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Agroglobal organiza conferências online e promove visita virtual Semana da Ostra 2020 decorre em trinta restaurantes de Setúbal
Albergaria-a-Velha promove o IV Roteiro Gastronómico da Carne Marinhoa
O “charme da região do Dão não desapareceu com a pandemia”, diz o presidente da Câmara de Nelas
Presidente da CVR Dão alerta para a lenta retoma dos mercados Sónia Martins comemora 20 anos de dedicação ao vinho e é gestora em 2020 Produtor da Quinta das Marias olhe o momento atual e espreita oportunidades
Ficha técnica Ano XV | N.º 369 Periodicidade: Quinzenal Director: José Luís Araújo (CP n.º 7515) E-mail: jla.viseu@gmail.com | 968 044 320 Editor: Classe Média C. S. Unipessoal, Lda Sede: Lourosa de Cima - 3500-891 Viseu Redacção: Luís Pacheco Opinião: Luís Serpa | Jorge Farromba | Gabriel Costa Departamento Comercial: Luís Cruz Sede de Redacção: Lourosa de Cima 3500-891 Viseu | Telefone: 232 436 400 E-mail Geral: gazetarural@gmail.com Web: www.gazetarural.com ICS: Inscrição nº 124546 Propriedade: Classe Média - Comunicação e Serviços, Unip. Lda Administrador: José Luís Araújo Sede: Lourosa de Cima - 3500-891 Viseu Capital Social: 5000 Euros CRC Viseu Registo nº 5471 | NIF 507 021 339 Detentor de 100% do Capital Social: José Luís Araújo Dep. Legal N.º 215914/04 Execução Gráfica: Classe Média C. S. Unipessoal, Lda R. Cap. Salomão, 121 - Viseu | Tel. 232 411 299 Estatuto Editorial: http://gazetarural.com/estatutoeditorial/ Tiragem Média Mensal: 2000 exemplares Nota: Os textos de opinião publicados são da responsabilidade dos seus autores.
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Venda de flores ‘salva’ o Verão nos Viveiros Batista “Vamos ter uma vindima mais pequena do que no ano passado”, diz o presidente da Adega de Penalva
Quinta de São Francisco aposta em produtos de qualidade e de nicho
Na sub-região de Silgueiros “a colheita será superior entre 10 e 15%” AgroB organiza visitas técnicas a empresas frutícolas exemplares Rota turística e gastronómica quer valorizar e promover o queijo da região centro
V21 Rural desafia a vestir a pele de empreendedor por uma semana Há ‘Vinhos a Descobrir’ no Mercado Ferreira Borges
Garrafa autografa por Amália Rodrigues em 1975 ofertada à CVR Dão
Marcada para os dias 9, 10 e 11 de Setembro
Agroglobal organiza conferências online e promove visita virtual
Como todos os eventos programados, a Agroglobal vai decorrer em modo virtual. O maior evento profissional agrícola do país teria este ano a sua sétima edição.
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mesma foi adiada para Junho de 2021, mas a Assim, no dia 9, durante a manhã o tema será “agricultura de precisão” e organização quer assinalar a data, nos dias 9, 10 à tarde “Desafios da floresta de produção e a PAC pós 2020”. No dia 10, de e 11 de Setembro, com um conjunto de iniciativas, mas manhã “Novas culturas e agricultura biológica” e de tarde “Almond Summit” respeitando as normas impostas neste período conturPara a manhã do dia 11 está marcada a conferencia “Portugal no futubado da vida no mundo. ro, visão estratégica para Agricultura, Alimentação e Território” e à tarde “A Agroglobal vai dar o seu contributo, assinalando “Estratégias ‘Green Deal’, ‘Farm to Fork’ e Biodiversidade 2030 na PAC e as datas em que se realizaria, incentivando o espírito Estratégia Portuguesa na PAC”. resiliente e construtivo dos empresários do setor e dos O auditório onde decorrerão estas sessões será instalado no recinto da nossos dirigentes”, refere a organização, liderada por feira para ‘transportar’ virtualmente os visitantes para o ambiente AgroJoaquim Torres. “Infelizmente não poderá realizar-se, global, até porque aí estarão a decorrer os trabalhos de campo nas cultumas vivemos tempos demasiado importantes para deixar ras instaladas, e nunca descuradas, pelas empresas que levaram a cabo passar em ‘claro’ um acontecimento que, de dois em dois ensaios e demonstrações. anos, vem constituindo uma referência da agricultura porO conjunto de personalidades que se deslocarão a este auditório, isotuguesa”, acrescenta. lado no campo único da lezíria do Tejo, assegura, desde já, que ‘esta’ O setor, que foi exemplar na reação aos momentos mais Agroglobal será o acontecimento agrícola do ano no nosso país. difíceis provocados por esta crise, quer agora, no momento As expectativas da organização para a edição 2020 apontavam para a em que se avalia o relançamento da economia portuguesa, presença de 475 empresas ligadas ao setor agroflorestal, que visavam olhar de novo em frente e pensar o muito que ainda podeestabelecer novos contactos, partilhar novos conceitos e tecnologias mos fazer para a melhoria da eficiência de um setor essencial entre si e com os milhares de empresários agrícolas visitantes. O cerpara a coesão do nosso território. tame, na forma tradicional, foi adiado para os dias 6, 7 e 8 de Julho Assim, nesses dias, haverá uma planta virtual na página de 2021. web www.agroglobal.pt e divulgada pelos media partners em que os expositores vão comunicar as suas mais recentes soluções e os seus projetos inovadores a todos os visitantes que a ela queiram aceder. Decorrerá também nesses dias um ciclo de conferências, sobre questões agrícolas atuais que poderão ser seguidas por todos em live streaming. www.gazetarural.com
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Entre os dias 4 e 13 de Setembro
Semana da Ostra 2020 decorre em trinta restaurantes de Setúbal A ostra está em destaque nas ementas de perto de trinta restaurantes, entre os dias 4 e 13 de Setembro, num evento inserido na estratégia de promoção gastronómica e turística desenvolvida pela Câmara de Setúbal.
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urante dez dias, os restaurantes aderentes dão a provar receitas, umas tradicionais, outras inovadoras, produzidas com ostras do
Sado. O evento, organizado pela Câmara de Setúbal e pela Exporsado, com o apoio da Docapesca e da Makro, inclui, no último dia, 13 de Setembro, às 18 horas, no Mercado do Livramento, uma degustação comentada conduzida pelo produtor de ostras Exporsado. A atividade é de participação gratuita, mediante inscrição prévia, até 10 de setembro, a qual deve ser feita pelo endereço eletrónico gape@mun-setubal.pt. A Semana da Ostra integra um calendário de eventos gastronómicos dinamizado pela autarquia no âmbito da marca Setúbal Terra de Peixe com o objetivo de divulgar sabores e tradições da cozinha setubalense e, em simultâneo, estimular a restauração local e promover o concelho enquanto destino turístico de excelência. A lista dos espaços de restauração aderentes inclui 490 Taberna STB, A Casa do Peixe, A Vela Branca, Adega dos Garrafões, Calha Bem, Copa d’Ouro, Ferribote, Flórida, Martroia, Novo Capote, O Batareo, O Tavira e Oficina do Peixe. Ostradamus, Ostras sobre Rodas, Peixe no Largo, Pérola da Mourisca, Pestisqueira o Manuel, Sab’Amar, Sem Horas, Solar do Marquês, Taberna de Azeitão, Taberna do Largo, Tasca do Xico da Cana e Tasca Kefish completam a lista de restaurantes participantes. 6
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Até 15 de Setembro, nos restaurantes locais
Albergaria-a-Velha promove o IV Roteiro Gastronómico da Carne Marinhoa
Até 13 de Setembro nos restaurantes aderentes
Cebola é rainha de Quinzena Gastronómica em Portalegre
O CLDS 4G “Albergaria Integra’T”/PRAVE e o município de Albergaria-a-Velha, em estreita parceria com a Associação de Criadores de Raça Marinhoa, promovem o IV Roteiro Gastronómico da Carne Marinhoa no Concelho de Albergaria-a-Velha. A iniciativa decorre até 15 de Setembro, contando com a adesão de algumas estruturas gastronómicas do concelho.
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roteiro tem como principal objetivo a criação de sinergias para a promoção da carne Marinhoa e o aumento do número de criaCâmara de Portalegre organiza, até 13 de Setemdores na região solar da raça (Albergaria-a-Velha), desenvolvendo-se bro, a Quinzena Gastronómica “Comidas com Cebouma dinâmica territorial promocional que permita valorizar a atrativila”, nos restaurantes aderentes do concelho de Portalegre. dade do território. Pretende-se, igualmente, desenvolver a economia Abrindo portas para bem receber comensais, oriundos de local e atrair mais visitantes ao Concelho. todos os cantos do país e do mundo, o objetivo passa por dar A carne Marinhoa é um produto endógeno da região e do Cona provar produtos de excelência, cozinhados à base de cebola celho de Albergaria-a-Velha, proveniente da raça bovina Marinhoa, com base nos saberes e tradições desta região. que tem origem no Baixo Vouga. Foi registada, no âmbito da CoCação de cebolada, sopa de tomate com ovo escalfado ou munidade Económica Europeia, como carne DOP (Denominação de toucinho frito, iscas de cebolada e perdiz de escabeche, são Origem Protegida), em 1994, e certificada como Produto de Qualialgumas, entre muitas outras opções que pode aliar com os vidade (DOP), em 2000. nhos singulares deste território e maravilhosas sobremesas de Esta carne varia do rosa pálido ao vermelho escuro, conforme a comer e chorar por mais. idade dos animais, é consistente e suculenta, com sabor intenso. Esta Quinzena Gastronómica, que teve início a 29 de Agosto, Os estabelecimentos aderentes vão estar devidamente identificaenquadra-se no âmbito da Feira das Cebolas, que se realiza no dos e nas suas ementas vão constar, pelo menos, um prato que dia 12 de Setembro, entre as 9 e as 19 horas, no Jardim da Avetenha a carne Marinhoa como base da sua confeção. nida da Liberdade. 8
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Especial
Que vinho nos Dão? V
ivemos um tempo diferente a que, de todo, não estávamos habituados. Este é um ano atípico, pelo que a Feira do Vinho do Dão, tal como outros eventos, vai realizar-se em modo online. Não haverá festa, mas pode ver as diferentes iniciativas que a Câmara de Nelas agendou sem sair de casa. Abrir uma garrafa e provar o vinho não é a mesma coisa que percorrer a feira e fazer uma degustação nos diversos produtores. Não é a mesma coisa, mas é o que temos. Num olhar para a região do Dão, diria que para além da quebra na produção, que nalgumas regiões pode ser superior a 30%, a maior preocupação dos produtores vai para o plano comercial e a retoma em pleno da atividade de alguns setores, nomeadamente o turismo e restauração. Para além disso resta-nos a esperança e o otimismo de cada um. Este é um tempo de dificuldades, mas também de oportunidades. Basta estar atento e ser criativo. Bons vinhos. José Luís Araújo
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À descoberta dos vinhos do Dão E
Os rios Dão, Mondego e tantos outros cursos de ncontrando-se o território da ADD integrado na marca registada “d5 água sulcam terras de vegetação exuberante e proprieUm Dão Cinco Destinos”, constituída pelos concelhos de Aguiar da dades de minifúndio. E, por entre muros e arvoredo, Beira, Sátão, Penalva do Castelo, Mangualde e Nelas, estes últimos três em os cerca de 18.000 hectares de vinhas surgem-nos impleno coração da Região Demarcada do Dão, sempre motivou a atuação plantados em terrenos de solos graníticos (e, em menor da ADD no reforço da promoção e produção dos produtos de qualidade proporção, xistosos), em altitudes que oscilam entre os em que a região é fértil, em especial o vinho do Dão, através da Abor400 e os 800 metros. dagem LEADER gerida pelas associações de desenvolvimento local, com Um outro segredo dos vinhos do Dão é a diversidade um balanço muito positivo ao longo de quase 30 anos na valorização e de castas tintas e brancas, com destaque para a Touriga internacionalização do Dão. Nacional, entre as tintas, e a Encruzado, entre as brancas. Neste sentido, fazemos nesta publicação uma homenagem a todos Se a Touriga Nacional, com berço no Dão, é considerada a quanto contribuem para a elevação da marca Dão, em especial aos mais nobre das castas portuguesa, já a Encruzado, entre as seus produtores. No coração de Portugal, em terras das Beiras, povelhas castas do Dão, potenciada nos anos 60 do século XX, demos partir à descoberta dos vinhos do Dão, em 16 concelhos dos permite revolucionar o que julgamos saber sobre os vinhos distritos de Coimbra, Viseu e Guarda. brancos. A Região Demarcada do Dão é a segunda mais antiga de Portugal e Vinhos tintos aveludados e encorpados e brancos suaves e a primeira região produtora de vinhos não licorosos a ser delimitada, frescos, com potencial para envelhecimento, são algumas das em 1908. A importância dos vinhos do Dão na economia e na cultura características dos vinhos do Dão, cada vez mais apreciados e da região, bem salientes no século XIX, exprime-se bem na união premiados, no panorama nacional e internacional. de esforços de produtores, municípios e deputados da região que A história dos vinhos do Dão é também a história de gente levou à sua demarcação e regulamentação. resiliente e criativa, e de raízes familiares, já que diversos produEfetivamente, nas terras do Dão, a natureza oferece condições tores atuais continuam ou retomam tradições familiares de váfavoráveis à produção de vinhos de excelência. A cadeia de serras rias gerações. Raízes que podemos descobrir na “Rota dos Vinhos que envolve a região (Caramulo, Buçaco, Nave e Estrela) proteDão”, que percorre várias quintas históricas. gem-na dos ventos do litoral, proporcionando um clima com inAs gentes do Dão, orgulhosas dos néctares que a natureza e a vernos frios e chuvosos e verões quentes e secos.
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sabedoria de gerações proporcionaram, dão a conhecer os seus vinhos em diversos eventos, organizados pela Comissão Vitivinícola Regional do Dão e pelos municípios da região. Em Viseu, desde 2014, a “Festa das Vindimas” e “Vinhos de Inverno” têm proporcionado novas experiências de enoturismo, que incluem até o festival literário “Tinto no Branco”, ou as Provas Técnicas do Vinho do Dão em Penalva do Castelo com sete edições já realizadas. Mas o evento mais antigo é, sem dúvida, a “Feira do Vinho do Dão” de Nelas, com quase 30 edições. Em cada mês de Setembro marca um ponto alto do contacto com os vinhos do Dão e os seus produtores. Este ano, nos dias 4 a 6 de Setembro, a sua vigésima nona edição realiza-se de forma radicalmente diferente, devido à situação de exceção provocada pelo COVID-19. Sob o lema “O Dão em Casa”, entrará nas nossas casas, com loja online, momentos em direto e o habitual concurso de vinhos. Para além dos eventos, os vinhos do Dão são também um excelente passaporte para conhecer a região, as suas gentes e a sua cultura, entre serras, florestas e rios, e vinhedos ancestrais. Esta é uma região cuja diversidade cultural e natureza deslumbrante vão seduzi-lo, tanto como a sua gastronomia e vinhos. Vai querer conhecer, descobrir, experienciar e saborear o Dão!
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Presidente da Câmara de Nelas e as dificuldades do momento
O “charme da região do Dão não desapareceu com a pandemia” O município de Nelas vai promover de 3 a 5 de Setembro a Feira do Vinho Dão, este ano em moldes diferentes, em formato digital, cumprindo as orientações das entidades de saúde e do Governo para este tipo de evento. O presidente da Câmara de Nelas reconhece que o momento é diferente, revelando “um sentimento de realismo e de esperança” no futuro.
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osé Borges da Silva, em conversa com a Gazeta Rural, destaca o trabalho do município ao longo dos últimos tempos, desde logo no controlo da pandemia, mas também na realização de um evento que marque a data. O autarca salienta o esforço do setor vitivinícola, que “tem sabido reagir muito bem à hecatombe”, sublinhando que o “charme da região do Dão não desapareceu com a pandemia”. Gazeta Rural (GR): Que sentimento tem relativamente à realização, em moldes diferente, da feira deste ano? José Borges da Silva (JBS): É um sentimento de realismo e de esperança e não de tristeza e saudosismo. Acho que a natureza humana tem uma grande capacidade de adaptação às dificuldades e não comungo do discurso derrotista, - nem do ponto de vista da realização de uma actividade de promoção territorial, - que as instituições não devem transmitir para os agentes económicos, particularmente para aqueles que estão ligados na realização que a Câmara tem feito ao longo dos últimos 28 anos. Portanto, o Município de Nelas,- e temos acompanhado com grande proximidade todo o setor económico, seja ele industrial, turístico, comercial ou agrícola, - tem sabido reagir muito bem à hecatombe e a um fenómeno completamente impensável há um ano atrás. 12
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Entendo que a Câmara e o concelho de Nelas têm dado um sinal positivo, desde logo na fase de controle da pandemia e das questões sanitárias, juntamente com outros municípios da região, as entidades de saúde e com o Governo. O município de Nelas, que até foi dos primeiros a ter casos de Covid 19, fruto da reação de todas as instituições, desde a Proteção Civil ao movimento de cidadão, onde se incluem os agentes económicos e os seus planos de contingência, foi possível conter as dificuldades e chegar a esta altura em condições de encarar o futuro com realismo, de que existem instituições municipais, regionais, nacionais, (como o Governo), mas também europeias empenhadas em alavancar de novo o restabelecimento dos circuitos económicos, contando com essa esperança que nós temos dado e que queremos transmitir aos agentes económicos que no concelho, em todos os aspetos, continuam firmes. A realização desta Feira do Vinho do Dão, sinalizando um período de transição da edição de 2019 e a forte feira de 2021, vai também no sentido de que consideramos essencial manter a saúde das pessoas, porque sem ela, quem lidera, não é possível manter as empresas e as instituições fortes, por forma a que continuem a crescer, a investir e a criar emprego.
GR: Há uma boa adesão de produtores às iniciativas que vão levar a cabo. Como estão a encarar esta feira diferente? JBS: Com naturalidade, porque em termos existenciais e económicos não estamos a inventar nada, pelo que estamos preparados. Prova disso é que começamos com as feiras do queijo, nomeadamente de Março. As que não se puderam realizar com a presença de publico foram feitas em termos digitais. Para além disso, houve instituições, como a CIM Viseu Dão Lafões, que optaram pela mesma via, com a realização de feiras digitais, que estão a funcionar e que tem um grande mercado e que, curiosamente, grande parte dos produtores do município de Nelas, de vinho, queijo e outros produtos, aderiram à iniciativa da CIM. Os produtores ligados ao vinho da região demarcada encararam esta iniciativa que levaremos a cabo com toda a naturalidade. Sentimos que estavam à espera de algo desta natureza, que não é presencial, correspondendo às orientações governamentais e da Direção Geral de Saúde, para a não realização de eventos análogos. A Feira do Vinho do Dão sempre foi uma feira/festa para os milhares de pessoas que habitualmente nos visitam e que aderem ao conjunto de iniciativas que realizamos no âmbito deste evento, sejam as provas de vinhos, a gastronomia, as atividades desportivas e culturais associadas, com destaque para o espetáculo “As músicas que os vinhos Dão, que este ano não podemos realizar, uma decisão encarada com toda a naturalidade. O que estamos a dar é uma ajuda à proatividade que os produtores já têm, porque hoje, por via do enoturismo, muitos deles, através das provas de vinhos nas suas quintas, já são um fator de diferenciação da região, desde logo pela qualidade dos seus vinhos. O charme da região do Dão não desapareceu com a pandemia. Felizmente que nos últimos anos, em termos da Rota do Vinho do Dão e de Enoturismo, tem havido um grande desenvolvimento, fruto do grande empenhamento dos produtores. GR: Relativamente aos últimos tempos, que feedback tem dos produtores do concelho, mas também relativamente à próxima vindima? JBS: Não há uma relação direta da pandemia com a vindima. Tem sido um ano difícil, com uma quebra da produção, mas creio que os produtores têm esperança no futuro, sabendo-se que o momento é complicado. Contudo, o que lhes transmito, e que acabei de referir, resulta do contato que tenho mantido com os agricultores do nosso concelho.
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Presidente da CVR Dão alerta para a lenta retoma dos mercados
“Até à Primavera do próximo ano não deveremos ter grandes otimismos” O presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão (CVR Dão) alerta para a lenta retoma dos mercados. Em entrevista à Gazeta Rural, Arlindo Cunha sustenta que “até à Primavera do próximo ano não podemos ter grandes otimismos”, num ano em que a quebra de produção na região pode superar a barreira dos 30%. O dirigente, que foi muito crítico em relação aos apoios ao setor em face da pandemia, diz que o Governo corrigiu o ‘tiro’ numa segunda vaga, mas, ainda assim, “a oferta podia ser mais generosa”.
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AC: Essas chuvas vieram num momento certo, pois azeta Rural (GR): As previsões para a região do Dão antecipam havia algumas vinhas em stress hídrico. Foi o melhor uma quebra de produção de cerca de 25 a 30%. Preocupa-o? que podia acontecer para ajudar a melhorar não tanto a Arlindo Cunha (AC): Previsões são isso mesmo e só no final saberemos quantidade, mas sim a qualidade. Se até à vindima tiverem concreto quais as perdas, ou não, na Região do Dão. Todos os anos, o mos tempo seco e noites frescas, penso que haverá uma Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) pede às Comissões Vitivinícolas para boa colheita. fazerem uma previsão. Nós consultámos um painel de especialistas e técnicos, que estão no terreno, sobre determinadas vinhas que são uma amostra da região. Foram esses dados que comunicamos ao IVV. GR: Há um meses demonstrou alguma preocupação A informação que recolhemos é que a quebra andará nessa ordem com o escoamento do vinho, mas também com os problede grandeza, ou talvez mais. As razões prendem-se com as geadas no mas que alguns produtores estavam a enfrentar devido à pandemia. A poucas semanas do início das vindimas que mês de Abril, que afetaram as vinhas de algumas zonas, nomeadamenperspectiva tem? te a parte norte da região demarcada, onde há vinhas que poucas uvas têm, mas também o míldio, devido ao excesso de humidade (chuva) AC: Em relação ao escoamento a situação não está boa. A questão da comercialização do vinho também é uma situaem Maio e Junho, seguido, no início de Julho, de muito calor, com as ção heterogénea. As empresas que tinham parte do mercado videiras a responderem com grande exuberância, nomeadamente a Touriga e o Encruzado. nas grandes superfícies não tiveram quebras significativas e, nalguns casos, houve mesmo um aumento do consumo. Na Foi tudo muito repentino e, por vezes, não houve tempo e capaexportação houve mercados que aguentaram bem e nestes a cidade de resposta para fazer os tratamentos ou a espoldra, para arejar a parede vegetativa e para que os tratamentos surtissem quebra foi pequena ou quase nula. Os produtores que estavam no mercado interno, nomeadaefeito. Portanto, diria que os impactos destes dois fatores na região mente no canal Horeca (hotelaria e restauração), com vinhos demarcada não são homogéneos, mas heterogéneos, e dependem de cada parte do território. entre os 5 e os 15 euros a garrafa, sofreram uma valente ‘pancada’. Esse canal está praticamente fechado, pois vivia muito do turismo. GR: As chuvas que caíram na terceira semana de Agosto vieNesta altura, com a restauração ‘convalescente’ e com o turisram ajudar a uma vindima melhor? 14
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especula-se muito sobre isso, se teremos uma segunda vaga do vírus. Todamo em grandes dificuldades na retoma, os produtores/ via, penso que até à Primavera do próximo ano não deveremos ter grandes engarrafadores de pequena ou media dimensão, dos 5 otimismos. aos 20 hectares e posicionados no mercado de vinhos premium ou super-premium, estão com bastantes difiGR: Num determinado momento foi muito crítico com as medidas de culdades e aguardam que o mercado recupere. Sabeapoio do Governo ao setor nesta fase de pandemia? mos que os vinhos do Dão têm grande capacidade de AC: De facto, o Governo começou muito mal. As primeiras propostas guarda e não se estragam em um ou dois anos. Aliás, em eram ridículas, nomeadamente o pagamento de 30 cêntimos o litro de vimuitos casos até melhoram. nho para queima. Todas as Comissões Vitivinícolas, através da Associação Quando houve o subsídio do Governo para a intervenNacional das Denominações de Origem Vitivinícola (ANDOVI), reagiram ção (queima), com um preço mínimo de 60 cêntimos/litro, e criticaram a medida. A prova de que era má é que teve uma adesão irhouve pouca adesão na região do Dão, com uma quantidarelevante. Só quem estivesse muito desesperado aderia a essa medida. de que rondou os 500 mil litros. Já o apoio à armazenagem Felizmente o Governo corrigiu o ‘tiro’ e, numa segunda vaga, como privada teve alguma expressão e rondou o milhão e meio não gastou o dinheiro da primeira (cuja dotação já era pequena), aude litros. Os produtores mantêm o vinho e recebem um mentou as ajudas, quer à armazenagem, quer o preço mínimo de comapoio para compensar o facto de o vinho ficar armazenado pra para a intervenção para destilação. e não ir para o mercado. Isto significa que os produtores do Nessa segunda fase houve mais procura, mas nada de especial. É Dão não estão desesperados, mas estão a sofrer com esta que os preços do vinho em Portugal são muito maiores do que em paragem do mercado. Espanha, e ainda bem, porque somos um mercado mais pequeno e temos um nível médio de segmento bastante alto. GR: Resta saber o que aí vem? A segunda vaga de medidas foi muito melhor e teve mais procuAC: Esse é o grande problema. De facto, nesta altura, ninra, mas, mesmo assim, não está ao nível daquilo que procuramos guém sabe como vão ser os próximos tempos. Uma coisa é incentivar nos produtores, nomeadamente mais qualidade, logo certa: a retoma do turismo vai ser lenta. O canal Horeca era maior remuneração. Diria que a oferta podia ser mais generosa. um bom mercado para os vinhos mais caros, além de que a restauração está a recuperar muito lentamente. Falta-nos saber, e www.gazetarural.com
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A expectativa de João Barbosa
Na Adega da Corga “teremos boas uvas para fazer bons vinhos” Aos 82 anos, João Barbosa continua a ser o pilar da Adega da Corga, que prima por produzir vinhos de grande qualidade. Num ano atípico e muito difícil, o produtor de Pindo, na sub-região de Castendo, admite uma quebra de 20%, bastante inferior à média da região. Ainda assim, acredita que terá “boas uvas para fazer bons vinhos”.
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uma altura de incertezas, João Barbosa diz que “o futuro a Deus pertence”, lembrando que em 1958 passou por um período idêntico, com a pandemia de gripe “Asiática”. Através da Gazeta Rural deixou uma mensagem: “Temos que acreditar que tudo isto vai passar”. Gazeta Rural (GR): Na região há dados que indicam uma quebra de produção. Como estão as vinhas da Adega da Corga? João Barbosa (JB): A quebra é evidente e bastante significativa. O ano, em termos de clima, foi muito adverso, desde logo com as geadas na altura da rebentação, que afetou especialmente as vinhas em zonas mais baixas. A juntar a isto, houve ataques de míldio após as chuvas de Maio e Junho. Nós fazemos, em média, 5 a 6 tratamentos por ano e este ano já fizemos 9 e nalgumas vinhas 10. Pensamos que, com isto, teremos boas uvas para fazer bons vinhos, como é nosso apanágio. Na região, por via do atrás referi, há uma grande quebra de produção. Tenho conversado com outros produtores e, face às adversidades do ano, se tivermos uma vindima que chegue aos 60% da produção de 2019 será positivo. GR: Estima-se uma quebra de 30% nesta zona? JB: Esta região foi muito afetada e sei que há vinhas que terão até mais que isso. Nós teremos uma quebra a rondar os 20%, mas só após a vindima poderemos ter dados concretos. GR: Num ano atípico, tem conseguido escoar o vinho? JB: Temos uma quebra nas vendas. No início, no granel o preço era razoável, com vendas de brancos a um euro e tintos na casa dos 90 cêntimos. Ultimamente o preço é baixinho, por volta dos 16
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70 cêntimos, mas quem necessitar de realizar capital terá que se sujeitar. GR: No seu caso, tem onde meter o vinho da próxima vindima? JB: A nossa adega está preparada para receber duas colheitas, caso haja necessidade. GR: Nos seus 82 anos alguma vez imaginou uma pandemia como esta? JB: Já corri mundo, como se costuma dizer, mas nunca imaginei uma doença que afetasse o mundo inteiro desta maneira e desconfiássemos uns dos outros, em termos de saúde. De facto, eu sou crente e, como diz o ditado, o futuro a Deus pertence.
GR: Acredita que isto é passageiro? JB: Em primeiro lugar tenho que acreditar na ciência e na medicina, porque se assim não for perdemos toda a esperança. Eu vivi o período da gripe Asiática, em 1958. Antes, o meu pai andou na guerra e enfrentou a Pneumónica, também chamada de gripe espanhola, em 1918. Nessa altura havia casas fechadas e também morreu muita gente. Essas doenças passaram e não tínhamos a ciência e a medicina que temos hoje. Por isso, acredito que tudo isto vai passar. Temos que acreditar que isso vai acontecer.
Opinião
Como vemos a Região do Dão? É
com um sorriso nos lábios que aceito mais um convite para falar sobre um vinho que tanto prazer me dá: o vinho do Dão. De dentro, é fácil perceber o quão apaixonados ficam os enólogos que trabalham esta região. A taxa de fixação é grande, já que continuam a encantar-se ano após ano, vinho após vinho. Resumido numa palavra: elegância. A variabilidade de uma região tão pequena é intrigante e isso desperta prazer em quem nela trabalha. De fora, a procura de enólogos ‘’outsiders’’ para trabalharem o Dão comprova que a Região tem muito potencial, estando neste momento no topo dos vinhos portugueses, quiçá do mundo. O significativo investimento de empresas de renome só tem um significado: a Região do Dão está em crescimento com muitas ‘cartas para dar’ no futuro. É consensual o impacto que as castas Touriga Nacional e o Encruzado têm no ouvido e no palato de qualquer enófilo. Tendo no Dão a sua casa, não há lugar no mundo onde estas castas se expressem melhor. A Região tem também outras castas com grande relevo, como Jaen, Tinta Roriz, Alfrocheiro, Tinta Pinheiro, Malvasia Fina, Bical, etc. Venham novas experiências, novas ideias, novos vinhos. Fica o Dão com passado, presente e futuro. Dão que é sinónimo de gastronomia. Hubrecht Duijker, disse ‘’a vida é curta demais para se beberem maus vinhos’’. Aproveitemos os três prazeres que levamos desta vida: beber, comer e… bem, o outro deixo à vossa imaginação. Desfrutem do vinho do Dão. Viva o Dão! Rafael Formoso Enólogo
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Diz Miguel Ginestal, da Quinta dos Monteirinhos
O Dão “tem condições para ser uma referência como destino turistico de ar puro” Este é “um ano diferente e muito exigente”, referiu Miguel Ginestal em conversa com a Gazeta Rural, sustentando a necessidade de “olhar para as dificuldades de forma racional”.
O
produtor da Quinta dos Monteirinhos, no concelho de Mangualde, salienta o “ano muito difícil”, com quebras de vendas no Canal Horeca, mas destaca a importância de encontrar oportunidades nas dificuldades. Apesar da quebra de produção, o lado bom foi a maior procura da região por turistas nacionais. Por isso, Miguel Ginestal diz o Dão “tem todas as condições para ser uma referência como destino turismo de ar puro”. Gazeta Rural (GR): Este é um ano difícil, com uma pandemia, mas o clima também não foi favorável? Miguel Ginestal (MG): Diz-se que um mal nunca vem só. Tivemos grandes quebras de vendas devido à pandemia, uma vez que o nosso negócio assenta no Canal Horeca, que fechou em Março, com a declaração do Estado de Emergência, e ainda não recuperou. A juntar a isto tivemos, no início de Abril, uma geada forte que afectou muito as nossas vinhas. Temos uma quebra significativa de produção de uvas, mas só no final da vindima saberemos com exactidão o impacto real da mesma. Este é um ano diferente e muito exigente, mas temos que ter confiança e esperança no sentido de encontrar soluções e outros caminhos que não tínhamos previsto há um ano atrás, e os primeiros resultados são animadores. GR: Disse que 2020 é um ano diferente. É também um ano de novas oportunidades? MG: É sempre. Temos que olhar para as dificuldades de forma racional, para encontrarmos saídas para os problemas com que estamos confrontados, e não há dúvida que o sector agrícola 18
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precisa urgentemente de medidas de apoio fortes por parte do Governo. A agricultura não pode continuar a ser o parente pobre da economia. Temos a expectativa que o pacote financeiro negociado recentemente pelo Governo em Bruxelas para a retoma económica Pós-Covid terá o sector agrícola como um dos parceiros estratégicos para a retoma de Portugal. Em simultâneo temos de saber aproveitar melhor o salto reputacional que o vinho do Dão deu nos últimos anos. Temos de saber encontrar canais que nos permitam vendas que há um ano não tínhamos no nosso portefólio. Estamos conscientes que a realidade se sobrepõe à nossa vontade, mas continuaremos focados no posicionamento do canal Horeca, que é essencial para a nossa empresa. Quanto mais cedo tivermos o fim da pandemia mais cedo teremos a retoma do sector turístico e da restauração em Portugal, e, por conseguinte, do canal Horeca. É importante referir que verificámos na Quinta uma maior procura de turistas nacionais, mas também estrangeiros. Os portugueses, em particular, passaram a fazer mais turismo dentro de ‘casa’, nomeadamente o chamado turismo do ar puro ou de natureza. Estabelecemos algumas parcerias com alojamentos rurais da região e temos feito, na Quinta, muitas provas de vinhos e outros eventos enoturísticos, porque isso passou a merecer uma atenção particular dos turistas nacionais. GR: Isso enquadra-se na Rota do Vinho do Dão? MG: Claro que sim, mas temos que fazer mais e melhor. A Rota
do Vinho do Dão pode vir a ser uma ferramenta importante para os produtores, mas é urgente reforçar a sua capacidade de promover e divulgar junto de vários parceiros, operadores turísticos e clientes, toda a informação sobre a excelência da oferta turística da região. As pessoas cada vez mais procuram o ar livre e ninguém sabe se esta pandemia vai demorar muito ou pouco tempo, mas o que sentimos foi um aumento significativo da procura relativamente a anos anteriores, pois as pessoas passaram a circular mais dentro do território nacional, em particular pelo interior. Quem nos visita adora o que temos para oferecer, hospitalidade, natureza e paisagem, história, património, produtos endógenos, gastronomia. O Dão tem todas as condições para ser uma referência, como destino turístico de ar puro. Esta é uma oportunidade que temos de saber agarrar para ficar, para que não seja apenas e só mais uma tendência efémera. GR: É nessa perspectiva que vão avançar com o projecto de alojamento? MG: A quinta geração da família agarrou no projecto e no negócio há 15 anos, e tínhamos previsto quatro fases de desenvolvimento: A primeira foi a vinha, que reestruturámos; a segunda foi o vinho, o que significou fazer uma Adega nova. A terceira fase era a construção da Sala de Eventos, que estava prevista para este ano e para a qual tínhamos bastante procura, mas o Covid fez-nos repensar as prioridades. Apesar de termos o projecto pronto a avançar, a verdade é que enquanto tivermos a Pandemia, não teremos eventos, nem procura para este segmento de mercado, pois este é o ano do distanciamento, mas acreditamos que em 2021 teremos à disposição de todos mais este elemento de promoção da Quinta. A quarta fase é a do alojamento e enoturismo. Se adivinhássemos que 2020 seria o ano da Pandemia teríamos trocado estas duas fases do projecto, pois tem havido muita procura de alojamento turístico no interior do país. Nesta altura, estamos a desenvolver o conceito deste projecto e estamos certos que a Quinta dos Monteirinhos terá, tão breve quanto possível, uma oferta moderna de alojamento enoturístico. www.gazetarural.com
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Opinião
Temos dos mais excitantes vinhos que se produzem no mundo! D
nível nacional. As nossas Quintas, fiéis aos seus ão rima com união e renovação, algo que se precisa na promoção desta terroirs e às nossas castas nativas, apresentam viregião centenária perante os desafios que se avizinham. O Dão é a elenhos completamente deslumbrantes e irresistíveis, gância centenária, é aquela surpresa que cativa os consumidores do mundo vinhos que conquistam e cativam, faltando-nos só a dos vinhos pela sua originalidade, pela sua tipicidade e pela sua identidade. dimensão para o fazermos à escala global. Em tempos e em vidas tão globais, o Dão faz-nos beber o “local”, o genuíno As Adegas Cooperativas e os grandes operadores e o autêntico. Temos dos mais excitantes vinhos que se produzem em Portugal da região, alimentados por corajosos e fantásticos e no mundo, mas com produção relativamente reduzida o sector vitivinícola viticultores que lhes fornecem as uvas, começam do Dão irá enfrentar tremendos desafios. hoje os seus portfólios de vinhos em patamares de A renovação terá de ser uma realidade, pois a região precisa reinventar-se, qualidade bastante interessantes, ganhando quota e renovar-se e só assim o futuro será assegurado. É preciso uma nova geração notoriedade no mercado nacional e abrindo caminho à de produtores, de gentes que aproveitem o melhor que esta terra lhes dá e propagação da marca Dão. que tragam novas ideias na bagagem. Que venha então a renovação das gentes, da região e Felizmente ao longo dos anos tem-se verificado o surgimento de novos a tão falada União que nos faça (ainda mais) espalhar o projectos no Dão, mas é ainda pouco para uma região que, sendo centenome Dão a uma só voz, em uníssimo e no mesmo tom. nária, tem obrigatoriamente de se renovar, mantendo-se, porém, fiel ao Só assim, em tom afinado e harmonioso, poderemos seu berço e à sua origem. enfrentar o futuro com optimismo! Naturalmente que a qualidade nunca estará directamente relacionada Um brinde ao Dão, com Dão claro! com a dimensão, não precisamos de ter muito para sermos bons, se assim não fosse Portugal não era dono do prestígio internacional que tem Bruno Cardoso no mundo dos vinhos. Mas a “pequena” dimensão do Dão é também um desafio. O Dão que temos é pouco para ganharmos dimensão e enfrentarmos os desafios futuros… E como tudo dura o seu tempo, precisamos de mais! Conseguimos levar os Vinhos do Dão aos quatro cantos do mundo aplicando um KO técnico a todos os que provam Dão: ficam rendidos às evidências e à excelência desta região. Ao nível dos pequenos produtores temos do melhor que se vê a
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Tornou-se presidente do CA do grupo Lusovini em 2020
Sónia Martins comemora 20 anos de dedicação ao vinho e é gestora em 2020 Sónia Martins tem todas as razões para festejar. Em 2020 faz 20 anos de carreira em enologia; a marca Pedra Cancela comemora 20 anos e assumiu a presidência da Lusovini – Vinhos de Portugal, SA.
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udo muito boas razões para estar feliz e realizada, não fosse a pandemia. Na conversa com a Gazeta Rural, Sónia Martins mostrou o seu lado mais sério, comprometida com o novo e “grande desafio”, sem deixar para trás o gosto de fazer vinhos. A liderança de um dos mais importantes grupos do setor do vinho no Dão é “o culminar de um trajeto”. GR: Tem boas razões para não esquecer 2020? SM: Tenho a certeza que 2020 vai ser lembrado para sempre, por diferentes razões. Faço 20 anos em que comecei a trabalhar em enologia; a marca Pedra Cancela também faz 20 anos e porque em 2020 tivemos uma pandemia que nunca pensei viver.
rente, uma vez que hoje tudo é virtual e mais rápido. Basta pegar num telefone e ‘estamos’ em qualquer parte do mundo. Gazeta Rural (GR): Mudando de assunto. Como está a vindima este ano? Sónia Martins (SM): A vindima deste ano pode ser muito interessante. Nas nossas vinhas não temos quebras significativas, diria mesmo que são residuais nalgumas castas e nas várias regiões. No Dão podemos ter uma vindima bastante boa. Houve um período com algum stress hídrico nas vinhas, mas as chuvas que caíram vieram ajudar. Aliás, se até à vindima tivermos bom tempo, foram fundamentais para termos vinhos muito bons. GR: E este não é um ano normal? SM: Absolutamente. Costumo dizer que estou desertinha que chegue o dia 31 de Dezembro, porque acredito que a 1 de Janeiro de 2021 tudo será diferente. É um ano muito difícil, para todos, sem exceção. Em termos empresariais vai ser muito complicado, pois tivemos três meses com as empresas quase fechadas e temos que pensar que esses 90 dias ‘não existiram’. No segundo semestre do ano vamos tentar recuperar parte do que perdemos no primeiro. No plano comercial está a ser muito difícil. No mercado nacional o preço do vinho caiu, o que é grave para o futuro do setor. Há mais competitividade e há produtores que estão com problemas de tesouraria e usam a sua estratégia para terem rendimento ao fim do mês, mas isso vai-se pagar no futuro. É que baixar o preço é muito fácil, o problema é subi-lo. De uma forma geral o preço dos vinhos portugueses caiu e vão ter maior dificuldade em se reposicionar. E este já era um problema antigo que agora se agrava. Os vinhos portugueses já estavam posicionados muito abaixo do valor ideal. Ora, tendo em conta as circunstâncias, se o preço continuar a baixar, mais dificuldades vamos ter em lhe acrescentar valor.
