Ano 40 - Nº 9 - 19 de setembro de 2013
Onde mora o perigo? Duas testemunhas do caso da morte brutal da líder comunitária Yá Mukumby na reportagem de Brunna Souza
Londrinenses estão otimistas com a volta do LEC ao VGD. Pag. 11
Professor da UNESP defende autonomia plena das universidades em debate na UEL. Pág. 06
Festival de cinema consolida a sétima arte em Londrina. Pag. 10
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Opinião
20 de setembro de 2013
EDITORIAL
Jornal Laboratório produzido pelo 4º ano do Curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, da Universidade Estadual de Londrina Coordenação Editorial (docentes responsáveis): Emerson Dias Fábio Silveira Gisele Rech Lauriano Benazzi Editor-Chefe: Yuri Martinez Chefe de Redação: Isabela Cunha Projeto Editorial: Emerson Dias Fábio Silveira Gisele Rech Lauriano Benazzi Projeto Gráfico: Erick Lopes Lais Taine Lauriano Benazzi Diagramação: Amanda Tostes Erick Lopes Giovanna Machado Lais Taine Chefe do Departamento de Comunicação: Mário Benedito Salles Coordenador do Colegiado de Jornalismo: Ayoub Hanna Ayoub Correspondência: Coordenação do Curso de Jornalismo UEL – Universidade Estadual de Londrina Rodovia Celso Garcia Cid, BR 445, Km 380 CEP 86057-970 Londrina – PR Tel.: (43) 3371-4328 E-mail: jornalpretexto@gmail.com PreTexto na Internet: facebook.com/JornalismoUEL www.issuu.com/jornalpretexto www.jornalismouel.com
Vigiar nossos sonhos
A
té quando vamos ser vítimas ou algozes? Até quando caberá somente a nós o poder de decisão? O coletivo decide sozinho? Até que ponto a nossa liberdade afeta a liberdade do outro? Conseguiremos sair da dúvida, ou seremos para sempre reduzidos a réus e juízes? A Justiça serve a Verdade ou a uma verdade? A justiça, quem é? Grupelhos existem nos quatro cantos, nos Três Poderes, entre dois caminhos: o Bem ou o Mal, ou ainda, o bom e o mau. Na reportagem de Roger Bressianini (página ), que vem nos lembrar da prisão de José Joaquim Ribeiro, a quem temos que recorrer? Uma dúvida/dívida/dica: a nós mesmos. Será que sabemos, conscientemente, se somos criminosos/cúmplices/comparsas? Votamos em quem na última eleição? Decidimos isto sozinhos ou com a ajuda de alguém? Fomos sinceros e honestos ou corajosos covardes? É preciso limpar a sujeira da nossa casa ou a do vizinho? Londrina sofre com a corrupção política que não é de ontem nem de hoje.
Somos seres passíveis de erro, podemos ter errado nas urnas, nas ruas, nos diálogos, nos bares e cafés. Podemos ter esquecido nossos direitos, nossos desejos e anseios. Não faz mal subir no muro. Só precisamos saber a hora certa de descer. Ao transferir nossas atenções para a condenação de alguns políticos, esquecemos logo de muitos outros. Políticos e problemas. Cabe à Constituição, e não somente ela, decidir por si própria. A Lei é feita por Nós ou por Eles? Democracia se faz respeitando as liberdades individuais, mas em um mundo onde alguns estão mais acima que outros, sofremos as mazelas de uma Hierarquia cristalizada enquanto outros se regozijam de privilégios sociais. Cidadania é diálogo aberto, horizontal, igualitário. É ler no jornal aquilo que não concordamos, que não nos satisfaz e que reverbera: até quando continuará? O que precisamos é saber direcionar nossas condutas. Vigiar não só o que os nossos representantes estão fazendo com nosso dinheiro. Temos que vigiar o que eles estão fazendo com nossos sonhos.
CRÔNICAS
Voto, logo brigo
A
Lucas Marcondes
magistrada usava vestes caras e o calor era abrasante no lugar modesto onde ela estava. Pessoas, várias delas, saíram às ruas do local. Sete de outubro, dia de votar. Em segundos, digita-se o voto. A cidade, então, ficará nas mãos de alguém nos 48 meses seguintes. Por isso, os ânimos estavam todos exaltados e etílicos. Cabos eleitorais dos dois lados digladiavam-se em todos os bares: “P. tem as melhores ideias!”; “E. sabe como as coisas funcionam!”. E também, antenados com o século XXI e as novidades do mesmo, batiam boca nas redes sociais. Discutiam somente sobre como cada um dos candidatos era bom, ou não. A juíza notou como, no lugar distante dos grandes centros, o oficialismo era deixado de lado. Valia mesmo ser amigo do P. e não gostar do E., ou então louvar os feitos do E. e ignorar a existência do P. Política, ali, se resumia a amizade e inimizade. Valores, ideias, mudanças, isso tudo era assunto de cidade grande, diriam os cidadãos locais. Saliva, suor e sangue (este último, em anos mais distantes) eram os elementos vitais no momento de angariar votos. Alguns, diziam as más-línguas, também recorriam a outro ‘s’: suborno. Porém, a magistrada estava vigilante. Queria evitar o coronelismo e a troca de favores descarada e garantir a Lei no local. Para tanto, contava com o reforço de meia dúzia de PMs. Ainda de manhã, cinco incautas mulheres haviam sido detidas fazendo boca de urna. Ela olhou o relógio caro, marcava duas horas da tarde. Em algumas horas, torcia, tudo estaria mais calmo com o resultado do vence-
dor. Questão de segundos, entretanto, e uma confusão começou. Um eleitor, aditivado com o álcool de todo um final de semana, desfilou diante de inimigos e disse uma ou outra besteira. Já era a fagulha necessária a fim de criar-se certa balbúrdia. Os xingamentos foram devolvidos e ameaça de um amassar a cara do outro na base do soco era eminente. Polícia entrou no meio, magistrada também. Até mesmo P. e E. solicitaram calma. Paciência. Paz e amor, em resumo. Os ânimos eleitoreiros dos brigões sossegaram. Ainda no meio da confusão, uma criança correu ao lado da juíza. Parecia ter sete anos de idade (ou até menos, devido à magreza) e usava somente uma bermuda e chinelos surrados. Parou ao lado da mulher e olhou o braço dela, tomado de coisas caras. Pulseiras, braceletes, correntinhas: cinco mil em cada membro. Foi com a mão até um dos artigos de luxo. Puxou com força. Ele não veio. Suas mãos estavam meio fracas (fome, talvez?). A magistrada olhou nos olhos da criança, deu um sorriso de canto de boca e seguiu adiante, intermediando a briga entre os amigos de P. e os amigos de E. As coisas ficaram mais claras nesse acontecimento. Eleição é vociferar xingamentos contra o outro lado e, ao final da contagem, comemorar efusivamente em torno de P. ou E. Educação digna, comida na mesa e saneamento básico estruturado, essas coisas são todas demagogias. Vale mesmo é beber, votar, comemorar e xingar. Viva a democracia!
O que não tem remédio
H
Isabela Cunha
oje nós acordamos e simplesmente não nos lembramos daquela tragédia, naquela cidade distante, no coração do Rio Grande do Sul. Ela desbotou dos jornais para não fazer parte da nossa rotina, não ilustrar nossas conversas do dia a dia, não ocupar os espaço das nossas memórias. Os pais e mães e irmãos, amigos e namoradas e avós de nove meses atrás, eles, porém, não tem a nossa sorte. Serão 242 aniversários não comemorados, ano a ano: 4 para a mãe que tinha todos os filhos dentro da boate naquela noite de sábado, 30 para a turma - de 40 - universitários que saiu para brindar, 1 para a mãe que ligou 104 vezes para o filho que não estava lá para atender, embora 104 vezes ela tenha desejado ouvir um ‘alô’. E, enfim, descobriremos que nenhum desses números mede a tristeza ou a saudade de quem passou a chamar de “corpo” quem até ontem era Léo, Bia, Ma, filho, amor, brother. Que 3 dias de luto demonstra respeito, e talvez conforte, mas basta tanto quanto o sopro basta para curar a ferida, ou o curativo para esconder cicatriz. Há, ao longo da vida, golpes dados impiedosamente, facas que caminham no ar em direção a tantos peitos, que parecem vir com o objetivo cuidadoso de não serem esquecidas por quem fica pra ver. E, afinal, quantos tem consigo a sorte de poder desejar esquecer o que foi perdido naquela noite de janeiro? As prefeituras se movimentaram, as casas noturnas saíram em busca de alvarás. Jovens de todos os cantos dispararam sobre os integrantes da banda, sobre os proprietários da boate, congestionando as
redes sociais. Uns com empatia, outros com acusações. Todos mais ou menos comovidos. Os sobreviventes se derramaram e aqui em Londrina, recentemente vimos reabrir um dos bares fechados pela fiscalização, bastante rigorosa à época. À época. Na última semana, uma jovem disse, em entrevista ao portal Ig, que não era sua culpa ter sobrevivido, lamentando desde janeiro as dificuldades na busca por remédios e cirurgias pelo SUS. Outra sobrevivente teve voz, olhos e memória afetados pela fumaça do incêndio, mas não se queixa, pensando em outros amigos, conhecidos e desconhecidos que sofreram danos irreparáveis. Ela luta para reparar os seus. Posta a calma, compreendemos que, longe de Santa Maria, nossos problemas continuarão a existir enquanto vivermos, certos apenas de que a morte é a estação final, derradeira, fatal, e que interromper uma vida é sempre triste, seja qual for. Porque há sempre muito ainda a realizar, infinitos a concluir. Palavras que ficam por dizer, amor por distribuir. E justamente pelo peso da morte massiva e precoce, mais trágico é o coração que, vivo, não se sensibiliza, é ser humano e não sair do lugar pra pensar que, com a mesma desastrosa sorte que faz um raio cair nesse e não naquele centímetro da Terra, essa tragédia poderia ter acontecido aqui, em um dos bares que você frequenta. Um dos meus mais caros amigos podia ter me visto pela última vez. E podia ser minha a mãe que 104 vezes discou o número do filho e 104 vezes ouviu a linha cair.
