3 minute read

Castanha DOP “Soutos da Lapa” com quebra de produção a rondar 70

Com bom calibre e de qualidade

Castanha DOP “Soutos da Lapa” com quebra de produção a rondar 80%

Advertisement

É um ano difícil para os produtores de castanha da região dos Soutos da Lapa. “A quebra da produção deve rondar os 80%”, afirmou o presidente da Câmara de Sernancelhe. Apesar disso, Carlos Silva garante que “a castanha que tem estado a cair dos castanheiros é de excelente qualidade”.

Neste sentido, o autarca de Sernancelhe entende a necessidade de a continuar a promover. “Não fazemos mais do que a nossa obrigação de ajudar a que este produto seja de excelência e continue a ser a forma de afirmar territórios como o nosso por este mundo fora”, referiu Carlos Silva, lamentando que estejamos, na última década, “a viver anos excecionais”, pois “se não uma coisa é outra, se não é pandemia é o bichado, é a vespa da galha ou as alterações climáticas”.

Os produtores de castanha da região também lamentam o ano agrícola. “Comparando com o ano passado, vamos ter 30% da produção, devido à seca e aos escaldões deste verão, porque o castanheiro não é uma árvore que goste muito de calor”, disse Manuel Gomes. Para este produtor do concelho de Sernancelhe, “é bom que se mantenha esta humidade e não venham temperaturas muito quentes, porque acabariam por destruir a pouca produção, porque a castanha para se conservar deve ser apanhada assim, com esta humidade”. O produtor explicou que, “como não choveu e com todo o calor, o castanheiro acabou por não desenvolver, daí a quebra na ordem dos 70%”.

Uma queda que José Flora, outro produtor do concelho, disse sentir, uma vez que “só deve haver um terço de produção” nas suas árvores de fruto, “mas há alguns que estão a perder um quinto” da produção. “E há outro problema, é que atrasou muito a campanha. Vem aí o São Martinho e vai haver pouca castanha e cara, depois é capaz de baixar o preço um bocadinho, porque depois do ponto alto dos

magustos já ninguém liga”, contou. José Flora reconheceu que “também está cara, porque é preciso pagar a mão-de-obra, para apanhar os ouriços que ainda nem existem”, já que se “anda um dia todo para apanhar pouca quantidade, porque ainda está tudo na árvore”. “O calibre está muito idêntico ao do ano passado, algumas até mais pequenas, mas há produtores que estão com um bom calibre”, acrescentou. Um problema de que Manuel Gomes não se queixa, já que, na sua produção, “a que há é boa e até de um calibre maior, porque como eram poucas acabaram por crescer, muito com a ajuda destas chuvas tardias e depois o sol”. Este produtor reconheceu que, com esta quebra na produção, “os preços estão, obviamente mais altos, no mínimo uns 30% a 35% mais cara, no produtor, porque depois o consumidor final acaba por pagar mais, porque o dinheiro fica sempre nos intermediários”. Já o distribuidor Miguel Santos também se manifestou “descontente” com a produção deste ano, não pelo calibre, “que é maior, o que é bom”, mas porque com uma “quebra muito grande, na ordem dos 60% a 70%”, a castanha não lhe chega às mãos.

“O problema nos anos de pouca castanha é o mercado paralelo que existe, porque quando há muita, há fruta para todos, para os distribuidores e para os produtores venderem por fora, junto de clientes, mas, em anos como este, fica toda no mercado paralelo”, apontou.

Miguel Santos disse que “muitos produtores vendem diretamente, sem passarem fatura, e a castanha acaba por não chegar ao distribuidor, que trabalha com faturação e não foge aos impostos”. “São sempre situações muito delicadas, porque o produtor também não tem castanha para vender e acaba por vender sem fatura para não pagar impostos sobre uma produção que já não é rentável”, justificou. Isto porque “o Estado também faz mal em contabilizar ao produtor o hectare de terreno com castanheiros, em vez de o fazer ao peso, pelo quilo de produção da castanha”. “Entendo muitas situações, mas ficamos todos a perder. Nós, os distribuidores e o Estado, porque os impostos não são pagos, portanto, perdemos todos num ano como este, mais se sente”, apontou Miguel Santos.

This article is from: