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interesses cheio de

porto alegre ago /set. 2013

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Júri:

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C J L Y

h i c o G u a z z e l l i , P e p e M a r t i n i , F r e d e r i c o S t u m p f , G a b r i e l J a c o b s e n , o n a s L u n a r d o n , J e s s i c a D a c h s , L e a n d r o H e i n R o d r i g u e s , L u í s a S a n t o s , u n a M e n d e s , M a r c u s P e r e i r a , M a r t i n o P i c c i n i n i , N a t á l i a O t t o , N a t a s c h a C a s t r o , a m i n i B e n i t e s P r o j e t o G r á f i c o : M a r t i n o P i c c i n i n i D i a g r a m a ç ã o : F r e d S t u m p f C apa : Alexandre De Nadal C ol a b or adore s : Paulo H. Lange T i r a gem : 2 mil exemplares C o n t a t o s : c o m e r c i a l @ t a b a r e . n e t t a b a r e @ t a b a r e . n e t f a c e b o o k . c o m / j t a b a r e D i s t r i b u i ç ã o : F a b i c o F a m e c o s I n s t i t u t o d e A r t e s U F R G S C a s a d e C u l t u r a M a r i o Q u i n t a n a O c i d e n t e P a l a v r a r i a D C E U F R G S S t u d i o C l i o C o m i t ê L a t i n o - a m e r i c a n o N o v a O l a r i a | A g o s t o / S e t e m b r o 2 0 1 3


aaaaaaaconteceuuuuuuu

por Paulo H. Lange

Edição número 24? Imagino que vocês chegaram ao ponto cume que ou o jornal acaba ou ele cresce abisalmente. Suerte! Rubia Carneiro, Professora. Aham, Rubia. Aham... Só para dizer que o Tabaré é minha companhia no banheiro. A fornecedora Luísa, aquela guria linda e estilosa, nunca esquece de trazer. Temas propostos muito O que eu penso sobre o Tabainteressantes, reflexão sentada ré como leitor? Francamenna privada, quem não? Beijo te? Acho que falta tirar essa Nicole de March, Monarquista estampa de jornal universitário Olha Nick, depois do Jader Tiago e ousar um pouco na linguagem. [o encanador] nada que tu faça No more. com o jornal vai nos impressionar, Fernando Gomes, Jornalista. a história do banheiro foi absolEnfim, uma boa crítica! Se todos vida. E sim, a Luli é uma fofa, tá meus correspondentes fossem que arrasando com o novo uniforme nem tu, Fê… (Suspiros). Por algu- dos correios: amarelo e azul última mas edições tivemos o receio de que moda em Milão, dizem. Gracias ninguém nos lia. pelo cariño!

Apoio a bananalização da arte! Descasca a chinfra, óh objetiv de la arte contemporange jah la em anos 20 com dada e surrealismmmm eras destruir la institucion arte e levar a expression pra praxis vital. (fui o ki li) Efusiva equipe tabareña. Duran- Mario Arruda, Tzara dos te dois anos tenho acompanhado Pampas seu periódico assaz aprazível, Favor não confundir >dislexia> todavia, nunca havia escrevinha- com >vanguarda>. Att, a direção. do aos elogiáveis editores. Pois aí vai meu testículo: tirando o Oi gente, queria dizer que colodiagramador amante de tipogra- quei vocês na programação do fias hipsters, amo-vos. Beijos do meu evento: O Teceiro Simpósio judeu misterioso. Nacional de Sexo Anal Livre André Goldman, inventor da (SNSAL). É agora no próximo Comics Sans. mês, pilham? Papinho básico Óun Dedé, a gente também não sobre mídia independente e tal, curte o diagramador. Mas nem es- enfim já estão no evento. Beijo! quenta, o cara é terceirizado! Sabe Cristiani Havana, Diretora de como é, mão de obra necessária. Happenings Eróticos. Muak! Ahm, é, tá... A gente vai. ago/set 2013 #24

Olá, vocês tem alguma opção de envio, assinatura ou o diabo a quatro que me faça receber uma edição em Sapiranga/RS? Agradeço desde já. Willian Prestes, Interiorano Olha, Willy, atualmente, a gente tá mandando com o pai-de-santo David – mais conhecido como “Pai Luz” pras regiões fora de Porto Alegre. Tá valendo, né? Os assinantes dizem que chega mais rápido que Fedex. O quêêêêêêêê? A Jessica tem uma coluna de Interpretação de Sonhos? Vou denunciar pro CRP! Gabriel Rothko, very famous Shrink Abstrai bem, se jornalista não precisa de diploma imagina psicólogo! 3


Fotos: Yamini Benites

Olívio Dutra e as raízes vermelhas da participação popular

crise da representatividade é a grande questão levantada pelas recentes manifestações efervescentes pelo país. Em meio a isso Olívio Dutra segue firme. O balançar do sistema sacudiu instituições e revolveu temas que estavam adormecidos nas estruturas internas dos partidos da esquerda tradicional. Discussão endossada pelo gaúcho de Bossoroca que acredita na possibilidade de resgate das ideologias fundadoras do Partido dos Trabalhadores. Com um histórico de lutas que potencializa as críticas que faz ao partido que fundou, Olívio defende com veemência as demandas das mobilizações. Dos principais pontos, a política para além das eleições é a tecla em que mais bate, e isso desde 98 quando um coro pelo estado ecoava: “pega a bandeira, vem pra rua, vem participar!” Aos 72 anos - e sem exercer ou concorrer a cargos políticos desde 2006 - sente-se elogiado quando lhe chamam de radical e critica os governos do seu partido por fugirem do termo. Governos que, segundo ele, ainda não promoveram as mudanças profundas que deveriam.

Como o senhor vê as demandas da população nas últimas manifestações populares? Toda essa mobilização é um longo processo de assunção da cidadania por milhares de pessoas nas mais diferentes condições de vida, mas com o sofrimento por conta de uma lógica perversa de como atua o Estado brasileiro, a estrutura da política brasileira nas suas três dimensões. Eu penso que os governos, nos três níveis, independente dos partidos que executam essas administrações, e também os legislativos nas três dimensões, são objeto dessa crítica, das demandas e da própria indignação. Mas não só eles, também a estrutura do Estado, os poderes não eleitos. É o caso do poder econômico, é o caso da chamada grande mídia, grupos econômicos poderosos que detêm empresas na área da comunicação e é o caso do próprio Judiciário que também tem uma estrutura que não é eleita abertamente pela população. Todos esses focos de poder estão no foco das demandas, das críticas e até

por Jonas Lunardon e Luna Mendes mesmo das revoltas. Bueno, eu entendo que em uma democracia como a que queremos (nós ainda não a temos) estas questões tinham que ser prioridades. O Estado, como os liberais enchem a boca: o Estado de Direito Democrático, esse Estado é uma estrutura de poder e não pode ser segurado apenas pela estrutura legal, esse Estado tem que estar sob o controle da sociedade. E ela não é estática, petrificada, a sociedade está em movimento. Mesmo que de cima pra baixo haja controle sobre ela, há sempre a rebeldia de quem se insurge contra uma injustiça, contra uma estrutura impeditiva da expressão livre das vontades e da realização de sonhos. Eu entendo que os passos iniciais do PT foram muito importantes pra semeaduras na ideia da participação cidadã, do protagonismo, da apropriação da política como um instrumento de construção do bem comum pelo conjunto das pessoas. A partir da ampliação dos espaços na institucionalidade nós fomos deixando as experiências mais radicais se tornarem algo secundário. Nós passamos a ter medo inclusive da palavra radical porque os adversários nos qualificavam, colocavam selinho na testa: o radical é o ruim, é o sectário, é isto ou aquilo. Sempre que me chamam de radical ou qualificam o PT de radical eu me sinto elogiado porque ser radical é ir nas raízes dos problemas e não ficar iludindose e iludindo aos outros indo na superfície ou se contentando com as aparências. A radicalidade, por exemplo, do Orçamento Participativo [OP], foi se perdendo no processo e nós, na sequência dos primeiros governos, fomos arrendondando isso e fomos dando uma formatação que adequou o OP à institucionalidade de um Estado que está longe de ser e de ter sido transformado. É possível o governo dar repostas a iniciativas muito progressistas, e até mesmo radicais, numa estrutura política que demanda alianças com bancadas extremamente conservadoras como é o caso dos evangélicos e dos ruralistas? Como o governo pode dar essas respostas se é necessários fazer concessões que há 15 anos o PT não admitiria para governar?

