Foto:Ana Daniela Aragão
Foto: Divulgação
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SAÚDE
CAMPUS
Nada acessível pág. 3
Com gatos e cachorros pág. 12
JOÃO PESSOA - PARAÍBA 26 DE AGOSTO A 2 DE SETEMBRO DE 2013 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB
EDUCAÇÃO
Sem preconceito pág. 6
ENTREVISTA Blogueiro no QO pág. 16
QuestãodeOrdem
Campus de concentração Criada há sete anos, unidade do Litoral Norte reúne problemas, confusões e desafios para a administração central da UFPB Fotos: Ana Daniela Aragão
Campus IV, em Rio Tinto, paralisado e vazio, aguardando o retorno das aulas (acima); obras inacabadas do Hotel Escola (acima à direita) e garagem sem acesso no Centro de Mamanguape (Direita abaixo)| Pág.
Desde a sua fundação, Campus IV Litoral Norte ainda enfrenta problemas estruturais decorrentes de decisões políticas e administrativas equivocadas. A falta de uma unidade gestora própria e a ausência de equipamentos e assistência estudantil adequados revoltam a comunidade acadêmica e mobilizam os alunos para busca de soluções. pág. 9
Greve dos alunos acaba, mas pauta continua
Assembleia dos estudantes em greve: movimento exigiu compromisso com soluções
Grevistas acampados há mais de um mês na biblioteca do Campus em Rio Tinto
Os problemas existentes desde a criação do Campus IV culminaram numa paralisação dos estudantes que durou exatos 48 dias. O movimento só acabou nesta segunda-feira (26), depois que a reitora Margareth Diniz assinou um documento se comprometendo a atender as reivindicações. pág. 10
Campus
Cultura
Esportes
Saúde
Educação
Comida do RU é Cirurgias voltam Arte de rua recria Atraso de bolsas Rúgbi é adaptado alvo de protestos a ser feitas no HU visual no campus prejudica alunos para cadeirantes Restaurante Universitário (RU) do Campus I recebe denúncias dos alunos, em redes sociais. Após a ocorrência de três queixas públicas, registradas no mês de julho, estudantes fizeram manifestos na unidade. O superintende Antônio Luís fala dos problemas. pág. 4
Interdição do bloco cirúrgico do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), expôs as más condições da unidade. Após 19 dias, centro reabre com número insuficiente de anestesistas segundo normas do Conselho de Medicina. pág. 11
Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA), ganha intervenções visuais. Iniciativa dos discentes do sétimo período de Jornalismo traz interação com o meio, abertura de diálogo e interferência na paisagem cotidiana. pág. 13
Bolsas de Extensão (Probex), de Iniciação Científica (Pibic), de Desenvolvimento Tecnológico e Inovaçãos (Pibit) e dos Programas de Licenciatura (Prolicen) já estão atrasadas há quase 4 meses, prejudicando alunos que dependem do benefício. pág. 7
Curso de capacitação em rúgbi para cadeirantes na UFPB reúne, aproximadamente, 50 pessoas e conta com a presença de membros da Associação Brasileira. O projeto busca a inclusão social e a formação de uma equipe do esporte na Capital paraibana. pág. 15
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opinião
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editorial
A apuração jornalística e as novas tecnologias A pluralidade de informações traz ao jornalismo uma nova missão. Vivemos novos tempos, em que o advento tecnológico retirou do jornalismo impresso a velocidade de noticiar. Cada vez mais é difícil informar os furos de reportagem antes que os portais de internet. Na rede, hoje, todos os navegantes podem publicar o que acontece ao seu redor. Diversas conexões de wi-fi (rede sem fio) estão espalhadas por todos os lados, permitindo que pessoas tirem fotos e divulguem suas noticias nas redes sociais. Entretanto, pouco se pode apurar nessas condições. É improvável que exista uma cobertura detalhada, tanto quanto o jornal impresso pode oferecer. A repercussão sobre as problemáticas da universidade na internet, no geral, não chegaria a ser minuciosamente detalhada. A fonte dos problemas no Campus IV, que culminaram na greve dos estudantes, por exemplo, tem aqui direito a uma cobertura abrangente, enquanto na rede, as informações, falsas ou não, se espalhariam como boatos. A nossa pressa mudou, não corremos contra o tempo por briga de mer-
cado, nem tampouco para mostrar o que acontece a cada dia. Temos a meta de ajudar na formação intelectual dos universitários. As dificuldades em trazer uma edição de credibilidade para todos os leitores, com semanas de sono perdido, foi impulsionada pela concretização de um sonho que se realiza agora. Esta edição pauta diversos assuntos. Abordamos desde problemas sociais, como o racismo no campus, à falta de pagamento nas bolsas de estudo. Tudo que envolve os demais estudantes na universidade sempre foi de interesse jornalístico para nós, que com esforço cristalizamos a apuração em matéria jornalística. Nada substitui a busca constante pela informação. O jornalismo que fazemos não está voltado para a rapidez. Além da informação isenta, como a ética jornalística determina, prezamos pelo caráter analítico e interpretativo. Atenta ao fluxo de ordem e desordem da realidade, a equipe do Questão de Ordem indaga as causas dos acontecimentos e leva esclarecimentos ao leitor. Nossa obra não é literária, mas bem que poderia sê-lo.
Charge
Burguesia de estetoscópio Geri Junior Atualmente, no Brasil, faltam aproximadamente 15 mil médicos para atender à população. Em chamadas para compor as vagas abertas em mais de mil municípios, apenas 900 apresentaram-se para o trabalho, de 16 mil que tiveram diplomas revalidados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP. Para resolver o problema da ausência de médicos, o Governo Federal convocou médicos estrangeiros com o objetivo de leva-los aos interiores do país, lugares onde os profissionais formados no Brasil não se dispõem a atuar. A partir de então, os médicos foram às ruas lutando a favor da regularização de sua profissão, reivindicação esta que prejudicava o exercício de outros profissionais da saúde - como fisioterapeutas, dentistas, psicólogos ou terapeuta ocupacional. Tal fato sobrecarregaria mais o sistema de saúde brasileiro, mas ainda assim, retornaram a manifestar contra a chegada dos profissionais estrangeiros. Os mesmos médicos que buscavam a regulamentação da classe profissional posicionam-se contrários à vinda de colegas estrangeiros para ocupar vagas abertas onde os profissionais brasileiros negam-se a chegar, ajudando a desafogar hospitais e facilitar o acesso à saúde de milhares de cidadãos. “Falta de qualificação”, essa seria uma das alegações da classe de médicos para que o programa “Mais Médicos” não fosse posto em prática. Visto que o trabalho no interior seria ‘fim de carreira’ para o jovem médico ansioso por novos desafios, o pro-
grama seria a solução para milhares de brasileiros que sofrem nos postos de saúde ou viajando para outras cidades em busca de atendimento exatamente por conta da falta de profissionais da medicina. Um dos principais fatores que torna caótico o sistema de saúde é a superlotação dos hospitais. Mas enquanto brasileiros morrem, alguns médicos estão preocupados em como ganhar mais. A cada dia vemos jovens ingressando nas Universidades brasileiras, que sequer puderam pensar se era aquilo que amavam. Jovens que ainda não perceberam que sua profissão não será só o saldo no caixa eletrônico no final de cada mês, mas também, exercê-la por amor. Faculdades com professores de altíssimo nível, equipamentos e laboratórios de ultima geração, de nada adianta a estrutura se quem usa não se importa com o uso de cada um deles. A verdade é que não é mais interessante distribuir sorrisos, a cada nova turma o interessante é manter o padrão de vida elevado ou entrar na aristocracia social. Ser médico hoje é profissionalmente diferente do século XIX, mas socialmente igual, para algumas pessoas; Vestir branco ainda é visto apenas como sinal de prestígio. Perdão àqueles que amam aquilo que faz e que se emocionam a cada uma dessas vidas que foram recuperadas. Perdoem-me aqueles que enxergam na esperança de alguém as forças para vencer o cansaço e fazer um sorriso brilhar. Mas desde que o jaleco e estetoscópio passaram a ser artigos da moda da elite econômica, todos nós choramos por não podermos mais confiar nos homens de branco.
Vestir branco ainda é visto apenas como sinal de prestígio.
A relatividade do normal Ana Daniela Aragão
Discrimina-se pela cor, deficiência, orientação sexual, e por tantas outras questões. Os atos discriminatórios acontecem até mesmo em Universidades. A Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por exemplo, instituição que recebe em média 38 alunos de intercâmbio, latinos e africanos, deveria prezar pelo respeito e tolerância. Mas ao contrário do que poderia ser a oportunidade de conviver com o outro, acaba em racismo. A escravidão deixou marcas que, mesmo passados muitos séculos, ainda não conseguiram sarar. A discriminação que passa de geração em geração faz o Brasil negar sua raça. Essa atitude imprópria, entretanto, não se limita aqui. Historicamente a mais conhecida prática de preconceito foi o Apartheid. Exemplo maior da atuação do etnocentrismo, uma política de segregação racial surgida em 1944 na África do Sul, durando até 1990. Negros eram segregados na saúde, educação e serviços públicos, tratados como inferiores pelos brancos autodenominados como a raça pura. Não há sentindo em discriminar pela cor da pele. Etnias não diferem o homem na sua essência de ser. Ao que parece, os ditos futuros intelectuais do país são de mentes pequenas. Estereótipos costumam enganar a tal sociedade determinista. Acredita-se na imagem do que parece ser, julga-
-se sem base concreta. Para eles, a mínima diferença de uma pessoa em relação a ele mesmo, é motivo de anormalidade. Essa questão faz lembrar a mais mórbida e famosa família da ficção: “A família Adams”. Todos os membros são esteticamente fora da realidade que somos acostumados a ver. Tratam-se de criaturas monstruosas e sombria, mas simpáticos, com questões metáforas. Apesar da aparência e costumes nada convencionais, são uma família unida e de boa índole. Na trama “enfrentam” a discriminação dos vizinhos e julgamento perante o que eles acham ser “normal”. O problema é quando não usamos da tolerância para entender as diferenças que existem no mundo. Compreender as diferenças é alteridade, vem do espírito, é quando nos colocamos no lugar do outro. Não existe a verdade absoluta, e um egocêntrico não tem o direito de se taxar como o melhor. É preciso ver além do físico das pessoas. Anormal é humilhar, desrespeitar alguém que é como você, feito de carne e osso, e que diante da sua atitude ganha do seu espírito de dez a zero. É preciso transver quem está do nosso lado, é preciso menos julgamento e menos só “eu”. Cada um é o que é, cada qual à sua maneira. Cada pessoa em sua anormalidade. Então que sejamos normalmente anormais em nossa essência. Sem discriminação, de qualquer tipo.
Compreender as diferenças é alteridade, vem do espírito.
Reitora: Margareth Diniz Karina Negreiros EDITOR ADJUNTO Geri Junior
Mabel Abreu
Chefe: Sheila Accioly Zulmira Nóbrega
Alechandre Mello
Isabella Aciole
Nael Lima
Laís Albuquerque
Arthur Moraes
Ana Daniela Aragão
Jéssica Alves
Amanda Felix
Alexandre Melo, Bianca Costa, Gabriela Ferreira, Gefferson Borges, Gilson Freitas, Jéssica Sales, Laura Luna, Luis Carlos Cunha, Lunara Moreira, Márcio Rodrigo, Priscila Vital, Râmila Ramalho, Rodolfo Oliveira, Romarta Ferreira, Shirlayne Lima
campus
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Iniciativas garantem acessibilidade Com o fim de assegurar a permanência de alunos com deficiência na UFPB, projetos facilitam suas atividades acadêmicas Gefferson Borges Além de proporcionar o acesso de pessoas com deficiência na graduação, através de políticas voltadas especialmente para este grupo, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) dispõe de órgãos que atuam na promoção e apoio de programas e projetos voltados para a acessibilidade, visando, desta forma, a permanência desses alunos na instituição. Este é o caso, por exemplo, do Laboratório de Acessibilidade (Lacesse), do curso de Arquitetura e Urbanismo, do Comitê de Inclusão e Acessibilidade (CIA) - setor vinculado à Pró-Reitoria de Graduação (PRG) - e do Núcleo de Educação Especial (Nedesp). Para se ter uma ideia, atualmente, em todos os campi da UFPB estão inscritos 73 alunos com algum tipo de deficiência física, auditiva ou visual. Apesar da política de reserva de vagas para estes grupos, eles representam apenas 0,19% do total de alunos da UFPB, que é hoje está na casa de 37.801 estudantes. Com o objetivo de estimular a consolidação da pesquisa científica, vinculada a projetos urbanos e de edificação, na área de acessibilidade no campus I, o Lacesse foi criado, oficialmente, em março de 2012, porém vem desenvolvendo estudos dentro deste âmbito desde 2008, sob a coordenação da profesora Angelina Costa. “O Lacesse pretende se tornar uma referência para a pessoa com deficiência (alunos, professores ou funcionários), apoiando-os dentro de nossas limitações, e elaborando projetos acessíveis”, destaca a coordenadora, que ainda afirma que o único projeto elaborado pelo laboratório, executado até o momento, foi o do trecho piloto de rota acessível, que interliga a Biblioteca Central (BC) ao Restaurante Universitário (RU), passando pelo Centro de Vivência (CV). “A obra foi ‘concluída’ em janeiro de 2013, no entanto, ainda não foi inaugurada, pois não foi executada totalmente conforme o projeto, e precisa ser corrigida”, evidencia. Neste panorama, o comitê de inclusão tem o papel de garantir a
Direito ao benefício é tido como prioridade
Estudante Margareth Fernaandes caminha pelo campus com aluno apoiador permanência e o aprendizado de alunos com deficiência através de projetos que os amparem nas suas atividades acadêmicas, sejam elas fora ou dentro de sala de aula, possibilitando o que a coordenadora do CIA, professora Andreza Polia, chama de igualdade de oportunidades, que é a garantia de que todos possam ter acesso ao conhecimento de acordo com as suas especificidades. Andreza explica que antes do início das aulas, faz uma avaliação das demandas de cada estudante com deficiência que fez matrícula. A partir disso, avisa ao coordenador do curso, no qual o aluno se matriculou, que ele receberá um discente com deficiência. “Também recebo os coordenadores ou docentes, ou vou até eles, para orientar sobre como proceder de acordo com as demandas de cada estudante, pois, mesmo apresentando o mesmo tipo de deficiência, cada um tem uma necessidade própria que não pode ser generalizada”, observa. Além do auxílio aos estudantes que cuidam e dão continuidade a projetos de arquitetura acessível na universidade, o comitê desenvolveu o projeto Aluno-Apoiador, que escolhe, através de processo de seleção, alunos que desempenham papel de monitoria pedagógica e de apoio à circulação pelo campus dos estudantes com deficiência. Além do Lacesse e do CIA, o
Nedesp completa a trio de órgãos que desenvolvem políticas de permanência voltadas para alunos com deficiência. O núcleo atende e auxilia a comunidades de estudantes com deficiência como um todo, mas volta-se, mais fortemente, para apoio de alunos com deficiência visual, dispondo de impressora braile e dois computadores com programa de voz, que contribuem para as atividades deste grupo. O Nedesp, que, atualmente, funciona em local improvisado, sofre com a falta de mão-de-obra, já que a quantidade de funcionários não acompanha o número de alunos com deficiência na instituição, que vem aumentado gradativamente. “A demanda é muito grande para poucos empregados. Muitos se aposentaram e ninguém é colocado no lugar”, chama a atenção a assistente social do Nedesp, Artemísia Dias. Giselle Rodrigues, aluna do quinto período do curso de Fisioterapia, é uma das alunas contempladas com um Aluno-Apoiador. Ela, no entanto, faz críticas ao processo de seleção e ao seu acompanhante, que não cumpre a carga horária que lhe é designada. “Logo quando o projeto surgiu, tinha a oportunidade de escolher a pessoa que iria me acompanhar, mas, agora, estou com um aluno que não é do meu período e ele não consegue acompanhar minhas aulas”, reclama.