Opinião
20 de setembro de 2013 DEBATES
Política
Igualdade racial. O que é isso?
Amanda Tostes
O que é concreto em você?
Nas entrelinhas das relações sociais, preconceitos são cultivados. Dados mostram uma discriminação racial; ações afirmartivas podem contemplar anseios
A
história dos africanos e afrodescendentes, quando contada, é quase sempre tratada de maneira inferior no Brasil. Nosso país se considera racialmente democrático e é muito claro que somos uma nação mestiça, cultural e biologicamente miscigenada. Para o antropólogo Kabengele Munanga, essa “democracia racial” é fruto da tentativa de “branqueamento” que ele cita no livro O Negro no Brasil de Hoje (2006), definido como a tentativa fracassada de acabar com os negros no Brasil. Por causa dessa mestiçagem, cria-se o mito da democracia racial, que é
Nós negros não queremos privilégios como declaram os contrários às ações afirmativas, mas sim igualdade de oportunidade. a ideia de que não existem mais distinções entre as raças, afinal estamos no século XXI e a escravidão acabou há mais de 120 anos, certo? Mas se formos pesquisar a cultura africana no Brasil, podemos ver que ela não existe mais completamente nas comunidades e, onde ainda se manifesta, está subjugada. Nos livros didáticos também é reforçada a imagem estereotipada e inferiorizada do negro. Uma criança negra que no início de sua vida escolar se depara com esta concepção estigmatizada, sobre como o negro era (ou
Ruthe Oliveira
é) visto desde a sociedade escravocrata até hoje, começa a se observar diferente e se isola. Isso quando não é excluído por alguns de seus coleguinhas que também não tem culpa do preconceito que reproduzem. Esta criança cresce com o desejo de ser aceita, de se incluir. Uma vez adulto e inserido no mercado de trabalho, outro triste confronto é que negros e negras (ainda) não ocupam cargos elevados. Esses elementos todos contribuem para que fiquem em dúvida sobre o valor de sua identidade para a história do país. Por isso há um grande esforço em recuperar esses traços culturais. Depois da criação da lei n° 10.639, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira em toda instituição de ensino, esse quadro tem começado a mudar. O que faltam agora nas escolas são ações de permanência, não somente nas universidades como se discute hoje, mas nos primeiros anos escolares também. Os debates sobre o racismo, propostos pelos movimentos sociais têm feito a sociedade reconhecer que a democracia racial é um mito, e que somos um país racialmente desigual. São essas discussões que ajudam na melhora da autoestima da criança negra. Nós negros não queremos privilégios como declaram os contrários às ações afirmativas, mas sim igualdade de oportunidade. Mesmo que isso não seja de imediato. As cotas são medidas de urgência que foram necessárias para o começo de um longo processo de oportunização e busca de
qualidade de vida, e ainda temos muito que avançar nesse sentido. Não avançar somente em classificar quem é negro ou não, mas um avanço real em se valer os direitos do negro, como ser humano. Mas, depois de toda essa discussão, surge uma questão: como discutir a possibilidade de igualdade racial se o negro não se identifica como tal? Definir quem é negro, no Brasil, é uma questão difícil. A pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) dá ao cidadão a liberdade de escolher sua identidade racial, de se definir negro ou não, sendo esse indivíduo negro ou não. Sendo assim, negro é quem se autodeclara negro, portanto é um posicionamento político. Além da desigualdade racial que enfrentamos, há o problema da desigualdade de gênero também, que aliada ao racismo, se torna uma ferramenta opressora contra as mulheres negras. Só podemos enfrentar esses problemas com uma arma básica: o conhecimento da história e cultura africana e a sua construção em nossa sociedade. Isso garante que lutemos pelos nossos direitos, reconhecendo que fazemos parte dessa sociedade. Somente isso pode nos garantir empoderamento, e nos capacitar a nos defender contra as ideias fortemente racistas, que por vezes se escondem por trás dos relatos da história que conhecemos. Ruthe de Oliveira é graduanda de Comunicação Social - Jornalismo, da Universidade Estadual de Londrina
NAS REDES Confira o PreTexto e as produções dos estudantes do curso de Jornalismo da UEL na internet. Mande seus comentários e sugestões de pauta através do Facebook e do Twitter. Acompanhe também a versão digital dos jornais laboratórios e as produções das demais séries no portal de notícias do curso.
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PAUTA Outro dia, um amigo meu reclamava de não se lembrar do que havia num lugar, por onde ele passava havia alguns anos, antes de esbarrar num canteiro de obras. LACUNA Na Secretaria de Cultura de Londrina, falta pessoal qualificado para trabalhar no processo de preservação da paisagem urbana. Todo o patrimônio arquitetônico, urbano-paisagístico e artístico está sendo catalogado por uma equipe de colaboradores e estagiários. NATURAL Para Elisa Zanon, que pesquisa História da Arquitetura em Londrina, o processo de modificação da paisagem é natural, porque homem e cultura são mutáveis. Ela me disse que a cidade sempre está em construção, é “uma obra de arte aberta”. IDENTIDADE Maurice Halbwachs, o sociólogo francês que criou o conceito de memória coletiva, dizia que ela define “o que é comum a um grupo, fundamenta e reforça os sentimentos de pertencimento e as fronteiras socioculturais”. DIGNIDADE Além disso, de acordo com Halbwachs, a memória coletiva reforça a coesão social “não pela coerção, mas pela adesão afetiva ao grupo”, sentimento que ajuda na organização do grupo e na mobilização em busca de melhores condições de vida para esses cidadãos. GASTOS Para a professora Elisa, que também é arquiteta, o valor afetivo é significativo, mas na maioria dos casos, ainda sobressai o retorno econômico da manutenção do patrimônio edificado.
DEBATES
ALTERNATIVA
Limpeza
Roger Bressianini
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Na foto, funcionário de empresa terceirizada varre a entrada da Prefeitura Municipal de Londrina. Mas a limpeza na administração pública não pode ser feita como a faxina da empresa contratada. Há exatamente um ano da prisão de um ex-prefeito, é hora do londrinense se lembrar de que escolher seus representantes é tarefa que o cidadão não pode terceirizar.
Felizardo e Samain, pesquisadores contemporâneos do campo da fotografia, dizem que foto e memória carregam um elevado status de credibilidade porque parecem mostrar a realidade da maneira como ela é, efetivamente. No processo de resgate das lembranças, naturalmente utilizamos imagens das coisas e quanto mais “realistas” forem esses ícones, tanto melhor para a credibilidade da memória. PRESERVAÇÃO Se um edifício é uma criação humana que participa da história de vida daqueles que passaram por aquele espaço, por que não lutar pela manutenção da sua estrutura espacial, antes de se contentar com a virtualidade das fotografias?
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Londrina
20 de setembro de 2013
VIOLÊNCIA
Relatos extraoficias Caso Ya Mukumby: um crime conhecido por todos, pelas palavras de quem não foi ouvido
A morte de quatro pessoas, entre elas Yá Mukumby, ou simplesmente dona Vilma como era conhecida pelos vizinhos na rua em que morava há mais de 30 anos - deixou o país todo perplexo. O crime teve uma enorme repercussão não só pela brutalidade que foi cometido, mas também pela fama de Yá Mukumby, uma personalidade tanto no candomblé quanto nas lutas políticas do movimento negro, e cujo reconhecimento ultrapassava as fronteira de Londrina e do Paraná. A mãe dela, Allial de Oliveira dos Santos, 86 anos, e a neta, Olivia Santos de Oliveira, 10 anos, também foram mortas. O crime aconteceu há um mês e meio na rua Olavo Bilac, no jardim Champagnat , onde os moradores ainda vivem com a lembrança da trágica noite do dia 03 de agosto. Segundo a polícia, o assassino, Diego Ramos Quirino, 30 anos e morador da rua há apenas 6 meses, teve um surto psicótico e agrediu a namorada, Patricia Amorim Dias, 19. A mãe dele, Ariadne Benk dos Anjos, 48, tentou segura-lo, com o intuito de ajudar a moça, mas acabou esfaqueada pelo próprio filho. A namorada saiu correndo atrás de ajuda. A principal testemunha que não quis ser identificada, moradora da casa vizinha de Ya Mukumby, relatou o que viu: “A mulher dele passo gritando por socorro, eu ouvi e sai, perguntei o que estava acontecendo, e ela respondeu que o marido queria a matar, na hora em que olhei para trás vi o Diego com a faca na mão e sem roupa, eu me assustei, mas, por já conhecê-lo , fui falar com ele. Perguntei o porquê ele estava daquele jeito, a resposta foi com palavras grosseiras e ofensivas, além disso, ele ainda ameaçou eu e meu filho, falou que nos mataria. Então, eu virei e sai correndo, liguei pra polícia. Ele, em vez de seguir reto, voltou e entrou na casa da dona Vilma, subiu lá. Ai eu voltei ao portão. Quando eu voltei, encontrei a dona Allial pedindo ajuda, eu falei que já tinha ligado para a polícia. Quando eu terminei de falar, ele veio e deu uma facada no peito dela. Até ai eu não sabia das outras mortes, quando a policia chegou eu falei para eles entrarem na casa por que deveria ter mais gente, quando o policial me falo das outras mortes, entrei em choque! Na minha idade, nunca tinha visto nada pareci-
Fotos: Brunna Soouza
Brunna Souza
Em poucos minutos, quatro mortes chocam moradores de uma rua considerada tranquila
A casa de Vilma Santos de Oliveira, a Yá Mukumby. Aspecto de abandono é insuficiente para denunciar a tragédia ocorrida lá do, uma cena horrível. Eu fui a principal testemunha, eu fiquei o tempo todo dentro de casa naquela noite, porque o corpo estava bem no meu portão, não dava para sair. Até hoje tenho pesadelos, não consigo sair de casa sozinha, e estou fazendo tratamento com os psicólogos da UEL”. Outro moradora, Zenilda Batista da Silva, conta como foi a trágica noite: “A noite parecia tranquila, mas, de repente, escutei três tiros. Fechei todas as janelas, pois nunca se sabe o que pode acontecer, e é muito difícil ouvir tiros nessa região. Mas os cachorros começaram a latir muito, abri a porta e vi várias pessoas na rua, sai para ver o que estava acontecendo. Foi quando vi vários policiais, carro do SIATE, da perícia do
a chegar vários carros da imprensa, mas nem eles sabiam os nomes da pessoas mortas. Foi quando um homem falou que o assassino estava sob efeito de drogas e que matou a vizinha, pois achava que ela fazia macumba para ele. Aí, concluímos que a dona Vilma estava entre as vitimas e que o assassino era o rapaz que a pou“As pessoas ainda desviam co tempo morava ali. Umas quando passam no local em semanas antes que a senhora morreu.” do crime, ele tinha passado, rua, se perguntavam de quem casa por casa, pedindo a nossa seria o corpo. Os policiais es- assinatura para montar um satavam visivelmente perdidos, lão. Todos da rua ficaram choa única coisa que eles sabiam cados, um rapaz novo. Acho responder era que quatro pes- que a pior cena foi quando soas haviam morrido, entre uma mulher chegou, parou o elas uma criança. Começaram carro e saiu correndo em diIML, igual aquelas cenas que a gente vê em filme, novela. Sai na rua e perguntei o que estava acontecendo. Me disseram que um rapaz tinha matado quatro pessoas, olhei para frente e vi um corpo no chão. Como era noite, não dava para ver direito de quem era o corpo, todos ali, moradores da
reção a casa. Foi contida pelos policiais, ela gritava e chorava muito, dizendo: ‘não, a minha irmã não’. Uma cena lamentável, aquele corpo no chão. Alguns faziam piadas, falavam que iam precisa de vários carros do IML, porque era muito corpo pra um carro só. O famoso humor negro. Minha filha ficou sem dormir durante dias, tendo pesadelos. As pessoas ainda desviam quando passam no local em que a senhora morreu. A morte ainda é um grande tabu.” Os moradores ainda sentem muito medo, muitos preferem nem lembrar da trágica noite. Essas mortes acontecem muito em filme, mas não na vida real. Realmente a gente não pode imaginar onde mora o perigo.
Londrina
20 de setembro de 2013 POLÍTICA
PR em notas
Prisão de ex-prefeito completa um ano
ESTRADAS NA REDE
Recentes, acontecimentos políticos caem no esquecimento dos londrinenses Barbosa e Ribeiro, o então prefeito teve seu mandato cassado em tumultuada sessão extraorUm ano se passou desde a dinária na Câmara Municipal, prisão do ex-prefeito de Londri- acusado de cometer infração na, José Joaquim Ribeiro (sem político-administrativa por ter partido), e os londrinenses nem pago com dinheiro público dois sequer se lembram. Figura pou- vigilantes que trabalharam em co conhecida na política, Ribeiro uma rádio de sua propriedade. surgiu como vice de Barbosa Barbosa teve os direitos políticos Neto (PDT) e acabou se tor- suspensos até 2020 e Ribeiro asnando o protagonista do cenário sumiu a Prefeitura no dia 31 de julho. político da cidade. Mas, no dia 20 de setembro “Quem não ajuda, não atrade 2012, menos de dois meses palha”. Essa foi a justificativa dada após assumir a Prefeitura, Ribeipelo ex-prefeito para deixar de ro foi preso em um hotel no lidar expediente na Prefeitura à toral de Santa Catarina por poépoca em que ocupava o cargo liciais civis do Grupo de Atuação de vice do então prefeito BarboEspecial de Combate ao Crime sa Neto, em 2011. Após discorOrganizado (Gaeco), enquanto esApós romper com Barbosa, tava de licença do Ribeiro anunciou que não cargo, alegando frequentaria mais a Prefeitura, motivos de saúde. mas não renunciou ao salario A prisão preventiva havia sido dede vice-prefeito cretada na noite anterior pelo Tribunal de Justiça dâncias políticas acerca de um do Paraná (TJ-PR), depois de Riprojeto sobre a construção de beiro ter assumido ao Gaeco, no grandes empreendimentos na dia 3 de setembro, o recebimenregião central da cidade, Ribeiro foi desautorizado por Barbosa to de propina de empresários em entrevista coletiva e, após durante licitações para a compra esse incidente, anunciou que de uniformes escolares para 35 não compareceria mais à Pre- mil estudantes da rede municipal feitura para exercer a função de de Londrina, entre 2010 e 2011. vice. Porém, sem abrir mão do O processo envolveu, além de salário de R$ 6.499,35 que re- Ribeiro, o ex-prefeito Barbosa Neto e mais 17 suspeitos. cebia dos cofres públicos. Mesmo depois de ter admi Em 30 de julho de tido ao Gaeco o recebimento 2012, aproximadamente um de propina, Joaquim Ribeiro se ano após o rompimento entre Roger Bressianini
negou a renunciar, e Londrina passou a ter em exercício um prefeito réu confesso. Diante disso, o TJ-PR decidiu pela prisão de Ribeiro, que foi pedida pelo Ministério Público, para evitar a situação constrangedora de manter o prefeito em atividade, já que ele poderia interferir nas investigações e na obtenção de provas. Ribeiro renunciou logo após ser preso, por estratégia de sua defesa. Entre a confissão e a prisão houve um espaço de 17 dias. No entanto, Ribeiro não completou nem cinco dias de prisão. No dia 24 de setembro de 2012, após novo depoimento ao Gaeco, o ex-prefeito foi solto com base num pedido de soltura do Ministério Público (MP), que considerou que ele havia contribuído com as investigações. Até hoje, Ribeiro não foi condenado. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), José Joaquim Ribeiro é um empresário e ex-presidente do Sindicato dos Contabilistas de Londrina por três gestões. Segundo o professor de Filosofia e comentarista político Elve Cenci, Ribeiro era o vice ideal para Barbosa Neto, pois era um representante do empresariado e da classe média – setores com certa rejeição ao modelo populista de Barbosa. “É nessa aproximação com a classe média, que era uma necessidade dele (Barbosa Neto) de entrar nesse
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faixa de eleitorado, que entra o Joaquim, que era um contador, empresário reconhecido, com boa penetração nas empresas”, explica. Além disso, Cenci avalia que um outro fator pesou na escolha do vice. “Ele agregou à imagem, mas, ao mesmo tempo, era alguém que politicamente jamais iria fazer sombra para o Barbosa. Não era alguém que teria intenção de tomar o lugar do prefeito depois de quatro anos”. Amnésia Das dez pessoas abordadas pelo Pre-texto na entrada da Prefeitura Municipal de Londrina (PML), apenas dois entrevistados recordaram o caso da prisão do ex-prefeito. “Ele está solto, né? Devia estar pagando pelo o que ele fez”, diz Manoel Reginaldo do Santos, 66, auxiliar de limpeza. Já Jandira Silva, técnica em enfermagem, de 42 anos, diz não se lembrar o nome do ex-prefeito. “Não me lembro o nome, mas sei que foi preso e já está solto”. Dos últimos quatro prefeitos eleitos em Londrina (com exceção do prefeito em exercício, Alexandre Kireeff), um sofre ação do MP por improbidade administrativa, dois foram cassados e um renunciou após ser preso. E o londrinense pode se preparar, pois mesmo diante da insistente crise política e dos impedimentos na justiça, nomes como Antônio Belinati e Barbosa Neto já voltaram a falar em futuras candidaturas.
Na onda das redes sociais, a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) criou contas em um blog, no facebook e no twitter. A proposta é se aproximar mais da população através de postagens sobre os benefícios da prática de esportes, os cuidados devidos ao meio ambiente e dicas culturais. Além, é claro, de esclarecimentos sobre legislação do trânsito e informações sobre a situação das estradas. A ABCR coordena o trabalho de seis empresas de concessões de pedágios que, juntas, administram 2,5 mil quilômetros de rodovias paranaenses. RISCO DE QUEDA As obras de uma escola técnica que está sendo construída na BR-158, no município de Laranjeiras do Sul - PR, correm o risco de retroceder ao seu estágio inicial. Alegando que a construção não possui autorização do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) para instalar-se à margem da rodovia, ação judicial propõe a demolição da mesma. O Tribunal Regional Federal (TRF) precisa manter a decisão para que ela se cumpra. O Governo do Estado já recorreu. A UNIÃO FAZ A FORÇA Com apenas 20 mil habitantes, o pequeno município de Ubiratã (oeste do Paraná) mostra-se engajado na questão da segurança pública. Visando equipar melhor seus policiais, moradores fizeram uma “vaquinha” para equipar melhor a Polícia Militar (PM) da cidade. O valor conseguido – R$ 100 mil – foi suficiente para a compra de uma viatura e mais alguns equipamentos.
Emerson Dias
BANDIDOS À SOLTA
José Joaquim Ribeiro: pedido de renúncia após decreto de prisão
Detentos fogem de penitenciária em Cruzeiro do Oeste Na última sexta-feira, 20, a penitenciária estadual de Cruzeiro do Oeste registrou fuga de 5 detentos. Em entrevista ao G1, o vice-diretor da penitenciária, Rodrigo Fardin, afirmou que o grupo fez uma pirâmide humana e conseguiu escapar pelo solário, que fica no pátio interno do prédio. A fuga é a primeira registrada na penitenciária, que foi inaugurada em março de 2013. A cadeia tem capacidade para 1.108 presos e atualmente abriga 665. A fuga foi registrada durante o banho de sol e até as 14h30, três já haviam sido recapturados.
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Campus
20 de setembro de 2013
UNIVERSIDADE EM CRISE
A autonomia que vai além dos “com” recursos financeiros João Costa Chaves Júnior, presidente da Associação Docente da Unesp, esteve na UEL para debater a questão da autonomia universitária Este ano ficará marcado pelos debates envolvendo a questão da autonomia universitária. No dia 27 de março, um protesto em frente à reitoria da UEL contestou a decisão do governador Beto Richa (PSDB) que, por meio do decreto 7.599, queria submeter atividades administrativas e financeiras das universidades à aprovação prévia do Conselho de Gestão Administrativa e Fiscal do Estado, criado por meio do mesmo decreto. No dia 17 de junho, o governo recuou. Outra atitude do governo estadual foi o corte de 25% no orçamento de todas as secretarias e a criação da Conta Única, medida que centralizou a verba das secretarias em uma conta administrada pela Secretaria da Fazenda. Já no dia 9 de agosto, marco da primeira assembleia entre professores, servidores e estudantes 12 anos atrás, foi realizada a primeira reunião do movimento unificado da UEL pela autonomia universitária. Na data histórica deste ano, os alunos organizaram um “arrastão” pelos centros de estudo da universidade, que culminou com a lotação da sala de eventos do Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH). Também no mês de agosto, no dia 27, a convite da reitoria da UEL, o reitor da Unesp, Julio Cezar Durigan, apresentou palestra sobre o modelo de autonomia das universidades paulistas. No dia 30, as três categorias percorreram o campus da UEL, explicando algumas das questões que regem a autonomia universitária. A manifestação terminou na Concha Acústica, centro de Londrina. Na última quinta-feira, 19, o assunto ainda era a autonomia universitária e o modelo das universidades paulistas, porém, a sala de eventos do CLCH estava com um terço de sua capacidade. O convidado, pelo Sindicato dos Professores do ensino superior público estadual de Londrina e região (Sindiprol/ Aduel), foi João Costa Chaves Júnior - presidente da Associa-
Fotos: Heron Heloy
Heron Heloy
Protesto em frente à reitoria da UEL, em 27 de março deste ano, contra o decreto 7.599 do governo do Paraná
Chaves: “A autonomia universitária sempre estará ameaçada” ção Docente da Unesp (ADunesp). Chaves falou sobre a experiência com o governo de São Paulo, sobre a estrutura interna da Unesp e como isso viabiliza – ou não – a autonomia universitária. No modelo paulista, vigente desde 1989, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Unesp recebem um percentual do Imposto so-
bre Circulação de Mercadorias e prestação de Serviço (ICMS) do estado de São Paulo para dividir. “O que as universidades recebem do Estado não é suficiente para sobreviver de maneira adequada. A Unesp, por exemplo, tem proporcionado expansão de vagas sem que tenha havido dotação orçamentária correspondente”, afirmou. Outro ponto tocado por Chaves foi o fato de os 9,57%
do ICMS destinados às universidades serem repassados por meio de decreto. “Em primeiro lugar, é preciso saber quanto custa a universidade, para que se possa pensar em uma fonte de recursos que seja estável, que varie com o produto interno bruto, com a inflação, etc., e que essa estabilidade seja garantida na constituição do Estado, e não em lei ordinária, como é no estado de São Paulo, onde to-
dos os anos temos que correr atrás para garantir um orçamento adequado”. Além das questões orçamentárias, aspectos como a relação entre reitorias e governo estadual foram debatidas. Na opinião de Nilson Magagnin, presidente do Sindiprol/Aduel, o debate não se restringe à parte econômica das universidades. “Nós queremos discutir a questão da autonomia para além do índice de financiamento das universidades. Um debate amplo: autonomia, democracia interna, relações com o governo. Autonomia plena da universidade e não só um índice de financiamento”. Para Chaves, o fato de os reitores serem nomeados pelo governador restringe a liberdade política das universidades. “Nós temos a nossa eleição, mas o conselho universitário encaminha para o governador. No final das contas, quem escolhe é o governador. E mesmo que ele continue escolhendo o mais votado, existe um compromisso do mais votado com aquele que o escolheu. E isso faz com que, na melhor das hipóteses, a reitoria tenha uma boa vontade excessiva em relação aos desejos do governo do Estado, em detrimento da comunidade universitária”.
