Gazeta Rural nº 368

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Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo inaugura Ciclo 12 em Rede 2020´

Município de Arronches promove II Rota dos Petiscos

A festa da gastronomia em movimento arranca em Portimão

Este ano as Festas de São Bernardo “são muito diferentes”, diz o presidente da Câmara de Sátão Câmara de Ílhavo prepara livro de receitas de bacalhau

Thomas Egger: um austríaco sem medo em TabuaD’aço

Sopa da Pedra e Caralhotas de Almeirim já são certificadas

“O Melhor Vinho” da Península de Setúbal é da Casa Ermelinda Freitas

Lagoa vai receber o Concurso Nacional de Vinhos

Houve dois prémios ‘Prestígio’ no IX Concurso Vinhos de Trás-os-Montes Vinhos do Alentejo lançam certificação inédita de produção susten-

Ficha técnica Ano XV | N.º 368 Periodicidade: Quinzenal Director: José Luís Araújo (CP n.º 7515) E-mail: jla.viseu@gmail.com | 968 044 320 Editor: Classe Média C. S. Unipessoal, Lda Sede: Lourosa de Cima - 3500-891 Viseu Redacção: Luís Pacheco Opinião: Luís Serpa | Jorge Farromba | Júlio Sá Rego Departamento Comercial: Beatriz Fonte Sede de Redacção: Lourosa de Cima 3500-891 Viseu | Telefone: 232 436 400 E-mail Geral: gazetarural@gmail.com Web: www.gazetarural.com ICS: Inscrição nº 124546 Propriedade: Classe Média - Comunicação e Serviços, Unip. Lda Administrador: José Luís Araújo Sede: Lourosa de Cima - 3500-891 Viseu Capital Social: 5000 Euros CRC Viseu Registo nº 5471 | NIF 507 021 339 Detentor de 100% do Capital Social: José Luís Araújo Dep. Legal N.º 215914/04 Execução Gráfica: Classe Média C. S. Unipessoal, Lda R. Cap. Salomão, 121 - Viseu | Tel. 232 411 299 Estatuto Editorial: http://gazetarural.com/estatutoeditorial/ Tiragem Média Mensal: 2000 exemplares Nota: Os textos de opinião publicados são da responsabilidade dos seus autores.

tável

Câmara de Nelas promove Feira do Vinho do Dão em formato digital

Tejo aumenta a certificação de vinhos em quase 50% e prevê vindima sem quebras Produtores de vinho nacionais apostam no mercado espanhol e na América Latina

Serra da Estrela Riders Challenge quer atrair adeptos do ciclismo à Serra Crónicas Rurais: Terra Quente Terra Fria - terra traída

Ciclovia vai mostrar as belas paisagens da Madalena

Investigação quer ajudar a melhorar a gestão e planeamento hídrico em Portugal Memórias Rurais: Há tanto tempo… por contar!

Diário de Bordos: Porque viajamos



Com festa inspirada nas suas raízes judaicas

Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo inaugura Ciclo “12 em Rede 2020” A festa está de regresso às Aldeias Históricas de Portugal! É já no próximo dia 6 de Setembro, na Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo, que acontece o primeiro evento do Ciclo “12 em Rede | Aldeias em Festa 2020”, este ano adaptado ao contexto atual, com participação limitada e transmissão via streaming. O tema do evento, “Exodus”, recorda a presença de uma comunidade judaica na Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo.

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Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo conserva, até aos nossos tempos, várias marcas da permanência de uma comunidade judaica. É o caso, por exemplo, da Casa do Rabino (uma habitação com uma estrela de cinco pontas no peitoril, que seria a residência do representante da comunidade judaica), da Cisterna Medieval (que terá sido uma antiga sinagoga), ou da antiga judiaria. De facto, Castelo Rodrigo terá sido um dos refúgios do povo judeu, na Península Ibérica. O imaginário popular do povo da aldeia também está repleto de mitos sobre esta comunidade: como a famosa Lenda da Marofa, sobre Zacuto e a sua filha Ofa, judeus que terão escolhido aquela Aldeia Histórica como nova morada, ou a história de Epharim Bueno, de nome cristão Martim Álvares, que, por ser judeu, deixou a sua terra Natal, Castelo Rodrigo, para estudar e tornar-se médico. Por isso, este ano, o tema da festa que inaugura o Ciclo “12 em Rede | Aldeias em Festa”, na Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo, no próximo dia 6 de Setembro, é o “Exodus”. Recordando o livro sagrado que conta a saída dos judeus para fora da sua Israel Natal (“Êxodo”), simboliza as partidas e chegadas de que Castelo Rodrigo tem sido palco. Devido à pandemia, a participação nos eventos do Ciclo “12 em Rede | Aldeias em Festa” será limitada e sujeita a inscrição prévia – mas a festa poderá ser sentida e vivida em todo o mundo, via streaming. Para melhor conhecer a Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo, em pleno clima de festa e animação, a Aldeias Históricas de Portugal - Associação de Desenvolvimento Turístico, promotora do Ciclo “12 em Rede | Aldeias em Festa”, em parceria com o associado The Travel Corner, propõem um programa turístico que é um autêntico “fim-de-semana de Êxodo” e que inclui alojamento para duas pessoas, em quarto duplo, pequeno-almoço e pensão completa (exceto jantar de domingo), entrada no evento, seguro, mas também passeio de barco em Barca A festa só acaba em Novembro! Dalva, prova de vinhos e outras experiências que prometem ficar na memória. O ciclo “12 em rede | Aldeias em Festa 2020” só termina Este evento é promovido pela Associação de Desenvolvimento em Novembro! Depois de Castelo Rodrigo, a festa segue para Turístico Aldeias Históricas de Portugal, numa organização do MuLinhares da Beira, a 12 de Setembro; Belmonte, a 19 de Setemnicípio de Figueira de Castelo Rodrigo, Junta de Freguesia de Castebro; Trancoso, a 25 de Setembro; Marialva, a 26 de Setembro; lo Rodrigo, Associações e Agentes económicos locais. Uma iniciatiCastelo Mendo, a 2 de Outubro; Almeida, a 3 de Outubro; Pióva apoiada pelo Centro 2020, Portugal 2020 e Fundo Europeu de dão, a 4 de Outubro; Sortelha, a 17 de Outubro; Castelo Novo, a Desenvolvimento Regional, através do Programa de Valorização 24 de Outubro, Idanha-a-Velha, a 31 de Outubro; e Monsanto, a Económica de Recursos Endógenos (PROVERE). 7 de Novembro. 4

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Até 24 de Agosto, em nove restaurantes aderentes

Município de Arronches promove II Rota dos Petiscos O município de Arronches está a promover, até 24 de Agosto, a II Rota dos Petiscos. Após um período complicado, que impossibilitou a realização da II Quinzena Gastronómica do Bacalhau inicialmente agendada para Abril deste ano, a marca “Arronches com Sabor – Cozinha com Alma” promove este evento, que visa atrair turistas ao concelho. Nesta segunda edição da iniciativa, que pretende uma vez mais dinamizar a economia local, sobretudo de um setor tão afetado com a crise atual, participam nove restaurantes, estando garantido o cumprimento de todas as normas de segurança impostas pela Direção-Geral de Saúde, para que os seus clientes se sintam seguros enquanto saboreiam as iguarias preparadas para estes dias. O desafio do município de Arronches é que a população local e os visitantes possam degustar da gastronomia arronchense, aproveitando para conhecer a região, com uma visita ao seu património histórico e cultural, não deixando de parte o melhor que o concelho tem que é a sua gente, que tão bem sabe receber.

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‘Arrebita Portugal’ tem primeira edição de 21 a 23 de Agosto

A festa da gastronomia em movimento arranca em Portimão Estimular a economia e o comércio locais, dinamizar as cidades e incentivar o turismo nacional são estas as metas do Arrebita Portugal, o evento promovido pela Amuse Bouche que vai levar o melhor da gastronomia nacional a vários pontos do País. A primeira edição acontece em Portimão nos dias 21, 22 e 23 de Agosto e tem entrada gratuita.

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o meio deste caos estamos super motivados por estarmos a dinamizar o sector, que está praticamente ‘congelado’. Depois de termos organizado o primeiro streaming internacional especial COVID-19, com os nomes maiores da gastronomia nacional e mundial, regressamos agora com este Arrebita Portugal, que arranca em Portimão, a nossa terra natal. É um orgulho fazer parte das soluções e trazer a Portimão, ao país e ao sector uma iniciativa original que quer agitar a economia local e nacional”, afirma Ana Músico, CEO da Amuse Bouche. Adaptação, reação e criatividade O Arrebita Portugal é um evento de adaptação ao atual momento de incerteza decorrente da pandemia de COVID-19, de reação ao colapso da atividade económica, de criatividade em movimento. Durante três dias, 15 chefs, entre jovens cozinheiros em ascensão e nomes já consolidados da cozinha nacional – o elenco difere de dia para dia e será anunciado em breve -, vão cozinhar pratos de street food inspirados nas tradições da região e na cozinha do mundo, com recurso aos melhores produtos locais. De forma a cumprir o plano de contingência definido pela Direção Geral da Saúde, o Arrebita tem lugar ao ar livre num recinto fechado e com circuitos de sentido único, de forma a evitar a aglomeração de pessoas. Em Portimão, o evento decorre no centro da cidade, na Praça da República (Alameda) e nas ruas do Comércio e Vasco da Gama. Cumprindo o papel agregador da gastronomia, no Arrebita os chefs não têm como palco a cozinha, mas sim alguns dos mais icónicos espaços comerciais da cidade. A comida será servida pelos próprios cozinheiros nas lojas existentes no percurso: sapatarias, lojas de roupa, tabacarias, óticas e joalharias são apenas alguns dos exemplos. Um circuito dinâmico para voltar a fazer pulsar o coração da cidade – fora das horas do festival, a circulação nas ruas do evento mantém-se inalterada. Cada chef tem ao seu encargo a criação de um prato doce ou salgado (entre os 5 € e os 8 €) para degustar ‘on the go’, utilizando na sua confeção produtos locais e da época. O recinto estará aberto nos três dias do evento entre as 19 e as 23,30 horas (última entrada). 6

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Adianta o presidente da Câmara de Satão

Este ano as Festas de São Bernardo “ serão muito diferentes” O concelho de Satão vive anualmente, nesta altura, as tradicionais Festas de São Bernardo, que já se tornaram um cartaz na região. Este ano, por via do momento atribulado que o mundo vive, serão as festas possíveis e “muito diferentes”, como explicou o presidente da Câmara local, em entrevista à Gazeta Rural. As festas “seriam nos moldes de anos anteriores” e “o programa já estava “mais ou menos definido”, afirmou Paulo Santos. A EN 229 também foi tema de conversa. O autarca mostra-se convencido que a solução poderá estar para breve, mas prefere aguardar para ter dados concretos.

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azeta Rural (GR): Por esta altura, o Satão estaria com muita aniGR: Um dos momentos marcantes das festas é o Fesmação, com as Festas de São Bernardo. Por via da pandemia, tival da Sopa? este ano são diferentes? PS: Mas este ano, com muita pena nossa, não vamos Paulo Santos (PS): Serão uma festas muito diferentes. Antes desta ter esse evento, porque junta sempre muita gente e, neste pandemia já tínhamos o programa mais ou menos definido e apalavramomento, as circunstâncias dizem-nos que não o devemos do com os artistas e as festas seriam nos moldes de anos anteriores. realizar. Por força do momento que atravessamos tivemos que limitar as festas, cumprindo as recomendações das autoridades sanitárias. GR: A meio do Verão, e com cinco meses de pandemia, Iremos manter parte do programa, nomeadamente, na área culo Sátão passou “entre os pingos da chuva”? tural, o prémio literário Albano Martins de Sousa. No mesmo dia PS: Esta pandemia afetou toda a gente, o mundo inteiro, e iremos entregar o cheque que damos às mães dos meninos que nasnós não ficámos imunes a isso. A prová-lo as listagens oficiais ceram em 2019. Haverá cinema ao ar livre, que não será em frente indicam que houve, até agora, 11 casos registados no nosso aos Paços do Concelho, mas sim no Largo de São Bernardo, para concelho, embora, na realidade, são apenas 10, uma vez que que possamos dispor de um espaço maior. Teremos um camião uma das pessoas terá nascido no Satão, mas vive e trabalha no com música a percorrer as ruas de Satão e as redondezas a dizer Porto há muitos anos. que há festa, com as limitações que existem. Se as circunstâncias No entanto, juntamente com as entidades de saúde, os bommeteorológicas o permitirem temos programado fogo de artificio. beiros e as juntas de freguesia, o Município está empenhado Haverá algumas barraquinhas no recinto da festa, com as devidas no combate ao vírus. Temos feito as reuniões da Proteção Civil limitações. Municipal e empenhamo-nos e queremos, em colaboração com Digamos que, essencialmente, vamos assinalar o feriado munias IPSS, Centros de Dia e lares particulares, em estar a par das cipal, a 20 de Agosto, dia de São Bernardo, mas não vamos prosituações, mas também apoiar naquilo que nos é pedido e está porcionar, nem permitir, grandes ajuntamentos de pessoas pordentro das possibilidades da autarquia. que as circunstâncias não o permitem. É evidente que esta pandemia está a afetar o Sátão. A prová-lo


é que, nesta altura, teríamos muita gente nas ruas da Vila e das nossas freguesias, a começar pelos nossos emigrantes, que este ano, na minha opinião, terão vindo menos de 50% dos que vêm habitualmente. No plano económico, na grande empresa do concelho, a Cerutil, as pessoas trabalharam normalmente, com as devidas precauções, o que aconteceu também nas outras empresas aqui sedeadas, exceto aquelas que foram obrigadas a encerrar, como a área da restauração. Mas, não há dúvida que sentimos direta e indiretamente o impacto da pandemia. GR: A restauração do concelho tem reagido bem, após o desconfinamento? PS: Não tenho conhecimento que algum restaurante tenha fechado. No entanto, sei que nesta altura têm uma afluência mais reduzida, devido às limitações, mas também algum receio das pessoas. De uma forma geral, o setor da restauração está a aguentar-se, com menos clientes, mas, com certeza, com grande esforço por parte dos seus proprietários. GR: Apesar de tudo, nesta altura as praias fluviais do concelho têm tido bastante afluência? PS: Na praia fluvial do Trabulo a diferença não é muita em relação a anos anteriores. A entidade que está a explorar o bar confirma-nos que há menos movimento durante a semana, mas ao sábado e domingo é quase normal. Realçamos o civismo das pessoas no cumprimento das regras que estão definidas. GR: Já há uma luz ao ‘fundo do túnel’ para a malfadada EN 229? PS: Há, mas ainda é ténue e só os presidentes de Câmara de Sátão e Viseu a identificam. Estou esperançado que dentro de muito pouco tempo, talvez ainda este mês, possa haver novidades. Contudo, não quero estar a antecipar nada, porque prefiro falar com todo os dados na mão. Tem sido, de facto, há algum tempo uma grande preocupação. Temos alguma responsabilidade na reestruturação desta via, mas não a temos, de todo, na sua recuperação e sofremos todos os dias na pele o mau estado em que se encontra, nomeadamente as muitas curvas que a mesma tem, para além dos poucos locais onde se pode ultrapassar. Se é verdade que se reduziu a sinistralidade, quem tem que a fazer todos os dias pode demorar, de Satão para Viseu, cerca de 45 minutos. Lembro que esta estrada serve o Sátão, mas também Aguiar da Beira e Vila Nova de Paiva, para além dos outros concelhos a norte e nascente. Toda esta gente tem o direito de ter melhores vias de comunicação, que lhe permita saídas condignas e com menos constrangimentos. GR: A questão da água é uma outra preocupação? PS: Uma grande preocupação. Este é um problema enorme para os concelhos do interior. No entanto, estamos a dar passos significativos para minorar o problema. Estamos na fase de constituição da empresa Águas da Região de Viseu e estamos esperançados que até final do ano, o mais tardar no primeiro trimestre de 2021, a mesma esteja constituída. Estou esperançado que daqui a dois anos já não andaremos com o coração ao pé da boca, como acontece hoje, pois o final do Verão é sempre problemático, se não vierem umas chuvas que reponham os níveis freáticos. Este ano, para já, não antecipamos qualquer problema de falta de água.

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Lançamento está previsto para o último trimestre deste ano

Câmara de Ílhavo prepara livro de receitas de bacalhau No dia em que começaria a edição deste ano do Festival do Bacalhau (a 12 de Agosto), cancelado devido à pandemia, a Câmara de Ílhavo regista o avanço de um projeto que mantém o fiel amigo no centro das atenções, nesta altura do ano. Isto porque está em desenvolvimento um livro de receitas de bacalhau e chegaram ao fim as gravações em vídeo da confeção de pratos e petiscos de bacalhau, preparados pelas 14 associações, que todos os anos participam no Festival do Bacalhau.

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ste projeto, que inclui o livro de receitas e a coleção de 14 vídeos, Câmara de Ílhavo adjudicou está a ser realizado em parceria com as 15 associações, que são resmais três corredores cicláveis no concelho ponsáveis pelos espaços de restauração do evento (restaurantes, bares e padarias), com bacalhau fornecido pelas sete empresas oficiais da edição A Câmara de Ílhavo aprovou a adjudicação da construde 2019. As associações, parceiras fundamentais do Festival do Bacalhau, ção dois novos corredores cicláveis, no âmbito do Plano receberam com entusiasmo este desafio, contribuindo ativamente nestas de Ação para a Mobilidade Urbana Sustentável (PAMUS) primeiras fases, já concluídas, que incluíram as filmagens da preparação de Ílhavo, que irão permitir aumentar o número e área das 14 principais receitas de cada associação, realizadas no Estaleiro – percursos cicláveis no Município, bem como aumentar as Estação Científica de Ílhavo, bem como a recolha de 48 receitas seleciocondições de segurança e de mobilidade em modo suave nadas, que normalmente são apresentadas no festival. no território. O livro de receitas visa assinalar e contribuir para o legado do Festival O Percurso PAMUS 1, com um investimento de 224.720 do Bacalhau; apresentar um contexto histórico da gastronomia nacioeuros, permite implementar um corredor ciclável e pedonal nal do fiel amigo, com enfoque à gastronomia do Município de Ílhavo; estruturante entre o Centro de Ílhavo e a Zona Industrial privilegiar o receituário destas associações, quer o tradicional, quer o da Mota. inovador; criar um produto clássico (livro) com um produto inovador Já o Percurso PAMUS 2, com um investimento de 262.880 (digital); e certificar a gastronomia local do bacalhau. euros, corresponde à construção de um outro corredor entre O lançamento do livro e dos vídeos gastronómicos, que serão divulo Centro de Ílhavo e a Av. dos Bacalhoeiros, junto do nó de gados pelos canais digitais do Município de Ílhavo, está previsto para acesso à Auto Estrada A25. o último trimestre de 2020. Estas estruturas cicláveis municipais, devidamente enquaO Festival do Bacalhau é um dos maiores eventos gastronómicos dradas no Plano Diretor Municipal (PDM), visam a circulação do país. Anualmente, nos cinco dias de destival, consomem-se cerde velocípedes, podendo também ser partilhadas com a circuca de 12 toneladas de bacalhau e afins, para cerca de 25.000 refeilação pedonal, especialmente nas zonas urbanas, e dão corpo ções, preparadas com o saber culinário das associações locais. O ao PAMUS de Ílhavo ligando as freguesias do Município permifestival, que se realiza no Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré, tindo uma maior coesão territorial. contribui de forma muito significativa para a dinamização da economia local e para o apoio ao tecido associativo. A próxima edição está marcada para 11 a 15 de Agosto de 2021. 10

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Há 17 anos veio para Portugal

Thomas Egger: um austríaco sem medo em ‘TabuaD’aço’ Há 17 anos, quando muitos portugueses iam para outras paragens à procura de uma vida melhor, Thomas Egger fez o percurso inverso. Deixou Tirol, na Áustria, e instalou-se em Tabuaço. Com o curso de Cozinha tirado numa das melhores escolas de hotelaria do seu país, começou por conhecer a região e, depois de se ter apaixonado pela esposa (portuguesa), ficou encantado com os produtos locais, a começar pelo azeite.

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epois de abrir o restaurante ‘TabuaD’aço’, Thomas Egger criou as suas próprias marcas e hoje exporta azeite da região para os melhores hotéis do seu país, para além de vinhos verde, rolhas, azeitona e outros. Depois de ter gerado muitas dúvidas nos que o rodeavam sobre as suas ideias, provou-lhes que estavam errados e hoje diz que só “têm uma de duas escolhas: ou vêm comigo ou eu faço”. Gazeta Rural (GR): É austríaco. Como veio parar a Tabuaço? Thomas Egger (TE): A minha esposa é portuguesa, de Tabuaço, e cheguei a Portugal há 17 anos. Comecei por fazer algumas feiras, gostei da região, dos produtos locais, e por cá fiquei. Pouco tempo depois abri o restaurante Tabua.D’aço e desde logo pensei em criar uma marca própria para vender para fora. A primeira foi ‘Chefe Thomas Egger’, que eu já tinha em Tirol, na Áustria, onde existem cerca de seis mil hotéis. Logo aí pensei na quantidade de clientes que poderia ter. Comecei a entregar garrafas de azeite aos Chefs, alguns meus amigos de infância. GR: O Thomas é Chef de Cozinha? TE: Fiz o curso na melhor escola de hotelaria da Áustria, uma escola privada, - tive a sorte de poder contar com a ajuda dos meus pais, - onde se aprende tudo e mais alguma coisa sobre esta atividade. GR: A cozinha foi uma necessidade ou uma paixão? TE: A hotelaria foi sempre o negócio da minha família, que tem quatro hotéis em Tirol. Um é dos quais dos meus pais, os outros são dos meus tios. A minha família foi sempre ligada a este setor. Contudo, a minha paixão, que descobri depois, é o marketing. Quando registei a minha segunda marca, a ‘Portugal Ele12

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ments’, todos perceberam que o assunto era sério. Aqui ‘encaixam’ todos os produtos portugueses de qualidade. A ideia é mostrar isso lá fora e tenho participado em vários programas de televisão a divulgar e marca e os produtos., nomeadamente no Alô Portugal da SIC, com o José Figueiras. Hoje em dia a empresa, na Áustria, está a funcionar muito bem e quando se fala de Portugal associa-se logo à marca. GR: Dinamizou a região, nomeadamente no azeite? TE: Em Tabuaço tenho o restaurante e um turismo rural, a Casa Dos Ruis. Tenho convidado os meus clientes da Áustria a virem cá para lhes mostrar de onde vêm os produtos que eles consomem. É muito importante as pessoas conhecerem a origem dos produtos que usam ou consomem, porque muitas vezes nem fazem ideia. A região do Douro é fantástica, não só a paisagem, mas também o ar que se respira nesta região. Assim, acreditam e valorizam os produtos.

GR: Para além do azeite, exporta cortiça, nomeadamente rolhas, para os produtores de vinhos austríacos, para além de vinho verde? Faz isso criando parcerias? TE: Sim, exporto também azeitonas, pasta de azeitonas, para além dos produtos que já referiu. Faço parcerias com pessoas que acreditam no meu nome e nas mais valias que lhes posso dar. Já exporto para a Alemanha, para a Bélgica e estou a tentar a Suíça, mas é um mercado mais difícil onde já há alguns portugueses.


