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dos Espelhos

A N T Ó N I O D E S O U Z A - C A R D O S O

Abstract

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Marcelo imitates a King he knows he imitates him but he never wanted to be

He imitates in affections eagerly approaching the idea of representative and aggregator of the Nation

He imitated independence dispensing with the interest of his party so many times to guarantee that seal of supra-partyism that he believes more in line with his constitutional duties He mimics the universal link trying to be President or Father of Portuguese-speaking Nations where he wanders like no one else

Key words: Marcelo; affections; mirror; imitate; king

RÉSUMÉ

Marcelo imite un roi il sait qu'il l'imite mais il n'a jamais voulu l'être

Il imite les affections abordant avec empressement l'idée du représentant et agrégateur de la Nation

Il imite l'indépendance renonçant si souvent à l'intérêt de son parti pour garantir ce sceau de suprapartisme qu'il estime plus conforme à ses devoirs constitutionnels Il imite le lien universel en essayant d'être Président ou Père des Nations de langue portugaise où il erre comme personne d'autre

Mots Clés: Marcelo; affections; miroir; imite; roi

Fico fascinado com a personalidade do nosso Chefe de Estado

Conheço-o há longos anos Privamos pouco, tanto quanto um anónimo monárquico nortenho e uma rutilante estrela do nosso universo político se permitem privar Mas desses poucos momentos recordo a argúcia, o repentismo, o frenesim com que lidava com circunstâncias diversas na mesma unidade de tempo, o humor que lhe assaltava os olhos antes de lhe correr pela boca e a inteligência vibrante que sentíamos quase capaz de o atropelar a ele próprio. Marcelo tem tudo isto, mas não tem a empatia dos magnéticos. Não tem a inteligência emocional dos carismáticos, nem tem a lealdade dos justos e a simplicidade dos humildes. Mas lá irei.

Primeiro há que perceber o contexto. O Pai Baltazar foi Ministro no Estado Novo. De Marcelo Caetano. De quem se conta que foi quem levou de carro a Mãe de Marcelo na emergência da sua ida para a maternidade para ter Marcelo.

Marcelo Caetano foi uma espécie de tutor de Marcelo Nuno como gostava de chamar ao pupilo, a quem cedo tratavam por Celinho

Marcelo Caetano apesar de ter cheirado a mudança não soube lidar com ela porque simplesmente era tíbio nas decisões que tinha que tomar Mais académico do que operacional, Caetano não se conseguiu desenvencilhar das colónias ultramarinas e do sentido de Pátria e de Império que transportavam E isso foi-lhe fatal

Já Marcelo Nuno, ou Celinho como lhe chamavam em casa, apesar de trilhar terrenos da direita começou a aproximar-se da Sedes e da ala mais democrática da Assembleia Nacional, onde já despontavam Francisco Sá Carneiro, Magalhães Mota e Pinto Balsemão

O 25 de Abril foi apanhá-lo no Expresso Era na análise critica que se sentia bem Gostava de brincar com ideias e urdir estratégias para as ultrapassar Chegava a ser maquiavélico na forma de preparar um resultado que lhe pudesse ser útil Fundou pouco depois o Semanário e foi um dos protagonistas da Nova Esperança, uma linha mais jovem no PSD, com Pedro Santana Lopes e José Miguel Júdice

Foi membro do Governo Conta-se que quando Secretário de Estado se deslocou ao Palácio de S Bento para comunicar a sua intenção de saída para terminar o doutoramento E saiu de lá Ministro dos Assuntos Parlamentares O que ele terá dito

Foi Presidente do PSD e em duas penadas conseguiu adiar a questão do aborto e praticamente matar a questão da regionalização em dois referendos que lhe foram favoráveis Mas não conseguiu ser eleito, como não o fora para a Câmara de Lisboa apesar dos mergulhos no Tejo com as televisões a filmar

Era esta hipnose pelo espaço mediático que mais iria marcar a personalidade de Marcelo Durante muitos anos na RTP e na TVI, Marcelo o comentador, antecipava o que faria toda a classe política

Sabendo bem que o seu poder de influência mediática iria ajudar a que a decisão a tomar se esgueirasse pelo caminho que ele tinha salomonicamente prognosticado

Ficou célebre a cena da Vichissoisse com Paulo Portas então Diretor do Independente. Que depois de um almoço de Mário Soares com constitucionalistas quis saber por interesse editorial do seu Jornal o que se teria passado na reunião Marcelo deu-lhe a história com pormenores tais que até descreveu com minucia o que se comeu começando por uma Vichissoisse fria Mais tarde Paulo Portas em contacto com outro constitucionalista presente na mesma reunião percebeu que nenhuma das informações dadas por Marcelo era verdadeira Muito menos a Vichissoisse E contou a história publicamente

A esta fase adiantada do artigo perguntará o leitor o que tem isto a ver com Monarquia e República

E com razão Deixei-me levar pelo confessado fascínio pela personagem que é hoje Presidente da República

Vamos então à matéria que nos trouxe Para encurtar razões, porque o texto já vai longo diria que Marcelo imita um Rei, sabe que o imita, mas nunca o desejou ser Imita nos afectos aproximando-se com sofreguidão da ideia do representante e agregador da Nação Imita na independência, dispensando tantas vezes o interesse do seu partido para garantir essa chancela de suprapartidarismo que acredita mais própria dos seus deveres constitucionais Imita na ligação universal tentando ser Presidente ou Pai das Nações de Língua Portuguesa onde deambula como ninguém

Mas tem a síndrome da sua própria imagem Do espelho que traz consigo e que o projecta multifacetado para o exterior

Marcelo é um narcisista e por isso mesmo um animal político hábil, mas pouco confiável Inteligente, mas nem sempre verdadeiro Arguto e engenhoso, mas não leal, por ser verdadeiramente um manipulador dos factos e das pessoas Marcelo é da intriga e a intriga sacrifica vezes de mais a verdade para que a possamos suportar

Por isso Marcelo tem mais o sentido de si próprio do que o sentido da História e do serviço que esta legitima Não estou muito certo, em conclusão que Marcelo Rebelo de Sousa fique na História como um bom Presidente Julgo que, apesar disso, nunca poderia ser um Bom Rei!

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