Questão de Ordem - 2011.2 (4ª edição)

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Foto:Herbert Clemente

Dr. Honoris Causa pág.

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Novas bandas pág.

13 Foto: Giovanna Ismael

Foto: Divulgação

campus

entrevista

Foto: Herbert Clemente

CULTURA

política

Eliseo Verón no QO pág.

Acessibilidade pág.

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QuestãodeOrdem

Sucateamento do HU se agrava e profissionais da saúde reagem Fotos: Thaís Garcia

portando faixas e cartazes, médicos residentes e internos fazem caminhada de protesto, abraçam o hu e forçam uma audiência pública para discutir crise | PáG. 9

DROGAS

BALANÇO

DEMOLIÇÃO

Rômulo Polari avalia o seu mandato | pág. 12

Após 17 anos, Sala Preta sai de cena | pág. 15

Campus

Educação

MPF investiga revalidação

Federais do NE Seleção convoca Estatuinte volta Neabi promove superam UFPB alunos da UFPB a ser promessa ciclo de cinema

O Ministério Público mantém a recomendação de que a UFPB não revalide nenhum diploma de Medicina antes que sejam esclarecidos os parâmetros “indiscriminados”. A coordenação do curso se defende e considera denúncias “irresponsáveis”, alegando que há outros interesses por trás das acusações. pág. 7

A Universidade Federal da Paraíba caiu uma posição no Ídice Geral dos Cursos (IGC). A avaliação é divulgada todos os anos pelo Ministério da Educação. Com a queda da instituição, a Paraíba passou a ocupar a 6ª posição, ficando atrás de universidades federais de Pernambuco e do Rio Grande do Norte. pág. 3

Esporte

Fotos: Thaís Garcia

Fotos: Herbert Clemente

Fotos:Divulgação

Em pauta: maconha na universidade? | pág. 5

A Seleção Brasileira de Futebol Americano pré-convocou 5 atletas. Todos fazem parte da Associação Desportiva dos Espectros aqui da Paraíba e dois deles são alunos da UFPB. Eles são os únicos nordestinos que conseguiram entrar na lista de pré-convocação. A equipe também fechou parceria com o Botafogo. pág. 8

Política

O processo de modificação do regimento da universidade há tempos é tema de campanha eleitoral. Foi promessa do reitor Rômulo Polari, mas nunca foi cumprida. Para a eleição do próximo ano, todos os reitoráveis mantêm a instauração da estatuinte como projeto de campanha. O tema foi discutido e gerou curiosidades. pág. 11

Cultura

O ciclo de cinema Atlântico Negro trouxe para a UFPB, entre os dias 28 de novembro e 2 de dezembro, debates sobre os problemas enfrentados pela cultura afrodescendente. A iniciativa foi do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afrodescendestes e Indígenas (Neabi) e reuniu toda a comunidade interessada. pág. 14


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opinião

JOÃO PESSOA - PARAÍBA 8 A 15 DE DEZEMBRO DE 2011 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB

editorial

Notícias

Gastos do meu, do seu e do nosso dinheirinho

de uma

história pública Foram quatro edições, 64 páginas, aproximadamente 120 matérias, mais de 92 mil palavras. Se colocássemos todas essas palavras alinhadas, uma após a outra, teríamos mais de 11 km de texto, com o que seria possível dar cerca de duas voltas e meia em torno de todo o Campus I da UFPB. Percorremos esse longo caminho para tentar chegar o mais próximo possível da universidade, tentando fazer com que o leitor não se acomodasse e buscasse se informar sobre as coisas de seu tempo e de seu entorno. Com o fim do semestre letivo, se encerra também a produção desta turma de alunos à frente do Questão de Ordem. Fazendo esse levantamento como uma prestação de contas, é hora de se perguntar também: Quem lê tanta notícia? Não temos uma pesquisa de mercado para avaliar, mas o que se pode afirmar é que quem lê tanta notícia consegue hoje enxergar além das divisórias dos gabinetes administrativos da UFPB. Foi dessa forma que tentamos aproximar a sala de aula desses ambientes decisórios que nem sempre incluem a classe estudantil no processo. Prova disso é que, nas três primeiras edições, citamos os termos “aluno” e “estudante” 404 vezes, quase tantas quanto o obrigatório “UFPB”, que foi pronunciado 478 vezes em nossas matérias. Com este claro e confesso direcionamento editorial, as paredes da universidade se tornaram mais transparentes e as pessoas por detrás dos cargos ganharam nome e responsabilida-

de. Suas ações se encontraram com suas consequências neste jornal e na opinião de quem é parte da comunidade universitária, para quem falamos e de quem ouvimos. Nada nos bolsos ou nas mãos era o se tinha para iniciar este processo de desvelo dos procedimentos, das práticas administrativas e do comportamento das pessoas que compõem a universidade. Em uma redação com 16 computadores antigos, em que só funcionam três, formamos uma equipe de 24 repórteres, que diante de nossos próprios desconhecimentos sobre os temas, nem sempre fizemos a melhor leitura dos fatos nem sempre atingimos o cerne dos problemas. Entretanto, o que nos diferenciou foi, além da condição real de produzir um jornal por semana, o indubitável desejo de ir atrás dessa cobertura da universidade que, até então, não era feita. A ausência de informação de outrora provocou abdicações involuntárias de discussões, cuja participação de todos deveria ser imperativa, uma questão de ordem. Por entre fotos e nomes, você viu passar por aqui o resultado do trabalho de futuros jornalistas que transformaram a expectativa em exercer seu ofício profissionalmente em um trabalho real e que, no presente, já demonstrou seus resultados. Por aqui você pôde ver a universidade se transformar. O Questão de Ordem, nos semestres seguinte, continuará a inseri-lo nos debates da instituição para que você seja um partícipe deste processo. Por que não? Por que não?

É engraçado como grande parte das pessoas gosta de gastar dinheiro com futilidade, em vez, de pensar na necessidade. Isso acontece com muita gente, inclusive comigo. Comprar tornou-se uma forma de ter prazer. Mas, claro, até que se prove o contrário, cada um tem o livre arbítrio de gastar o seu contracheque como bem entender, afinal, pagamos nossos impostos e não devemos satisfação a ninguém. Agora, o que acontece quando o nosso dinheiro está em cofres públicos? Poucas são as pessoas que conhecem o destino do que pagamos ao governo. Neste ano, o Impostômetro, o instrumento criado pelo Governo Federal para apresentar em valor absoluto o dinheiro arrecadado por impostos, chegou a aproximadamente 1 trilhão e 340 mil reais. Sabemos que esse montante é dividido entre áreas de interesse público, como saúde, infra-estrutura, educação. A verba destinada para esse último campo, também inclui as universidades públicas do Brasil. É dessa realidade que eu questiono, a nossa realidade, a realidade da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Sabe-se que a receita da UFPB é em média de 750 milhões de reais, mas o que se percebe é que esse dinheiro é muito mal aplicado. Nós, universitários, sentimos falta de ações para incentivar e melhorar a nossa aprendizagem. No semestre passado, teve destque nacional o ca-

so do curso de Comunicação em Mídias Digitais, que não tinha prédio nem programas adequados para as aulas. No final de outubro, os estudantes do Curso de Teatro, perderam uma sala de extrema importância prática em pleno período letivo, sem nem receber um aviso prévio. No Laboratório de Jornal Impresso, conhecido por Chip II, do Departamento de Comunicação e Turismo (Decomtur), há cadeiras de marca alemã que custam muito ao dinheiro público, ao passo que contém 16 computadores, mas apenas 3 funcionam. De que adianta investir em belas cadeiras que, de fato, só servem para sentar, enquanto há computadores quebrados, limitando a nossa formação. Isso tudo, além, de tantos outros problemas que encontramos na instituição. Mas, e aí? Como ficamos? É muito fácil enfeitar a UFPB e apresentá-la para comunidade acadêmica, para o estado e para país assim, com jardins maravilhosos, móveis de marca e máquinas meramente expostas. Isso compõe a estética, não a funcionalidade de uma instituição de ensino. Acredito que isso seja apenas uma tentativa de maquiar a verdade em que nos encontramos. Contudo, queridos gestores, lamento informá-los, cansamos! Claro que ter uma universidade bonita é agradável, mas antes disso queremos estrutura adequada e equipamentos que funcionam. Com condições satisfatórias, teremos uma formação digna que nos transforme em profissionais capazes de contribuir para o crescimento do país.

Sabe-se que a receita da UFPB é em média de R$ 750 mi, mas o que se percebe é que esse dinheiro é muito mal aplicado.

Brasil: o país do futebol? Mariana Costa

©Giovanna Ismael

Charge

Letícia Passos

Em 1997, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) publicou um artigo intitulado “Esporte no Brasil: Situação Atual e Proposta para Desenvolvimento”, em que foram analisadas questões a exemplo da importância do esporte, dos problemas do esporte no Brasil e de propostas para desenvolvimento. Entre os problemas, foi identificada, principalmente, a falta de planejamento, de organização, de recursos humanos e de investimento tanto na base esportiva quanto no esporte em escolas e em universidades, além do pouco desenvolvimento de novas modalidades. Hoje, 14 anos depois, nosso país enfrenta os mesmos problemas e limitações. Diante dessa problemática, algumas das soluções mais viáveis seriam o forte investimento em escolas e em universidades e o desenvolvimento de novas modalidades, que ampliariam o campo de aprendizagem de crianças e de jovens, independentemente de seguirem carreira de atletas ou de educadores físicos. Na Paraíba, por exemplo, o futebol americano é uma modalidade de grande destaque que levará cinco atletas paraibanos à Seleção Brasileira de Futebol Americano, o que atrai muitos jovens à prática desse esporte. Em outros estados, modalidades como rugby, baseball, frisbee e tchoukball já fazem parte do currículo de milhares de estudantes, que já

são preparados para competições futuras, saindo do tão convencional futebol, futsal, vôlei e handebol que nós tanto conhecemos. O badminton é um esporte pouco conhecido, mas já praticado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Os alunos que o treinam querem mais visibilidade e sentem falta de material e de estrutura. Infelizmente, essa adversidade acontece não só com o badminton. Várias modalidades lutam por seu espaço e por seu reconhecimento, e, aos poucos, vão mostrando grandes talentos. Não cabe mais ao Brasil ser conhecido como o “país do futebol”, pois estrelas da natação, do tênis, do beisebol, das lutas marciais já brilharam dentro e fora da nação. O investimento na base esportiva e em novos esportes é essencial, pois mais jovens e crianças seriam capazes de conhecer novos jogos, novas culturas e teriam mais saúde física e mental, aumentando a representatividade do nosso país internacionalmente. O Brasil não é mais o país do futebol, mas das diferenças, da diversidade e da democracia. A diversidade de modalidades esportivas permite aos atletas a prerrogativa de escolher o esporte com o qual se identificam mais. Cabe às instituições de ensino facilitar essa escolha, aprimorando novos talentos e dando-lhes o direito à saúde, à educação e à cidadania que todos devem ter acesso, para uma melhor qualidade de vida e ascensão profissional.


educação

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UFPB tem melhora no IGC, mas cai entre as nordestinas

O Índice Geral de Cursos divulgado pelo MEC este ano, apresenta a perda de uma posição no ranking em relção a 2009 Ilustração: Gustavo Peixoto

Caio Ismael O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação (MEC), divulga anualmente os indicadores de qualidade dos cursos e das instituições de educação superior. Essa avaliação é baseada numa análise das condições de ensino, relativas ao corpo docente, às instalações físicas, ao projeto pedagógico e ao resultado dos alunos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). O Índice Geral de Cursos (IGC) é uma das medidas usadas pelo Inep como forma de avaliação destas instituições, sejam elas públicas ou privadas. Este índice, que é indicador de qualidade, considera o desempenho dos cursos de graduação e de pós-graduação (mestrado e doutorado), formando um ranking das instituições, com pontuação variável de um a cinco pontos. Segundo a Assessoria de Imprensa do Inep, as instituições que obtiverem de três a cinco pontos atendem de forma satisfatória as exigências do MEC; abaixo de dois pontos, a atuação é insatisfatória, podendo até ocasionar o descredenciamento da instituição. O IGC de uma instituição é resultado da média ponderada do Conceito Preliminar de Cur-

so (CPC), indicador responsável por avaliar diretamente as condições de ensino da instituição, num ciclo de três anos. Desde a implementação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) vem atingindo um crescimento expressivo no IGC. Em 2008, o IGC contínuo da instituição era de 3,05, e em 2010, ela já conquistou o IGC contínuo de 3,28, permanecendo no IGC faixa 4. O problema em questão é que, mesmo com o grande crescimento das obras e expansão dos cursos da instituição, a UFPB não está acompanhando o ritmo de crescimento das outras universidades federais da re-

gião. Até o ano passado, a UFPB ocupava o 5º lugar no ranking das universidades federais do nordeste. Com a divulgação do IGC 2010, a UFPB caiu uma posição, ficando atrás da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Para o Pró-Reitor de Graduação, professor Valdir Barbosa, a queda da UFPB no ranking das universidades federais do nordeste não deve ser considerada como alarmante. “O fato dessa queda não é uma diferença significativa. Nosso crescimento é evidente e ainda estamos no IGC faixa 4. Cabe uma crítica ao processo avaliativo do Inep, no qual em algumas universidades são avaliados apenas 11 cursos, e em outras

53. Tem que haver uma padronização do processo”, propôs. A participação dos estudantes é fundamental na avaliação da instituição. Em muitas universidades, a prova do Enade tem sido boicotada pelos alunos como forma de protesto. Em 2009, cerca de 150 estudantes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru participaram de uma manifestação contra a aplicação das provas, afirmando que o modelo da avaliação é falho. Neste mesmo ano, o próprio Conselho de Graduação da Universidade de São Paulo (USP) decidiu que a instituição não participaria do processo avaliativo. O primeiro motivo alegado é o de que a avaliação dos cursos fica prejudicada pela impossibilidade de

distinguir o que é verdadeiramente desempenho insatisfatório dos estudantes no exame ou um possível boicote intencional por parte deles. Em segundo lugar, para a universidade, a avaliação do ensino superior realizada pelo MEC devia ser mais complexa do que é atualmente. O objetivo desta prova é avaliar o desempenho dos estudantes com relação aos conteúdos previstos nas diretrizes curriculares dos cursos de graduação, além de analisar o nível dos estudantes com relação à atual realidade brasileira e mundial. “Os alunos da UFPB estão bem conscientes de suas responsabilidades. Quanto melhor for avaliada a universidade, melhor para o estudante”, completou Valdir.

segurança

Consepe proíbe aulas de 4 horas consecutivas Foto: Giovanna Ismael

Filipe Assunção Preocupado com a questão do aprendizado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o Conselho Superior de Pesquisa e Extensão (Consepe) proibiu a realização de quatro horas consecutivas de aula para as disciplinas de quatro créditos. A portaria Nº054/2011 foi assinada no dia 1º de novembro deste ano e decreta que a proibição já seria válida a partir do próximo período. Como muitas coordenações já haviam feito a sua programação para o período 2012.1, a medida não pode ser aplicada por grande parte dos cursos. A discussão levantada no Consepe atinge as disciplinas de cunho exclusivamente teórico, as disciplinas práticas ou teórico-práticas não serão atingidas. Segundo o pró-reitor de graduação da UFPB, Valdir Barbosa, a portaria que proíbe as quatro horas de aulas seguidas nas disciplinas de quatro créditos só tem validade para o período 2012.1. A resolução definitiva só será tomada no próximo semestre após novas discussões no Consepe. “A oferta de uma disciplina num regime de quatro horas seguidas é extremamente cansativo tanto para o professor como para o estudante. Os dados da neurociência mostram objetivamente que o nível de aprendizagem cai quando a aula se prolonga muito”, explicou Valdir. As disciplinas que são afe-

Em caso de falta, o aluno matriculado nessas disciplinas, perdia todo o conteúdo da semana tadas por essa portaria passarão a ser divididas no sistema de duas horas por dia. Opiniões O fracionamento nos horários de aulas já vem sendo adotado em alguns cursos da UFPB. É o caso dos cursos de Letras, em que as expe-

riências começaram a ser feitas no atual período. O coordenador dos cursos, Camilo Rosa, disse que a decisão de dividir os horários das disciplinas nos cursos de Letras foi tomada a fim de buscar uma melhoria na qualidade do ensino, mas que ainda é cedo para saber se foi eficiente ou não. Apesar de buscar me-

lhorias no ensino, o coordenador também falou da parte negativa da divisão de horas. “Muitas vezes, o professor não consegue finalizar um assunto, um debate com os alunos. Tem também a questão do deslocamento, às vezes um professor dá aula no CCHLA e tem que sair correndo para ir dar aula no CA. Seria

mais fácil se ele desse a aula em um só centro”, explicou. Os estudantes também discutem sobre o tema e se posicionam. Para o aluno do 4º período de Ciências Contábeis, André Rocha, aulas longas prejudicam a atenção dos alunos e dificultam o aprendizado. “Quatro horas consecutivas de aula acaba cansando o aluno. Por exemplo, em Ciências Contábeis, nós trabalhamos muito com números e isso se torna exaustivo, quando visto por muito tempo”, ressaltou André. A questão das faltas também é reclamada pelos universitários, se um estudante faltar um dia que tenha quatro horas de aula consecutivas de uma mesma disciplina, ele perderá todo o conteúdo exposto pelo professor e ainda levará um grande número de faltas. Para a pedagoga, Salete Farias, é necessário que professores e alunos debatam sobre o tema e entrem num consenso sobre a melhor maneira de se aplicar as aulas. Ela também se posicionou quanto às horas seguidas de aula: “Não é prejudicial, desde que o professor tenha um bom projeto pedagógico e uma boa dinâmica de aulas”. Além da questão que já está exposta, o debate também deve ser feito nas cadeiras de mais créditos e de mais horas seguidas. É importante que alunos e professores se manifestem nos debates do Consepe e tentem buscar uma melhoria no sistema de ensino da UFPB, seja modificando ou não os horários das disciplinas.