“Os produtos portugueses estão no topo, são dos melhores do mundo” GR: O Thomas vem de fora. Como olha para os produtos portugueses? TE: Uma amiga disse que eu era um ‘Alfa’, que quando vê uma coisa não pára. A minha mulher muitas vezes questiona-me sobre as coisas que faço, mas, no fim, provo que tenho razão. Eu vi a riqueza que temos nesta região e fiz o percurso inverso. Há 17 anos muitos portugueses foram embora e eu vim para cá. Eu vi e acreditei nos produtos, quando muitos questionavam o que eu estava a fazer e hoje alguns andam atrás de mim. Já ‘arrasto’ muita gente, especialmente aqueles que acreditam no meu projeto. Para além disso quero motivar os jovens a acreditarem no seu país, a acreditarem em Portugal, porque os produtos portugueses estão no topo, são dos melhores do mundo. O problema aqui está em ‘acreditar’ e perder o medo, nomeadamente de Espanha. GR: Pensamos ‘pequeno’? TE: Não é só isso. Perder o medo é fundamental. Vivemos um tempo diferente, em que é preciso tirar novas ideias da ‘cachimónia’ e ir em frente. Apesar da pandemia, o mundo não vai parar. Um exemplo: há pouco tempo um webinar para a Argentina, porque o Governo quer dinamizar a gastronomia local. GR: Como se sente, ao ter que dizer a esta gente que pensa ‘pequeno’, que tem medo? TE: Há muitos anos houve quem dissesse que eu não teria sucesso. Mostrei que estavam errados. Hoje têm uma de duas escolhas: ou vêm comigo ou eu faço.

Tlf.: 232 411 299 Tlm.: 918 797 www.gazetarural.com 13 202 Email: novelgrafica1@gmail.com


Duas especialidades da gastronomia do concelho

Sopa da Pedra e Caralhotas de Almeirim obtiveram certificação A Sopa da Pedra e a Caralhota, duas especialidades da gastronomia de Almeirim, obtiveram a certificação, a primeira como Especialidade Tradicional Garantida (ETG) e a segunda recebeu o selo de Indicação Geográfica Protegida (IGP). A certificação vai garantir que quem visite o concelho e tencione comer a Sopa da Pedra e a Caralhota o possa fazer com a certeza de que são as verdadeiras. Só caralhotas são produzidas mais de três milhões por ano.

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A Caralhota de Almeirim, que conquistou, por sua vez, presidente da Câmara de Almeirim congratulou-se com a “boa noo selo de Indicação Geográfica Protegida (IGP), é um pão tícia” relativamente a um “processo que começou há alguns anos” pequeno cozido no forno a lenha, que pode ser produe que “está inserido numa estratégia que a câmara tem vindo a desenzido “sem conduto”, ou ser recheado com chouriço ou volver de certificação de vários produtos regionais”, com o objectivo de farinheira, entre outros enchidos. impulsionar o turismo e promover cada vez mais os produtos locais. De acordo com Pedro Ribeiro, esta certificação vai gaPara Pedro Ribeiro, “esta certificação é não só fundamental para manrantir que quem visite Almeirim e tencione comer a Sopa ter a tradição da Sopa da Pedra e das Caralhotas, mas também garante da Pedra e a Caralhota o possa fazer com certezas de que a quem vai experimentar estas duas especialidades que o possa fazer é a verdadeira. “É um momento importante para a nossa com a certeza de que são verdadeiras e assim criar condições para que identidade, gastronomia e economia, sendo que o que faz a tenham cada vez mais valor acrescentado”. diferença hoje em dia é o que é genuíno e original”, enfatiSegundo o autarca, “só na zona turística envolvente à Praça de Touzou, relativamente a dois produtos que têm as suas raízes na ros”, recentemente requalificada e onde se concentram restaurantes, história agrícola das gentes de Almeirim. lojas e esplanadas, “foi vendido mais de um milhão de refeições em Depois da certificação das duas especialidades típicas de 2019, onde a Sopa da Pedra é o prato principal”, dando ainda conta Almeirim em Portugal, o próximo passo é o da certificação inde uma “produção anual de três milhões de Caralhotas de Almeiternacional, candidatura que, deu conta, “já está a ser analisarim”. da na Comissão Europeia”, que “deverá concluir o processo no No caso da Sopa da Pedra, que obteve do Ministério da Agricultupróximo ano”. Além da Sopa da Pedra e das Caralhotas, Almeira o reconhecimento de Especialidade Tradicional Garantida (ETG), rim desenvolveu outro caderno de encargos para a certificação “o objectivo era o de certificar o prato, que tem um conjunto de do melão, outro produto tradicional do concelho, e que aguarda características únicas que têm a ver, por um lado, com aquilo que certificação nacional. é a tradição de o fazer em Almeirim e, por outro lado, com um conjunto de ingredientes (desde os enchidos ao feijão) que têm de ser específicos sob pena de o resultado final não ser o da Sopa da Pedra”, salientou. 14

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No XX Concurso de Vinhos da região

“O Melhor Vinho” da Península de Setúbal é da Casa Ermelinda Freitas A Casa Ermelinda Freitas obteve os dois principais prémios do XX Concurso de Vinhos da Península de Setúbal. A produtora de Fernando Pó, no concelho de Palmela, viu o vinho o Moscatel Roxo de Setúbal Casa Ermelinda Freitas Superior 2010 receber duas distinções, de “O Melhor Vinho” e “O Melhor Vinho Generoso”, enquanto o Dona Ermelinda Reserva 2018 foi premiado como “O Melhor Vinho Branco”.

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ste é o concurso que a Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS) promove anualmente e que premeia os ‘Melhores Vinhos da Região’. Em 2020 celebrou-se a sua vigésima edição. De entre os 171 vinhos avaliados, de 21 produtores da Península de Setúbal, emergiram 52 medalhas – 17 de Ouro e 35 de Prata. Destaque para os vinhos mais pontuados do concurso (‘Os Melhores’), Moscatel Roxo de Setúbal Casa Ermelinda Freitas Superior 2010, como “O Melhor Vinho” e “O Melhor Vinho Generoso”, e o Dona Ermelinda Reserva 2018 como “O Melhor Vinho Branco”. O “Melhor Vinho Tinto” foi atribuído ao Bacalhôa Syrah 2017, da Bacalhôa Vinhos de Portugal. A José Maria da Fonseca arrecadou a distinção de “O Melhor Vinho Rosado” com o Domingos Soares Franco Colecção Privada Roxo 2019. Lista de Premiados:

Adega de Pegões Colheita Seleccionada 2016, Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões Melhor vinho a concurso: Rovisco Pais Reserva 2019, Cooperativa Agrícola de Santo Casa Ermelinda Freitas Superior 2010 Moscatel Roxo de Setúbal, Casa Isidro de Pegões Ermelinda Freitas – Vinhos, Lda. Malo Platinum Reserva 2012, Malo Wines, Lda. Vinha da Fonte 2019, Casa Ermelinda Freitas – Vinhos, Melhor vinho generoso Lda. Casa Ermelinda Freitas Superior 2010 Moscatel Roxo de Setúbal - Casa Dona Ermelinda Reserva 2017, Casa Ermelinda Freitas – ViErmelinda Freitas – Vinhos, Lda. nhos, Lda. Adega de Pegões Colheita Seleccionada 2019, Cooperativa Melhor vinho tinto Agrícola de Santo Isidro de Pegões Bacalhôa Syrah 2017, Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. Quinta da Mimosa 2017, Casa Ermelinda Freitas – Vinhos, Lda. Sobreiro de Pegões Premium 2019, Cooperativa Agrícola de Melhor vinho branco Santo Isidro de Pegões Dona Ermelinda Reserva 2018, Casa Ermelinda Freitas – Vinhos, Lda. Terras do Pó Castas Syrah & Petit Verdot 2017, Casa Ermelinda Freitas – Vinhos, Lda. Melhor vinho rosado Herdade da Arcebispa Alicante Bouschet & T. Nacional Reserva Domingos Soares Franco Colecção Privada Roxo 2019, José Maria 2016, Sociedade Agrícola da Arcebispa, S.A da Fonseca Vinhos, S.A. Vinha da Valentina Premium 2019, Casa Ermelinda Freitas – Vinhos, Lda. Medalhas de ouro Moscatel de Setúbal Alambre 20 Anos - José Maria da Fonseca Vinhos, S.A. Valoroso Reserva 2017, Casa Ermelinda Freitas – Vinhos, Lda. 16

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De 23 a 27 de Novembro

Lagoa vai receber o Concurso Nacional de Vinhos C

erca de meio milhar de vinhos de todas as regiões nacionais são esperados no Concurso Nacional de Vinhos, que este ano vai decorrer na cidade de Lagoa de 23 a 27 de Novembro, o Concurso Nacional de Vinhos. A data foi dada a conhecer pelo presidente da Câmara de Lagoa, durante a cerimónia de assinatura de um protocolo entre a Região de Turismo do Algarve e a Comissão Vitivinícola Regional para a promoção do enoturismo algarvio em Portugal e Espanha. Presente no ato, o secretário-geral da Associação de Municípios Portugueses do Vinho adiantou que no primeiro dia haverá uma “prova de vinhos do Algarve”. José Arruda espera esperada a “participação de 500 vinhos de todas as regiões nacionais”, que depois participarão no Concurso das Cidades Europeias do Vinho, que terá lugar em Maio do próximo ano. Já o presidente da Câmara de Lagoa considerou que receber o Concurso Nacional “é mais um passo na afirmação dos vinhos algarvios”.

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Participaram 29 produtores com 102 vinhos

Quinta Serra D’Oura Reserva Branco 2017 e Romano Cunha Tinto 2011 receberam o prémio ‘Prestígio’ no Concurso Vinhos de Trás-os-Montes Os vinhos Quinta Serra D’Oura Reserva Branco 2017 e Romano Cunha Tinto 2011 foram os mais pontuados no IX Concurso Vinhos de Trás-os-Montes e receberam o prémio ‘Prestigio’. Participaram neste Concurso 29 produtores com 102 vinhos DOC “Trás-os-Montes” e IG “Transmontano”.

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rganizado pela Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes (CVRTM), o concurso decorreu nos dias 20 e 21 de Julho, na Casa do Vinho em Valpaços, o mesmo local onde a 7 de Agosto decorreu a cerimónia de entrega dos prémios. Os vinhos Quinta Serra D’Oura Reserva Branco 2017, de Carlos Manuel Alves Bastos, e Romano Cunha Tinto 2011, de Mário António Romano Gomes Cunha, foram os mais pontuados. Participaram neste concurso 29 produtores com 102 vinhos DOC “Trás-os-Montes” e IG “Transmontano” em resultado do esforço e empenho que os vitivinicultores transmontanos, produtores-engarrafadores e adegas cooperativas, têm vindo a realizar no sentido de produzirem vinhos de qualidade, valorizando assim as suas produções, mas também a região vitivinícola de Trás-os-Montes. 18

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O júri do concurso foi presidido por Eduardo Abade, da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte e contou na sua totalidade com 11 provadores. Como resultado das provas cegas foram atribuídas 34 medalhas, das quais dois Prémios Prestígio, 30 Medalhas de Ouro e 3 Medalhas de Prata, respectivamente: Foram ainda atribuídos 20 Diplomas de Mérito a 20% dos vinhos que obtiveram pontuação para Medalha de Prata, mas que devido à limitação de atribuição de medalhas apenas a 30% da totalidade dos vinhos inscritos, ficaram fora das mesmas.