Com o aumento das vagas para o ingresso de pessoas com deficiência – aquelas que tenham impedimentos de longo prazo, seja de natureza física, intelectual (mental) ou sensorial –, em instituições federais de ensino superior, através de programas de cotas, o desafio de proporcionar uma inclusão educacional competente e satisfatória para este grupo se tornou maior. Em 2012, o governo publicou decreto que regulamentava as cotas nas universidades federais, no entanto, deixou a cargo de cada instituição estabelecer, se quisesse, reserva de vagas para pessoas com deficiência. Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), atualmente, estão matriculados 31 alunos com algum tipo de deficiência física. Um deles é a estudante do curso de História Margareth Fernandes, de 54 anos, cadeirante há 12 anos. Ela, que já é formada em Serviço Social, diz que, com o auxílio do Comitê de Inclusão e Acessibilidade (CIA), bem como do projeto Aluno-Apoiador – consegue ter suas necessidades supridas, mas que, no entanto, restam alguns pequenos obstáculos. Apesar do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), onde estuda, ter rampas e salas amplas, ela tem que lidar com outras adversidades. “A maior dificuldade é a atitude dos motoristas de carros e motos. Eles insistem em estacionar seus
veículos em locais inapropriados, por pura comodidade e falta de educação”, reclama, ressaltando que isso a obriga a descer do carro no meio da rua, atrapalhando o trânsito, ou no estacionamento, onde enfrenta calçamento desnivelado, o que lhe provoca dores. Os processos de acessibilidade consistem no conjunto de medidas e ações que garantem o uso e a participação de pessoas com deficiência, ou mobilidade reduzida, em suma, dos serviços e dispositivos sociais, dos ambientes públicos e dos sistemas de comunicação e informação, através da eliminação de barreiras e a criação de meios que visam o livre acesso, o que valida, desta forma, seu direito constitucional de ir e vir. Principalmente nos últimos anos, o tema é recorrente entre as pautas de inclusão e é tomado, pelos menos na teoria, como prioridade pelo Estado. Quando aplicada na prática, a acessibilidade é tratada nos âmbitos da arquitetura e do urbanismo e da informação. No primeiro caso, vão desde obras mais complexas e amplas até adaptações em ambientes de uso habitual, com a instalação de rampas, ampliação dos espaços de circulação e sinalização inclusiva, por exemplo. Já no segundo, volta-se para utilização de aparelhos e programas em computadores e eletroeletrônicos, no geral, para as mais variadas deficiências.
Na UFPB, atualmente estão matriculados 31 alunos com algum tipo de deficiência.
SEM CUIDADO
UFPB negligencia guarda de equipamentos Luís Carlos Cunha Sucatas de equipamentos lotam as dispensas do Departamento do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes (CCHLA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) começam a se acumular nos corredores do centro. Como os pedidos de reposição de peças para pequenos consertos demoram a ser atendidos, a coordenação do departamento se recusa a fazer o pedido de remoção desses aparelhos para a Prefeitura Universitária, pois utiliza peças em boas condições para consertos em equipamentos com pequenos danos. Até 2005, existia uma parceria entre a Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão (Funape) e o CCHLA, a fim de obter recursos financeiros para aquisição de peças para os reparos. Com o encerramento da parceria da Funape, a
ajuda foi substituída por um cartão corporativo entregue pela UFPB, com um limite de R$ 2 mil. Quando as contas eram aprovadas após apresentação de notas fiscais, mais recursos eram liberados. Porém, desde janeiro não há saldo. Devido à burocracia, o processo para o conserto, às vezes, demora mais do que a substituição por um novo equipamento. O pedido ao departamento, encaminhamento à reitoria, pesquisa de preço e aquisição da peça solicitada pode durar meses, atrasando a entrega. A professora de Língua Portuguesa, Beliza Aurea, está dando aula em uma carteira estudantil, após sua mesa ser quebrada por um aluno. De acordo com a professora, a mesa, que tinha apenas dois dias de uso, quebrou depois que um aluno se sentou nela. “Dou continuidade às aulas como posso, pois se parar e esperar tais consertos, os alunos serão prejudi-
cados”, completa. Segundo o chefe da Infraestrutura e Patrimônio do CCHLA, Edson Negreiros, os inúmeros problemas iniciam-se com a falta de educação dos usuários. Segundo Edson, existem mais de 20 computadores quebrados na sala do técnico de informática, Delmiro Diniz, para consertos. O técnico consegue consertar um computador através de sucatas de outros aparelhos. “A sala de dispensa do departamento está lotada de monitores e CPU’s de computadores esperando unir seus componentes com outros para serem reutilizados”, disse Delmiro. A reitoria está elaborando desde fevereiro um pregão para contratação de empresas que ficarão responsáveis pela manutenção de todo o Campus. Serão diversos os segmentos divididos por prestadoras de serviços: técnicos de informática, carpintaria, marcenaria, vidraçaria,
Foto: Ana Daniela Aragão
Descaso: flagrante de equipamentos entulhados nos corredores do CCHLA funilaria, encanador, entre outros. Apesar da UFPB possuir recursos humanos para alguns desses reparos, o processo de compra de peças para a reposição é bem mais rápido através de empresas terceirizadas,
que ficam incumbidas de apresentar as notas das partes utilizadas no reparo do móvel ou na infraestrutura. O pregão ainda não tem data marcada para acontecer, informa a direção do CCHLA.
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campus
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RU vira alvo permanente de queixa dos estudantes Alunos encontram larvas e insetos na comida, evidenciando descaso no trato com as refeições Karina Negreiros A situação do Restaurante Universitário (RU) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) tem sido alvo de denúncias de alunos usuários. Segundo eles, o local apresenta estrutura precária, falta de higiene e de organização. Além disso, alegam que a comida é preparada de maneira inadequada, sem os cuidados apropriados. Só no mês de julho foram três reclamações. O debate sobre as más condições do RU se intensificaram no Campus I desde então. A grande repercussão ocorreu após a veiculação de fotos nas redes sociais, onde foram encontradas larvas e insetos nos pratos servidos, como ocorreu com Lazaro Fialho, estudante do curso de Biologia, que encontrou gorgulhos na sopa servida durante o jantar. A assessoria de comunicação da UFPB divulgou, no dia 20, nota de esclarecimento reconhecendo e lamentando o caso, ao qual tratou como uma eventualidade. De acordo com o pronunciamento, em apenas uma refeição daquela noite foi detectado o problema. No entanto, no grupo da universidade no Facebook, alunos criticaram os argumentos apresentados na nota. Depois da sequencia de ocorrências, os estudantes usaram a internet para se articular e organizar o Panelaço, um protesto que foi realizado no último dia 25 de julho e tinha por objetivo conseguir melhorias para o RU e reclamar da atual situação. Um dia após a manifestação, um aluno que não quis se identificar achou uma larva na salada. O superintendente do RU, Antônio Luís, anunciou o corte temporá-
Como as filas, as reclamações dos comensais do restaurante se tornaram recorrentes rio das verduras cruas, e determinou que fossem servidas somente cozidas. Tal medida evitaria novas ocorrências. Segundo ele, o problema vem do fornecedor de hortifrutis, que tem apresentado produtos com má aparência já na entrega. Mesmo reconhecendo que não pode garantir que não haja problema com todos os produtos, Luis diz estar tomando medidas preventivas, tais como não aceitar descarregamento que contenham esse tipo de característica. Jaiane Alves, estudante do curso de Letras, foi uma das estudantes afetadas diretamente. Ela, que é vegetariana, também encontrou larva em um dos pratos, e agora se diz receosa. A aluna afirma já ter passado inclusive constrangimento no RU. O fato teria sido no início de seu ingresso na universidade. Por ter tido desconhecimento sobre a necessidade de cartei-
rinha de vegetariana, chegou a ter comida negada. Para Filipe Ximenes, membro do Movimento Levante, que realiza ações em prol do RU, os casos não são isolados e, além disso, o descaso com o restaurante já ocorre há anos. Problemas de infraestrutura, por exemplo, faz com que alunos fiquem por horas na fila. O baixo acesso exclui parte carente dos alunos, e a demanda se apresenta maior do que suporta o prédio. que abriga o restaurante. Uma das principais reivindicações dos alunos é um RU de baixo custo. Os estudantes propõe um preço simbólico pela refeição, enquanto a outra parte do custo seria subsidiada pela assistência estudantil. A transparência dos gastos e recibos é outro pedido dos alunos, já que a UFPB tem um orçamento de R$ 6 milhões para assistir os estudantes.
Em resposta às críticas sobre os gastos mensais, Antônio Luiz diz que o número de estudantes que comem lá subiu 20% este ano em comparação a 2012. Hoje, o número chega até 2.200 alunos. O superintendente admite que deveria existir um melhor sistema de controle e de cadastramentos dos alunos para entrada no RU, mas confirma que já encaminhou pedido de alguns equipamentos para a prefeitura universitária, a fim de melhorar a questão. Atualmente, existem dois refeitórios para comportar os alunos. Um terceiro está em processo de construção, mas enfrenta atraso nas obras por problemas de verba. Com o objetivo de evitar o desperdício, existe um plano para instaurar o modelo de self-service no RU. A estimativa é que a quantidade desperdiçada, hoje em dia, serviria para alimentar cerca de 200 a 300 alunos. VISITA OFICIAL No mês de julho, a Vigilância Sanitária fez visita sem aviso prévio ao RU. Na ocasião, foram constatados problemas estruturais preocupantes, como infiltrações, presença de mofo, fiação exposta, caixa de gordura em local inapropriado e ferrugem. Ficou estabelecido, então, que o restaurante poderia continuar funcionando, mas teria que se adequar às normas e regularizar a situação em três meses. Um mês depois, após as denúncias acerca da qualidade da alimentação, o órgão fez nova visita-surpresa. A dois meses do vencimento do prazo, e após os acontecimentos, o superintendente afirma que todas as medidas exigidas já estão sendo tomadas.
SÓ NA TEORIA
Arquivologia continua sem laboratório Laís Albuquerque e Luís Carlos Cunha A primeira turma do curso de Arquivologia que concluirá em setembro deste ano, não terá o conhecimento prático do Laboratório de Preservação e Conservação de Documento (LPCD) que está sendo substituído por aulas teóricas na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) devido ao atraso da adaptação da sala para receber as máquinas que já foram adquiridas desde agosto de 2012. Os modernos equipamentos, comprados para o curso, encontram-se no Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), abaixo das escadas que dão acesso ao nível superior do bloco onde estão sendo feitas as instalações do proposto laboratório. O curso, disponibilizado no Campus I da UFPB, teve início no segundo semestre de 2008, com duração de cinco anos, e tem como uma das últimas disciplinas para formação do profissional, aulas práticas de laboratório de preservação e conservação de documentos. A estudante do décimo período de Arquivologia, Virllany Alinne, mesmo reconhecendo os es-
forços dos professores para ensinar, lamenta ter de passar e ver o laboratório em fase de adaptação e os equipamentos ainda encaixotados quando se dirige para aulas teóricas na atual sala de LPCD. “O mercado de trabalho cada vez mais exigente e eu sendo lançada para este mundo com a inexperiência de uma das práticas fundamentais do meu curso”, lamentou. O acadêmico do sétimo período do curso em questão, Daniel Brilhante, teme que a sala ainda não esteja pronta para recebê-lo quando estiver no final do curso. “É o mesmo que fazer computação sem o computador”, disse Daniel, que conseguiu um estágio remunerado em uma biblioteca municipal de João Pessoa. “Devido ao meu estágio, percebi como é importante a prática antes de sair da academia”, acrescentou o estudante. A coordenadora do curso, Meriane Vieira, diz que é sempre de praxe os primeiros alunos sofrerem problemas em cursos novos, devido à adaptação desde a grade, o corpo docente e os instrumentos para aula prática. Porém, mesmo sabendo disto, ela não relaxa diante dos problemas. “Acrescentei em minha rotina diária, visitar a obra e cobrar todos os dias aos
Sala onde deveria funcionar o laboratório para aulas práticas aguardando finalização responsáveis de finalizar o laboratório junto à prefeitura do campus”, afirmou. O engenheiro fiscal da obra, Robinson Frazão, reconhece o atraso que dependia da burocracia licitatória, como a aquisição dos equipamentos e da construtora que a executaria, além de outros trabalhos que estavam na lista de prioridade à frente deste. Mas também atribui parte da culpa ao professor do curso (responsável pela indicação de onde serão instalados os aparelhos,) que modificou o projeto quando se encontrava em andamento, obrigando-o a refazer a planta arquitetônica. “A pretensão é de entregar antes do término deste semestre, porém o professor de-
signado pelo posicionamento, não tem a informação precisa de comprimento das máquinas e posição dos canos, nos fazendo vir a ter que serrar bancadas, mudar encanamentos e tomadas elétricas ao tirarem os aparelhos encaixotados em questão”, reclamou. Meriane afirmou que disponibilizará aos alunos prejudicados pelo problema, seis meses de aulas no laboratório, mesmo depois de formados, para que possam ser acrescentados em seu currículo acadêmico e em sua vida prática profissional. Essa atitude da coordenadora, contudo, acrescentará, além dos cinco anos de curso, mais seis meses com a disciplina de LPCD para os alunos de Arquivologia.
B R E V E S Passando por cima Uma reunião com o intuito de resolver de vez as reivindicações dos alunos do Campus IV, que estão em greve, terrminou em confusão. Na saída do encontro, o veículo que transportava a reitora Margareth Diniz atropelou um aluno do curso de Design, causando-lhe escoriações leves no joelho, mão, ombros e olho. Segundo os grevistas, após o incidente, o motorista da reitora acelerou o carro e foi embora sem prestar socorro. À imprensa, a reitora deu a seguinte explicação para o caso: disse que o estudante subiu no capô do veículo por conta própria, se desequilibrou e caiu. A ocorrência foi registrada na Polícia Federal.
No popular A Orquestra Sinfônica da UFPB (OSUFPB) realiza apresentações na sala Radegundis Feitosa, no Centro de Comunicação Cultura e Artes (CCTA), sempre às sextas-feiras, às 20 horas. O programa inclui adaptações de músicas populares para o registro clássico assim como a execução de trilhas sonoras de filmes, cantores e bandas que marcaram época. Nesta sexta-feira (30) quem irá se apresentar é a Orquestra Sinfônica POP.
Estudar fora O programa Santander Universidades, que oferece bolsas para intercâmbio acadêmico e cultural pelo projeto “Fórmula” e inclui uma cota de 300 vagas para alunos de 48 universidades brasileiras, está inscrevendo alunos que queiram estudar na Espanha e Reino Unido. As inscrições podem ser feitas na internet pelo site www.santanderuniversidades. com.br e se encerram no dia 22 de setembro.
Mais ativos Parece que os movimentos de protestos que ocorreram em todo o Brasil, durante o mês de junho, reanimaram os movimentos estudantis nas universidades. No curso de Educação Física, por exemplo, o Centro Acadêmico, que estava inativo há mais de quatro anos, foi reaberto em junho. No curso de Jornalismo, o destaque foi a realização de uma eleição acirrada entre as chapas Idealize e Inovar. O resultado foi positivo para a chapa Inovar, que venceu com 94 votos contra 62 da oposição.
Escola da alegria O projeto social PalhaSUS, dos alunos do curso de Fisioterapia, voltado para práticas humanas na rede pública de saúde (SUS), realizará uma Oficina do Riso com carga horária de 40 horas, no período entre 23 e 27 de setembro, no Ginásio de Práticas Integrativas da UFPB. O objetivo dos palhaços que trabalham no projeto é levar alegria para as crianças internadas nos hospitais públicos de João Pessoa, através de encenações teatrais e musicalização integrativa.
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Jornalismo pauta onda de protestos Palestras, apresentações de artigos e debate com Leonardo Sakamoto compõem semana de evento no curso da UFPB Lunara Moreira e Ramila Ramalho Com o intuito de discutir o papel do jornalista diante das manifestações que acontecem no país desde junho deste ano, o Centro Acadêmico (CA) de Jornalismo, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), viu a oportunidade de promover um evento para discutir o assunto. Com o tema “O papel do jornalismo no movimento Acorda Brasil”, a I Semana de Jornalismo gerou debates sobre as manifestações, bem como a cobertura delas por parte da mídia nacional, a partir da sua responsabilidade social e ética, envolvendo nos debates a crise do jornalismo contemporâneo. Participaram do evento alunos, professores da UFPB, além de convidados. O evento, realizado entre os dias 14 e 16 de agosto, teve, em sua programação, mesas redondas, grupos de trabalhos e palestras, além da participação do jornalista, blogueiro e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) Leonardo Sakamoto, que deu um panorama geral sobre as manifestações, a atuação das mídias alternativas e a participação da população no compartilhamento de informações sobre o movimento nas redes sociais, como Twitter, Instagram e o Facebook. A iniciativa do CA teve o apoio da coordenação do curso de Jornalismo, que motivou a participação ativa entre docentes e discentes, colocando-os num espaço de diálogo e interação, proporcionando, assim, a oportunidade de conhecer novos projetos de pesquisa com enfoque no cenário nacional. “Foi feita uma reunião com os professores de Jornalismo e colocamos essa proposta da semana acadêmica em discussão. Eles aceitaram de imediato por reconhecerem a falta que um evento dessa natureza faz para que o alu-
Foto: Ana Daniela Aragão
inscritos não poderia se apresentar no dia previsto. “Avisamos a todos pela página do Facebook e avisamos aos inscritos que apresentariam por telefone”, esclarece. A equipe de reportagem do Questão de Ordem, porém, entrou na fan page do evento na rede social indicada e constatou que o aviso foi postado um minuto antes do horário previsto para o início do GT daquele dia, que seria às 14 horas.
Público da I semana de Jornalismo reuniu estudantes de Comunicação para a análise da cobertura dos protestos de rua pela mídia no tenha um certo espelhamento”, afirmou a coordenadora do curso de Jornalismo, Zulmira Nóbrega. A I Semana de Jornalismo, além de promover a interação de profissionais da área com a academia, teve como objetivo o estímulo à pesquisa jornalística. Nela, pôde-se ver um leque de trabalhos, onde os alunos puderam mostrar e adquirir conhecimento das pesquisas atuais dentro da área da comunicação na UPFB. De forma positiva, as mesas redondas geraram diversas discussões entre os que estavam presentes. “Gostei muito dos palestrantes e o tema foi perfeito para o momento que estamos vivenciando. Esse evento contribuiu pra o crescimento do nosso curso, tanto no que se refere a área profissional como o lado pessoal de cada participante”, afirma a estudante de jorna-
Evento traz profissionais da área para a academia e tem como estímulo a pesquisa jornalística.
lismo, Jadleny Santos. PROBLEMAS Apesar de útil, a programação da I Semana de Jornalismo enfrentou problemas. Nela, constava a apresentação de grupos de trabalho (GTs) sendo dois no primeiro dia e três no segundo. Tinha fi-
cado decidido, pela organização do evento, que os trabalhos que estavam programados para a quinta-feira, 15, seriam adiados para o dia seguinte, fato que gerou desconforto para os que estavam acompanhando o evento. Bianca Dantas, estudante do sexto período do curso de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) veio de Campina Grande para prestigiar o evento e relatou o desconforto do adiamento, ressaltando que não houve aviso prévio por parte da organização. “Só ficamos sabendo do adiamento porque alguém viu uma publicação na página da Semana de Jornalismo, no Facebook, feita no horário que se iniciaria o primeiro GT, e nos avisou”, desabafou. Segundo Luan Barbosa, coordenador geral da semana, a causa do adiamento se deu porque um dos
DIÁLOGO Contando com uma média de 300 pessoas, o evento aconteceu justamente para que os futuros jornalistas possam ter uma visão mais crítica sobre os processos políticos. A importância de se fazer uma discussão como essa, é a de perceber que o que aconteceu durantes os protestos país à fora foi muito mais complexo do que a mídia mostrou. Pois, quando se procura por informação, deve-se apurar melhor o fato, pesquisar, buscar, ver o contraditório e investigar, antes de levar o assunto ao público. Este é o papel de um comunicador. Mesmo com a pouca adesão das pessoas, o evento conseguiu abordar os temas propostos. Em um dos debates, por exemplo, esteve presente o presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, Rafael Freire, que avaliou a cobertura jornalística nas manifestações. “Há um sentimento generalizado no Brasil, de que a mídia não representa os setores populares, que não fala a verdade, e que muitas vezes manipula a informação”, destacou. Apesar de tudo, os estudantes que participaram da I Semana de Jornalismo, puderam abrir a mente em relação aos atos de violência contra a imprensa, não só vendo-a como uma revolta coletiva da população, mas também se inteirando de que, muitas vezes, a forma de lutar politicamente é estar nas ruas, cobrando do governo, criticando e expondo abertamente as opiniões diversas.
CONECTADOS
Mobilização de alunos traz wi-fi para o CCTA Jéssica Alves O Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), agora já está na rede. Tendo em vista o não cumprimento das promessas da reitora Margateth Diniz em dotar o órgão de sinal de internet, os Centros Acadêmicos (CAs) dos cursos de Jornalismo, Radialismo, Turismo e Teatro se juntaram e decidiram providenciar os equipamentos para instalação da conexão com a Web. Depois de seis meses aguardando um posicionamento da Reitoria em resolver a questão, os membros dos CAs do CCTA tomara para si a tarefa de solucionaram a falta de sinal de internet nas práticas pedagógicas dos alunos. Com a ajuda do Departamento de Comunicação (Decom), eles mesmos compraram os fios e um roteador para que fosse distribuído o sinal de internet ao longo das instalações do Centro. Este, contudo, não é um problema apenas do Centro de Comunicação, Turismos e Artes (CCTA).
Foto: Ana Daniela Aragão
Estudante usa da internet do CCTA para acessar a rede Outras unidades administrativas da UFPB, no campis I, também se encontram nessa dificuldade, como é o caso do Centro de Tecnologia (CT) e do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA). Segundo Flora Fernandes, coordenadora geral do centro acadêmico de jornalismo, que vem acompanhando o caso e buscando solucioná-lo há mais
de um ano, o wi-fi é algo de extrema importância para os estudantes, principalmente os do CCTA, uma vez que os alunos trabalham diariamente com informação, e nos tempos de hoje, por óbvio, é impossível fazer comunicação sem internet. Várias tentativas de resolver o problema foram feitas junto à Reitoria nos últimos seis meses. O wi-
-fi no CCTA foi pauta principal de pelos menos duas reuniões realizadas no início do ano. Numa delas, a própria reitora se indignou ao saber da deficiência, tendo, na oportunidade, se prontificado em contatar os servidores do Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) parasolvê-la dali há uma semana. Até o mês de agosto, entretanto, nenhum fio tinha sido colocado no local. Entendendo a necessidade acadêmica dos estudantes de dispor do serviço, os prórprios alunos se uniram para reparar o problema. O pontapé inicial foi dado pelo coordenador geral do CA do curso de Turismo, Carlos Locks, que é engenheiro elétrico e se prontificou em fazer a instalação. Ao analisar a estrutura do ambiente, ele percebeu que poderia ser puxada uma rede de internet através de uma sala localizada no primeiro andar do prédio do Departamento de Comunicação (Decom). O mesmo tratou de informar, ao restante do grupo, a possibilidade e se disponibilizou a fazer o orçamento e procedimentos
elétricos. Feito isto e acordado entre os demais membros dos outros CAs, ele pediu permissão e também apoio financeiro aos diretores, coordenadores e funcionário do Centro para a compra do roteador, que custou cem reais. A instalação aconteceu na primeira semana de agosto e foi finalizada em apenas um dia. O sinal, por enquanto, não atinge uma longa distância, mas a pretensão é aumentar sua abrangência com uma antena de ampliação de rede, que custa quatrocentos reais, sendo que tal despesa os alunos pretendem deixar na conta de Departamento de Comunicação, pois a compra será feita com o cartão corporativo que é fornecido pela Prefeitura Universitária (PU) ao CCTA. Mesmo não tendo o apoio da reitoria e dispondo de um serviço não tão eficiente, os CAs conseguiram agradar os estudantes, que aprovaram a iniciativa e podem usufruir do serviço. Eles agora contam com um ambiente no qual podem fazer seus trabalhos dispondo de uma rede de internet gratuita.
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Alunos africanos lutam contra preconceito através da música Cansados de ouvir pilérias dos colegas brasileiros, intercambistas se juntam, compõem e canta canções como resposta Romarta Ferreira A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) recebe, em média, 38 alunos latinos e africanos por meio de intercâmbio todos os anos. A realidade dos africanos que vêm estudar em João Pessoa perpassa entre a vontade de aprender e o desafio de morar longe da família, e transcorre entre a euforia de conhecer um país novo e a desânimo de se deparar com situações desconcertantes no local que lhes foi conferido o direito de estar: a universidade. O cantor de rap Vivian Mouvi, mais conhecido como Opai Bigbig, tem 27 anos e é aluno de intercâmbio do curso de Relações Internacionais (RI) da UFPB. Sua terra natal é a República de Benim, no continente africano. Ele está no Brasil há pouco mais de um ano. Opai prefere andar na companhia de seus conterrâneos e a explicação para isso, segundo ele, é que há um pré-julgamento enganoso por parte de alguns universitários do Campus I sobre a realidade dos alunos africanos e seu continente. “Eles preferem julgar, a perguntar ou estudar sobre o continente”, desabafa, referindo-se aos comentários abusivos de que na África teria excesso de miséria e outras calamidades. “Mas, no nosso país, por exemplo, não se mata tanto quanto aqui no Brasil”, completa o estudante um pouco indignado com a situação que ele passa no Brasil. COM MÚSICA Pensando em apresentar a Áfri-
Foto: Romarta Ferreira
Opai Big Big e Izy Mistura, integrantes do dueto “Dois Africanos”, usam o bom humor para informar os brasileiros sobre África ca para os brasileiros Opai formou a dupla musical intitulada “Dois Africanos”, ao lado do seu compatriota Herve Yawo Novinyo Baba, também conhecido como Izy Mistura, que estuda letras na Universidade Federal do Ceará (UFC). Nas letras das músicas que compõem juntos, eles apresentam a cultura africana, já que a intenção do projeto é expor, através da arte, um lado da África desconhecido por muitos, abordando a realidade do povo africano e a integração do continente com o mundo. A maioria das músicas compos-
tas por eles mesmos já foram gravadas e, logo em breve, serão lançadas no primeiro disco intitulado “Primeiro Passo”. Bigbig e Mistura apostaram também na produção de videoclipes, lançando o vídeo da música “Eu sou de lá”, que retrata o amor pela África e já ultrapassou 50 mil visualizações em seu canal no YouTube. Eles expressam nas letras de suas canções o que seus conterrâneos gostariam de dizer para os brasileiros: “Minha África cara é uma casa do amor / Deixamos
pais e amigos pra estar aqui”, destaca um trecho da música que leva o mesmo nome do álbum. DIFICULDADES Izy Mistura afirma que já ouviu muitas frases de cunho preconceituoso como por exemplo: “por que você não volta para a sua terra?”. Ele confessa não ter respondido à agressão, mas diz que jamais esquecerá o ocorrido. “Algumas pessoas às vezes nos olham como se a gente tivesse feito algo de errado”, complementa Bigbig, a fala do amigo, e
declara que, embora tenham alguns amigos brasileiros, não é difícil se sentirem deslocados. Suellem Dantas Mariz, assistente social da Coordenação de Assistência e Promoção Estudantis (COAPE), é responsável pela seleção da bolsa Projeto Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior (Promissaes), no valor de R$ 622,00, que beneficia estudantes de intercâmbio e confessa já ter ouvido muitos relatos de alunos do continente africano sobre discriminação e preconceito praticados por parte dos universitários. Outra dificuldade, segundo Suellem, é que o convênio que viabiliza o intercâmbio de universitários africanos, o Programa Estudante e Convênio de Graduação (PEC- G), os proíbe de exercer atividades remuneradas aqui no Brasil, o que torna mais dificultosa a sua estadia. “O valor da bolsa não é suficiente para suprir as necessidades deles, pois o custo de vida está alto, e os alunos de intercâmbio ficam desassistidos aqui no Brasil”, observa a assistente social. Apesar das adversidades, tendo ainda mais quatro anos pela frente, Opai Bigbig pretende continuar com seu intercambio até o fim. Conjuntamente, espera prosseguir com a música, para amenizar os danos causados pelo preconceito e continuar conscientizando as pessoas que entrarem em contato com a arte que produz sobre a importância do respeito, mensagem predominante em suas canções.
NOVO CAMINHO
Começa entrada naUFPB através do ENEM Amanda Felix O Conselho Superior de Ensino e Pesquisa (Consep), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), decidiu, em 14 de maio, pela adesão ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) como forma exclusiva de ingresso na universidade. Esse sistema, criado pelo Ministério de Educação (MEC), em 2009, foi desenvolvido para que as instituições públicas de ensino superior pudessem distribuir suas vagas de forma mais eficiente, utilizando como parâmetro a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A forma antiga de ingresso na UFPB era pelo Processo Seletivo Seriado (PSS), criado pela própria instituição em 1999, onde a inscrição era permitida tanto para candidatos matriculados no ensino médio como para candidatos que já haviam concluído este nível de ensino. A prova era dividida em etapas específicas para cada ano do ensino médio. Ao final, o candidato recebia sua média e, dependendo da concorrência de cada curso, estaria ou não apto para o ingresso na universidade. Em 2010, parte das vagas dos mais de cem cursos da UFPB foram reservadas para o Sisu, iniciando, desta forma, o processo de mudança.
Foto: Râmila Ramalho
Aluna estudando para fazer a prova do Enem, sistema que a partir deste ano será o única requisito para ingresso na UFPB Desde que foi criado, o Sisu é gradativamente adotado pelas 54 instituições federais de ensino supeior de todo o país. Pela ampliação de opções de cursos, é um sistema vantajoso. “Os alunos podem
concorrer à vagas do seu interesse em diversas instituições no país inteiro, inclusive sem que tenham que ir presencialmente até elas ou fazer um exame específico”, esclarece o pedagogo Leonardo Severo.
Especialmente na primeira década dos anos 2000, o modelo de competências da prova do Enem, bem como sua fundamentação, não tem sido devidamente efetivado. O pedagogo ressalta uma perspecti-
va mais ampla que modifica a relação do aluno com o conhecimento e o papel da avaliação, a qual, deve servir muito mais para atestar o nível de maturidade intelectual do que simplesmente o nível de aquisição de conhecimentos disciplinares. Sobre o antigo modelo de ingresso, o PSS, as vantagens consistiam na menor concorrência, já que era um processo apenas voltado para alunos paraibanos. “Prefiro o PSS pelo fato de ser mais direto, menos cansativo e, inclusive, mais ‘conteudista’”, admite a estudante de ensino médio, Tainá Falcão, sobre as vantagens das questões mais objetivas. Em contrapartida, o estudante do curso de Letras, Antônio Felipe, prefere o Enem, pois vê nesta metodologia de seleção, algo mais avaliativo do que o PSS. “O participante não fica preso a certos conteúdos que só exploram um processo de decodificação, mas sim uma visão crítica e, acima de tudo, reflexiva”, conclui. Justificando a mudança da forma de ingresso na UFPB, o subcoordenador de programação acadêmica da Coordenação de Cadastro Escolar (Codesc), Igor Araújo, afirmou que o Ministério da Educação (MEC) forçou a adesão da universidade pelo Enem, sob a ameaça do não repasse de recursos à Instituição.
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Demid desenvolve jogo educativo para a rede pública do município Aluno do curso de Mídias Digitais participam da criação de um jogo em três dimensões com fins pedagógicos Mabel abreu As novidades tecnológicas estão conectando cada vez mais crianças e adolescentes ao mundo dos jogos, principalmente em três dimensões (3D). Essa tecnologia é capaz de reproduzir a mobilidade total do campo de visão em 360 graus. É contando com esta crescente aceitação do público infanto-juvenil que o departamento do curso de Mídias Digitais tem como um de seus projetos a produção de um jogo tridimensional de fim educativo, o game Felipéia. A obra, quando estiver finalizada, será distribuída em escolas públicas de toda a capital paraibana para alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, objetivando contribuir de forma interativa com o ensino do processo de colonização do território paraibano. Para aproveitamento total da ferramenta, os professores destas escolas serão instruídos posteriormente sobre o funcionamento do Felipéia pelos desenvolvedores do projeto. O jogo traz em seu enredo a história da colonização do território do litoral paraibano pelos portugueses, a princípio ocupado pelos povos indígenas. O projeto foi baseado no livro “A Conquista da Paraíba”, de autoria desconhecida. Sabe-se apenas que o livro foi escrito com base em fotocópias do Iris, periódico carioca sobre eventos históricos, de 1848, que contava, em uma de suas edições, a colonização do território a partir da visão dos jesuítas que habitavam a região do litoral nesta época. É com base nessas referências que o material está sendo produzido e se encontra em fase de elaboração de cenário e personagens, ambos pontos fortes no conceito do projeto e que necessitam de bastante pesquisa histórica. Segundo o coordenador do projeto, Derval Gomes Golzio, do departamento de Mídias Digitais, a previsão de lançamento do produ-
to é para meados de março de 2014. Ele conta que o foco da produção é retratar a real história da conquista, mas ponderando bem sobre partes violentas dessa história: “Não podemos ser tão realistas no que se refere a parte violenta da nossa história, que é calçada nas mortes de índios e massacres. Então adicionamos leveza e diversão ao jogo, assim, desviando o foco dessa parte”, explicou. Esta preocupação com a violência no jogo surgiu desde sua idealização devido à apreensão dos pais para com seus filhos jogarem jogos que possam conter cenas de violência explicita e incitar agressividade. Portanto, a ideia de tornar o enredo cômico e leve vem para concretizar o fato de que ele é plenamente educativo e funcional para o aprendizado destes jovens. NA PRÁTICA Dentre as análises feitas para a produção do jogo, a atenção em avaliar os efeitos da presença de jogos de computador nas escolas, de maneira a agregar o aprendizado e a busca por informações, foi positiva. O diferencial do Felipéia é o aprendizado dos acontecimentos de maneira divertida, e, sobretudo, o poder que jogadores têm em mãos para mudar o rumo da história dentro do jogo, ou seja, é possível que eles determinem um novo final para o que está escrito nos nossos livros. O co-coordenador do Felipéia, Alberto Ricardo Pessoa, explicou que o processo de aprendizado através do humor possui uma resposta melhor no desempenho educacional do alunado do que o tradicional método de aprendizagem: “O humor é muito mais receptivo que algo que tenha que ser aprendido de maneira monótona e composta por mesmices”, ressalta. Uma das maiores dificuldades encontradas na produção do projeto é a falta de profissionais adequados para a produção das imagens e cenário em 3D, fazendo com que os
Foto: Oscar Siqueira
Aluna do projeto recebendo orientações do coordenador sobre o desenvolvimento do game que alia brincadeira com História Foto: Walter Licinio
História para contar: desenho feito pelos desenvolvedores do jogo em três dimensões que integra um roteiro de aprendizagem idealizadores procurem técnicos capacitados em outros estados, como Rio Grande do Norte e Pernambuco. Três alunos do curso de Engenharia da Computação estão envolvidos no projeto, porém ainda de forma embrionária por pouco conhecimento na área de produção de realidade 3D. Já os estudantes do curso de Mídias Digitais que participam da ela-
boração do jogo ganham também mais conhecimento e aprendizado. “No projeto, a gente tem a oportunidade de criar coletivamente, fazer brainstorms (ideias sob ideias) e pesquisa”, relatou a bolsista do programa, Minna Miná. Ela é uma das responsáveis da montagem de roteiro e produção de ilustrações da obra. Até março de 2014, o Felipéia es-
tará sendo disponibilizado com duas fases prontas para serem jogadas. Também estarão prontos curtas de vídeos contando a história da colonização, além de uma revista em quadrinhos do jogo. É aguardado pelos idealizadores que, a partir desta distribuição, seja possível firmar parcerias com patrocinadores, e, assim, dar continuidade ao projeto.
SEM PAGAMENTO
Atraso em bolsas de estudo prejudica alunos Alechandre Mello Desde o início do ano, alunos que possuem bolsa de estudos, provindas como forma de ajuda de custo pelos trabalhos desempenhados através de projetos de pesquisa, monitorias ou pós-graduação, vêm reclamando do atraso no pagamento do benefício. O problema vai das bolsas de monitoria dos cursos de graduação, até as bolsas do mestrado e doutorado. Além de segmentos como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti), Programa de Bolsas de Extensão (Probex) e o Programa Bolsas de Licenciatura (Prolicen). Atualmente, existem 1.560 bolsistas de pós-graduação, sendo destas 1.047 em nível de mes-
trado e 513 em doutorado. Alunos do Centro de Ciências da Saúde (CCS), que participam de programas com direito ao benefício, alegam ainda não terem recebido nenhuma bolsa neste semestre. Reabias Andrade, aluno do sexto período do curso de Educação Física, contou que o problema de atraso na sua bolsa começou logo no início da monitoria, quando veio receber o benéfico três meses depois de começar o trabalho. Não bastando o atraso do semestre anterior, até o início de agosto as bolsas referentes ao semestre 2013.1 não haviam sido depositadas ainda. Na pós-graduação em Ciências e Engenharia de Materiais, por exemplo, o problema também foi logo na matricula, quando alguns alunos já entraram na pós-graduação sabendo que não iriam receber a bolsa nos primeiros meses. Acabou que
todos os mestrandos matriculados desde abril, só agora foram informados de que as bolsas possam sair em setembro. Segundo Isac Almeida, pró-reitor de pós-graduação da UFPB (PRPG), os alunos de pós-graduação da instituição recebem bolsas (mestrado e doutorado) principalmente de duas agências distintas, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). A concessão das bolsas pelo CNPq é feita diretamente por esta agência ao coordenador do programa de pós-graduação e as bolsas de produtividade em pesquisa são pagas diretamente aos bolsistas e não passam pela administração da PRPG. Já a Capes, através do programa de demanda social, concede as bol-
sas aos programas de pós-graduação, com conhecimento das pró-reitorias de pós-graduação das instituições. Todas as bolsas da demanda social (mestrado e doutorado) também são concedidas e pagas pela Capes diretamente aos bolsistas. “ A UFPB não participa do processo de pagamento de nenhuma bolsa da demanda social ou do CNPq. Que fique claro que o problema não é da PRPG e nem da UFPB”, afirmou Isac. Por e-mail, Tarcísio Teixeira, membro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (Capes) e coordenador da Gestão de Demanda Social (GDS) disse que realmente ocorreu um problema de ordem técnica na geração da folha principal das mensalidades dos bolsistas da pós-graduação da demanda social da Capes dos alunos da UFPB, campus
João Pessoa, mas que as bolsas dos outros campi da UFPB tinham sido pagas normalmente. Apesar de o problema já ter sido resolvido, enquanto o resto do país recebeu o benefício na sexta-feira, 02 de agosto, os estudantes de João Pessoa só vieram receber a bolsa uma semana depois, no dia 09. Já para os estudantes vinculados no Probex, a informação, passada pela administração da UFPB no dia 11 de agosto, foi que a folha de pagamento já estava em transição e que em breve sairia o pagamento. Eles alegaram que o problema foi a burocracia e que enviaram a folha para vários setores até que um aceitou e previu liberar o pagamento. Para muitos estudantes, o pagamento da bolsa é a garantia não só para sua manutenção na UFPB como também para poderem custear as despesas das pesquisas realizadas.
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Simulador em Direitos Humanos é inovação para o ensino jurídico Criação de programa por graduando em Direito auxilia no estudo prático dos alunos nas áreas de ciências humanas Shirlayne Lima Dedicado à pesquisas acadêmicas, o estudante do 7º de Direto, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Filipe Lins, aperfeiçoou e aprofundou, com o apoio da coordenadora e professora do curso, Maria Luiza Feitosa, o simulador virtual do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, que facilitará a vida de alunos e professores. O projeto reproduzirá virtualmente uma audiência de sessão juridica. Conectados a uma rede de computadores, graduandos em Direito - independente da instituição que estudarem - poderão ocupar os cargos de juiz, promotor, advogados e júri, sob a supervisão de um professor, que avaliará o desempenho dos alunos em cada função. A participação no julgamento é restrita apenas para os alunos de Direito e só será possível acessá-la com o uso de uma senha. O desenvolvimento do projeto está nas mãos de Eduardo Santa-
na Medeiros, produtor de mídias do Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (Lavid) da UFPB, que vê o software como um pioneiro agente da educação em Direitos Humanos no país. “O sistema ainda está em fase de desenvolvimento, pois vamos realizar algumas alterações antes de disponibilizar o uso para os alunos”, revela Medeiros. Além dele, o simulador pedagógico contou com o suporte do coordenador do Centro de Informática (CI) e do Lavid, Guido Lemos, que pretende viabilizar o estudo para proteção dos direitos humanos de maneira atual e prática. Enquanto são feitos os últimos ajustes técnicos, Filipe Lins comemora o avanço, e explica que o programa servirá para divulgar o sistema não apenas ao público acadêmico, mas também para militantes dos direitos humanos, profissionais da área juridica e curiosos em geral. “A finalidade desse projeto é capacitar pessoas a acionar e proteger seus direitos”, ressalta.
Foto: Ana Daniela
Centro de Ciências Juridicas da UFPB onde alunos de Direito buscam novas formas de aprender a prática da Justiça
INSTITUCIONAL
Mídias Digitais lança revista na web Nael Lima Desde o ingresso em cursos de graduação, universitários procuram incrementar o currículo acadêmico. Essas buscas muitas vezes se tornam frustrantes devido à carência de incentivo e oportunidades existentes nas instituições. Com os alunos de Mídias Digitais, por exemplo, esse cenário de inviabilidade se tornou diferente. Os estudantes, produzem a revista online “UFPB em Revista”, como atividade ao mesmo tempo curricular e extracurricular. O projeto é orientado por Derval Gomes Golzio, professor do curso de Mídias Digitais. Para ele, a ideia de produzir uma revista que vai além do caráter acadêmico, surgiu da ótima receptividade que o público obteve com o conteúdo da revista online. Foi constatada ainda a necessidade da universidade ter um periódico informativo, espaço livre de publicidade, e que mostrasse a realidade do campus. Os estudantes estão instruídos a trabalhar a informação real. Como foco, a revista retrata em suas páginas as novidades e acontecimentos da universidade. Já na sua primeira edição, lançada em maio deste ano, grande parte do conteúdo foi voltado para os acontecimentos dos campi. Em sua segunda edição, lançada este mês, a área de extensão tomou conta das páginas. Derval revela que pretende manter as características de registrar
bons momentos da UFPB. A perspectiva é de que a terceira edição venha também em versão impressa, caso os trâmites de licitação ocorram normalmente e o custeio da impressão gráfica da revista esteja incluída no orçamento da universidade. Apesar da recepção positiva, recentemente o programa ganhou críticas. Uma postagem no blog de caráter denunciativo, Bucho Furado, expôs a suposta falta de currículo acadêmico dos alunos para a produção de matérias na revista. Com o intuito de esclarecer essa polêmica, questionado se a publicação do blog possuía fundamentação, o professor Derval Golzio afirmou que a postagem do blog não procede. A equipe é composta por seis alunos, cinco para produção de conteúdo e um apenas para diagramação. As edições são bimestrais. Segundo o próprio professor orientador, os estudantes de Mídias Digitais tem capacidade para produção de textos, sim. Ele alega a falta de conhecimento do plano pedagógico do curso, que possui três oficinas de produção de texto. Os produtores da revista também revelaram que não descartam a possibilidade de parcerias com outros cursos como Jornalismo e Rádio e TV. Golzio falou que percebe uma necessidade de integrar melhor os cursos, visto que atualmente, a disputa entre centros prejudica o desenvolvimento profissional dos alunos de ambos. A redatora da revista, Nayane Maia, estudante do Curso de Mí-
Foto: Mabel Abreu
FORMA ANTIGA
Treinamento de simulação é dado no CCJ Shirlayne Lima
Já na 1ª edição, de maio, o conteúdo foi voltado para os acontecimentos dos campi.
Coordenador Derval Gólzio explica o projeto da publicação como tarefa acadêimica dias Digitais, conta que a iniciativa torna mais fácil a compreensão da parte teórica. Mas o processo de liderança, e incentivo da equipe, não lhe parece fácil. Para trabalhos desse porte, segundo ela, é preciso foco. “Às vezes um já está meio desanimado porque está meio complicado de conseguir alguma matéria, aí você tem que incentivar a equipe, é quando tudo volta a funcionar.” ex-
plica Nayane. Apesar da notoriedade obtida, ela revelou que exige bastante organização do tempo. Para a equipe, o próximo passo agora é tornar o material impresso e inserir a revista em concursos e competições regionais e nacionais, o deve se torna um incentivo para que mais alunos do curso se interessem em produzir projetos do tipo.
Ainda nos moldes tradicionais, nos últimos dias 6 e 8, foi realizado, no pleno do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), treinamento com estudantes, onde simularam uma consideração da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) a frente de um determinado caso, possibilitando que os mesmos apresentassem seus argumentos, abrindo espaço para um debate a respeito da responsabilidade do Estado e das circunstâncias do fato juríco. Os estudantes acreditam que se já existisse o simulador, haveria uma melhor aprendizagem da prática da Simulação Internacional de Justiça (SIJ). Embora diferente, o método de aprendizado tradicional agradou mesmo assim aos estudantes presentes, que tiveram a oportunidade de testar seus conhecimentos da área, a exemplo do estudante do 4º período, Thulio Almeida. Para ele, a SIJ é um instrumento de ensino fundamental para os alunos do curso, pois permite conhecer, de fato, o âmbito do direito internacional. “Pudemos sentir na prática o que é agir como um advogado em um julgamento”, observa o estudante, satisfeito com o seu desempenho. Já Louis De Jongh, do 3º de Direito da UFPB, que também participou da SIJ, lembrou que o ensino jurídico doméstico carece de incentivo ao estudo da normativa internacional. “Simulações como esta vêm suprir essa falta e consubstanciar uma educação voltada aos direitos humanos”, ponderou. Se depender de Filipe Lins, criador do simulador, exercícios como esse passarão a fazer parte, definitivamente, da realidade em sala de aula, agora com o auxílio da internet.
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JOÃO PESSOA - PARAÍBA 26 DE AGOSTO A 2 DE SETEMBRO DE 2013 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB
Campus IV tem histórico conturbado Fruto de uma má concepção político-administrativa, unidade do Vale do Mamanguape é difícil de ser administrado Geri Junior e Priscila Vital Desde a sua efetiva implantação, ocorrida no ano de 2006, que o Campus IV da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), localizado no litoral Norte do Estado (a cerca de 60 km da capital), abrangendo as cidades de Mamanguape e Rio Tinto, vem juntando problemas estruturais, políticos e administrativo que permanentemente desafiam a normalidade acadêmica da Instituição. Eles são resultado de um longo e complicado processo que se estende desde a sua ideia inicial até a sua atual configuração prática. As impossibilidades de execução no projeto original, devido à inexistência de um terreno que pudesse comportar toda a obra de sua construção, e as acirradas disputas políticas locais, levou a decisão do antigo reitor da UFPB, Rômulo Polari, em dividir um mesmo campus em duas unidades: uma em Mamanguape e outra em Rio Tinto, resultando daí problemas de toda ordem. Tudo começou em 2004, no Campus I da UFPB, em João Pessoa, quando dentro do Programa Interdisciplinar de Ação Comunitária (Piac), surgiu a proposta de criar um centro universitário popular no Vale
de Mamanguape, por meio de uma parceria entre o poder público e as comunidades locais. Seria criada, a partir daí, uma estrutura itinerante que circularia pelo local, promovendo ações de interação e capacitação nas comunidades abrangidas. No final de 2005, o Ministério de Educação (MEC) criou o programa Interiorizar, dando, assim, às universidades federais, a oportunidade de apresentarem projetos de interiorização, o que resultaria na construção de campus avançados em outras localidades. Em 2006, a UFPB aderiu ao programa e resolveu construir um centro universitário completo, e não mais um itinerante. O então reitor Rômulo Polari apresentou o projeto às prefeituras do Vale do Mamanguape, e, após uma assembleia e sucessivas reuniões com a classe política, ficou decidido pela instalação do campus, com colaboração direta das prefeituras de Rio Tinto e Mamanguape. O primeiro terreno ofertado para a construção foi no bairro de Salema, em Mamanguape, que fica próximo da fronteira com Rio Tinto, mas, após a inspeção do local, percebeu-se que seria inviável a execução do projeto naquela área. Com isso, a escolha do local para a instalação do campus ficou a critério do prefeito da cidade. Exatamente na mes-
ma época, a prefeitura de Rio Tinto informou que poderia ceder o terreno de uma antiga fábrica de tecidos, que antes era propriedade da família Lundgren, e que as aulas poderiam começar, em caráter emergencial, nos antigos galpões da fábrica. Quando isto aconteceu, automaticamente o prefeito de Mamanguape ofertou outro terreno que poderia servir para a construção do campus, no entanto, ao analisar os dois locais cedidos para a universidade, percebeu-se que nenhum deles tinha condições de abarcar o projeto de construção por inteiro, pois o espaço era insuficiente. Decidiu-se, então, construir um único campus dividido entre as duas unidades. A partir desta decisão, começaram os problemas quanto a eficácia administrativa da unidade, uma vez que, sem um acentralizaçao operacional, tudo que antes seria destinado a apenas um lugar, acabaria sendo dividido para dois, o que automaticamente demanda mais tempo e mais burocracia. A divisão de um mesmo campus em duas unidades resultou, portanto, na gênese duradoura de problemas acadêmicos, políticos e de administração que até hoje enfernizam a administração central da UFPB, a partir do campus I, em João Pessoa.
SITUAÇÕES QUE CULMINARAM NA GREVE 2004 - No Campus I surge a proposta de criar um centro universitário popular no Vale de Mamanguape. 2005 - O Ministério de Educação (MEC), em parceria com o Governo Federal, cria o Programa Interiorizar, que resultaria na construção de campus avançados em outras localidades. 2006 - A UFPB adere ao Interiorizar e resolve construir um campus completo ao invés do centro itinerante. O reitor Rômulo Polari apresenta o projeto às prefeituras do Vale de Mamanguape e à comunidade. 2009 - Greve dos professores por 4 meses, na qual foi rei-
vindicada melhores condições de trabalho e agilidade no término da obra de Mamanguape. 2010 - Primeira greve dos estudantes com duração de 28 dias. 2013 - 09 de julho - os alunos marcam mais uma assembleia e convidaram Margareth para participar. A reitora não comparece, nem manda representantes. Os estudantes decretam greve e ocupam a direção de centro. 12 de agosto - os alunos fazem nova assembleia. Dos 337 estudantes, 256 votam a favor da continuidade da greve e 81 votam contrário. Foto: Ana Daniela Aragão
Foto: Ana Daniela Aragão
Espaço de alimentação dos alunos em Rio Tinto é insuficiente para a demanda
Ausência de estrutura afeta Restaurante Universitário
Instalações do Campus IV, em Mamanguape: obra inacabada e com pendências que vão desde a estrutura física a lacunas de gestão
Alunos sofrem com falta de recursos assistenciais
Com 11 cursos de graduação, duas pós-graduações e uma especialização, divididos entre os departamentos de Ciências Sociais, Ciências Exatas, Design, Educação e Engenharia de Meio Ambiente, cada unidade do Campus IV Litoral Norte dispõe de uma biblioteca. Além da falta de livros, alunos reclamam que o acervo existente não é suficiente para suprir a demanda do campus. “Já precisei tirar xerox de um livro que precisava, pois a biblioteca só disponibilizava quatro exemplares do título, e eles já haviam sido emprestados para outros alunos”, exemplifica a estudante de Hotelaria Karenine Ribeiro, que ainda afirma que muitos dos seus colegas que estão fazendo trabalho de conclusão de curso (TCC) precisam ir até o Campus I para ter
material de pesquisa. Além de o problema gerar indignação por parte dos discentes, ele prejudica o desenvolvimento das suas atividades acadêmicas. “Não é justo que um aluno do Campus IV precise ir até o Campus I para poder encontrar um livro que precisa. Nossa biblioteca é muito deficiente e isso nos prejudica”, critica Karenine. APOIO De acordo com pesquisa realizada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que teve o objetivo de fazer levantamento quantitativo de discentes da instituição, constatou-se que o Campus IV Litoral Norte tem a maior taxa de evasão entre todos os polos da universidade. Uma das causas atribuídas, pe-
los próprios alunos, é a falta de assistência estudantil. Apesar de já construída, a residência universitária do campus precisa ser reestruturada, pois não oferece boas condições de moradia. Com isso, é abonada a quantia mensal de R$ 370 para moradia e alimentação de estudantes vindos de fora. No caso dos alunos de Mamanguape, o valor tem que ser usado para comida, inclusive, durante a semana, já que o RU da unidade está fechado. “Depois que a universidade veio para cá, aumentou muito a especulação imobiliária e está cada vez mais difícil pagar o aluguel” garante o estudante de Design João Neto, que é um dos beneficiados com o valor e reclama que ele é muito baixo para suprir suas necessidades.
Dos dois Restaurantes Universitários (RU) que existem no Campus IV, apenas o da unidade de Rio Tinto está em pleno funcionamento. Já o de Mamanguape, apesar de suas obras já terem sido concluídas e de possuir 80% dos equipamentos necessários para o início das suas atividades, nunca abriu as portas. Segundo a reitora Margareth Diniz, isso ainda não aconteceu devido às faltas dos outros equipamentos e de pregões – uma espécie de leilão, onde empresas oferecem seus menores preços de serviço – para envio de licitação. Além disso, ela afirma que no teto da construção há uma rachadura que impossibilita seu funcionamento, fato que é negado pelos alunos do campus. O estudante de Hotelaria Pedro Henrique afirmou que, durante visita ao campus, em fevereiro deste ano, o superintendente do RU Antônio Luís disse que o restaurante de Rio Tinto abriria em abril, o que veio acontecer só em 19 de julho, após o início da greve. Enquanto isso, o RU de Mamanguape ainda não tem previsão para começar a funcionar. O superintende do R.U., professor Antônio Luiz, reconhece a dificuldade para resolver os problemas do restaurante em Mamanguape. Uma das ideias de Antônio seria utilizar a cozinha do restaurante de Rio Tinto para preparar as refeições, deixando o de Mamanguape apenas como refeitório. Entretanto,
a proposta não foi bem aceita pelos estudantes, que alegaram riscos de contaminação no transporte dos alimentos devido à demora entre o período de produção e o momento em que as refeições seriam servidas. Antônio Luiz, espera reformas na estrutura do prédio para agilizar o funcionamento do restaurante. “O que me preocupa em Mamanguape é a estrutura física do prédio. O pátio do restaurante está com uma fissura de cerca de dois centímetros de espessura, temos que consertá-lo primeiro e depois estudar o que deve ser feito para funcionar”. O superintendente garante ainda que a proposta, embora emergencial e distante de solucionar os problemas, deixaria os alunos alimentados durante o tempo em que o material necessário para o funcionamento pleno do restaurante, seja adquirido. Quanto a essa questão do transporte, ele afirma que será realizado da melhor maneira possível, em panelas e transporte apropriados. A compra dos veículos para o transporte dos alimentos foi outra crítica levantada em assembleia, pelos estudantes. Com o questionamento de como comprar veículos, já que a universidade não poderia sequer adquirir o maquinário para o R.U., ele explica que o pregão para veículos está aberto, enquanto o de máquinas ainda não. Continua na pág. 10
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política
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Discentes encerram paralisação
Dificuldades no Campus do Litoral Norte são discutidas em assembleia e reitora assina compromisso de resolvê-las Fotos: Ana Daniela Aragão
Continuação da pág. 9 Iniciada em 9 de julho deste ano, a greve dos alunos do Campus IV Litoral Norte (Mamanguape/Rio Tinto), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), durou 48 dias e só acabou na nesta segunda-feira (26), tendo sido a segunda paralização nos últimos três anos. As exigências se voltavam para a solução de problemas de ordens básica e estrutural à vida acadêmica. Entre as reivindicações dos grevistas estava o atendimento de questões da assistência estudantil, melhor qualidade do ensino, com salas e laboratórios equipados, mais livros para a biblioteca e a reabertura do Restaurante Universitário (RU) de Mamanguape. Além disso, solicitvam um projeto de urbanização que supra as deficiências de segurança, acessibilidade, iluminação e a criação de uma unidade gestora para o Campus. Pressionada pelos alunos, após encontro com uma comissão do comando de greve em que rolou até um incidente envolvendo seu motorista, a reitora Margareth Diniz assinou um termo de compromisso em que promete atender a todas estas reivindicações dos grevistas. HISTÓRICO O campus IV enfrenta problemas desde a sua criação. As aulas começaram antes mesmo que a universidade ficasse pronta. Alunos que estudam desde a fundação, garantem que por falta de salas e estrutura eficiente, algumas turmas chegaram a assistir aulas sob árvores. Este panorama levou os alunos da instituição a entrarem em greve, em 2010, por 28 dias, um ano após a paralisação dos professores. Entre as principais exigências estavam as melhores condições de tra-
Assembleia em que os estudantes decidiram pela continuidade da greve, no ultimo dia 12 de agosto. Na segunda-feira (26), porém, outra assembléia decidiu pela volta às aulas balho e agilidade no término da obra de Mamanguape, que, após a mobilização, foi concluída. Depois da primeira greve alguns problemas foram resolvidos, enquanto outros apareceram. Laboratórios entregues em tempo recorde começaram a demonstrar falhas de infraestrutura, como o do curso de Design, que apresenta problemas de rachaduras no teto. Em 2013, a discussão dos problemas voltou à tona e, em fevereiro, os alunos tentaram negociar com a reitoria, no entanto, nada foi resolvido. Na assembleia, realizada dia 09 de julho deste ano, não houve participação da entidade represen-
tante. A falta de posicionamento gerou indignação por parte dos alunos, o que culminou na atual greve. Após decretarem a paralisação, os estudantes ocuparam a direção do centro do campus, onde decidiram acampar. Em 12 de julho, a reitora visitou a unidade e assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) como garantia de abertura do RU em uma semana. Apesar de ter sido entregue, segundo os próprios alunos, desde então demais problemáticas tem sido negligenciadas. “Não estamos em greve apenas por um RU, nossa luta é muito maior”, afirma um dos integrantes do comando de greve, o estudante
João Neto. Ele foi categórico ao falar que os grevistas se manterão firmes em suas atuações. “Nós já vínhamos tentando negociar com a reitora desde fevereiro, e ela não resolvia nada. Estamos dispostos a ir até o fim”, assegura o grevista sobre o desejo dos estudantes. O objetivo do projeto de interiorização, criado em 2006 pelo governo Lula, era promover parcerias entre governo federal e prefeituras, mas a divisão acabou acirrando as divergências e as disputas entre os municípios. Considerando o fato de que as duas prefeituras cederam os terrenos para a construção do campus. Politicamente, cada unidade
pertence à prefeitura da sua respectiva cidade, o que traz a ideia que as unidades não pertencem a um único centro. Estes problemas políticos externos acabam afetando negativamente a dinâmica administrativa e acadêmica da universidade. Existem também os problemas políticos internos. O principal deles é a proximidade das duas cidades com o campus I, fazendo com que até hoje o polo enfrente problemas de autonomia. Um exemplo é o número de professores de João Pessoa, que retornam à capital quando passam em outro concurso ou são transferidos. Assim, o Campus IV não consegue instaurar sua identidade acadêmica.
Superintendente do R U, Antônio Luiz
Representantes da Reitoria (primeira fila) ouvindo as reivindicações dos alunos na assembleia do dia 12 de agosto
Na primeira assembleia convocada, uma das reivindicações do comando de greve foi a abertura do restaurante de Rio Tinto. Para isso, os funcionários foram recontratados, de acordo com o que foi pedido. Houve ainda o desenvolvimento e elaboração de um projeto de reestruturação da residência. A abertura do restaurante de Mamanguape - PB, também do Campus IV, está sob estudo, mas devido problemas estruturais não tem previsão para funcionamento. O orçamento da reitoria foi recebido só em maio de 2013, tor-
nando três meses insuficientes para realizar qualquer progresso no Campus IV. Muitas das reivindicações dos alunos só serão atendidas mediante reformas e construções, e isso reduz o tempo para a gestão atual agir nesse aspecto. Uma obra no setor público demora em média seis meses para ser iniciada por conta de fins burocráticos. É necessário abrir processo licitatório. Os problemas existentes no Campus IV poderiam ter sido resolvidos pelos diretores de centro, tendo em vista que a reitoria dividiu o orçamento destinado a ca-
Reitoria estuda formas de atender alunos
Frente aos problemas denunciados pelos estudantes, estão as soluções oferecidas pela reitoria. Na assembleia do dia 12 de agosto, três representantes da reitora Margareth Diniz estiveram presentes. As reivindicações levantadas pelos estudantes na assembleia foram ouvidas por eles, algumas delas, ainda não haviam chegado ao conhecimento da reitoria até a ocasião. A partir das manifestações dos alunos, as reivindicações até então desconhecidas pela reitoria, foram encaminhadas para estudos. Isso mostra que a atual gestão está, realmente, ouvindo os grevistas e buscando melhorias para o campus IV, tal como formas de retomar as aulas e por fim à greve que já dura aproximadamente dois meses. O coordenador da Coordenação de Assistência e Promoção Estudantil (Coape), professor Arnaldo Correia, que estava presente na assembleia do dia 12 de agosto, considera válido e legal o movimento de greve e as reivindicações por melhorias no Campus IV, porém desconfia do seu fator de resolução dos problemas existentes. A cada nova reunião, novos temas são colocados em pauta, dificultando a consolidação de soluções por parte da reitoria. Tal fato coloca em dúvida o desejo dos estudantes em colocarem um fim na greve, e em contrapartida, deixa claro o interesse da reitoria em atender as reivindicações dos estudantes.
da polo da universidade com antecedência. O Centro de ensino do Campus IV em Mamanguape passou a existir juridicamente há aproximadamente um mês, na atual gestão, com a abertura de seu CNPJ. “As mudanças acontecem no tempo que as burocracias determinam, lentamente, mas todas estão recebendo a devida atenção, por parte da reitoria”, garante o coordenador. A hostilidade dos alunos para com a reitoria dificulta a aproximação da universidade para solução das causas da greve, tor-
nando um acordo algo distante. A gestão atual espera paciência dos grevistas e demais estudantes, enquanto toma as medidas necessárias para resolver os problemas da universidade. O objetivo da reitoria, exposto por seus representantes, não está apenas em retomar as aulas, mas solucionar as questões levantadas. O programa ‘Universidade Participativa’, no qual a reitora visita os centros e procura interar-se do que pode ser feito para o melhor funcionamento de cada um, já passou, inclusive, pelos centros do Campus IV.
saúde
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HU tem centro cirúrgico reaberto Mesmo com o Hospital Universitário em más condições de funcionamento e falta de profiissionais, unidade volta a funcionar Geri Junior e Luís Carlos Cunha A interdição do Bloco Cirúrgico do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), em julho deste ano, pelo Conselho Regional de Medicina na Paraíba (CRM-PB), levanta uma discussão sobre as condições atuais da unidade. Fundado em 1979, o prédio nunca recebeu uma grande reforma, apenas soluções paliativas. Hoje, além da necessidade urgente de novos concursos para aquisição de mais profissionais em todas as áreas, principalmente anestesistas, também fica clara a urgência de reformas estruturais no Hospital. O CRM-PB interditou o centro cirúrgico do HULW, em 25 de julho, diante da alegação de baixa quantidade de anestesistas para atendimento. As dez salas cirúrgicas trabalham com 15 anestesistas, quando deveriam ter, no mínimo, mais de 45 disponibilizados para atender a demanda, de acordo com as normas atuais do conselho de medicina. A decisão da reabertura do centro cirúrgico aconteceu no dia 13 de agosto. Em reunião com o CRM-PB, o superintendente do hospital, o médico João Batista, demonstrou ter conseguido solucionar o problema que motivou a interdição das cirurgias. Os profissionais anestesistas tiveram suas escalas reorganizadas, transferindo-se profissionais do turno da noite para os da manhã e tarde, com funcionamento do setor de segunda à sexta-feira, a partir do
Foto: Ana Daniela Aragão
Corredor quase vazio do centro cirúrgico, que voltou a funcionar após reescalonamento dos médicos anestesistas dia 19 de agosto. Só assim, garantiu o diretor do HU, os anestesistas teriam como acompanhar o pós-operatório dos pacientes. Mas essa é apenas a ponta do iceberg. Atualmente, o déficit de funcionários no hospital universitário gira em torno de 1.600, ocasionando, com isso, a inutilização dos setores do sétimo andar, que foram entregues após obras e ainda não funcionam por completo. Fora isso, a verba destinada para administração do Lauro Wanderley, que deveria ser de R$ 4,5 milhões, não passa dos R$ 3 milhões. Faltam também,
materiais básicos para realização dos procedimentos, o que já ocasionou a paralização do mesmo centro cirúrgico em 2011. Existe ainda uma necessidade de reforma geral na estrutura do prédio, agredido pelo tempo. Para isso, diversos setores estão passando por reformas, como é o caso do quinto andar, que está totalmente fora de uso e aguardando obras. Mesmo caso de alguns setores do quarto andar, onde funciona o setor de Doenças Infecto-Contagiosas (DIC). Não é raro se ouvir de internos e acompanhantes relatos de proble-
mas no Dic. Uma ruptura no teto do banheiro da enfermaria 423, por exemplo, deixa à mostra encanações e instalações elétricas; a ventilação do setor também é bastante precária. Apesar da limpeza constante nas lixeiras e nas enfermarias, baratas são encontradas com certa frequência nos banheiros. Além de baratas, existem ainda relatos da existência de ratos, que circulam por todo o hospital, muitos provavelmente advindos da sujeira acumulada no andar superior ou até mesmo das obras do próprio setor. O rato é o principal transmis-
sor da Leptospirose, uma doença infecto contagiosa causada por bactérias expelidas pela urina do animal. No Dic, estão os pacientes que exigem cuidados especiais devido à baixa imunidade. O indivíduo fica vulnerável a diversas outras enfermidades e a existência desse tipo de praga no setor coloca em risco a saúde desses doentes. Há cerca de dois anos, diversos equipamentos de última geração estão encaixotados pelos corredores do ambulatório médico e só agora, no mês de Agosto, foi aberta licitação para instalação. Essa demora coloca em dúvida a qualidade atual do funcionamento desses materiais. De fato, a qualidade dos profissionais e dos equipamentos não condiz com a atual condição estrutural e administrativa do hospital. Em reunião com a reitora Margareth Diniz, os administradores do HU apoiaram a abertura de edital para novos concursos, mas apesar da falta de profissionais, posicionaram-se contrários ao programa “Mais Médicos”, do governo federal. Embora reconheçam os problemas do Hospital Universitário Lauro Wanderley, os administradores garantem que ele possui condições suficientes para funcionar sem colocar em risco a qualidade do atendimento. A implantação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, EBSERH - uma empresa pública, criada pelo Ministério da Educação, para administrar os Hospitais Universitários - é aguardada como a solução para os problemas existentes na unidade.