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educação

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Produções acadêmicas estão disponíveis em portal da UFPB Revistas dos programas de pós-gradução estão digitalizadas no portal de periódicos eletrônicos, mas a divulgação é insuficiente Nayanna Sabiá Como diria Michel Foucault, o conhecimento é um instrumento de poder. Essa relação é claramente verificada quando analiza-se a construção do saber por meio das publicações de livros e de revistas, principais veículos de propagação do conhecimento científico. Não é então, por coincidência, diante da construção das estruturas de poder, que no ranking de produções científicas da National Science Indicators (NSI), os Estados Unidos, a China e a Alemanha ocupam as primeiras posições na classificação. O Brasil, que está na 13ª posição da NSI, ao longo dos anos, aumentou a sua produção científica de forma significativa. Hoje, se produz 10 vezes mais do que há 25 anos. Esse crescimento foi estimulado pela qualificação dos programas de pós-graduação brasileiros, ao conjugar esforços municipais, estaduais e federais. O Ministério da Educação (MEC) possui a agência de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que é responsável pela estruturação das pós-graduações e das pesquisas em geral. Visando à sofisticação desse processo, a Capes desenvolveu um sistema de qualificação da produção intelectual dos programas de pós-graduação, bem como das revistas acadêmicas, que é feito a cada quatro anos. Os níveis são: A1, o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C - com peso zero. A Universidade Federal da Paraíba (UFPB), desde 2006, auto-

matizou o acesso às produções científicas, através do Portal de Periódicos Científicos Eletrônicos da UFPB. O projeto, resultado de iniciativas pessoais de professores, ganhou apoio da Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG). O professor Guilherme Ataíde, doutor em Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo (USP), é o responsável pelo portal e garante que haverá melhorias funcionais em 2012, subsidiadas por recursos da PRPG, instituindo normas para a entrada e manutenção de títulos no Portal, já que ainda não há restrições quanto à hospedagem das revistas acadêmicas. Hoje, 40 revistas estão disponíveis on-line. Algumas, que ainda não constam no site, estão passando por um processo de digitalização. O professor Marcos Nicolau, coordenador do mestrado em Comunicação e Culturas Midiáticas na UFPB, é editor de duas revistas eletrônicas que estão hospedadas no portal: a Revista Temática, fundada em 2005, que é mensal e interdisciplinar, e a Culturas Midiáticas, fundada em 2008, que é semestral e destinada especialmente à comunicação midiática. Ele atribui a prosperidade das revistas à tradição de editoração do corpo de professores que compõe o conselho editorial de ambas. Guilherme Ataíde ressalta que muitas dessas iniciativas dependem da visão de mundo do editor, uma vez que ainda há pelo menos seis revistas que não foram digitalizadas. Entretando, muitos dos problemas são fruto da falta de conhecimento de algunsprofessores sobre os sistemas baseados na

web. A solução está sendo vislumbrada, através de treinamentos e de sugestões de capacitação. A UFPB está inserida no contexto nacional de crescimento de publicações acadêmicas. “Aumentamos, de 2007 para 2010, em 100%, a produção qualificada em revistas com fator de impacto, vinculadas ao Journal Citation Reports (JCR – autoridade de avaliação crítica dos maiores jornais do mundo). Antes, a média era de 200 artigos, e, só no ano passado, publicamos 451”, declarou o pró-reitor de pós-graduação, Isac Almeida de Medeiros. O portal eletônico de periódicos da UFPB possui periódicos com Qualis de C até B1. “Os periódicos científicos são a principal forma de divulgação da produção científica. Temos duas expressões muito em voga: ‘Publique ou Morra’, que está mudando para ‘Publique e seja citado’”, declarou o professor Guilherme Ataíde. A publicação científica, no Brasil, está direcionada para os programas de pós-graduação, em detrimento da publicação dos alunos de graduação. O problema reside no fato de a falta de incentivo na base da formação ter a capacidade de provocar, em um futuro não tão distante, a redução desse perfil de crescimento científico, uma vez que não há incentivos significativos para que os estudantes sigam a carreira acadêmica, consequentemente o número de alunos na pós-graduação será reduzido. Isso se relaciona muito ao fato de existir um interesse institucional em aumentar a qualificação frente à comunidade acadêmica, já que

a produção feita por autores titulados aumenta a qualificação da universidade e a dos alunos pouco vale para essa qualificação. Jeferson Barreto, aluno do 8º período de História da UFPB, não reconhece o incentivo institucional à publicação nos periódicos. “Há incentivo na pós-graduação, que ajuda a elevar a nota frente a Capes, esse incentivo é quase uma obrigação, mas na graduação eu não vejo esse dito incentivo”. O estudante ainda ressaltou que “há uma falta de divulgação no sentido de informar que existe uma revista e que você pode publicar, mas há também uma falta de estrutura por parte da instituição no sentido de pessoa humana. Há menos professor e mais alunos, o que significa menos tempo de dedicação para o aluno. Isso reflete na sala de aula, não acontece de o professor fazer um acompanhamento mais específico”, completou. O portal de periódicos, que hospeda 40 revistas eletrônicas, já atingiu 20 mil acessos de usuários distintos por mês. Esse número é muito aproximado ao da revista Temática, que possui site próprio e já atingiu a média de 16.500 mil acessos de usuários distintos no mesmo mês, o que demonstra um esforço pessoal de professores e pouco apoio institucional na divulgação de ferramentas tão importantes para meio acadêmico. O portal ainda não está sendo explorado como deveria por falta de divulgação, uma vez que no próprio site da UFPB não há visibilidade do portal de artigos da própria instituição.

Foto:Herbert Clemente

Capa do último número impresso da revista Culturas Midiáticas que possui Qualis B4 Em um universo de 37 mil alunos de graduação, muitos são os que desconhecem o portal, que deveria ser um difusor do conhecimento científico, não só no âmbito da publicação, mas da própria pesquisa. Quando perguntado sobre a deficiência de divulgação do projeto, o pró-reitor da PRPG, Isac de Medeiros, alegou que o pólo multimídia, responsável pelo site da UFPB, é uma unidade desvinculada da PRPG e reinterou a prioridade institucional de publicação na pós-graduação, declarando que: “Não existe falta de divulgação, nós temos dado todo o apoio ao portal, se o portal é o que é hoje é graças ao professor Guilherme, mas também à ajuda da PRPG. Se o site da UFPB não divulga é uma coisa, mas a PRPG faz essa divulgação no âmbito dos programas de pós-graduação”.

Sustentabilidade

Pesquisas químicas apostam na bioatividade Clarissa Lopes

Depois de muito degradar a natureza, os homens estão vivendo uma fase de adaptação às condições que o meio ambiente impõe. Mais consciente, a sociedade começou a desenvolver soluções para preservá-la, apostando na sustentabilidade. Foi pensando nisso que o professor e pesquisador Petrônio Athayde e a aluna de mestrado Juliana de Souza, ambos do curso de Química da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), começaram, há cerca de três anos, a pesquisar um ácido de nome tereftálico. Presente em garrafas PET, esse ácido é extremamente poluente, demora mais de 100 anos para se decompor no processo de transesterificação de óleos vegetais para produção de biodiesel e também para a síntese de moléculas com bioatividade que possuem alguma ação sobre os seres vivos, a exemplo das plantas medicinais.

A escolha da garrafa PET foi feita devido à quantidade de garrafas descartadas diariamente como lixo, sendo esse o mais democrático do mundo por atingir pobres, ricos, pequenas cidades e grandes metrópoles. O PET é constituído por duas substâncias, o ácido tereftálico e o etileno glicol, daí o nome PET que se refere ao politereftalato de etileno. Para obter o ácido tereftálico puro e de baixo custo e convertê-lo em catalisador de biodiesel, é necessário fazê-lo passar por um processo químico. O catalisador pode ser usado mais de uma vez e não é descartado no meio ambiente. A patente desse produto já foi requerida pela própria UFPB. Todos os gastos com a burocracia e o pedido da carta-patente da invenção estão sob sua responsabilidade. No momento, o produto ainda não está no mercado, mas há a possibilidade de ele ser usado pelas indústrias. “O uso do PET no projeto pode trazer benefícios

ambientais, por diminuir a poluição causada diretamente pelo PET e evitar o descarte de catalisadores do biodiesel no processo convencional que usa água de lavagem para a purificação, o que não ocorre com o processo de catálise que usa fontes de PET”, esclareceu o professor. Pesquisa e indignação Há outros pesquisadores no curso de Química que também atuam em parceria com a natureza. O professor Marçal de Queiroz Paulo cria, dentre outras coisas, medicamentos fitoterápicos, ou seja: aqueles produzidos apenas com plantas medicinais. Um deles é o medicamento fitoterápico para tratamento de feridas de todas as etiologias: Curativo Biológico Natura Skin. É indicado no tratamento de feridas de pé diabético (ocorrem nas pernas e, principalmente, nos pés das pessoas diabéticas), úlcera por pressão (escaras), de deiscência pós-cirúrgica

(abertura da sutura da cirurgia), de queimaduras de 1º e 2º graus e de feridas cirúrgicas. O projeto foi idealizado e coordenado por ele, além de ter sido desenvolvido em conjunto com uma equipe de médicos, farmacêuticos, microbiólogos, dentre outros profissionais da UFPB e de outras universidades. Os produtos desenvolvidos não recebem incentivos financeiros de nenhuma fonte federal, estadual, municipal ou da própria universidade. Apenas empresas privadas, preferencialmente da região nordeste, apoiam as pesquisas. Apesar disso, o BioSkin Curativo Biológico, que foi financiado, produzido e comercializado por uma empresa paraibana, já está patenteado desde 1983 e foi o primeiro produto biotecnológico genuinamente nacional (pesquisado, desenvolvido e produzido pela indústria farmacêutica brasileira) a obter patente. “Devemos perceber que nessa época o Brasil ainda não dispunha de Lei de Patente, mas

Foto: Cairé Andrade

Juliana de Souza é aluna de mestrado em Química e pesquisa o ácido tereftálico nós, antecedendo tudo isso, criamos e depositamos estas patentes de modo pioneiro com produtos inovadores”, revelou Marçal.


campus

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Polêmica sobre o consumo da maconha divide opiniões Uso de maconha na universidade é um tema bastante debatido, após três jovens serem detidos por consumi-la dentro da USP Natan Cavalcante O uso de drogas ilícitas está presente na sociedade há muito tempo em suas diferentes utilizações seja religiosa, medicinal, ou recreativa. No caso da planta Cannabis sativa, nome científico da maconha, há registros de aproximadamente dois mil anos, que relatam o seu uso terapêutico, além de ter sido fortemente consumida por adeptos de movimentos de contracultura, nas décadas de 60 e 70. Durante anos, essa droga foi estigmatizada por ser atrelada a grupos sociais marginalizados. Os discursos recriminatórios criados em torno da maconha, e que hoje são tão propagados pelos que tem uma posição contrária à legalização, ultrapassam os motivos científicos. A droga, que desde 1961 é repudiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem sua imagem, construída desde o século passado, ligada aos seus efeitos nocivos. As discussões em torno da maconha são recorrentes. No último mês de outubro, três jovens foram presos depois de serem pegos fumando maconha, dentro da Universidade de São Paulo. O fato ocasionou um embate entre outros estudantes presentes no campus e a Polícia Militar (PM), no intuito de defender o direito de livre expressão dentro da universidade. Os estudantes alegavam que a polícia agiu de maneira agressiva e inapropriada. Desse conflito, surgiram opiniões opostas em relação à repressão da PM dentro da instituição. A desavença, que tomou proporções gigantescas, abre espaço para uma série de questionamentos, a exemplo de co-

Foto: Thaís Garcia

do, uma ferramenta de controle social. Ele explica que o estado se prevalece disso para fazer intervenções em comunidades periféricas, que são estigmatizadas por serem relacionadas ao tráfico, e, em nome do tráfico, o Estado promove incontáveis crimes. “Seria difícil para o Estado legitimar tudo isso, como algo verdadeiro, essencial, sem a proibição”, acrescenta.

Consumo da maconha acontece frequentemente dentro da universidade, mas a instituição não o reconhece como ato passível de punição mo a sociedade vê o uso da erva e que motivos levaram a proibição da maconha dentro do ambiente universitário. A universidade é um espaço próprio para a formação e contestação de ideais, e por esse motivo, pode servir para a ampliação da discussão em torno da maconha, de seus efeitos e dos motivos de sua proibição. Segundo Pedro Felipe, psicólogo formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), além de estudante na mesma instituição e usuário da droga, é ne-

cessário trazer as experiências ou as reflexões sobre ela para dentro da instituição, sendo uma maneira de tentar construir uma discussão mais qualificada sobre o assunto. “É importante tentar fazer com que isso chegue à universidade e seja discutido tanto teoricamente, quanto praticamente. Acho que ela [a maconha] tem que ser entendida também como uma forma de cultura, uma forma de relação com a realidade”, observa. A criminalização da droga também é um assunto muito discutido.

Juristas, professores, artistas, cientistas e até presidentes já se pronunciaram sobre o tema, e o assunto divide opiniões. Enquanto uns justificam que a criminalização só aumenta o tráfico e que a solução seria legalizar; outros contra argumentam, alegando que a medida aumentaria o consumo, e alertam para os efeitos causados pela droga, referindo-se a perda da sobriedade do corpo. De acordo com João Marcus, estudante do 9º período de Letras, e também usuário, a proibição é, sobretu-

Diálogo Nas estatísticas feitas pela Coordenação de Segurança da Universidade Federal da Paraíba não há ocorrências relacionadas ao uso de drogas, lícitas ou ilícitas. Nos últimos quatro anos, não existem dados que comprovem o uso de drogas na UFPB. Contudo, esse fato pode ser notado constantemente na universidade. “Há registros de drogas ilícitas, mas a gente nem tem o apanhamento, porque não é tanto assim”, afirma o coordenador do Departamento de Segurança, João de Deus. Segundo ele, em casos em que os estudantes são pegos com maconha, por exemplo, eles são aconselhados a pararem a prática e se livrarem do material, ou em algumas vezes tem o material recolhido. João de Deus afirma que nessas situações o diálogo é mais importante que a imposição de autoridade. “Muitas vezes o estudante faz isso por ideologia (...), e, por experiência própria, eu sei que não adianta levar o estudante para uma delegacia, pois é perda tempo e não vai se resolver nada”, enfatiza. O coordenador do departamento de segurança, afirma, ainda, que os vigilantes terceirizados são instruídos a agirem da mesma forma.

perfil

Questionários revelam qual a cara da UFPB Foto: Herbert Clemente

Herbert Clemente É de conhecimento comum entre os frequentadores das universidades públicas, que o ambiente universitário é um dos mais democráticos. Nele, circulam pessoas das mais diversas classes sociais, crenças, cores e ideologias. A Universidade Federal da Paraíba (UFPB), através da Comissão Permanente do Concurso Vestibular (Coperve), presidida pelo professor João Lins, confirma a sensação que os alunos e os professores entrevistados possuem em relação ao perfil socioeconômico do corpo discente. Em um relatório fornecido pelo órgão, com dados referentes aos candidatos que concorreram ao Processo Seletivo Seriado (PSS), entre os anos 2000 a 2006, é possível verificar que, com exceção do PSS 2002, mais da metade dos alunos de escolas particulares inscritos foram aprovados, enquanto que o maior índice de aprovação de candidatos de escola pública foi de 36,3%. Vale ressaltar que a universidade não tem medido esforços para modificar este quadro de anos atrás e tem buscado soluções para garantir aos candidatos um acesso universal às vagas ofertadas pela instituição. De

acordo com a Resolução Nº 09/2010/ CONSEPE, 30% das vagas oferecidas pela UFPB são destinadas aos candidatos que concluíram o ensino médio e cursaram pelo menos três anos de ensino fundamental em escolas da rede pública. Outro exemplo de incentivo à diversidade na academia é constatado através do cursinho pré-vestibular gratuito que a UFPB oferece para alunos de escolas públicas, tema que já foi abordado na primeira edição do QO. Impressões pessoais Foram colhidos depoimentos de dois professores e de dois alunos, todos representantes de diferentes cursos, que opinaram sobre o perfil socioeconômico dos estudantes da UFPB. Todos os entrevistados reconheceram haver uma variedade de classes convivendo no mesmo ambiente. Para a professora Ana Luisa Nogueira de Amorim, vinculada ao Departamento de Habilitações Pedagógicas (DHP), a diferença de perfis econômicos no corpo discente varia de acordo com os cursos nos quais os estudantes estão matriculados. “Nas áreas de saúde e tecnologia, penso que prevalecem alunos de um perfil econômico mais alto. Nos cursos de

Questionários da Coperve, que serão extintos, ainda são utilizados para caracterizar o diversificado perfil dos estudantes da universidade licenciatura e ciências humanas em geral, prevalecem alunos de classe social mais baixa”, afirmou Ana Luisa. Esta opinião é reiterada pela professora Jória Guerreiro, chefe do Departamento da Promoção da Saúde (DPS). De acordo com a professora, no curso de Medicina “a predominância é de alunos das classes mais favorecidas, aqueles cujos pais dão um carro quando os filhos passam no vestibular”. Questionada quanto

à procedência estudantil dos alunos, a bacharelanda em Química, Thyala Moreira de Araújo, 20 anos, afirmou que grande parte da sua turma é proveniente de escolas públicas. Por outro lado, o estudante de Direito, Igor Duarte Chacon, 22 anos, afirma conhecer alunos que vieram da rede pública em seu curso, “principalmente no 1º e 2º período, onde os alunos entraram no vestibular já com cotas”. As diferentes opiniões conver-

gem para uma visão compartilhada por muitas pessoas que frequentam diariamente o ambiente acadêmico, entretanto, as medidas tomadas para diversificar o acesso a todas as áreas de ensino na UFPB já demonstram resultado, como ressaltou o estudante de Direito. Resta agora esperar que este quadro evolua e proporcione um acesso mais igualitário à instituição, independente de área ou curso específico.


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Qualidade da iluminação é avaliada Gustavo Peixoto Na 2ª edição do Questão de Ordem, a Reitoria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pediu direito de resposta para contestar a matéria sobre insegurança no campus, publicada na 1ª edição. No documento enviado à redação do QO, a instituição afirmou que houve uma melhoria no que diz respeito à qualidade da iluminação do Campus I. A iluminação é imprescindível para o trânsito dos estudantes, professores e funcionários pela instituição, principalmente no turno da noite, por isso exerce sua função de denominador comum para o controle de riscos na comunidade universitária. O estudante de administração Gustavo Cabral aponta que a iluminação da universidade “não é uma das melhores”. Apesar de reconhecer que existem ambientes em que a iluminação supre bem as necessidades dos universitários, como no Centro de Ciências, Letras e Artes (CCHLA), ele denuncia que ainda existem muitos lugares escuros: “Principalmente na Central de Aulas (CA), à noite, a iluminação é horrível. É preciso instalar novos pontos de luz, colocando lâmpadas com uma maior potência, para clarear melhor os ambientes”, completa o estudante. Em uma inspeção pelo campus, um engenheiro eletricista, que preferiu não se identificar, encontrou uma série de falhas na iluminação, distribuída pela universidade. Ele relatou que “os acessos e veredas para os estudantes é péssimo e há muitos locais sem segurança”. O engenheiro explicou que a iluminação na instituição está correta por utilizar lâmpadas de vapor de sódio, ideal para locais onde há asfalto e vias de acesso. O problema, porém, se encontra no modelo de luminárias, que apesar de utilizarem lâmpadas adequadas, não expandem tanto a luminosidade para o ambiente, focando em apenas um determinado ponto do local. Outro lado O diretor da Divisão de EquipaGustavo xoto Universitária mentos da Pei Prefeitura (PU), Alysson Batista, explica que a mata atlântica interfere na iluminação da universidade, escurecendo bastante as áreas de luminosidade dos postes, estes que, por sua vez, chegam a ter lâmpadas com potência de 400 watts. No entanto, esse argumento é facilmente rebatido, na medida em que a disposição dos postes está localizada em plena via pública, distanciada da área reservada para a mata. Ele reconhece a validade das reclamações dos estudantes e até mesmo os apoia para reivindicarem algo que lhes é de devido direito, mas admite faltar muito para conseguir atender a uma demanda tão alta e essencial de investimento no campus. “A comunidade acha que a Reitoria não está fazendo nada, mas, na verdade, está cobrando demais. Ainda assim, reconhecemos quefalta muito,”desabafaoengenheiro. Alysson ressalta que, apesar das inadequações constatadas, há estudos e grandes investimentos em andamento para melhorar essas circunstâncias, evitando problemas para os alunos, professores e funcionários. Ele também reafirma o direito dos universitários em contribuírem com a instituição: “Os estudantes podem enviar as reclamações ao setor de segurança para que nos sejam repassadas. Todas as informações serão apuradas e analisadas para resolver os problemas”.

Universidade tenta se adequar à lei de acessibilidade em obras Construções na UFPB ainda apresentam falhas, dificultando o trânsito de cadeirantes pelo campus Luis Thales

Foto: Cairé Andrade

dor de deficiência física há 11 anos, argumenta que a acessibilidade para deficientes físicos na universidade é bastante falha. “Sou coordenador de cursos de pós-graduação e, quando eu preciso tratar de problemas com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG), que fica no 2o andar (do prédio da Reitoria), o pessoal tem que descer para falar comigo. Isso é chato e constrangedor, faz a gente perder tempo e planejar uma logística que acaba sendo causticante”, explicou o professor. André Piva denuncia ainda que no bloco onde leciona, o Complexo de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA), não existe vaga para deficiente físico,o que causa transtorno ao ter de andar sobre o chão de paralelepípedo.

A Lei da Acessibilidade, aprovada em dezembro do ano 2000 e regulamentada em 2004, pelo Decreto-lei 5296, é recente na história do Brasil, tendo apenas 11 anos. Ela garante às pessoas com deficiência física ou sensorial o direito aos mais diversos tipos de acesso, das edificações públicas e privadas aos meios de transporte, além de garantir acesso também à comunicação e à informação. Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), assim como em quaisquer outras instituições, as obras que estão em construção devem seguircom a lei e as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para acessibilidade. A universidade, em virtude do seu constante crescimento, intensificado pelo programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), passa por uma adaptação, mas não comporta todas as condições de acessibilidade. Hoje, no Campus I da UFPB existem 220 obras, sendo 30 delas novos prédios em construção. Dificuldades Marcelo Andrade Diniz, arquiteto, urbanista e diretor da Divisão de Estudos e Projetos (DEP) da Prefeitura Universitária, trabalha há dois anos neste setor e fiscaliza as contruções em andamento. Ele afirma que as obras do o Campus I e dos demais campi da UFPB estão sendo construídas de acordo com a ABNT NBR 9050, que estipula os critérios de orientação para a criação de um projeto arquitetônico com acessibilidade. Os prédios com um andar terão rampas de acesso e aqueles com mais andares ganharão um espaço reservado para elevador ou para plataforma elevatória, que dependerá da verba para a compra do equipamento.

André Piva, professor do Departamento de Turismo da UFPB e cadeirante há 11 anos Marcelo informa também que enfrenta problemas com algumas solicitações de projetos, porque muitas delas não estão sendo criadas visando à acessibilidade em toda a estrutura. As verbas também configuram outro embaraço, pois muitas vezes não se ganha o suficiente para a efetivação do projeto por completo. Ele lembrou que, para se ter acesso a um prédio, é preciso antes ter um entorno acessível. “Aqui na prefeitura a gente tenta fazer o máximo para dar uma acessibilidade mínima ao prédio. A gente corre atrás de complementação de verba, porque a própria Reitoria,

em alguns casos, tem como complementar o orçamento para o entorno”, explicou o arquiteto. Marcelo também afirma que, apesar de as novas construções estarem trazendo mais acessibilidade, outros lugares da universidade precisam passar por reformas. Em visita aos pátios e aos campos do Departamento de Educação Física (DEF), foram identificadas, com o auxílio do coordenador do curso de Educação Física, Idebaldo Grisi, algumas passagens com irregularidades que precisam ser refeitas. O professor do Departamento de Turismo, André Piva, que é porta-

Política Atualmente, o Comitê de Inclusão e Acessibilidade da Pró-Reitoria de Assistência e Promoção ao Estudante (Prape) está em fase de construção e é coordenado pela professora de Terapia Ocupacional, Andreza Aparecida Polia. O comitê, que há um ano voltou a funcionar, está preparando a Política de Inclusão e Acessibilidade, que envolverá todos os centros da universidade para atender às necessidades das pessoas com algum tipo de deficiência. “A universidade precisa modificar-se em termos físicos, pedagógicos, de diminuição de barreiras metodológicas, curriculares e de atitudes, para nós conseguirmos acabar com o preconceito e discriminação com pessoas deficientes”, esclarece Andreza Polia. Enquanto o projeto não entra em vigor, as condições estruturais do Campus I demonstram claramente que a UFPB não segue os padrões estipulados por lei, ou seja, as recomendações não são cumpridas pela própria representante do Estado brasileiro, a universidade.

DESRESPEITO

Cadastro no RU é burlado por alunos Yordan Cavalcanti As universidades públicas oferecem um ensino gratuito em cursos de nível superior. Porém, alguns custos devem ser considerados, como materiais, transporte e alimentação. Para amenizar algumas dessas despesas, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) oferece para estudantes de baixa renda as refeições do almoço e do jantar no Restaurante Universitário (RU), que já opera a mais de 50 anos. Para ter direito a esse serviço, o aluno deve levar à Coordenação de Assistência e Promoção Estudantil (Coape), órgão responsável pelo cadastramento no restaurante, toda documentação que comprove os dados pessoais e o cumprimento das exigências, tais como baixa renda per capita na casa onde mora e ser estudante da UFPB. Depois de inscrito, o candidato a uma vaga no RU irá passar por uma entrevista, que levará em consideração o cotidiano do candidato e sua convivência. “A entrevista é fundamental para a seleção, pois às vezes há de-

talhes que não estão no formulário, como doentes na família, idosos, entre outras coisas”, explicou Nyéte Qua Uchôa, assistente social da Coape, lembrando que os cadastros são validos por um semestre, podendo também ser renovado. O serviço, que cadastrou mais de dois mil alunos este semestre, é feito para atender a estudantes com menores condições financeiras. Porém, algumas pessoas que não se encaixam nas exigências e não obtiveram o cadastro conseguem burlar o sistema e ter acesso às refeições, fato reconhecido pela instituição. “Admito que possam existir pessoas que não são de baixa renda e que comem no RU, mas nós trabalhamos de acordo com a documentação, e se a documentação está regular, não temos como rejeitar uma pessoa”, confessou a assistente social Nyéte. Para ter acesso às refeições, o usuário deve, no momento do ingresso ao restaurante, dizer a um funcionário o número de sua matrícula. O funcionário, então, digita o cadastro no computador e automaticamente aparece a foto da pessoa matricu-

lada. Se a foto for correspondente a pessoa que falou a matrícula, ela pode continuar a se alimentar no RU. Apesar deste rigoroso sistema, alguns alunos sem cadastro conseguem almoçar ou jantar no RU. Eles passam pelo funcionário, utilizando a matrícula de outro usuário que, por algum motivo, não irá comer naquele dia. Como a demanda de alunos que irão comer é grande, o funcionário acaba por não conferir devidamente a foto da matrícula e permite a passagem, sem a fiscalização adequada. Essa atitude é caracterizada como crime de falsidade ideológica, previsto no artigo 299 do Código Penal Brasileiro, já que, para a efetuação do cadastro, são levados em conta documentos pessoais. A penalização para esse delito vai de um a cinco anos de prisão, além de multa. Outro caso reconhecido pela instituição é a alteração de documentos, como contracheques e certidões de divórcio, para aumentar as chances de aprovação no cadastro do RU. “Aqui já passou uma menina que nem estuda na UFPB com documentos de

outra pessoa para tentar se cadastrar no RU. Eu disse que ela poderia até ir presa por isso”, exemplificou, informando que qualquer pessoa que tenha a irregularidade comprovada terá seu cadastro suspenso. Alguns alunos usuários do RU relataram o caso de funcionários fazendo refeições no RU, que é um estabelecimento exclusivo para estudantes. O superintendente do restaurante, Kleber Salgado, admite a alegação, justificando que permite que funcionários comam, já que a comida que sobra seria desperdiçada. “Se a comida, infelizmente, vai ser desperdiçada mesmo, não vejo problema em deixar uma pessoa não cadastrada ou um funcionário comer”, declarou. Sobre as medidas que serão tomadas para evitar irregularidades, o Superintendente disse que haverá uma mudança no sistema de ingresso ao RU. “Nós usaremos catracas eletrônicas, que permitirão somente a pessoa dona do cadastro passar. Além de evitar fraudes, esse sistema também vai aumentar a agilidades das filas”, explicou.


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MPF investiga revalidação de diplomas de Medicina Conselho Regional de Medicina pede abertura de processo no MPF para averiguar revalidação de diplomas estrangeiros Foto: Thaís Garcia

Joel Cavalcanti A pedido do Conselho Regional de Medicina (CRM), foi aberto um processo administrativo que está em curso no Ministério Público Federal (MPF), que busca averiguar a denúncia de que a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) estaria revalidando diplomas estrangeiros de medicina para quem pretende exercer a profissão no Brasil, sem os pré-requisitos legais. O caso ganhou grande destaque na mídia nacional depois desta denúncia ter sido divulgada em revista de grande circulação, a qual denominava o caso de “farra dos diplomas”. O CRM o classificou este processo como “indiscriminado”. A UFPB nega todas as acusações e qualificou essas denúncias como “irresponsáveis”. Os conselheiros do CRM resolveram denunciar o caso depois que o número recorde de quase 600 pessoas decidiu participar do processo de revalidação, aberto pela UFPB. Para o procurador federal, Duciran Farena, “só o fato desse grande número de pessoas terem corrido para cá, em busca da revalidação, mostra que alguma coisa não estava funcionando bem na universidade, no curso de medicina”, considerou. Para a coordenadora do curso de medicina da UFPB, Joacilda Nunes, isso ocorreu devido a outras instituições já terem fechado seus editais, e a UFPB ter sido uma das últimas. “Apenas outras duas universidades abriram inscrição depois de nós.” Segunda ela, o processo de revalidação na universidade do Rio Grande do Norte teve mais de mil inscritos e a de Mato Grosso, mais de 780.