GR: Falta um quarto elemento. Em 2020 assumiu a presidência da Lusovini? SM: É reconfortante chegar ao fim de 20 anos e assumir a presidência de um grupo como a Lusovini. Entendo isto como o culminar de um trajeto. Sou formada em Enologia, mas é verdade que nos últimos 10 anos fiz mais outras coisas. Gosto muito de fazer vinhos e, todos os anos, a partir de Julho só faço enologia. Porém, este é um grande desafio. Gosto da área da gestão, especialmente quando podemos envolver o vinho e o mercado é algo fascinante. É um desafio enorme, tendo em conta as circunstâncias, e acredito que vou conseguir levar o barco a bom porto. Para além disso, é um desafio também para as novas gerações que pensam de maneira dife-
GR: E no mercado externo? SM: São coisas muito diferentes. Tínhamos na China um mercado importante, que parou antes de qualquer outro. Nos Estados Unidos está praticamente parado. Se em Portugal estamos condicionados, ali está muito pior. Na Suécia e no Canadá, onde a gestão é feita por monopólios, as vendas mantiveram-se. O Brasil, onde há uma grande aptidão para as compras online, foi o mercado que melhor reagiu e tem-se mantido mais ou menos estável. www.gazetarural.com
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Peter Eckert, produtor da Quinta das Marias, e o momento atual
“Sou um otimista por natureza e vejo sempre oportunidades” Se para alguns o momento que o mundo atravessa é um problema, para outros, como Peter Eckert, é altura de olhar as oportunidades. O produtor da Quinta das Marias, em Oliveira do Conde, Carregal do Sal, é um otimista por natureza. “Neste momento temos que sair das ‘trincheiras’ e ir à luta”, afirmou convicto à Gazeta Rural.
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om uma quebra ligeira de produção nas castas brancas, na Quinta das Marias é tempo de manter as referências que estão bem no mercado e fazer experiências, como o ‘Sem’, um vinho sem sulfuroso, ou um monovarietal Barcelo, uma casta antiga do Dão. Gazeta Rural (GR): Como vai ser a vindima deste ano? Peter Eckert (PE): Temos feitos alguns testes da maturação das uvas e está tudo dentro das nossas expectativas. A chuva que caiu veio ajudar, mas as nossas vinhas estavam a aguentar o calor e as uvas estão muito boas. Estamos muito contentes com o que está na vinha. Temos uma quebra de produção pequena nos brancos, por causa das chuvas de Maio, mas as uvas tintas estão impecáveis. Devemos estar com uma produção próxima à do ano passado. GR: Correu o mundo. Como olha para o mundo atual? PE: Sou um otimista por natureza e olho sempre para as oportunidades. E neste momento há muitas, só temos que sair das ‘trincheiras’ e ir à luta. Isto é muito importante. Na Suíça fizemos uma prova de vinhos nas instalações do nosso importador, com todas as condições de segurança. Numa tarde/noite fizemos alguns milhares de euros. Não podemos ficar à espera que as coisas aconteçam, é preciso ser persistente. Em Portugal os nossos distribuidores cumpriram os objetivos e estamos muito contente. Haverá produtores na região que não terão a mesma sorte e estejam a atravessar um período difícil. Haverá alguns que estarão em maiores dificuldades e poderão mesmo não resistir. 22
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GR: Preocupa-o o facto de, neste momento, aparecerem vinhos do Dão muito baratos no mercado? PE: Nunca trabalhámos no segmento de vinhos baratos e, talvez por isso, não estamos tão afetados com esta pandemia. Quem está nesse segmento sentirá maior pressão do mercado. Nós mantemos a nossa política de preços, com vinhos de qualidade para um mercado premium. Por exemplo o Encruzado tem-se vendido muito bem. Há pouco tempo ouvi isso num restaurante da região. GR: Quais os últimos lançamentos? PE: Lançamos o ‘Sem’, um vinho sem sulfuroso, mas também um monovarietal Barcelo, uma casta antiga do Dão, que quase desapareceu por ser tardia, mas com as alterações climáticas ajustou-se mais às condições atuais. Conseguimos fazer uma barrica e dá um vinho muito interessante. Depois estamos a fazer alguns ensaios, como um Encruzado Barricas 2018, que o Luís Lopes, o nosso enólogo, fez à sua maneira e que estagiou em barricas de 400 litros de carvalho austríaco.
Com loja aberta na Zona Industrial de Nelas
Venda de flores ‘salva’ o Verão nos Viveiros Batista A
s flores são as plantas mais procuradas nesta altura do ano nos Viveiros Batista, dos irmãos Fernando e João Batista, com loja aberta na Zona Industrial, na estrada de Nelas para Canas de Senhorim. Aliás, o nome da empresa foi alterado e chama-se agora Viveiros F & JBatista, Lda. “Os últimos meses foram difíceis, pois não conseguíamos trabalhar o mercado, para além de que muitas pessoas deixaram de vir à nossa loja com medo”, revelou João Batista. É que, acrescentou, “um dos nossos pontos fortes são as feiras e mercados, que estavam fechados, e deixamos de fazer muitas vendas. Passámos tempos muito difíceis, mas, para já, estamos a voltar à normalidade e esperemos que assim se mantenha”. A pandemia alterou projetos e também hábitos. “Embora estejamos a vender um pouco de tudo, nesta altura as flores são as plantas mais procuradas, nomeadamente por emigrantes que está cá de ferias”, referiu João Batista, antecipando que as “grandes plantações de videiras e oliveiras ficam para o próximo Inverno”. “Se não houver retrocesso na pandemia, penso que 2021 será um bom ano de plantações”, antecipa o viveirista. A Galega, nas oliveiras, e a Encruzado e a Touriga Nacional, nas videiras, são as variedades mais procuradas.
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Opinião
Os vinhos do Dão são os melhores de Portugal P
ede-me o meu amigo José Luís Araújo, diretor desta revista, um texto com a minha opinião sobre os vinhos do Dão e a forma como, de dentro ou de fora, se olha para esta região. A minha perspetiva é proveniente de alguém do lado de fora. Assumo esta região vitivinícola como aquela que possui os melhores vinhos do país, tintos e brancos, sendo a minha expetativa que nos próximos anos as classificações dos gurus, críticos internacionais de vinhos, irão colocar os vinhos do Dão nas melhores valorizações obtidas pelos vinhos de Portugal, resultado da elegância, com boa estrutura, aromas frutados complexos e finura dos vinhos, em linha com as características de solo, clima e castas da região, os quais têm por base a própria natureza do território e a linha de procura do mercado internacional dos vinhos. É justo, necessário e importante, para a região do Dão atingir este patamar de excelência no reconhecimento internacional, porque apesar dos números, em termos de vinhos comercializados e preço, terem vindo a crescer significativamente nos últimos anos, para o consumidor o Dão não está no top da notoriedade das regiões vitivinícolas nacionais. Por outro lado, acredito que nos próximos anos irão ter força na comercialização pela grande distribuição organizada, os vinhos do Dão “entrada de gama” competitivos, pelo número de marcas, preço e quantidade, afirmados com controlo nos seus custos de produção, uvas e vinhos, e relação qualidade/preço imbatível. Por último, parece-me que a liderança vitivinícola regional está a dar passos para criar massa crítica, através da promoção do enoturismo e dos eventos dentro e fora do território, que são oportunidades para os agentes partilharem e trocarem ideias, obterem sucesso e
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afirmarem a fileira dos vinhos do Dão. Nota final. Nestes tempos de incerteza COVID, em que todos temos de nos reinventar e criar novas oportunidades, há que acreditar e saber esperar, as gentes do Dão, tal como os seus vinhos, precisam de tempo para mostrarem que realmente são os melhores dos melhores. Reafirmo a minha convicção sincera, os vinhos do Dão são os melhores de Portugal e irão demonstrá-lo no próximo futuro! José Martino Blogger, consultor em territórios de baixa densidade
Diz José Clemente, presidente da Adega de Penalva do Castelo
“Vamos ter uma vindima mais pequena do que no ano passado”
A vindima na sub-região de Castendo, área de influência da Adega de Penalva do Castelo, será “mais pequena do que no ano passado”, nas palavras de José Frias Clemente. A quebra de produção estimada andará, segundo o presidente da Cooperativa, entre os 30 e os 40%.
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s geadas no início de Abril influenciaram o início do ciclo da videira, havendo variedades que foram mais afetadas, como a Tinta Roriz e o Jaen. O presidente da Adega de Penalva não está “aflito” com a próxima vindima, apesar da pandemia ter afetado as vendas.
JFC: Penso que sim, pois temos a Adega equilibrada. Esta pandemia afetou todos os setores de atividade, mas felizmente conseguimos manter as nossas vendas em níveis aceitáveis, com alguma quebra, em especial no canal horeca e na venda de vinho a granel. Não estamos aflitos com a próxima vindima. Normalmente chegamos a esta altura do ano com um stock de cerca de 2,5 milhões de litros de vinhos. Este ano teremos um pouco mais, mas nada que nos preocupe.
Gazeta Rural (GR): Há previsões que indicam uma quebra de produção. Que perspetiva tem na área da Adega de Penalva? José Frias Clemente (JFC): Vamos ter uma vindima mais pequena que o ano passado. Pelos dados recolhidos teremos uma quebra de 30 a 40% na produção deste ano, provocada especialmente pelas geadas de Abril. Houve um ataque de míldio, mas que não fez grandes estragos, pois os nossos agricultores estiveram atentos e fizeram os tratamentos no tempo certo. As geadas de Abril afetaram bastante as vinhas e o início do ciclo da videira foi complicado, daí a quebra significativa da produção na nossa região. GR: Quais foram as castas mais afetadas? JFC: De uma forma geral todas as castas foram afetadas, mas a Tinta Roriz e a Jaen são as que mais sofreram, especialmente a primeira que estava mais adiantada aquando das geadas. GR: Este é um ano atípico. A Adega enfrentou bem este período difícil?
