JORNAL PEDAL Nº8

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T-shirt e Jornal Pedal em casa

Capa por Manuel Donada mdonada.com

O Jornal Pedal ataca agora as caixas de correio dos leitores em todo o mundo! Para isso é possível fazer a subscrição em jornalpedal.com e são atirados entre seis a dez números sem ser preciso mexer uma palha. Podem ainda encomendar-se, no mesmo site, t-shirts com o carimbo do Pedal e começar a andar de uniforme pela cidade.

NÚMERO OITO – SETEMBRO DE 2012 Ficha Técnica: Director: Bráulio Amado (BA) ba@jornalpedal.com Director Adjunto: Luís Gregório (LG) lg@jornalpedal.com Editor: João Pinheiro (JP) jp@jornalpedal.com Redacção: Ricardo Sobral (RS) rs@jornalpedal.com, João Bentes (JB) jb@jornalpedal.com, Duarte Nuno (DN) dn@jornalpedal.com Ilustração de capa: Manuel Donada. Colaboraram nesta edição: Fotografia: Ricardo Filho de Josefina, Vera Marmelo, Ryan Zimmerman Ilustração: Cláudia Guerreiro, Ricardo Martins, Bráulio Amado Textos: André Henriques, Fernando Seixas, Ana Fernandes, José Paulo Viana, Maria Henriques, Pedro Leitão, Francisco Seixas Banda Desenhada: Rick Smith Revisão: Babelia Traduções babelia.pt Design e Direcção de Arte: Estúdio HHH Comunicação: Helena César hc@jornalpedal.com Departamento Comercial e-mail: info@ jornalpedal.com tlm: 915044437/935586915/933514506 Distribuição: Algarve: Bike Postal, Markko Bike Messenger. Porto: Roda Livre. Lisboa: Camisola Amarela JORNAL PEDAL é uma marca registada / Morada: Praça Gonçalo Trancoso 2 – 2 esq, 1700-220 Lisboa Tel: 935586915/933514506/915044437 e-mail: info@jornalpedal.com web: facebook.com/JornalPedal / jornalpedal.com / twitter.com/JornalPedal Impressão: Empresa Gráfica Funchalense S.A. funchalense.pt | email: geral@egf.com. pt Tel. 219677450 Fax 219677459 Tiragem: 5.000 exemplares Depósito Legal: 340117/12 O JORNAL PEDAL faz parte da Cooperativa POST postcoop.org Jornal Pedal é uma publicação gratuita que não pode ser vendida.

CURTAS

Número de acidentes com ciclistas diminui em 2012 Ao contrário do que tem sido avançado por outros meios de comunicação social, o número de acidentes entre ciclistas e automobilistas diminuiu durante este ano. Alega-se que o aumento dos acidentes está na ordem dos 21% em termos absolutos e homólogos. No entanto, quando comparados estes valores com o aumento do número de ciclistas a circular nas nossas estradas ao longo do último ano, conclui-se que o número de acidentes diminuiu em termos relativos e homólogos. Existem registos do número total de acidentes mas não do número total de ciclistas. Por isso, é tão seguro afirmar aqui uma coisa como o seu contrário. Pow!

Bicicleta da República no Maria Matos De 4 a 10 de Outubro, a Sala de Ensaios do Teatro Maria Matos, em Lisboa, terá em cena “Bicicleta da República”. Criado por Tânia Cardoso, Vera Alvelos e Suzana Branco (que faz também a interpretação em palco), este espectáculo gira em torno de uma bicicleta e de um álbum de fotografias, contando a história da passagem da Monarquia à República em Portugal. Dirigido a crianças e a adultos, os bilhetes custam três euros e sete euros, respectivamente. teatromariamatos.pt

Jornal Pedal no Campeonato Nacional Brompton No dia 22 de Setembro, Sábado, os jardins de Belém acolhem a primeira edição do Campeonato Nacional Brompton. Além da corrida de 12 km repartidos por seis voltas ao circuito, entre as 9h00 e as 18h00 estarão a decorrer actividades paralelas como demonstração de bike polo na relva, oficina aberta com check-up gratuito, jogos e actividades com bicicletas. O Jornal Pedal também estará por lá com um bar pedaleiro, t-shirts e pilhas de jornais entre surpresas. Há também planos para um rider pedal no campeonato. É aparecer e fazer parte em bromptonportugal.com

SLOWFASTCYCLES Já abriu. Foi o mito da Doca do Espanhol no número sete do Pedal, passa agora a novo ciclo-conceito que se instalou na Doca de Santo Amaro em Alcântara. É uma

loja que é uma oficina, que também é um ciclo-hotel e que também é um clube. Tudo dentro do espaçoso Armazém 7 ao lado das lagostas dos camarões, a oportunidade para arranjar uma cama à bicicleta com direito sumos e afinações com vista para o Tejo. Há RH+O aos montes, assim como Pashley e Brooks Venham ver, vão gostar! slowfastcycles.com

Já abriu o novo Velódromo do Marquês Abriu há poucos dias no Marquês de Pombal, em Lisboa, um novo velódromo dedicado aos ciclistas menos experientes, que passam a contar com duas vias alcatroadas no anel exterior da rotunda. A obra vem colmatar uma lacuna sentida por muitos – a falta de locais de treino para os ciclistas urbanos dos escalões iniciados e intermédios. Com este novo velódromo, a cidade passa a dispor de um novo equipamento dedicado aos maçaricos.

A Rolha faz um ano Rolha é aquele objecto que abre caminho ao néctar de Baco mas é também um clube com rodas e faz um ano no dia 22 deste Setembro. Rolha Cycling Club é o nome e vai apagar a sua primeira vela numa festa que inclui um passeio em bicicleta, gincanas, exposição fotográfica, música e coisas de comer e beber. Tudo junto da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro em Lisboa. Venham todos! 22 Setembro . 17.00 . Entrada Livre Estrada de Telheiras, 146 Lisboa

Pedaladas na Damaia Entre Alfragide e a Amadora, junto à capital haverão celebrações da mobilidade sustentável em modo pedalada e dá direito a brindes e prémios. Peguem na vossa duas rodas e atirem-se para lá que as inscrições são gratuitas! 23 Setembro . 09.30 Parque 25 de Abril, Damaia (junto à estação CP Damaia)

Campeonato Ibérico de Mensageiros de Bicicleta 2012 em Lisboa Há quem seja profissional do assunto, outros tantos que invejam este estilo de vida e é aqui que se mede a bagagem de cada um. O desafio envolve festa com banquetes e projecção de filmes, a participação no aniversário da massa crítica e até uma alleycat como aperitivo para a corrida principal. Estafeta ou não, aparece para cheirar a borracha queimada. 27, 28 e 29 Setembro 2012 Lisboa cimb2012.com