Resultados Prémios Prestígio:

“Números refletem o patamar de qualidade dos vinhos de Trás-os-Montes”, diz Ana Alves, enóloga da CVRTM

• Quinta Serra D’Oura Reserva Branco 2017, de Carlos Manuel Alves Bastos • Romano Cunha Tinto 2011, de Mário António Romano Gomes Cunha Medalhas de Ouro

• Delectatio – Tinta Amarela Tinto 2012, de Delectatio, Lda • Quinta Serra D’Oura Grande Reserva Branco 2016, de Carlos Manuel Alves Bastos • Quinta de Arcossó Reserva Branco 2018, da Quinta de Arcossó Gazeta Rural (GR): O que demonstrou este concurso em relação • Quinta de Arcossó Grande Reserva Branco 2018, da Quinta de Arcossó aos vinhos apresentados? • Quinta de Arcossó Superior Bago a Bago Tinto 2016, da Ana Alves (AA): Demonstrou que estamos no caminho certo e que Quinta de Arcossó finalmente a qualidade dos vinhos de Trás-os-Montes é reconhecida • Palácio dos Távoras Vinhas Velhas Alicante Bouschet Tinto 2017, de Costa e é efetiva. Boal - Family Estates A edição de 2020 do Concurso revelou-se como a melhor de sem• Quinta Valle Madruga Grande Reserva Branco 2019, de pre, com a atribuição do maior número de medalhas de ouro em E.R.T.A, Sociedade Agrícola todas as nove edições. A restrição legalmente imposta de atribuição • Quinta do Sobreiró de Cima Reserva Branco 2018, da Quinta de apenas 30% de medalhas aos vinhos submetidos a concurso, do Sobreiró de ditou a distinção de 35 vinhos com medalhas de Prestígio, Ouro e Cima Prata de entre os 102 submetidos a concurso, no entanto não fos• Terras de Mogadouro Branco 2019, da Wine Indigenus • Quinta Valle Madruga Reserva Branco 2019 de E.R.T.A, Sociese esta imposição e muitos mais seriam os vinhos premiados com dade Agrícola medalhas efetivas, uma vez que cerca de 80% receberam cotação • Vinhas de Rebordelo Tinto 2018, de IVAN para tal. Números que refletem o patamar de qualidade que os • Terras do Salvante Grande Reserva Tinto 2015, de Nuno Miguel Fernandes vinhos de Trás-os-Montes estão a atingir. Neves • Terras de Mogadouro Reserva Tinto 2016, da Wine Indigenus GR: Os produtores transmontanos estão cada vez mais • Encostas do Rabaçal Reserva Tinto 2013, da Adega Cooperativa de Valpaços apostados na qualidade e diferenciação dos seus vinhos? • Flor do Tua Reserva Branco 2019, de Costa Boal - Family Estates AA: A produção de vinhos de qualidade tem sido o foco dos • Palácio dos Távoras Vinhas Velhas Branco 2018, de Costa Boal produtores de Trás-os-Montes, sendo esta uma região pequeFamily Estates na, nunca poderá ser reconhecida pela produção em quanti• Valle Pradinhos Reserva Tinto 2018, de Maria Antónia Pinto de Azedade, mas sim de pequenos volumes de vinhos diferenciados vedo e de qualidade superior. Mascarenhas A aposta na restruturação e plantação de vinhas, na mo• Vidago Villa Grande Reserva Tinto 2018, da Rústica Harmonia, Produção e dernização das adegas e na enologia, tem potenciado o paServiços Agrícolas tamar de qualidade que os vinhos de Trás-os-Montes estão • Terras de Mogadouro Tinto 2018, da Wine Indigenus a atingir. • Ponte do Arquinho Branco 2017, da Adega Cooperativa de Valpaços • Lhéngua Mirandesa Branco 2019, da Cooperativa Agrícola do RibadouEntender a região e potenciar as suas características enro dógenas, tem de igual forma contribuído para a diferencia• Valle Pradinhos The Lost Corner Tinto 2017, de Maria Antónia Pinto de ção dos vinhos de Trás-os-Montes, a aposta nas castas auAzevedo Mascarenhas • Quinta do Sobreiró de Cima Grande Reserva Branco 2017, da Quinta do tóctones, a preservação das vinhas velhas, a plantação de Sobreiró de Cima vinhas a cotas de altitude mais elevadas, são, sem dúvida, • Valpaço-Lo-Velho Grande Reserva Tinto 2016, da Santa Casa da Miserifatores diferenciadores e que têm definido intrinsecacórdia mente o perfil diferenciado dos vinhos de Trás-os-Montes de Valpaços • Flor do Tua Reserva Tinto 2018, de Costa Boal - Family Estates • Palácio dos Távoras Vinhas Velhas Tinto 2016, de Costa Boal - Family GR: Como antecipa a vindima deste ano? Estates AA: Face aos muito recentes episódios de trovoadas • Valle Pradinhos Reserva Branco 2019, de Maria Antónia Pinto de Azevedo Mascarenhas e granizo que assolaram a região, será expectável uma • Persistente Grande Reserva Tinto 2017, de Orlando José Taveira Pardelinha ligeira diminuição na quantidade de vinho produzido, • Quinta de Arcossó Grande Reserva Tinto 2015, da Quinta de Arcossó comparativamente com um ano normal da região. No • Valle de Passos Branco 2017, da Quinta Valle de Passos

entanto, prevê-se que a qualidade será muito boa, devido à muito baixa incidência de doenças e a condições climatéricas que têm permitido boas maturações.

Medalhas de Prata • Casa do Arco Branco 2019, da Adega Cooperativa de Valpaços • Maria Gins Vinhas Velhas Grande Reserva Tinto 2018, de Eulália da Assunção Claro Casado • Quinta das Corriças Vinhas Velhas Tinto 2018, da Sociedade Agrícola Quinta www.gazetarural.com 19 das Corriças


Selo vem revolucionar o setor vitivinícola em Portugal

Vinhos do Alentejo lançam certificação inédita de produção sustentável A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) vai iniciar a atribuição de certificados de produção sustentável, um selo inédito no setor, que será atribuído aos produtores que cumpram com requisitos de gestão de solos, água e rega, diminuição de produção de resíduos ou monitorização da fertilização, entre muitos outros critérios.

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ga, a eficiência energética e o uso racional de água são ara além do benefício ambiental, a atribuição destes selos traz ouprioritários, mas também o é a redução da produção de tras vantagens aos produtores que apostem numa viticultura mais resíduos. A reciclagem e desmaterialização de processos, sustentável. Em primeiro lugar, a CVRA estima que este selo aumente as bem como o uso de produtos mais verdes, como o uso de vendas dos Vinhos do Alentejo na ordem dos 5 a 10%, questão relaciorolhas, barricas e outros materiais de florestas certificanada com o facto de 85% dos portugueses revelar que a importância das, são, igualmente, incentivados. que as empresas atribuem às causas ambientais influência a decisão de “Ao longo dos últimos anos, tem-se verificado uma compra. Em segundo lugar, a implementação de planos de monitorizamaior sensibilização e atuação por parte dos produtores ção de água e luz permite uma redução de custos de cerca de 20% e de alentejanos em relação à gestão de água, eficiência energé30%, respetivamente. tica e à importância da conservação da biodiversidade, mas, Esta certificação surge no ano em que se assinala o 5º aniversário com esta certificação, será possível dar o salto para uma prodesde a criação do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alendução ainda mais amiga do ambiente e que, sendo pioneira, tejo (PSVA), pioneiro em Portugal e revolucionário do setor, que conta destaca o espírito de inovação do Alentejo no mercado injá com 422 membros associados, que representam mais de 40% da terno, mas, também, internacionalmente”, explica Francisco área de vinha do Alentejo. Mateus, presidente da direção da CVRA. “Produções vitivinícolas mais sustentáveis do ponto de vista amRecorde-se que, recentemente, o PSVA foi distinguido com biental, através da redução do uso de pesticidas, do gasto de água o título de Embaixador Europeu de Inovação Rural pelo projeto e eletricidade ou da proteção da biodiversidade são, sem dúvida, LIAISON, uma Parceria Europeia de Inovação para a Produtiviproduções também elas mais viáveis economicamente, uma vez dade Agrícola e Sustentabilidade lançada em 2012, pela Comisque tornam todo o processo, desde a uva até à garrafa mais eficaz são Europeia, que promove os melhores projetos europeus ao e eficiente”, explica João Barroso, coordenador do PSVA. nível da inovação na agricultura e silvicultura em áreas rurais. O PSVA promove no campo, a boa gestão dos solos, a utilização de organismos auxiliares, a preservação dos ecossistemas, a conservação e restauro das linhas de água, ou recurso ao modo de produção integrada e modo de produção biológica. Na ade20

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Vai decorrer nos dias 3, 4 e 5 de Setembro

Câmara de Nelas promove Feira do Vinho do Dão em formato digital A Câmara de Nelas decidiu promover a vigésima nona Feira do Vinho do Dão em formato digital. O evento vai decorrer nos dias 3, 4 e 5 de Setembro uma vez que, segundo o autarca José Borges da Silva, a economia do concelho “não pode num momento crucial como este, ficar estagnada, motivo pelo qual temos todos de nos unir e apoiar”. No convite (email) enviado aos produtores da região, José Borges da Silva diz que o executivo tomou a decisão de realizar o evento “em segurança” e com “o que de melhor se produz na região”. “Esta iniciativa será o esforço promocional que o executivo sente que é de sua responsabilidade assumir”, pois “ao longo destas quase três décadas têm contribuído para enaltecer esta Festa do Vinho do Dão”, acrescenta o autarca. Para o efeito, a autarquia de Nelas adianta que está a ser criada uma plataforma digital onde os produtores poderão apresentar e vender os seus vinhos. Será também criada uma Rota Regional dos Vinhos da Feira com o objetivo “de dar a conhecer as quintas, adegas e vinhas, impulsionando ainda mais o turismo de proximidade”. Tal como em anos anteriores, haverá também o habitual Vinhos da Feira - Troféu Eng. Alberto Vilhena.

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Boas perspectivas em ano de grande instabilidade

Tejo aumenta a certificação de vinhos em quase 50% e prevê vindima sem quebras Não há memória de um ano como o de 2020, tamanha foi a mudança e a instabilidade que dela adveio, a nível mundial. A vida continua e a agricultura não pode parar. É tempo de balanço.

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e nos vinhos já são conhecidos os números do primeiro semestre, nas vinhas, começam a colher-se os frutos de mais uma época, com as vindimas a terem início no final Julho. Assim é na região dos Vinhos do Tejo, de onde ecoam boas notícias. Feitas as contas e face ao período homólogo do ano anterior, de Janeiro a Junho de 2020, a Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo) dá nota de um aumento de 47,13% no que toca à certificação dos Vinhos do Tejo, o que corresponde a 15,21 milhões de litros. Isto quer dizer que podem envergar o selo garantia de qualidade e origem, factor de grande relevo a nível económico, na medida em que atesta que são vinhos feitos com uvas produzidas na região, sob a Denominação de Origem Tejo (DO Tejo) ou a Indicação Geográfica do Tejo (IG do Tejo ou Vinho Regional do Tejo). São cada vez mais os agentes económicos (produtores) que estão despertos para a importância de certificar os seus vinhos, com um impacto bastante positivo junto do consumidor. Os números falam por si e a certificação tem vindo a aumentar de ano para ano. No referido período, os números em milhões de litros são os seguintes: 6,75 em 2018; 10,34 em 2019; e 15,21 em 2020. Neste primeiro semestre o valor de certificação está já acima do total de vinho certificado em 2018, que rondou os 13,50 milhões de litros – valor que subiu para os 23,30 milhões de litros, em 2019. É nesta altura do ano que o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), em conjunto com as várias CVR, avalia a perspectiva de vindima e, por conseguinte, a produção de vinho para a campanha. A produção de vinho em Portugal deverá cair 3% em relação à campanha anterior, valor para o qual não deverá contribuir a região dos Vinhos do Tejo, na medida em que a previsão não aponta para quebra, mas sim para a manutenção dos valores de 2019, ou seja, cerca 61,6 milhões de litros. Segundo o Departamento de Viticultura da CVR Tejo, este foi um ano difícil em termos climáticos, devido à ocorrência de precipitação na altura da floração e das temperaturas elevadas no presente, que já começam a ser habituais, mas que, felizmente, em pouco afectou o desenvolvimento das uvas. Em termos de doenças, o míldio assustou, mas, não teve influência numa perda de produção com significado. Relativamente à quantidade de uva, é muito idêntica à do ano passado, primando por um enorme potencial qualitativo, o que se revela normal em anos de produção mais contida e sem grandes acidentes climáticos. 22

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Participando no Concurso Ibérico Vindouro/Vinduero

Produtores de vinho nacionais apostam no mercado espanhol e na América Latina Produtores de vinho de várias regiões de Portugal estão a apostar no “difícil” mercado espanhol e da América Latina, através da participação num concurso ibérico que anualmente se realiza na aldeia raiana de Trabanca, na província espanhola de Salamanca. Os produtores nacionais, principalmente, os de menor dimensão, garantem que o certame é uma porta aberta para os mercados internacionais como Espanha, Estados Unidos ou os países latinos da América do Sul. Para a Câmara de Provadores do Concurso Ibérico Vindouro/Vinduero, constituída por cerca de 60 pessoas repartida em partes iguais por homens e mulheres, há a garantia de que os vinhos portugueses “estão em crescendo em qualidade”. Porém, os especialistas deixam a certeza de que “há néctares dos deuses” desde a Região Demarcada do Douro, passando pelo Dão, região de Lisboa, Vale do Tejo, Beira Interior, Trás-os-Montes e Bairrada, sem esquecer os vinhos verdes e os vinhos produzidos nas ilhas dos Açores e Madeira.