GR: Esta quebra de produção vem num momento difícil. De que modo a podemos olhar? JFC: Nós gostamos sempre de ter boas produções na vinha, pois isso significa que teremos bons vinhos. Depois há que decidir a questão das vendas, de forma a não ficarmos com muito vinho em stock de uns anos para os outros. As previsões indicam que no Dão haverá menos vinho, na ordem dos 20%, o que, ainda assim, não é de todo preocupante. Serão, provavelmente, os 20% que este ano não se venderam. É sempre bom termos boas produções, o que nos permite estar bem no mercado. GR: Caiu alguma chuva na terceira semana de Agosto. Chegou na altura certa? JFC: Sim, essas chuvas vieram no tempo certo e trarão mais alguns litros de vinho para as adegas. As previsões indicam que nos próximos dias teremos bom tempo com temperaturas altas, o que é benéfico para o vinho. Esperamos que não haja chuvas na altura das vindimas, o que pode prejudicar a qualidade final dos vinhos. www.gazetarural.com
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temos. Nos tintos, com um blend de entrada de gama, feito com Touriga, Tinta Roriz e Jaen; dois monocastas de Touriga, sendo um topo de gama, e um Reserva, com as três castas. Nos brancos 2019 foi um ano de viragem, uma vez que nas duas colheitas anteriores produzimos um Encruzado, com uma pequena percentagem de Malvasia. O ano passado vinificamos as duas castas separadas, o que nos proporcionou criar três referências distintas com a mesma matéria prima: um Encruzado, um Malvasia Fina, (numa série limitada de 500 garrafas, uma vez que esta casta apresentava uma grande qualidade) e um blend. A tendência de criar um vinho ‘fora da caixa’ acontecerá anualmente com qualquer uma das castas que temos na vinha, excepto Touriga.
Situada em Lourosa de Cima, às portas de Viseu
Quinta de São Francisco aposta em produtos de qualidade e de nicho A Quinta de São Francisco, em Lourosa de Cima, às portas de Viseu, tem vindo a fazer um percurso em crescendo, desde que foi adquirida pela família dos atuais proprietários.
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aposta em produtos de qualidade, e especialmente de nicho, foi o primeiro passo, a que se junta uma gestão profissional, num projeto visto como “um negócio”, como confidenciou José Luís Nunes, um dos responsáveis da quinta, à Gazeta Rural. Gazeta Rural (GR): Que expetativa tem para a vindima deste ano? José Luis Nunes (JLN): A campanha deste ano é expectável que tenha um acréscimo de qualidade e sem quebra de produção significativa. Se o tempo se mantiver estável, penso que poderemos ter um acréscimo de qualidade na generalidade das castas que temos na vinha. No início de Setembro vamos começar a vindima da Tinta Roriz. GR: Têm a previsão de lançar novas referências? JLN: A nossa aposta passa pela manutenção do portefólio que 26
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GR: A Quinta de S. Francisco tens lagares em pedra. Vão usá-los? JLN: Sim, os lagares têm mais de 200 anos e, desde que a propriedade é nossa, vamos usá-los pela primeira vez para vinificar parte da nossa Touriga, uma experiência que vamos repetir no futuro para edições limitadas, no sentido de criarmos alguma diferenciação no nosso portefólio “Chão da Quinta”, com produtos de nicho, que vai variar em função da qualidade que as castas evidenciarem nos próximo anos. Vamos diversificar as castas que temos plantadas. Vamos apostar em Alfrocheiro, em Baga e há uma terceira casta em análise, que passará por reconverter uma parte da área que temos, nomeadamente uma parcela de Tinta Roriz, através de enxertia. GR: Como foram os últimos tempos na Quinta? JLN: O primeiro engarrafamento na Quinta foi em 2010. Até 2016 foi um projeto familiar gerido dessa forma. Este é um tipo de projeto que requer muito capital e para dar o salto necessita de tempo, de uma gestão profissional e, fundamentalmente, de uma estratégia. O salto começou a ser dado a partir do momento que olhámos para o projeto como um negócio, que tem que ter uma linha condutora, um objectivo e um destino. A partir daí o trabalho aumentou em flecha, porque não basta produzir um produto de qualidade, é preciso vende-lo e posicioná-lo, de forma a que o projeto seja rentável e possa consolidar-se ao longo dos anos. Felizmente os nossos clientes reconhecem a qualidade dos produtos e anos após anos tem vindo a subir um degrau, o que para nós é reconfortante. E este é o caminho.
GR: Olhando para o momento atual? JLN: Tivemos uma quebra nas vendas, mas a agricultura tem a particularidade de não parar, independentemente de haver vendas ou não. Felizmente, apesar da quebra, as vendas têm sido suficientes para não nos levantar problemas de maior na gestão diária.
Opinião
O que espero do Dão A
Região Demarcada do Dão é, sem dúvida za, com enorme potencialidade enológica. Veja-se como se fazem vinhos com “a alguma, uma das melhores regiões vitivimesma matriz” tão diferentes uns dos outros com relativa facilidade, desde que nícolas do país e do velho mundo. Muitas vezes se conheça com profundidade a região e a história dos seus vinhos. E o Dão, aincomparam-na à região da Borgonha, uma das mais da por cima, é o berço da mais nobre casta portuguesa, a mais conhecida pelo emblemáticas da França, mas não há comparação. mundo fora, a Touriga Nacional. Cada região tem características únicas e o Dão tem A seguir virá, como já aconteceu nas regiões mais renomadas do mundo, demonstrado apenas o início daquilo que virá a ser. ainda mais investimento estrangeiro que nos levará mais longe. Já não serão Neste exato momento, o Dão está a mudar e a empresas portuguesas a alargar o seu território, mas sim estrangeiras. Vivecrescer incrivelmente de forma heterogénea, o que mos num mundo global, o que é incontornável. considero muito positivo para a região. Claro que, As alterações climáticas, - até agora menos visíveis na região do Dão, comnisto, o facto de sermos um país pequeno e muito parativamente a outras regiões do país e do mundo, - levam-nos depois a seatento às tradições e ao território leva-nos nesse senguir o caminho certo, o dos vinhos biológicos, nos quais embora com menos tido. experiência, temos tido cada vez melhores resultados. O Dão tem pequenos produtores muito diferentes Além da questão ambiental, é também uma questão competitiva. Vários uns dos outros, com vinhos de enorme qualidade, players do comércio mundial já só procuram vinhos certificados com norprocurados pelos portugueses e cada vez mais por esmas bio e de proteção ambiental. trangeiros curiosos em provar autenticidade. Procuram Por último, e respeitando as opiniões de outros enólogos e empresários um vinho diferente do “do dia anterior” para “jogar” à do sector, defendo que a região deve continuar a ter por base castas audescoberta do melhor vinho, depois projetado nas redes tóctones e vinhos com denominação de origem. A qualidade e a diferença sociais. Este fenómeno é muito interessante e saudável. acima de tudo. Felizmente terminou o tempo em que só se procuravam determinadas marcas. Carlos Silva Mas o Dão já tem também empresas portuguesas de Enólogo renome a alargar o seu território de acção e a entrar na região, o que não é um acaso. A região tem locais e propriedades únicas e de rara bele-
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Eurico Amaral, produtor da Quinta da Fata
“Os últimos meses foram complicados e caros” O
s últimos tempos têm sido difíceis para o setor do vinho e Eurico Amaral é o espelho de muitos produtores da região do Dão. A pandemia trouxe quebra nas vendas, mas também a geada, que afetou as vinhas da Quinta da Fata, o que é, também, uma anormalidade. “Os últimos meses foram complicados e caros, pois andamos a curar de 10 em 10 dias”, para além de que “as vendas estão más e a colheita vai ser mais fraca”, atirou Eurico Amaral. “Tivemos geadas nas vinhas, o que não é normal, o que se traduz numa uma quebra de cerca de 30%”, acrescentou o viticultor de Vilar Seco, admitindo que “as chuvas vieram ajudar e acredito que a colheita será boa”. Tal como outros produtos, Eurico Amaral tem a sua estratégia comercial assente no canal Horeca, que foi a que mais se ressentiu com o momento difícil que o mundo atravessa. Como exemplo contou que um cliente da zona de Lisboa, “que me comprava paletes de todos os vinhos que temos no portefólio, desta vez comprou-me apenas 25 caixas”. Apesar de “ser um período muito difícil”, Eurico Amaral mostra-se confiante que “vamos conseguir ultrapassar este momento”, pois “a esperança é a última coisa a morrer”. DE referir que o Conde de Vilar Seco foi o último lançamento efectuado pela Quinta da Fata.
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Jorge Reis diz que não tem quebra de produção
Quinta de Reis vai ter uma vindima “normal” N
a Quinta de Reis, em Oliveira de Barreiros, a vindima vai ser “normal” em relação a anos anteriores, não se verificando, como noutras regiões, quebra de produção. “Nas minhas vinhas vamos ter uma colheita normal”, afirmou Jorge Reis. O produtor salienta que “as chuvas de final de Agosto, que, não tendo sido o ideal, são um “fator importante para uma colheita muito boa”. É que, acrescenta, “o que me preocupava era a desigualdade na maturação das uvas e com estas chuvas vamos ter bons níveis de qualidade”. E se a vindima vai ser boa, como em anos anteriores, Jorge Reis também não se queixa dos efeitos da pandemia. “Houve uma paragem entre o fim de Março e o início de Abril, mas os meus distribuidores continuaram a vender o vinho e já estamos estabilizados”. Para responder ao mercado, o viticultor fez alterações na estrutura, aumentando a capacidade da adega. “Penso que temos muito boas condições de laboração e vinificação” e “na parte antiga da adega descobri que é um excelente sítio para guardar o vinho em barricas, pois tem uma temperatura estável”, salienta Jorge Reis. Com uma produção anual que anda entre as 20 e as 25 mil garrafas, a Quinta de Reis tem na marca ‘Wine Note’ a grande bandeira. Contudo o branco Encruzado ‘Edição Limitada’, vinificado em barricas, “tem dado fama à casa”.
Opinião
Os vinhos do Dão só podem ter… território! D
esde quando comecei a considerar-me um apreciador de vinho, já lá vão uns bons anos, que os da região do Dão me transmitiam uma carga de tradição que ainda hoje tenho alguma dificuldade em explicar. Talvez porque me encantam as imponentes entradas brasonadas de algumas quintas, ou porque a viagem era longa, mas logo que chegava sentia-me recompensado pela genuinidade das gentes e dos costumes que encontrava. Depois fui aprendendo alguma coisa sobre vinhos e gastronomia e a minha atenção vínica voltou-se para outras propostas, mais promovidas e mais faladas por quem me rodeava, mas também mais ‘oferecidas’ nas cartas dos restaurantes. Confesso que quase me esqueci dos vinhos do Dão. Entretanto passei a saber que os vinhos têm ‘terroir’, uma palavra sem tradução que representa vários fatores responsáveis pela elaboração do vinho. Quando recentemente voltei a ouvir falar e, sobretudo, voltei a saborear os do Dão, percebi que os vinhos em geral podem ter terroir, mas, para mim, os vinhos do Dão só podem ter… território. Um território que tem agora novos produtores, novas técnicas e propostas de produção modernizadas. Talvez tenha sido aproveitado o tempo de ‘paragem’ para valorizar a qualidade e garantir competitividade que permitisse recuperar do avanço de outras regiões. Chamar-lhe berço da Touriga Nacional parece-me pouco, porque apostar em castas tradicionais, resistindo às adaptações e aos mercados externos, só pode ser vontade de afirmar a diferença e a excelência do território. Aqui, as sete sub-regiões de Alva, Besteiros, Castendo, Serra da Estrela, Silgueiros, Terras de Azurara e Terras de Senhorim apresentam-nos vinhas que podem estar plantadas a 500 metros de altitude e lá em baixo o rio que lhe dá nome, o Dão, mas também o Mondego e o Alva. As quintas continuam a mostrar a sua imponência arquitetónica, muitas conservando os brasões, e as aldeias históricas lembram-nos que as gentes desta região se orgulham da sua história, da rudeza do seu trabalho e da agressividade das condições climatéricas ao longo do ano. O queijo da Serra da Estrela, as trutas de escabeche, o arroz de carqueja, o cabrito, a vitela assada com arroz de forno, o entrecosto com grelos e chouriço caseiro, mas também os doces de ovos de Viseu e a maçã de Bravo de Esmolfe, entre muitas outras propostas gastronómicas, contam sempre um vinho da região para ’harmonizar’. Com todos estes (e muitos outros) argumentos, o vinho ‘que nos Dão’, tem que ter nele a região e toda a riqueza e diversidade do território. Amílcar Malhó
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No Concurso “VinDuero-VinDouro 2020”
Vinho “Maria João Reserva Branco 2015” consagrado em Espanha Os vinhos do Dão estiveram em destaque no conhecido concurso ibérico “VinDuero-VinDouro 2020” ao conquistar 15 medalhas neste prestigiado certame realizado recentemente em Espanha. Estamos a falar de um concurso que premeia os melhores vinhos de Portugal e Espanha, que são analisados por um júri extensíssimo que confere todos os parâmetros de qualidade máxima exigida aos vinhos sujeitos a concurso.
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as para os vinhos do Dão terem alcançado uma performance tão elevada, muito contribuíram as marcas da produtora tondelense Maria João Coimbra, que só à sua conta arrebatou quatro medalhas de ouro num reconhecimento inequívoco da qualidade dos vinhos que produz. Depois destes resultados obtidos num evento tão conceituado, que enchem de orgulho o concelho de Tondela este foi motivo mais do que suficiente para tentarmos perceber as razões deste sucesso. A forma como a produção da empresária se tem imposto no panorama vinícola nacional e internacional desperta curiosidade. Só para termos a ideia, o vinho ‘Maria João Reserva Branco 2015’, da Quinta do Solar do Arcediago, foi considerado o melhor branco com envelhecimento em madeira, pelo júri feminino e pelo geral do concurso, com uma pontuação notável de 93,25 pontos. A produtora Maria João Coimbra esteve à conversa com o nosso jornal e não escondeu a satisfação por também perceber que o projeto que lidera desde 2001 e com marcas do seu próprio nome, desde 2008, estar a dar-lhe tantas alegrias. A empresária referiu que o ‘Maria João Reserva Branco 2015’, vinho que está 30
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no mercado desde o surgimento da pandemia. “O facto de ser um vinho reserva significa que temos maior quantidade, produzimos 10 mil garrafas, e é mais acessível, inclusive a nível de preço. Trata-se, na realidade, de uma grande classificação”. Maria João Coimbra explicou também que o concurso “VinDuero-VinDouro 2020” promoveu dois tipos de classificação: uma de carácter geral e outra dedicada à ação feminina, com referência direta às mulheres produtoras que curiosamente abarcava um leque maior de concorrentes. Por isso se explica o significado de que o mesmo vinho tenha tido duas classificações diferentes: “O Maria João Reserva Branco teve 93,25 de pontuação na classificação geral, mas no feminino teve 98,80”. Na verdade, este foi um duplo reconhecimento que serviu para distinguir a qualidade dos vinhos, mas também, enaltecer as senhoras que produzem vinhos. Os vinhos premiados foram “Maria João Reserva Branco 2015”, o tinto “Maria João Coleção Privada 2013”, que vai para o mercado em Setembro; o espumante “Maria João Grand Cuvée 2013”, que estagiou quatro anos em cave, e finalmente o “Grilos Reserva Tinto 2017”. Arménio Pereira (Gentileza Jornal de Tondela)
Diz o presidente da Adega de Silgueiros
Na sub-região de Silgueiros
“a colheita será superior entre 10 e 15%” Num ano em que as previsões indicam uma quebra na produção de vinhos, a sub-região de Silgueiros contraria a tendência e estima que a vindima de 2020 “será superior entre 10 e 15%”. A afirmação é do presidente da Adega de Silgueiros, Fernando Figueiredo, que critica as opções do Governo nos apoios que atribui ao setor. Para o dirigente urge pensar numa “alteração estratégica para o que se pretende para as Regiões do Interior”. Gazeta Rural (GR): Que indicadores tem sobre a próxima vindima na área da Adega de Silgueiros, sendo que as previsões indicam uma quebra de produção na região? Fernando Figueiredo FF): As informações que conseguimos recolher é que na sub-região de Silgueiros a colheita será superior entre 10 e 15%. Silgueiros não foi afetado tanto como noutras sub-regiões pela geada. GR: As chuvas que caíram recentemente vieram ‘compor’ a campanha deste ano? FF: As chuvas no mês de Agosto, apesar de não terem sido em excesso, vieram ajudar de forma clara à evolução da maturação. A qualidade dos vinhos que vamos ter apontam para a excelência. GR: Como têm decorridos os últimos tempos em termos de comercialização? FF: Como não poderia deixar de ser a Adega não podia fugir à tendência de quebra na comercialização. No entanto a ser verdade o que vamos ouvindo, não seremos os mais afetados. GR: Em face dos dados que têm, consegue antecipar os próximos tempos para o setor do vinho, em função, também, das ajudas do Governo para o setor? FF: Aquilo que penso é que as ajudas que ocorreram tiveram como objetivo responder a parte dos efeitos da pandemia, quebra de comercialização e consequente excedentes de stocks. Entendo que a questão é mais profunda quanto a ajudas e passa por uma alteração estratégica para o que se pretende para as Regiões do Interior. Não podemos continuar a impedir quem pretende alterar a situação e apostar no investimento na vinha. Infelizmente é o que tem acontecido quanto às autorizações de plantação e a ajudas VITIS. É triste olhar a desertificação, o abandono e a paisagem da nossa região. www.gazetarural.com
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Diários
de
Bordo
Os vinhos que nos Dão Por: Luís Serpa
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ue fazemos com os vinhos que nos Dão? Bebemo-los, partilhamo-los, daportuguesas, as características do vinho portumo-los e – sobretudo – agradecemo-los. Agradecemo-los a quem no-los guês. Ou seja: o vinho que nos Dão não se limita deu, a quem os fez, a quem os partilha connosco, prova-rainha de amizade. Sem a Portugal: devemos dá-lo, bebê-lo, partilhá-lo e desprimor, não é em torno de um copo de leite ou de água que se selam amoapreciá-lo nos sete cantos do mundo. res, amizades, projectos, futuros comuns, que nos reconciliamos com amigos Não quero neste artigo citar marcas, pelas radesavindos ou reatamos laços familiares há muito quebrados. zões simples e irrefutáveis de que a) não sou um Se os vinhos que nos dão vêm do Dão, o agradecimento deve ser feito a doespecialista, sou um amador. As minhas impressões brar, porque os vinhos do Dão têm todas as características de um bom vinho, não passariam disso mesmo: impressões subjectivas, a dobrar. Além disso, atraem uma classe especial de pessoas para os fazer. Ou modeladas tanto pela memória como pelos sentimelhor, continuam a atrair: as que sabem fazer vinho. Quando em Portugal mentos e b) seria incapaz de me lembrar deles todos. havia meia dúzia de marcas, a que sobressaía era o Grão-Vasco (pelo menos São muitos, uns melhores outros piores mas nenhum para um jovem recém-regressado de Moçambique e que de vinho só conhemau. cia a palavra). A minha descoberta do vinho foi uma exploração metódica Os vinhos que o Dão nos dá são nobres. Trazem neles pelas várias regiões de Portugal – e mais tarde de França – mas desde cedo a nobreza das gentes que os fazem, das terras – tão fixei a preferência nos vinhos do Dão. Há tempos escrevi porquê: gosto de belas - onde crescem, enobrecem quem os bebe e por vinhos e de mulheres que deixam um rasto quando passam por mim. Os isso devemos agradecer-lhes. vinhos do Dão deixam marcas, deixam traços, deixam – como tantas mulheres – uma irresistível vontade de voltar a eles, de não os deixar. E não 30-08-2020 nos deixam a memória. Adstringentes ma non troppo, encorpados sem se parecerem com blocos de granito líquido, equilibrados e a saber a uvas – é o que procuro num vinho, não é sabor a morangos, bananas, coiro velho ou alicates de pressão – os vinhos do Dão equilibram doçura e carácter, sabem persuadir pela inteligência e não pela força, sabem unir quem os partilha porque foram feitos para isso – unir. Há tempos ofereceram-me três garrafas de vinhos do Dão: uma de Touriga Nacional, uma de Encruzado e outra de Clarete. A primeira foi oferecida a um irmão, as duas últimas partilhadas com uma senhora e muitos amigos que ocupam no meu planisfério de afectos uma área muito grande. É o destino correcto a dar aos vinhos do Dão que nos dão: abrir o mapa-mundo do afecto, escolher as áreas mais vastas e profundas e deixá-los lá. Vivo no estrangeiro e quando dou jantares em casa é sempre aos vinhos do Dão que dou prioridade na hora de escolher os vinhos. Nem sempre é fácil encontrá-los, ou encontrar os que se adequam ao que vou cozinhar (se bem me aconteça muitas vezes adaptar o menu ao vinho que tenho disponível). Muito mais do que qualquer outra região portuguesa – as outras que me perdoem – penso que é a do Dão que melhor representa as características 32
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SEJA RESPONSÁVEL, BEBA COM MODERAÇÃO
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Uma iniciativa da Associação do Cluster Agro-industrial do Centro
Rota turística e gastronómica quer valorizar e promover o queijo da região centro A Associação do Cluster Agro-industrial do Centro (InovCluster) vai criar uma rota turística e gastronómica para valorizar e promover queijo da região centro, nomeadamente as marcas Beira Baixa, Serra da Estrela e Rabaçal.