tabare.net

Olha, eu afirmo, pela experiência, que não se governa o Estado brasileiro em nenhuma de suas dimensões de forma isolada, por um só partido ou um conjunto de partidos. A esquerda brasileira não se define. Quais são os contornos da esquerda brasileira? O PT é um dos partidos da esquerda brasileira, tem outros. Sem definir os contornos da esquerda já se faz alianças que são uma geleia geral, uma mistura. E quando tu mistura água com vinho, o vinho fica ruim e a água também. Mas eu entendo que um conjunto de forças políticas e sociais sérias no campo da esquerda, centroesquerda, tem que se assumir como um projeto para o país, um projeto estratégico. Não só um projeto de governo. E tem que se comprometer em executar esse projeto numa alternância entre esses partidos para a realização de um projeto já discutido com todas as forças e a sociedade e permanentemente aberto para discussão, para o seu aperfeiçoamento na hora da execução. Nós estamos devendo isso para a sociedade. A esquerda brasileira e o PT em especial porque hoje é o maior partido na esquerda. Acho que a política de alianças não pode ser uma coisa feita segundo o resultado das eleições. Quer dizer, então tu deixa passar as eleições e aí depois de eleito tu chama aqueles que tinham outro projeto, outras candidaturas, pra compor o governo. Qual é a lógica disso? É a velha política. Se funcionou no tempo do Getúlio e das ditaduras, não poderia ser imitado hoje de forma alguma para poder avançar um consciência cidadã e uma transformação efetiva no Estado brasileiro e numa cultura política de cidadania. A esquerda precisa dizer a que veio e quais seus contornos reais. E disputar isso na sociedade. Pra ganhar e pra perder. Agora, quando se apresenta determinado projeto e se vê que se ele não vai ganhar a eleição tu vai desbastar esse projeto e conciliar com coisas que não vão fazer avançar, tu tá recuando, não tá avançando. O processo de transformação é demorado, mas cada conciliação dessas faz o horizonte da mudança ficar mais longe. Então nós temos que ir criando condições, fazendo semeaduras que possibilitem uma chegada mais próxima do horizonte de uma socieade de igualdade,


de justiça, de fraternidade, de compartilhamento, e que o povo seja sujeito desse processo e não objeto dele. Nós, penso, temos responsabilidades e o projeto do PT tá longe de ter sido esgotado. Condutas de figuras importantes do nosso partido não podem ser tomadas como o fim do projeto. Acho que temos uma indignação muito grande na base partidária que pode e deve começar a se expressar, ganhar força e retomar o projeto estratégico de mudança. Saber trabalhar isso com os movimentos sociais, com os lutadores sociais, com as forças políticas consequentes do campo popular democrático de centro-esquerda, e não de centro-direita. Nós temos tido eleições em que a esquerda disputa entre si quem é mais palatável para a direita. Porque nós não temos uma discussão sobre um projeto comum de transformações para o país e como nos comprometer e executá-lo numa alternância entre as forças de esquerda através de eleições democráticas. A transformação desse país não é através de processos autoritários ou pessoais, messiânicos. A transformação é um processo que engloba milhões de brasileiros nas situações mais diferentes de circunstâncias nesse enorme território. Os partidos da esquerda têm responsabilidades enormes. O PT tem culpa no cartório por deixar de ser uma escola política. Não é uma máquina eleitoral pra ganhar eleição. Eu tenho aprendido, por experiência própria, que algumas derrotas ensinam mais do que dezenas de vitórias. O senhor acredita que a reforma política poderia ajudar nesse processo? E que reforma política teria que ser feita para que mudasse essa relação do partido com a população? A reforma política é uma das reformas estruturantes que precisamos. Junto com reforma agrária, urbana, tributária. Eu entendo que devemos reeleger a Dilma, como devemos reeleger o Tarso, devemos lutar pra isso. Mas veja, nos três mandatos, dois do Lula e um da Dilma, se constituiu maioria no Congresso, aquela maioria depois da eleição. Mas então por que não se votou até hoje a reforma política, a reforma tributária, a reforma agrária, a reforma urbana? Que são estruturantes de uma mudança necessária para o país se desenvolver como nação, desencader todas as suas energias num desenvolvimento sustentável, inclusor. Essa maioria pra quê? Essa maioria para o feijão com arroz é o mercado do toma lá dá cá. Essa é uma questão seríssima. Com essa composição dos legislativos e a forma como ela é composta não vai se mudar com a profundidade e a radicalidade necessária que o povo está demandando nas ruas. A luta por uma reforma política, e não eleitoral, é uma luta que passa por uma convocação de uma Constituinte, livre, soberana e exclusiva. E que nesse jogo já está meio descartada, mas acho que tem que ir pra rua pegar milhões de assinaturas e chegar com a proposta de origem popular no Congresso para convocar uma Constituinte Exclusiva para esta reforma e outras. Se mantiver essa forma de compôr os legislativos nos três níveis as mudanças se evaporam, se estilhaçam. A reforma política tem que ser a que possibilite a votação em um projeto, em um programa, e não em uma pessoa, evidentemente. Tem que compor as listas partidárias e o partido tem que

ser radicalmente democrático, não comandado por um figurão, por um cara que tenha um cargo mais importante. Não! Um embate com o projeto adversário de forma nítida e clara que possibilite ao eleitor, mesmo não sendo filiado, compreender e votar em algo que depois o faça exercer a cidadania, acompanhando, criticando. O campo político da esquerda, em diversas regiões, quando alcança o governo, avança na questão das liberdades humanas, como é o caso dos direitos a casais do mesmo sexo, da legalização das drogas, entre outros. Não seria dever da esquerda brasileira, nesse caso do governo do PT, de avançar também nessa questão das liberdades?