Recomeçar EDITORIAL

S

etembro é recomeçar. É aqui, sentado nesta nona cadeira do ano, que se “re-inicia” uma fase, uma espécie de linha de partida, o Texto: começo de um ano de trabalho depois do João Bentes Verão. Limpa-se o pó à pasta, removem-se os papéis amarrotados que já não interessam e enche-se com cadernos em branco lisos e canetas por estrear. É todo um pacote de situações rotineiras, o acordar com o objectivo do banho que é seguido pelo pequeno-almoço e a saída do abrigo para o trabalho ou a escola que horas depois leva ao rumo de volta. O sol ainda aquece bem mas está mais baixo, sinal de que os dias ficarão rapidamente mais curtos e ficaremos enrolados no lusco-fusco do Outono. Cheira a Setembro, mas desta vez é diferente, é um recomeçar com um guiador de rodas. O recomeço é importante, é importante “ir” começar de novo, mas agora, pela acção motivadora da transformação, ao invés da mochila nova ou das sapatilhas brancas a sair pela primeira vez à rua, o “re-início” é maior. Cheira a borracha e brilha ao sol, leva-nos e nós levamo-lo. O objecto em si é digno de se apresentar, está bem cuidado, limpo e lubrificado. É um complexo de mecânica simples e directa no seu funcionamento, tudo encaixa, o som é límpido e claro, a cor é acetinada e brilha insistentemente. O caminho que se recomeça, é agora “re-descoberto”, a velocidade é outra, sentem-se os cheiros da cidade, leva-nos a energia que esta transporta pela manhã em passos de pedaleiras afinadas e outras que guincham de velhice. Descobre-se cedo que afinal há mais pessoas que partilham este reiniciar em rodas, que escolheram sobrevoar bem baixo a urbe. Dizem olá, abanam a cabeça que por vezes é de plástico, outras vezes mostra a calvície ou até uns longos cabelos castanhos esvoaçantes. Há curvas e obstáculos, o percurso de sempre afinal não é monótono quando o controlamos, guinamos aqui e ali entre pedaladas mais firmes e mais leves. A chegada é assistida enquanto encostamos o conjunto metálico a um poste nascido da calçada. Há um murmúrio que aponta para uma capacidade desportista, um tom jocoso acerca do guiador estranho ou da indumentária que tem falta de licra. Com passos que se habituam a um rodar diferente, entramos na escola e no trabalho ao mesmo tempo, o coração transpira a adrenalina e a “re-descoberta” do percurso e o olhar consegue agora concentrar-se nesta dimensão que é presenciada por leveza e abrandamento. Mãos ao trabalho, cabeça aos livros. Desde a arrumação, o que apetece é ir olhar para o metal reluzente, o composto ciclado fresco que ficou bem amarrado a um poste por onde passam milhares de olhares admirados. Os ponteiros acertam com o norte, nem se liga ao estômago, a fome é outra. Está ainda calor, o sol bate a pique mas o salto é para o selim, experimentamos de novo a doce sensação de sobrevoar. A brisa volta a soprar para cavar caminho entre os cabelos e arrefece os pensamentos da manhã. Em quase tempo nenhum os ponteiros encontram a hora do regresso à secretária ou posto de comando. Ficam sorrisos que carregam melhor a tarde de trabalho. O sol cai. Arruma-se tudo dentro da mala estranha que tem um ferro horizontal e um tecido aborrachado. Voa o até amanhã e sorrisos. Desaperta-se o fecho e acende-se o branco e o vermelho. Salta-se às rodas, ainda quentes da temperatura do dia. O caminho agora é de regresso, mas é ainda diferente, há olhares entre raios e o zumbir de correntes que levam a conversas e a estacionar em cafés pelo caminho. O pão senta-se no cesto da frente juntamente com os pêssegos e a alface que vêm para o jantar. As subidas sabem bem com o fresco das descidas até ao sofá de frente para a bicicleta nova.

R

entrée significa voltar em Francês. Em Português significa rentrée, que é outra coisa. Costuma ser um regresso de Texto: férias, mesmo para quem não as teve. Ricardo Sobral Setembro, que está para a rentrée como Dezembro para o Natal e Junho para os Santos Populares, é coincidentemente o mês da bicicleta. Por decreto criou-se uma nova tradição na Europa à qual se deu o pomposo nome de Semana Europeia da Mobilidade, que inclui o Dia Europeu Sem Carros, tradição começada dois anos antes, em 2000, depois de experimentada em França, na rentrée, precisamente. Esta celebração pode ser vista como uma espécie de “festas da aldeia” reinterpretada para abranger todo o continente e convencer as suas gentes de que é possível, desejável, e de um modo geral, melhor adoptar meios de transporte suaves. Combinar rentrée com mobilidade suave, significa bicicletas à bruta. É normal as pessoas que regressam das férias virem cheias de planos, saúde e com desejos de uma vida nova. Passar uma temporada com pouca roupa vestida faz despertar o índio dentro de nós e quando voltamos à cidade só queremos manter o espírito shanti que adquirimos na floresta. Ou na praia. E é claro que a imagem de andar com os cabelos à solta esvoaçantes em cima de uma bicicleta se coaduna. Por tudo isto, Setembro é o grande mês da bicicleta, mesmo que a festa oficial se cinja aos dias 16 a 22, aquela dita semana. Há uns anos era costume ver-se muita inauguração, de ciclovias, estacionamento, novos acessos a transportes públicos, no fundo, todo o género de iniciativas que permitissem assinalar a data como sendo um grande mês para as bicicletas, redimindo assim todo o resto do ano. Hoje, com menos dinheiro disponível para cortar fitas, aguardamos as novidades com curiosidade e expectativa.

"Por tudo isto, Setembro é o grande mês da bicicleta..." Sabemos que, em Lisboa, acabou de ser cortada mais uma fita - o novo esquema de circulação na rotunda do Marquês de Pombal e da Avenida da Liberdade aponta para melhorias na mobilidade ciclável, algo que só o tempo e a prática poderão comprovar. A Carris decidiu este ano antecipar as novidades do grande mês, emitindo nos últimos dias de Agosto um comunicado onde esclarece que as bicicletas dobráveis são equiparáveis a bagagem de mão, acabando assim com a redundância que levava alguns condutores a recusar o acesso a passageiros-ciclistas. O Prémio Nacional Mobilidade em Bicicleta, que celebra o contributo de entidades e pessoas na promoção da sua utilização, encarrega-se de trazer algum glamour às festividades. A cerimónia acontece dia 19 e, há falta de nomeações, só nesse dia saberemos quem atravessa a carpete vermelha este ano. Por fim, a fechar o mês, chega o momento de bater recordes de participação na Massa Crítica, ou não fosse isso já tradição. Para celebrar o nono aniversário do evento em Lisboa e no Porto, espera-se uma enchente que este ano terá que ultrapassar os 500 participantes se quiser estabelecer um novo marco. Da nossa parte, vemo-nos por lá!


Sair da Garagem

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Ilustração: Cláudia Guerreiro

Texto: Fernando Seixas

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Texto: André Henriques

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Como se monta um cavalo Podia gritar se tivesse boca mas é inútil. Acordava os vizinhos e as alminhas penadas só para te ver encharcado em suor: QUERO QUE ME MONTES CABRÃO, COMO SE MONTA UM CAVALO, PERCEBES? Passo os dias e noites a olhar para a tua nuca, meu idiota. Mordia-te se conseguisse. Mordia-te de todas as vezes que entras em casa sem sequer olhares para mim. Dá a tua mija, calça os teus chinelos e deita-te aqui à frente da televisão. Todos os dias iguais. E a barriga cresce-te e o cabelo cai-te. Espero que te engasgues na novela ou te afogues no banho. Talvez assim alguém me arrancasse desta parede. Oh Ana! Ana! Anaaaaaaaa! O que é homem, para que é que estás aos berros? Chiu, ouve. O quê? Espera, cala-te um bocado…(silêncio)… ouviste? O quê, estás maluco? Não pá, está aqui alguém a falar, ouve…(silêncio)… Estás mas é xexé. Foda-se, ‘tou-te a dizer que alguém estava a falar comigo ainda agora! Mas não está cá ninguém, devem ser os vizinhos a discutir outra vez. Não são nada, o prédio está vazio, devemos ser os únicos totós que passam o mês de Agosto neste tarrafal. Estou-te a dizer que estava alguém a falar comigo. E o que é que te disse? Não percebi metade. Que estou gordo e careca e…não sei quê, para a montar como um cavalo… (risos). Olha, eu acho que era ela. Quem? A bicicleta Ana, era ela que estava a falar comigo; chamou-me idiota e disse para a tirar da parede! Boa, haja alguém com juízo nesta casa. Se a tirasses da parede talvez perdesses a barriga. Não te crescia o cabelo mas podia ser que te desse ânimo saisses do sofá. Quando te conheci gostavas mais dela do que de mim e agora está aí a apanhar pó e a ganhar ferrugem. Lembras-te quando fomos ao cinema e eu te levei a casa sentada à frente? Tu com aquela saia enorme e eu sempre a dizer-te para a apanhares, que aquilo se enrolava na roda - apanha a saia, apanha a saia, olha que nos espalhamos os dois… Sim, e depois deste-me um beijo e ficámos os dois aflitos com aquilo, a olhar

um para o outro. Devemos ter passado todos os vermelhos da avenida, calados no fundo dos olhos um do outro. Depois largaste a saia e fomos de fuças ao chão (risos). E agora Ana? Agora o quê? O que faço agora se ela continuar a sussurrar-me aos ouvidos? Vou ficar maluco com isto pá, tenho que a tirar daqui. Mete-a na arrecadação, daí não a ouves falar de certeza. Isso. Daqui não me ouves não é? Eu que me foda então. Custava-te muito levares-me à rua? Quero sentir a estrada porra, quero sentir a merda do vento na testa. QUERO QUE ME MONTES CABRÃO, COMO SE MONTA UM CAVALO, PERCEBES? Ana, Ana! Hum, que queres? Já me acordaste pá! Não a ouviste gritar? Quem, a bicicleta outra vez? Tu ‘tás mesmo passado; cala-te e deixa-me dormir, não estou com paciência para aturar malucos. Quem é que está a bater à porta? Às tantas já acordaste os vizinhos com essa aflição toda. Vai lá tu que eu estou despida. Quem é? Sou eu, abra a porta imediatamente! Você está cá vizinho? Pensei que estava tudo de férias. Abra a porta! Tenha calma, isto são horas de bater à porta dos outros dessa maneira? Cale-se, então você agora tranca a sua mulher na arrecadação e deixa-a ali a berrar a noite toda? Já acordou o prédio inteiro, o João aqui de cima já ligou para a guarda e tudo. Mas você está parvo ou quê? A minha mulher está deitada no quarto, onde havia de estar? Ai sim? Saia-me da frente. Dona Ana! Dona Ana, está aí? Dona Anaaaa? Então, onde é que ela está? À sua frente, por baixo dos lençóis. Você enlouqueceu, isto é uma bicicleta. Mas… a bicicleta estava lá em baixo, a Ana é que me disse para a guardar lá, que estava a ficar maluco, sabe? É que a bicicleta falou comigo, começou a dizer-me coisas e eu não queria ouvir mais.

Sair do armário é como voltar a pegar numa bicicleta. Aquela bicicleta velha em que sempre tivemos prazer em andar quando éramos mais novos, algo inconsciente, mas nunca levámos um pensamento crítico sobre todas as suas potencialidades. Na altura, as rodas de apoio encobriam uma certa timidez para sair do bairro onde vivia e, de alguma maneira, competir com todos os outros miúdos que já faziam corridas, experimentavam velocidades e faziam alguns truques entre mãos e pés que para mim eram estranhos. A vida segura entre quatro rodas sempre foi o mais normal, e é tão fácil o conforto que toda a aventura ficou esquecida na garagem dos meus pais. Aos 20 anos, com a minha própria casa e independência, decidi aos poucos abrir-me a mim próprio e mandar para fora sentimentos e objectos recalcados desde infância — a saída do armário coincidiu com o voltar a pegar na bina e usá-la como meio de deslocação por Lisboa. No início custa sempre. Dói. Há sempre uma certa humilhação pelas pessoas que não percebem, palavras duras que custam ouvir, tamanha ignorância e comportamento mesquinho de uma sociedade que avança devagarinho. Mas chega a um ponto em que essas palavras só servem para nos dar força e afirmar ainda mais. O primeiro contacto foi fácil, sabendo que há um grupo de pessoas como eu, maior do que eu imaginava. A internet foi uma ferramenta importante: os message boards, os blogs, os sites, os textos pessoais e os guias com os eventos que estavam para vir. Aos poucos fui partilhando com os meus amigos — a aceitação foi, no geral, algo fácil. Alguns pediram para dar uma voltinha, outros estranharam e acanharam-se. Outros decidiram comentar nas minhas costas, mas aos poucos, quando me viam a passar e a ciclar, foram-se habituando à ideia. Muitos diziam "Lá fora é super normal, cá em Portugal aos poucos vai ficando melhor". Senti-me como um exemplo no início, humilde, mas sabia que tudo o que estava a fazer era apenas algo normal e natural. Tendo ultrapassado a parte teórica, a parte prática foi mais fácil. Testei um sprint fácil, à noite, para ver quanto tempo demorava. Sentei-me nele, agarrei-me bem com as mãos... estava pronto. As quantidades de óleo tinham sido rectificadas anteriormente, mas a sensação era nova, menos mecânica, mais livre e agradável. Sempre me preocupei por saber que era um tipo mais para o passivo, mas naquele instante não era nisso que pensava, aliás, sentia-me bem activo. A minha cabeça estava noutro sítio. Decidi ir um pouco mais rápido. Os músculos começavam a enrijar, o suor a descer, a velocidade a aumentar cada vez mais. Os glúteos, aos poucos, começavam a transmitir uma pequena sensação de dor, ardor, mas eu sabia que com a prática isso iria passar. Travava um pouco nas descidas, e as subidas, já dentro do andamento, eram bem mais fáceis do que imaginava. O meu corpo estava quente. Dei mais umas voltas extra fora do percurso antes de chegar ao sítio certo e, quando parei e desmontei, foi um alívio libertador, uma nova sensação. Orgásmico. O corpo estremecia, as pernas ganhavam novos reflexos e os pulmões gritavam por ar fresco. Limpei-me. Ele perguntou se eu queria tomar um duche e eu disse que não. Tinha que pegar na bicicleta e voltar para casa — já era tarde e não tinha luzes. Sentei-me no selim, algo desconfortável, dupla dor de principiante, mas sorri.


Salvaguarda das bicicletas

Primeira Música Ilustração: Bráulio Amado

Texto: Alphonse Allais

Extraído de Pour cause de fin de bail “De Bicicleta - Antologia de Textos” Relógio D’Água Editores, Maio de 2012

Assim como, sob a camisa de trabalho de um humilde camponês ou de um modesto artesão, nos podemos aperceber dos batimentos de um coração humano, também sob o boné coçado de um simples contramestre podemos constatar o bulício surdo de um cérebro de génio. Se as senhoras e os senhores me quiserem conceder um minuto de atenção, facilmente compreenderão que nas minhas palavras não há nada de falso nem de exagerado. ... Uam dos grandes problemas da bicicleta reside na extrema facilidade com que pode ser roubada. Com efeito, o velocípede tem uma particularidade que serve para favorecer a fuga rápida de quem acaba de o roubar, o que não acontece em muitos outros casos como no roubo de um saco de farinha ou de uma caixa de caracóis. Tenhamos coragem de reconhecer que, neste campo, ainda nada de sério foi conseguido. Foi necessário aparecer um simples contramestre, a que já me referi mais acima, que se interessasse pelo assunto. Bastou bater na testa e este homem resolveu a questão, graças à invenção de um pequeno aparelho que baptizou de Pique-Cul1. ... Porque estão as minhas senhoras, a esconder os vossos púdicos rubores detrás dos leques? E porque razão é que a palavra Pique-Cul vos intimida tanto? Por mais alto que as senhoras, tal como os pássaros, possam ter pairado, será que nunca pronunciaram palavras como gratte-cul, cul-blanc, cul-de-sac2 , etc, etc.? Pois bem! Então? Continuo: Sem entrar em pormenores excessivamente técnicos da construção, só precisam de saber que o novo aparelho se compõem de uma agulha forte e comprida (com um

comprimento de cerca de cinco centímetros) dissimulada sob o selim que pode assumir, mediante o accionamento de uma mola, a posição vertical ou horizontal. Uma ligeira abertura circular, existente no pergamóide do selim, permite a passagem da ponta. O engenho é concluído com uma bobina de indução, na qual um pólo corresponde ao guiador e outro à agulha. E aqui está! Quando os senhores forem obrigados a abandonar as vossas máquinas, colocam a agulha na posição vertical, e assim podem dedicar-se tranquilamente às vossas ocupações ou à satisfação das necessidades (que só dizem respeito aos próprios). Neste meio tempo, chega o ladrão, que, num ápice, salta para a máquina com a agilidade de um saju lançado com mão certeira. Sob o seu peso, o selim flecte e a agulha penetra nas partes mais carnudas da indelicada personagem. Uma corrente percorre-lhe todo o corpo... Ai! O pobre não vai longe, coitado, porque uma queda imediata fá-lo, pouco depois, ser entregue à justiça do seu país. Então, os senhores, depois de reporem o vosso pequeno mas cruel instrumento no seu estado inofensivo, prosseguem caminho pelos campos perfumados. Não é ao mesmo tempo tão simples e divertido? Digam que vão da minha parte e apresentem-se ao nosso velho amigo Camiot, representante do Pique-Cul para toda a França. Levem convosco um dos vossos amigos e, sem o prevenirem, façam-no desempenhar o papel de ladrão. Vão ver que se vão divertir bastante.

1 — Pica-Cus. (N.T.) 2 — Gratte -Cul (fruto da roseira-brava); cul-blanc (nome dado a várias espécies de aves com pigostílio ou crupião branco); cul-de-sac (beco sem saída, em sentido figurado). (N.T.)

Texto: Francisco Seixas

Setembro é repetidamente um mês marcado por novos recomeços, novidades, reinvenções e promessas que iniciam novas temporadas. A razão deste texto parte principalmente por toda uma excitação gigante da parte deste autor que, mesmo usando apenas um headphone no ouvido enquanto de bicicleta, precisa das suas duas mãos para escrever este seguinte texto: é uma altura excitante para a música, a que se faz e a que chega até nós. Setembro descarregou em nós uma avalanche de novos registos, alguns de nomes assentes numa carreira já reconhecida, e outros que aos poucos vão sendo amplificados. A lista é impressionante e pede para que seja escrita — mais ou menos de memória, sem qualquer ordem e precisão de datas de lançamento: Animal Collective, Deerhoof, XX, Orelha Negra, Mount Eerie, Dan Deacon, Cat Power, Ariel Pink, Bob Mould, Two Gallants, Four Tet, Bloc Party, Locust, Anthony and the Johnsons, Grizzly Bear, Melvins, Pinback, Thee Oh Sees, Hot Chip, Wild Nothing, Caribou, Propaghandi, David Byrne, entre outros. A maior parte destes podem não ter os melhores BPMs para um passeio de bicicleta, por isso segue a nossa escolha: Não se sabe se o Panda Bear anda de bicicleta por Lisboa, mas o novo álbum dos Animal Collective é mais um passo à frente na sua carreira de 12 anos. Um dos membros antigos, Deakin, voltou após uma pausa e o novo álbum tem uma atitude mais agressiva ao mesmo tempo que um sentimento mais pop continua a ser explorado. Os Deerhoof são especialistas em fugas de estruturas e expectativas musicais, mas o novo álbum apesar do nome triste,"Break Up Songs", é na realidade um hino à felicidade e incentivo à festa, misturando novos instrumentos e influências nas suas composições. Os Orelha Negra continuam a ser uma das melhores bandas portuguesas e o novo álbum vem provar que há todo um futuro ainda por explorar — e ler, virando a página para a entrevista que a equipa do Jornal Pedal fez. David Byrne lançou um disco bestial com a St. Vincent. A produção e todo o song-writing continua a ser algo memorável e infalível na carreira do ex-Talking Heads. A voz de St. Vincent vem dar uma nova dimensão às músicas mas, apesar de tudo, continua a ser Byrne. Enquanto demasiado letárgico para ser uma boa banda sonora em viagens de bicicleta, o disco tem que constar na lista devido a toda a relação entre Byrne e as bikes (que passa por livros, colunas no jornal New York Times e até mesmo design para parking de bicicletas em Manhattan). O responsável pelos Caribou surge este mês em forma de Daphni com um novo disco/experimentação electrónica mais house, pulsante e interessante. É um disco para ser dançado. Por último, os Propaghandi — punk, super rápido — lançaram um novo disco com toda a mesma qualidade musical e lírica que já nos habituaram. A mensagem continua a ser uma parte importante na banda e, como tal, citando uma das novas músicas: "Ride fucking free, forty below, it’s the car that kills the punk. Pedal for momentum, feel the fucking vibe, blaze through traffic, burn the red, push my luck. There’s not much I need, I ride a single speed". Paralelamente, abraçando algumas destas novidades, o Pedal decidiu pedir mixtapes a colaboradores e entrevistados do jornal. Tentarão ser regulares e em cada mês lançar uma nova — a primeira já está online no Facebook Pedal, "Summer Nights Riding Bikes" pelo Ricardo Filho de Josefina.


Texto: João Pinheiro Fotos: Vera Marmelo v-miopia.blogspot.pt

RENOVAR O FUTURO João Gomes faz parte da história da música portuguesa, de uma música com alma, que se faz em Lisboa. Passando pela “academia”, foram as bandas a determinar o seu futuro e dos primeiros acordes em palco com Cool Hipnoise, hoje é a melodia dos Orelha Negra. Traçamos um percurso de alguém que toca há mais de 25 anos e faz da música a sua forma de estar. Um músico, portanto, que faz de algo tão natural como se de qualquer outra profissão se tratasse, e com Orelha Negra, depara-se com questões que não são diferentes das que vivemos como síndrome deste país em crise, de que “lá fora” seria diferente e lá seriam valorizados. Num futuro presente, na presença da renovação, há algo a ser feito entre estes dois pontos sem aparente ligação. Orelha Negra seria a banda sonora ideal para estas mudanças e foi um tema presente nesta conversa que tivemos num destes espaços renovados do futuro. No Largo do Intendente, no meio de outros projectos a emergir, também falámos de bicicletas, esse transporte para esta cidade no futuro, mas que o João usa com a mesma naturalidade com que é músico neste país. Independentemente das condições não serem favoráveis, as estradas não estarem preparadas e com comportamentos irresponsáveis de quem conduz, não é por isso que deixa de fazer o que gosta e que acredita.


Há quantos anos tocas, e qual foi a tua porta para a música? Toco desde os treze anos e profissionalmente toco desde os 21/22. Tenho 38 anos, é fazer as contas. Tinha música na escola e isso interessou-me desde sempre, os meus pais também me motivaram e sempre me apoiaram. Já não tinha idade para entrar no conservatório mas os meus pais puseram-me numa escola privada – a Academia Amadores de Música – onde o meu instrumento foi o piano. Mas quando decidi que o que queria seguir era música, no 10º ano, quis ir para a escola superior de música mas como ainda não tinha acabado o curso complementar de música, não pude entrar. Então, fiquei um ano só estudar música e entretanto inscrevime no Hot Club e quando comecei com os Cool Hipnoise, com concertos e discos já não acabei o curso. Logo no primeiro concerto dos Cool Hipnoise, no sítio onde agora é o BLeza, estavam vários músicos. Estava o Johnny, o Carlos Martins, Da Weasel, Kussondulola, estava muita gente da mesma linguagem que estava a começar. Conhecemo-nos quase todos nessa noite. Estava também o General D que estava a montar a sua banda e logo nessa noite convidou-me porque não tinha teclista. Como eu só tocava com músicos africanos a partir daí fiquei a conhecer mais músicos e comecei regularmente a fazer colaborações com outras bandas, com os Da Weasel ou os Mercado Negro. Desde aí não tenho parado de tocar. Fui tendo uma estrutura mais pesada e ter que a sustentar, e tive que arranjar mais bandas [risos], entretanto comecei a tocar como DJ em 98, que também tem sido uma das minha actividades Qual o tipo de música que consomes? Oiço muita música negra, mas para a minha formação também ouvi muita música clássica, música portuguesa, música pop, rock ou mais alternativa. Mas desde que comecei a fazer música fui especializando-me cada vez mais e a apaixonar-me mais pela música afro. Cheguei a ter uma loja de discos. Quais são as tuas grandes influências? Funk, Soul, Reggae, Pop… nomes são milhares deles, mas posso dizer alguns: Herbie Hancock, também teclista e que vai a estas áreas todas, Stevie Wonder, Curtis Mayfield, Gil Scott-Heron, Bob Marley, Fella Kutti, John Coltrane, estes são alguns dos gigantes, mas também Sérgio Godinho, Fausto, Zeca Afonso, ou cenas Pop de cá, ouvi de tudo, cresci aqui em Lisboa. Esta identidade musical que tu vives, ainda existe na cena portuguesa/lisboeta? Existe, nem que sejam descendentes. No fundo, são as principais influências e a origem do Hip-Hop que desde sempre estive muito. Nós começámos os Cool [Hipnoise] porque conhecemos o Boss AC e outros rappers e a ideia era fundir as coisas. Já nessa altura outras das minhas principais influências eram os De La Soul e A Tribe Called Quest. Bem, eram coisas que na altura eram um pouco marginais, mas agora tornou-se mais mainstream, embora cá em Portugal seja diferente. Mas continuam sempre a haver coisas alternativas dentro desse mundo. Tanto pelo DJying, que me comecei a interessar mais pela música electrónica, e tive um projecto chamado Space Boys que também foi mais ou menos pioneiro dentro da área da música electrónica mais groovy. Como te envolves com Orelha Negra? Orelha Negra foi um projecto que surgiu assim entre amigos na estrada quando o Sam the Kid lançou o seu terceiro álbum e decidiu ir tocar pela primeira vez com banda. Antes actuava sempre na maneira típica do hip-hop, com dois MCs e um DJ. Assim que nos conhecemos, o Cruzfader (que já era o DJ do Sam the Kid), o Fred e o Chico (que já trabalhavam comigo) e andámos dois anos ou três na estrada, ficámos muito próximos e tivemos a ideia de ter este projecto e de facto está a correr muito bem, mas também tem que ver com o facto de todos termos tido várias experiências antes e sabermos bem o que é que queremos, saber as pessoas certas a quem mostrar e com que nos rodearmos. O que é que te dá mais gozo? Hoje em dia já não penso assim, já não me entusiasmo, às vezes tenho um bocado pena, mas acho que isso faz parte da vida e da evolução de uma pessoa. Estou a chegar aos 40 e já não sou aquele gajo mega entusiasta, faço as coisas de

uma forma natural. Quando correm mal fico chateado, quando correm bem, procuro cenas que tenham corrido mal, para me dedicar mais. Não sou aquele gajo que vai perder tempo a festejar. Pronto, acho que é algo natural, que isso é que é o normal, fico com a sensação de dever cumprido. Mas o que me dá mais gozo é tocar com eles e termos uma cumplicidade e não termos de aturar vocalistas [risos]. Estás satisfeito com o projecto? Estou 100% satisfeito, acho que temos de fazer mais. A única coisa que me deixa insatisfeito é o mundo musical português, o facto de estares com uma banda que está com granda hype, toda a gente acha que está no top e depois só temos dois concertos marcados em Outubro.

uma banda tradicional. As pessoas também gostam, quando nos vêem ao vivo, perceber quase tudo o que está a acontecer. É um espectáculo interessante, não é uma cena tipo aquilo a que eu chamo de knob-acting, uns gajos a mexer nos botões mas ninguém sabe bem o que está a acontecer. Acho que é este tipo de pormenores que fazem com que a cena funcione em diferentes contextos, mais mainstream ou mais alternativo e que tem um público tão abrangente, gostos diferentes e várias gerações de pessoas. A nossa música tem um bocado essa coisa que é intemporal, tu ouves e ficas sem perceber muito bem quando é que aquilo poderá ter sido feito. Curto bué que a música seja assim e tento que a minha seja assim. E acho que nos Orelha [Negra] conseguimos, a nossa música não é nada datada, não soa a nenhum ano em particular, tem momentos que soam mais a alguma coisa mas tudo tem que ver com referências e com samples que estão relacionados com toda a história da música Pop.