Procurador do Ministério Público Federal, Dulciran Farena investiga processo de revalidação do curso de Medicina, a pedido do CRM- PB to mal instruídos”, o que fez Farena manter a recomendação à UFPB para que ela não revalidasse nenhum diploma de medicina até que as justificativas para os problemas que ele encontrou nesses processos fossem devidamente esclarecidos. Sobre isso, Joacilda faz uma ressalva: “Nós não mandamos o processo completo, página por página. Ele reclamou e pediu que nós enviássemos o processo completo e é isso que nós estamos fazendo. Nos quatro processos são mais de quatro mil páginas”. Equivalência curricular Na análise desses processos, o procurador destacou alguns problemas, entre eles a falta de tradução dos documentos e de critérios que comprovassem a equivalência curricular do curso de medicina da instituição, formado com a da UFPB. De acordo com a resolução da universidade, se o diploma do candidato corresponder a 85% com o da UFPB, sua revalidação será homologada. “Na documentação que era trazida da Bolívia não havia a comprovação do conteúdo da disciplina, havia apenas a rela-

ção delas.”, revelou Farena que acrescentou ainda: “pedi para analisar se a comparação dentro da resolução, que é questionável, para ver se pelo menos havia elementos para dizer que 85% do curso feito na universidade de Cochabamba, por exemplo, equivale a 85% do conteúdo da Universidade Federal da Paraíba.” Quem responde isso é a coordenadora do curso: “Nenhuma das 42 instituições nas quais se formaram os candidatos foi comprovada equivalência curricular de 85% com o curso de medicina da UFPB. Na verdade não houve nenhuma revalidação por equivalência, porque isso é praticamente impossível. Se eu for comparar o currículo de medicina da UFPB com a UFCG, não vai ter essa equivalência, imagine comparando com países estrangeiros. Agora, uma vez que ele tem uma equivalência próxima, e complementando o seu estudo, aí eu não vejo nenhuma problema em revalidar este diploma.” Para o MPF, esta resolução facilitaria o acesso de um candidato a ter o diploma da UFPB, mas para a coordenadora do curso de medicina,

o que ocorreu foi exatamente o contrário: “nós aumentamos os critérios, tornando-os mais complexo para comparar com a nossa universidade e para que as pessoas, em princípio, não conseguissem alcançá-lo e a gente tivesse que mandar fazer o exame”. Joacilda afirma que isto foi necessário em razão da quantidade de processos que teria de analisar. Ainda sobre isso, a coordenadora desabafa: “Se nós temos capacidade de formar um médico, de colocar esse médico no mercado de trabalho, nós não temos capacidade de analisar uma pessoa já formada? Um professor doutor não ter capacidade de analisar um currículo... é ridículo questionar uma coisa dessas.” Tradução O procurador federal vê irregularidade ainda na dispensa da tradução dos documentos contidos no processo. Para Duciran Farena, esta dispensa da tradução devia ser seguida de uma prova que aquele avaliador tem proficiência naquela língua. “Eu posso falar ‘portunhol’, mas isso não quer dizer que eu tenha proficiência em espa-

Foto: Herbert Clemente

Estrangeiros O fato concreto que mais chamou a atenção do procurador foi que alguns candidatos eram formados por instituições da Bolívia e de Cuba. Para Duciran Farena, a formação que se exige aos profissionais desses países é muito fraca e incompatível com a que se pratica no Brasil: “Cuba tem uma medicina muito forte, mas eles têm uma escola lá que é só para quem é de fora. Funciona como um caça-níquel. Mas o médico cubano não se forma lá, só estuda quem vai de outros países latino-americanos. Você pode imaginar a formação que eles têm lá. A maioria das universidades não faz vestibular, é uma coisa bastante complicada.”, avaliou. Joacilda Nunes levanta a suspeita que estas denúncias quanto à nacionalidade desses diplomas sejam motivadas pela decisão do governo estadual de contratar vários médicos cubanos para atuarem na rede pública e os seus colegas médicos paraibanos estarem preocupados com isso, mas ela assegura que “um processo não tem nada a ver com o outro. A gente não tem nada a ver com o governador, não sou funcionária do governador, não aqui.”, rebateu. Como parte das investigações, o MPF pediu para que a universidade enviasse a documentação de quem teve seu diploma revalidado pela instituição. Segundo a coordenadora do curso de medicina, foram enviados quatro processos, os quais o procurador federal considerou que “o texto desses processos administrativos estavam totalmente incompletos e mui-

nhol. E não vi isso no processo”, asseverou. Joacilda afirmou que esta consideração é um fato novo para ela e argumentou que existe um acordo formalizado que “quando o diploma é da região do Mercosul e no idioma espanhol, não há necessidade de tradução juramentada”. A coordenadora afirmou ainda que todos os integrantes da comissão que analisam os processos de revalidação são pós-graduados com título de doutor, o que, segundo ela, garante que eles dominam, ao menos, a língua inglesa e a espanhola.

Joacilda Nunes, coordenadora do curso de Medicina há cinco meses, rebate as denúncias do procurador do Ministério Público - PB

Provas Depois de ter criado uma resolução que, em tese, dispensaria a necessidade de o candidato realizar uma prova, a UFPB já anunciou que todos os candidatos terão de se submeter a provas. “A decisão de fazer a prova agora é por uma razão óbvia: como eu vou avaliar 300 currículos? Isso se deveu à demanda que mudou a dinâmica do processo. Os professores têm muitos afazes e não teriam tempo de olhar mil páginas de cada pessoa desses 300 candidatos”, assegurou Joacilda Nunes. Duciran Farena declarou que, para esses processos revalidados, não foi feito prova. “A universidade tem autonomia para decidir isso, mas se isso é proposital para facilitar o ingresso, se foi criado uma indústria de ingresso na Universidade Federal da Paraíba, para o curso de medicina, não sei, mas espero que tenha parado”. Sobre a dispensa das provas, a coordenadora do curso de medicina acredita ainda que seja mais interessante que o candidato estude de novo, do que simplesmente se submeta a uma prova que muitas vezes não avaliaria a real capacidade do aluno. “Nós não somos favoráveis que eles façam somente uma prova, e sim que sejam avaliados na plenitude”, acrescentou Joacilda, informando que está terminando o edital a ser realizado pela Comissão Permanente do Concurso Vestibular (Coperve). A prova será em fevereiro e os candidatos a revalidação terão de fazer uma nova inscrição para poder continuar no processo. Este será o último edital que o curso de medicina abrirá na UFPB. A partir do próximo ano, a universidade aderirá ao processo nacional chamado “Revalida”, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), vai utilizar apenas este sistema para revalidar os diplomas dos candidatos. Punição O procurador federal anunciou que, embora seja prematuro afirmar, há indícios que podem levar este caso à Justiça. “Em tese, aqueles que revalidaram o diploma sem cumprir com os próprios quesitos da resolução, podem ter cumprido ato de probidade administrativa, e podem ser processados por isso. Por outro lado, os diplomas que foram concedidos podem ser, anulados”. A coordenadora do curso de medicina, afirma estar tranquila: “A universidade não pensou nessa possibilidade, porque não cometeu nenhuma improbidade. Aqui temos professores responsáveis e que revalidaram em cinco anos apenas quatro diplomas médicos. Por isso nós não temos nenhuma preocupação quanto a isso”, finalizou.


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esporte

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Futebol Americano conta com paraibanos na seleção

UFPB não apoia novas modalidades esportivas Daniel Peixoto

Dois estudantes da UFPB estão presentes na lista dos pré-convocados para representar o Brasil Fotos: Thaís Garcia

tref, 24, aluno do 4º período do curso de Ciências Contábeis. RodriO futebol americano tem con- go pratica futebol americano há seis quistado, cada vez mais, seu espaço anos e afirma que não esperava ser na Paraíba e no Brasil. Na primeira selecionado para a pré-convocação, edição do QO, falamos do crescen- pois ainda é reserva do Espectros, te desenvolvimento da modalidade mas teve a sorte de estar entre os 10 na Paraíba, e eis que os jovens atletas escolhidos para a categoria sub-19. agora colhem os frutos de tanto es“Foi a realização de um sonho. forço. A vinda do esporte a João Pes- Qualquer pessoa que pratica um essoa aconteceu em 2005, quando vá- porte tem o sonho de representar o rias equipes se reuniam na praia de seu país. Como as pessoas costuCabo Branco, para treinar. mam falar: pelo Brasil, até em camEm alguns anos, a modalidade peonato de par ou ímpar”, brinca. passou a ser praticada em um campo Ao contrário de Rodrigo Dane os jogadores foram se profissiona- tas, Rinaldo Mitref, diz ter-se dedicalizando, de fordo bastante aos ma que apenas treinos e, com isaqueles que realso, acreditava ser mente eram inconvocado para a teressados conseleção. “Eu batatinuaram. Com lhei por isso e esesses atletas foi tou colhendo os formada a Assofrutos desse traciação Desporbalho”, ressalta tiva Espectros, o atleta, que joque ganhou diga há cinco anos. Rodrigo Dantas versos campeoSegundo ele, sunatos, a exemplo as expectativas da Liga Nordessão as melhores tina de Futebol possíveis e espera Americano (LIservir de exemNEFA), este ano. plo para os deNo mês de novembro, cinco atle- mais colegas de time. Rinaldo descretas da Associação Desportiva Es- ve a reação que teve ao receber a nopectros foram pré-convocados pa- tícia da convocação como uma sensara a Seleção Brasileira de Futebol ção de dever cumprido e espera servir Americano, e são os únicos nordes- de exemplo para os colegas de time. tinos a entrar na lista de pré-convoA UFPB nunca investiu no esporcação. A equipe também confirmou te e, de acordo com o coordenador uma parceira com o time de futebol do curso de Educação Física, IdebalBotafogo Futebol Clube, que vai du- do Grisi, a universidade não tem corar dois anos. nhecimento do crescimento do futeEntre os convocados estão Ro- bol americano. Ainda não existe modrigo Dantas, de 19 anos, aluno do vimentação de professores ou de alu4º período do curso de Ciências da nos para implantá-lo na instituição. Computação da Universidade Fede- Ambos os atletas Rodrigo Dantas e ral da Paraíba (UFPB) e Rinaldo Mi- Rinaldo Mitref acreditam que a uni-

Qualquer pessoa que pratica um esporte tem o sonho de representar seu país.

Rodrigo Dantas é aluno do 4º período de Ciências da Computação e foi convocado Foto: Giovanna Ismael

Mariana Costa

Espectros foi campeão da primeira Liga Nordestina de Futebol Americano (Linefa) versidade deveria incentivar a modalidade, pois mais pessoas se interessariam pelo esporte, que evoluiria, cada vez mais. “Hoje, no Brasil, já há times patrocinados e apoiados

por universidades. O futebol americano está crescendo a passos largos no país, e as entidades de ensino deveriam, sim, investir nesse esporte”, completa Rinaldo Mitref.

Aventura

Esporte e natureza trilham juntos Jéssica Feijó A prática dos esportes da natureza proporciona uma formação mais integral do ser humano e do aluno. Há dois anos, o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Corporeidade, Cultura e Educação (Lepec), do Departamento de Educação Física, no Campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), realiza trilhas ecológicas pelo estado com o projeto “Pedagogia da aventura”. Após um semestre de preparação, cada fim de período traz um novo destino. A equipe, de 25 pessoas entre alunos e professores, já desbravou a Cachoeira de Ouricuri e a Cachoeira do Roncador, no Brejo paraibano, além das trilhas da Lagoa Encantada, em Baía da Traição, e da Pedra do Boca, no Curimataú. Em dezembro deste ano, os aventureiros se dirigem ao Pico do Jabre, maior altitude da Paraíba, com 1.197 metros, localizada na Serra de Teixeira. A trilha é explorada com metodologia diferenciada. Além de aprenderem a se adaptar às exigências do meio, os alunos exercitam a corporeidade, a integração com si

Foto: Divulgação

começa a compreender os ecossistemas e a riqueza da Paraíba”, conta o professor Pierre. Djavan Antério, que já foi extensionista do projeto e hoje participa como professor, relata como oportunidades como essas tornam os cursos superiores mais humanísticos e sociais. “Com o ‘Pedagogia da Aventura’, também colocamos em prática aqueles princípios que discutimos científica e filosoficamente na academia, na integração dos grupos e no convívio com comunidades tão distintas. As experiências são das mais variadas, lidando com o inusitado e o inesperado. Isso a natureza tem nos ensinado”.

Trilha feita na Baía da Traição, a 79 km de João Pessoa, pela Pedagogia da Aventura mesmo e com o entorno. O professor Pierre Gomes da Silva, coordenador do Lepec, explica que o relacionamento com natureza, através do esporte, promove outra perspectiva do ser e da sala de aula. “Trabalhamos os quatro saberes, pilares da educação propostos pela Unesco: o saber ser, o saber fazer,

o saber conviver e o saber saber. Tomamos os saberes e os levamos para dentro da trilha. Em meio a natureza, o cotidiano fica para trás. Meia hora de trilha e você não pensa mais em nada. Pensa no seu passo, ouve os pássaros, tem cuidado com os animais, guia-se pela carta topográfica ou pela bússola, e aí

Trilhas na UFPB Em 2004, um projeto piloto semelhante, envolvendo os cursos de Educação Física, Biologia e Geografia, visava ao mapeamento dos bosques da UFPB e à realização de trilhas ecológicas pelos alunos. Entretanto, a iniciativa não prosperou. A falta de aparato na época, bem como os obstáculos que os bosques impunham, impossibilitaram o plano.

A Universidade Federal da Paraíba (UFPB), assim como outras universidades, possui uma área destinada à estrutura esportiva. Esse espaço, no entanto, não é tão explorado como deveria, sendo usado apenas para os esportes tradicionais, como futebol, vôlei, basquete, atletismo e judô. Em edições passadas, o Questão de Ordem mostrou desportos que vem crescendo em número de atletas na Paraíba, como futebol americano, e que um projeto de extensão foi instalado na universidade visando o futuro do badminton. Mesmo assim, a UFPB não mostra outros incentivos que dariam a oportunidade de qualquer aluno poder praticar um esporte que não seja os que já são desenvolvidos no Campus I, forçando então, esses atletas a procurarem outros locais para começar ou continuar praticando. A professora do curso de Educação Física, Elaine Cattellazzo, constatou que a instituição não destina muitos recursos para implantar novas modalidades e que essa política existe há um longo tempo. Além do projeto de extensão de badminton para alunos de Educação Física, nada de novo vem aparecendo na comunidade esportiva acadêmica. Mas, ela contra-argumentou, afirmando que raras são as vezes que alunos abordam os professores, pedindo a implantação de esportes menos tradicionais. A posição da UFPB simplesmente aceita a falta de treinadores para essas modalidades fora do eixo futebol-volei-basquete e acredita que a quantidade de possíveis atletas é limitada, já que pouco se cobra da instituição para que seja feita uma política de apoio e de implantação. Os alunos atletas, por estarem mergulhados na cultura brasileira de paixão ao futebol, não se aventuram tanto e preferem continuar praticando sempre as mesmas atividades esportivas. Cabe aos responsáveis, seja no coletivo acadêmico ou na sociedade como um todo, incentivar uma lista maior de esportes para aumentar o número de atletas e ampliar a diversidade de modalidades, porém essa perspectiva não se aplica na prática. O coordenador de Educação Física, Idebaldo Grisi, foi conclusivo quando disse que o mais importante é que os alunos tenham muitas opções quando forem decidir o que querem praticar: “Não precisa sempre estar atrás de novos talentos para jogar as Olimpíadas, é muito importante também termos uma variedade de possíveis escolhas para lazer e entretenimento à disposição dos estudantes”. Grisi ainda afirmou que seria legal ter mais alternativas e que trabalha junto à universidade dentro de limitações e que o possível é feito dentro desses percalços normais.


saúde

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Fotos: Thaís Garcia

Estudantes e profissionais da saúde protestaram no hall do hospital univeritário de forma silenciosa, apenas com faixas e cartazes, para não incomodar os pacientes que há meses lotam a unidade hospitalar