" O PT tem culpa no cartório por deixar de ser uma escola política. " Eu penso que a primeira questão é lutar por um Estado laico. Ele não favorece, nem discrimina, nem se subordina a nenhuma igreja, mas respeita todos os credos, o que dignifica o ser humano. Esses temas não podem ser escanteados, estigmatizados. Tem que haver plena liberdade para discutir isso. A própria questão dos entorpecentes, da maconha e de outros alucinógenos, é uma questão importante para ser discutida do ponto de vista da sua legalização ou não, da imporância social, da saúde, da convivência. A questão que as mulheres reivindicam do direito ao corpo, que é legítimo e inegável, ninguém pode impôr essa política por interesse do Estado. O Estado tem que atuar pelo interesse da sociedade, não impôr as coisas. É claro que todos esses temas têm a discussão ética, filosófica, humanitária, social. Nenhum desses temas se resolve separando eles um dos outros. São faces da mesma temática: a temática do ser humano. Um partido de esquerda não pode ficar cheio de dedos diante desses temas. Tem que possibilitar um debate profundo e aberto, reduzindo essa cultura conservadora ou reacionária que serve a interesses de grupos sociais e do pensamento dominante. O PT é composto por várias correntes. As manifestações mexeram internamente com o partido nas discussões entre essas correntes? Tá no DNA do PT o direito às tendências internas. Nos primeiros anos isso era defendido com clareza, as correntes se articulavam em torno de uma visão política a respeito do socialismo, dos movimentos sociais, do papel do Estado. O pensamento de esquerda tem históricos debates em torno desses temas e tem experiências acumuladas, mas nunca esgotadas. Então as tendências se articulavam em torno de um pensar que veio de uma esquerda tradicional, de uma nova síntese, e isso continua sendo importante. Ocorre que o partido foi ganhando eleições, crescendo no espaço institucional e as correntes internas passaram a ser mais, como são hoje, articulações em torno de mandatos. As correntes mais significativas são aquelas que têm mais mandatos ou cargos nos três níveis. O debate de teses, provocativo ago/set 2013 #24

ideologicamente, se arrefeceu e as reuniões das tendências são maiores que as reuniões das instâncias partidárias. Porque lá se discutem cargos na estrutura da máquina do partido. Isso é algo que desfigura e tira uma substância enorme da importância das tendências e das articulações internas. E passam inclusive a contribuir para essa visão pragmática da política. Então o PT precisa fazer essa discussão para si mesmo, claro que não tem que virar um ovo e ficar numa eterna discussão para dentro. Tem que fazer essa discussão e estar junto na sociedade, aprendendo e transmitindo suas experiências nos limites, nas potencialidades. Nós temos desafios internos e eu entendo que é possível fazer essa discussão na disposição de fazer com que essa ferramenta política de um partido surgido de baixo para cima não perca o fio, não enferruje e não fique frouxa na mão de seus filiados e militantes. Com relação a regulamentação da mídia, está em voga um debate que não avança ou não se tomam medidas reais de avanço. Qual a tua opinião sobre essa questão? O jornalismo é uma importante função social, e é sério para uma sociedade democrática possibilitar que haja circulação de notícias e de ideias de forma diversificada, sem controle de grupos. Em outros países de democracia mais consolidada não tem um mesmo grupo que é proprietário de jornal, rádio e televisão. Aqui isso foi se formando já na ditadura e na constituinte não se desatou esse novelo de interesses corporativos desses grandes grupos empresariais, que confundem informação com mercadoria. Interessa para esses grupos tais notícias, tais fatos, com pouca ou nenhuma condição de reelaboração cidadã daquelas informações. Tem grupos empresariais, aqui mesmo no estado, que dizem que as coisas só podem ser consideradas como acontecidas se divulgadas pelos seus veículos. A empresa jornalística é um grupo empresarial para quem a notícia é uma mercadoria que tem que ser buscada e divulgada segundo seus interesses ou ficar na prateleira dos fundos. Evidente que tem situações diferentes, a micro e a pequena empresa tem uma realidade diferente dos nove grupos da grande imprensa nacional, mas são patroladas pelos grandes grupos de comunicação que são conglomerados empresariais poderosos e é sobre isso que tem que se discutir para poder democratizar o processo de informação. E nós não temos avançado nisso, tanto que os ministros da área nos governos desde o Lula até a Dilma são ministros que estão muito contemporizadores com essas grandes estruturas empresariais e cheios de dedos para tocar nesse tema. Os grandes grupos de comunicação foram e são alvo dos protestos nas ruas, significa que há uma inconformidade da cidadania com a forma como esses grupos se apropriam de um espaço concedido e como tentam impor a sua opinião ou fazer da sua opinião o pensamento único, balizador inclusive da atuação do partido. A oposição no Brasil hoje tem uma proposta elaborada nas editorias desses grandes jornais e desses grandes grupos econômicos, uma oposição que socialmente não tem raízes e não tem forças, mas que de cima pra baixo tem essa relação de interesses com esses grupos. É um problema democrático a ser resolvido, é um controle privado sobre o Estado e sobre as opiniões, uma impostura sobre a cidadania, uma tentativa de controlar de cima para baixo o que o cidadão deve pensar, imaginar ou querer. É um problema a ser resolvido. 5


TENTATIVA DE HOMICÍDIO

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ormação do Júri: O grupo é formado por seis mulheres e um homem. A maioria aparenta estar entre os 30/40 anos. Apenas uma das mulheres é negra. Eles permanecem em silêncio durante todo o julgamento. Postura do Juiz: O juiz aparenta ser jovem, chega ao Tribunal vestindo sua toga preta, oferecendo sorrisos aos jurados e fazendo piadas. Brinca sobre o dia dos namorados, comenta a cor das térmicas de café e faz uma relação com a cor de seu time de futebol. Ele também faz um comentário sobre os protestos: “Tomara que eles não descubram onde é o Foro”. Quando convoca o réu a sentar-se em sua frente para responder algumas perguntas, percebe a vestimenta deste e pergunta ao defensor se “foi orientação sua ele vir com a camiseta do Mazembe?”. Na sequência o Juiz pergunta para o réu se a camiseta “é original ou réplica?”. Quando todos estão sentados em seus lugares o tom muda, o Juiz pergunta: “Você é inocente?”. A resposta é “com certeza”. Postura do Réu: O réu é jovem, pardo, magro. Fica a maior parte do tempo encolhido, sentado com os braços cruzados. Ao ser interrogado pela promotora afirma ter conhecido a vítima, mas nega a participação na tentativa de homicídio. Na metade do julgamento aparece usando uma máscara hospitalar, pois está com tuberculose. Tosse fortemente durante todo o dia. É a única pessoa do Tribunal tratada por “você”, os demais são todos senhores e senhoras. Falas da Promotoria: A promotora é uma mulher que não aparenta ter mais de quarenta anos, maquiada e bem vestida, utiliza a toga com o cordão vermelho da acusação. Ocupando seu lugar ao lado do juiz, parece conversar com ele com frequência. Ao iniciar sua fala, elogia e agradece ao juiz, ao defensor, aos jurados e às pessoas presentes no Tribunal. Dirige-se então especificamente aos jurados e expõe o caso convocando a reponsabilidade daqueles que irão tomar uma decisão ao final do dia “temos que fazer o possível e o impossível para tornar o mundo um lugar melhor”. Ela explica o funcionamento do Júri e escreve no quadro como deve ser feita a votação final. Segundo a promotora, cada jurado deve tomar sua decisão individualmente, tendo em conta a imparcialidade, a consciência e a noção de justiça de cada um. Nenhum deles precisa justificar sua decisão, apenas responder sim ou não a oito perguntas que o juiz fará no final. Ao falar da vítima alega que ela “perdeu tudo, era trabalhador, não era como os bandidos da região. Perdeu tudo: fogão, televisão, geladeira. E tem três filhos”. Também tece comentários sobre a violência nas ruas, afirmando que o “maior problema do Brasil é que ninguém vai preso”, apresenta a taxa de homicídios de Porto

