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São suspensos os prazos de cujo de
Rui Paula Restaurante DOC
É um problema muito grande, os grupos foram todos desmarcados, pelo menos até julho. Não temos gente a comer e portanto é uma catástrofe. Estamos a cumprir com todas as nossas obrigações até ao final do mês e depois temos de ver como vai ser, organizar o negócio. A quebra é de 90%, não só no DOC mas em todos. Um negócio destes para ser sustentável tem que ter clientes, não havendo clientes não há muito a fazer. Poderá haver medidas que ajudem durante um mês ou dois mas depois disso, não havendo clientes não há nada que se possa fazer, vai tudo por água abaixo. As medidas mais imediatas seriam, por exemplo, que os senhorios não cobrem renda durante este período, que não se pague água e luz, ou pelo menos não a totalidade, o mesmo com os impostos, que haja uma linha de ajuda, que o layoff seja simplificado… um conjunto de situações para as quais devemos estar todos no mesmo barco, todos a ajudar. Isto é transversal a toda a gente, não só na restauração mas também na hotelaria, os hotéis também estão a sofrer como nós. Esta situação pode ter implicações sociais porque só eu tenho à minha responsabilidade mais de 90 postos de trabalho, é muita gente. Mesmo a nível de fornecedores, isto é como um baralho de cartas, quando cai a primeira carta o castelo desmoronase. Não há hipótese, isto é uma calamidade. Ninguém estava preparado para isto até porque nem os nossos pais ou avós passaram por algo semelhante. Ninguém tem culpa disto, só nos resta tentar minimizar os estragos. Neste momento ainda estamos abertos até que tenhamos as nossas obrigações cumpridas, depois vamos fechar até porque temos autorização para atender um terço da capacidade do restaurante mas já nem esses clientes temos.
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Manuel Osório Restaurante Castas e Pratos
Encaramos esta situação com muita preocupação. No início, como quase toda a gente, olhamos para isto com alguma leviandade mas agora com muita preocupação. Desde logo por uma questão de saúde pública, por isso também já fechamos o restaurante. É a primeira vez que fechamos em 12 anos, era a única coisa que se impunha. Havia uma preocupação com os nosso colaboradores, clientes e fornecedores, por isso tomamos esta decisão, que foi muito difícil. No futuro acho que vamos ultrapassar isto mas vejo aqui uma questão económica muito grave. No nosso caso estamos a falar de 20 colaboradores, 20 famílias que dependem de nós. Depois de janeiro e fevereiro, que são meses que sabemos que são fracos e que usamos para outras situações como formações, férias, etc, os próximos meses seriam de recuperação até pelo período de Páscoa que se avizinha mas, com tudo isto, não sei como será o futuro. É uma situação muito grave que ainda não sabemos como vamos combater. O cancelamento de reservas foi exponencial, fomos deixando de receber reservas para começar a receber cancelamentos e, o que me preocupa é que já foram canceladas reservas para abril e maio. Isto perspetiva um futuro muito complicado para o turismo, mais especificamente para o Douro.
Carlos Monteiro CM Tours
Estamos a encarar esta situação como uma situação dramática visto que 99% do nosso core business são os passeios turísticos e de há uma semana para cá as nossas reservas desapareceram. Já paramos de laborar até porque para nós é mais importante olhar para os nossos funcionários, para os nossos clientes e, sobretudo, para a população em geral. Na noite em que Donald Trump anunciou o fecho do espaço aéreo tivemos cerca de 150 cancelamentos. Nós trabalhamos muito o mercado norte americano e partir desse momento foi uma limpeza geral a nível de reservas. As nossas preocupações agora são inúmeras, desde logo a partir do momento em que paramos deixamos de ter fonte de receitas, temos 20 famílias para alimentar, não sabemos quando é que isto vai voltar a uma normalidade. Do meu ponto de vista o ano de 2020, em termos turísticos está perdido até porque, no final disto as pessoas vão ter que ganhar novamente confiança para poder viajar. Estou bastante preocupado deste hoje até à incógnita até porque temos bastantes responsabilidades e muitas famílias a depender de nós.
Alice Carneiro Original Douro Hotel
Inicialmente temos que perceber quanto tempo isto se vai prolongar, é tudo muito imprevisível e não sabemos os reais efeitos que vai ter. Os cancelamentos não param de chegar, são diários… Entretanto temos já os funcionários em casa sem uma resposta para lhes dar para que eles se sintam seguros por exemplo ao nível de salários. Principalmente esta questão gera uma enorme preocupação. Os cancelamentos são diários, o pico foi na sexta-feira quando o Governo anunciou diversas medidas. A partir desse momento refletimos sobre o que íamos fazer e acabamos mesmo por fechar. Em 24 horas ficamos com o hotel a zero quando a previsão era de ter 100% de ocupação. Falta perceber o que poderá vir daqui, se depois desta quarentena como é que o país se vai reerguer a nível de turismo. Neste momento a incógnita é o maior inimigo, não saber quanto tempo esta situação vai durar e como é que as pessoas irão reagir no depois.
O Município de Freixo de Espada à Cinta candidatou ao Património Cultural, no âmbito do NORTE 2020 - Programa Regional Operacional Norte, a operação “Requalificação e Valorização do Castelo de Freixo de Espada à Cinta e sua Envolvente” num total de 1.867.893,00€, cofinanciada pelo FEDER em 1.587.709,05€. Com este projeto, a Autarquia pretende “requalificar uma importante parcela da zona histórica, garantindo a preservação e, obviamente, melhoramento”, referiu Maria do Céu Quintas, Presidente da Câmara. O projecto de requalificação, que une o medieval com a modernidade, contempla quatro torres com alturas que oscilarão entre os 9,65m (Torre N) e os 27,70m (Torre S), concebidas em aço, a que se acrescenta um passadiço que permitirá a circulação pedonal na envolvente das muralhas, bem como um Centro Interpretativo do Castelo de Freixo de Espada à Cinta. ▪
Região Palestra “Mão-de-Obra no Douro Vinhateiro” adiada devido ao Covid-19
Marcada para o próximo dia 20 de março, a palestra “Mão-de-Obra no Douro Vinhateiro”, organizada pela Prodouro foi adiada para data ainda a determinar devido à pandemia Covid-19 Contactado pelo VivaDouro, Rui Soares, presidente da associação Prodouro agradece a todos os interessados em participar no evento, contudo afirma “ser de maior interesse para a região do Douro” adiar.
O responsável afirma ainda que a palestra será remarcada “para data ainda a indicar”, sublinhando o interesse do tema para a região. Relembramos que para o evento estavam já confirmados dois nomes, Miguel Martinho Afonso e José Sanfins, dois portugueses de sucesso em França e que darão o seu testemunho à plateia, bem como Manuel Carvalho, diretor do jornal Público, que seria o moderador. ▪
Alberto Júlio da Silva Fernandes Co-fundador do VivaDouro
Um jornal regional, coincidente com a área geográfica dos dezanove concelhos que integram a CIMDOURO, de distribuição gratuita e fiel ao princípio básico de que "...os factos são factos, mas a opinião é livre". Assim foi apresentado, em Novembro de 2014, nas IX jornadas Cooperativas, em S. João da Pesqueira. Assim continua. Estivemos na génese do Projeto, cujo primeiro número foi editado em Abril de 2015, e acompanhamos, com orgulho, o êxito do seu percurso ao longo destes cinco anos. O VIVADOURO preencheu uma lacuna, servindo a Região e o País, sendo hoje uma referencia na comunicação social duriense. Em meu nome pessoal e da Associação dos Amigos de Pereiros, o nosso agradecimento e as mais vivas felicitações, com votos de longa vida e redobrado sucesso.
Fontainhas Fernandes Reitor da UTAD
Numa época marcada pela imprevisibilidade e pela globalização da informação e do conhecimento, os meios de comunicação social de âmbito regional continuam a desempenhar um papel muito importante ao informar, mas também ao aproximar os cidadãos em causas comuns. O percurso do VivaDouro tem sido pautado por um forte envolvimento com a região, privilegiando dinâmicas coletivas que capacitem e envolvam os durienses e as suas instituições, sem prejuízo da sua autonomia, numa envolvente cada vez mais global. Indubitavelmente, o VivaDouro tem promovido o debate de temas que preocupam a região, como o esvaziamento demográfico, o elevado índice de envelhecimento e os baixos níveis de rendimento médio da população baixo em relação à média nacional. Mas, também tem publicado interessantes textos de opinião sobre temas determinantes para a sustentabilidade da região. No específico do Douro, para que seja mais inovador, competitivo e sustentável, face aos desafios e oportunidades com que se defronta, bem identificados em determinados artigos, o VivaDouro tem representado um espaço de debate e avançando mesmo com ideias e propostas de ações, no sentido de potenciar a capacidade e competitividade do território. Tem sido claro que na época da economia do conhecimento, as regiões tornam-se competitivas se possibilitarem a atração de trabalhadores do conhecimento, que o criem e apliquem no desenvolvimento de atividades que propiciem crescimento económico e atraiam talentos para a região. Esta é uma mensagem que tem estado presente no VivaDouro. Neste tempo complexo e de incerteza, espera-se que o VivaDouro continue proactivo, coeso e plural, mantendo o seu firme compromisso na diversidade de pensar e agir, de forma a manter vivas as causas do Douro. > Edição nº 0 do VivaDouro 5 anos
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Contacte-nos em: geral@vivadouro.org - www.vivadouro.org Ano 5 - n.º 60 - março 2020 Diretor: Miguel Almeida - Dir. Adjunto: Carlos Almeida Preço 0,01€ Mensal
> Págs. 6, 7 e 8
Luís Pedro Martins: Um ano à frente do Turismo Porto e Norte de Portugal
Município quer fechar ciclo do plástico com projeto inédito Vila Real Fontainhas Fernandes, pai e reitor a tempo inteiro
5 anos VivaDouro VivaDouro comemora quinto aniversário Reportagem Médicos estrangeiros exercem na região
Manuel Cabral Ex - presidente do IVDP
Cinco anos é, simultaneamente, pouco e muito tempo, dependendo da perspetiva. Para a terra é quase nada, para o homem é pouco, para um jornal é muitíssimo. Solicitado, desde a primeira hora, para colaborar regularmente com o VivaDouro, fi-lo com o maior gosto durante cerca de 4 anos, convencido que estou da importância que tem a imprensa regional para a identidade dos territórios. O Douro Vinhateiro , "património cultural evolutivo e vivo", será o que forem as suas gentes, cientes e ciosas da responsabilidade herdada e que querem transmitir aos vindouros. Só mantendo o equilíbrio entre a ligação às origens telúricas e a inelutável globalização, conseguiremos defender a diversidade e a multiculturalidade, determinantes para a nossa sobrevivência coletiva. A capacidade que o VivaDouro tem tido de manter a relação entre as instituições e personalidades da região com os nossos concidadãos, residentes e da diáspora, permitindo um verdadeiro diálogo com o leitor, fazem com que este se sinta em casa nestas páginas. E esse é, sem dúvida, o principal objetivo de qualquer órgão de comunicação social, mesmo daqueles que vivem principalmente no mundo digital: convocar as instituições, convocar os leitores, enfim, convocar os cidadãos para o diálogo cultural e identitário. Viva o VivaDouro, com quem espero um reencontro constante nos próximos anos.
Emídio Gomes Ex - presidente da CCDR/N
A imprensa regional e a sua sustentabilidade são sempre um forte desafio, em especial num momento em que jornais e revistas sofrem uma forte pressão dos mercados e se tentam adaptar aos novos desafios do acesso digital. O VIVADOURO é, por isso mesmo, sobretudo um enorme sinal de esperança neste domínio. Dentro dos objetivos que traçou acredito que o VivaDouro tem cumprido a missão para que foi criado. Em espacial pelo cuidado nas temáticas que aborda. Esse é o maior e mais difícil dos desafios: Tentar informação global, mas com impacto regional. É um caminho longo e difícil, mas o único que vale a pena percorrer. Algumas melhorias podem sempre acontecer, em especial centrando o seu foco no acompanhamento da concretização efetiva dos sucessivos anúncios, promessas, que vão acontecendo sobre medidas para a dinamização económica e social do interior, neste caso centrado no Douro. Esse acompanhamento em permanência é fundamental.
Crianças premiadas no Correntes D’Escritas
A turma A do quarto ano da Escola Básica José Manuel Durão Barroso viajou até à Póvoa de Varzim para receber mais um prémio literário. O Espelho do Xavier, trabalho dos pequenos Armamarenses, foi distinguido com uma Menção Honrosa pelo júri do concurso Prémio Conto Infantil Ilustrado, atribuído no âmbito encontro Correntes D’Escritas 2020, que se realizou este fim de semana no Casino da Póvoa. Encerramento de equipamentos municipais e serviços Pelo quinto ano consecutivo as crianças de Armamar vêem o seu talento reconhecido e premiado num concurso nacional. Agora segue-se a publicação deste trabalho literário em livro. O Correntes D’Escritas é um encontro de escritores de expressão ibérica que se realiza anualmente na Póvoa de Varzim desde o ano 2000, quando se assinalou o centenário da morte do escritor Eça de Queirós, nascido naquela cidade em 1845. ▪
Devido à situação presente relacionada com a pandemia do COVID-19, a Câmara Municipal de Armamar tomou decisões relativas ao funcionamento dos equipamentos municipais e serviços que resultam na necessidade de encerrar, desde o dia 13 de março e por tempo indeterminado, os seguintes espaços: Biblioteca Municipal, Edifício Sede do Município, Espaço Cidadão, Espaço Internet, Gabinete de Inserção Profissional, Gabinete Técnico Florestal, Loja Interativa de Turismo, Pavilhões Gimnodesportivos, Piscinas Municipais e ginásio. Em caso de manifesta necessidade e urgência de contacto com os serviços municipais, nomeadamente os disponibilizados no edifício sede, devem os munícipes e demais públicos contactar pelo telefone número 254 850 800 ou através do endereço de correio eletrónico atendimento@cm-armamar.pt. A autarquia informa ainda que estão também suspensas a Feira Quinzenal e a cedência de viaturas municipais a entidades externas ao município. A Câmara Municipal continua a acompanhar de perto a evolução da situação no nosso país e no território do concelho. No entanto, reforça-se o apelo para que estejam atentos às recomendações das autoridades de saúde e de segurança competentes, seguindo as indicações transmitidas num espírito de serenidade, sentido de responsabilidade e sentido cívico. Relativamente ao funcionamento dos equipamentos municipais e serviços, conforme a evolução desta situação novas informações serão veiculadas quando existirem. Edifício sede do município Os contactos serão feitos por telefone e/ou correio eletrónico. O atendimento presencial só será possível mediante prévia marcação. Espaço Cidadão Seguindo as orientações a nível nacional, encontra-se encerrado. Todos os restantes equipamentos municipais estão encerrados desde o dia 14 de março. O serviço de mobilidade Armamar Sim está suspenso. Nas próximas horas será apresentada solução alternativa. A leitura dos contadores de água e a respetiva cobrança feita ao domicílio pelos trabalhadores do município está suspensa. Os pagamentos de serviços prestados pelo município como água, refeições escolares e outros ao balcão estão suspensos. Esses pagamentos, feitos fora do prazo, não sofrerão qualquer tipo de agravamento, nomeadamente cobrança de juros de mora ou processos de execução fiscal. Estão interditados os parques infantis, zonas de lazer, parque geriátrico e similares em todas as freguesias do concelho. Prevenção do Burnout nos Professores
Conforme disposto no artigo 16 do Decreto-Lei n.º 10-A/2020, de 13 de março, a Câmara Municipal de Armamar aceita, para todos os efeitos legais, a exibição de documentos suscetíveis de renovação cujo prazo de validade expire a partir da data de entrada em vigor do citado decreto-lei ou nos 15 dias imediatamente anteriores ou posteriores. O cartão do cidadão, certidões e certificados emitidos pelos serviços de registos e da identificação civil, carta de condução, bem como os documentos e vistos relativos à permanência em território nacional, cuja validade termine a partir da data de entrada em vigor do presente decreto-lei são aceites, nos mesmos termos, até 30 de junho de 2020. A Câmara Municipal discutiu e analisou outras medidas a implementar, em conjunto com outras entidades locais, que serão divulgadas logo que estejam reunidas as condições necessárias para a sua execução. ▪
Teve lugar esta semana no Agrupamento de Escolas de Armamar uma sessão relacionada com a “Prevenção do Burnout nos Professores”. A ação, conduzida por Lurdes Neves em parceria com o Projeto Oportunidade, Promoção e Transformação na Ação (OPTA), teve por objetivo ouvir os docentes participantes e dar a conhecer uma síndrome que vem afetando o setor profissional dos professores. A síndrome de Burnout é um distúrbio emocional que se manifesta pela exaustão extrema, elevado stress e esgotamento físico e psicológico, resultantes de contextos de trabalho muito desgastantes. Os docentes expuseram as suas dúvidas e ficaram a conhecer exercícios de relaxamento que podem fazer ao longo do dia para prevenir a acumulação de stress. ▪
Eduardo Graça
Presidente da Direção da CASES
Economia Social – na primeira linha do combate às crises
A Economia Social contemporânea é herdeira de uma tradição histórica longa e pujante que muito tem contribuído, ao longo do tempo, para a coesão social, em particular nos perío- dos de maiores dificuldades do país, das co- munidades e do povo português. Foi assim no período da crise iniciada em 2008 e assim será, estamos certos, face à presente pan- demia. Este setor constitui-se, indubitavelmente, como um conglomerado económico/social com peso relevante na economia e na so- ciedade portuguesa a todos os níveis, em particular na produção de bens e serviços transacionáveis e na ação social comuni- tária, integrando no seu perímetro um vasto conjunto de entidades de natureza jurídica diversa, autónomas, que a Conta Satélite da Economia Social (CSES), produzida pelo INE com apoio da CASES, permite conhecer nas suas variadas dimensões, quantitativas e qualitativas. Segundo dados de 2016 da última versão da CSES, face a 2010 o número de entidades da Economia Social aumentou 29,8%, cifrandose em mais de 61.000 entidades, o VAB aumentou 13,1%, (3% do VAB total), o emprego remunerado 3,5% (6,1% do emprego remu- nerado total), registando neste período, em todos os indicadores macroeconómicos, um desempenho significativamente mais fa- vorável que a economia nacional, mostrando a sua resiliência a situações de crise contri- buindo, de forma relevante, para a coesão social. A Economia Social é, pois, uma realidade consolidada em Portugal, consagrada na Constituição da República e na Lei de Bases da Economia Social - Lei n.º 30/2013 de 8 de maio - que “estabelece, no desenvolvimento do disposto na Constituição quanto ao sector cooperativo e social, as bases gerais do re- gime jurídico da Economia Social, bem como as medidas de incentivo à sua atividade em função dos princípios e dos fins que lhe são próprios.” No período que decorreu de meados de 2010 até ao presente, no plano institucional, com a criação da CASES, do Conselho Nacional para a Economia Social (CNES) e, mais re- centemente, da Confederação Portuguesa de Economia Social (CPES), assistiu-se a um assi- nalável progresso do setor, contribuindo para assegurar a continuidade e previsibilidade de políticas visando o desenvolvimento da Eco- nomia Social, favorecendo a confluência de interesses e vontades entre o poder público (através do Governo) e os parceiros privados, através das suas entidades representativas. Cooperativas, mutualidades, associações, fundações, misericórdias e todas as enti- dades com estatuto de IPSS, estão sempre na primeira linha, pela sua proximidade às co- munidades locais, natureza e experiência ad- quirida, de combate a todas as situações que ponham em risco a segurança e bem-estar dos cidadãos. Sempre assim foi e assim será.
Domingos Nascimento
Presidente da Agência Social do Douro
O abraço no Douro!
Escrever nesta altura de desas- sossego planetário é um exercício de frustração.
Frustração face ao contexto concreto, provo- cado por um vírus muito discreto.
Discreto mas galopante. Sem fronteiras nem barreiras.
Que dizer do nosso Douro neste momento de confronto com as vulnerabilidades do ser humano?
Será que importa continuar a dizer que o Douro é fruto da força de homens e mulheres que nunca acreditaram nem pensaram na finitude.
Será que importa continuar a falar na sua beleza extraordinária, na sua indiscritível e paradoxal leveza, num contraste de montes e vales e rios, parecendo um desenho numa plana folha de papel.
Será que importa referir a sua heterogenei- dade, demográfica, orográfica, cultural, agrí- cola, de tecido empresarial, de produtos e suas transformações, de níveis de vida e de ambições.
Será que importa ainda falar das suas incon- sistências, injustiças e deficiências. E será que importa falar do seu passado, das oportunidades do presente e dos desafios para o futuro.
Não sei a resposta. Não sei se nesta crise bi- ológica que condição nos será imposta. Mas sei que do desassossegante contexto, sairemos mais fortes e unidos.
Para uma estratégia clara e inclusiva. Neste Grande Douro fantástico!
Espaço Miguel Torga contou com mais de noventa e nove mil visitantes online em 2019
O sítio oficial na internet do Espaço Miguel Torga (EMT) foi visitado no ano de 2019 por 99 300 pessoas, número que corresponde a um aumento de 57,3% relativamente ao ano de 2018. Inaugurado em junho de 2016, o site conta com um total de mais de 240 mil visualizações, sendo o ano 2019 o melhor ano de sempre neste aspeto. É de salientar que estes números são reflexo do desenvolvimento das estratégias de comunicação desenvolvidas pelo Espaço Miguel Torga de forma a oferecer aos visitantes mais e melhor informação aos seus visitantes, tendo neste sentido conseguido uma disseminação positiva assente na premissa de que todos tenham acesso a toda a informação partilhada pelo Espaço Miguel Torga, quer ao nível da vida e obra de Miguel Torga, que ao nível das notícias, eventos, fotografia, vídeo, informações
gerais e outras que o EMT disponibiliza. Para além do site, o EMT está também presente em várias redes sociais, como o Facebook, Twitter e recentemente o Instagram, onde está a desenvolver a sua estratégia de comunicação de forma segmentada e com linguagens próprias, de forma a chegar ao maior número de pessoas, em todas as faixas etárias e todos os pontos do mundo falado em português. O Espaço Miguel Torga, situado em São Martinho de Anta e projetado por Eduardo Souto de Moura, uns dos arquitetos mais reconhecido da atualidade internacionalmente, com obras pre
miadas a nível mundial, abriu as suas portas ao público em outubro de 2014 e divulga e estuda a obra poética e literária de Miguel Torga. É através de eventos culturais, a nível da literatura, poesia, pintura, música, e outras, que dá ênfase a este tão grande nome a nível internacional. ▪
São Pedro apresentou-se em concerto inédito no EMT Oito toneladas de bens para ajudar São Tomé e Príncipe
S.Pedro Banda, o projeto do músico Pedro Pode, que também é MC de hip-hop e baterista, apresentou-se, no passado dia 07 de março, num concerto de formato especial no Novas Canções da Montanha - NCM do Espaço Miguel Torga. Neste que foi o segundo espetáculo da edição de 2020 do NMC, o público presente teve oportunidade de assistir ao vivo às versões em quarteto das músicas do mais recente álbum do projeto e onde não foram esquecidos os maiores êxitos de S. Pedro. Em entrevista ao EMT, no final do concerto, a banda revelou algumas curiosidades sobre o projeto, o concerto realizado e outros pormenores, que poderá descobrir brevemente nos nossos meios de comunicação. O próximo nome do Novas Canções da Montanha será anunciado brevemente. ▪
A Associação Douro Histórico, através de um projeto de cooperação que tem estabelecido com Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, promoveu uma Campanha de Solidariedade de recolha de bens variados, como materiais escolares, roupas, livros e jogos, para ajudar a Câmara Distrital de Caué, em São Tomé e Príncipe, que resultou num total de oito toneladas de bens que partiram no dia 06 de março de Sabrosa em direção ao seu destino final. Envolvidos no processo de doação estão os sete municípios representados na Associação Douro Histórico, algumas das delegações da Cruz Vermelha Portuguesa da região duriense e entidades e particulares que se associaram a esta iniciativa. Estes bens serão entregues ao seus beneficiários no dia 18 de abril em Caué pelos representantes da associação, que contam com esta entrega ajudar na melhoria das condições de vida dos habitantes locais. ▪
VIVADOURO MARÇO 2020 24 Vila Nova de Foz Côa As amendoeiras entre dois patrimónios
Vila Nova de Foz Côa encerrou, no passado dia 8 de março, a “Festa das Amendoeiras em Flor e dois Patrimônios Mundiais”, com um desfile etnográfico que reuniu mais de 350 participantes.
O dia solarengo convidou milhares de visitantes, nacionais e estrangeiros, para aquela que é já um ex-libris das celebrações locais, a “Festa das Amendoeiras em Flor”, naquela que foi a sua 39ª edição. A fechar um longo cartaz de um mês de celebração com dezenas de eventos (atividades, feiras, exposições e concertos, etc), o desfile etnográfico é um dos momentos mais esperados por todos, pela sua grandiosidade e envolvimento das gentes foz-coenses, com a participação de cerca de 50 carros alegóricos. Para João Paulo Sousa, vice-presidente da autarquia e responsável pela organização deste desfile o balanço experimental é positivo. “Só neste desfile, diretamente, participaram mais de 380 pessoas, por isso acho que estamos todos de parabéns. Todos os anos é um ano novo o que nos obriga a ser mais ativos e mais criativos. Este ano tivemos cerca de 50 carros que fizeram o desfile completo sem qualquer tipo de incidente. O balanço é claramente positivo. Este é um desfile etnográfico, não se vê aqui praticamente nenhum carro mais “carnavalesco”, é muito ligado aos nossos usos, costumes e tradições”. Olhando para todo este mês de celebração o responsável autárquico faz o mesmo balanço sublinhando o número de visitantes que chegam ao concelho ao longo destes dias e o envolvimento de toda a comunidade local. “Este ano ultrapassamos todas as expectativas em termos de adesão, só no primeiro fim-de-semana eu próprio recebi pessoalmente mais de 2500 pessoas. Esta é uma festa de um mês e verifica-se que está muita gente. O balanço global é muito positivo. Esta festa é para grandes massas e conta com a participação das diversas associações e juntas de freguesia do concelho, das mais diferentes formas, seja na organização de algumas atividades, seja na participação neste desfile. O retorno é sempre muito agradável e isso fica bem patente na opinião que os comerciantes nos fazem chegar, sejam os da área da restauração sejam aquelas lojas que vendem os produtos
típicos da nossa região. De facto Foz Côa é a capital da amendoeira em flor, mesmo os concelhos nossos vizinhos que realizavam também uma festa com este tema acabaram por optar por outras soluções, e por isso dou-lhes os meus parabéns. Desde o início, e já lidero este processo há 12 anos, a ideia sempre passou pri
meiro por envolver as pessoas de cá, os foz-coenses e depois então chamar o público, não só para estes dias mas que estes momentos sirvam para que essas pessoas voltem depois ao longo do ano com mais calma para conhecerem melhor o concelho de Foz Côa, e este objetivo eu considero que foi conseguido”. ▪
VIVADOURO MARÇO 2020 25 São João da Pesqueira Saberes e sabores contam história do concelho
Durante três fins de semana, em São João das Pesqueira, os saberes e sabores locais ajudaram todos quantos visitaram aquele concelho duriense, a conhecer as suas tradições e os seus costumes.
“O município de S. João da Pesqueira dedica muito do seu esforço à criação de condições e promoção vitivinícola e enoturística no concelho, e não podia descurar, também, outras atividades que vêm reclamando alguma merecida visibilidade, de acordo com a sua importância e excelência crescentes, nomeadamente a produção de frutos secos, a maçã, os produtos da terra, ou o mel, as compotas, o azeite, o fumeiro, entre tantos outros. Este certame, permitiu aumentar a sua visibilidade, indo ao encontro dos legítimos interesses dos produtores que se dedicam a estas atividades, que pretendemos valorizar dando a conhecer, para além do seu impacto económico significativo, cumprindo, assim, a Festa dos Saberes e Sabores do Douro uma dupla função de divulgação e de apoio económico destes agentes. Se o município aposta muito em eventos como a Vindouro, no patamar de excelência reconhecido em que já está, mas num perfil e orientação diferentes, este certame é, porventura, o evento mais singelo, o mais genuíno, que o município promove, porque serve e chega exatamente à base, ao seu produtor mais direto, e que, nessa perspetiva e alinhamento, atrai facilmente produtores locais e de toda a região do Douro, num número muito significativo, a maioria até com carater quase de fidelização, e de ano para ano vem atraindo outros novos operadores atentos a estes eventos e à sua repercussão. A Festa dos Saberes e Sabores constitui um importante certame no nosso concelho em que procuramos aliar a gastronomia, a cultura, o artesanato, o turismo e a valorização dos nossos produtos, sendo importante a componente económica e a valorização da nossa cultura, mas também a criação de uma marca identitária deste concelho duriense, no conjunto de eventos desta natureza”, afirma o autarca Manuel Cordeiro à nossa reportagem. Por essa razão o edil afirma que esta XIII Edição da Festa dos Saberes e Sabores do Douro chegou ao fim “com um saldo muito positivo, foram 3 fins de semana em que divulgamos não só a nossa cultura e as nossas tradições, mas também os nossos produtos, o artesanato e a gastronomia”. Da extensa programação ao longo dos três fins de semana destacam-se os
fins de semana gastronómicos, com especial incidência nos pratos confecionados da forma mais tradicional de Javali e de Peixe do Rio, as já habituais Montarias ao javali (este ano promovidas pelos Clubes de caça e pesca de Ervedosa do Douro e de S. João da Pesqueira), o III concurso de Pesca na fantástica pista da Ferradosa, a animação exclusivamente à base de musica tradicional, de grupos locais, o I encontro de Bandas Filarmónicas, o I encontro de Universidades Seniores, e ainda a caminhada da amendoeira em flor. ▪
Corina Vilareal
Temos aqui azeite que é uma produção nossa e compotas que também são feitas com os produtos que temos nas nossas hortas e pomares, é tudo feito com o que temos. Nós somos da Pesqueira e para nós é importante estar aqui não só para vender diretamente mas também para divulgar. Como sou fornecedora de diversas lojas essa promoção que aqui faço é importante, nesta feira já fechei acordo com mais duas lojas que irão passar a vender os nossos produtos.
Mónica Pacheco
Nós temos um forno a lenha onde a minha tia faz estes produtos, desde o pão, as bolas de azeite, os biscoitos… de tudo um pouco. Tem dias em que se levanta às 3 da manhã para fazer isto tudo. Nós já fazemos esta feira há cerca de 12 anos e é praticamente a única que fazemos por uma questão de proximidade e de conseguirmos ter sempre produto a chegar quente. Todos os anos notamos que há mais gente a vir aqui, em especial de fora da Pesqueira.
VIVADOURO MARÇO 2020 26 Medicina com sotaque no Douro Reportagem
O número de médicos estrangeiros a exercer em Portugal atingiu, em 2019, o valor mais alto da última década situando-se atualmente nos 8% dos total dos clínicos em exercício. A região do Douro não escapa a estes números e a nossa reportagem falou com três médicos estrangeiros para perceber o que os trouxe até ao nosso país.
Texto e Fotos: Carlos Almeida
Cecília Peirone chegou a Portugal em agosto de 2016, vinda da Argentina. Chegada a Portugal tirou o mestrado em farmácia, na Faculdade de Farmácia do Porto, tendo depois concorrido para o Hospital de Vila Real onde atualmente é farmacêutica no serviço de oncologia. Como foi a decisão de vir para Portugal? Foi um projeto pessoal, foi uma mudança muito grande na minha vida porque eu tinha uma farmácia aberta ao público no meu país. Tive de mudar a minha profissão toda porque não tem nada a ver o trabalho da farmácia enquanto espaço físico com o trabalho de farmácia hospitalar, mas pronto, vendi a minha farmácia e vim cá. Apesar de alguns contratempos, profissionalmente a mudança correu muito bem, fiz muitos amigos e os meus filhos também se adaptaram bem a esta realidade.
Mas, já tinha filhos quando veio para Portugal? Sim, eu já não podia ter filhos quando vim, tive cancro do colo do útero. Os meus filhos já vieram feitinhos (risos),
o Facundo com 15 anos e a Maria com 6. Tenho outro que ficou na Argentina que já é mais velho, mas quis ficar lá, mas agora esta a pensar vir, pois ele trabalhava na Fiat, na área de comercio exterior e como o país esta assim um bocadinho complicado, ficou sem trabalho e já me perguntou “oh mamã que é que acha de eu ir para Portugal?” e eu respondo “a tua mãe esta à tua espera, podes vir quando quiseres (risos).
Vem da argentina para o porto, fazer um mestrado, porquê depois Vila Real e não o Porto? Porque o senhor que fazia o projeto de vida comigo tava aqui a trabalhar num hospital, e então viemos para cá, tivemos um ano em Gaia porque eu estava a fazer especialidade e agora estou a acabar o doutoramento na UTAD, na área da oncologia.
E como é estar em Vila Real? Eu gosto muito desta terra, é muito sossegada para educar e criar os filhos, é muito bom, é uma paz de alma, uma pessoa tem a certeza absoluta que os filhos estão bem, que não há perigo. Eu acho que para criar os filhos não há sitio melhor que esta terra.
Nunca sentiu que por falar uma língua diferente que as pessoas estranhavam? Agora já não. Toda a gente me conhece, além disso eu canto para os doentes, eles já sabem que eu acabo a quimioterapia e começo a cantar para eles, outras vezes trago a viola para ajudar.
Têm uma relação especial? Sim, mas no principio não falava nada português só falava castelhano, inglês e italiano, porque os meus pais são italianos, e custou-me um bocadinho, sobretudo na universidade.
Sente-se então completamente integrada aqui? Sim, completamente. Com os doentes não tenho dificuldade nenhuma, até porque eu já fui doente de cancro tenho uma conexão, eu sei o que eles estão a sentir.
E com os colegas? É assim, no meu serviço sou a única estrangeira e também tive alguns episódios menos felizes, aquela coisa de “uma argentina a dizer-me como fazer as coisas” mas eu não ligo a nada disso, problema não é meu, porque eu não sou racista, estou integrada, eu já sou do mundo, portanto eu não ligo e tento que as pessoas também não liguem a isso. O racismo é assim se a ti te afeta o racismo do outro tu também és racista, é tal e qual, portanto eu não, paz de alma e faço o meu trabalho, tenho pena que as pessoas não consigam ultrapassar... porque a diferença enriquece as pessoas, aprendendo umas com as outras, só que há gente que vê aquilo como uma ameaça.
Mas sente mais isso por parte de colegas ou sentiu isso muito por parte de doentes também? Não. Os doentes aqui são maravilhosos, pessoas são muito humildes, são muito... por vezes até eu gostava que eles se revoltassem um bocadinho e que reclamassem e eu digo a eles quando realmente a coisa é mesmo que ultrapassa todos os limites da humanidade eu digo “vocês são mesmo ovelhas, têm que reclamar, é o seu direito, você não esta a pedir nada de especial é só reclamar quando tiverem as condições que devem ter” da minha parte só tive uma reclamação de um rapaz que estava na medicina, um toxicodependente que chegou ao serviço e disse que tinha esquecido da receita, e eu quando entre
no computador dei conta que ele tinha faltado e que faltava regularmente as consultas e eu confrontei-o com a mentira e disse “Olhe é assim você faltou à consulta, começamos mal, não pode faltar pois tem que fazer o controlo, e isto não é brincadeira”, só que o senhor estava num mau dia e, tinha que fazer queixa, que não deu em nada pois quem tava incorreto era ele. Foi o único problema assim que me lembre que eu tive com um doente.
Neste momento o projeto é ficar por Vila Real? Sim, sim. Gosto muito disto, isto é qualidade de vida eu moro aqui na aldeia, a 5 minutos a pé e isso em Lisboa, por exemplo, não existe. Não entendo como é que as pessoas não querem vir para aqui, não entendo.
António Teira também é médico no hospital de Vila Real, o clínico espanhol chegou a Portugal em 2005. Natural da Galiza, Vila Real surge pela proximidade geográfica e pela relação que já tinha com alguns colegas do tempo da universidade. O que é que o fez vir para Portugal? Eu sou da Galiza que é muito perto de Portugal, e no meu curso havia uns colegas que eram de Portugal, eles fizeram o curso lá na Galiza e foram eles que falaram de que o exame de acesso à especialidade era mais cedo aqui do que seria em Espanha e foi um bocado nesse sentido, fiz o exame e correu bem, depois fiquei aqui.
E logo aqui em Vila Real? Não, eu fiz a especialidade no IPO de Coimbra e depois é que vim para cá para Vila Real que era um bocadinho mais ao norte e muito mais perto (de casa)...
Quando é que veio para Vila Real? Em 2010
10 anos aqui em Vila Real, como é que tem sido esta experiencia por aqui? A experiencia tem sido boa. Comparativamente com Coimbra aqui a população é diferente, está mais disseminada no território o que acaba por fazer com que tenhamos que abranger um território mais alargado. Aqui é também uma zona um bocado mais rural com menos transportes públicos o que coloca outras dificuldades.
Sim, mas os doentes desta zona reclamam menos informações, são um bocado mais práticos, pragmáticos, não tentam complicar. O que acontece muitas vezes é que as pessoas acham que nos grandes centros é que tudo se faz bem e quando optam por ir a um hospital num grande centro e percebem que vão fazer o mesmo que fazem aqui então entendem que essa diferença não existe. É um bocado aquela coisa de “santos da casa não fazem milagres”…
O ser estrangeiro nunca foi uma barreira no relacionamento com o doente? Para mim não, os doentes às vezes o que perguntam se sou brasileiro, embora, por exemplo, em Chaves, porque o nosso centro hospitalar também abrange Chaves, os pacientes dão conta que sou da Galiza pelo meu sotaque, mas não, dificuldades de comunicação eu para eles e eles para mim, não. Percebo-os perfeitamente, a duas línguas são muito semelhantes mesmo ao nível da fonética, depois é uma questão de hábito. Basicamente é como aqui em Portugal, de Vila Real para Coimbra há diferenças na forma de falar. É um país pequeno mas com muitas diferenças. Quer dizer que eu consigo diferenciar esses sotaques e não tenho problemas de comunicação. Algumas pessoas por vezes dizem que não percebem isto ou aquilo que eu digo e atribuem ao sotaque mas a verdade é que, mesmo que fosse em português não entendiam. É mais uma questão do vocabulário técnico que às vezes usamos do que propriamente o sotaque.
Disse-me que era bom estar mais próximo de casa, com que frequência é que vai à Galiza? Eu vou todos os fins de semana. Como normalmente trabalho às terças em Chaves venho direto de lá e na sexta feira regresso. Acabo por passar 3 noites em Portugal e 4 na Galiza.
Mas ainda se sente mais galego do que português? Sim. É como muita gente desta zona que é imigrante há 20 anos… eles sentem-se sempre portugueses, mas gosto muito de estar aqui.
Por agora o objetivo passa por continuar a fazer esta vida de andar entre Portugal e Espanha? Sim, para já sim, até porque embora seja outro país, é quase como se fosse uma província da Galiza, como se estivesse sei la, se eu estivesse a trabalhar noutro sitio de Espanha. Se, por exemplo, estivesse a trabalharem Madrid estaria mais longe de casa do que propriamente aqui em Vila Real.
Galyna Mendes é natural da Ucrânia, chegou a Portugal em 2003 e atualmente é uma das médicas do Centro de Saúde de Torre de Moncorvo, local onde também reside Em 2003, e começou logo a trabalhar como medica? Não, não foi logo mal cheguei, ainda foi um processo um pouco longo. Inicialmente não estava nos meus planos vir para Portugal mas o meu marido é dos Palop, veio para cá trabalhar e a ideia era eu vir com ele, foi essa a razão da minha vinda.
E quando chegou a Portugal é que começou a estudar medicina? Eu já tinha curso de medicina, já tinha especialidade em pediatria, na minha terra. Aqui não consegui exercer logo, porque a especialidade para ser válida, Temos que fazer uma avaliação, eu precisava de três anos para eu conseguir essa aprovação que não me foi logo
atribuída. Primeiro por causa da burocracia, depois porque a minha licenciatura não era reconhecida aqui, apesar de o meu curso ser muito semelhante ao europeu.
Durante esse tempo, não pode exercer aqui em Portugal. Poder, podia mas primeiro tinha que saber falar português, que era zero, eu comecei a aprender o alfabeto (risos). O reconhecimento da licenciatura foi o mais complicado, muitos obstáculos em termos burocráticos e ministério da educação. Depois acabou por ser reconhecida a nossa licenciatura, e já foi mais fácil. Reconheceram as licenciaturas de três países: Ucrânia, Rússia e Moldávia.
A partir dai já pode exercer à vontade? Não, a partir daí o percurso foi igual ao dos alunos que terminam o curso em Portugal, fiz o ano comum igual, concurso, prova nacional de seriação, escolher a especialidade, passar pela Ordem dos médicos, Ministério… tudo igual aos alunos de cá. A diferença é que ainda tive uma prova de aptidão de português, o que demorou mais um pouco.
Depois quando começou a trabalhar foi logo em Moncorvo ou não? Não, o ano comum fiz em Bragança, e depois a especialidade. Há quatro anos que sou especialista de medicina geral e familiar.
Neste momento está só a exercer aqui em Moncorvo? O meu local de trabalho é Moncorvo, sou medica de família em Moncorvo.