Campus
20 de setembro de 2013 DISCRIMINAÇÃO RACIAL
Racismo institucional é debatido em palestra no HU Conferência traça relação entre preconceito e saúde pública Bruno Cunha
As interferências do racismo nos atendimentos públicos à saúde de minorias étnicas foram tema da palestra realizada no último dia 20, no Hospital Universitário (HU) da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Exemplos como a chacina que vitimou a líder do movimento negro, Yá Makumby, mostram que ainda existem reações violentas na sociedade londrinense decorrentes do preconceito. No Anfiteatro Dr. Luiz Carlos Coelho Neto Jeolás, o evento foi dividido em duas etapas. Na primeira, uma mesa formada por autoridades de diversos segmentos discursou sobre o preconceito velado nas unidades básicas de saúde, e como isso reflete nos elevados índices de mortalidade infantil e de homicídios, sobretudo na população negra. Participaram deste debate: Maria Nilza da Silva, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Asiáticos (NEAA), da UEL; José Mendes, presidente do Conselho de
Promoção da Igualdade Racial do município; Francisco Eugênio de Souza, secretário de Saúde de Londrina; Paulo César Tavares, promotor de justiça da Saúde Pública, e Berenice Jordão, reitora em exercício da UEL.
das vítimas do racismo. Alguns médicos chegam a não tocar os pacientes negros’’. A coordenadora propõe a reflexão e o fim do egoísmo, afirmando que a reversão da situação ainda enfrenta bastante resistência. Depois de um intervalo, foi “O racismo institucional é um iniciada uma pasegmento do colonialismo que lestra ministrada persiste em nossas relações” pela pesquisadora Maria Inês BarAs falas refutaram qualquer bosa, doutora em Saúde Pública manifestação de discriminação pela Universidade de São Paulo na esfera pública e, nas palavras (USP). A acadêmica enfatizou do secretário Francisco Eugênio, que o racismo tem origem em ‘‘só teremos um país fraterno programas de incentivo à vinda quando nos livrarmos das man- exclusiva de brancos para pochas raciais’’. Ao final, houve uma voar certas regiões do Brasil no homenagem à líder religiosa Yá século XIX. Nas escolas, com Mukumby, notória na luta pelos aulas que não dão importância direitos dos negros, que foi bru- para culturas de fora da Europa, talmente assassinada no início de e na mídia, com a reprodução de agosto. Maria Nilza, responsável padrões de beleza, o processo também pelo projeto LEAFRO – se consolida. ‘‘O racismo instituLaboratório de cultura e estudos cional é um segmento do coloafro-brasileiros – classifica a rea- nialismo que persiste em nossas lidade nacional como ‘‘extrema- relações. Ele é institucional, pois mente preocupante, de diferen- não é visto como problema’’, ciação de acesso à saúde pública declara.
Apresentando estatísticas que explicitam o abismo social no país, Maria Inês explica que o número de receptores de órgãos, a associações de ‘‘doenças específicas’’ a certas etnias e desvantagens de horários e localização de unidades básicas de saúde refletem ‘‘a invisibilidade e a desassistência como sinônimos de preconceito’’. Segundo a pesquisadora, não raro a própria vítima se convence de que é realmente inferior, repetindo o discurso de ódio da sociedade. A classificação em diferentes cores de pele (preto, pardo, moreno) também influencia negativamente, já que ‘‘a consciência de chegar a um lugar e ser discriminado afeta a saúde do indivíduo’’. Seria, então, um fluxo contínuo. O negro fica com seu psicológico abalado pelo racismo, e evita tratamento justamente para escapar de um eventual preconceito. Em nome da igualdade, Maria Inês fez uso da ironia para podar as raízes da segregação: “se fôssemos diferentes, não nos reproduziríamos”.
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UEL em notas MINISTÉRIO PÚBLICO ENTRA NA JUSTIÇA POR MELHORIAS NO HU O promotor de justiça da Saúde Pública de Londrina, Paulo Tavares, entrou com uma ação na última quinta-feira (19) contra o estado do Paraná e a Universidade Estadual de Londrina em razão das más condições encontradas do Hospital Universitário da UEL. O texto aponta várias irregularidades verificadas pela Vigilância Sanitária de Londrina. Os problemas foram encontrados em diversas áreas do hospital: desde o sistema de ar, água e controle de pragas até a lavanderia e o setor de alimentos. A fiscalização também encontrou falhas na unidade de internação masculina e no banco de leite humano, entre outras áreas. A ação também pede contratação imediata de servidores para o HU. O promotor de justiça afirma que faltam 236 servidores no hospital. Com a aposentadoria de funcionários, o déficit pode subir para 400 pessoas até dezembro. Além dos problemas de recursos humanos e sanitários, o Hospital Universitário também passa por dificuldades financeiras: todo mês faltam R$ 350 mil para a instituição fechar as contas. O promotor Paulo Tavares deu um prazo de 60 dias para a UEL e o governo do Paraná resolverem todas as falhas encontradas no HU.
Bruno Cunha
ÚLTIMOS DIAS PARA SE INSCREVER EM CONCURSO DA UEL
A principal promotora do evento, Maria Nilza da Silva, em frente ao cartaz homenageando Yá Mukumby: inspiração
As inscrições para o concurso público aberto pela UEL terminam nesta terça-feira (24). O teste seletivo abre vagas para os níveis médio, superior e agente universitário operacional. Entre as opções oferecidas em nível superior, estão uma vaga para comunicador social/ relações públicas, três para pedagogo e uma para médico ortopedista. Para nível médio, há dez vagas para técnico administrativo e uma para técnico em estúdio e multimídia/fotografia, entre outras. A seleção de agente universitário operacional está com uma vaga aberta para telefonista. As vagas de medicina são para uma jornada 20 horas semanais. A carga horária de todas as outras funções é de 40 horas por semana. As inscrições devem ser feitas na página eletrônica www.cops.uel.br. O edital do concurso também pode ser encontrado no mesmo endereço.
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Geral
20 de setembro de 2013
PRÉ-SAL
Lobão: ausência de grandes empresas não compromete sucesso do leilão do pré-sal Onze empresas pagaram a taxa para participar do leilão que está marcado para o dia 21 de outubro Angela Ota com Agências
Brasília - O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse hoje (20) que a ausência de grandes petroleiras no primeiro leilão do pré-sal, marcado para o dia 21 de outubro, não vai comprometer o sucesso da licitação. Ele convocou uma entrevista à imprensa para esclarecer que o governo está “plenamente convencido do sucesso do leilão”, que está assegurado pelo interesse demonstrado pelas empresas inscritas, entre elas algumas das maiores petroleiras do mundo, segundo ele. Ontem (19) a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou a lista com as 11 empresas que pagaram taxa de participação para o primeiro leilão do pré-sal, referente ao Campo de Libra, na Bacia de Santos. A lista não inclui grandes empresas petrolíferas como Exxon, Chevron, British Petroleum (BP) e British Gas (BG). O ministro criticou o pessimismo de analistas em relação ao leilão, por causa da ausência de grandes empresas. Ele também disse que não se justifica
Ministro criticou pessimismo de analistas em relação às empresas estatais
a crítica ao fato de algumas das empresas que pretendem participar da licitação serem estatais. “Qual o mal nisso? A Petrobras é considerada estatal e é um orgulho brasileiro e uma grande petroleira nacional e com grande experiência em exploração em águas profundas”, disse.
SAÚDE
Mais Médicos reprova um dos 682 profissionais com diploma estrangeiro na primeira etapa Agência Brasil
Brasília - O Ministério da Saúde divulgou ontem que dos 682 médicos com diploma estrangeiros que chegaram ao país para o treinamento da primeira etapa do Programa Mais Médicos, 11 ficaram de recuperação e um foi reprovado. Por três semanas, os profissionais tiveram aulas sobre saúde pública, com foco na organização e funcionamento do Sistema Único de Saúde e língua portuguesa e em seguida foram avaliados sobre os temas. O médico que foi reprovado é libanês e atuou na Ucrânia antes de vir para o Brasil.
Ele iria atuar em Franco da Rocha (SP), mas foi eliminado do programa porque teve desempenho final abaixo de 30% nas avaliações. Quatro médicos que atuavam em Cuba, três na Venezuela, um na Rússia, um na Bolívia, um na Argentina e um na Espanha tiveram desempenho entre 30% e 50% e vão passar por duas semanas de reforço em Brasília antes de começarem a trabalhar pelo programa. Para o cálculo de desempenho, foram considerados o conjunto de exercícios e atividades do módulo de avaliação (40%) e o teste final (60%).
Lobão esclareceu que, se houver apenas um consórcio apresentando propostas no dia 21 de outubro, o leilão não será comprometido. “Isso não mudaria nada, porque o bônus de assinatura e o mínimo de óleo que deverá ser destinado para a União teria que ser cum-
Manifestantes protestam no STF contra reabertura de julgamento
prido. Mas acreditamos que haverá mais de um consórcio, dois ou três”, disse o ministro. A empresa vencedora será a que reverter o maior percentual do petróleo excedente à União. A Petrobras terá participação de no mínimo 30% no consórcio vencedor. A empre-
sa que vencer o leilão terá que pagar um bônus de assinatura à União de R$ 15 bilhões. A área a ser licitada tem cerca de 1,5 mil quilômetros quadrados. O volume de petróleo recuperável deverá oscilar entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris.
GREVE
Bancários fecham 7.282 agências no segundo dia de greve
Agência Brasil
Agência Brasil
Brasília – Dois manifestantes deixaram ontem (19) 37 pizzas na portaria do Supremo Tribunal Federal (STF) para protestar contra a decisão da Corte, que reabriu o julgamento de 12 réus condenados na Ação Penal 470, o processo do mensalão. Os dois se identificaram apenas como Ana e Tarso e se declararam integrantes do Movimento Novo Brasil. Eles disseram que “estão decepcionados com o resultado do julgamento”. Por 6 votos a 5, o STF decidiu ontem (18) que 12 réus condenados no processo terão direito à reabertura do julgamento. Eles tiveram pelo menos quatro votos a favor da absolvição na análise de um crime.
Brasília – A greve dos bancários ganhou força hoje (20) com o fechamento de 7.282 agências e postos de atendimento em todo o país. Foram 1.143 agências a mais que na véspera, o que equivale a crescimento de 18,5% em relação às 6.145 unidades fechadas no primeiro dia de greve. O balanço foi divulgado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), no início da noite, depois de os sindicatos regionais avaliarem o movimento de adesões nesta sexta-feira. De acordo com o Comando Nacional da categoria, a greve está se ampliando rapidamente em todo o país. A Fenaban informou, por meio de nota, que tem uma
prática de negociação pautada pelo diálogo com as lideranças sindicais, resultando em uma valorização constante da Convenção Coletiva do Trabalho. “Nos últimos anos, porém, tem sido recorrente que as lideranças sindicais tenham um calendário próprio para deflagração de greve, independente dos espaços de negociação. A Fenaban lamenta essa posição dos sindicatos, que causa transtorno à população, e reitera que a maioria das agências e todos os canais alternativos, físicos e eletrônicos, está funcionando. Os bancos respeitam o direito à greve, entretanto, farão tudo que for necessário e legalmente cabível para garantir o acesso da população e funcionários aos estabelecimentos bancários”, informou a nota.
Giro
20 de setembro de 2013 Angela Ota
“Se houvesse essa possibilidade, eu seria o primeiro a dar início a guerra para a devida separação. [...]Quando eu digo que o Brasil não vai para frente em razão do Nordeste vocês ficam nervosos, mas infelizmente é assim.”
Gustavo Zanelli Ferreira, advogado de Cambé - PR em postagem no Facebook sobre o povo maranhense e em defesa da separação do Norte e Nordeste e parte do Centro-Oeste dos demais do Sul e Sudeste. O MPE (Ministério Público Estadual) no Maranhão encaminhou notícia-crime à Justiça e uma representação à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Estado contra o advogado, que está radicado no Estado nordestino. UOL, 14/09/2013
“Quem perdeu: a direita, a esquerda ou o STF que deve receber agora + de 50 mil pedidos de melar o já foi julgado? #EmbargosInfringentes.”
“[O STF] não
lugar preferido. Nada se compara. Não há lugar igual. ” Beyoncé Knowles, uma das atrações do Rock in Rio 2013. ISTO É, 18/09/2013
(FOTO: Raul Aragão/ Facebook Rock in Rio)
pode se expor a pressões externas, como aquelas resultantes do clamor popular e da pressão das multidões. Ministro Celso de Mello, ao explicar o voto de desempate a favor dos desembargos infringentes no julgamento do Mensalão.
”
fOTO MINISTRO CELSO
Curtas INSTAGRAM As atrizes da Globo, Carol Castro, Rosamaria Murtinho, Nathalia Timberg, Susana Vieira e Bárbara Paz estão “de luto pelo Brasil.” Em foto postada no Instragran, as atrizes vestem preto e fazem “cara feia”, registrando sua opinião sobre o voto de Celso Mello, no caso do Mensalão. Os internautas não perdoaram, e a foto virou motivo de piada. ESPORTE
Marcelo Tas sobre o julgamento do mensalão, no Twiter. 18/09/2013 (foto: arquivo pessoal/ Facebook)
“O Brasil é o meu
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G1, 18/09/2013
“Porque eu quis. Pode ir lá e denunciar, tá bom?”
Capitão Bruno, BP ChoqueBruno, capitão do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal, ao explicar o motivo pelo qual usou spray de pimenta contra manifestantes. UOL, 14/09/2013
Brasil contará com 100 atletas brasileiros na primeira edição dos Jogos Sul-americanos da Juventude, que ocorre entre 20 e 29 de setembro. Na competição para esportistas de até 18 anos de idade, a delegação nacional competirá em 19 modalidades contra adversários de 14 países do continente. CMTU O major da reserva do Corpo de Bombeiros Arnaldo Sebastião é o novo diretor de trânsito da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU). Anunciado na tarde de sexta (20), Sebastião é advogado, trabalhou nos Bombeiros por 27 anos e já foi diretor de trânsito em Arapongas por quatro anos. EDUCAÇÃO O governador Beto Richa (PSDB) afirmou na sexta (20) por meio do seu perfil no Facebook que vai honrar os compromissos assumidos com os professores no próximo pagamento, com uma correção salarialde 0,6% retroativo a maio deste ano. VIAGEM A presidente Dilma Rousseff viaja no domingo para Nova York e vai participar da abertura da 68º Assembleia Geral das Nações Unidas que está marcada para o dia 24, terça-feira. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, vai acompanhar Dilma. Segundo o comunicado da Chancelaria, ambos estarão em “visita de trabalho” de 23 a 25 de setembro. DEMISSÃO O técnico do Flamengo, Mano Menezes, pediu demisssão na quinta-feira (19) após a derrota por 4 a 2 para o Atlético Paranaense no Maracanã. Mano afirmou que não conseguiu passar para o grupo aquilo que pensa de futebol e por isso precisava sair.
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Mix
20 de setembro de 2013 Ananda Ribeiro
MÚSICA
Ópera aos 40 Espetáculo O Mikado foi apresentado no final de semana, em comemoração aos 40 anos do Coro da UEL Andreza Pandulfo
Mesmo após a tarde de chuva e forte ventania que destruíram parte da cidade, o público compareceu em grande número ao teatro Marista no último domingo para assistir a ópera O Mikado, espetáculo apresentado em comemoração aos 40 anos do Coro da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A peça, cantada em inglês, foi acompanhada por legendas projetadas em fundos cujas cores variavam em sintonia com a dramaticidade das cenas. Diálogos em português que faziam alusão a situações conhecidas de Londrina, como os pombos do bosque ou a falta de espaços teatrais, contrastavam com a atmosfera japonesa e provocavam gargalhadas na plateia. A professora de inglês, Carla Emy Saikawa, 29, assistiu a uma ópera pela
“Uma peça cômica, engraçada e com um enredo quase absurdo” primeira vez e diz ter se surpreendido: “Eu vim sem esperar muita coisa e achei fantástico. Ri muito em várias cenas”. A obra do século XIX, escrita pelos ingleses Arthur Sullivan e W. S. Gilbert, se passa na fictícia cidade de Titipu, no Japão, onde o Mikado, imperador do país, impede os habitantes de flertarem entre si. Em meio a esse cenário, um menestrel e uma bela jovem se apaixonam, mas a moça está comprometida a se casar com o grande executor daqueles que descumprem a lei. A partir disso a trama se desenrola e caminha para um desfecho divertido e inesperado.
A montagem foi dividida em dois atos e contou com a regência de Regina Balan e Paloma Scucuglia, da Divisão de Música da UEL: “É um espetáculo cômico, com um enredo quase absurdo. Foi escolhido para instruir, trazer experiência esEntre o Coro da UEL e solistas de Curitiba, Londrina e Maringá, 56 tética e musical e, ao pessoas se apresentam no espetáculo mesmo tempo, divertir o público”, define Paloma. O projeto foi desenvolvido em parceria nhei um pouco, mas foi divertido. O espetáculo exicom a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a ge muita atenção, porque tudo depende das marcaEscola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). ções de palco e das cenas que as regentes propõem Fizeram parte da assessoria vocal os professores pra gente”. John de Castro (UEM) e Denise Sartori (Embap): O Mikado marcou a estreia do Coro da UEL “John recebeu esse espetáculo em Maringá, sendo na apresentação de óperas, como revela a regenencenado pela Denise Sartori e seus alunos. Aí sur- te Paloma Scucuglia: “É a primeira vez que a gente giu a ideia de unirmos as equipes e realizá-lo aqui embarca nessa aventura e ainda estamos embasbaem Londrina também”, explica Paloma. cados com o quanto isso fluiu bem”. O espetáculo O afinado coro da UEL acompanhou solistas também teve a missão de aproximar o público do de Curitiba, Londrina e Maringá. A integração pre- estilo, pouco difundido no Brasil, como aponta John: tende formar um núcleo de práticas de conjuntos “Queremos quebrar o paradigma de que ópera é só vocais, como ressalta John de Castro: “O evento é aquela coisa caricata de grito ou de som”. Denise importante porque consolida o nascimento desse Sartori, uma das maiores referências do canto lírico grupo permanente para fazer outros trabalhos. É paranaense, conclui: “A ópera é uma arte completa. um projeto institucional que partiu da prática e en- Literatura, teatro, música, tudo. E as pessoas não volve nossa amizade profissional, pessoal e nosso conhecem. É preciso que espetáculos desse tipo amor pelo canto”. Solista em sua primeira ópera, sejam disseminados e reconhecidos”. Os aplausos o funcionário público, Saulo Rousseau, 27, admite exaustivos ao final do espetáculo mostraram que o que conciliar música e teatro não é fácil: “Eu apa- público londrinense entendeu o recado. Divulgação
CINEMA
Tech&Cult
Festival consolida sétima arte no município
Renan Cunha
SOM AO REDOR REPRESENTARÁ O BRASIL EM VAGA NO OSCAR “O Som ao Redor”, do diretor recifense Kleber Mendonça Filho, foi o longa-metragem indicado pelo Brasil para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A produção, que foi exibida no Festival de Cinema de Londrina no ano passado com a presença do diretor na cidade, ainda precisa disputar com produções de outros países para ficar entre os cinco finalistas da categoria. A escolha dos finalistas será anunciada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos em 16 de janeiro. “O Som ao Redor” ganhou a preferência do Ministério da Cultura em meio a outros longas como “Colegas”, de Marcelo Galvão e “Faroeste Caboclo”, de René Sampaio. “Nunca fico esperando por um prêmio. Mas muita coisa boa aconteceu com esse filme. Não descartaria essa possibilidade [de vencer o Oscar]”, contou Mendonça Filho. Há mais de dez anos, em 1999, o Brasil perdia uma de suas maiores chances de levar
o Oscar para casa, com o filme “Central do Brasil”, de Walter Salles e interpretação de Fernanda Montenegro. Cinco anos depois, “Cidade de Deus” surpreendia Hollywood ao receber quatro indicações – melhor diretor, roteiro adaptado, edição e fotografia. Em 2011, “Lixo Extraordinário” concorria na categoria de melhor documentário. Desde então, o cinema nacional não teve outra oportunidade Divulgação
de disputar o prêmio. As esperanças recaem sobre o filme que se passa na zona sul de Recife. São histórias da classe média, onde os dramas divididos pelos muros de prédios e condomínios se cruzam. Kleber também dirigiu o documentário “Crítico”, além de curtas-metragens.
Bruno Leonel
Começa nesta quinta-feira,19, a 15ª edição do Festival Kinoarte de Cinema. Atualmente o festival mais antigo de todo o estado – que antes se chamava Mostra Londrina, e agora tem novo nome – contará com a exibição de 85 filmes – 28 longas e 57 curtas – durante os 11 dias de festival que acontecem na sala 4 dos cinema Cinesystem do Londrina Norte Shopping. Uma das novidades esse ano será o Lounge do Festival Kinoarte, especial dessa 15ª Edição Londrina. O Lounge será um ambiente de convivência entre os produtores locais com os de fora e também para os frequentadores que quiserem esperar entre uma sessão e outra. Kinocidadão: formação de público Trata-se de uma parceria da Kinoarte com a Secretaria Municipal de Educação – que define as escolas contempladas, prioritariamente as de bairros periféricos – com apoio da Viação Garcia, que transporta gratuita-
mente os alunos. Durante cinco dias seguidos, os estudantes terão acesso gratuito a 10 sessões do filme “Brichos 2”- “Muitas das crianças que participam do projeto vão ao cinema pela primeira vez na vida”, afirma um dos coordenadores do festival, Guilherme Peraro. No ano passado, o projeto levou 1,5 mil estudantes para diversas sessões da primeira versão de “Brichos”. Durante todos os dias de evento, haverão ônibus gratuitos saindo da rua Quintino Bocaiúva – em frente ao hotel Crystal – indo para o festival a cada meia-hora. Memória Durante as últimas edições, ocorreram vários momentos marcantes para o público. Atração que atrairá pessoas até de fora da cidade, como é o caso do publicitário Ulisses Mateus de
Maringá. Segundo ele, o evento é muito importante para o circuito do audiovisual na região; “Essa é a primeira vez que estou participando, e o que mais me chamou a atenção foi a oficina sobre maquiagem de efeito especial, acho muito importante, pois a região carece de coisas do tipo” O festival é uma realização da Kinoarte (Instituto de Cinema de Londrina) com produção da Filmes do Leste, Kinopus, patrocínio da Copel e da Sanepar através da Lei Rouanet – Ministério da Cultura, da Prefeitura de Londrina via Promic, além do apoio do Governo do Estado do Paraná pelo Conta Cultura. O evento integra o projeto Festivais Kinoarte que, em Londrina conta com apoio da RPC TV.A programação pode ser conferida em www.kinoarte.org.
Esporte
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TUBARÃO
Todos querem o VGD Torcida do Londrina está ansiosa para reacender o “caldeirão”
O Londrina Esporte Clube (LEC) quer reassumir o estádio Vitorino Gonçalves Dias (VGD). O VGD, construído em 1947 e inaugurado em 1956 com um jogo entre o LEC e o Corinthians, foi o CT do LEC por 20 anos até que, em 2006, perdeu a cessão por problemas na documentação e estrutura do estádio. Mesmo assim, o VGD continuou a ser utilizado como sede administrativa do Londrina. O presidente do clube, Cláudio Canuto, alega que “se não tivesse uma pessoa do LEC cuidando, o estádio poderia ter se tornado ponto de droga”. Para recuperar oficialmente o estádio, o clube precisa quitar dívidas de impostos. No dia 13 de setembro, O prefeito Alexandre Kireff solicitou junto ao Procurador Geral do Município, Zulmar Fachin, a suspensão do processo de reintegração de posse do VGD pela prefeitura por 180 dias, para que “durante esse período se desenvolva uma forma de legitimar o uso do VGD pelo LEC”. Kireff postou em seu blog que “esse processo iniciou-se em 2010, quando o Município ingressou com uma ação de reintegração de posse do VGD.” O prefeito afirmou que “existe uma série de considerações que sustentam esta solicitação que envolvem, desde a reorganização da entidade através da intervenção da Justiça do Trabalho, até ao entendimento de que o Londrina representa parte de nosso patrimônio cultural e esportivo, passando por várias outras também bastante relevantes”. Desde 2011, o VGD é utilizado pelas escolinhas de futebol do LEC, além de atender a categoria juvenil de base e quase todos os jogos que a Federação de Esportes de Londrina (FEL) solicita. O LEC também fez algumas reformas de manutenção no estádio, mas ainda falta muita coisa. “Queremos fazer uma academia, reformar o alambrado, mas se não houver a cessão da prefeitura não posso usar o dinheiro do LEC para isso”, disse Canuto. O presidente disse ainda que eles querem “documentar algo que já acontece na prática”. O advogado Marcelo Aparecido Fuentes, atual vice-presidente e um dos fundadores da Falange Azul, torcida organizada do Londrina, acompanhou vários jogos do LEC, tanto no VGD quanto no Estádio do Café. Ele acredita que
Fotos: Ananda Ribeiro
Ananda Ribeiro
Marcelo Aparecido Fuentes, um dos fundadores e vice-presidente do LEC torce para que o clube fique com o VGD
Os meninos da escolinha do LEC sonham em ser grandes jogadores de futebol a maior parte da torcida prefere o Vitorino. “O público que comparece ao Café hoje - 7 mil, 8 mil em média -faz parecer que o estádio está vazio. Aqui no VGD, o estádio se transforma em um caldeirão!”, explicou empolgado. Marcelo comentou que “os clubes da capital tem até certo receio de jogar no VGD, e que a pressão da torcida sobre o time é muito importante”. O estádio Vitorino Gonçalves Dias foi palco de muitas vitórias para o clube londrinense. Marcelo se lembra de um jogo de 2007, da Copa Pa-
raná. “O Nem, camisa 10 do Londrina, recebeu a bola do meio da rua, viu que o goleiro estava um pouco adiantado, chutou de lá e fez o gol. Deu repercussão nacional, saiu até no Fantástico. Foi falado no programa que aquele gol que o Pelé perdeu na Copa, o Nem fez nesse dia aqui. Foi feita até camiseta alusiva ao gol”. Edson Henrique dos Santos, entrou no Londrina em outubro de 1988 para ser gerente da extinta série Campestre. Depois, foi administrar a reconstrução do VGD. “Tem-
pos atrás, toda a administração que tem lá no atual CT (da empresa gestora, SM Esportes) era aqui no VGD. Morava jogador aqui dentro, as refeições eram feitas todas aqui... Hoje os jogadores ficam lá na SM. Mas ainda temos 250 garotos que treinam aqui. Temos professor, funcionário...”. Edson acredita ser muito importante para o clube reassumir o campo, “porque o Londrina vai fazer 57 anos em abril do ano que vem e não tem uma casa.” O ex-jogador do LEC, Cassiano Ribeiro, de 33 anos,
trabalha desde 2011 como professor da escolinha. Para ele, o VGD é a casa do Londrina. “Eu, que já senti o sabor de vencer aqui dentro com estádio lotado numa semifinal do paranaense, sei como é. A história do Londrina se conta aqui no VGD.” Tanto Marcelo, quanto Edson e Cassiano concordam que a proximidade entre os jogadores e a torcida dentro do Vitorino, além do caldeirão que se forma com o estádio lotado, são emocionantes! “O pessoal que vem jogar aqui conta que se assusta, então sempre é bom jogar no VGD”, argumentou Cassiano. Para o ex-jogador, o futuro do Londrina é a escolinha. “Se daqui a 10 anos sair pelo menos cinco jogadores profissionais daqui, já é um grande ganho. Mas o objetivo é criar homens de caráter. O VGD está sendo muito bem usado pela escolinha e os pais preferem, por ser um lugar central.” Um dos alunos é o Felipe Inácio da Silva, de 12 anos, que está na escolinha há quase um ano. Ele gosta muito de jogar no VGD e quer ser jogador profissional de futebol. De qual time? Ele torce para o Corinthians, mas está valendo o Timão, o Santos e até o Palmeiras! Felipe treina duas vezes por semana, duas horas e meia por dia. “Meus pais apoiam, dão muita força. É treinar, treinar e treinar, pra jogar, vencer e ser campeão”.