Atendimentos no HU estão parados e protestos aumentam Médicos residentes e internos paralisaram suas atividades por seis dias em protesto às condições de atendimento no hospital Larissa Pereira O fechamento do bloco cirúrgico do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HU), noticiado na última edição do Questão de Ordem, evidenciou a paralisação, motivada pela reforma e pela falta de materiais básicos como luvas descartáveis, drenos e cateteres, desde o dia 31 de outubro. Os médicos residentes e internos da unidade, então, em protesto à suspensão das cirurgias paralisaram as suas atividades durante seis dias, entre os dias 25 de novembro até o dia 30 do mesmo mês. Durante esse tempo, eles fizeram manifestações no Campus I da Universidade Federal Paraíba (UFPB), onde fica o HU, para denunciar que há mais problemas na unidade do que o fechamento provisório do bloco cirúrgico e a falta de materiais na clínica-médica. Há ainda suspensão dos serviços de obstetrícia por insuficiência de profissionais e por falta de alimentação adequada para os doentes internados. A paciente Severina da Silva, de 70 anos, é de Riachão do Poço a 44 km da capital, e está internada no HU há um mês para fazer exames periódicos, mas ainda não conseguiu. Ela é diabética e está inquieta para voltar para casa e para ficar com a família. Para pedir por pessoas como ela, foi feito o primeiro ato público em frente ao HU. Eles vestiram jalecos, usaram uma faixa preta no braço em sinal de luto pela situação que enfrenta a unidade hospitalar, colocaram narizes de palhaço e seguraram faixas com denúncias e pedidos de socorro para o que chamam de sucateamento do serviço público de saúde federal. Os manifestantes deram um abraço simbólico no HU e depois seguiram em caminhada até a reitoria para pedir providências. Segundo o coordenador do movimento da paralisação e médico re-

Lei sobre a gestão de HUs é aprovada

Estudantes e profissionais da saúde protestam, em nome da população, contra as péssimas condições de atendimento no HU da UFPB sidente de psiquiatria do HU, José Brasileiro, 230 pessoas, dentre médicos residentes e internos, pararam de trabalhar para pedir melhorias. “Há risco de os programas de residência médica serem descredenciados, se a Comissão Nacional de Residência Médica tiver conhecimento desta situação”, alertou. Ainda de acordo com ele, desde que o bloco cirúrgico parou de funcionar, nada foi feito. Aliás, a situação se agravou. Dos 19 profissionais da obstetrícia, 10 se aposentaram nos últimos 15 dias, por isso partos também não estão sendo feitos. Em média, 10 pacientes por dia são prejudicadas. Dados da diretoria A crise do hospital é estimulada também por problemas vinculados à aposentadoria dos funcionários. Segundo o superintendente do hospital João Batista da Silva, dos 220 médicos do HU, 40 se aposentaram nos últimos dias, outros dois solicitaram formulário à diretoria para se aposentar. Ele informou que a

UFPB tem autonomia para realizar concurso público nesses casos, por isso reuniu chefias médicas do hospital que já formalizaram um pedido para a Reitoria, deve haver um concurso neste mês de dezembro de 2011 para 40 médicos. Apesar de apoiar a manifestação dos residentes e estudantes, ele considera que a situação piora ainda mais com a paralisação do trabalho deles, já que é um hospital escola, portanto necessita permanentemente dos serviços dessas pessoas. O superintendente revelou que o HU enfrenta também dificuldades financeiras. Por mês é repassado pelo governo federal, um milhão e trezentos mil reais, mas o necessário seria entre quatro milhões e quatro milhões e meio de reais para suprir as necessidades do hospital. “Ter disponível de graça atendimentos de alta complexidade de saúde não tem preço, mas custa caro”, acrescentou o superintendente. João Batista da Silva disse que não há condições de retomar as ci-

rurgias em vinte dias como determinou a justiça porque a pequena reforma no bloco cirúrgico deve durar, pelo menos, 45 dias. Entretanto, quando for concluída, ele confirmou que sete salas serão reabertas para retomar as cirurgias eletivas (programadas). Por enquanto há duas funcionando para atender as emergências. Ele admitiu que faltam materiais de consumo diário, explicou que não há dinheiro para adquiri-los, mas informou que levou a questão ao coordenador nacional de hospitais universitários e que foi autorizado, no dia 25 de novembro, crédito de quatro milhões cento e quatro mil reais do Ministério da Educação (MEC). Com este recurso, que segundo João Batista, já está disponível, deve haver material de consumo no HU durante os próximos quatro meses. De acordo com o superintendente, o MEC está comprando ainda mesa cirúrgica e carros de anestesia. Continua na pág. 10

Em meio ao caos no HU de João Pessoa e com o objetivo de tirar do MEC a responsabilidade de arcar com as despesas dessas unidades de saúde, no último dia 22 de novembro, foi aprovado, no Senado Federal, o projeto de lei que autoriza a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A. (Ebserh), entidade estatal destinada à gestão dos hospitais universitários federais. O texto prevê que a Ebserh respeitará o princípio da autonomia universitária ao administrar os HUs. A oposição a esse tipo de gestão teme que a ela siga as normas de direito privado e ainda facilite a terceirização da mão-de-obra nesses hospitais, que passariam a ser administrados sob a ótica mercadológica, não mais educativa com função social. Para o estudante interno Francieudo Rolim, do 9º período de Medicina da UFPB, a decadência dos serviços do HU é intencional. “O governo federal deve deixar chegar a esse ponto de parar os atendimentos, para justificar a privatização”, constatou indignado o aluno. O superintendente do HU apóia a criação dessa empresa por entender que ela vai disponibilizar mais recursos para o hospital, além de acabar com a terceirização no serviço público. Ele afirmou que cada unidade terá uma subsidiária que deve estar ativa em janeiro de 2012.


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saúde

JOÃO PESSOA - PARAÍBA 8 A 15 DE DEZEMBRO DE 2011 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB

Audiência pública discute as falhas no HU Cairé Andrade Auditório lotado de estudantes e residentes do curso de Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) para assistir à audiência pública que reuniu representantes de órgãos de saúde do estado e da universidade. Em pauta, o sucateamento do Hospital Universitário Lauro Wanderley e possíveis resoluções para os problemas da unidade. “O HU é um órgão suplementar UFPB, e tem como missão o atendimento de média e alta complexidade, bem como ser um importante campo de prática para a formação dos profissionais da área de saúde”. Assim também começa o texto do panfleto entregue a quem esteve na audiência que ocorreu no último dia 28, no auditório de Fonoaudiologia, no Centro de Ciências da Saúde (CCS), Campus I da UFPB. O evento fez parte da programação do movimento de paralisação que aconteceu entre os dias 25 e 30 de novembro e foi promovido por estudantes de medicina e médicos residentes da UFPB. Essa audiência teve o intuito de discutir questões de gerenciamento da unidade, inclusive quanto às pendências urgentes e sobre a possibilidade de privatização do hospital universitário. Participaram da audiência o rei-

tor, Rômulo Polari; a diretora do Centro de Ciências da Saúde (CCS), Margareth Diniz; o diretor do Centro de Ciências Médicas (CCM), Marco Antônio; o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), João Medeiros; o representante dos internos, Pablo Cartaxo; o superintendente do HU, João Batista da Silva; o coordenador do movimento e representante dos médicos residentes, José Brasileiro; e o presidente do Sindicato dos Médicos da Paraíba, Tarcísio Campos. Declarações O reitor da UFPB, Rômulo Polari, disse que todos os esforços estão concentrados para resolver a situação do hospital. “A universidade está se antecipando e fazendo o que pode, mas não há verbas suficientes na instituição para resolver todos os problemas”, revelou Polari. O atual reitor da universidade completou, afirmando que a avalanche de aposentadorias deve ser resolvida com o concurso que será publicado em dezembro. Ele disse que há um esforço coletivo para realizar esse processo seletivo. Além disso, a instituição deve ajudar como pode na compra de equipamentos e outros materiais urgentes. João Medeiros, presidente do CRM-PB, afirmou que há uma

enorme preocupação entre os profissionais de saúde e a população com a realidade do HU, dada a complexidade do hospital em desenvolver ensino, pesquisa e extensão além de servir à sociedade com serviços primordiais de saúde pública. Tarcísio Campos, presidente do Sindicato dos Médicos, aproveitou o espaço concedido na audiência para lamentar a aprovação no Senado Federal da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Ele afirmou que a situação do hospital é caótica, insustentável e constante. Tarcísio completa: “A crise é enfrentada em todo o país e parece ser proposital para justificar a criação e implantação da empresa. Há, no projeto, a previsão para atendimentos de planos particulares, o que não deixa de ser uma forma de privatização”, completou indignado. O superintendente do HU, João Batista da Silva, retificou e enfatizou o que já tem sido feito pela unidade para minimizar e também para resolver os recorrentes problemas enfrentados pelo HU. Ele citou que o Ministério da Educação (MEC) enviou verba para financiar as pendências urgentes e reforçou o que o reitor afirmou a execução de concurso público para substituir os aposentados.

Fotos: Cairé Andrade

Reitor Rômulo Polari explica o que a instituição pretende fazer pelo Hospital Universitário

Estudantes e profissionais da saúde vão à audiência no auditório de Odontologia, no CCS

ODONTOLOGIA

UFPB inova com criação de banco de dentes Filipe Assunção Os centros de ensino, coordenações e departamentos de cursos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), tem investido cada vez mais na melhoria das condições de aprendizagem dada aos estudantes. Para isso, tem sido feitas iniciativas no campo pedagógico para que os alunos da universidade possam ter uma melhor estrutura de ensino, a fim de torna-los profissionais mais capacitados na área de atuação que escolheram. Um dos cursos beneficiados com as melhorias nas estruturas de aprendizado foi o de Odontologia. No começo deste semestre, por iniciativa de um grupo de professores, liderado pelas assessorias de Pesquisa e de Organização e Método do Centro de Ciências da Saúde (CCS), foi criado o Banco de Dentes Humanos (BDH). Esse banco atende alunos do 4º ao 7º período de Odontologia. O local armazena dentes humanos que são doados e que serão utilizados nas aulas práticas dos estudantes. Todos esses dentes ajudam no ensino de diversas cadeiras do curso. Antes da criação deste banco, os próprios alunos tinham que conseguir os dentes humanos com dentistas ou com pessoas conhecidas que trabalhassem na área. A professora de Odontologia da UFPB e coordenadora do Banco de Dentes Humanos, Rosângela Marques, conta que a origem deles era a grande inquietação dos professores. “Não sabíamos da procedência dos dentes trazidos pelos alunos, como eles tinham sido conseguidos, se tinham passado por processo de limpeza e de desinfecção. Tudo isso representava risco aos alunos, pois o dente possui potencial infectante”, destacou a professora. Agora, com o banco de dentes, o processo de limpeza, desinfecção e esterilização é feito dentro dos preceitos de biossegurança, o que traz tranquilidade para professores e para alunos. Além disso, o Banco de Dentes

Humanos também garante as questões éticas da doação, já que todas as pessoas que doam assinam termos de doação, o que torna possível saber a procedência dos elementos dentários. A coordenadora do banco reforçou a importância desta recente criação para os alunos e para os professores. “A criação do banco foi extremamente importante. Os alunos não precisam mais conseguir os dentes, isso tira uma carga deles. Já para os professores, é importante saber de onde vieram os dentes, ter a certeza de que tudo está nas normas éticas e de biossegurança. Os dentes humanos são de fundamental importância no treinamento pré-clínico da Odontologia”, frisou Rosângela. A UFPB é a primeira universidade da Paraíba a possuir um Banco de Dentes Humanos. No Brasil, há aproximadamente 15 bancos, o maior é o da Universidade de São Paulo (USP) que possui aproximadamente 10 mil dentes no seu estoque. Falta de dentes Um dos problemas enfrentados pelo Banco de Dentes Humanos da UFPB é a ausência de uma quantidade adequada de dentes humanos. Atualmente, o banco possui um estoque de 500 dentes, o que ainda é pouco. Devido a essa falta, os elementos dentários só estão sendo usados nas aulas práticas, por isso as pesquisas não estão sendo atendidas. Para aumentar o número de dentes, o banco está concluindo um convênio com a Prefeitura Municipal de João Pessoa, para que sejam doados os dentes que são extraídos nos postos do Programa Saúde da Família (PSF). Também há parceria com clínicas e consultórios privados. Mesmo assim, se faz necessário conscientizar da população em geral e dos dentistas acerca da importância da doação. “Esses dentes muitas vezes vão para o lixo, quando podiam servir para o ensino”, lamentou a professora Rosângela Marques.

Fotos: Herbert Clemente

Os dentes são armazenados e estocados em geladeira para serem usados nas aulas práticas pelos alunos do curso de Odontologia

O banco de dentes foi criado no 2º semestre deste ano para fins educacionais e funciona no Centro de Ciências da Saúde, no Campus I É importante destacar que qualquer pessoa pode doar os que são extraídos, não há nenhuma restrição quanto ao que pode ser doado, pois todos serão utilizados em diversas áreas de ensino. Este ato é de extre-

ma importância para a formação dos alunos de Odontologia. Interessados em doar devem procurar o Banco de Dentes Humanos, no Centro de Ciências da Saúde da UFPB. O banco de dentes funciona de

segunda a sexta-feira, das 8h ao meio-dia. O telefone de contato é o 3216-7850. Para saber maiores informações, basta acessar o conteúdo disponível no site: www.ccs. ufpb.br/bancodedentes.


política

JOÃO PESSOA - PARAÍBA 8 A 15 DE DEZEMBRO DE 2011 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB

Estatuinte continua tema de campanha em eleição Processo que reestrutura funcionamento da universidade foi promessa não cumprida por Polari Uane Junilhia O documento que regula todos os processos de gestão e de representação dentro da Instituição, denominado de regimento, que hoje vigora na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) é datado de 1969, período da ditadura militar no Brasil. Na tentativa de instituir um novo regimento na UFPB, foi criada uma Comissão Especial de Processo Estatuinte. A estatuinte é o processo de debate e elaboração de um novo regimento que irá reestruturar as normas de uma universidade. É um instrumento que reafirma a democracia nas instituições, permitindo que haja uma gestão com abertura de diálogo entre todos os segmentos que constituem a comunidade acadêmica. Para o professor de História da UFPB, Raimundo Barroso, os termos que o estatuto atual possui não condizem mais com a realidade vivida politicamente hoje. “As regras básicas de convívio na nossa universidade estão em descompasso com a atualidade. O que no nosso estatuto está posto, como atos de indisciplina de estudantes, são atos ainda pensados no tempo da dita-

dura, por exemplo, como indisciplina estudantil está postulado a baderna, a propaganda comunista, a agressão moral e o modo como se vestir”. A questão das roupas apenas exemplifica uma das ineficiências do regimento atual, que exige o uso de trajes formais. A realidade é bastante diferente. Pelos campi circulam alunos, professores e funcionários com trajes informais, evidenciando que, na prática, o regimento não é respeitado. Barroso fazia parte da Comissão Especial de Processo Estatuinte, que em 2005 elaborou uma “Proposta de Modelo de Processo Estatuinte”. Ele explica que a assembleia estatuinte funcionaria, na proposta, como um colegiado politico-acadêmico, representado pelos três segmentos da universidade: os docentes, os servidores e os estudantes, com o propósito de apresentar aos conselhos superiores uma nova formulação. Estes seriam representados por delegados eleitos e cada segmento teria direito a um número equânime de 31 membros que discutiriam o novo regimento a entrar em vigência. Reitoria Mesmo tendo sido promessa de campanha do atual reitor

Foto:Uane Junilhia

Professor Raimundo Barroso Jr, ex-membro da Comissão Especial de Processo Estatuinte Rômulo Polari, que permaneceu por dois mandatos, a estatuinte não foi criada. A UFPB está atravessando novamente um momento eleitoral, os candidatos à Reitoria afirmam, como publicado na 2ª edição, que irão colocar em prática a estatuinte e, por isso, o assunto voltou à tona no ambiente universitário. Alexandre Santos, membro da gestão passada do Diretório Cen-

tral de Estudantes (DCE), critica que “Polari foi um reitor oligarca com perfil de reformista. Manteve as estruturas arcaicas para não perder controle político ou administrativo”, mas afirma acreditar nas propostas dos candidatos. “Diferentemente de Polari, tenho a impressão que a maioria dos candidatos e das candidatas desta próxima eleição virá mais comprometida com o processo da estatuinte”. O presidente da Sintes-PB, Rômulo Batista, destacou que: “A alegação de Polari é que essa estatuinte deveria partir da comunidade universitária, embora eu ache que a administração deveria tomar esta iniciativa, convocar e estabelecer os critérios para que pudéssemos caminhar em relação a isso”. Já o presidente da Aduf-PB, Ricardo Lucena, afirmou que a estatuinte “não foi implementada, porque não houve interesse, nem da administração nem de determinados grupos da universidade, que esta fosse democratizada. O que nós vamos trabalhar agora enquanto diretoria é criar uma discussão, fomentar um debate para poder levar aos órgãos deliberativos da universidade o nosso desejo que este fórum seja realizado”.