TRANSTORNOS
Clínica de Psicologia fechada para reforma Shirlayne Lima Parece que na UFPB o não funcionamento do que é para funcionar virou rotina. O que era para ser um centro de tratamento psicológico gera, hoje, transtorno, desgosto, e muita dor de cabeça. Há três meses parada, a clínica de psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) atravessa um momento dramático. Em maio deste ano, as atividades no local foram paralisadas pelos próprios funcionários, quando os diversos problemas de infraestrutura do prédio – acumulados nos últimos anos – chegaram ao nível do insustentável. Desde então, servidores, estudantes e pacientes, os maiores prejudicados, sofrem com a burocracia na conclusão de uma reforma já iniciada. Rodeada por entulhos, em um cenário de aparente abandono e forte cheiro de mofo, está instalada a clínica, algo que fere os conceitos da Organização Mundial de Saúde (OMS), como diz a estudante do 9° período de Psicologia, Karen Valadão Fagundes. “Imagine uma pessoa em franco sofrimento psíquico, com sensações de tristeza profunda, luto, ansiedade, conflitos existenciais, e outros, com necessidades urgentes de ser ouvida e acolhida, vendo essa situação? O dano foi generalizado”, critica. Nos corredores do prédio, ferramentas da obra se misturam com entulho, cadeiras, e até materiais de atendimento clínico enferrujados e empoeirados. No interior das salas,
o caos também impera. Um amontoado de objetos distintos, alguns em boa qualidade de uso, a exemplo dos brinquedos na sala de atendimento infantil, dividem espaço com baratas mortas. Outros problemas podem ser detectados à primeira vista, como a negligente instalação elétrica, o estado crítico dos condicionadores de ar e das poltronas, além das rachaduras no muro de isolamento que cerca a clínica.
Nos corredores, ferramentas se misturam com entulho, cadeiras e outros materiais.
Nos últimos três meses, além da pintura, foi realizada apenas a aplicação de uma manta asfáltica, com a finalidade de evitar o vazamento que, segundo diretora do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), Mônica Nóbrega, vinha atingindo a instalação elétrica da clínica. Sem local próprio para realizarem o estágio obrigatório para a conclusão do curso, estudantes de psicologia encontraram meios al-
ternativos resolver paliativamente o problema. “Na verdade, é um improviso”, entrega a própria diretora do CCHLA. Três salas do Centro de Ciências da Saúde (CCS) foram cedidas para o atendimento, uma de terapia ocupacional e duas de fisioterapia infantil. A estudante do 8º período, Stefanny Lucena, é estagiária da clínica e diz que tais transtornos já estão se refletindo na frequência dos pacientes. “Está sendo bastante difícil porque alguns clientes estão desistindo”, lamenta. A falta de referência, de informação, e a distância entre o antigo e o novo ponto de atendimento, são algumas das dificuldades encontradas pelos usuários, resultando em consultas canceladas desde a paralisação das atividades. A lista de espera só aumenta, e o espaço provisório precisará ser devolvido no final do semestre. Questionada sobre um possível retorno ao antigo prédio, mesmo sem a conclusão da obra, Mônica se mostra contrária. “Ou a clínica oferece um serviço em completas condições, ou não oferece. Equipamentos novos têm, mas o prédio está ruim”, argumenta. A diretora do CCHLA também apontou o encerramento do contrato da antiga empresa responsável pela reforma e o curso de uma nova licitação como um dos motivos para a demora na entrega. A reitoria da universidade, segundo Mônica, alega ter uma grande demanda de serviços de infraestrutura e por isso o atraso. Já a coordenadora da clínica, a professora Sandra Souza, fri-
Foto: Shirlayne Lima
Sala da Clínica de Psicologia fechada, com obras atrasadas e sem funcionamento sa que a obra está sendo realizada, mas muito lentamente. Nas diversas reuniões que teve com a reitoria da UFPB, ouviu os mais diversos argumentos: “Dizem que a chuva prejudicou, que falta material de construção, que falta pedreiro”, lamenta. Em meio a incertezas, os estudantes chegaram a realizar protestos no CCHLA. Na ausência de uma data prevista, a diretora do centro aposta na persistência de estudantes e funcionários. “Nosso trabalho é fazer pressão para resolver”, argumenta. Essa constante indefinição gera revolta entre os tra-
balhadores da clínica, psicólogos concursados, professores e estagiários, como a própria Karen, dedicada à linha terapêutica da “Abordagem Centrada na Pessoa” Para a estagiária, os prejuízos atingiram não somente os clientes, mas também os alunos, que têm direito à educação superior de qualidade, onde a pesquisa, extensão e ensino são instâncias indissociáveis. “Podemos ver claramente que a UFPB negligenciou um importante pilar da saúde humana, quando abandonou a Clínica de Psicologia à própria sorte”, finaliza.
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saúde
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Alunos discutem o Mais Médicos Em contraposição ao CRM-PB, o Grupo Coletivo da Saúde se declara a favor do polêmico programa do Governo Federal Alechandre Mello De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o parâmetro ideal de médicos em cada país, é de 10 para cada 10 mil habitantes. Na Áustria, que detém o melhor índice do mundo, são 48 para cada 10 mil cidadãos. Embora no Brasil, a média esteja acima da ideal, 17,6 profissionais para 10 mil habitantes, o problema é a disparidade dentro do país. Enquanto o Sudeste está acima da média, com 26 médicos, no Nordeste, o número cai para 12, e no Norte é ainda mais baixo, com 10 profissionais para cada 10 mil habitantes. Segundo pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (Ipeia), hoje existem mais de 90 milhões de brasileiros sem acesso a médicos. Apesar da abertura de novos pontos de atendimento e novas turmas de medicina terem se formado, estima-se que existem mais de 54 mil postos médicos vagos no Brasil. Além de um saldo de mais de 10 mil equipes que atuam no Programa de Saúde da Família (PSF) estarem trabalhando sem médico. Diante desta situação, o Governo Federal criou o programa “Mais Médicos”, que faz parte de um amplo pacto de melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), prevendo um investimento em infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde. O programa é voltado para médicos que atuarão com consultas e tratamento de doenças. Procedimentos mais complexos como cesarianas e cirurgias ficarão a cargo de outros médicos, que fazem
Foto: Ana Daniela Aragão
Estudantes da área médica se organizam e analisam os pontos positivos do programa de recrutamento de médicos estrangeiros o chamado atendimento secundário. As vagas serão oferecidas prioritariamente a médicos brasileiros, interessados em atuar nas regiões onde faltam profissionais. No caso do não preenchimento de todas as vagas, serão aceitas candidaturas de estrangeiros. Apesar de parecer simples, o projeto do governo federal vem gerando debate entre os profissionais da categoria, que se mostram contra o programa, além dos estudantes da área, que, em parte, são a favor. Este é o caso do grupo do
Coletivo da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que há anos vem reunindo estudantes que se organizam, debatem, mobilizam e lutam por melhorias efetivas para a saúde pública e, atualmente, vem discutindo e apontando os pontos positivos do programa apresentado pelo Ministério da Saúde. Composto por estudantes da área da saúde junto com outras áreas que se identificam com a luta do setor, e representantes de Centros Acadêmicos dos cursos de Fi-
sioterapia, Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia, o Coletivo vem se posicionando de forma favorável ao programa, pois, para eles, o principal intuito do “Mais Médicos” é resolver a deficiência de médicos que existe no país. Durante uma reunião realizada no Centro Acadêmico de Psicologia da UFPB, os estudantes do Coletivo apontaram aspectos positivos do programa e relataram o principal motivo para que parte dos médicos seja contra o Mais Médicos. “A classe médica mostra-se contra o pro-
grama por ter medo de que a vinda de profissionais estrangeiros para o Brasil acabe com o que chamam de ‘reserva de mercado’. Pois, uma vez que existem poucos médicos e, de contraponto a isso, há uma grande procura da população, aumenta a valorização da categoria. Por consequência, a população fica mais dependente desses ‘poucos médicos’ e aumenta a remuneração da classe”, explica Filipe Ximenes, estudante do 8º período de Medicina. Através de nota, o Conselho Regional de Medicina da Paraíba, (CRM-PB), explica os motivos da contrariedade da categoria às medidas anunciadas pelo governo. No documento, é ressaltado que não são apenas profissionais que resolverão os problemas do atendimento. É destacado também a necessidade de mais investimento na saúde. Além disso, a classe diz que as entidades médicas não são contra a vinda de médicos estrangeiros, desde que estes provem sua qualificação pelo Revalida (validação do diploma pelo governo brasileiro) junto com o domínio da língua portuguesa. Apesar das discussões, o programa já está em execução e, segundo os últimos números, divulgados pelo Governo Federal, o “Mais Médicos” teve, em sua primeira fase, a demanda de 15.460 médicos para 3.511 cidades. Deste universo, porém, apenas 938 profissionais brasileiros (6% do total) foram selecionados na primeira rodada, número que deve aumentar com as próximas etapas de seleção. Entre os candidatos formados no exterior, 715 foram escolhidos, 194 brasileiros que estudaram fora do Brasil e 521 estrangeiros.
SOLTOS POR AÍ
Bichos no campus representam riscos à saúde Ana Daniela Aragão e Laís Albuquerque A realidade de animais soltos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) se estende por todos os recantos da instituição. Os bichos se espalham por várias partes do campus, entrando em contato direto com estudantes, funcionários e professores, o que, além de causar transtornos de ordem acadêmica, acaba se tornando perigoso, já que alguns deles podem ser transmissores de várias doenças. Os animais mais encontrados no campus são os gatos. Os felinos não domesticados podem transmitir, entre outras doenças, a raiva e a toxoplasmose. A raiva é transmitida através da mordida do animal e não tem cura, e a toxoplasmose pode causar cegueira, abortos e má-formação de fetos. O veterinário e professor de Anatomia Humana da UFPB, Eulâmpio Neto, diz que a grande quantidade de gatos no campus é uma questão de saúde pública. “Os alunos não devem ter um grande contato com os gatos. A toxoplasmose, por exemplo, pode ser contraída pelo simples fato de se alisar um gato e depois colocar a mão em um alimento e ingeri-lo”, explica. A estudante do 3º período de Letras, Ana Elisabete, costuma lanchar na Praça da Alegria, no Centro de Ciências Humanas, Letras
e Artes (CCHLA). Sempre vê gatos pela praça e se incomoda com os pelos que podem parar em sua comida ou quando sobem em seu colo, porque sabe que eles podem transmitir doenças. Já o estudante de Educação Física, Cláudio Neto, não se importa em ver os gatos na universidade. “Nunca os vi bebendo água nos bebedouros, como dizem. Não vejo como os que ficam nas lanchonetes podem afetar minha saúde, já que não estão nas cozinhas ou nas mesas”, completa. VOLUNTÁRIOS O Grupo Pró-Felinos é uma entidade de João Pessoa sem fins lucrativos que visa a esterilização e o controle de zoonoses dos gatos em situação de abandono pela cidade. Ela também age dentro da UFPB. O grupo realiza mutirões de castração, geralmente duas vezes por mês, quando também aplicam vacinas e testes nos animais. A estudante de Biologia e presidente do Grupo, Raissa de Lucena, explica em quais lugares da universidade o Pró-Felinos concentra suas ações. “Todos os do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN) são castrados, vermifugados e vacinados. No Hospital Universitário, estamos com um processo aberto e já evacuamos os animais de lá. No Restaurante Universitário, estamos
começando a trabalhar”, esclarece. RATOS No dia 19 de julho, um rato foi visto andando pelos corredores do CCHLA e logo depois entrando pela tampa que cobre um esgoto no local. O estudante de Letras, Saulo Santana, foi uma das pessoas que presenciou a aparição do roedor. Saulo estava próximo a um dos bancos dos corredores no momento e a situação o deixou surpreso e enojado. O estudante acredita que outros ratos circulem pela Praça da Alegria e lugares próximos nos horários de menor movimentação de pessoas. A espécie de roedor encontrado na UFPB é o rato-preto. O animal, que vive em grupo, transmite doenças ao homem, como a peste bubônica, que pode ser fatal. Para eliminar os roedores é preciso realizar a desratização. O administrador do CCHLA, Alysson de Lima Santos, explicou como é feito o trabalho quando se trata de pragas. “O combate é feito de acordo com o animal em questão”, explica. Segundo ele, qualquer pessoa pode se dirigir à direção do Centro e fazer um requerimento solicitando a dedetização. A direção faz o pedido à Prefeitura Universitária e lá este é encaminhado para uma empresa especializada. Depois de 48 horas, após o trabalho ser executado, quem faz a solicitação re-
Foto: Ana Daniela Aragão
Reunião de gatos ao redor de lanchonetes no Centro de Comunicação, Turismo e Artes cebe a resposta por e-mail. CACHORROS Apesar de menos numerosos, os cães também estão presentes na universidade. Alguns se encontram visivelmente doentes e mal tratados, dividindo o lugar com os estudantes em praças, quiosques, corredores de centros, entre outros. A estudante do 5º período de Engenharia da Computação, Cecilia Flávia, diz que vê cachorros defecando perto do departamento onde estuda, correndo o risco de pisar e sentar próximo do local. “Os cachorros de lá são descuidados, provavelmente não estão vacinados e podem estar cheios de doenças que causam infecções graves”, conta. Esses animais podem transmitir
doenças ao homem como a giardíase canina e sarna. A transmissão da giardíase se dá através da ingestão dos cistos dos parasitas em água e alimentos, e contato com as fezes infectadas dos animais. Os sintomas são: diarreias, vômitos, desidratação, fraqueza e dores abdominais. A sarna se manifesta por sintomas como pontos avermelhados nos braços e tórax. Os cachorros devem passar por cuidados como tomar banhos a cada 15 dias, não ter contato com outros que não foram higienizados e serem vacinados. É preciso ainda evitar-se o contato com a saliva muito próxima do rosto e colher rapidamente os dejetos, além de se fazer a limpeza diariamente do ambiente.
