Mar Invisivel

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Sónia Maria Santos

Mar Invisível

Goiânia - GO Kelps, 2012

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Universalidade dos Versos José Asmar*

Ao ler os poemas deste livro de Sônia Maria Santos a gente reconhece uma coerente extensão dos anteriores A Teia dos Dias e Casa do Tempo. Mas percebe, sobretudo, a profundidade contínua da inspiração, espontânea e expressa em palavras por si nos conduzindo a um paradoxo: o da redução do texto e a universalidade do sentido. Não é exagero. Sônia evita o jorro dos versos. Contenta-se com a fala natural e rica em mensagem tipíca, lembrando-nos a tendência metafórica dos hai-kais. Ouso dizer que se trata de uma poesia moderna, também pela forma e isenção do metro, capaz de sensibilizar qualquer adepto do parnasianismo. No tumulto da vida neste fim de século, na qual o gênio dos privilegiados introduz engenhos surpreendentes e de forte impacto no comportamento social, sem se lhes ignorar o resultado econômico, a poesia autêntica prevalece pela substância da alma, tão indispensável ao consumo humanizador. É um produto da inteligência e sabedoria, capaz de independer de fronteiras próximas ou longínquas. E é testemunho a resposta de Stella Leonardos, no Rio ligada ao mundo, quando “entrou na Casa do Tempo”:

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José Asmar – (Da Academia Goiana de Letras).

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Mais que poema restante na página à prova de vida e morte, folha-de-rosto do tempo. Ensaias um círculo de luz o elmo do tempo como tua espada - a dos círculos mágicos.

Outros depoimentos apóiam a obra de Sônia Maria Santos. E ela corresponde a quem aplaude, ao publicar mais este Mar Invisível, navegante em paz com o infinito.

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Uma carta de JosĂŠ J. Veiga

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Rio, 22.11.95 Sonia Maria Estou acabando de ler o livro CASA DO TEMPO, que você teve a gentileza de me mandar “para que dele eu tomasse conhecimento”. Pois fiz mais do que isso. Li mais de uma [vez] os seus poemas sucintos, precisos e iluminecentes como haicais. Daqueles que a gente lê, recebe o choque sutil, pára, pensa e se ilumina. Também nos seus poemas não tem nada sobrando nem faltando. Não são exuberantes nem gritados. Parecem orações mais pensadas do que articuladas. Parece que primeiro foram ouvidos sabe-se por que meios vindos de alguma região misteriosa onde nasce a poesia. Respiração ou sussurro de anjos, coisa assim. E a maneira inesperada de reproduzir em palavras o que foi percebido em comunhão Íntima com o universo.

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A boa poesia é rara porque raras são as pessoas que podem entrar nessa comunhão, e assim ver, ouvir e sentir tudo como se fosse para sempre pela primeira vez, sem a prévia informação deformante. Você teve essa capacidade, ou dom ­ ou condenação? Seja o que for, eu a felicito pela perfeição e delicadeza dos seus poemas, e agradeço pela lembrança feliz em me dá-los a conhecer e consequentemente de me enriquecer com a leitura deles. O seu livro vai fazer parte da minha pequena coleção de poetas sempre revisitados. Tudo de bom para você, sempre. José....

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Sumário Travessia Alma mínima.......................................................................................... 17 De manhã.................................................................................................19 Claramente.......................................................................................................21 Com o mesmo ouro..................................................................................23 Na sua lúcida chama.................................................................................25 Vai sendo o dia................................................................................................27 Carta..................................................................................................................29 A casa............................................................................................................. 31 Antigamente.....................................................................................................33 Batatas podres............................................................................................... 35 Constatação......................................................................................................37 Fado...................................................................................................................39 Suposição..........................................................................................................41 Os mesmos......................................................................................................43 Criaturas...........................................................................................................45 Ausência...........................................................................................................47 Agora o mar................................................................................ 49 Opinião.............................................................................................................51 Ensaiando a estação........................................................................................53 Vertigem Decididamente.................................................................................................57 Vertigem...........................................................................................................59 Abstração..........................................................................................................61 Provavelmente..................................................................................................63 Na fotografia antiga....................................................................................65 Afinal de contas...................................................................................................67

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Contrição Ladainha...........................................................................................................71 Contrição..........................................................................................................73 Conversão.........................................................................................................75 Por um instante............................................................................................ 77 Ensinamentos...................................................................................................79 Esfinge...............................................................................................................81 Enredo matinal............................................................................................ 83 Vida eterna................................................................................................... 85 Recado para Mário Quintana..................................................................... 87 Inevitável..........................................................................................................91 Definitivas........................................................................................................93 Ele......................................................................................................................95 Aprontando espumas.........................................................................................97 Uma vela apenas Uma vela apenas.............................................................................................99 Conferindo.....................................................................................................101 Definições.......................................................................................................103 Uma palavra e outra..................................................................................105 Nesse mapa Sem atalho......................................................................................................109 Improviso.......................................................................................................111 Sempre............................................................................................................113 Ritmo..............................................................................................................115 Olhos de ver....................................................................................................... 117 O poeta Li Po.................................................................................................119 Nesse mapa...................................................................................................121 Mar invisível................................................................................................ 123

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Travessia

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Alma mínima

O silêncio às vezes é tão fluente que nele me deixo. A palavra fica vã fico em suspenso: alma mínima peso de bailarina no arame do tempo.

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De manhã

Acho o dia doce e fresco. Não importa a morte embutida no meio, no que chamo de tempo, que é só uma varanda com filhos e plantas e luz novíssima descendo.

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Claramente

Sei das coisas por estar vivendo. Sei seguida de silĂŞncio sol chuva caindo, como se nada no mundo eu fosse (nem tivesse bandeira), apenas instinto.

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Com o mesmo ouro

Com o poema de Borges, com o mesmo ouro com que dotou os tigres, as tardes, os desejos, a alma que tenho ĂŠ para sempre tocada. Como se me assombrassem suas palavras, como se antes, sequestrada, ausentasse-me da ĂĄrvore, da pedra, da manhĂŁ, do rio.

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Na sua lúcida chama

No tempo, na sua lúcida chama deslizo e olho em volta e dentro, olho este universo inesgotável que vai me suprindo como a outro poeta, cujo poema, talvez, seja o mesmo saído de interminável fio.

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Vai sendo o dia

Vai sendo o dia a única camisa: a consciência de estar viva e dividir o trigo como se fosse a alma. Pela mesma razão o dia é luz suspensa sobre o mapa-mundi. Assim a esperança nos reúne.

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Carta

Aqui vai tudo bem. A vida continua. A chuva na varanda, o sol, a pĂĄtria com esperança. Eu pai, como antigamente, canto ao redor da casa - alegre ou triste – como seja a vida.

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A casa

Talvez não veja de uma só mirada a casa entre folhagens. As plantas adultas, as hastes situam-se agora em arabescos sobre os beirais. Latas de antúrios continuam na mureta, onde sentávamos todas as tardes.

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Antigamente

Via dĂĄlias no caminho, lĂ­rios, portas abertas. Numa delas, a dona assassinava a rude golpe a lenha que ia ao fogo, para o bolo. Depois, ir Ă mesa.

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Batatas podres

Batatas podres na cesta escorrem da mesma forma seu ácido. Não é preciso ficar em casa nem ver que, reunidas, o luzir do dia lhes põe beleza, lhes mata à mesa.

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Constatação Coisa mais simples: apalpar a vagem, o pão, o peixe, a resistência do corpo, os olhos antes. do sono os seios. O madeiro sendo erguido e a taça de cicuta, que não vejo, mas existem como se fossem sens.íveis aos dedos.

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Fado

Essa dor antiga na alma, como se em volta da casa qualquer coisa decidisse executar degredos; como se nenhum rio, um riozinho Ă -toa (nunca o Rio Tejo) houvesse passado pela minha vida.

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Suposição

Se guerra nenhuma declarada houvesse, essa que puxa o fio de Penélope enquanto espera, e todo o ser humano que se preza, haveria de nos esquecer no fim do dia: hora de contar os feitos - grandes e pequenos e morrer de alegria.