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O grande desafio é “vencer” a Torre

Serra da Estrela Riders Challenge quer atrair adeptos do ciclismo à Serra Os praticantes e adeptos do ciclismo vão poder contar, a partir deste ano, com um novo desafio no Centro de Portugal. O Serra da Estrela Riders Challenge. O evento, com um conceito inovador, foi apresentado no Centro de Interpretação da Torre do Estrela Geopark.

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prova, de inscrição gratuita, vai decorrer de 15 de Agosto a 18 de Seia, Esmeraldo Carvalhinho e Filipe Camelo. Outubro, período em que os ciclistas amadores podem enfrentar “É uma honra o Geopark Estrela poder acolher a apresentação deste projeto, tão importante para a dias encostas da Serra da Estrela. O conceito deste desafio de ciclismo de estrada passa por cumprir três etapas, correspondentes a três circuitos vulgação do território”, começou por dizer Emanuel de desenhados nas vertentes que rodeiam o maciço central, com inícios e Castro, lembrando que a Estrela integra, desde Julho, os finais em Manteigas e em Seia. Ao contrário dos eventos com data e hora 161 Geoparks da UNESCO no mundo, num “reconheciespecífica, neste desafio os participantes têm cerca de dois meses para mento internacional que veio dar uma nova responsabialcançarem o objetivo final – a conclusão das três etapas – podendo eslidade e abrir novas possibilidades no desenvolvimento colher dias e horários para cumprir os diversos trajetos. das comunidades deste território”. António Queiroz apresentou sucintamente o Serra da A Etapa Este, com uma distância de 77 quilómetros, comporta um Estrela Riders Challenge, sublinhando a “ligação natural desnível acumulado de 2.550 metros e passa por Manteigas, Vale da que há muito existe entre a Serra da Estrela e o ciclismo”. Amoreira, Verdelhos, Teixoso, Covilhã, Piornos, Torre, com regresso a Manteigas. A Etapa Oeste, de 102 quilómetros e desnível acumulado “Queremos contribuir para o desenvolvimento do turismo sustentável nesta região”, disse, acrescentando que o dede 2.450 m, tem início e final em Seia ou Manteigas, com passagem safio agora apresentado “é baseado em três circuitos, três pela Torre, Sabugueiro, Seia, Gouveia, Penhas Douradas e Manteigas. A Etapa Sul, com 115 quilómetros e desnível acumulado de 3.100 m, etapas que passam pela Torre e pelos pontos mais icónicos da Serra, de forma a incutir nas pessoas a vontade de ficarem passa por Seia, Valezim, Vide, Pedras Lavradas, Alvoco da Serra, Loridurante três dias”. “Um fim de semana não é suficiente, os ga, Adamastor, Torre, Sabugueiro e Seia. A sinalização de percursos, registo de dados, validação dos objetiparticipantes terão de ficar alojados três dias, ou voltarem cá três vezes”, frisou. vos e a performance dos atletas é feita através de dispositivos eleJoaquim Gomes salientou a importância histórica da região trónicos e plataformas digitais já desenvolvidas para este fim, recursos que a organização utiliza para gerir e verificar todos os dados. da Serra da Estrela para o ciclismo, que lhe deu “as maiores glórias, mas também os maiores desaires” enquanto ciclista A apresentação contou com as presenças de Emanuel de Castro, coordenador executivo da Associação Geopark Estrela, António profissional, tendo ambas as situações contribuído para a sua formação. “Quando vejo estes projetos numa região tão fantásQueiroz, diretor da Ultra Spirit Sports, Joaquim Gomes, diretor da tica e quando vejo que a bicicleta tem uma importância cada vez Volta a Portugal em Bicicleta, e José Mendes, ciclista do FC Porto e campeão nacional de estrada, além de Pedro Machado, presidenmaior na sociedade, fico muito orgulhoso. O futuro ligado à bicicleta está assegurado nesta região”, sustentou. te do Turismo Centro de Portugal e dos autarcas de Manteigas e 24

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NOVO OPEL CORSA

Gasolina Diesel Elétrico

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O seu Concessionário Opel Consumo de energia Opel Corsa-e 16,8 - 16,5 kWh / 100 km (ciclo WLTP*); Emissão de CO2 0 g / km; autonomia de 329 km a 337 km (ciclo WLTP*). * Os dados apresentados sobre autonomia e consumo de combustível são preliminares e foram determinados de acordo com a metodologia do procedimento de teste WLTP (R (EC) N.º 715/2007, R (EU) N.º 2017/1151). A aprovação do tipo EG e o Certificado de Conformidade ainda não estão disponíveis. Os valores preliminares podem diferir dos valores finais oficiais de aprovação do modelo. O uso quotidiano pode diferir e depende de vários fatores, em particular: do estilo de condução pessoal, características do percurso, temperatura exterior, aquecimento/ar condicionado e pré-condicionamento.

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04/03/2020 16:34

José Mendes partilhou da mesma opinião: “A Serra da Estrelas é das subidas mais desafiantes que um ciclista pode ter. Este circuito é um atrativo para as pessoas desafiarem os seus limites e verem até onde podem chegar. Estão reunidos todos os ingredientes para que este desafio seja um sucesso”. Esmeraldo Carvalhinho, na qualidade de um dos anfitriões da prova, frisou que o ciclismo tem a capacidade “de aproveitar o potencial natural do nosso concelho de Manteigas”. “Estas atividades trazem à Serra milhares de pessoas e são importantíssimas para o nosso território”, disse. Pedro Machado recordou que o ciclismo é um setor que, a nível europeu, representa 8 mil milhões de euros em viagens e 35 mil milhões em atividades, sendo “um setor poderoso na atratividade de receitas e de pessoas”. “O turismo deve representar valor acrescentado para as comunidades residentes, que devem sentir que ter turistas é uma vantagem. Eventos como este têm essa capacidade”, disse. “Acredito que a Serra da Estrela pode ter 365 dias de época alta, com neve no Inverno e muitos meses de atividades, o que permite combater a sazonalidade e criar animação durante todo o ano. O pedestrianismo, o cicloturismo, a escalada, são atividades, entre outras, pelas quais a extraordinária Serra da Estrela tem grande apetência”, destacou. A finalizar a apresentação, Filipe Camelo, manifestou visão idêntica, dizendo que “há condições pra aproveitarmos a Serra durante as quatro estações, trazendo valor acrescentado a todos. Acredito que esta prova, nestes moldes, trará valor acrescentado para a região”.

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Crónicas Rurais

Terra Quente, Terra Fria: terra traída Por: Júlio Sá Rego Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto, Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão. A ave passa e esquece, e assim deve ser. O animal, onde já não está e por isso de nada serve, Mostra que já esteve, o que não serve para nada. A recordação é uma traição à Natureza, Porque a Natureza de ontem não é Natureza. O que foi não é nada, e lembrar é não ver. Passa, ave, passa, e ensina-me a passar! (Alberto Caeiro, 1925, poema XLIII)

pelo retorno estival dos que emigraram para outras terras, há muito tudo já teria ido por água abaixo. O discurso público torna-se acusador. O pastor tende a sentir-se mais acuado e sem voz para se defender. “Mas nós também gostamos dos animais”, exclamam! A relação do pastor com seu rebanho e a natureza é dificilmente questionável quando se experiencia o cotidiano deles. A história da pastora do Parque de Montesinho que cantava para suas ovelhas é apenas uma das inúmeras demonstrações cotidianas inha percorrendo o distrito de Bragança, da Foz Tua a Vinhais, de Mide carinho e apreço pelas ovelhas do rebanho. randa do Douro a Mirandela, a visitar explorações ovinas, negocianAo fim e ao cabo, o pastor vive para assegurar o bemtes, restaurantes e, claro, matadouros. Foi justamente em um matadouro -estar e a saúde de seus animais. A diferença com nossa onde ressurgiu uma conversa já frequente de outras viagens: a crescente percepção urbana quase edênica da natureza, porém, é preocupação com o bem-estar animal na sociedade portuguesa e, seu que tudo tem uma função a cumprir. Enquanto para uns corolário mais drástico, a expansão do vegetarianismo e do veganismo. a natureza tem de ser o quanto possível protegida e preLá estava eu, sentado num escritório justaposto a uma sala de abate, a servada em seu estado imaculado, para outros a natureza dialogar sobre o direito dos animais. Matadouros em Portugal possuem tem de ser gerida como parte integrante do sistema de rigorosos cadernos de encargos e regras operacionais e muito se prosustento à vida. grediu com respeito ao bem-estar animal no decorrer dos anos. Porém A confrontação dessas duas visões de mundo não é ree a despeito dos esforços desenvolvidos, funcionários de matadouros cente, nem restrita à pastorícia transmontana. As duas vitendem ainda a se sentir discriminados por parte da sociedade. sões têm interagido em dialética desde o século passado A discussão sobre o especismo é vasta. A hierarquização moral das e desenhado políticas agrárias e ambientais pelo mundo. O espécies vivas e os direitos subjacentes que lhes são conferidos gefato, já comprovado, é que nada disso é binário. A paisagem ram um debate ético efervescente e polarizado que não caberia nesé dinâmica, possui vida própria, e devolvê-la ao estado de ausas linhas. Não obstante a legitimidade dos pontos de vista políticos togestão solitária tende a provocar resultados inesperados e e filosóficos de cada um, o sentimento de frustração é generalizado mesmo indesejáveis, como os incêndios rurais em Portugal. na fileira ovina transmontana. Na pecuária tradicional familiar, em Fala-se muito, cada vez mais, da função da pastorícia na maparticular, paira incompreensão, quase sentimento de traição. Pasnutenção da paisagem. A pastorícia é alçada a instrumento de tores nunca deixaram de cumprir seu papel social de alimentar a gestão pública ambiental e ganha novo estatuto de utilidade nação, apesar da dedicação e dos sacríficos pessoais requeridos; pública. Não se pode negar que a pressão exercida pelo animal hoje, em retorno pelos bons serviços cumpridos, a sociedade pa(pequenos e grandes ruminantes, mas também cavalos e ourece não os desejar mais. tros) molda a vegetação, contribuindo para a biodiversidade e, O cordeiro vende-se mal. O preço está estancado há anos e os ao que nos interessa aqui, a prevenção dos incêndios. A pastorírendimentos das explorações ovinas despencam. Se não fosse cia liberta os montes, insufla-lhes oxigênio como sangue a correr o mês de agosto e seu alto consumo de cordeiro impulsionado

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pelas veias, e devolve vitalidade à paisagem. A pastorícia, contudo, não existe sem seu pastor, o arquiteto ambiental que dirige o apetite de seus animais, selecionando a ementa do dia através de rotas previamente determinadas. Pouco resulta do acaso. A sustentabilidade e racionalidade de todo o sistema de pastoreio dependem única e intrinsecamente das habilidades e conhecimentos dos pastores. Mas isso, aos pastores de ovelha de Bragança, talvez interesse pouco; eles que estão mais à espera de recuperar a confiança da sociedade a quem sempre alimentou e tirar um rendimento justo de seu trabalho digno. Se hoje é outorgada à pastorícia uma utilidade pública ambiental, já chegou a hora de outorgar ao pastor o mesmo reconhecimento social. * Texto original * Júlio Sá Rêgo é economista e antropólogo nascido em Paris e criado no Rio de Janeiro. Especialista do patrimônio cultural imaterial e do desenvolvimento sustentável, ele está a percorrer o Centro e Norte de Portugal relatando as pastorícias em busca das agora em voga “cabras sapadoras”. Em plena pandemia e à espera do próximo grande incêndio, percebemos cada vez mais a relevância de empoderar as comunidades portadoras de soluções locais para enfrentar as crises globais do Antropoceno. [website] www.juliosarego.site [email] jsr@juliosarego.site [Instagram] @aneconomistinanthropology

NR: Esta é a última crónica desta série. Agradecemos ao Júlio Sá Rego a disponibilidade e esperamos por um novo conjunto de crónicas que nos levem a conhecer o quotidiano do nosso meio rural. Bam haja. José Luís Araújo

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Geminação em 1996 une as duas cidades

Presidente da Associação Les Amis do Jumelage de Marly le Roi visitou Viseu O presidente da Associação Les Amis do Jumelage, de Marly le Roi, Patrick Gautier, esteve de visita a Portugal e passou por Viseu. A visita de cortesia foi aproveitada para a celebração de um protocolo de representação mútua entre aquela associação francesa e a Confraria de Saberes e Sabores da Beira ‘Grão Vasco’.

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a ocasião, a Confraria Grão Vasco atribuiu o Título de Confrade a Patrick Gautier, um amigo de longa data, mas também algumas publicações da Confraria, como o livro “Sete Olhares sobre Viseu” e o “Viseu à prova”, cuja apresentação era para ter acontecido em Abril, mas que deverá ocorrer brevemente. O ilustre visitante foi recebido pelo presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, que, na ocasião, contou um pouco da história de Viseu, mas também os projetos que tem para o concelho de Viseu. O autarca salientou a ligação existente entre Viseu e Marly le Roi, através da geminação entre as duas cidades, que aconteceu a 8 de Setembro de 1996. Por sua vez o presidente da associação francesa teve palavras de elogio para com Viseu e as suas gentes, que “sabem bem receber”, bem como “a excelente gastronomia” e o património edificado. Seguiu-se um repasto num restaurante da cidade, regado com vinho do Dão, que Patrick Guatier levou como recordação, numa oferta da empresa Amora Brava, com o afamado e premiado Índio Rei Reserva de 2015. A visita à região terminou com uma passagem pela Casa de Aristides de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato, onde foram recebidos pelo vice-presidente da Fundação Aristides de Sousa Mendes, Luís Fidalgo. Recorde-se que Marly le Roi é uma cidade situada nos arredores de Paris, onde há uma “forte presença portuguesa” oriunda das regiões de Viseu e de Braga.

.... Ecos do Campo

Tradição gastronómica na Moita é para cumprir

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nualmente a Moita, uma aldeia do concelho de Castro Daire, promove um repasto gastronómico sobre a égide dos irmãos Paulo, José e Luís Chaves. Este ano a promessa foi cumprida em modo restrito e com ‘convidados especiais’. Houve vinho para todos os gostos, cerveja à descrição e muito boa disposição. Ah, e as histórias? Ui, as estórias! Só faltou a bola. À volta os campos, como em qualquer aldeia, são pequenas hortas, mas as atenções estavam centradas no cabrito assado da região, bem como outras iguarias com que os chefs cozinheiros de serviço serviram os comensais. 28 www.gazetarural.com


Município da ilha do Pico assinou auto de consignação

Ciclovia vai mostrar as belas paisagens da Madalena Uma ciclovia, com 13 quilómetros, vai mostrar as belas paisagens da costa picarota. A obra, já consignada, irá contribuir para uma mudança do paradigma da mobilidade no concelho da Madalena, tornando este município açoriano mais ecológico, dinâmico e atrativo para quem lá vive e para quem o visita, num forte incentivo ao turismo de natureza no Triângulo.

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travessando as idílicas paisagens costeiras, entre o Cachorro e a Areia Larga, a obra possui ainda um troço que liga, no coração da Vila, os principais edifícios públicos, como o terminal do Porto da Madalena, a Igreja Matriz, a Câmara Municipal, a Escola Profissional e a Escola Cardeal Costa Nunes, libertando a vila de trânsito automóvel e convidando as pessoas a usufruir do centro, de modo a revitalizar o comércio local. “O dia de hoje (10 de Agosto) ficará na história da nossa Vila, do nosso Concelho, da nossa Ilha! Hoje, a Madalena entra num novo paradigma de mobilidade”, afirmou o presidente da Câmara Municipal. José António Soares acrescentou que “o concelho vê nascer uma obra estruturante que irá contribuir, fortemente, para nos afirmar como um centro urbano dinâmico e ambientalmente sustentado”. Representando um investimento de cerca de 750 mil euros, co-financiado em 85 por cento pelo PO 2020, a obra integra-se na estratégia autárquica de promoção da mobilidade ecológica e fomento turístico, dentro de uma política de desenvolvimento sustentável deste setor, assente na valorização e proteção do património ambiental e cultural da ilha.

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inseridas na Rede Regional de Percursos Pedestres

Ilha de São Jorge ligada de Este a Oeste por duas Grandes Rotas A ilha de São Jorge passa a estar ligada, de Este a Oeste, por duas Grandes Rotas, com uma extensão total de 101 quilómetros, inseridas na Rede Regional de Percursos Pedestres. A inauguração de inauguração contou com a Secretária Regional da Energia, Ambiente e Turismo.

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11 novos percursos de diferentes promotores, prevenste é um trilho que percorre, sensivelmente, metade da ilha, num do-se num futuro próximo um novo aumento em cerca percurso linear que liga o extremo Oeste da ilha, em Rosais, à de 100 km de trilhos no âmbito da implementação desFajã dos Cubres, na costa Norte, com uma extensão total de 52km”, frisou tas novas propostas”, acrescentou. Marta Guerreiro. Segundo a governante, “este é um percurso que alterna Marta Guerreiro destacou, ainda, o investimento do entre o planalto da parte mais interior da ilha,” onde nasceram os cones Governo dos Açores em mais de 80 mil euros, durante os vulcânicos que geraram a ilha, com as vertentes escarpadas e muito altas últimos dois anos, nos percursos pedestres em São Jorge, que se despenham em pequenas áreas aplanadas ao nível do mar, resulrealçando a implementação da ponte suspensa na Fajã de tando nas paisagens emblemáticas das Fajãs de São Jorge. Esta grande São João, que se tem tornado num ponto de atração turísrota apresenta-se dividida em duas etapas, Fajã do Cubres – Santo Amatica por si só. ro e Santo Amaro – Rosais, de 30km e 22km respetivamente. Na ocasião, a titular da pasta do Turismo lembrou a criaA Secretária Regional salientou que “estas duas Grandes Rotas podeção do Plano de Rápida Intervenção de Socorro (PRIS), outro rão dar um forte contributo para o aumento da permanência dos turiscaso em que São Jorge “é um exemplo da aposta que se tem tas na ilha de São Jorge, permitindo valorizar as localidades por onde feito neste produto”, já com quase 90% da sua rede implepassam, nomeadamente, os pequenos negócios como as unidades de mentada. “A par de São Jorge, São Miguel conta com uma alojamento, cafés, restaurantes, supermercados e outros pequenos percentagem de implementação muito idêntica, e o Corvo já negócios familiares”. com a sua totalidade, estando em curso trabalho em todas as Com a abertura desta Grande Rota em São Jorge, a Rede Regional ilhas”, explicou. de Percursos Pedestres passa a contar com 83 Pequenas Rotas e 6 Este é um projeto que está em implementação a nível reGrandes Rotas, o que perfaz um total de 89 percursos pedestres na gional e que passa pela colocação no terreno de postes numeRegião, com um total de 756 km. rados de 500 em 500 metros ao longo de toda a extensão dos Durante a atual legislatura foram homologados 15 novos trilhos percursos e pela posterior identificação dos possíveis caminhos nos Açores, adicionando 176 km à Rede Regional, o que corresque intersetam os trilhos e que permitem chegar às zonas de ponde a um crescimento desta rede em cerca de 30% do seu núsocorro. mero de quilómetros. “Este é um caminho contínuo, pelo que, e tendo em conta os últimos dados das reuniões da Comissão de Acompanhamento de Percursos Pedestres, estão aprovados mais 30

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Tese de doutoramento da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Investigação quer ajudar a melhorar a gestão e planeamento hídrico em Portugal Uma tese de doutoramento da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) aplicou “metodologias inovadoras” para minorar e ajudar a melhorar a gestão e planeamento hídrico e combater esses problemas. Neste âmbito foi desenvolvido um modelo que visa selecionar “locais ótimos” de Aproveitamento de Águas Pluviais (AAP).

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três metros de altura são capazes de apoiar a agricultura doméstica ou coaseado em simulações, este modelo, que aguarmunitária pequena, com áreas de irrigação menores que 10 hectares, ou da resultado de submissão de patente europeia, auxiliar no combate a pequenos incêndios florestais”. Mas, projetos de irrifoi testado na Bacia do Rio Ave, numa área agrícola 400 gação mais rigorosos “exigem o armazenamento de água da chuva colhida hectares, tendo sido analisada a captação de água da em estruturas mais projetadas, ou seja, não sustentáveis”, refere ainda a chuva (RWH) em bacias hidrográficas para uso agrofloinvestigadora. restal e dada atenção ao equilíbrio entre os valores de Com o foco centrado na mitigação de eventos extremos, foi também sustentabilidade e à capacidade de armazenamento dos desenvolvido um modelo de atenuação de inundação baseado em Bacias sistemas de AAP. Esta escolha permitiu a seleção de “lode Retenção Sustentável em Portugal Continental, tendo sido assinaladas cais ótimos” longe de centros urbanos ou grandes áreas 23 zonas que implicavam risco de inundação alto e muito alto. Através agrícolas, localizados em bacias hidrográficas de alta alde cálculo, foi feita a retenção do volume de água, tendo as conclusões titude. indicado que em 20 destas zonas “seria possível controlar o volume de “Os resultados obtidos destacaram a importância das caágua com infraestruturas até 10m, mas em Coimbra, Santiago do Cacém racterísticas do local onde se pretende implementar o moe Ponte da Barca seria necessária uma infraestrutura superior (grande delo. A melhor área para fazer o aproveitamento da água barragem) para fazer face a este risco”, salienta Daniela Terêncio. poderá depender do pretendido pelo utilizador, sendo que Esta investigação, realizada no âmbito do Projeto INTERACT, foi poderá escolher se pretende que o local de captação seja orientada por Luís Filipe Fernandes, Fernando Pacheco e Rui Cortes, mais perto ou com uma parede do açude mais pequena ou docentes e investigadores da UTAD, tendo culminado em diversos até onde tenha a certeza que terá mais água disponível”, exartigos publicados em revistas científicas de topo na área da hidroplica Daniela Terêncio, responsável por esta investigação. logia, recursos hídricos e ambiente, podendo dois destes artigos ser De forma idêntica, este modelo foi aplicado na bacia hidroconsultados no Journal of Hydrology e no Science of the Total Envigráfica do Rio Sabor, nomeadamente em 384 sub-bacias de ronment. captação de precipitação para irrigação de culturas e combate a incêndios florestais, onde foi explorado o equilíbrio entre sustentabilidade e capacidade de armazenamento de água da chuva, tendo sido “claramente demonstrado que barragens com www.gazetarural.com

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Entre o Douro Superior e o nordeste transmontano

Há miradouros de visita obrigatória em Torre de Moncorvo Ao visitar Torre de Moncorvo não pode deixar de visitar alguns locais idílicos para observação da natureza e das paisagens que marcam o território. Destacamos o Miradouro do Talegre, no Castedo, onde está situado o Baloiço do Sobreiro.

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ali a panorâmica é incrível, sendo possível vislumbrar a formidável paisagem sobre o Vale da Vilariça e a beleza dos rios Sabor e Douro e onde se destaca também a formação natural das fragas. Na serra do Roboredo está situado o miradouro da Fraga do Facho, marcado por uma estrutura em ferro de onde é possível vislumbrar a vila de Torre de Moncorvo. Deste local inesquecível avista-se ainda o vale da Vilariça, os rios Sabor e Douro, a serra de Bornes, Vila Flor e, num plano mais afastado, terras de Alfândega da Fé, Freixo de Espada à Cinta e Mogadouro. Ainda na Serra do Reboredo está situado o miradouro da Fraga do Cão, onde se destaca a beleza sublime, da estrutura de pedra em forma de cão, que devido a este fenómeno natural inigualável, ganhou assim o nome de “Fraga do Cão”. No âmbito da campanha Torre de Moncorvo, Destino Turístico Seguro, o Município de Torre de Moncorvo procedeu à criação de alguns miradouros, e sinalização e embelezamento dos existentes. Com este projeto pretende-se dar a conhecer, aos residentes e visitantes, o riquíssimo património natural do concelho.

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Apoiado pelo programa Valorizar, com um investimento de mais de 250 mil euros

Projeto Rota Raia Norte II quer dinamizar autocaravanismo na região Criar e dinamizar áreas de serviço para autocaravanas e a implantar plataformas de bicicletas elétricas no território transfronteiriço Duero-Douro são os objectivos do projeto Rota Raia Norte II.

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candidatura do Agrupamento Territorial de Cooperação Duero-Douro ao programa Valorizar - Linha de Apoio à Valorização Turística do Interior, do Turismo de Portugal foi aprovada e conta com um investimento total de 250.894,70 euros, sendo comparticipada em 70% pelo Turismo de Portugal e 30 % pela Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) Duero-Douro. O projeto Rota Raia Norte II visa ainda a ampliação e dinamização de uma rota de apoio ao autocaravanismo e ao turismo itinerante, ao mesmo tempo que cria mais oferta turística e reforça a existente no território. O investimento total é superior a 400 mil euros. A sessão pública de assinatura do contrato decorreu em Macedo de Cavaleiros e contou com a presença da Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques; do diretor geral da AECT - Duero-Douro, José Luís Pascoal; e do presidente do Conselho de Coordenação do AECT - Duero-Douro, bem como diversos autarcas. O projeto Rota Raia Norte II prevê a criação e dinamização de áreas de serviço para autocaravanas, bem como a implantação

de plataformas de bicicletas elétricas no território transfronteiriço Duero-Douro. O projeto envolve os concelhos de Vinhais, Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta, Torre de Moncorvo, Vila Nova de Foz Côa, e ainda na Freguesia de Picote, em Miranda do Douro, e na União das Freguesias de Aveleda e Rio de Onor, em Bragança, que são os membros mais recentes do AECT Duero-Douro. Recorde-se que com o projeto “Raia Norte”, o AECT Duero-Douro é atualmente constituído por 215 entidades da raia portuguesa e espanhola e pretende criar uma das maiores rotas da Europa para apoio ao autocaravanismo e ao turista itinerante. O objectivo é a criação de mais de 30 áreas de serviço no território transfronteiriço. Em território nacional está prevista a criação de 14 estações de serviço para autocaravanas e a implantação de 12 plataformas de bicicletas elétricas, para além de outras atividades enquadradas no âmbito do projeto aprovado. Gerar atrativos variados nos territórios de baixa densidade é uma das necessidades desta região, sendo que o turismo itinerante é um importante meio para a dinamização local, gerando novos empregos, além de ajudar à sustentabilidade e ao crescimento económico daquelas regiões. www.gazetarural.com

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Diz Henrique Rodrigues, gestor da Soveco Viseu

Houve “uma retoma progressiva acima das expetativas” A pandemia obrigou as empresas a adaptarem-se aos novos tempos e o setor automóvel não foi exceção. A Soveco Viseu, empresa sedeada no Parque Industrial de Coimbrões e que representa várias marcas de automóveis, teve que se reestruturar. “Tivemos que nos adaptar a uma nova forma de trabalho”, afirmou Henrique Rodrigues à Gazeta Rural. O gestor adiantou que depois do desconfinamento houve “uma retoma progressiva acima das expetativas”. Contudo, só nos próximos tempos se saberá se a mesma se manterá. Gazeta Rural (GR): Como têm sido os últimos meses? Henrique Rodrigues (HR): Tem sido uma retoma progressiva, até um pouco acima das expetativas, mas vamos ver como serão os próximos tempos. O mercado decresceu bastante, como era evidente face à pandemia que afetou tudo e todos, com as pessoas confinadas. Por isso tivemos a equipa de vendas em layoff e trabalhámos mais o pós-venda, uma vez que a assistências às viaturas é fundamental, respondendo, dentro das limitações, às necessidades dos nossos clientes. Na área de vendas houve essencialmente teletrabalho, a única forma de contato com eventuais novos clientes, para além de que hoje o consumidor esteve mais atento aos sites das marcas. Isto não significa que no futuro, a curto ou médio prazo, não venhamos a tirar proveito desse trabalho, mas não podemos medir essa situação. A verdade é que tivemos que nos adaptar a uma nova forma de trabalho, sabendo-se que o ‘digital’ é uma ferramenta que está em grande desenvolvimento e que todas as marcas estão a explorar, para além de que o futuro passará por aí.

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GR: Há mudanças de comportamentos nos consumidores, no que toca ao tipo de viatura, manteve-se ou mudou? HR: Há mais procura de viaturas elétricas e mistas. Os consumidores pedem mais informação sobre as opções de que dispomos. Nós temos a Hyundai, uma marca que a nível das viaturas elétricas está muito à frente da concorrência. Tivemos a fase antes de Março, em que estávamos a ter uma grande procura na gama de elétricos, desde logo as empresas, com os benefícios fiscais inerentes, mas que, entretanto, quebrou. Após o desconfinamento a procura de carros elétricos e plugins não foi a mesma, o que me surpreendeu bastante, mas vamos ver se nos próximos tempos isso muda.


Memórias Rurais

Há tanto tempo… por contar! do lenço na cabeça, cujo laço atava na cabeça no trabalho na masseira e no pescoço o resto do tempo. Da casa ficou-me o cheiro a “café de cevada”, sempre quente e açaimado da espuma com uma brasa incandescente deitava por mão calejada nas panelas ao rubro, e feito nas chamas de uma lareira de pedras negras de fumo, permanentemente acesa, verão e inverno, apertada entre a cantareira e o canto da lenha. Bancos minúsculos, afagados pelo uso e em semicírculo, faziam guarda de honra ao copo de alumínio onde o vinho tinto, sempre tinto, era aquecido e com que o asci em Esmolfe! É aqui ao lado da casa meu avô, religiosamente, temperava a sopa: duas colheres bem cheias. e a cada passo ouço o sino da igreja que Ao lado a sala de amassar, sempre abarrotada de taleigas de farinha que o molá vai chamando os mais afoitos a Cristo, lemleiro entregava à porta, e onde o pão nascia, depois da massa, longamente revolbrando-lhes que a vida é curta e conta com eles vida por mãos pequenas, mas poderosas, que, no final, também serviam sob uma para o Coro Celestial, mais tarde ou mais cedo. reza ciciada, mas perceptível, para benzer o fruto que ali ficava a fintar. Que seja tarde, pois! Ouço o chiar da madeira vergada sob os passos e o peso dos adultos, sempre De miúdo e nas profundezas da memória, fibrilhante, esfregada sob a espuma do sabão amarelo. Um longo corredor levava caram os cheiros da casa e as imagens do meu à sala onde uma varanda, pouco maior que minúscula, espraiava o olhar para avô João e da minha avó Lucinda, nítidas, vivas e a fertilidade do vale do Dão e a floresta do Monte Real. E o ar fresco! Aquele sofredoras. Entre uma barba branca, sempre mal ventinho permanente que nos lambia a cara! Um encanto! feita, e um olhar vivo e brilhante, o bigode - amaNa parede, um monte de fotografias a preto e branco de familiares, um carelado ao centro, nicotinado pelo tabaco de onça lendário com uma santa qualquer e um relógio com a caixa em madeira enverenrolado por umas mãos alvas, magríssimas e nonizada, com os pêndulos em constante movimento, assoberbando o silêncio dosas- afilava-se nas pontas subidas aos olhos, parequase religioso de que eu gostava. cendo um sorriso de espanto permanente, entre um Nos baixos, com acesso pela rua inclinada e empedrada que contornava a cabelo alvo e um queixo magro. Como a caricatura casa, duas portas altas e esguias davam entrada e luz para a adega escura e do D. Quixote! fresca, que guardava um pequeno lagar de perpianho e o vinho nascido nas O meu avô fora funcionário público na Repartição pequenas parcelas que arroteavam carinhosamente. (Numa delas, matei, de Finanças com a função de cobrador e notificador com uma fisga, um passarito pousado num ramo de figueira. Que raio de dos faltosos. Ganhou, por isso, a alcunha do “sou manlembrança!). No ar, o odor ácido e doce do vinho novo e do vinagre, vindo dado”, frase repetida perante o choro, o desalento e de pingas que desapareciam na terra batida do chão. a tristeza dos faltosos ou dos menos abonados. Um Sou de Esmolfe! Da terra da “Maça do Bravo de Esmolfe”, que os antigos funcionário triste perante a tristeza dos outros e palmidizem ter sido espontânea há 200 anos no quintal da Vila, na parte fundeilhando quilómetros quase todos os dias pelas aldeias do ra da aldeia, e que os entendidos vieram massificar com clones limpos, concelho e que, ao que parece, tinha um abono de um criados ao que parece na Holanda, nos 80/90, através da Estação Fruteira tostão por cada mil metros percorridos, com as distâncias de Alcobaça. Eles é que sabem! Mas que não tem o sabor, a doçura e o previstas na tabela oficial do Ministério. Caminhava curaroma que ainda privilegia nas antigas macieiras centenárias da região, vado, passos rápidos e olhar no chão, que o peso dos anos é uma verdade. e as andanças pelos caminhos pedregosos lhe tolheram a direitura do corpo. Gabriel Costa A minha avó Lucinda era padeira. Cozia o pão no velho forno comunitário junto ao largo da igreja, no topo da rua que sobe da taberna do “Marques”, e que uns iluminados destruíram para ali funcionar uma capela mortuária, que nunca, ou quase nunca, foi utilizada. A rejeição foi frustrante para os vândalos do património milenar do fogo sagrado dos NR: Depois de ver alguns ‘escritos’ na sua página do Facefornos tradicionais. Vendia nas feiras e, dizia a minha mãe, book, lancei o desafio ao Gabriel Costa para nos contar as com ela aprendeu o ofício de manter o pão fresco durante suas memórias e a vida de tempos não muito distantes. Fiquei uma semana. O sair da cama acontecia pelas quatro horas da satisfeito por ter aceite o convite. matina para calcorrear os 11 quilómetros de caminho para a Bem-vindo às páginas da Gazeta Rural e… Bem Haja. feira de Mangualde. A figura dela era comum às mulheres do povo, sempre de preto, de xaile e cara enrugada entre o abafo José Luís Araújo

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Gazeta Auto

Marca: Renault Captur 1.3 TCE 130 Startup Checklist Por Jorge Farromba

Guidelines Resolvemos levar o Captur, modelo que nunca tinha conduzido, a conhecer o mais recente GEOPARK da UNESCO – A Serra da Estrela. Conhecia já o motor de outros modelos da marca e o chassis idêntico ao do novo Clio. Antes do ensaio já tinha acedido às imagens estáticas aquando do lançamento do modelo e a perceção que anteriormente tinha, mantive-a com o ensaio. Os motivos que levam este SUV a ser um campeão de vendas advêm de vários fatores. A estética é um dos seus maiores argumentos, a habitabilidade e a qualidade dos materiais interiores. A moda dos modelos de 3 volumes, dos monovolumes, das carrinhas, dissipou-se e hoje, mesmo que tal traga custos em termos de aerodinâmica e consumos, o conceito SUV veio para ficar. E a Renault capitalizou isso muito bem e apresenta SUV’s em todo os segmentos.