cultura
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Intervenções visuais em paredes do CCTA são exercícios de diálogo Atividade foi iniciativa da professora Cândida Nobre, que ministra aulas de Pequenos Meios no curso de Comunicação Fotos: Ramila Ramalho
Arthur Morais De uma forma geral, quando se pensa em ambiente acadêmico imediatamente vem à mente a imagem de um local comum, que vai disponibilizar apenas a estrutura básica necessária para que o professor e o estudante exerçam, cada um, sua função dentro da universidade. São paredes monocromáticas, mobílias padronizadas, quadros de avisos monótonos, preenchidos com anúncios enfadonhos, que dão forma a salas de aula e corredores pálidos. Pensando em quebrar um pouco com esses padrões pré-estabelecidos, alunos do sétimo período do curso de jornalismo, da disciplina de laboratório de pequenos meios, criaram intervenções visuais coloridas e interativas e espalharam pelo Centro de Comunicação Turismo e Artes (CCTA). O projeto teve como objetivo principal colorir o Centro de uma forma em que as pessoas que por ali passam todos os dias interagissem com o meio, não só como meros apreciadores, mas exercendo um papel ativo na ação. A estudante Cairé Andrade, que esteve envolvida na intervenção, nos contou que a professora Cândida Nobre, idealizadora e responsável pelo projeto, desde o
Painel em que alunos podem se expressar sobre temas variasdos e dialogar com seus pares usando as peredes como suporte início permitiu que os participantes estivessem livres para sugerir e criar. Por isso, podemos encontrar no CCTA cinco tipos de intervenções visuais que se diferem um pouco, mas não se destoam do foco da ação, que é criar um diálogo com seu entorno, interferir na paisagem e também interagir com ela. Entre os corredores do bloco en-
contramos um quadro com a palavra crie no centro feito com post it (um pequeno papel com adesivo de fácil remoção), sugerindo que quem passasse pelo local escrevesse ou desenhasse algo inovador. Outra intervenção feita com o post it pedia que as pessoas dessem dicas musicais. Ainda, também podemos encontrar frases de teóricos da comunicação
coladas nas paredes, escritas na sua forma original ou reescritas em versões alternativas, que acrescentavam palavrões a elas. Além desses, também estão expostas as palavras cruzadas com vocábulos utilizados no campo da comunicação e ainda murais interativos que pediam para que ali fosse escrita a frase da sua vida. Segundo a estudante Nayanna Sa-
biá, que estava no grupo que colocou as frases e os murais interativos, a proposta de uma intervenção é mudar a forma como as pessoas caminham, é fazê-los perceber o que está em volta. E por mais que algumas delas já tenham caído ou sido removidas, tiveram seus objetivos atingidos. “Elas não necessariamente são feitas pra durar”, afirma Nayanna. “É como um grafite, que de repente chega alguém, passa tinta por cima e a arte que estava ali desaparece, mas enquanto esteve lá, teve impacto social”, explica a estudante. A professora Cândida disse que se surpreendeu positivamente com o resultado final do projeto, pois a resposta das pessoas foi quase imediata e por mais que alguns tenham interagido através de piadas e brincadeiras, ela explica que isso também faz parte da ação e já era esperado. O sucesso da iniciativa também foi reconhecido pelos estudantes que não participaram da pré-produção, como Maria Eduarda Campos que cursa o quarto período de jornalismo e classificou a experiência como satisfatória. “Ela conseguiu da melhor maneira possível despertar a reflexão e a diversão. Os corredores ficaram mais alegres, deu vida para aquele prédio morto”, afirmou a estudante.
CINEMA
Curta de aluno do Decom é destacado com prêmio Gilson Freitas
Grafites no CCTA: a arte de rua adentra o campus e cria clima de descontração
NO SPRAY
Grafites entram no clima da Comunicação visual Ana Daniela Aragão As paredes do Centro Recreativo, que integra os centros acadêmicos de Jornalismo, Radio e TV, Artes Visuais, Relações públicas, Artes cênicas e Turismo, no Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA), foram artisticamente modificadas. A arte escolhida foi o grafite. Conhecida como arte de rua, é caracterizada pela manifestação e crítica à opressão. Para o CCTA, foram trabalhados três desenhos que se relacionam com Jornalismo e os protetos ocorridos em todo o Brasil. O objetivo foi divulgar a I semana de Jornalismo que teve como tema, “O papel do Jornalismo no movimento #acordabrasil”. A idealizadora do projeto foi a
estudante de Jornalismo Flora Fernandes, que pretendia também, dar mais vida ao CCTA, “Desde o ano passado que tenho visto apenas paredes sem graça e que não simbolizam o centro em que estudo, principalmente por ser ligado as artes”, conta a estudante. Para executar o trabalho Flora contratou a estudante de Jornalismo Kaline Lima, que faz parte do Central Única das Favelas (CUFA), e do Coletivo Feminino de grafite Crew’olinas, junto com o grafiteiro e estudante de Artes Visuiais, Marcos Perfect. A impressão foi positiva. O Estudante de Jornalismo Marcelo Lima diz, “Pode parecer pouca coisa, mas os grafites são uma espécie de estímulo quando você chega na universidade”.
Olho por olho, dente por dente. Uma sinopse que retrata, literalmente, todo o potencial do filme. Assim é Lex Talionis, curta-metragem do diretor paraibano João Paulo Palitot, elaborado como trabalho de conclusão do curso de Radialismo, seu e de Wendel dos Santos, responsável pela produção. Na trama, também assinada pelo diretor (some aí direção de arte e fotografia e edição/finalização), uma mulher penetra no mundo do crime como falsa prostituta por vingança. Seu objetivo é matar um poderoso homem, responsável pela morte de um ente querido, com o auxílio de seu amante, assassino de aluguel. “A disciplina dada pelo Bertrand (Lira, professor de Comunicação), foi fundamental. Nela aprendemos a escrever e roteirizar de forma organizada e prática”, frisa João Paulo. A edição teve por base obras do cineasta Sergei Eisenstein, pertencente ao movimento de arte vanguardista russo (século XIX). Lex Talionis é um filme mudo, com ênfase na montagem rítmica e trilha sonora produzida pela banda paraibana Mustache On Fire. O “kitsch”, ou “estética do mau gosto” é principal elemento estético do curta. Tendo seu apogeu com a indústria cultural e na produção de massas com as formulações dos críticos Theodor Adorno, Hermann Broch e Clement Greenberg, o estilo é uma oposição à arte moderna e de vanguarda, evidente no filme pela direção de arte.
Fotos: Divulgação
Cena do Lex Talionis : temática e montagem na contracorrente das produções locais Com 18 minutos de duração, Lex Talionis foi rodado em João Pessoa, tendo como locações o Jardim Botânico, um açougue no Mercado Central de Mangabeira, a antiga Fábrica Matarazzo, o Parque Sólon de Lucena e uma casa no Cabo Branco. Buscou-se na obra um forte apelo pop e texturas temáticas que priorizassem a violência estetizada, com personagens pouco usuais na cinematografia nordestina. “Vemos na produção cinematográfica paraibana, nos últimos anos, um forte eixo temático em torno do regionalismo, da cultura nordestina, e o filme faz um contraponto a isto”, afirma Thiago Soares, crítico cinematográfico e também professor de Comunicação, orientador da obra enquanto TCC. No filme há releituras dos cineastas Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, como “À Prova de Morte” e “Pla-
net Terror”, e uma homenagem ao terror dos anos 70/80, com sua estética remetendo ao gênero Exploitation, sinônimo de violência, sexo e assuntos considerados tabus. Antes mesmo da estreia, Lex Talionis conseguiu seu primeiro prêmio, sagrando-se vencedor da Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação, o Expocom regional 2013, premiação do Intercom Nordeste, realizado em junho em Mossoró (RN). Automaticamente, o curta é finalista da premiação nacional, que será em setembro em Manaus (AM), durante o Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Lançado no mercado cinematográfico na sessão “Assacine” do Tintim Cineclube de 1º de agosto, em evento na Usina Cultural Energisa, o filme foi recorde de público, correspondendo às expectativas geradas nas redes sociais.
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cultura
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Acervo pessoal do jornalista Simeão Leal é aberto ao público Conjunto de documentos está à disposição de pesquisadores no Núcleo de Documentação e Informação Histórica e Regional Ana Daniela Aragão O acervo privado e pessoal de José Simeão Leal, intelectual paraibano nascido em Areia no ano de 1909, foi doado ao governo da Paraíba pela sua viúva em 1996, ano de sua morte e se encontra agora na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O acervo conta com livros, colagens, esculturas, desenhos, fotografias, pinturas, objetos pessoais, entre outros itens, e foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP). Os arquivos nele contidos são muito procurados, pois mostram a transformação e organização da sociedade, que proporcionam uma reflexão no individuo sobre a sua história. José Simeão desempenhou cargos na área de educação, história, cultura e artes que muito contribuíram para o país. Com o cargo, em 1947, de Diretor de Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Saúde, ele conseguiu transformar o departamento numa importante editora da cultura oficial brasileira, onde foram editados obras e cadernos, além de uma revista de temas culturais. Simeão na área da arte e cultura exerceu cargos como, diretor do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, adido Cultural da Embaixada Brasileira no Chile, diretor Fundador da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), membro fundador da Associação Brasileira de Críticos de Artes, entre outros. Há três anos os trabalhos de José
Simeão estão na UFPB, mas ainda em fase de organização. “Falta terminar de organizar as pinturas, esculturas, objetos pessoais e alguns documentos, que são poucos”, conta a coordenadora do acervo Maria da Vitória Lima. Segundo a coordenadora, os desenhos e pinturas ainda serão organizados e higienizados. O processo de higienização consiste na retirada de poeira e outros resíduos que possam causar danos aos documentos. São aproximadamente 4000 livros, incluindo revistas, catálogos, etc, que são colocados dentro de pastas e ficam em estantes numa pequena sala. A comunidade acadêmica e de fora da universidade pode ter acesso ao acervo desde que seja apresentado um projeto estruturado e justificado. As pessoas ainda podem utilizar os arquivos para realizações de mostras culturais. Antes, porém, é preciso consultar a curadora do acervo, definida por decreto do Governo do Estado da Paraíba, a professora do Programa de pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI), Bernardina Freire, através de uma solicitação pelo Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDIHR), que passa para a curadora autorizar a pesquisa. O NDIHR consiste num órgão suplementar da reitoria voltada ao estudo das fontes de informação memorialística sobre a realidade nordestina e especialmente a paraibana. É coordenado pelo professor do PPGCI, Carlos Xavier, que libera o acesso ao acervo depois que a solicitação é autorizada.
Fotos: Ana Daniela Aragão
Sala do acervo no NDIHR: material está em fase de catalogação e organização, mas já pode ser consultado mediante solicitação oficial Os arquivos do artista, já fundamentaram diversos trabalhos de graduação e pós-graduação na UFPB que afirmaram o papel do artista na construção do processo histórico-cultural do Brasil. “A documentação do Acervo de José Simeão Leal abrange diversos momentos da formação cultural brasileira na segunda metade do século XX e contêm documentos inéditos acerca dos diversos movimentos culturais e artísticos que ocorreram, assim se configura em uma fonte de enorme importância para a humanidade”, conta Carlos Xavier.
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Projeto inclui crianças de comunidade carente Gabriela Ferreira e Jéssica Sales Localizada no bairro de Varadouro, em João Pessoa, a comunidade Porto do Capim conta com trabalho do projeto Subindo a Ladeira, que faz parte do Programa de Bolsas de Extensão (Probex) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Dentre os objetivos que apresenta, está o de resgate da cultura, através da educação patrimonial e ensino da história paraibana. O projeto, coordenado pelas professoras Regina Celia, Regina Behar e Paula Coelho, pertencentes aos departamentos de História e Artes Cênicas da universidade, têm sete alunos atualmente. Dentre eles, dois bolsistas e cinco voluntários, divididos entre os cursos de Comunicação Social, História e Artes Cênicas. As primeiras mostras culturais do Subindo a Ladeira foram realizadas na Praça Antenor Navarro, no centro histórico da cidade, conhecida por ser palco de eventos e organizações do cenário cultural de João Pessoa. Desde 2011, o projeto usa a artes cênicas como forma de aproximação dos moradores. Apesar das iniciativas de inclusão, na condição de espectadores
juntos com os demais frequentadores da praça, muitos moradores não compareciam ao evento e os que iam, trabalhavam como flanelinhas, vendedores ambulantes e pedintes. Depois de constatada a situação, os organizadores perceberam que para atingir o objetivo, as mostras teriam que sair da praça e ir até os moradores da comunidade. As primeiras mostras feitas no Porto do Capim foram bem aceitas e grande parte do público assíduo eram crianças, que se aproximavam curiosas com as movimentações. Esse fato chamou a atenção dos coordenadores que após onze meses de mostras culturais dentro da comunidade, o projeto de extensão em parceria com a Fundação Casa de Cultura Companhia da Terra e com a escola Padre João Felix, incluiu as crianças do Porto do Capim, no projeto Subindo a Ladeira: Educação Patrimonial e Ensino Histórico. Baseada na pedagogia de Paulo Freyre que propõe a identificação de palavras-chaves utilizadas no cotidiano o projeto busca através de ações com professores estimular a representação visual que estas representam e no teatro do oprimido de Gustavo Boal, que estimula a participação ativa das camadas menos privilegiadas, visando democra-
Foto: Bianca Costa
Aulas do Projeto Subindo a Ladeira: a ideia geral é educar e integrar a comunidade através das artes cênicas e das brincadeiras infantis tização dos meios de produção cultural, fortalecendo a cidadania e a transformação da realidade. Segundo a professora Regina Beah, os métodos proporcionam experiências capazes de estimular o protagonismo social para as crianças e consequentemente a valorização do patrimônio histórico-cultural, além de fortalecer os laços indenitários com a própria comunidade que vive em situ-
ação de vulnerabilidade permanente. As atividades do projeto são implementadas para as crianças através das aulas de música, dança e teatro. “Nós já estamos no terceiro ensaio cênico, situações que eles vivenciam no dia-a-dia, brincadeiras e até mesmo um pouco de cultura indígena contribui para montagem do experimento”, comenta o estudante de Comunicação Social Di-
ógenes Ferraz, que há um ano atua no projeto. Recentemente o Subindo a Ladeira ganhou mais uma vertente, com a aprovação do Fundo de Incentivo a Cultura (FIC) do Governo Federal, que viabilizou a expansão do campo de atuação do projeto, permitindo que as atividades sejam estendidas para o restante da comunidade.
esportes
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Curso de rúgbi adaptado traz inclusão para UFPB Membros da Associação Brasileira de Rúgbi em Cadeira de Rodas ministram aulas de capacitação Laís Albuquerque O Núcleo de Esporte de Alto Rendimento para Pessoas com Deficiência da Universidade Federal da Paraíba mantém vários projetos esportivos com modalidades paralímpicas. Os esportes trabalhados são o vôlei sentado, o basquete em cadeira de rodas, a natação, o goalball, a bocha e a corrida de mobilidade reduzida. Buscando inserir pessoas com deficiência física no rúgbi e a capacitação de profissionais de educação física para atuarem na área, foi realizado, entre os dias 10 e 11 de agosto, um curso de capacitação em rúgbi para cadeirantes. O evento, organizado pela professora de Educação Física, Elaine Cappellazzo Souto, contou com a presença de membros da Associação Brasileira de Rúgbi em Cadeira de Rodas (ABRC), com o vice-presidente da entidade, Luíz Cláudio Pereira, e a coordenadora do Departamento de Saúde, Márcia Fernandes, além de Rafael Hoffmann, atleta da seleção brasileira da modalidade. Cerca de 50 pessoas, entre alunos e profissionais de educação física tanto da UFPB quanto de outras instituições, participaram das aulas cujos temas abordados foram a classificação, a arbitragem e as noções de treinamento em quadra, além de trabalho multidisciplinar na área da saúde. “Existe uma população deficiente que também precisa praticar esportes, e nós queríamos trazer uma modalidade de alto rendimento, que exigisse vigor físico para que essas pessoas também se sintam estimuladas em se exercitar”, explica
Foto:Laís Albuquerque
Participantes do curso praticando a modalidade sob orientação de professores e técnicos, no Departamento de Educação Físicas a professora Elaine Souto, que é especialista na área de esportes adaptados para deficientes. CAMPEONATOS Embora a iniciativa do projeto seja a inclusão da população com deficiência, em longo prazo também há a pretensão de deixar aqui as mínimas condições para que uma equipe fixa de rúgbi em cadeira de rodas seja criada e mantida em João Pessoa. “Uma coisa não exclui a outra”, explica a professora, que completa dizendo que qualquer pessoa não portadora de deficiência pode também participar das atividades, assim como também não é regra que todos os participantes com deficiência queiram integrar o time. O projeto passou anteriormen-
te por Salvador, na Bahia, onde também deixou a missão da formação de um time competitivo de rúgbi. A ideia é que assim que os dois times sejam constituídos, a possibilidade de realização de um campeonato no Nordeste torne-se mais próxima. Hoje, já existem 150 esportistas brasileiros na modalidade, divididos entre 12 equipes, todas no Sul e Sudeste, sendo que essas equipes já se enfrentarão no próximo campeonato nacional, em 2014. A maior dificuldade para a criação de novas equipes, segundo Luíz Cláudio Pereira, é a falta de investimento no esporte. “Existe material humano, mas faltam cadeiras de rodas para um maior desenvolvimento do esporte nas universidades”, afirma. As cadeiras adaptadas que foram utilizadas
no curso da UFPB foram conseguidas pelo Departamento de Educação Física juntamente com o Ministério dos Esportes, em 2012. PARALIMPÍADAS A ABRC pretende difundir o esporte pelo país, já visando os Jogos Paralímpicos de 2016 que, como serão sediados no Rio de Janeiro, já dão ao Brasil uma vaga garantida. Havendo um campeonato nordestino e uma participação no nacional, os times terão visibilidade em todo o país, podendo então ter atletas convocados para defender a seleção brasileira. “Por mais que não vençamos, nós temos que fazer bonito nas Paralimpíadas. Mostrar para o mundo que aqui tem time competitivo, de alto nível”, comenta Luíz Cláudio.