Alegre, e diz “o que a gente vai esperar de uma sociedade em que acontece isso? E a gente vai permitir que isso continue acontecendo? Quando a gente absolve, a gente diz para a sociedade que vai permitir que isso aconteça. Vocês querem ele na rua? Absolvam. Ele sai pela mesma porta que vocês”. A promotora recorre diversas vezes ao perigo da criminalidade nas ruas: “R$ 5, uma pedra de crack, é o preço da vida em Porto Alegre”. Lê trechos do processo, aponta os depoimentos da esposa da vítima, principal testemunha do caso. A esposa afirma ter visto o réu na entrada da casa na noite em que vários homens tentaram matar seu marido, ele sobreviveu aos tiros mas a família teve que sair da casa. “Nós vivemos entre grades. Ou vocês condenam ou vão ver ele sair pela mesma porta que a gente. A esposa da vítima foi corajosa e nós também temos que ser. Essa é a sociedade que vocês querem? Pessoas impunes depois de invadir, roubar os bens, o fogão, a geladeira, a máquina de lavar, comprados com esforço?” Conclui com a afirmação “condenar é dizer não à impunidade, é dizer chega”. Falas da Defensoria: O defensor é um homem mais velho, que aparenta ter entre cinquenta e sessenta anos. Cabelos brancos, ar cansado, veste sua toga preta com o cordão verde da defesa. Seu lugar no Tribunal é atrás do réu, na extremidade oposta a arquibancada dos jurados. Ele caminha em direção ao grupo que irá julgar e elogia e agradece ao juiz, à promotora, aos jurados e às pessoas presentes no Tribunal. Ele também se dirige ao réu: “saúdo o réu, um ser humano que merece respeito, está morrendo aos poucos, tuberculoso, enjaulado como se não fosse um ser humano”. Em sua fala, faz diversas referências a situação de enfermidade do acusado: “será que prender esta criatura, que me dá dor na alma de ver, enjaulá-lo por dez anos – que não sei se sobreviverá para cumprir – é justiça?”; “este miserável, preso desde maio. Vocês vão mandá-lo terminar de morrer na cadeia?”. O defensor também comenta o funcionamento do Júri Popular e argumenta que “quem vem aqui já entra pré-condenado. 95% sai condenado, com qualificadores que não tem cabimento”. Ao ler partes do processo e destacar a fala das testemunhas, o defensor observa que a vítima havia dito que o réu não estava na cena do crime, contrariando a fala da esposa. Então clama: “queremos a justiça honesta, baseada na prova. Impunidade não se resolve condenando inocentes”. Termina sua participação alegando que o “réuzinho” é um bode expiatório e que “esse tuberculoso é efeito da cadeia. Imagina uma pessoa presa por cinco ou seis anos injustamente? Hoje é fácil botar as pessoas na cadeia, o pessoal não quer mais saber, está apavorado, só se fala em violência. Quem vai absolver assim?”. E conclui perguntando “Cadê a certeza?”.

por Natália Otto e

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conceito de justiça pode até parecer cristalizado para os que trabalham “em prol da Justiça”, essa instituição com letra maiúscula. Entretanto, esse conceito pode ser diferente dependendo do lugar em que é pronunciado. Nas ruas ouvimos diferentes percepções sobre o que é “justo”. Por exemplo, a recente chegada dos médicos estrangeiros ao Brasil para participar do programa Mais Médicos gerou um intenso debate: os médicos afirmam, entre outras coisas, que não adianta colocar médicos onde não existe posto de saúde e aparelhagem; já os defensores da vinda dos estrangeiros alegam, entre outras coisas, que sobraram vagas do programa Mais Médicos principalmente nas regiões remotas e que esses lugares não podem ficar desatendidos, logo a vinda dos estrangeiros é valida e muito necessária. O que é justo para os moradores dessas regiões remotas? O que é certo para os médicos que juraram salvar vidas? Fazer justiça é o mesmo que fazer o que é certo? Um Tribunal de Justiça é sempre justo? O debate sobre Justiça é produzido por diferentes áreas de conhecimento, como o Direito e a Filosofia. Debate que também se mostra cotidiano. O presente texto não vai entrar neste problema conceitual, apesar de reconhecer sua importância. Aqui lançaremos luz ao que é feito pela justiça, ou melhor, como é feita a Justiça institucional no Brasil. Por viver neste país e legitimar e reconhecer os poderes estabelecidos pela Constituição estamos todos sujeitos ao Sistema Judiciário. Nesse sistema repleto de personagens e labirínticos caminhos para


HOMICÍDIO QUALIFICADO

e Natascha Castro a “verdade” dos acontecimentos e das imposições dos direitos e deveres da sociedade, encontramos uma específica forma de julgar crimes que é bastante polêmica: o Tribunal do Júri. No Brasil, apenas os chamados crimes dolosos (ou seja, intencionais) contra a vida são julgados por um júri popular. São eles: homicídio (inclusive a tentativa), aborto, infanticídio (assassinato de recém-nascidos) e facilitação de suicídio. Em cada júri, 25 cidadãos são selecionados para comparecer ao Foro. Destes, sete são sorteados para realizar o julgamento e os outros são dispensados. A promotoria do Ministério Público tem uma hora e meia para expor os argumentos da acusação aos jurados. A isso, segue-se a fala da defesa, que pode ser composta por um defensor público ou por um advogado, pelo mesmo período de tempo. Depois dos primeiros debates orais, a promotoria pode pedir a réplica e argumentar por mais uma hora. As falas se encerram com a tréplica de defesa, de mesma duração. Alguns diriam que o Júri é a única chance do cidadão comum participar efetivamente do Sistema Judiciário e ter voz e vez. Outros questionariam se esse é o ápice de democracia ou apenas outro espaço para que o Direito seja, como disse Pierre Bourdieu, um reflexo dos interesses da classe dominante. Publicaremos agora relatos do que vimos e ouvimos no Júri, para que nossos leitores possam formar suas próprias conclusões e dar seu veredicto. Prometemos ser tão imparciais quanto a Justiça.

Ilustração: Paulo H. Lange

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ormação do Júri: Seis mulheres e um homem, todos aparentam ter em torno de 40 anos. Permanecem em silêncio durante o julgamento. Postura do Juiz: O juiz é um homem jovem, bem humorado e gentil. Ele explica aos jurados, de maneira didática, como se dará o julgamento. O caso que eles julgarão tem uma peculiaridade: o réu, um foragido da polícia, não estará presente. Em seguida, o magistrado chama a única testemunha a depôr - um parente do réu, que afirma que o acusado estava na festa de aniversário de sua sobrinha no momento do homicídio. Postura do Réu: O réu não compareceu a julgamento. Falas da Defesa: Neste caso, o réu contratou uma advogada e dispensou os serviços da Defensoria Pública. A advogada é uma mulher que aparenta ter uns 40 anos, de fala baixa e calma. Ela inicia a fala afirmando que, no caso, “sobram acusações, mas faltam provas”. “Com que base falamos que a testemunha é mentirosa?”, questiona. A testemunha que deu depoimento durante o julgamento apresentou uma foto do aniversário da sobrinha na qual o réu aparece. A afirmação da promotoria é a de que o acusado teria ido embora depois da foto ser tirada e cometido o crime. Segundo a advogada, os indícios de que o acusado teria cometido o homicídio são depoimentos de testemunhas em inquéritos policias. Porém, o desejo de “fazer sucesso” entre pessoas da comunidade do réu as levariam a dar informações falsas à polícia, pelo prazer de elucidar um crime e “aparecer no Balanço Geral (programa de jornalismo policial da Rede Record)”. Falas da Promotoria: O promotor é um homem que aparenta ter 40 anos, de fala firme e rápida. Ao interrogar a testemunha que depôs, ele levanta da cadeira, ao lado do juiz, fica de pé em frente à testemunha e dispara: “Você tem noção de tempo? Pode me dizer que horas são agora?” A testemunha hesita e fala que são entre dez e dez e meia da manhã. São nove e quarenta e cinco. Para o promotor, isso prova que a testemunha é incapaz de estimar o tempo e não teria como dizer com certeza o horário que o acusado estava no aniversário da sobrinha. Mais tarde, o promotor explica aos jurados que se levantou para impedir que a testemunha olhasse para o relógio na parede da sala. Ao iniciar sua fala, o promotor ressalta a peculiaridade do júri: “Aqui, vocês podem julgar contra a prova.” E acrescenta, como um parênteses: “O que não é recomendado!”. Para ele, “promotor que não respeita as garantias do réu pode colocar um capuz preto e um machado, é um carrasco”. E promete: “não vou massacrar a cadeira vazia”, referindo-se ao fato de que o acusado não estava presente.