Como medica estrangeira, que dificuldades sentiu ao exercer a profissão? Agora já não é difícil. Eu acho que já somos reconhecidos por parte dos portugueses, eu não sinto grandes dificuldades.
Sentiu-se bem acolhida pelas pessoas daqui? Sim, muito bem. Como já fiz a minha especialidade aqui na zona já conhecia mais ou menos o ambiente, por isso é que também sempre quis ficar pelo norte de Portugal e acabei por ter sorte em conseguir uma vaga aqui em Moncorvo. É difícil, é uma zona rural e com uma população muito envelhecida, se não estou em erro este é um dos concelhos com a população mais envelhecida do distrito e nesse sentido foi um pouco diferente do que eu estava habituada no meu país.
Já passou por alguma situação menos agradável aqui no consultório? Nem por isso, eu acho que senti um bocadinho à parte por ser diferente, não é por ser estrangeira, mas por ser diferente na maneira de atuar
E o objetivo é permanecer por aqui? Não sei dizer quais os objetivos, também não era meu objetivo sair do meu país e vir para Portugal (risos). Sempre tive o objetivo de experimentar a medicina nos outros países, para ver como funciona, mas a ideia seria sempre regressar a casa, nunca sair definitivamente.
Nota muita diferença de ser médica aqui ou na Ucrânia? É diferente até porque eu lá exercia pediatria e aqui faço medicina familiar, é muito diferente.
Mas na forma de praticar a medicina, é muito diferente da Ucrânia para Portugal? Já passou muito tempo, eu terminei em 2000 já estamos em 2020, muita coisa mudou mas sim, é sempre diferente. Eu digo sempre que a União Soviética nos ensinou a estudar e nós na União Soviética aprendemos a estudar, e isso ajudou-me neste percurso. ▪
VIVADOURO MARÇO 2020 28 Vila Real Autarquia apresenta projeto para reduzir consumo de plástico
Em Vila Real a autarquia quer “fechar o ciclo do plástico”, como afirma Mafalda Vaz de Carvalho, vereadora do ambiente, à nossa reportagem, criando um projeto inédito que irá desde a recolha deste material até à construção de um parque infantil com plástico reciclado.
Com a crescente preocupação em torno deste material, a Câmara Municipal de Vila Real lançou o projeto “Para cá do Marão embalagens Não!" que começa na recolha de plástico em algumas das grandes superfícies comerciais da cidade, à qual se junta um conjunto de outras ações que pretendem diminuir o consumo de embalagens de utilização única. “A existência de máquinas que, em troca de depositarmos latas ou garrafas de plástico nos dão talões de desconto não são uma novidade, aqui sim mas no nosso país isto já é uma realidade. O inédito deste projeto não é nenhuma das ações de forma individualizada mas sim o facto de conseguirmos fechar o ciclo do plástico. É óbvio que isto começou pela colocação das máquinas mas isto despertou uma preocupação: não estaremos a potenciar a utilização do plástico para a utilização dos vales de desconto? A forma de combater este receio foi dar às pessoas a ideia da quantidade de plástico utilizado, ou seja, quantificada a quantidade de plástico recolhido iremos adquirir material reciclado para construir um parque infantil. Como é que vamos reduzir o consumo de plástico? Nos supermercados nossos parceiros vamos distribuir sacos reutilizáveis para frutas e legumes para que as pessoas possam usar. Vamos também distribuir garrafas reutilizáveis, em especial nas escolas, mas isto não chega porque hoje em dia já não existem bebedouros por isso vamos adquirir alguns para colocar precisamente nas escolas, onde os alunos poderão encher as suas garrafas”. O público escolar é, para a vereadora, “muito importante neste processo porque os queremos formar para esta preocupação desde muito cedo mas vamos também adquirir alguns bebedouros para colocar em espaços públicos, de acesso a toda a gente”. A ideia é colocar a população a repensar os seus hábitos e a refletir sobre a sua contribuição para a pegada ecológica do planeta. “A nossa ambição é que as pessoas entendam que o consumo de plástico tem que ser reduzido, assumindo nós, desde logo que ver o plástico como inimigo não é o caminho. O objetivo não é estigmatizar quem usa o plástico, temos que, cada vez mais, dar alternativas a esse material às pessoas para que deixem de o usar mas sem nunca apontar o dedo aos mais reticentes que continuam a usar o plástico. Queremos aumentar a consciência. Estamos a colocar em prática a política dos 5 r’s: reciclagem, redução, reutilização, repensar e recusar. Portanto, reciclamos nas máquinas, reduzimos através da instalação de bebedouros, reutilizamos na construção do parque infantil, repensar através de ações de sensibilização e o recusar com os sacos e as garrafas reutilizáveis que oferecemos”. O projeto contempla também a implementação de estruturas para a recolha de chicletes e de pontas de cigarro, cujo destino final é a reciclagem com vista, por exemplo, à produção de novos materiais como os “e-tijolos”. “A par desta candidatura foi feita outra para os ecopontos castanhos, para a redução de lixo em aterro. Também vamos distribuir compostores. A política ambiental não se resume ao pelouro do ambiente nem podia ser assim, senão continuaríamos no campo dos estudos e das hipóteses”. Mafalda Vaz de Carvalho revela ainda que, desde a apresentação do projeto, este tem suscitado a curiosidade de diferentes entidades da região com interesse em fazer parte desta mudança. “Desde que anunciamos a candidatura têm chovido dezenas de contactos de empresas e instituições que querem ser parceiras, é um projeto com o qual as pessoas se sentem bastante identificadas”. Promovido pelo município, o projeto envolve ainda a Resinorte, empresa responsável pelo tratamento e valorização dos resíduos sólidos urbanos, a Associação Douro Histórico, as cadeias de supermercados da cidade (Jumbo, Continente, Pingo Doce e Intermarché), a Águas do Interior Norte e ainda a Associação Douro Histórico. O projeto representa um investimento global de 750 mil euros e terá a duração de 2 anos. A candidatura foi submetida ao Programa Ambiente financiado pelo Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu – EEA Grants 2014-2021. ▪