5 minute read

Vinilourenço aposta em vinhos diferenciadores e no enoturismo

Vinícola sedeada no Poço do Canto, no concelho da Meda

É um dos produtores do Douro que procura marcar a diferença, oferecendo ao mercado “vinhos para se beberem e vinhos para se falarem”, como afirmou Jorge Loureço, o mentor do projeto Vinilourenço, sedeado no Poço do Canto, no concelho da Meda.

Advertisement

Situada numa zona de transição, “onde o Douro encontra a serra”, a Vinilourenço aposta agora no enoturismo, uma necessidade para enfrentar os novos tempos, com a criação de condições para receber todos quantos a visitem. Jorge Lourenço, em conversa com a Gazeta Rural, adiantou que para breve está o lançamento de um vinho bivarietal, com as castas Samarrinho e Donzelinho.

Gazeta Rural (GR): Depois da aposta na vinha e nos vinhos chegou a hora do enoturismo?

Jorge Lourenço (JL): Esta aposta era inevitável, com a criação de condições para receber pessoas e provas. Contudo, de certa forma, já o estávamos a fazer, mas sentíamos que as condições não eram as que queríamos.

Esta nova aposta vai no sentido de criarmos essas condições, porque percebemos que o turismo é necessário. com a pandemia o turismo parou bastante, a que acresce a desertificação desta região, pelo que esta aposta será o nosso futuro, também pela atração de pessoas a estas zonas do interior, mas também como forma de promovermos os nossos vinhos, os produtos locais e, ao mesmo tempo, criar riqueza na região onde estamos inseridos. acredito que estamos numa região com um grande potencial, mas que são consideradas desfavorecidas por causa da desertificação e haver menos gente.

Este é um investimento significativo, que demorou algum tempo, deu algum trabalho, tem despesas, mas acreditamos que nos poderá trazer retorno e ajudar a dar a conhecer, e a reconhecer, os nossos produtos.

GR: Quando vai a uma feira, nacional ou internacional, é questionado sobre que oferta tem na quinta?

JL: Depende das feiras, pois nem toda a gente conhece a realidade da região onde estamos inseridos. numa feira internacional há quem não conheça ou não saiba sequer onde fica Portugal, quanto mais a Meda ou o Poço do canto. numa feira nacional também há quem não saiba onde é a Meda. Conhece o Douro, às vezes apenas por fotografia.

Obviamente que temos esta necessidade, pois quando vamos a uma feira, ou numa simples viagem, quando encontramos alguém interessante

fazemos-lhe o convite para nos visitar. E se convidamos alguém também queremos ter condições para a acolher e para lhe mostrar o que temos de bom. Essa foi uma das razões que nos motivou a avançar para este investimento.

GR: Mostrar ao potencial cliente ou consumidor o local onde os vinhos são produzidos é uma mais valia?

JL: a paisagem também ajuda. Onde temos a adega não estamos rodeados de vinhas, mas estamos muito perto, contudo mostra muito do que é o nosso terroir, no Douro Superior, uma zona de transição entre o xisto e o granito.

Na Meda um dos slogans é “onde o Douro encontra a serra”. Quem aqui chega encontra nesta paisagem um pouco da história, pois se houver um nevão conseguimos ver a neve na Serra da Estrela, mas em contrapartida não conseguimos ver o Douro, mas temos o vale do Douro e conseguimos ver montanhas para lá do Douro.

“Há vinhos para se beberem e há vinhos para se falarem”

GR: A Vinilourenço tem apostado em produtos ‘fora da caixa’, em vinhos diferenciadores. Essa é uma aposta ganha, para continuar?

JL: Essa foi sempre a minha filosofia, que incuti na minha equipa. Fazer mais do mesmo, aquilo que todos fazem não tem grande interesse. Para nós é muito importante fazer coisas diferentes, para termos produtos diferenciadores. Apostamos na exploração das castas típicas desta região, do melhor que as vinhas velhas nos podem dar, mas também do melhor que este território tem para dar.

Obviamente que queremos continuar com essa filosofia, achamos que esse é o caminho mais difícil, mas pode também ser o do sucesso. Quando falo de sucesso, não quero ser o melhor do mundo, mas todos nós, quando fazemos coisas, queremos que elas nos motivem internamente. Quando dizia que não queremos fazer mais do mesmo, sabemos que temos que ter vinhos comerciais, que o consumidor goste, mas também percebemos que há vinhos para se beberem e há vinhos para se falarem e nós queremos ter as duas faces da moeda. nos vinhos comerciais temos que olhar para o gosto do consumidor, enquanto os vinhos para se falarem vão ao encontro do nosso gosto pessoal, à descoberta do que este território tem, do clima que temos e o que as castas autóctones nos podem dar.

Depois temos a vantagem de aliar as vinhas que temos no Poço do canto, no concelho da Meda, e as nossas propriedades de Foz côa, Pocinho e Vale da teja. isso dá-nos um leque e um potencial muito grande para trabalhar vinhos totalmente diferentes e, de certa forma, fazer muitas experiências na adega, o que é sempre desafiante e dá para lançar produtos novos quase todos os anos.

GR: E aproveitar o melhor de algumas castas que estavam em vias de extinção?

JL: Sim. O Samarrinho e o Donzelinho são duas castas bastante antigas no Douro, o segundo mais típico do Poço do Canto, mas que, pela sua morfologia, foram desafiantes para fazer um projeto de raiz, porque fomos ao centro de Estudos buscar o material genético, foi enxertado e as vinhas foram plantadas em 2012. Já fizemos alguns monocastas de ambos.

Brevemente iremos lançar um bi-varietal das duas castas. Este é um exemplo e goste-se ou não são perfiz de vinhos diferentes, que não agradam a todos, mas são diferenciadores. é que isso que procuramos neste segmento. São os vinhos que se vão beber, mas também falar neles.

This article is from: