fazer" Maria Mercader. Mais do que dizer que é um filme inserido no neo-realismo italiano é falar dessa própria realidade, fim dos anos quarenta, a bicicleta salta logo à vista como sendo não só um elemento abundante na paisagem urbana, mas o fundamental para os habitantes de Roma pós segunda Guerra Mundial. Que o diga Antonio Ricci que tem que ter uma para poder trabalhar e para a poder comprar, vende os lençóis da sua cama, pois é realmente a única coisa de valor que tem em seu poder, o único "luxo”, mas ele só o fez porque a bicicleta é muito mais que um objecto de transporte, é o trabalho, é o dinheiro, e sendo o dinheiro, é tudo o que a família precisa para sobreviver. Quando a compram e Ricci começa a trabalhar e tudo corre bem, vêem-se sorrisos pela única vez em todo o filme, a realidade começa a ser boa, mas quando a bicicleta é roubada a situação fica ainda pior. O ladrão não é visto como vilão mas sim como vítima de uma sociedade corrupta, triste e com falta de rumo, mesmo quando Antonio é apanhado, a vítima em causa perdoa-o simplesmente. A bicicleta tem um papel elementar, podemo-nos até questionar porque a deixámos perder e agora lutamos para que volte. Falar de cinema sem se falar deste filme muito dificilmente é falar de cinema, falar deste filme para se falar de bicicletas é dar ao pedalar arte e significado.
Um homem e a sua bicicleta, sem companheiros, sem tácticas, sem mudanças ou travões. Numa hora de esforço na solidão da pista qual a distância percorrida? Esta é a história verídica de um ciclista que, chegando ao topo da sua carreira como "contrarelogista", se propõe a bater o recorde da hora. Será que ele tem pernas para o fazer? Na verdade esse, é o menor dos seus problemas. Financiar a aventura, encontrar a bicicleta apropriada, tudo tem de estar de acordo com os regulamentos da UCI (Union Cycliste Internationale): as rodas, o fato e o capacete. É um livro carregado de humor mas que apresenta também muita da história do ciclismo, em particular, de pista. Henri Desgrange, Fausto Coppi, Jacques Anquetil, Eddie Merckx, Chris Boardman e Graeme Obree; todos passam por lá. Facilmente regressamos para uma segunda e terceira leituras. Recordamos factos entretanto esquecidos e voltamos a rir, por vezes, à gargalhada, com os muitos momentos de pura loucura nonsense que só a vida consegue criar. Partilhamos da euforia quando tudo parece bem encaminhado e do acumular de tensão à medida que o grande dia se aproxima. Uma história hilariante de uma obsessão a raiar o psicótico! Intenso e de leitura absorvente!
Entramos em 2012 com a B – Cultura da Bicicleta, a nova revista trimestral para quem tem prazer a pedalar ou ainda não o descobriu. No editorial, Pedro Carvalho, antigo director da Bike Magazine apresenta-nos um novo conceito - dRAP (de Repente Apetece-me Pedalar) e é esse o mote para o resto da revista. Ao longo de mais de noventa páginas com uma boa qualidade de impressão, percorremos ao lado da equipa da B sobre assuntos e questões referentes a quem gosta de pedalar. Há vários artigos na primeira pessoa sobre percursos de montanha e trilhos a desbravar pelo nosso país afora e além fronteiras, tudo acompanhado com um excelente trabalho de fotografia que nos faz querer estar, imediatamente, naqueles cenários, em cima de uma bicicleta. Este primeiro número dedica-se também à cultura urbana com um interessante artigo, ao longo de doze páginas. Estão ainda presentes outros aspectos inerentes à comunidade, reportagens sobre projectos, eventos, análises históricas e não meramente comerciais ou questões mais técnicas relacionadas com mecânica e bicicletas. Tudo feito com bastante rigor e acompanhado com um discurso bastante directo e cheio de opinião, o que aproxima o leitor de quem escreve. São estas as características que fazem a B sobressair das restantes revistas sobre bicicletas. O próximo número sai a 15 de Março e estamos desejosos de ser surpreendidos.