Porque é que isso SPR INT acontece? Porque as pessoas não Que bicicleta? querem pagar e nós não Tenho duas, uma fixed gear montada pela roda gira somos putos de 20 anos a partir de um quadro Masil e outra, uma bicicleta de que estão cheios de pica estrada que era da minha sogra, e foi montada com para tocar, que baixam as coaster break pelo Kico, na Rcicla. calcinhas e se for preciso até tocam de borla. Em 1995, Que mudanças gostavas de ver na cidade quando comecei com os Cool para se pedalar melhor? Hipnoise, recebia 25 ou 30 Hmm, bermas, ciclovias, carris… bem na realidade contos por um concerto e hoje já estou bastante habituado e como aprendi a andar em dia não vou aceitar receber aqui tudo é natural para mim. Bem, seria bom se os 100 euros por um concerto ou automobilistas mudassem alguns comportamentos... 125, que é o que me querem pagar. É por isso que não Música de Orelha Negra para andar de bicicleta: baixamos o cachet, porque "Viva Ela" ou "Aurora" sabemos que se o formos Há quanto tempo usas baixar vamos ficar não sei a bicicleta na cidade? O teu teclado favorito: quanto tempo nisto. Comecei a andar de Há synths que gosto bastante, gosto dos Moogs ou do Temos muitos convites mas bicicleta na cidade já Hammond, ultimamente ando à procura de um Yamaha a maior parte deles não se morava aqui nos Anjos, CP70, mas se tiver de dizer que tenho um teclado concluem. Porque se não, não por volta de 2005 ou favorito é óbvio que tem de ser o Fender Rhodes. valorizas o teu espectáculo. 2006. Eu próprio A música não é valorizada e também tinha aquele muito menos apoiada, por mito que Lisboa não exemplo, neste momento além de não haver um ministério dava para andar de bicicleta, mas quanto mais viajas, da cultura nem há uma secretaria de estado da cultura. principalmente pela Europa, ficas com vontade de andar de Está tudo completamente abandonado. bicicleta. Pelo menos isso aconteceu-me, viajar e ver muita gente sempre a andar de bicicleta, ver bikes muita giras, Em Setembro, o último disco de Orelha Negra está conhecer pessoal com bicicletas. Quis mesmo experimentar disponível em vinil, o que nos podes dizer do disco? e quando comecei, há seis anos, concluí que dava na boa. Está a correr muito bem, como o primeiro. Temos tido imenso Principalmente no meu circuito, e porque não gosto muito apoio dos nossos fãs, e as pessoas que gostam, identificamde andar de carro e nem preciso, moro no centro, mas como -se, apoiam e compram. Estamos a vender muito mais do músico às vezes preciso de carregar material. que estávamos à espera, sem dúvida. Imagino que as outras pessoas pensem que não é normal vendermos tanto com Já foste de bicicleta para um concerto ou ensaio? o estado em que as coisas estão em Portugal. Associo isso Hoje em dia tenho quase todo o meu esquema montado ao facto das pessoas identificarem-se imenso com o nosso para ter material em todas as salas de ensaio e poder ir de projecto. Já várias pessoas me disserem que compraram bicicleta. Por exemplo, com Cais Sodré Funk Connection dois ou três álbuns para oferecer aos amigos; fãs oferecem a e Combo Nuevo [Los Malditos] que ensaiamos no Music amigos estrangeiros, um bocado naquela de que “isto era bom Box, já tenho lá um teclado só para os ensaios. Só levo o era lá fora, vocês têm de se internacionalizar.” Provavelmente portátil. Vou sempre de bicicleta para o meu estúdio que é muita gente que tenha o CD agora vai comprar o LP. Por na Estefânia e quando ensaiava em Belém também a usava. exemplo, o vinil só vai estar à venda em Setembro mas já Também já fui pôr música de bicicleta. temos encomendas quase em número recorde para a Rastilho. Tenho alguns colegas que também andam, o Tiago Santos que também toca nos Cool [Hipnoise] e trabalha na Rádio Há algo de especial em Orelha Negra, gosto de pensar Oxigénio, por exemplo. Comprámos a bicicleta na mesma em vocês como uma banda Pop. altura e anda sempre de bicicleta e mora na Costa do Na forma tentamos ter uma atitude Pop. Imaginar que está Castelo. E já converti algumas pessoas. Mas por exemplo, alguém a cantar ou a rappar por cima das nossas músicas, ou a cena fixed gear conheci através de músicos, acho que a fazer com que isso aconteça com samples. Se tu ouvires podes primeira vez que andei numa foi na do Miguel Negretti, o DJ pensar que é musica feita só com máquinas e computadores, Glue, no BFF [Bycicle Film Festival] de há dois anos, onde mas conseguimos reproduzir tudo a tocar, como se fossemos fui convidado a pôr musica na inauguração.


A história desta bicicleta - a versão curta e familiar remonta a Março deste ano quando foi encontrada em leilão e, alguns dias depois, arrematada em esterlinas no eBay. Pelas mãos do vendedor, um tal de Mark Jones, já tinham passado várias clássicas inglesas e não apenas pela sua predilecção por este material vintage, mas também porque um dos hobbies de Mark é retratar as bicicletas que lhe vão passando pela casa numa tela, com tinta acrílica. A Bob Jackson não foi excepção e existe uma reprodução da tela de Mark para o provar. A Bob Jackson vinha completa, exceptuando os pedais, com uma mistura de partes Shimano, Suntour e Campagnolo. E claro, com um selim Brooks. Mas foi quase tudo substituído, excepto rodas, shifters, caixa de direcção. Segundo Mark, e de acordo com o serial number gravado num dos dropouts traseiros, foi manufacturada nos idos anos 50, talvez em 1952 ou 53, e tem todas as características de uma Tourer inglesa daquela época: clearance generoso para pneus e guarda-lamas largos; lugs Nervex Professional bem destacados; braze-ons para cantilevers, racks, para dínamo (obrigatório até finais de 1980 no Reino Unido, bem como o suporte para luzes) e uma distância tão grande entre eixos que a torna tão confortável e manobrável como um Rolls Royce (imagino eu), que quase anda sozinha. Resta-nos imaginar a quantidade de milhas que esta bicicleta fez por terras de Sua Majestade em mais de cinco décadas, desde Land's End até John o'Groats, e tudo à volta, por terras altas e baixas, carregada de coisas, de pessoas e de memórias, para acampar, pernoitar, sonhar. Para viajar. Certo é que ainda tem muito para dar ao novo dono, pelo menos enquanto os tubos Reynolds 531 butted se aguentarem. E mesmo que um deles entregue precocemente a sua alma ao criador, os simpáticos construtores da casa mãe podem sempre substituí-lo sem prejudicar a gloriosa geometria desta bicicleta, um exemplo clássico do design e da tecnologia Britânica para máquinas de cicloturismo, um dos passatempos nacionais daquelas ilhas.


Texto e Bicicleta: Pedro Leit達o Fotografia: Vera Marmelo v-miopia.blogspot.pt



Não gosta de aparecer. Não dá a cara. Gosta de passar despercebido. No entanto, vai deixando um rasto pelas ruas de Lisboa. Stickers vários e um mexicano de bigode ainda resistem e podem ser vistos em algumas paredes da cidade. Alguns existem desde a altura que em andava sempre a pé, fartava-se de passear e de viver a cidade desta forma. Mega é um faz-tudo, que não consegue atribuir uma única profissão a si próprio. É o que é e só quer estar "na dele", fazer coisas, não ser desonesto e, acima de tudo, ter paz de espírito. Não é fácil colocar-lhe um rótulo, já fez demasiadas coisas e a palavra artista faz-lhe confusão. Para ele, a arte é "no fundo, uma palavra oca, como a maior parte das palavras e cada um tem o seu conceito de arte. O que precisávamos mesmo era de telepatia, a linguagem já não exprime a complexidade do mundo em que vivemos, só cria mais confusão. Usam-se as mesmas palavras, mas cada pessoa tem a sua interpretação. É como vermos um álbum de fotografias em que está tudo desfocado". Temos alguma noção das cores, das pessoas, dos ambientes, mas não daquilo que é exactamente. Sempre se interessou por imagens, tinha fascínio por fotocópias, pelo alto contraste, na altura da adolescência, quando não havia computadores e tudo era feito à mão. Por outro lado, uma mãe com muitos livros de História da Arte foi uma óptima fonte de conhecimento e de inspiração, desde muito novo. Em relação ao stencil, o interesse surgiu através de "pessoal que ia a Berlim, antes do muro cair" e era essa a técnica utilizada como expressão, muito simples de fazer, "é papel, recicla-se cartão, usa-se um x-acto e depois vai-se curtindo". A Pintura esteve sempre presente, já tentou fugir dela diversas vezes ao longo dos anos, mas não consegue. Faz parte dele desde sempre e não se lembra do momento em que o interesse apareceu. Dizem-lhe que antes de falar, já desenhava e foi desenhando e pintando até aos 20 e poucos anos, altura em que se fartou - "tinha o quarto cheio de tralha" -, mandou quase tudo fora e foi aprender outras coisas. Decidiu tirar um curso de Modelagem Industrial, para fazer moldes de roupa e, mais tarde de Design de Moda. Queria aprender a trabalhar com materiais e transformá-los. "Costurar, é no fundo, estar a seguir um desenho, é desenhar com uma máquina. Ganha-se sensibilidade aos materiais, aprende-se como se comportam e o que temos que fazer para não os forçar, porque o material tem sempre razão. E, no fundo, é esse gozo de ir explorando sempre os materiais e, depois, como vivemos numa cidade onde há muito desperdício, acabamos por começar a ver os objectos como material, como matéria-prima e não apenas como simples objectos." Foi com esta consciência que começou a apanhar objectos na rua para transformá-los e dar-lhes uma nova vida e uma nova alma.

Texto: Maria Henriques Fotos: Ricardo Filho de Josefina ricardofilhodejosefina.com

Soul Captains (apresentam) "The War of Art" na Fábrica do Braço de Prata. Esta exposição surge num outro momento em que tentava fugir outra vez da Pintura, "lutava contra a cena junkie de quem que não quer assumir que tinha recaído novamente para a Pintura". Para Mega, a Pintura era uma fase que tinha acabado, estava "fechada", queria aprender outras coisas, trabalhar novamente com materiais, fosse madeira, cartão, embalagens, plástico e fazer trabalhos de precisão, que exijam muita paciência e que façam "parar o tempo". No entanto, juntaram-se vários factores para que a exposição acontecesse agora e para que quisesse dedicar-se a ela a 100%. Até 29 de Setembro, na Fábrica de Braço de Prata, "The War of Art" mostra-nos cinco briefings trabalhados por cinco artistas: pinturas em papel de cenário, pinturas clássicas kitsch encontradas no lixo ou compradas na feira da ladra e renovadas, fotocópias, armaduras/protecção corporal (body armor) e brinquedos são a matéria-prima e o ponto de partida para as obras apresentadas por DIRTY COP, BLINDSNIPER, DOGSKAPUT, FULLVOID e STRIKE. Mega faz uma breve descrição de cada um: "DIRTY COP é o mais velho e com mais história. É o que me acompanha há mais tempo. BLINDSNIPER é género tiro certeiro e ainda passa cá pouco tempo. O DOGSKAPUT tem a cena mais design, mais objectos. Não é tanto a imagem, a cena plástica. FULLVOID é o mais preguiçoso e o STRIKE é o puto punk rock. Está, mas sem compromisso. [Disse-lhe]: "está a acontecer, se der para apareceres, aparece." Com um evidente carácter bélico, "The War of Art" remete-nos também para cenários ou objectos de guerra, uma constante nos seus trabalhos. Para Mega, é o resultado consciente de um ambiente de guerra que o marcou quando tinha quatro anos. "Nasci numa província ultramarina do Império Português. Os meus pais foram para lá quando eram muito novos e depois tivemos que voltar porque havia uma guerra. Vamos crescendo e apercebemo-nos de toda a transformação, ouvimos histórias de um passado do qual não temos memória porque não estávamos presentes ou somos demasiado novos, mas percebemos que a nossa vida ou a dos nossos pais ou família foi uma consequência - ou que estamos ali em consequência - de acontecimentos com uma dimensão mundial." Mega

foi ganhando interesse por esse passado e por História e foi percebendo "que a história da humanidade é sempre uma consequência de actos bélicos, de lutas por territórios e de recursos para manter culturas. Toda a gente na sociedade ocidental acha que vive em paz, porque está apenas a olhar para o próprio umbigo, porque se formos a ver, conflitos armados à volta do mundo são constantes, por isso acaba por ser uma cultura pelos recursos naturais para sustentar lifestlyles que são desequilibrados". Bicicleta como ferramenta Mega comprou a bicicleta há uns bons tempos, após um curto emprego do qual gostou - “fiz o trabalho, recebi, passei, vi a bicicleta, promoção, comprei”. Simples. Simples é também a sua relação com ela. Foi quando passou a ter um ateliê em Xabregas que começou a andar diariamente, foi o momento em que “tudo se conjugou para que começasse a usar a bicicleta como meio de transporte. Quando vivia na Calçada do Combro, usava bicicleta, mas também andava muito a pé”. Qualquer "moda" em relação às bicicletas passa-lhe ao lado. A dele está toda forrada com fita cola cinzenta-mate, “a marca não interessa” - e é, sobretudo, uma ferramenta, mais uma na sua vida. Facilita-lhe a vida, leva-o onde quer de um modo prático e rápido e conclui: “é fácil fazer a vida de bicicleta” na cidade.