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Perfil
20 de setembro de 2013
TRADIÇÃO
Conhece o Bar do Jaime? E o Jaime,do bar? Andreza Pandulfo e Giovanna Machado
Há 41 anos em Londrina, o bar já é conhecido da população local, conheça também o dono dele Quem mora em Londrina e frequenta regularmente o centro da cidade, possivelmente já ouviu falar do Bar do Jaime, um boteco família, com comida boa e ótimo tanto para um happy hour com os amigos, quanto para tomar aquela pinguinha no balcão. O bar existe desde 1972 e está localizado em uma pequena “porta” do Centro Comercial, que às sextas-feiras, dia da costelinha de porco, expande suas disputadas mesas pelo corredor térreo do edifício. Mas o que o Pretexto quer apresentar ao leitor hoje, não é o Bar do Jaime, mas sim, o Jaime, do Bar. Jaime dos Santos Mendes Gomes é português, de Fátima, tem 61 anos e veio aos 3 para o Brasil, acompanhando a família que fugia da miséria europeia pós-guerra. Quem o conhece, ou já foi ao menos uma vez no bar, não esquece sua simpatia. Um homem simples, de cabelos pretos, óculos quadrados combinando com o cabelo, à primeira vista parece um senhor tímido, mas durante a entrevista encontramos um imigrante determinado, de inúmeras viagens e histórias para contar. Ali mesmo, no corredor do Centro Comercial, Jaime montou uma mesa para que pudéssemos conversar. Quando chegou ao Brasil, em 1954, foi morar em Maringá, onde ficou até 1972 trabalhando como taxista, juntamente com o pai. Após ser assaltado, o patriarca decidiu abandonar a profissão e migrou com a família para Londrina, onde, aconselhados por um tio que já ti-
“Imigrante não tem medo de para o mundo.” nha um bar na cidade, entraram no ramo também: “Apesar do táxi, eu já tinha trabalhado com bar. Aí montamos, meu pai faleceu e eu continuei. Eu gosto muito daqui. E tem que gostar, né? Não é todo mundo que consegue trabalhar dentro de um bar”, destaca. A rotina de Jaime começa cedo. O bar abre de segunda a sábado das oito da manhã às oito da noite, mas o dono chega antes. Jaime está lá antes das sete da manhã para organizar o espaço e depois levar a neta de 11 anos para a escola: “Eu venho aqui cedo e ela (a neta) fica se arrumando. Eu ponho as águas pra ferver, os fogos pra andar e faço o lanchinho dela. Ela desce 7h10, 7h15
Com simplicidade e simpatia, Jaime conta suas histórias durante a entrevista e eu a levo para a escola. Meio-dia vou buscar”. À noite, ele só vai embora por volta das nove da noite. Aos domingos, fica em casa descansando com a família, vai para a chácara, clube ou para algum lugar onde possa executar seu talento como pescador. A entrevista é interrompida diversas vezes por clientes e vizinhos se despedindo ou brincando com dono do bar. Questionado se essas relações geram amizades, Jaime responde sem dúvidas: “Eu não tenho amigo que não seja cliente ou cliente que não seja amigo. Faz cinco anos que eu também moro aqui (no prédio). Então, é o quintal da minha casa. Domingo eu venho aqui fazer uma coisinha ou outra, correr aí passa alguém na rua e eu pergunto o que tá fazendo por aqui. A pessoa diz que quer tomar uma ‘água’, aí eu falo: ‘Vamoslá!’. Já entra, já toma uma. Eu tenho muitas amizades de muito tempo aqui”. Em 2001 um desses amigos convidou Jaime para um novo desafio: trabalhar em construções nos Estados Unidos para ganhar dinheiro. E ele foi: “Fui trabalhar nos EUA por 600 dias, 3 temporadas de 200 dias, em 2001, 2002 e 2003. Mas o bar não fechou! Meu pessoal continuou aqui trabalhando, eu fui, voltei e trouxe o dinheiro. Foi ótima a experiência”, enfatiza. Quem, inicialmente, não gostou muito da experiência foi Isabel, a esposa de Jaime: “A mulher ficou meio invocada comigo. Me chamaram para ir pra lá, fa-
laram que pagavam tanto por hora. Eu tinha um terreno perto do aeroporto, queria construir alguma coisa lá e tinha que ter um dinheiro bom. Falei: ‘Eu vou pros Estados Unidos, se eu conseguir, eu construo’. Aí deu certo.” Mas e o inglês? “Já tinha o básico da escola, né? Mas lá só trabalhava com brasileiro, então me virava”, explica, contando que daqui a dois anos pretende voltar ao país, dessa vez para passear, na companhia de Isabel e da neta. Além dessas três temporadas nos Estados Unidos, Jaime já foi seis vezes para Portugal, três para a Espanha, conhece grande parte do Pantanal, Paranapane-
“Parar só quando eu morrer estiver inválido” ma, São Paulo e já foi para o Marrocos. Perguntamos se ele não tem medo de se aventurar dessa forma. A resposta foi enfática: “Não! Nós somos imigrantes, né? Imigrante não tem medo de correr para o mundo”. Tanto Jaime quanto a sua esposa são aposentados, mas ele não pensa em parar de trabalhar: “Não, não. Não tem jeito de parar, né? Parar só quando eu morrer ou estiver inválido, mas eu tenho 61 anos... Enquanto estiver bom, não tem porque parar”, pondera. Ele e Isabel se conheceram em 1969. Os dois trabalhavam no bar Vila Rica: “Eu vim pra cá em 68 e em 70, voltei pra Maringá. Nós
começamos a namorar, mas ela ficou. Aí a gente namorava por carta, né? Não tinha telefone, igual hoje. Quando voltei, ela ainda trabalhava no Vila Rica. No ano seguinte, final de 73, ela veio trabalhar aqui, a gente já namorava e depois casamos, em 73 mesmo”, relembra Jaime. O casal tem dois filhos, o Jaiminho, de 38 anos, que trabalha no bar com os pais e a Célia Juliana, de 36 anos, advogada, mas que no final da semana também ajuda no estabelecimento. A família se completa com a já citada neta Juliana, filha de Célia. Assim, aberto a novos desafios, Jaime leva a sua “muito boa vida”, como ele mesmo fez questão de frisar durante quase toda a conversa. No bar, muitos pratos surgiou ram ao acaso, para atender um freguês ou outro até se tornar parte do cardápio, como a famosa costelinha de sexta. Quando a família decidiu fazer a feijoada aos sábados, começaram a prepará-la às sextas, no fim da tarde. A costelinha defumada era muito cara, então Jaime comprava a carne e fritava. Os clientes sentiam o cheiro e queriam um pedacinho: “Eles pediam: ‘Oh, Jaime e essa costela aí? Tira um pedacinho para mim’. Todo mundo queria”, conta. Atendendo aos pedidos, juntaram a carne com a mandioca, e hoje chegam a fritar até 50 kg de costela a cada sexta-feira. Com o Jaime é assim: tempero saboroso, cachaça boa e acolhimento familiar. Os clientes das mais variadas idades e estilos agradecem.