P. Vilarinho · pvilarinho@yahoo.com
João Pinheiro · zinho.pinheiro@gmail.com
Ricardo Pinela · ricardo.pinela@me.com
produtos
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Camisa Rasto Camisa pensada para o ciclista urbano, disponível nos tamanhos S, M, L, cada tamanho tem um padrão diferente. €49.90 rasto.pt
Luz de segurança Knog Boomer Wearable Resistente à água, fina, com quatro modos de funcionamento, inclui clip para a roupa e clip magnético. €36.00 knog.com
Luvas Specialized BG GEL wiretap™ Quentes e bastante confortáveis, compatíveis com ecrãs tácteis. €47.90 specialized.com
Pedais KashimaX Sylvian Track Fabricados no Japão por Mikashima. Em alumínio, disponíveis em prata e preto. Permitem montar toe clips de metal e/ou straps de velcro. €32.00 bicirodagira.com
15 YEHUDA Moon
jornal pedal
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bicicleta: Leva a suspensão à revisão. Isso já nem bomba. Aproveita as promoções neste jornal.
HORóSCOPO
(20.02 a 20.03) ciclista: Um indivíduo vai convidar-te para jogar bike polo. Vai ver o que é, se não souberes. Não precisas de jogar. Vê só. bicicleta: Vais mudar os lugs, ninguém percebe porquê, mas também não vais justificar.
Ilustração: Ricardo Martins infectedboy.tumblr.com
(21.03 a 20.04) ciclista: Este mês vais sentir cãibras por volta da hora de almoço. Vão ser das fortes. Come muitas bananas. Precavia-te. bicicleta: Não te vai dar problemas, verifica só o ar de semana a semana.
(21.01 a 19.02) ciclista: Vais descobrir o prazer de andar de bicicleta este mês. Junta-te aos teus amigos e dá umas voltas depois do trabalho. Não andes muito porque pode viciar. Se fores do Norte, cuidado com o frio, se fores do Sul cuidado com os cães e os idosos. bicicleta: O teu cavalo de ferro vai receber muitos elogios, tanto pela cor escolhida, como pelos componentes. Em relação à geometria do quadro as pessoas vão evitar falar. Troca as luzes, são muito fracas. Sim, podes guardar a bicicleta no quarto. Nunca na sala. Prof. Leopoldo Ramalho · prof.leopoldo.ramalho@hotmail.com PUB
(21.04 a 20.05) ciclista: Nem penses entrar com a bicicleta para o mato. Na estrada, cuidado só com os autocarros, os outros veículos não são preocupação. bicicleta: Atenção onde deixas a bicicleta. Vai ser alvo de muitos furos.
(21.05 a 20.06) ciclista: No princípio do mês vai dar-te uma vontade de ir de carro. Não vás. Vai ser perigoso.
(21.06 a 22.07) ciclista: Convence um colega de trabalho a ir contigo de bicicleta. Este mês vai ser muito chato ir sozinho. bicicleta: Atenção a possíveis fissuras nos lugs e cranks. Tens óleo a mais na corrente.
(23.07 a 22.08) ciclista: Um colega de trabalho já te convidou para ires de bicicleta para o trabalho. O que é que estás à espera? Do bom tempo? bicicleta: Primeiro compra uma bicicleta.
Acredita que vais fazer papel de totó, mas é essencial. bicicleta: Pára de furar as câmaras-de-ar dos nativos de Touro.
(23.10 a 21.11) ciclista: Não andes de bicicleta este mês. bicicleta: Não há nada a dizer, não te vai dar problemas este mês.
(22.11 a 21.12) ciclista: Cuidado com os autocarros, só com os autocarros. Os taxistas vão ser simpáticos para contigo. Não faças piretes. bicicleta: Se tiveres uma bicicleta amarela, aviso-te que alguém vai pintá-la de outra cor.
(23.08 a 22.09) ciclista: Vais deixar de andar a pé. bicicleta: Vais ter mais sorte que os nativos de Leão, vão-te oferecer uma bicicleta. Dá-lhe um nome.
(23.09 a 22.10) ciclista: O uso do capacete em TODAS as ocasiões vai ser necessário este mês.
(22.12 a 20.01) ciclista: Vais encontrar o amor da tua vida quando estiveres a andar de bicicleta. Se já encontraste, continua a andar de bicicleta. bicicleta: Cuidado com o cabo da mudança traseira. Não sei se parte, só estou a dizer para teres cuidado.
Street Smart
BG Countour Targa
All Condition Armadillo
Backpack
SIRRUS ESPĂ?RITO ESTRADISTA ALMA CITADINA
Saiba mais numa Loja Specialized ou em:
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