Liv Spencer é aquele das remixes de fazer mexer as pernas nos clubes com pistas dançantes e espelhos a rodar no tecto. É aquele dos projectos House of House e Still Going, com lançamentos na DFA records. É o francês de Nova Iorque que aprendeu a andar de BMX na Califórnia e agora rasga as ruas de Brooklyn em fixed gear. Esse mesmo vem ao Lux de Lisboa, dia 28 de Setembro em modo dupla Still Going e estivemos a medir-lhe a pedalada .

Liv Spencer

Um Nova-Iorquino em Lisboa Texto: Ana Fernandes Fotos: Ryan Zimmerman stopdownphotography.com


Liv nasceu em Paris, vive em Nova Iorque e acredita que a vontade de viver nesta cidade ficou nele semeada desde pequeno, depois de ter visitado a mesma aos dez anos. A semente foi tão forte que se lhe perguntarem, responde que é um verdadeiro “nova-iorquino até ao fim”. Paris definiu-o em tempos como miúdo, mas foi Nova Iorque que fez dele quem é agora. O seu universo musical foi construído desde cedo, envolvido no meio artístico. De facto, os seus avós maternos eram ambos pintores e, para além disso, quer ele, quer os irmãos fizeram carreira de actores de filmes e TV em pequenos. Nesse seguimento, teve uma ligação permanente à música, passando pelas aulas de piano, pela música de amigos e pela rádio. Também o facto de andarem sempre em movimento e em mudanças alimentou essa construção. “Paris e L.A. deram-me o Punk e a New Wave e Chicago os Blues, o House e o Jazz” refere Liv. No entanto, a música não foi um caminho certo. Seguiu pela Filosofia, depois pelas Ciências Informáticas e chegou até pensar em seguir Direito ou Relações Internacionais. Nesse percurso, fez estágios de Verão que por um lado fizeram-no desistir da carreira em Direito e, por outro, fizeram-no descobrir a indústria musical ao estagiar na editora Touch and Go. Trabalhou depois na MTV quando se mudou para Nova Iorque onde se apercebeu do potencial das suas bases de Informática e à medida da evolução das suas capacidades, começou a trabalhar na sua música. A mudança para Brooklyn fê-lo também pegar de novo na bicicleta, agora uma roda fixa sem travão feita à medida pela Post Bike Shop em Williamsburg. “Ok, sei o que estás a pensar: o músico muda-se para Williamsburg e arranja uma fixie, mas que merda de cliché”. Explica-nos que embora não consiga fugir ao cliché facto é que depois de experimentar a roda fixa já não conseguiu voltar atrás. Defende que se tem mais controle da bicicleta e que é muito menos perigoso que uma bicicleta banal. No entanto, acrescenta, entre risos, que está mesmo a precisar de pôr uns travões na bicicleta, guia de uma forma agressiva e os taxistas, autocarros e buracos não perdoam. Começou a pedalar ainda novo, em França, numa bicicleta de dez mudanças impulsionado pela ciclo-cultura francesa, “lembro-me de ver a Tour de France na casa dos meus avós, no Sul de França” diz-nos. Aos 12 anos, descobriu a BMX, ainda no Sul da Califórnia onde se perdia em horas na companhia de amigos numa pista junto ao bairro onde morava. A sua música tem como inspiração tudo isto, um lugar mundano e a sua experiência de vida não mete outros talentos ou artistas ao barulho: é o que a cidade oferece. “Esta é uma das razões pelas quais gosto tanto de Nova Iorque. Nunca há pouca energia ou falta de “histórias de vida para aprender.” Conheceu os seus parceiros musicais em circunstâncias diferentes, o que implica que sejam definidos de formas também diferentes com nomes distintos. No início de 2000 conhece Eric Duncan, “costumávamos sair para os mesmos sítios”, conta-nos Liv, trabalhou em conjunto com ele e Thomas Bullock, colega de Eric no projecto Rub-n-Tug. Depois disso, juntamente com Eric, começou a produzir temas enquanto Still Going. O resultado é “Still Going Theme”, no final de 2007, “Spaghetti Circus EP” dois anos depois, ambos editados pela DFA e umas quantas remisturas entretanto. 2012 marca o ano de nascimento da “Still Going Records”, que conta já com dois lançamentos e que se define como o lado mais intenso e profundo. House of House é projecto a meias com Saheer Umar, DJ que conheceu em 2009 e do qual se aproxima para colaborar com base no seu trabalho como programador de sets de música. “Rushing to Paradise EP” saiu nesse mesmo ano pela What Ever We Want Records, teve sucesso e levou-os a tours nos anos seguintes. “Eu e o Saheer conectamo-nos enquanto DJs e essa energia traduz-se na pista de dança”, explica Liv. Em simultâneo, House of House faz também remisturas de temas de Crookers, Roisin Murphy, The Juan Maclean e The 2 Bears. Confessa ainda que ouve música a andar de bicicleta, mas só em situações muito específicas. Quando acaba uma mistura, tem vontade de sair do estúdio para dar uma volta rápida e ouvir no que esteve a trabalhar. “Sempre à noite quando já não há trânsito e sempre na parte mais industrial do bairro que está praticamente vazia” justifica e acrescenta: “quem anda de bicicleta em Nova Iorque de auscultadores está a pedir problemas”.

Gostava de juntar a Portugal, Espanha e Itália para fazer uma roadtrip em bicicleta, pelo cenário e pela boa comida.

Quando abordamos a sua visita a Lisboa, diz-nos: “Adoro Portugal”. Já teve a oportunidade de explorar o país mas passou a maior parte do tempo em Lisboa, cidade que diz ter “o melhor de dois mundos, uma natureza e praias incríveis que combina com uma cultura sofisticada”. Nunca andou de bicicleta em Portugal, é aberto à experiência mas parece-lhe que é uma cidade dura de ciclar, com as colinas inclinadas e a calçada nas ruas estreitas que compara a Nova Iorque que diz ser “uma cidade super amiga das bicicletas, com uma rede consistente de vias cicláveis”. Gostava de juntar a Portugal, Espanha e Itália para fazer uma roadtrip em bicicleta, pelo cenário e pela boa comida. Nessa viagem levaria Ana, a sua namorada, “embora ela ande de BMX o que se pode tornar duro nas jornadas mais longas” diz, entre risos. Levaria ainda alguns amigos “com costeleta de bicicleta e bom gosto para vinhos”.


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A Teresa arranjou emprego num local afastado do sítio onde vive. No primeiro dia, pôs-se na bicicleta, fez uma média de 20 quilómetros por hora e chegou três minutos depois das 9h. Não foi grave mas ficou envergonhada. No segundo dia, saiu de casa à mesma hora e, para não voltar a ficar mal vista, foi a 30 quilómetros por hora. Desta vez chegou três minutos adiantada. Se, no terceiro dia, sair à hora do costume, a que velocidade deve ir para chegar às 9h exactas?

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