Doutor honoris causa

Dom José Maria Pires terá honraria Foto:Divulgação

O mineiro Dom José Maria Pires, nascido em março de 1919, foi clérigo atuante na Paraíba Pedro Alves De acordo com o Regimento Geral da instituição, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pode outorgar três tipos de títulos honoríficos a pessoas que, de alguma forma, tenham contribuído para o progresso da universidade, da educação em geral, da região na qual está inserido, ou do país. Os títulos designados aos docentes são de dois tipos: o de Professor Emérito, que é concedido a professores ou aposentados da própria UFPB que tenham contribuído bastante no ensino e na pesquisa, e o de Professor honoris causa, dado a professores ou cientistas, que não fazem parte do quadro da instituição, mas que lhe tenham prestado relevantes serviços. Além destas duas honrarias, a universidade pode conceder também o título de Doutor honoris causa, que é para perso-

nalidades importantes, que tenham alcançado algum papel relevante na sociedade. A UFPB já concedeu diversos títulos como este a grandes brasileiros, a exemplo do escritor Ariano Suassuna, em 2001, do economista Celso Furtado, em 1992, e do músico Sivuca, em 1999, todos eles paraibanos. O título também já foi dado a personalidades internacionais como o arquiteto Mario Botta e o sociólogo francês Edgar Morin. No mês passado, em reunião do Conselho Universitário (Consuni), foi aprovada a concessão do título Doutor honoris causa ao arcebispo emérito da Paraíba Dom José Maria Pires. Dom José Maria Pires nasceu em Córregos, distrito da cidade de Conceição de Mato, no estado de Minas Gerais, no ano de 1919. Aos 12 anos, entrou para o seminário e foi ordenado Padre aos 22, no ano de 1951. O ano de 2011 marca os 50

anos de ordenação do Arcebispo. O mineiro chegou ao Nordeste pelas mãos de Dom Hélder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e de Recife, em 1966, dois anos depois do golpe militar de 1964, que baniu a democracia do país. Negro, Dom José Maria Pires sempre foi um dos grandes defensores das minorias. Dom Pelé, ou Dom Zumbi, como também ficou conhecido, foi criticado dentro e fora da igreja por sua postura progressista, assumida contra o regime militar. Ele também foi bastante crítico aos latifundiários, sendo um dos grandes defensores da reforma agrária no Brasil. Esteve à frente da arquidiocese da Paraíba por 30 anos, durante a vigência da ditadura militar. Era muito respeitado pelos estudantes, companheiros de luta pela busca da democracia. Os estudantes, imersos naquele momento político, sempre viram no arcebispo um grande exemplo e, por isso, inúmeras vezes, ele era convidado para ser o paraninfo geral dos universitários ou de algumas turmas de graduação da UFPB. Com 92 anos, Dom José Maria, atualmente, reside em Belo Horizonte. Doutor honoris causa Por toda sua história de vida, dedicada à religião e à busca pela igualdade social, a UFPB, através do Consuni, aprovou a concessão do título de Doutor honoris causa ao Arcebispo, no dia 29 de novembro. Antes de chegar ao Consuni, o pedido do título, que foi feito pela professora de Pedagogia Maria do Socorro Xavier Batista, já havia sido aprovado pelo departamen-

to do curso e pelo conselho do Centro de Educação. Chegada ao Consuni, a concessão do título foi votada pelos conselheiros. A decisão pela outorga da honraria de Doutor honoris causa foi unânime, com todos os conselheiros presentes sendo favoráveis. “Acabamos descobrindo, ao longo do processo, que Dom José Maria Pires já tinha um título de Professor honoris causa e agora estamos lhe atribuindo o título de Doutor honoris causa”, contou Ariosvaldo Diniz, diretor do Centro de Humanas Letras e Artes (CCHLA), membro do Consuni e relator do processo que deu ao Arcebispo o título. O professor, que conviveu com Dom José Maria Pires em períodos violentos da ditadura militar, ainda falou da importância do Arcebispo naquele contexto e da relação dele com os estudantes. “Só quem viveu aquele período sabe a importância de Dom José. Ele era realmente uma figura encantadora, carismática, com enorme prestígio no contexto estudantil. Dom José foi uma grande personalidade, não só por sua atuação religiosa como Arcebispo da Paraíba durante 30 anos, mas também por sua atuação política, sobretudo crítica e contrária ao regime militar. Foi fundamental também seu envolvimento no processo de educação, sua adesão à teologia da libertação e à luta pela reforma agrária”, concluiu. A cerimônia para a concessão do título ainda não foi marcada, mas segundo o diretor do CCHLA, deve acontecer ainda neste mês de dezembro.

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EU PROTESTO Envie suas queixas e reivindicações para este espaço do QO. redacao.qo@gmail.com

Braile Eu protesto contra a organização horrível dos livros em braile, na Biblioteca Central, para os alunos com deficiência visual, entre outros problemas. A Reitoria pensa que acessibilidade é só questão de rampas. Não é. Pedro Felipe de Lima, estudante do 2º período de Letras em Português.

Desrespeito Eu protesto contra a falta de vergonha na cara de certos professores em quase todos os cursos da UFPB. Com o emprego “garantido” como funcionário público, cansamos de ver professores que simplesmente não vêm dar aula, ou seja, nem comparecem ao trabalho pelo qual foi contratado, que dirá outros problemas. Helder Gonçalves, estudante do 2º período de Engenharia Civil.Ciências Sociais.

Luta estudantil Eu protesto contra a falta de envolvimento da maioria dos professores que não apoiam as lutas do movimento estudantil. Mateus Vicente, estudante do 3º período de Psicologia.

Internet Eu protesto contra a escassez de internet na UFPB. Acho que é extremamente necessário, tanto para o curso de comunicação como para qualquer outro, a instalação de pontos de acesso a rede sem fio (Wi-fi) na universidade. Larissa Mendes, estudante de Comunicação Social.

Infra-estrutura Eu protesto contra o descaso com as salas de aula. Já assisti muitas aulas morrendo de calor e sofrendo de alergia por causa da poeira causada pela falta de limpeza. Fora os equipamentos, computadores e data-shows, que, ou não funcionam, ou tem algum componente defeituoso. Naiara Britto, estudante do 4º Período de Tradução.


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política

JOÃO PESSOA - PARAÍBA 8 A 15 DE DEZEMBRO DE 2011 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB

Reitor avalia desempenho faltando um ano para o fim de sua gestão Em entrevista ao Questão de Ordem, Rômulo Polari analisa os pontos principais dos seus sete anos à frente da Reitoria Joel Cavalcanti Na última edição do Questão de Ordem, trazemos uma entrevista com o reitor Rômulo Polari. A intenção inicial seria para que ele avaliasse de forma livre e pessoal sua gestão, quando esta se aproxima do último ano. Por mais de uma semana em contato com assessoria de imprensa, foi tentado por várias vezes marcar uma entrevista. Sob alegação da falta de tempo na agenda, nos foi dado apenas a opção de enviar as perguntas por e-mail, o que impediu nossa réplica, condição sem a qual não existe sequer diálogo, o que não contribuiu de forma satisfatória para a apresentação de respostas condizentes com as perguntas solicitadas. Apesar disso, e até para ilustrar esta relação de pouco afinidade com a atividade democrática de debater publicamente seus atos administrativos, julgou-se que o interesse jornalístico estaria preservado, uma vez que os dados expostos nas respostas do reitor podem interessar a alguns leitores, justificando a publicação. Como o senhor qualifica sua gestão e como pretende ser lembrado? A UFPB praticamente dobrou de tamanho nos últimos sete anos, tan-

to na sua dimensão acadêmico-científica como na disponibilidade de infraestrutura, edificações, condições técnicas, etc. A qualidade do ensino da graduação e da pós-graduação manteve-se em alta e atingiu patamares mais elevados. A extensão foi mais efetiva e próxima da sociedade. Muitos dos nossos projetos ainda estão em fase de conclusão, a exemplo do Centro de Cultura e Arte, do Instituto de Desenvolvimento do Estado da Paraíba e da Vila Olímpica. Além dos novos centros recém-criados: Informática, Energia Renováveis, Biotecnologia e Comunicação Arte e Turismo. Ainda há muito por ser feito, mas a UFPB deu passos firmes e se consolidou como a melhor universidade da Paraíba e uma das maiores e melhores do Nordeste. Qual o maior erro e o que o senhor gostaria de fazer e não conseguiu nesses quase oito anos de gestão? Cumprimos quase que integralmente a nossa carta-programa. Em alguns casos fomos até mais além do que foi planejado. Muitos não acreditavam que pudéssemos expandir com qualidade. Provamos que eles estavam errados. A comunidade universitária entendeu e apoiou esse projeto.

Foto: Herbert Clemente

Polari, em fim de mandato, mas satisfeito Eventuais erros ou equívocos fazem parte da condição humana, mas estou feliz e satisfeito com os resultados. Alguns colocam a não convocação da Estatuinte como seu maior erro. Por que o senhor não cumpriu com essa promessa de campanha? A Reitoria propôs e conseguiu o aval do Consuni para a deflagração de uma Estatuinte. Eu, pessoalmente, visitei as entidades representativas dos professores, servidores e estudantes solicitando mobilização para a instalação do processo. In-

felizmente isso não ocorreu. Tenho dito que uma Estatuinte só tem sentido se houver ampla participação dos três segmentos. O senhor acredita que a eleição de sua candidata à sucessão seria como uma aprovação de sua gestão? É muito importante, não para mim, mas para a própria UFPB e para a Paraíba, que o caminho que está sendo trilhando não seja abandonado. Ademais, o novo reitorado poderá avançar mais fortemente à integração da universidade com a sociedade e o setor produtivo, a partir da implantação do IDEP, do Centro de Cultura e Arte e da Vila Olímpica. Esses desafios certamente serão enfrentados com mais eloquência por quem acredita e participa do projeto em andamento. Quem trabalha no HU afirma que o hospital entrou em um processo de sucateamento. O que ocorreu e qual sua responsabilidade neste caso? É importante lembrar que, no período de 2005 a 2010, foi realizado um vigoroso programa de recuperação da infraestrutura física e acadêmica do hospital. É incompreensível que num período de apenas 11 meses a estrutura física dele tenha

se deteriorado tão rapidamente. Cabe esclarecer que a gestão financeira do Hospital Universitário é descentralizada. As verbas destinadas ao HU são recebidas diretamente pela direção do hospital, em conta própria, que tem autonomia para gasta-las segundo seu plano de trabalho. Os recursos que o hospital recebe resultante da contratualização com o Sistema Único de Saúde passaram de 14 milhões de reais, em 2010, para 19 milhões, em 2011, um expressivo aumento de 35%. Ademais, o HU foi contemplado com mais R$ 7 milhões de reais, provenientes do Programa de Reestruturação dos HU, totalizando uma receita 26 milhões de reais, valores que são administrados pela superintendência eleita do hospital, a quem compete à manutenção dos serviços. No plano das despesas, o que se verifica atualmente é o incremento de gastos com serviços terceirizados. Neste ano de 2011, o HU aumentou suas despesas com terceirizados em 60% no mesmo período em que suprimentos básicos do hospital foram cortados. O que o senhor fará profissionalmente depois de sair deste cargo? Continuarei nas minhas atividades acadêmicas.

representatividade

DCE é rotativo e pouco atuante no Consuni Secyciliana Braz Determinados pela ética na política, pela luta dos direitos dos cidadãos e por um espaço de representação frente às instituições, o movimento estudantil brasileiro gerou ao longo da história um importante foco de mobilizações sociais. As manifestações, protestos e reivindicações marcaram por décadas o ainda incipiente cenário da democracia no Brasil. A partir do incentivo das organizações representativas de âmbito universitário, tais como o Diretório Central Estudantil (DCE), a União Estadual dos Estudantes (UEE) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), a classe tornou-se fundamental no cenário político do país, motivados pelas expressivas mobilizações. Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a inserção dos discentes à instância de decisão máxima de assuntos relativos à instituição acontece através das eleições do DCE e, em seguida, pela participação destes no Conselho Universitário (Consuni), que é o órgão deliberativo e a instância máxima de decisão da instituição. Nele são discutidas e articuladas questões centrais que interferem ou que dizem respeito à comunidade universitária. O conselho é composto por todos os segmentos da UFPB. A representação doscente é composta pelo reitor, como presidente, pelo vice-reitor, como vice-presidente, pelos pró-reitores de administração, de planejamento e desenvolvimento, pelos diretores de centros e ainda um representante do pessoal do-

cente de cada centro. A representação dos discentes é administrada pelo DCE. O conselho se completa com o pessoal técnico-administrativo e um representante da comunidade. Os representantes dos estudantes possuem o mesmo espaço que os servidores administrativos, ou seja, 15% das cadeiras do Consuni dentro do período de um ano, relativo à gestão de um DCE. Segundo o coordenador da Secretaria de Órgãos Deliberativos da Administração Superior (Sods), Agamenon Travassos, os assuntos tratados são igualmente discutidos pelos membros. Os estudantes têm a autonomia de levar às reuniões qualquer assunto, como também votar e decidir pelo que lhe são de interesse. Entretanto, o tempo curto de permanência dos representantes, por causa do tempo de mandato do DCE, não consolida da classe dentro do conselho. “O mandato de um ano proporciona uma instabilidade, já que talvez não permita que o estudante se consolide e se aproxime dos procedimentos regimentais. Além disso, tem sido comum nas últimas representatividades do DCE, uma rotatividade dentro desse período, uma vez que não há uma obrigatoriedade de participação como há no aspecto administrativo”, enfatizou Agamenon. Ausência É notável uma preocupação dos alunos sobre a divisão segmentada que há no Consuni e o peso deles no conselho. Entre os questionamentos está a atual ausência da gestão do DCE, no que acarreta em uma lacuna na representatividade

Foto:Herbert Clemente

Reunião do Consuni, formado por 70% de professores, 15% de técnicos e 15% de alunos estudantil, diante da universidade. “O Consuni, da forma como é estruturado, não favorece a vida dos estudantes, nem de qualquer outra parte constituinte da universida-

de que não seja a própria Reitoria. Qualquer lógica hierárquica, que se dê burocraticamente de forma inexorável, desfavorece a transformação social e a liberdade”, opinou o

estudante de História José Ferreira, referindo-se à divisão e à representatividade dos estudantes dentro do conselho. Segundo o diretor do Centro de Ciências Letras e Artes (CCHLA), Ariosvaldo Diniz, esse ano, questões de extrema relevância, que são de direto interesse à classe estudantil foram discutidas. Temas como a regulamentação da jornada de trabalho dos funcionários, o ponto eletrônico, a reestruturação da universidade, a criação de cursos e de novos centros e assuntos com relação ao Hospital Universitário (HU) foram bastante explorado nas reuniões. Em alguns desses encontros, os alunos não foram representados, considerando que, no momento, a UFPB não possuia representatividade do DCE. “O Consuni é um espaço de debates, todos os assuntos que passam por lá são avaliados e tornam-se práticas. Desse modo, todos os membros, independente de cargo, são ouvidos e possuem poder de decisão, inclusive os estudantes”, explicou o diretor, evidenciando a importância da participação dos estudantes. Os ideais precisam se expandir, seja através de reuniões como as do Consuni ou de protestos e manifestações. Espaços, a exemplo do DCE e do CA, devem ser explorados, melhor aproveitados e ocupados pelos estudantes. A reintegração dos alunos ao DCE depende da própria autonomia do movimento estudantil. Essas unidades políticas só serão um local plenamente representativo se demanderem maior engajamento de todos os que compõem a comunidade acadêmica.


cultura

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JOÃO PESSOA - PARAÍBA 8 A 15 DE DEZEMBRO DE 2011 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB

Diversidade musical aumenta e novas bandas surgem na UFPB Apesar do crescente surgimento de bons músicos, alunos ainda reclamam da falta de apoio por parte da instituição Fotos: Divulgaçãos

Giovanna Ismael

Felipe Matheus, explica a visão adotada pela banda. “A gente enxerga A ideia de que a universida- nossa banda como algo maior. Acho de é a propulsora dos grandes pro- que ninguém faz uma banda pafissionais do futuro talvez faça par- ra ficar preso a um estúdio. Mas, o te do imaginário geral acadêmi- nosso momento atual é de ensaios, co. Esse pensamento, quando dis- composições e arranjos”, declara. tancia oportunidades de lazer ou No âmbito internacional, lendáde possíveis carreiras paralelas, tor- rias bandas também foram formana-se restrito para os universitários das na época de faculdade, a exemque almejam algo mais, como se- plo dos grupos ingleses Pink Floyd, guir a carreira musical. A Univer- Queen e Radiohead. “Na universidade Federal da Paraíba (UFPB), sidade, você começa a lidar com ao longo dos anos, vem sendo lugar gente mais velha, adulta; torna-se de origem de grupos musicais dos mais independente. O espaço mais mais distintos estilos. amplo possibilita que você conheNão é tão fácil, simplesmente, ça pessoas com gostos mais parecioptar pela formação de uma ban- dos”, diz o guitarrista Marcos Roda sem que sesa, membro da ja composta de banda Jazzera. pessoas dedicaTodos os das, caso conmúsicos entretrário, provavistados, apesar velmente o grude participarem po não vai durar de bandas topor muito temtalmente distinpo. Muitos grutas – uma de japos que se forzz, uma de sammam no desenba, uma de inrolar da vida die rock e uma acadêmica têm influenciada peMarcos Rosa que lidar com as lo manguebeat dificuldades de –, concordaram conciliar os esem um pontudos e as ativito: a maturidadades da banda. Essa é, talvez, uma de com que se entra na faculdade e das maiores preocupações enfrenta- a diversidade cultural do ambiendas. Para Ravi Freitas, aluno de Jor- te contribuem para a formação de nalismo e baixista da banda de in- um grupo musical com maior facidie rock Wolfgrand, o segredo pa- lidade do que, por exemplo, no cora conciliar tudo é a consciência do légio. “Sempre tem alguém andando que é prioridade e do que não é. com um violão nas costas no camA noção de “banda universitária” pus. Na universidade, dá para matar não necessariamente significa um uma horinha para ir ensaiar com a grupo provisório, sem expectativas banda, coisa que não dá mais pra futuras. Algumas das bandas mais fazer quando se está trabalhando”, famosas do Brasil foram formadas como destaca o guitarrista da banda nos seus anos da academia, como Jazzera, Marcos Rosa. Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii e Los Espaço interno Hermanos. Nívea Maria, flautista da O espaço dentro da UFPB pabanda Tom de Samba e formada no ra estes grupos, principalmencurso de Música, explica que o gru- te para bandas que não são do curpo do qual participa sempre foi le- so de Música, limita-se, basicamenvado a sério. “Esse é o nosso curso e te, a calouradas. Nessas festas, gruprofissão escolhida, é como a gente pos musicais são convidados a tocar vai ganhar dinheiro de qualquer jei- para alunos dos seus cursos. Diego to”, diz. O guitarrista da Wolfgrand, de Oliveira, aluno de Letras e voca-

O espaço mais amplo possibilita que você conheça pessoas com gostos mais parecidos.

A banda Dose Perigosa, que surgiu na universidade, em 2006, tem influência do ritmo pernambucano manguebeat em seu trabalhos lista da banda Dose Perigosa, sente falta de apoio por parte da universidade. “Para a instituição, música é com os alunos de Música, e não acha que há necessidade de expandir mais que isso. A UFPB tem uma boa quantidade de bandas se formando, com propostas boas e diferentes do que habitualmente se escuta por aí nas noites de João Pessoa, ela só precisa enxergar isso”. Italan Carneiro, baterista da Jazzera, afirma que o apoio às bandas deveria ser uma das funções do Departamento de Música: “Deveriam existir projetos e ações que inserissem grupos musicais na comunidade”. Com o projeto de extensão de Música Popular, o curso de Música realiza semestralmente uma atividade denominada de Música em Performance, proporcionando maiores oportunidades para descobrir novas bandas. O evento teve sua 3ª e 4ª edição, respectivamente, nos meses de junho e outubro deste ano. O Música em Performance é promovido pelos Departamentos de Música e Educação Musical da UFPB e

também conta com o apoio do Programa de Bolsas de Extensão (Probex), da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Prac). O evento possui minicursos, oficinas e shows dos mais diversos estilos. Destinado a professores e estudantes dos cursos de bacharelado, licenciatura e sequencial em Música, abre espaço para grupos formados por universitários, porém, apenas para aqueles que estão nos cursos vinculados à área musical. Outras ideias Muitas das bandas iniciadas surgiram de um projeto. Algumas, quando formadas, se inserem em outras iniciativas, como sarais ou festivais. A Jazzera pretende trazer o projeto “Jazz Lá em Casa” para a capital paraibana em breve, que já acontece há mais ou menos três anos, em São Paulo e em Recife. “A ideia é levar o jazz ao lar dos seus apreciadores. Sem cobrar nada, nos dispomos a tocar em residências por duas, três horas”, explica Marcos Rosa. O grupo, em contrapartida, também não tocará em

uma residência onde a entrada será cobrada, porém o anfitrião poderá vender comidas e bebidas. “Em Recife, algumas pessoas até utilizam o projeto para promover eventos gastronômicos, inventando receitas e repartindo, mas esse lado de comes e bebes fica a cargo do dono da casa”, conclui. Ver a diversidade musical de João Pessoa ganhando mais espaço é uma gratificação para os admiradores da música na capital. O vocalista da banda Dose Perigosa acredita que deveria haver uma receptividade maior para os diferentes estilos musicais. “Acho que o que de fato ainda está faltando para os segmentos culturais aqui de João Pessoa ( e da UFPB também, claro), é entender que toda ideia deve ser ouvida e valorizada. Música não é apenas aquela que nos agrada ou que satisfaz os nossos interesses pessoais. Cada banda, cada artista, tem uma ideia e, se começarem a ouvir cada uma e a abrir as portas para a real coletividade, o quadro musical paraibano muda”, declara.

Para todos os gostos DOSE PERIGOSA Membros Diego de Oliveira – Vocal ( Letras Português), Danilo de Oliveira – Baixo (Arquitetura), Yuri Duarte – Guitarra (Arquitetura), Brenno Eduardo – Bateria (Biblioteconomia), Cayan Figueirêdo – Percussão (Administração) e Marcos Praxedes – Percussão (integra o grupo de dança popular Imburana). Tempo de banda O projeto existe desde 2006; o primeiro show aconteceu em 2009. Estilo

“Temos influências do manguebeat, de bandas como Chico Science e Nação Zumbi, mas o nosso estilo é próprio, passamos uma mensagem própria e, arrisco dizer, única”

JAZZERA Membros Michel chaves – Baixo, Italan Carneiro – Bateria e Marcos Rosa – Guitarra. Todos no mestrado de do curso de Música. Tempo de banda Desde 2010. Estilo

Jazz, com influências de Mike Stern, Pat Metheny, Jaco Pastorios, Dave Weckl, Chick Corea - and jazz standards. “A proposta é fazer uma jam com um repertório que vai de releituras de clássicos do Jazz, composições do

Fusion. O Se divertir tocando, mas não tocar brincando!” grupo e obras modernas de lema é:

TOM DE SAMBA

WOLFGRAND

Membros Gabriela Vilar – Vocalista (Licenciatura em Música Popular), Nívea Maria – Flautista (Licenciatura em flauta transversa), Luis Humberto – violão de sete cordas (Bacharelado em Violão), Kojak – banjo (Sem curso superior) e Carlos Moura – pandeiro (Bacharelado de Música).

Membros Felipe Matheus – Guitarra (Rádio/ TV), Ravi Freitas – Baixo (Jornalismo), Marcondes Orange – Bateria (Contabilidade).

Tempo de banda Desde 2009.

“A gente toca algo entre o indie rock britânico e o stoner rock, com uma pitada de um rock n’ roll mais cru, algo tipo o punk rock”. Influencias de Foo Fighters, Queens of the Stone Age e Wolfmother.

Estilo Samba de raiz e choro. Influências de Nelson Cavaquinho, Noel Rosa, Cartola, Adoniram Barbosa, Chico Buarque, Martinho da Vila, Pixinguinha, Zequinha de Abreu, Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim e Ernesto Nazareth.

Tempo de banda Desde abril de 2011. Estilo


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cultura

JOÃO PESSOA - PARAÍBA 8 A 15 DE DEZEMBRO DE 2011 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB

Fest Aruanda movimenta cena cultural através do cinema Entre os dias 9 e 14 de dezembro, o Festival trouxe cultura com exibição de filmes, realização de minicursos e de palestras Giovanna Ismael Após meses de ansiedade, começou, neste dia 9, a 7ª edição do Fest Aruanda. Com uma boa remessa de curtas e longa-metragens, o Festival traz uma semana de cultura para a capital, além das exibições audiovisuais, oficinas e minicursos acontecem nos últimos dias do evento. Nos dias 12, 13 e 14, João Godoy ministrará a oficina “Captação de som direto em documentário audiovisual”, das 8h às 12h. Marcelo Leite, por sua vez, será o ministrante da “Conceitos fundamentais de computação gráfica em 3D”, nos dias 10, 12 e 13, às 14h. Por fim, Marília Franco, nos dias 13 e 14, comandará o minicurso “Preservação audiovisual”, às 8h. Bete Mendes, Lúcia Murat e Luiz Carlos Vasconcelos são os homenageados desta edição. O ator Antônio Pitanga, também homenageado, e sua filha, a atriz Camila Pitanga, estiveram presentes na abertura do evento. Neste ano, o Fest trouxe como novidade o Festival TV Cabo Branco/Aruanda de Micrometragem. Os inscritos puderam submeter vídeos de 30 segundos a 3 minutos de duração, obedecendo ao tema “ser adolescente”. A diversidade se ampliava pelo fato de que três estilos puderam ser seguidos: documentário, ficcional ou de animação. Nos dias 3 e 4 de dezembro, antes do início do festival, sessões espe-

Fotos: Divulgação

Os homenageados: Bete Mendes, Antônio Pitanga e sua filha, Camila Pitanga

Bete Mendes (ao lado de Soia Lira) se emociona durante a abertura do evento

Público bem maior este ano, aplaude os homenageados na primeira noite da Festival

Bertrand Lira, Camila Pitanga, Beto Brant o fundador do Fest Aruanda, Lúcio Vilar

ciais foram exibidas no Busto de Tamandaré. A sessão infantil Aruandinha exibiu nos dois dias o longa-

dia 3, apresentou o fillme “Não Se Preocupe - Nada Vai Dar Certo”, de Hugo Carvana, para o público pre-

-metragem animado “Um Gato em Paris”, de Alain Gagnol e Jean-Loup Felicioli. A sessão Aruandando do

sente. Já no dia 4, o filme da noite foi o “Por 30 Dinheiros”, de Vânia Perazzo e Ivan Hlebarov.

nação miscigenada

Neabi realiza o ciclo de cinema Atlântico Negro Ítalo di Lucena A Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de erradicar a discriminação racial e de promover a igualdade entre os povos, considerou 2011 o Ano Internacional dos Afrodescendentes. A partir de tal iniciativa, alguns professores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) notaram a necessidade de promover a cultura negra. Criaram, então, o Núcleo de Estudos e Pesquisa Afro-brasileiras e Indígenas (Neabi). Uma das primeiras atitudes do grupo foi a realização do ciclo de cinema Atlântico Negro, entre os dias 28 de novembro e 2 de dezembro, para discutir a problematácia que envolve a cultura negra. Os filmes com temáticas afrodescentes tiveram muito sucesso na década de 1970, com o surgimento do gênero “Blaxploitation”, nos Estados Unidos. Tal estilo fílmico retratava a segregação racial do país, em que ônibus e escolas eram separados por “cor”. Além da segreção, o estilo mostrou ao público os costumes, a riqueza cultural e os hábitos das comunidades afroamericanas. Esse cinema tinha como protagonistas heróis e heroínas negros, como o personagem Sweetback, em Sweet Sweetback’s Baadasssss Song, e Pam Grier em Foxy Brown. Com

Foto:Solange Rosa/Divulgação

ra negros. São debates bastante relevantes e que são do interesse de todo mundo, afinal, interferem na vida de todos”. Valeska completa, declarando que “todos deveria ter participado do evento, porque esclareceu a mente de muita gente”. Danielle Trinta estuda no Instituto Federal da Paraíba (IFPB), mas, influenciada por sua amiga Valeska, também veio ao ciclo: “Eu vim sem saber muito bem do que se tratava, mas não me arrependo. Além de debates importantes, tive muitas dúvidas esclarecidas sobre as cotas, principalmente”. Dessa forma, o evento conseguiu acolher pessoas de todas as áreas da UFPB e, até, de outras universidades.

Palestra promovida pelo Neabi, na sala 402 do CCHLA, durante o Ciclo de Cinema Atlântico Negro, em que foi abordada a afrodescendência trilhas sonoras carregadas de funk e soul music, Marvin Gaye, Isaac Hayes e Motown eram usados constantemente. Começava nos cinemas, então, a luta contra o preconceito racial e a favor da cidadania e da tolerância. Dentre os filmes que foram exibidos no ciclo de cinema Atlântico Negro estavam: “Compasso de espera”, “Seleção de curtas”, “Cinco vezes favela: Agora por nós mesmos”, “Filhas do Vento” e “Bróder”.

Essa e outras ações do núcleo surgiram para refletir acerca dos direitos econômicos, sociais, civis e políticos dos afrodescendentes, além de promoverem o respeito e o conhecimento da diversidade, da herança e da cultura. De acordo com e professora Solange Rosa, organizadora do Neabi, eventos como esse são importantes para a formação social dos alunos e de pessoas que não sejam integradas à universidade. Ela ainda

disse que discutir temas relacionados à cultura afrodescendente faz parte da construção do cidadão. Além da participação de professores e alunos, o evento foi aberto a toda a comunidade. Muitos alunos também estiveram presentes no ciclo de cinema. Valeska Maia, aluna do curso de Letras, considerou o evento bastante produtivo: “O ciclo de cinema Atlântico Negro trouxe para perto da gente as discussões sobre o racismo, sobre as cotas pa-

Breve histórico O Neabi surgiu para mostrar o caminho histórico de escravidão e de submissão que foi percorrido durante o período em que o Brasil era colônia portuguesa, além da discriminação e da repressão sofrida pela comunidade de descendência africana no Brasil de hoje. A criação do núcleo se deu, especialmente, devido à ausência de um pólo que tratasse do assunto e que fosse especializado na cultura negra dentro da universidade. Ele agrega pesquisas em cultura social, debates sobre as cotas e leis que são relacionadas à população afrobrasileira.


cultura

JOÃO PESSOA - PARAÍBA 8 A 15 DE DEZEMBRO DE 2011 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB

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Era uma sala muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada... Demolição da Sala Preta, prevista para as férias, causou a improvisação de aulas ao ar livre, embaixo de árvores e em escombros Letícia Passos Os professores e os alunos do curso de Teatro da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) encontraram o Laboratório de Artes Cênicas, conhecido como Sala Preta, sendo derrubado, no dia 24 de outubro. A sonoridade comum das aulas teatrais foi substituída pelos roncos de serras-elétricas; os cenários, pelos entulhos. Segundo testemunhas, o espaço que, além de sua importância acadêmica, faz parte da cultura paraibana foi demolido em pleno período letivo, sem o aviso prévio ao corpo discente e docente, não havendo, inclusive, uma substituição de sala. O Departamento de Artes Cênicas (Decen) contava com três laboratórios (a Sala Verde, o Lampião e a Sala Preta), além do Núcleo do Teatro Universitário (NTU), onde se localiza no Teatro Lima Penante. Este último é pouco usado para as aulas, já que se encontra fora do Campus I. “Hoje, com a demolição da Sala Preta ficamos definitivamente sem chão”, relatou o aluno do 6º período de Teatro, Adailson Costa. O estudante ainda ressalta que, com o aumento da demanda de estudantes, o espaço para as práticas acadêmicas já era pouco e agora, com menos um laboratório, a situação das aulas pioraram. O projeto para a reforma e a ampliação do Abacatão, prédio onde se encontra a Sala Preta, já era comentado pelo corpo docente e discente de Artes Cênicas nos corredores da UFPB. Para eles, existe a necessidade da construção de um novo ambiente para abrigar o curso de Teatro e da redefinição dos espaços para poder construir novos laboratórios: um “teatro à italiana” e um grande salão vazio, para acontecer qualquer tipo de experiência. A surpresa da demolição se deve ao

fato de não ter acontecido durante o período das férias acadêmicas, já que o espaço não estaria sendo utilizado. Assim, com o semestre em andamento, os alunos e os professores ficaram “na rua”, pois não tinham local para realizar as atividades práticas e tiveram que improvisar. “Vivemos estas últimas semanas como nômades, de sala em sala, ou sob uma barraca de pano”, comentou Everaldo Vasconcelos, professor do departamento. Segundo o chefe do Departamento de Artes Cênicas, o professor Paulo Vieira, nem ele mesmo foi avisado que ocorreria a demolição nessa data. A derrubada da Sala Preta deveria ter acontecido há um ano, mas a construtora não se posicionou a respeito e tiveram que esperar. “A construtora estava sendo cobrada pela Prefeitura Universitária, e, por mim também, para iniciar as obras o quanto antes”, contou Paulo. O Centro Cultural da UFPB, novo projeto do Departamento de Artes Cênicas, custará cerca de R$700 mil. O espaço contará com um novo teatro, quatro ambientes para dança e para treinamento, salas para as aulas teóricas, outro local para figurino, caracterização e cenário. Enquanto essa obra não fica pronta, acredita-se que a instituição disponibilizará aos professores e aos alunos alguma sala do Complexo de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA), de forma temporária até o próximo ano, quando a obra deve ficar pronta. Contudo, as opiniões a respeito da demolição da Sala Preta são diversas, uns acreditam que foi necessário, já que o espaço precisava de certas reformas, outros consideram caótico o que aconteceu, e frisam a importância histórica e cultural do Laboratório de Artes Cênicas. “É até compreensível que o Campus precise de espaço para ampliar sua estrutura, mas

Foto: Giovanna Ismael

Símbolo do teatro universitário paraibano, a Sala Preta do Abacatão, no Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA), virou ruinas poderiam preservar a Sala de experimentos teatrais e utilizar outra forma de ocupação”, disse o autor do livro Sobre o Teatro Paraibano – História da Paraíba em Fascículos, Augusto Magalhães. História cultural A primeira Sala Preta surgiu em 1977, diante da necessidade de um espaço específico para as práticas teatrais. Contudo, uma demora burocrática da instituição acabou atrasando os planos, então, os alunos compraram galões de tinta preta e passaram nas paredes de uma sala que encontraram em um galpão da universidade. Neste primeiro teatro, foram dirigidos espetáculos que marcaram o início da motivação do que ali estudariam, como “Cartaz de Cinema”, “The Clown is Dead”, “Soy Loco Por Te Latrina”.

Em 1998, o Laboratório de Artes Cênicas foi inaugurado. Contudo, ainda estava incompleto, mas, aos poucos, as reformas necessárias foram sendo feitas e como o professor Everaldo disse, “tornou-se vital para o avanço da atividade teatral na UFPB, fazendo parte do projeto de criação do atual Departamento de Artes Cênicas”. A partir da inauguração, a Sala Preta se fez presente e ajudou na conquista de tantos outros projetos acadêmicos do curso de Teatro, a exemplo da pós-graduação em Artes e do surgimento de grupos teatrais, como Grupo Ser Tão Teatro. Ficou notório, então, a inquestionável relevância do laboratório para o curso de Teatro. Nota máxima Na avaliação das universidades brasileiras realizada pelo Ministério

da Educação (MEC), o curso de Teatro da UFPB recebeu nota 5, ou seja, a média máxima, ficando a frente de muitas instituições renomadas. Para a visita do MEC, algumas reformas foram realizadas nos prédios do Departamento de Artes de Cênicas. Tais mudanças também ocorreram na Sala Preta. No laboratório, trocaram os pisos e alguns ajustes foram feitos. Assim, alguns professores e alunos não entendem o porquê da reforma na Sala Preta, gastando, então, de forma desnecessária o dinheiro público, já que algumas semanas depois toda a reforma foi abaixo com a demolição O Laboratório de Artes Cênicas fazia parte de um contexto no qual o MEC avaliou o curso de Teatro. Agora, há uma lacuna em branco e a ausência de um espaço para as práticas teatrais.

MULTIDISCIPLINARIDADE

Disciplinas artísticas sob a visão da Psicologia Thaís Garcia A arte é um dos mais relevantes tópicos de estudo nas Ciências Humanas, porém, nem todos os cursos dessa área do conhecimento dispõem de disciplinas relacionadas. O curso de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) exemplifica essa relação. Além de estar preocupado com a busca pela compreensão dos fenômenos da mente humana e de seus impulsos, reações e comportamentos, também procura entender o processo de criação e de análise artística. Como manifestação da atividade humana, a arte é apta a ser estudada dentro desta perspectiva psicológica, sobre seus diferentes processos mentais e culturais. A denominação Ciências Humanas é usada para referir-se àquelas ciências que têm o homem como principal objeto de estudo. Fundamentalmente, usam da filosofia como tentativa de compreensão do homem e da sua sociedade, da beleza das artes em geral e da comunicação, sobretudo, nos contextos da infor-

mação, da política e da linguística. Devido ao seu caráter múltiplo, essas áreas abrangem, ao mesmo tempo, características teóricas, práticas e subjetivas, que inclui a arte. Essa grande margem subjetiva e “não exata” leva as ciências humanas a campos mais profundos, complexos e de ampla importância na sociedade. A professora do curso de Psicologia da UFPB, Eugenia Correia, em entrevista ao Questão de Ordem, expôs sua opinião quanto a importância da implementação de uma disciplina voltada para a arte, no curso em que atua. “No curso, desde o começo, nós sentimos fortes tendências de alguns alunos. Diante disso, percebendo que a arte não é interesse de todos, seria interessante que fosse disponibilizada (a disciplina) apenas para alguns, como optativa”, pontua. Eugenia, especialista em Psicopatologia, estudo sobre o sofrimento mental, é responsável por um projeto de extensão que objetiva tratar os pacientes do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira com base nas vertentes artísti-

cas, através de oficinas de literatura, de música e de cinema. Ela usa desses recursos artísticos para dar sentido ao sofrimento psíquico dos pacientes. Através da execução e do acompanhamento deste tratamento, os funcionários tornam-se mais capacitados. “Para nós, a arte não é a procura pelo belo, mas sim um recurso expressivo. É um jeito de instaurar a problemática que, dificilmente, conseguimos expressar de forma verbal”, explica a especialista, diante da visão da Psicologia sobre o que é arte. Nelson Torro, vice-chefe do Departamento de Psicologia da UFPB, defende que, mesmo não dispondo de uma formação específica na área artística, o curso apresenta a participação desta para ilustrar os princípios da psicologia, explicando determinados pontos no decorrer dos períodos, fazendo com que a arte não seja esquecida, estando, desta forma, implícita na grade curricular. O vice-chefe apresenta a mesma opinião que a professora Eugenia Correia, quando questionado

sobre a criação de uma disciplina apenas optativa, que abordasse a arte juntamente com a psicologia. Ele também indicou a pós-graduação e a leitura independente como outras alternativas. “A psicologia ganharia muito com isso em termos de co-

nhecimento, porém, em um grau de importância, a parte artística ficaria como cadeira optativa”, conclui. A disciplina mais próxima das artes, no curso, é a chamada Psicologia da Criatividade, em que os alunos estudam o processo de criação. Foto: Thaís Garcia

Vice-chefe do Departamento de Psicologia, Nelson Torro, é a favor da disciplina optativa


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JOÃO PESSOA - PARAÍBA 8 A 15 DE DEZEMBRO DE 2011 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB

entrevista

Professor argentino, Eliseo Verón,

vem à UFPB e fala com o QO discursos sociais nos meios de comunicação: impresso, rádio e televisão. Seu pensamento traz a ideologia aplicada à Conhecido por representar um pensamento inovador Sociologia para a análise da Comunicação Social pela inna América Latina, o estudioso e teórico da Comunica- terpretação ideológica dos meios. ção, Eliseo Verón, foi responsável por trazer da França os conceitos estruturalistas e semiológicos. Nascido no dia 12 Debates de junho de 1935, na Argentina, estudou na Universidade Com o intuito de promover um debate sobre a midiatide Buenos Aires, onde recebeu uma licenciatura em Filo- zação da política, o Departamento de Comunicação e Tusofia. Em 1961, ganhou uma bolsa para estudar durante rismo (Decomtur) da Universidade Federal da Paraíba dois anos no Laboratório de Antropologia Social do Collège (UFPB) encerrou seu ciclo acadêmico de debates do període France, na França, ao lado de Lévi-Strauss, pai da An- do 2011.2 com a palestra deste renomado representante da tropologia estruturalista. Lá, conheceu também a semiolo- Teoria da Comunicação. O encontro aconteceu no último gia saussuriana, por meio de Roland Barthes. dia 09 de dezembro, às 19h30, no auditório 412 do Centro Verón possui grande destaque acadêmico. Foi presidente de Ciências Humanas Letras e Artes (CCHLA), no Camda Associação Argentina de Semiótica, atuou como professor pus I, em João Pessoa. O evento contou a com a participana Universidade de Buenos Aires, foi diretor do Centro de ção de diversos professores e alunos. Em entrevista exclusiInvestigações Sociais do Instituto Torquato Di Tella, é doutor va ao Questão de Ordem, Eliseo Verón falou sobre a muem Linguística e, atualmente, é professor do Departamento tação da sociedade, da televisão, da economia e da política de Ciências Sociais da Universidade de San Andrés. em virtude da Internet e apontou soluções para uma meA base da pesquisa de Verón é a comunicação ligada a lhoria no cenário da comunicação. Confira,agora, alguns fatores políticos. Ele dedica-se, atualmente, ao estudo dos trechos dessa conversa. Daluanne Melo

Como o senhor vê o fenômeno da internet no contexto político atual? O senhor acha que o uso dessa ferramenta tem contribuído para legitimar o poder político? Na verdade, eu não creio que a política e a internet estejam caminhando juntas. Os dois usos que eu acho que são dominantes na internet, pelo menos por enquanto, se tratam da busca da informação e das redes sociais. Claro que a relação do cidadão com o conhecimento e a relação com o outro também são questões fundamentalmente políticas. Eu creio que as duas plantam a igual-

dade entre os cidadãos, o que é uma questão política fundamental. Que consequências o uso desse meio de comunicação pode gerar, futuramente, tanto no contexto político como no social e econômico? O fenômeno da internet está acontecendo agora e muito próximo de nós, só quando as coisas tomarem um pouco de distância é que podemos enxergar o contexto geral e onde isso vai dar, porque

Fotos: Herbert Clemente

esses campos não são simplesmente culturais, são também campos de negócios e por trás disso também existe a política. Tanto é que, se analisarmos o Facebook e o Google, por exemplo, percebemos que são corporações gigantescas que buscam fazer dinheiro com isto. O senhor acredita que a televisão está em decadência e está mudando sua lógica, em função do surgimento da internet? Tudo depende do que nós consideramos como televisão. A televisão no sentido do audiovisual programado, com uma grade de programas, horários, produtos que estão organizados por públicos para aquela senhora que está, à tarde, em casa ou para a criança que está voltando da escola, por exemplo, toda essa coisa não existe mais, desapareceu. Eu creio que essa televisão histórica morreu e com certeza tem influência direta da internet. Penso que o mercado dos meios é um mercado particular, porque tem muitas características que são comuns ao mercado de consumo. No mercado de consumo dos meios, os produtores programavam o consumo. Isso acabou e é uma mutação muito importante. Os produtores dos produtos do mercado produziam uma oferta, que você poderia gostar ou não, mas estava determinada na programação de consumo. É como você ir ao supermercado, comprar uma bebida qualquer e ter que bebê-la todos os dias às quatro da tarde, porque existe uma condição que determina isso. Estava tudo programado, não só a produção do produto, mas também o seu consumo. Qual é o cenário em que o

mercado dos meios se encontra atualmente? Agora a programação do consumo passou a consumir o cliente, o consumidor. A internet faz isso. Eu vou consumir a série ‘Dr. House’, por exemplo, na hora em que eu quiser e até a hora que eu quiser, basta eu pegar isso na internet. A televisão histórica ditava o consumo e isso acabou. O que é extremamente importante para o consumidor, porque ele tem autonomia e liberdade para programar o seu próprio consumo. Atualmente, o mercado de consumo tem uma oferta, mas o consumo é programado pelo consumidor. Durante muito tempo, o mercado dos meios foi um mercado especial nesse ponto de vista, porque eles tinham o privilégio muito grande de não só produzir tal coisa, como também de determinar quando e como deveria ser consumida essa coisa. Isso é um absurdo! O senhor traçou na sua pales-

tra o contexto político histórico no qual surgiram os Newspapers - os jornais -, que o senhor caracterizou como contraditórios. De que forma se deu esse processo e o que isso contribuiu para a lógica estrutural do jornalismo atual? O primeiro problema apareceu quando surgiram os textos efêmeros, os folhetos, que são textos circunstanciais. Estes textos apareciam quando alguém descobria que o parlamento inglês, por exemplo, estava fazendo algo escandaloso. Era uma discussão circunstancial, que estava legitimada por aquilo que se falava. Funcionava como uma denúncia. Essa era a lógica panfletária. Depois, vieram os Newspapers com a ideia de periodicidade, que determinava que eu fosse falar com você duas vezes por mês, por exemplo. Sobre o que eu ia falar eu não sabia, porque não se tem ideia do que pode acontecer dentro de um mês. Esse era um contra-

to totalmente diferente, porque como eu vou saber o que pode se passar dentro de um mês, entende? A ideia de um panfleto periódico era um absurdo! Eu vou denunciar coisas a cada 15 dias... Isso não existe! A denúncia se faz no momento em que existe a chamada para tal coisa. Esta é a contradição. O Newspaper nasceu nesse contexto, afetando até hoje a lógica dos meios de comunicação. Uma das alternativas que o senhor apresentou para recuperar o cenário da comunicação seria inserir novamente a política dentro dessa lógica das mídias. Como o senhor acha que isso poderia ser feito? Não é a política como uma função determinada, mas, de uma forma que poderia ser função do jornalismo. Isto estaria bastante próximo da democracia, que é um espaço de discussão e precisa de alguém que administre esses conflitos. Esse alguém seria o jornalismo. É necessário equilibrar as forças através de uma abertura para discussão. Isso implica mudar toda a ideologia profissional. De que forma, os jornalistas devem caminhar para atender aos interesses econômicos e políticos, mas sem deixar de atender aos interesses da sociedade, que deve ser o principal interesse jornalístico? Essa pergunta veio para fechar com chave de ouro (risos). Eu não sei te responder isso, mas analisando o cenário atual em que se encontra o jornalismo, diante de todos esses interesses, eu diria que a sociedade está cada vez mais distante dessa lógica hoje em dia. Eu não sou muito otimista com relação a isso no futuro. Acredito que tende a piorar cada vez mais.

Humor


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