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Dito isso, o promotor começa a falar sobre o réu: “O réu, que não está aqui, é um sujeito ruim que é uma barbaridade, um psicopata completo.” E acrescenta, em um estilo de falar que parece ser sua característica: “Não que isso deva influenciar no julgamento.” O representante do Ministério Público segue discursando sobre psiquiatria: “O psicopata não é só o engravatado, ele também está na vila. E não tem cura. A psiquiatria, que é um estudo sério, diz que (a psicopatia) começa com três anos. Aos 15, ele já está pronto, mas só pode ir preso no Brasil aos 18”. E aproveita para dar sua opinião sobre o assunto: “Nós devemos estar certos e o resto do mundo errados. Mas eu não defendo a pena de morte! Eu não posso dizer isso, porque não é politicamente correto”, exclama. Momentos depois o promotor afirma que deveria haver pena perpétua para “tipos” como o réu. “As pessoas choram pelos presídios, convidoas a chorar pelas favelas, onde pessoas vivem no esgoto e não são bandidas”, argumenta. O debate legal entre a promotoria e a advogada de defesa, neste caso, tratava da legitimidade de usar as chamadas provas indiciárias como prova suficiente para a condenação do réu. Segundo a defesa, indícios não seriam provas. Porém, de acordo com o promotor, a falta de provas se daria pelo medo das testemunhas de deporem contra o réu e sofrerem retaliação. “A prova para condenar um homem de bem que eventualmente cometeu um crime é diferente da prova necessária para condenar um marginal matador que faz terror com as testemunhas”, relativiza o promotor. “Nesses casos, eu me contento com menos!” Segundo ele, a prova indicial seria usada em “épocas de fascínoras monstruosos que matam testemunhas”. Após a fala da advogada do réu, o representante do MP inicia a réplica esclarecendo para os jurados que “dizer inverdades é trabalho do advogado, não do promotor”. Segundo ele, o Ministério Público não acusa, e sim defende a lei, a vítima e a sociedade. “O promotor anda na realidade. O defensor vive no surreal, por isso prefiro o tribunal do júri”, diz. Neste momento, ele lê um trecho de um livro que coloca o advogado de defesa como alguém que comete estelionato contra a sociedade. “Mas é o trabalho dela. Máximo respeito”, acrescentou. O promotor finaliza sua fala com a seguinte frase sobre o réu: “Ele não é um miserável da defensoria pública, é um bandido perigoso, mandante de crimes que chegam a nós através de assaltos, furtos, estupros. Caras como o réu são os Tiranossauros Rex dos dias de hoje, os predadores, que não nos deixam viver, que nos fazem temer quando nosso filho sai de casa!”.

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Lúcia Helena Callegari

é promotora do Ministério Público e trabalha há nove anos em Porto Alegre no Tribunal do Júri. Foi professora de uma escola pública em Caxias e sempre desejou trabalhar na promotoria, pensava que ali era possível agir “de acordo com o que tu achas certo”. Começou cedo na carreira, com 25 anos já era promotora em Palmeira das Missões e logo passou a trabalhar na capital. – Como funciona a seleção do Júri? Uma vez por ano é feita uma lista, são pessoas que muitas vezes vão aos cartórios para se inscrever, o juiz também manda ofícios para empresas e órgãos públicos pedindo indicação de pessoas, e se pegam as listas do Eleitoral, de mesários, para formar nomes. Todos os meses são chamados novos jurados e em cada sessão são sorteados sete. Não é por acaso que é um número ímpar, o que quatro decidirem está decidido, não precisa ser uma decisão unânime e ela é uma decisão sigilosa. Os jurados depois de sorteados não podem se comunicar com o mundo externo nem entre si sobre o processo. No final, eles vão ter que tomar uma decisão, respondem a perguntas que tem resposta sim ou não. Eu sou uma defensora do Tribunal do Júri, acredito que a população tem que ser representada, e essa é sua oportunidade de vez, de fala. – Por que são os crimes contra a vida, os piores crimes, que são julgados pelo Júri popular? Na verdade é porque a Constituição determina que sejam os crimes contra a vida, que afetam o bem mais precioso. Porque inicialmente quando se falava em julgar homicídio, se falava no contexto do homem médio: será que ele mataria ou não mataria? Isso não é legítima defesa? Mas a população pode compreender que é legítima defesa e que absolveria esse homem. O objetivo é “o homem faria igual?”. Porque roubar tu sabes que tu não vais roubar, tu não vais ficar, a princípio, sendo corrupto, mas matar é um crime que, como os advogados dizem, pode acontecer com qualquer um. Então na essência do Júri, o caso tinha que ser julgado pelos seus iguais, porque é um crime que qualquer um poderia cometer, teoricamente, em uma situação determinada. Mas hoje em dia não é mais esse crime do “qualquer um” que a gente tá julgando. A gente tá julgando bandido, bandido, bandido. Na maioria dos processos os réus são reincidentes, com outros processos de homicídio, com assalto, com tráfico, porte de arma... É triste. – Para um leigo, a Justiça parece ser bem rígida, mas o Júri é calcado na “imparcialidade”, na “consciência” e na “justiça” de cada um de seus jurados. Sendo um julgamento muito pessoal, isso não seria uma contradição? Na verdade a maior parte das críticas ao Tribunal do Júri diz o seguinte: é um absurdo que um crime que tem uma pena tão alta se baseie em respostas sim ou não. Porque qualquer decisão de qualquer Juiz tem que ser fundamentada, então justamente num crime que tem uma pena tão alta - homicídio qualificado a pena base é 12 anos - é julgado por seus pares, e não é necessário dizer o motivo da decisão. Mas essas pessoas (que criticam) não podem realmente trabalhar no Júri, porque os jurados vão lá não porque conhecem a lei, eles vão lá com suas vivências, a gente tem que compreender que quando eles fazem o juramento para julgar de forma imparcial e para proferir a decisão de acordo com a consciência e os ditames da justiça, a gente tá querendo dizer o seguinte: vocês não fundamentam, mas quando vocês fazem esse

juramento, vocês tem que tentar ser o mais justo possível e agir com a consciência pelo que é certo, sair com a consciência tranquila. E eu vou te dizer que em todos esses anos que estou no Júri, é difícil ver um jurado descomprometido disso tudo.

– Essa questão da vivência pessoal fica aliada à quantidade de provas ou a experiência pessoal prevalece na decisão? Hoje em dia os jurados querem saber da prova. É uma mudança de perfil bem grande nesse aspecto, foise a época em que o belo orador ia ser o resultado do julgamento. – Existe algum limite nesse discurso, de coisas que não podem ser ditas? Na verdade, pela legislação tu não podes falar da pronúncia - das questões que remetem o réu a julgamento, nem do silêncio do acusado se ele usar esse direito, e nem do uso de algemas. - Mas algumas coisas que são ditas nos júris impressionam um pouco, por exemplo, em um processo que acompanhamos o promotor disse: “o réu é como um Tiranossauro Rex dos dias de hoje, os predadores que não nos deixam viver, nos faz temer quando nossos filhos saem à rua”. É permitido fazer esse tipo de relação super emocional? Sim, pode usar as referências de forma livre. Mas cada um tem seu estilo, tu falou a frase e eu digo só pode ser do Amorim. Mas é que a gente tenta fazer comparações para os jurados poderem compreender as coisas, aí é do dom de cada orador. Claro que a oratória é importante para o Júri. Tu não podes deixar os jurados dormirem, né? Se tu não falas alguma coisa assim, tu vai fazer eles dormirem no plenário. Só o que não pode é falar o que está nesse artigo da lei, usar como caráter de autoridade as decisões que remetem o réu a julgamento, falar da algema e do silêncio do réu contra ele.

– A maior parte dos réus são condenados? A maior parte, quase todos. – Existe uma seletividade de classe? A maioria dos réus é pobre? Não, é que eu te digo assim, a maior parte da população é pobre. E as coisas se refletem também ali adiante. O problema maior dos homicídios está ligado à criminalidade vinculada ao tráfico e aos assaltos, quer dizer, é a classe que tá matando e já está envolvida com crime, normalmente é uma classe social menor. Mas nós temos réus com dinheiro. – Tu acha que existem condenados sem recuperação? Agora mesmo, há umas semanas atrás, era a sexta vez que eu estava denunciando a mesma pessoa. Teve um réu que respondeu a 18 processos. O que tu espera? Tem pessoas que saem e matam outro. Não é uma vez que eu vi isso, estou aqui há quase dez anos no mesmo lugar, então eu tenho visto isso com uma frequência tão constante que algumas pessoas assim, não existe. Elas foram desde jovens vivendo nessa criminalidade, acreditam que essa é a solução do mundo, que ser criminoso é o que está certo. Nós vamos continuar sendo reféns dessas pessoas. – E a prisão é a solução? Eu acho que a gente não pode conviver com essas pessoas. Então enquanto não houver método melhor...

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Por muitos anos da minha vida eu fui contra pena de morte. Hoje em dia têm réus meus que eu não teria dúvidas de pedir pena de morte se eu pudesse. Não teria medo de fazer isso, iria dormir com minha consciência tranquila. Eles vão matar quantos? Vão fazer quanto mal até...? Mas isso é uma questão muito polêmica, tem muita gente contra a pena de morte, eu passei anos da minha vida contra, até o momento em que eu comecei a ver coisas que não dá mais. Eu acho que a gente tem que ter penas mais severas, isso é certo. Se a prisão não é o ideal, bom, então eu digo: levem para as suas casas. Porque, tu quer fazer o quê? Quer deixar a pessoa

" eu não teria dúvidas de pedir pena de morte se eu pudesse. "

na rua matando, assaltando, traficando, impondo-se diante da comunidade, estuprando? Tu vai deixar? Eu te diria que a prisão não é o ideal para ninguém. Agora, também não dá pra deixar essas pessoas no convívio social, então a forma de segregar é a prisão.

– Tu podes definir Justiça? É tão difícil definir justiça. Dizem que a justiça é cega, eu acho que não, acho que a justiça é o que todo mundo almeja. Eu sempre faço uma explicação na saudação aos jurados, quando a gente fala em justiça a gente tá sempre falando daquilo que é o certo, então quando a gente fala em consciência, parece que são dois conceitos que andam juntos. Justiça é aquilo que todo mundo quer almejar, porque todo mundo quer que as coisas atinjam um patamar de que todo mundo tenha os mesmos direitos, as mesmas responsabilidades, os mesmos deveres, e que esses deveres e esses direitos sejam respeitados por todos. Então se nós tivéssemos tudo isso nós não precisaríamos ter um poder judiciário. Nós não temos, as pessoas nem sempre são respeitadas, as pessoas são menosprezadas, as coisas acontecem, enfim, existem conflitos, então a justiça tem que ser um ponto de tranquilidade, de imparcialidade, pra resolver isso da melhor forma possível pra gente viver melhor em sociedade.


Tatiana Kosby Boeira

trabalha como defensora pública em tribunais de júri há onze anos, quando pediu exoneração de um cargo de assessora no Ministério Público para fazer o que sempre gostou – “está na veia, é ideológico”, explica. Há oito anos, atua no Foro Central de Porto Alegre, mas já defendeu réus em diferentes cidades do RS. Atualmente, é defensora da Segunda Vara do Tribunal do Júri. – Como funciona o júri? Tu queres uma análise objetiva ou crítica?

"

É um exercício de revanche, de vingança social. " – Crítica. O problema do júri é a escolha dos jurados. Como defensora, eu não sou um alien, eu tenho medo de violência, do tráfico, de assalto, o que todo cidadão comum tem. Eu entendo a realidade de uma sociedade que está atemorizada. Entendo que as pessoas tenham até o sentimento, que não sei se é legítimo ou não, de querer dar um basta nisso. O que eu não posso aceitar é que isso seja feito aqui no júri. E tenho visto isso. As pessoas sentam aqui predispostas a condenar. Já há todo um jogo de cena para que isso aconteça, porque a mídia funciona muito para isso, porque se vende essa ideia de que aqui se faz segurança pública... E o que me entristece muito, e nos fragiliza até na atuação como defensor público, é ter um processo que qualquer juiz não teria como condenar, que o jurado condena na maior tranquilidade. E sai festejando depois. – Tu vês como um processo democrático? Não. O júri é uma maquina de moer gente. Uma máquina de condenar. Os jurados representam só uma parcela

privilegiada da população. É difícil tu ver o pessoal da periferia sendo jurado, até porque muitas vezes essas pessoas têm uma ocorrência policial, não têm tempo, ou nem sabem que podem participar. É uma das lutas que quero que seja um bandeira da defensoria: que as pessoas das comunidades carentes participem. Aqui, hoje, eu tenho classe média julgando pobre. É um exercício de revanche, de vingança social. É muito desanimador trabalhar anos em um processo, chegar no júri e perceber que é em vão. É um jogo de cartas marcadas, e assim como tu podes estar condenando um culpado, em uma situação dessas, tu podes estar condenando um inocente. Em geral, prevalece o discurso do bem contra o mal: nós somos a sociedade, o cidadão de bem, os que nunca vão errar. Lá é a pedra que os construtores rejeitam, que se a gente pudesse jogar fora e nunca mais olhar, melhor. O Estado vem com sua força total na hora de punir uma pessoa. Antes, nada. Não dá nenhuma oportunidade. E se tu mostras isso ainda dizem que é um discurso pseudo-socialista. Noventa por cento das pessoas que sentam ali são pobres, rico chegar no júri é exceção. – Em geral as pessoas de classes mais altas… Têm mais chance de ser absolvidas. – Mas a maioria dos casos resulta em condenação? O grande percentual sim. Tem essa ideia, e os promotores trabalham isso de uma forma indireta, de que se o juiz pronunciou, é porque tem algum elemento, e se tem algum elemento, tem que condenar. O processo do júri tem duas fases. A primeira é o recebimento da denúncia, quando o juiz já deveria fazer o primeiro filtro, e não se faz. Vários processos sem justa causa para iniciar iniciam-se. Depois tem toda a instrução, a fase da pronúncia, que é quando o juiz deveria fazer o segundo filtro, e só mandar a júri efetivamente quando tivesse elementos para isso. E aí prevalece uma máxima completamente equivocada, que é a tal da “in dubio pro societat”: na dúvida, em prol da sociedade. Quem é a sociedade? Esse cara que está sendo julgado não faz parte da sociedade? Ele foi excluído? Ele é um cidadão, mas aí naquela hora, na dúvida em prol da sociedade... Mas que duvida é essa? Qualquer dúvida. E por qualquer dúvida tu estás pronunciado por homicídio duplamente qualificado. O filtro é muito pequeno. Aí o réu chega ao julgamento: Se ele já tem antecedentes, se vem preso, escoltado pela SUSEPE, com os familiares da vítima chorando sentados ao lado dos jurados... Que chance esse cidadão tem? É toda uma estrutura montada para condenar a pessoa. Só não é condenado quem tem muita, muita sorte. – Se tu pudesse mudar o tribunal de júri, o que tu mudarias? Primeiramente, o júri teria que representar um contingente populacional muito maior. Segunda coisa, acho que tem que haver uma atuação mais responsável por parte do poder judiciário em vedar as influências indevidas. O júri foi abandonado pelo judiciário. A partir do momento em que um juiz não interfere e permite que uma cena influenciável se instale em um julgamento, ele está sendo condescendente. E o filtro também tinha que ser mais forte. Essa história de que tudo vai a júri não poderia ser assim. Como o juri é permeável a uma série de influências, ele deveria ser destinado a situações comprovadamente mais graves ou que tivessem elementos para chegar à discussão num julgamento.