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Os mesmos

O pr贸prio tempo n茫o tem beirais de sono e receios. Dia por dia, no entanto, somos os mesmos: velhos romanos gostando da bacia funda dos incensos.

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Criaturas

As nossas faces são feitas de tempo (e da pátria em que vivemos). Os ossos, esses estralam e nos mantêm, para ficarmos sábios sobre o mundo. Sobre a morte, só saberemos no fim de tudo.

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Ausência

O tempo corre cego, liso. Preciso no espaço ávido de mar barcos de papel dobrar desdobrar. Faz falta à alma a líquida distância.

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Agora o mar

Agora o mar é só o mar que se recorta onde a humana história se repete. Se grego ou português, não mais importa. E tem o mar da perdida alma, da perdida noite do tempo. O que me permeia é nítido: espelho de ver por dentro.

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Opinião

O jornal - se espremer dele não escorrerá poesia, essa coisa fina, fio de espada, arma de que Homero fez seu canto imenso sobre a imensa pátria.

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Ensaiando a estação

Para ter certeza que uma folha, duas folhas, três folhas tocarão meu corpo neste outono, além das frutas em minha boca, é que farto farelo de folhas secas haverá de chegar-me através do vento. E do vermelho-fogo em que a tarde se põe.

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Vertigem

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Decididamente

Surpreendo-me louca, mais do que preciso para ver direito. Acho que é o tempo com sua assinatura ácida. Ou a vida que desenha de forma tão intensa cada réstia (im)possível de se olhar.

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Vertigem

A luz entorna-se depois da grade da janela, do muro, de tudo. LĂĄ onde de alguma forma estou presente, quem sabe.com outra fome e sede, outra flor no jarro. Os olhos nĂŁo ponho, cravo, atravĂŠs do dia.

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Abstração

A dor ensina primeiro. Muito antes de Baudelaire ou Michelangelo.

É que vem o dia e tenho medo. No outro, ao mesmo tempo em que me alegro, luto, penso o que seria a simples chama que move o mundo.

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Provavelmente

Hรก um tempo dentro de outro, hรก um sonho do qual acordo trazendo uma flor, ou acordo pensando ver, como se sonhasse ainda, clara paisagem de Monet.

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Na fotografia antiga

O tempo se concentra numa rosa em minha boca atravessada como se eu fosse em certa noite uma espanhola. Ou Xerazade com nova fรกbula, nova alma.

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Afinal de contas

Quem nĂŁo haverĂĄ de entender que o rosto se mostra aos poucos, se (des)embrulha em rugas (em risos, porque vivo) no lento acomodar-se da pele sobre os ossos?

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Contrição

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Ladainha

Tirando a bênção de cada dia o resto é silêncio gerações de chuvas, chás e rezas. E nós, ó Deus, nos esforçando tanto para não dizer seu nome em vão, nos torna humanos.

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Contrição

Ó Deus tenho olhos, ouvidos e boca e uma dor me devora; uma lâmina sequer corta minha carne, faz-me nova. Que eu fale línguas diferentes, faça prodígios e escreva entre suspiros: Amor precede o tempo coisas ruídos.

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Conversão

O desenho dos olhos, o modo que na face dos santos é de pura alegria, decididamente não tenho. Mas teimo e converto o que dói em matéria nova.

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Por um instante

Nem de João Batista, o antecessor, a cabeça vejo sobre o prato. Vejo o Crucificado numa tarde, numa dor maior do que a minha. Entre as mulheres, subo a dolorosa via e choro,_ pelo que foi dito, por m1m mesma e por meus filhos.

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Ensinamentos Minha mãe falava com o ar de sua boca: “Tudo nos espera à mesa dos milênios”. Suportava as dores, talvez por isto. Meu pai suportava, penso, porque se atirava sem medo a cantar a Tosca.

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Esfinge Mal sei quem sou, ó Deus. Eu que tenho sua chama e esta pose, se a cabeça ergo. Sustento na linha do horizonte o queixo a mínima (c)alma, o olho que vê.

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Enredo matinal

A natureza que tenho procura a esfera perdida, a unha de Deus. Se inicia. Mesmo decidida a afundar o fio da faca nos vegetais e frutas e a deixar o sangue da carne correr em minhas m達os que, assim, se sujeitam a celebrar o dia.

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Vida eterna

Penso na vida eterna, sim. Mas nĂŁo penso que seja suprimento de ar apenas, algum bocejo. Ou paisagem pĂĄlida, onde um poema em concha rasa hei de ficar bebendo.

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Recado para Mário Quintana

Um dia, depois de morta, se uma casa do poeta houver, quero que me espere sentadinho à porta com seu (b)anjo e flautim.

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Uma vela apenas

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Inevitável

Que eu teça, desteça, teça de novo e nem ao menos a pele poupe, me dizem, enquanto reconheço o desassossego de cada coisa viva. Cavo, semeio, apascento. Não dispenso palavras nem bíblias.

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Definitivas

As palavras, tenho-as por perto com seus sons e cores a(r)madas e polidas feito estrelas e luas redondas. Tenho-as por perto, mais do que as pessoas.

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Ele

Como a Acrópole erguida sobre Atenas, ou as pirâmides sobre o Egito, ele tem seus bons motivos. O poema não é insuspeitada mina onde vou e... pronto! nem pavimentada via só de gosto e desgosto.

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Aprontando espumas

A poesia vem de seixos e lenhas, de metais de qualquer estrela. InevitĂĄvel (como o surgir de um broto na primavera) vem com brancas velas aprontando espumas e alguma llĂ­ada.

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Uma vela apenas

Quem me dera uma vela acesa sobre a origem, e o silĂŞncio de que somos feitos. Uma vela apenas, talvez um poema: pura vontade de ver direito.

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Conferindo

Se há um jeito, as palavras são pedras polindo dentro, quanto mais penso e sinto. E sentir é muito, no mínimo.

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Definições Poesia 1âmina fina, lã que se fia luz que revela

por toda a vida.

tudo

O que é polido em areia grossa. Coisa precisa, sólida, solta que baila e cintila.

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Uma palavra e outra

Uma palavra e outra, e o deserto cruzo. Tudo porque os dedos batem mesmo sobre a mesa atrás de uma interminável música, cujo ritmo é o do tempo na sua eterna ampulheta.

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Nesse mapa

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Sem atalho

Descobridora vou sendo de estrelas e naus perdidas. O que me adoece e faz boa Ê essa coisa sem valia. Sobretudo a poesia Ê parte do meu osso, e desse atrevimento de intuir sem esforço o que mal sei ainda.

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Improviso

Se ainda mal sabemos medir o tempo pelo correr do Nilo, como retornaremos recolhendo o fio - homens e mulheres? Vai-se a primavera e, por enquanto, a idĂŠia do paraĂ­so.

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Sempre

H谩 pequenos jardins, cercas de madeiras toscas, folhas que s贸 a tarde sabe (des)cobrir. Como sabe, com seu ouro, compor um caminho.

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Ritmo

Seguiremos sempre por onde seguem as águas as pedras os galhos inclinados reunidos indo na mais íntima regência.

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Olhos de ver Tenho um olho para escândalos ainda. Com o outro, entrego-me à beleza das flores, por exemplo; da mais alta estrela do Mar Absoluto de Cecília.

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O poeta Li Po

A noite e uma lua imensa polvilhando o lago. Lua de Li Po. 路 Essa beleza solta entremeada toda no perfume do cipreste do vinho doce doce doce que o poeta hoje me oferece.

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Nesse mapa

Pelo cair das folhas ĂŠ outono, uma nesga de tristeza nem preciso, nesse mapa nesse ritmo de interminĂĄveis guerras. Preparo cereais e ervas, enfim, e fogo para o dia.

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Mar invisível

Desde sempre, do início, mar invisível me trespassa. Traz todas as batalhas e as gerações antigas impregnando a minha vida de alguma certeza. Alguma, e bem pensada, para ser aceita. Como se grego fosse esse mar.

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Este livro foi impresso na oficina da Asa Editora Gráfica/ Kelps, no papel: Polen Soft 80g, composto nas fontes Minion Pro, corpos 11 e 30 março, 2012 A revisão final desta obra é de responsabilidade da autora

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