INCENTIVO
Força-tarefa auxilia saúde de obesos Mabel Abreu e Laura Luna Incentivar a prática de exercícios físicos, o consumo de alimentos mais saudáveis e, como consequência, auxiliar na diminuição de peso, eis aqui os principais objetivos do projeto Peso na Boa, idealizado pelas coordenações dos cursos de Educação Física, Nutrição, Fisioterapia e Psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), iniados no início desse mês. A união de todas essas forças e do conhecimento específico de cada área possibilitou, a um grupo de professores e alunos, proporcionar mais saúde para os 36 usuários que já começaram a ser beneficiados pelo projeto. São 30 adultos com idades que variam de 18 à 59 anos e seis adolescentes entre 12 e15 anos classificados como obesos e que, na maioria dos casos, já apresentam doenças associadas a isso, tais como hipertensão e diabetes. O professor do curso de Educação Física José Cazuza, coordenador do projeto, conta que a preocupação com o crescente número de obesos motivou o surgimento do projeto Peso na Boa. “A obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública
Foto: Ramila Ramalho
Colaborador do projeto Peso na Boa aferindo pressão de aluna voluntária da sociedade atual”, lembra. O professor conta ainda que a iniciativa de reunir profissionais de diversas áreas com o intuito de promover o tratamento da obesidade de forma gratuita é inédito na Paraíba. Marcelle Martins, também professora do curso de Educação Física, que integra a coordenação do Peso na Boa, conta que tão logo o projeto foi divulgado, centenas de candidatos começaram a aparecer. No geral, são pessoas adultas que estão querendo mudar de vida e fugir do sedentarismo. Tal procura que deixou
o grupo animado, apesar do projeto ainda não poder suprir toda a demanda existente. A coordenaçao do projeto ressalta que entre os adolescentes esse número foi bem mais reduzido, mas Marcelle conta que isso já era esperado. “O adolescente tem uma maior dificuldade para se expor”, confessa a coordenadora. O Peso na Boa terá duração de um ano e, nesse período, tanto os adultos quanto os adolescentes passarão por acompanhamento nutricional - com orientação para uma dieta balanceada- e serão assistidos
por fisioterapeutas dermato-funcionais que os auxiliarão no combate aos ferimentos e problemas de pele decorrentes da obesidade. Eles serão submetidos a exercícios coordenados pela equipe de educação física com direito à natação, caminhada, dança e ginástica, sendo todas as atividades elaboradas de forma específica para cada usuário através do treino funcional. As atividades serão diárias e ao final do projeto os usuários serão incentivados a continuarem praticando os hábitos adquiridos durante as aulas. Aos 25 anos, Marcionila Ferreira de Andrade está acima do peso e apresentando gordura no fígado. Para a aluna do curso de Biblioteconomia, a participação no projeto significa mudança de vida. É que ela reconhece a importância do Peso na Boa e acredita que por ter o apoio de uma equipe de psicologia conseguirá alcançar os objetivos. Afinal de contas, as mudanças de comportamento acontecem primeiro na cabeça e só depois tornam-se práticas rotineiras. “Eles nos ensinam a caminharmos sozinhos para quando sairmos daqui, não levarmos mais os mesmos hábitos de antes de entrar no projeto”, faz questão de ressaltar Marcionilla.
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JUBs
UFPB treina para os jogos Isabella Aciole Os atletas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) que representarão a instituição nos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) já começaram os treinamentos preparatórios para a competição. O evento organizado pela Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU) é considerado o maior no esporte da América do Sul. Os jogos serão disputados de 1º a 16 de novembro e, nesta edição, têm como sede a cidade de Goiânia. Lá, dez modalidades serão disputadas e são elas: futsal, voleibol, basquete, handebol, judô, natação, atletismo, xadrez, basquete e vôlei de praia. O evento irá reunir cerca de cinco mil atletas de 27 estados brasileiros. A etapa estadual aconteceu entre os dias 10 a 25 de agosto e serviu como classificatório para o nacional. Após a conquista do título de campeão da etapa estadual, que valia vaga para os Jogos Universitários, o time de futsal masculino da UFPB, comandado pelo professor Eduardo Amaral, foi classificado. Os treinos estão acontecendo desde o mês de junho todas às terças e quartas-feiras às 21h30min no ginásio da UFPB. Segundo o atleta Bruno Monteiro, a equipe está focada na competição nacional e bastante otimista depois de sete anos sem conseguir a classificação para as disputas nacionais. O time de futsal masculino é composto por um grupo muito experiente e possui atletas que se encontram no último ano de curso, o que, de acordo com Bruno, é um fator que influencia na possível conquista do título do JUBs. Na UFPB, os atletas estão treinando de forma intensa em busca da conquista de medalhas para o Estado e, em algumas modalidades, os treinamentos começaram desde o início do ano. A atleta do Grêmio UFPB de Voleibol feminino, Jéssica Rodrigues, conta que o time busca o aperfeiçoamento nos treinos para a competição desde fevereiro deste ano, em treinamentos intensivos. O time de voleibol masculino do Grêmio UFPB, que já conquistou três campeonatos estaduais, também está classificado para os Jogos Universitários e está pensando de forma otimista. O técnico do time masculino de voleibol e coordenador da delegação paraibana, Roosevelt Nóbrega, mais conhecido como Buscapé, também diz estar bastante confiante. “A expectativa é a melhor possível. Estamos muito otimistas e vamos ser campeões”, disse ele. Esse evento tem um grau de importância significativa para os times que representarão a Universidade Federal da Paraíba, pois, além de proporcionar experiência para os atletas, a competição serve como etapa classificatória para os Jogos Universitários Sul-Americanos e para os Jogos Universitários Mundiais, além de ainda movimentar o turismo e a economia da cidade que sedia os jogos.
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entrevista
JOÃO PESSOA - PARAÍBA 26 DE AGOSTO A 2 DE SETEMBRO DE 2013 Jornal do Laboratório do Curso de Jornalismo da UFPB
Sakamoto e a crítica da mídia Jornalista conversa com o Questão de Ordem sobre carrreira profissional e o papel dos meios nos recentes protestos de rua Fotos: Ana Daniela Aragão
Gefferson Borges e Lunara Moreira
Jornalista Leonardo Sakamoto em entrevista após palestra da I Semana de Jornalismo, na UFPB QO: Na sua opinião, o que levou as pessoas às ruas? Sakamoto: Em princípio, as reinvindicações não são exatamente por melhores salários, mas por uma qualidade de vida mais ampla e abstrata nas grandes cidades. É o Estado olhar para você não garantindo apenas uma cidadania, e sim uma cidadania efetiva, com qualidade de vida. O Estado demorou a entender que mesmo com as pessoas ganhando mais, elas continuam insatisfeitas, pois o patamar de cobrança agora é outro. Elas estão querendo, de maneira geral, uma qualidade de vida mais abrangente, o que provocou odescontentamento visto nas ruas. Agora, espera-se que isto seja digerido pela classe política, aceitando a participação social como instrumento efetivo e atendendo as suas reinvindicações.
sa muito louca, pois é um dos países onde a linguagem escrita e a linguagem falada é totalmente diferente. Não que é totalmente diferente, mas você tem um distanciamento tão grande entre estas linguagens, que, por exemplo, no jornalismo de outros países você não tem essa disparidade. Aqui, a linguagem usada nas ruas e a linguagem escrita nos jornais têm um degrau muito grande de diferença. A linguagem pasteurizada dos veículos de comunicação terá que se adaptar para atingir públicos diferentes. Isso tem que começar a ser feito pensando nos mais jovens, que, daqui há dez anos, vai ser a geração de mais poder. Então, ou se começa a trabalhar com palavreados que são mais próximos da sociedade ou estarão fadados ao declínio.
As manifestações eclodem em um contexto que não dá para ser avaliado apenas no âmbito nacional.
QO: Qual a relação das manifestações no Brasil com as outras pelo mundo? Sakamoto: As manifestações eclodem em um contexto que não dá para ser avaliado apenas no âmbito nacional. Elas acompanham uma onda que começa em outros países, como a Espanha, os demais países da Europa, os EUA e os países árabes, com manifestações que não são causadas pelo Twitter e Facebook, e sim pela crise de paradigmas político, representativo e econômico, que acarretam em manifestações que são catalisadas por ferramentas de redes sociais e de plataformas digitais. No Brasil, a situação é um pouco diferente. A violência policial, com a qual os protestos foram recebidos nas ruas, e a incapacidade do poder público em entender a sua real natureza foram os principais motivos que levaram as manifestações a se tornarem maiores do que realmente deveriam ser no começo.
QO: Qual a importância da internet para produção e difusão da informação? Sakamoto: A internet funciona como catalisador do processo, tornando mais rápida a aproximação de diferentes pessoas e movimentos, oque levaria muito mais tempo sem ela. No contexto das manifestações,ela foi utilizada como instrumento para espalhar informação e convocar para esses eventos. De uma forma geral, ela torna os processos de mobilização e de fluir informação mais rápidos, no sentido de poder construir realidades diferentes. Acredito que, pensando não só no meu blog, mas tambémem colegas que fizeram trabalhos por meio das mídias digitais, os veículos de comunicação na internet foram mais relevantesdo que o meio impresso.
QO: Como o jornalismo impresso vai ter que se adaptar ao domínio das novas mídias? Sakamoto: O Brasil tem uma coi-
QO: E a televisão? Qual a sua contribuição neste panorama? Sakamoto: No Brasil, a informação via TV ainda é fundamental. A
maior parte dos brasileiros que não foi às ruas, tomou conhecimento do que aconteceu, principalmente, por ela. Para quem estava no calor do momento, blogs na internet, o Twitter e o Facebook foram importantes. Mas, para a informação da população como um todo, e mesmo para a construção simbólica do que tudo isso significou, a TV ainda foi muito importante.
QO: Como você analisa a cobertura das manifestações pela imprensa? Sakamoto: O fato é que parte da cobertura não entendeu o que estava acontecendo. As redes de comunicação demoraram a compreender as relações sociais que estavam por trás desse processo. Protesto sem incômodo não é protesto. O problema é que os veículos de comunicação no Brasil e as mídias tradicionais dão uma cobertura muito longa e fazem uma crítica muito forte ao movimento. Os danos causados ao patrimônio foram desproporcionalmente pequenos, se comparados ao desaparecimento de pessoas, que enfrentaram o poder público durante esse período. Geralmente, se dá uma atenção muito pequena para os crimes contra a pessoa e põe uma atenção muito grande nos crimes contra a propriedade, e isso no Brasil faz sentido, já que o direito à propriedade vale mais que o direito à vida. Infelizmente, isso vai ter que mudar, mas o problema é que isso não muda enquanto a mídia brasileira estiver fortemente atrelada ao poder econômico. QO: Você acha que os jornalistas e os meios de comunicação são pautados pelo poder do capital? Sakamoto: Nós, jornalistas, somos soldados do capital. O jornalismo nasce no capitalismo e num ambiente liberal. Hoje, as principais redes de comunicação são comandadas por empresas que comungam da mesma filosofia econômica com outras grandes empresas. Precisa-
Mais do que um mero blogueiro, no meio de incontáveis, o jornalista e cientista político paulista Leonardo Sakamoto, pode ser considerado um dos escritores críticos de maior repercussão da internet. Professor da Pontífica Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Leonardo Sakamoto mantém, no portal UOL, o Blog do Sakamoto, onde fala, principalmente, de temas do cotidiano dentro do contexto dos direitos humanos. O jornalista de 36 anos, é coordenador geral da ONG Repórter Brasil, que investiga e denuncia mos, então, ou criar instrumentos contra hegemônicos de comunicação ou submergir, por que você não tem jeito: ou você cria novos instrumentos ou você submerge. QO: Mesmo sabendo dos riscos, o que o motiva a continuar investigando casos que ferem os direitos humanos? Sakamoto: Eu sempre gostei de jornalismo investigativo e de grandes reportagens. Comecei a fazer, jornalismo, inclusive, para poder fazer essas grandes apurações e ir a fundo com todos esses processos. A Repórter Brasil é uma ONG jornalística, que existe há 12 anos, e tem ações diretas de educação e pesquisa, mas também em produção de jornalismo, que é muito séria há muito tempo.A gente privilegia o hard news de produção com profundidade, porque achamos que essa questão da análise e reflexão tem que estar presente. Esse processo de pegar discursos contraditórios, e construir uma narrativa dessa contemporaneidade, é fundamental. Então, a Repórter Brasil vem nesse sentido, de oferecer, nesse novo mosaico, o que vai ser o jornalismo no futuro, jogando um novo olhar para sociedade.
Nós, jornalistas, somos soldados do capital.
QO: Mesmo sendo professor do curso de jornalismo, numa das principais universidades do país, por que você desconsidera a obrigatoriedade do diploma? Sakamoto: O diploma não é essencial. Agora não significa dizer que não seja bom fazer a faculdade de jornalismo. Ela é uma coisa legal de ser feita. Eu faria de novo e, inclusive, sou professor, mas isso não significa que seja condição sine qua non, fundamental para você exercer a profissão de jornalista. Muitos de vocês não sabem do mundo e acabam caindo nele, com-
abusos contra a sociedade e que ferem os direitos trabalhistas, como a escravidão contemporânea e o trabalho infantil, e o meio ambiente. Foi por causa do trabalho desenvolvido na organização que Sakamoto foi indicado, em 2012, ao prêmio internacional Netizen, da ONG “Repórteres Sem Fronteiras”, que defende a liberdade de imprensa no mundo. Em visita à Universidade Federal da Paraíba (UFPB), para palestra sobre o movimento “#AcordaBrasil”, o controverso jornalista cedeu uma entrevista exclusiva para o Questão de Ordem. Entre os muitos assuntos, ele respondeu o porquê de não fazer jornalismo. preendendo apenas a teoria, mas não saberão, necessariamente, o que são as coisas, como elas funcionam, como o mundo age e quem são as pessoas pelas quais vale a pena ser jornalista. Porque as pessoas gostam de gente, e não apenas de números. A discussão não é na verdade sobre o papel. Eu já vi jornalistas, amigos meus, que nunca passaram por bancos da faculdade e são semiletrados, mas em uma rádio comunitária, é muito mais jornalista que um jornalista considerado fodástico, de uma tremenda redação do Sudeste. Não é o papel, não é o diploma, não é o conhecimento de técnicas e da discussão ética que vai fazer de você um jornalista. QO: Na sua essência, portanto, o que é ser jornalista? Sakamoto: É você abraçar a profissão. Você vai ter que se informar sobre ela, entender os debates ao seu respeito, entender o que não ser pautado e o que não ser usado, tudo isso não é mais sobre a profissão. Isso não se aprende numa sala de faculdade. Pelo contrário, isso se aprende na sociedade. Então a minha dica é: vá para rua, viva o mundo, e depois aquilo que eu falei, se quiser, volte para cá e a gente ajuda a caminhar pela faculdade, mas, inicialmente,vá entender e vá saber das coisas quase que obrigatórias, antes de entrar na academia, para,assim, terem um estágio de vivência ao redor do mundo.