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– Nos júris que observamos, a acusação falava que, se, quisesse, poderia absolver. Isso influencia em como o júri percebe o papel das partes? Sim, há toda uma construção de imagem que é feita pelo Ministério Público na mídia, de defensor da sociedade, de quem está do lado do bem... Eles usam muito essa situação de “se eu tivesse me convencido da absolvição, eu não estaria aqui”. Na verdade eles pedem absolvição quando veem que vão perder. Só que eles usam isso como argumento, e na cabeça do jurado funciona assim: se os bonzinhos vêm aqui dizer que a gente tem que condenar, a gente tem que condenar, porque quando é pra absolver, eles vem aqui e pedem pra absolver. Só que o jurado não sabe dos bastidores. – Não existe um limite legal para o que se pode dizer no debate oral? Existe o limite ético, né? Existe a imunidade em plenário, que o promotor e o advogado tem liberdade de expor suas ideias. Eu entendo que essa imunidade deveria ser restrita ao que está no processo, sem poder falar de terceiros. E a pessoa do réu, como fica? Vemos que o júri virou uma forma de varrer moralmente uma pessoa, e isso incita a violência. A gente trabalha diariamente com os presos e vê que eles, quando são insultados, saem muito revoltados. Se ele é culpado e condenado, mas foi tratado com dignidade, ele aceita a condenação e cumpre a pena. Mas quando o cara é insultado, ele não enxerga a justiça. A teia social dele já é enfraquecida, e ele pensa: “se essa é a autoridade que eu tenho que respeitar, eu não vou respeitar coisa nenhuma”. – O que é justiça pra ti? Justiça parte de uma série de pressupostos que não temos aqui. Se todos tivessem as mesmas oportunidades, e a partir de uma situação de igualdade, uns escolhessem ir para um lado e outros para outro, justiça seria dar àquele que escolheu corromper a teia social um processo justo, no qual ele possa se defender, e, se comprovado o crime, uma punição adequada. Isso seria justiça. O resto é atropelo. Punir alguém que parte de uma situação de desigualdade, se desinteressando por todos os motivos que levaram ele a transgredir a lei, e ainda por cima não proporcionando um processo justo... Isso não é justiça, é vingança. Que é o que eu vejo acontecer no sistema penal brasileiro, não só no tribunal do júri, mas em toda a área criminal.

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por Jonas Lunardon Existisse um deus de carne e osso não conseguiria imaginar a reação dele se estivesse ao meu lado. Não sei se perceberia um semblante orgulhoso ou desapontado, um riso de falsa modéstia ou inegável desolação. Existisse um deus de carne e osso e eu o teria convidado a ir junto comigo, ao fim de uma terça-feira de cidade chuvosa e caótica, à reunião de Limpeza Espiritual da Igreja Universal do Reino de Deus, faraonicamente erguida a poucos metros da rodoviária de Porto Alegre. Assim que entro no salão principal o tamanho da estrutura e o mar de cadeiras roubam minha atenção. Há uns 5 mil lugares, divididos em quatro blocos horizontais de poltronas marrons e que verticalmente vão ao encontro do palco de onde o pastor prega. Ali em cima os tronos, as cruzes, os ornamentos, todos reluzem. E é nessa parede que se lê o letreiro gigante - e não menos reluzente - Jesus Cristo é o Senhor. De cada lado da frase um telão transmite tudo o que se passa, gravado ao vivo, e nenhum detalhe será perdido por ninguém. Sento estrategicamente em uma das cadeiras da metade de trás e bem ao meio. Imagino que fico menos à mostra ali: ingênuo engano. Poucos minutos depois um fiel se aproxima e pede para conversar. Digo que sim e ele me conta que tem 30 anos, trabalha em uma cozinha, a patroa não é boa, desperdiça muita comida e isso o entristece. Ele engata na história de um passado, que até agora não consigo saber se é inventado, no qual era gay, foi travesti e tinha chegado a vender o corpo. A Igreja o salvou, insiste, porque aquela vida de outros tempos não era digna aos olhos do Senhor. Pergunto o quê o levou a se prostituir, ele diz que estava perdido. Pergunto se é mais feliz agora, ele diz que não há comparação, que antes não tinha nem o que comer. Pergunto se ter o que comer tem a ver com o fato de ser travesti, ele diz que sim, o Senhor está sempre nos cuidando e quando entrou na Igreja Jesus o presenteou com uma vida melhor. Além disso, usava drogas pesadas, hoje nem bebe. No fim da conversa um dos assistentes, chamados de obreiros, nos cumprimenta com um jaleco branco que diz Sessão do Descarrego nas costas. Junto Limpeza Espiritual à Sessão do Descarrego e penso, será? Será. Os primeiros passos do pastor no palco fazem o público se calar, e as primeiras palavras já são em voz alta, rápidas. De imediato a retórica impressiona. Quase não há silêncios - e isso é muito importante, nota-se bem. Mas não são só as palavras: a habilidade no vai-e-vem do microfone, a potência da voz, a manutenção da adrenalina dos ouvintes, tudo serve para espetacularizar o que acontece. Tudo é eloquente. O boa noite é rápido e vem junto a um comentário do frio que faz, o sotaque indica que o pastor é de alguma região mais ao norte. As suas

segundas palavras já são direcionadas ao dízimo. E não exagero. A lembrança de contribuir antecede a pregação e vem acompanhada sobre ensinamentos de como o Diabo observa a Terra enquanto Deus protege aqueles que contribuem das artimanhas do Capeta. A contribuição, inclusive, tem percentual definido e estatístico: dez por cento dos ganhos de cada um são suficientes para garantir a proteção divina. Além do chamado ao dízimo, outros três momentos de contribuição são invocados: as ofertas. Para que sejam mandadas cartas ao templo da Universal em São Paulo, o prédio iluminado da sede principal da instituição, são chamados os ofertantes ao palco. Ofertas não são doações, é lembrado, são investimentos para que Deus possa nos atender prontamente. Em meio a orações e músicas o pastor narra freneticamente um chamado àqueles que ofertarão mais de mil reais. Depois segue ranqueando os montantes, que subam agora aqueles que sacrificarão de 500 até mil reais para que o Senhor possa atendê-los, e assim por diante, até que se chegue a quantias mais módicas, de cinco a vinte reais. O ritual sempre se repete. O pagamento pode ser feito por cheque, dinheiro e a maquininha de cartão de crédito está presente, dá pra parcelar. Quando passam por mim penso em entregar o cartão sem a senha, esperando alguma reação feliciânica, mas não faço nada. São muitos os que ofertam e pagam o dízimo, uma considerável maioria. Dois fiéis sobem ao palco para assinar cheques de 500 reais em troca da promessa de que suas cartas seriam entregues pessoalmente às mãos de Edir Macedo, bispo soberano da Universal. O auge da frenética reunião é a Sessão do Descarrego. Depois de vários minutos com todos em pé, orando e cantando, a narração impetuosa do pastor nos dirige ao centro do salão para que se caminhe sobre o Vale do Sal (um tapete de pacotes de sal amontoados pelo chão) onde os maus espíritos que nos atordoam queimariam com o poder da nossa fé. Uns quarenta obreiros ficam ao nosso lado, pregando contra as entidades diabólicas que podem ter se apossado dos fiéis. Enquanto caminhamos eles botam a mão firmemente nas nossas cabeças e invocam Jesus numa pregação ininterrupta. Perdi as contas de quantos fiéis entraram em transe, foram muitos. Alguns estremecem ali mesmo, entre as cadeiras, e os obreiros os assistem no ritual para expulsar tudo de diabólico que os domina. Ao meu lado vejo um homem chorando quase que inconsolável após uma tremedeira intensa. Mas não era tudo. Os casos mais severos são levados para cima do palco, junto ao pastor e seus assistentes mais graduados. Sete pessoas, três homens e quatro mulheres estão ali - e estão simplesmente incontroláveis. Se debatem, choram,

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gritam, desmaiam. O pastor pede que um assistente leve uma mulher a frente e o que se passa me parece produto de ficção. Com a câmera ao lado, de microfone em punho, o pastor entrevista uma mulher com os traços desfigurados de tão tensionados. Quando pergunta qual é o seu nome, ela responde, com uma voz tão desfigurada quanto o rosto: eu sou a Pomba Gira! Eu vim destruir o casamento dessa mulher! Essa é uma entrevista com um espírito do Diabo, diz o pastor. Aí se faz um dos poucos silêncios a que me referi - e esse silêncio diz muito. O assombro é geral, mas nenhum em tom de descrença. Aos poucos começam orações pela salvação da mulher, logo depois as rezas formam um coro estrondoso. A entrevista segue nos tons do sobrenatural até que os pastores se reúnem na volta da possuída em um momento de êxtase. Num clímax efervescente clamam aos berros pela ajuda do Senhor para expulsar aquele espírito e devolver a Deus o destino daquela vida. De tudo que já vi, essa foi uma das coisas que mais demorei em acreditar que acontecia. Algumas pessoas do meu lado choram. A mulher dá um grito e apaga. O pastor a abençoa. Ela volta ao normal e perde o fôlego de tantas lágrimas em agradecimentos a Jesus. É impossível não pensar que se viesse até mim uma revelação, vai que tenho uma visão ali no meio, me converto para a vida inteira, faço propaganda com Malafaias, abraço Felicianos, testemunho sobre minhas passadas degenarações, seria um bom garoto propaganda. Jesus queimará os espíritos do Diabo! continua o pastor, já iniciando os procedimentos finais. Ou então, vai que meus olhos reviram e digo sou Jesus vim para abençoá-los, saio flutuando, agradeço aos fiéis pela lealdade e pelo farto salário, eu disse que voltaria e cá estou, ajoelhem-se que é chegada a hora do Apocalipse e só aqueles que ofertaram irão para seu lugar já estabelecido no Céu, cheques sem fundos não foram contabilizados e com os cartões de crédito há certa ponderação, não pensem que o Paraíso é dado às extravagâncias financeiras. Mas não. Dos calafrios que senti, nada de celestial me veio. Quando volto atordoado à rua penso em quanto me impressiono: o pastor, a igreja, os discursos. Tudo é um choque, tudo desnorteia. Há uma coisa, porém, que se percebe muito mais, que toca muito mais lá dentro de qualquer coisa que se pareça com alma. Essa coisa se vê nos olhos das pessoas que dizem os tantos améns, que ofertam o quê por vezes não possuem na promessa de que aquele deus possa se lembrar por um momento delas. Uma coisa que me impressiona mais que o choro dos possuídos: é que há, em cada um daqueles olhares, uma das maiores sinceridades que já vi. Existisse um deus e ele não acreditaria no tanto que acreditam nele.


Centauro: Consiste na fricção da vagina na nuca do parceiro (ou parceira), as

X da questão: Fricção bunda com bunda. O casal fica de costas um para o ou-

coxas podem apertar a cabeça de quem divide este momento sui generis com você. É a junção de duas áreas erógenas de grande potencial, sensação frio na nuca plus ereção do clitóris. Segundo estudos, foi a posição mais praticada na ilha de Lesbos até 590 a.C. Nível de dificuldade: simples.

tro, friccionando os glúteos. Os braços de ambos devem ficar eretos. Os movimentos podem ser de cima para baixo ou da esquerda para direita (alternando conforme o gosto e política). Atenção para a postura, para que ambos atinjam prazer, cada um deve estar formando a letra V com seu corpo. Nível de dificuldade: difícil.

A visita da minhoca

: Pode ser feita de pé, deitado, ou em cima da mesa. O parceiro coloca o dedão do pé, com delicadeza, na orelha da parceira (ou vice-versa). Em um movimento de vaivém - é recomendado que se corte a unha para evitar arranhões e possível surdez - você estará ativando o famoso ponto H. A fusão do dedo do pé com a orelha ativa a zona erógena beta que pode levar os dois ao orgasmo imediato. Nível de dificuldade: médio.

União Divina: consiste no encontro

do cotovelo com a virilha. As diferentes texturas da pele causam frio na espinha. Enquanto isso, experimente girar a cabeça de um lado para o outro com intuito de maior relaxamento. Esta posição pode ser realizada de diferentes modos, cabe a sua criatividade decidir qual é a melhor para você e seu parceiro. Nível de dificuldade: simples.

Limpando o salão

Em uma jornada épica e espinhosa, o grupo de historiadores e antropólogos do Tabaré partiu em viagem a Índia. O motivo? Foram descobertas novas posições do Kama Sutra, e é claro que este jornal não deixaria por menos, bancamos a pauta. Afinal das contas, como já diria o gran Sigmund, a sede de conhecimento parece ser inseparável da curiosidade sexual. Confere em primeira mão, diretamente de Nova Déli, quais são as novas posições e o que elas trazem de novo pra apimentar tuas manhãs, tardes e noites. Hedonistas, tremei! Tradução do sânscrito: Jessica Dachs Ilustrações : Frederico Stumpf

Tríade: Preliminar excitante onde o parceiro ou a parceira coloca joelho entre

nádegas do outro. Se recomenda que a pessoa que receberá o joelho esteja de quatro. Dependendo do gosto, os movimentos podem ser acelerados ou lentos. É necessário algum equilíbrio. Nível de dificuldade: difícil.

: Esta posição é recomendada às mulheres e homens que tem parceiros com pênis pequeno ou fino. Ela consiste em introduzir o pênis no orifício nasal. Vatsiaiana diz que as sensações proporcionadas por esta posição se comparam a ingerir bebidas alucinógenas. Nos anos 60 foi praticada por segmentos pós-hippies, e logo abandonada, pois nem os próprios conseguiram lidar com o Tabu da coisa toda. Nível de dificuldade: simples.

Aquiles

: Preliminar que consiste na mordida do calcanhar. Praticada pelos antigos gregos, a posição acabou gerando o famoso mito de Aquiles. As mordidas podem ser ténues ou intensas, depende do gosto do parceiro. Se recomenda alternar entre os dois calcanhares para não dificultar a vida pós-coitum. Nível de dificuldade: simples.

Flores Astrais: Lambida na axila. Um dos parceiros lambe a axila do outro.

Com ou sem pelos as sensações são exorbitantes. A axila ou vox populi sovaco, é uma área erógena com maior potencial que o clitóris e a glande peniana. Para evitar intoxicações, é recomendável que não se utilize desodorante antes da ação. Nível de dificuldade: simples.

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TABARÉ

cozinha de vira-lata é a rua [Jonas Lunardon]


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