Estética: Exterior e Interior

A estética do CAPTUR é o que mais o distingue. Do anterior modelo recebe o conceito, o ADN, mas reforça-o com uma imagem dinâmica e apelativa onde também se valoriza a imagem de robustez patente em linhas elegantes e “encorpadas”, fluídas. A frente remete-nos para a imagem de marca com destaque para o logo da marca, os para choques encorpados e as entradas de ar de grandes dimensões com vários apontamentos em cromado. Com a mais elevada altura ao solo, jantes de grandes dimensões (que retiram um pouco do conforto do modelo), proteções de guarda lamas em cinza escuro e uma traseira que descende, qual coupé, para terminar naquela que é para mim a maior alteração face ao modelo anterior – a traseira. Se, no modelo anterior os faróis ganhavam destaque numa tampa da bagageira pequena, aqui, a elegância vem precisamente da moldura traseira dos faróis, dispostos mais horizontalmente e com menor destaque na traseira que, ganha 36

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destaque o portão traseiro e mais uma vez o parachoques e os vários apontamentos cromados, fazendo-nos recordar o seu conceito “fora-de-estrada”. Mas é sobretudo no interior que as maiores surpresas surgem. Esperava encontrar num modelo de entrada, vários plásticos rijos, uma estética simples, de modo a limitar custos. Pois, nada disso ocorre. A maioria dos painéis são em plásticos moles e o tablier é dominado pelo ecrã central de grandes dimensões que domina o interior do modelo. Somente ainda subsistem alguns botões no tablier- AC e outros e, do lado esquerdo do volante, pois tudo o resto é gerido no ecrã, ao melhor estilo TESLA. O painel de instrumentos é também ele totalmente digital e a cores!!! E a consola central foi reinterpretada, passando a contar com amplo espaço para objetos, sendo que, abaixo da alavanca da caixa EDC de 7 velocidades surge um fosso para guardar ainda mais objetos. Simply clever! Os bancos possuem bom apoio lateral e o espaço interior surpreende face ao tamanho exterior sendo que os bancos traseiros deslizam para permitir, se necessário, mais espaço na bagageira – com 2 compartimentos distintos e ampla capacidade.

Materiais, User Experience

Materiais moles um pouco por todo o habitáculo e uma concentração de quase todos os instrumentos no ecrã central, tornam a usabilidade mais simples, sendo que nalguns existe redundância. Atrás do volante podemos controlar o volume do rádio e a estação preferida, sendo que o podemos também fazer no ecrã central.


Em estrada

O 1.3 TCE com discos à frente e tambores atrás, apresenta três níveis de condução ECO, Sport e My Sense, com amplos reflexos no rendimento e dinâmica do motor e caixa. O ambiente interior pode ser customizado através da mudança das cores da iluminação das portas. Sem chave, clicamos no botão start e damos início à viagem. A caixa de velocidades em modo D (podemos assumir o controlo da caixa, através das patilhas no volante) é de fácil acionamento e fruto de se encontrar bem adaptada ao modelo, várias vezes ficamos com a noção que o motor é “maior” que o disponível. Assume-se como um automóvel mais citadino, mas que, nos dias de hoje, facilmente qualquer modelo deste segmento enfrenta estrada normal e grandes desníveis de altitude sem grandes queixumes. A direção elétrica – parametrizável – surge mais intuitiva, sendo que prefiro sempre a solução “mais pesada”. Mesmo assim, o chassis corresponde bem às solicitudes da estrada, a entrada em curva é a normal, sendo que não nos podemos esquecer que se trata de um SUV, mais alto que o veículo tradicional, os pneus com jantes maiores e o tipo de pneus, contribuem sempre para uma dinâmica diferente (leia-se menos efetiva) do conjunto e, esse fator está presente neste e em todos os SUV, fruto das leis da física que se tentam atenuar com software e alterações no chassis e suspensões. Mesmo assim nada que seja motivo de preocupação. A caixa de dupla embraiagem de 7 velocidades passa despercebida em condução. Experimentei a mesma por duas vezes no mesmo local – subir da Covilhã às Penhas da Saúde - e em situações distintas. Modo automático e com as patilhas no volante. Eficazmente o Captur fez o percurso e nunca a caixa se ressentiu do mesmo, correspondendo sempre com a mudança mais correta, no modo automático. Em modo manual, permite explorar melhor o motor e apela a uma maior diversão. Em ambos ficou patente o rigor do chassis e o reduzido adornamento do conjunto. As trajetórias foram as preconizadas e mesmo os pneus com amplo perfil não se “enrolaram” nas curvas comprometendo a dinâmica. Seguro, previsível e com bom comportamento. Receita de sucesso que a Renault soube capitalizar nesta 2ª geração do modelo.

Consumos, preço e segurança

Com preços a partir dos 19.000€ até aos 32.000 da versão Initiale Paris (com motor diesel), esta versão Exclusive ronda os 26.000€ com consumos de 6.4 litros aos 100km.

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Diários

de

Bordo

Porque viajamos?

Por: Luís Serpa

Viaja-se por amor, por trabalho, para mercanciar, descobrir, explorar, para viver ou sonhar, fugir, encontrar. Viaja-se por gosto, por lazer, desgosto, viaja-se com o tempo ou contra ele, por desespero ou na esperança de... Viaja-se para regressar em breve ou nunca mais; sabendo para onde se vai, como se irá, quanto tempo se ficará no destino – ou desconhecendo tudo isso.

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mulheres do porto a gritar em uníssono o nome do iaja-se para fazer a revolução, ou para dela fugir. Viaja-se até com desnavio, felizes por nos verem chegar. tino, ou sem ele. Viaja-se por viajar, para não ficar quieto ou na expec- Em breve os inspectores de redes virão inspecciotativa de um dia se poder, finalmente, ficar quieto. Viaja-se por mil e uma nar-nos – avisara-me o capitão durante uma das suas razões, muitas mais do que as que nos fazem ficar onde estamos. Essas são raras e breves estadias a bordo. – Faz o que quiseres, poucas. mas não os tomes por estúpidos. Viaja-se leve ou pesado, alegre ou triste, com raiva ou sem ela, de olhos Os inspectores vieram. Convidei-os para uns whiskies abertos ou fechados. Viajamos para nos encontrar, para nos desencontrar, no meu camarote, com o pretexto – verdadeiro – de para encontrar. Viaja-se porque se vai para a Terra Prometida ou quando se que precisava de ajuda para ganhar uma aposta (beber descobre – geralmente com um custo elevado – que tal coisa não existe. uma garrafa de cinco litros antes de uma determinada O objectivo de uma viagem não é forçosamente a beleza, porque entre hora). Eles ajudaram, de boa vontade. Depois levei-os a curiosidade e a estética os laços não são tão estreitos como tantas vezes a ver a rede com a qual «pescávamos». Era nova, ainda se pensa. Viajamos para descobrir o outro – ser mítico que só existe nos liestava na embalagem. Cortaram o plástico que a envolvia vros de psicologia barata; para nos descobrirmos – esforço inglório: como – várias camadas dele, aquilo tinha acabado de chegar disse James Baldwin, «o viajante é sempre maior do que o mundo no da fábrica – mediram a malha e muito sérios disseramqual viaja». Viaja-se no tempo, seja para regressar às origens, seja para -me que estava em ordem. Para não se tomar os outros delas fugir. Como se existissem, como se as origens fossem a nascente por estúpidos os outros não podem ser estúpidos, passe de um rio e não os seus afluentes, como são. o truísmo. Da viagem traz-se mais do que se leva, por muito que se leve, se teViaja-se porque sim, porque não e porque não sabemos nha esquecido o que se sabia à partida, por muito que a viagem tenha porquê. Um dia saí de uma discoteca em Cascais, eram três durado, ou pouco: a viagem é uma operação aritmética que desconheda manhã, talvez quatro. Apanhei um táxi para casa, perto ce a subtracção. Uma viagem tem princípio, mas não tem fim: todas as de Carcavelos. A meio caminho pensei que a minha vida era viagens que fizemos prosseguem nas que se lhe sucedem e continuam estúpida, não fazia sentido: deitar-me todos os dias de mano que somos hoje, acumulam-se em nós como camadas de sedimendrugada, acordar ao meio-dia (estava de férias), ir passear, tos no fundo de um rio. acabar nos copos. Fui a casa, disse ao chauffeur para me esViajar partilha com viver muito mais do que a primeira sílaba. perar, fiz um saco com roupa e «vamos para o aeroporto, se faz favor». Chegado à Portela, havia um balcão da TAP aberto. II - A que horas sai o primeiro avião, minha senhora? De uma cidade da Sibéria chamada Nakhodka, onde passei qua- Sai daqui a uma hora. tro meses (no Inverno), trouxe uma paixão que dura até hoje; do - E para onde vai? Rio de Janeiro (no Verão) outra, que também dura até hoje. De - Para Milão. Cape Town – uma das cidades mais bonitas que já visitei – uma - Dê-me um bilhete, se faz favor. paixão transformou-se em amizade e esta em nada. Há viagens Cheguei a Milão eram oito da manhã, lembrei-me de que a assim: o que delas trazemos esfuma-se e fica só o resto: as bebejovem que amara no Rio vivia provavelmente lá, não tinha a cerdeiras, a beleza, a frequência regular de um bar sórdido, as entrateza, indaguei, vivia, fui tomar o pequeno-almoço a casa dela, pasdas no porto, sempre tão bonitas, todas e cada uma delas com as 38

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sámos quase um mês em Milão e acabámos em Veneza, uma semana. Há viagens circulares. Nunca mais a vi, mas ainda hoje a amo e tenho pena de não poder refazer uma viagem assim, impromptu, sem querer, sem planos. «Há que ter um plano, se queres poder não o respeitar», dizem os logísticos ingleses. É verdade. Mas se algumas viagens requerem um plano, outras fazem-no elas, um plano à medida; e ao viajante só cabe adaptar-se ao que a viagem lhe preparou. III De Veneza fui para Caracas, onde passei seis meses. Detestei o país, na altura ainda próspero. Trabalhei na Marinha Mercante venezuelana – fui o primeiro oficial estrangeiro com licença para embarcar em navios da Venezuela –, dormia num iate cujo interior consistia basicamente numa rede (de dormir, não de pescar) e comecei a fazer fotografia. Cape Town veio a seguir, depois um ano em Lisboa, depois as vindimas em França, vinte anos, dois filhos e um casamento feliz na Suíça – com um intervalo no Burundi, outro no então Zaire, outro ainda em Aveiro, nas dragagens do porto, outro nos Açores, três épocas. (A desordem do relato é total e propositada: não há, nunca houve ordem nestas viagens.) De Aveiro fui a Moçambique num velho cargueiro – foi a sua última viagem –, voltei à Suíça, fui para os Açores, atravessei o Atlântico pela primeira vez e sobrevivi a um ciclone no mar... Se traçasse num mapa-mundo as viagens todas que fiz, ele ficaria a parecer os rabiscos de uma criança hiperactiva na parede da sala. IV Pode viajar-se de comboio, de carro, de bicicleta, de barco,

de avião, de burro ou de camelo, a pé, sozinho ou acompanhado, à boleia, sem sair de sua casa ou da sua cidade, pode viajar-se de todas as formas e feitios pela razão simples e irrefutável de que viajar é viver e viver é viajar. O planeta inspira e expira a cada passo que se dá, cada dia em que se vê o sol nascer num sítio e pôr-se noutro, cada montanha – real ou metafórica – que subimos e descemos, cada oceano que atravessamos, cada cidade de que descobrimos uma estação ferroviária ou se descobre para nós, como uma mulher apaixonada se despe para o homem que a seduziu. V Agustina dizia que por detrás de cada viagem se esconde uma intenção erótica. E se tivesse razão? www.gazetarural.com

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