“A
Durante o mês de Setembro
AgroB organiza visitas técnicas a empresas frutícolas exemplares
nova rota pretende qualificar e valorizar um produto turístico capaz de melhorar a atractividade e dinamização turística da região”, refere em comunicado esta associação com sede em Castelo Branco. A iniciativa tem apoio financeiro garantido, refere-se, graças a uma candidatura aprovada pelo Turismo de Portugal, apresentando um investimento elegível aprovado de cerca de 327 mil euros, sendo 70% financiado pelo Programa de Apoio à Valorização e Qualificação do Destino. A AgroB Business School EV, Escola de Formação A InovCluster refere igualmente que este projecto integra “a estratégia Profissional com a chancela da consultora agrícola mais abrangente do Programa Valorização da Fileira do Queijo DOP da Espaço Visual, vai organizar durante o mês de SetemRegião Centro”. “Ao estruturar e qualificar a oferta de um novo produto bro quatro visitas técnicas a explorações agrícolas de turístico, associando os Queijos com DOP ao território rural, às tradições referência, que serão acompanhadas por formadores e à gastronomia, diversificando as actividades a si ligadas e criando node prestígio internacional, produzindo conteúdos com vas formas de rendimento e fixação da população no território, a rota rigor técnico e científico. pretende dar um novo impulso ao turismo e à economia local”, lê-se na informação. o dia 5 de Setembro, a visita será dedicada a exploCitada na nota, a presidente da InovCluster, Cláudia Domingues rações agrícolas com a cultura do figo da Índia. No Soares, afirma que a “aprovação desta iniciativa permitirá uma comdia 17, será a vez das explorações agrícolas dedicadas à culplementaridade entre vários parceiros fundamentais para o desentura do limão e no dia 19 o foco estará centrado na cultura volvimento, tanto do turismo da região, como da referida fileira dos do maracujá. A última destas iniciativas, a realizar em 25 de queijos do Centro com Denominação de Origem Protegida (DOP). Setembro, será dedicada a visitas técnicas a explorações agríA InovCluster, com sede nas instalações do Centro de Apoio Teccolas focadas na cultura do Abacate. nológico Agro-alimentar, em Castelo Branco, tem como objectivo o O objetivo da AgroB com estas visitas técnicas é agregar vaaumento da competitividade dos sistemas produtivos locais e regiolor ao conhecimento dos alunos, estimulá-los a uma gestão nal e para a afirmação da região Centro de Portugal ao nível naciodistinta, incentivar à opinião crítica no setor do mundo rural, nal e internacional. despertando atenção para novas estratégias e oportunidades A rota contempla os territórios da Beira Baixa (NUTT III DOP de negócio. Queijos da Beira Baixa e Requeijão da Beira Baixa), da Serra da Esta aposta formativa dirige-se a diferentes segmentos, desde Estrela (região das DOP Queijo Serra da Estrela e Requeijão Serra quem está iniciar atividade até aos que pretendem especializarda Estrela) e do Rabaçal (NUT III da Região de Coimbra e Região -se nos setores agrícola, agroindustrial e de turismo rural. de Leiria).
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Memórias Rurais
Oficina do empreendedor oferece sete dias de capacitação gratuita
V21 Rural desafia a vestir a pele de empreendedor por uma semana Durante uma semana, Viseu quer ser a “capital” do empreendedorismo de base rural. A Vissaium XXI e o município de Viseu promovem uma Oficina do Empreendedor de 14 a 25 de Setembro, uma espécie de “open call” para que os participantes possam averiguar se têm ou não perfil para se aventurarem no mundo dos negócios.
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s inscrições estão abertas até ao dia 4 de Setembro e há 30 vagas disponíveis. Os interessados podem inscrever-se na página de Facebook da Vissaium XXI, onde consta toda a informação ao detalhe. De forma totalmente gratuita e em horário pós-laboral os participantes vão receber capacitação de especialistas e vão ter a oportunidade de conhecer o percurso de vários empreendedores e negócios, quer através de encontros, quer através de visitas a casos de sucesso. Vão ser seis as sessões de capacitação com especialistas, todas em horário pós-laboral (das 18 às 20 horas). A oficina culmina com uma visita de campo de um dia a empresas de sucesso. Nesta primeira fase o programa V21 Rural quer, assim, permitir um primeiro contacto dos participantes com o empreendedorismo de base rural. Pretende-se demonstrar que para criar um negócio é preciso ter e trabalhar uma série de competências e, ao mesmo tempo, mostrar também que há uma série de projetos inovadores e bem-sucedidos no meio rural. A Oficina do Empreendedor está inserida no programa V21 Rural, promovida pela Vissaium XXI e pelo município de Viseu, integrado no programa municipal Viseu Rural. O programa está dividido em três fases. Depois da Oficina do Empreendedor os interessados vão ter a oportunidade de seguir em frente com as suas ideias, apresentando a sua candidatura para o Plano de Negócios e Estágio e Cooperação. Nestas fases os projetos escolhidos vão receber todo o acompanhamento necessário para poderem tornar a sua ideia de negócios numa empresa de sucesso.
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ALMEIDA Fonte Santa Um prazer que dá saúde...
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Gazeta Auto
Marca: Hyundai I30 Hatchback Startup Checklist Por Jorge Farromba
Guidelines A Hyundai já nos habituou a construir bons automóveis e a incursão da marca no Mundial de Carros de Turismo (WTCR) e no Campeonato do Mundo de Ralis (WRC) permite-lhe elevar sobremaneira a qualidade, fiabilidade e inovação nos seus produtos. Não se estranha por isso que a marca, seja por objetivos de marketing, mas sobretudo pela confiança que deposita nos seus produtos, ofereça 7 anos de garantia … sem limite de kms.
Estética: Exterior e Interior, Materiais, User Experience
Um traço único com um painel de instrumentos analógico e um tablier e consola muito clean, sem botões dispersos pelo habitáculo, concentrando toda a informação no painel central (que pessoalmente gostaria de ver integrado no tablier), de boa leitura e com boa experiência de usabilidade. Mais uma vez, os bancos são robustos e confortáveis e o do condutor surge alinhado com os pedais e o volante, num “casamento feliz”. Bom espaço interior seja nos bancos anteriores como posteriores. A grelha dianteira surge com um layout 3D e o parachoques redesenhado (também na traseira) e a moldura ótica mais clean e fina com tecnologia LED (também na traseira).
Muito embora cada marca crie a sua própria identidade e depois a particularize para cada segmento, é notório que se posicionaram para “bater”, na altura, o rival GOLF seja na aproximação à estética, seja nos motores. E hoje o I30 é alvo de um design próprio, mas encapsulado num tradicional desenho de um 2 volumes – que pessoalmente aprecio – Relativamente às tecnologias de segurança, desde o aviso porque considero que designs muito arrojados, normalmente necesde pré-colisão, à condução assistida na estrada, com uma leisitam de rejuvenescimento mais rápido do modelo. A aposta num tura correta e correção do posicionamento do I30 entre faixas classicismo das linhas garante não somente uma vida mais longa ao de rodagem, o sistema não somente está bem parametrizado, modelo, mas também lhe atribui um legado que se vai perpetuancomo transmite um rigor elevado na confiabilidade do sistema. do no tempo. Dito de outro modo, os anos “custam mais a passar” Recordando o início do artigo a Hyundai recolhe da competipor este tipo de desenho. Assim, neste classicismo das linhas que ção muito do seu know-how que replica nas viaturas de estrada alia aerodinâmica, jovialidade e dinamismo, o I30 faz-se à estrada. e, por esse motivo, é um lugar comum referir que o comportaNo interior, a marca mantém a aposta num design clássico e mento é são e assertivo, o conforto é germânico, a caixa de 6 veintemporal, com materiais de qualidade e robustos, com vários locidades está bem escalonada, sendo um exemplo de precisão. apontamentos em plásticos moles (mesmo na zona posterior). Sente-se um motor encorpado que, mesmo com vários ocu-
Em estrada
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pantes a bordo, responde bem nas várias circunstâncias, o que não é alheio o escalonamento da caixa de velocidades. Tal como os restantes modelos da marca, o AC é potente nos dias de calor e a travagem é extremamente eficaz. A entrada em curva, mesmo nesta versão menos potente, é feita de modo rigoroso e competente. Somente uma nota relativamente à direção que, neste modelo e fruto do menor peso do motor e da assistência da direção, pessoalmente prefiro uma direção mais “pesada”.
Consumos, preço e segurança
Os consumos oscilaram ente os 4,7, em condução suave, até aos 5,3l, cumprindo as regras de condução. Preço: 22.800 e 26.800 euros
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Nos dias 26 e 27 de Setembro, no Porto
Há ‘Vinhos a Descobrir’ no Mercado Ferreira Borges O
espaço Hard Club, no Mercado Ferreira Borges, no Porto, vai receber nos dias 26 e 27 de Setembro a terceira edição do ‘Vinhos a Descobrir, Wine Market’, uma mostra e feira de vinhos produzida pela INSPIRE. Em pleno centro do Porto, a mostra de vinhos privilegiará o contacto com visitantes e turistas. Estarão presentes excelentes produtores nacionais de vinhos tranquilos (DOC, Regionais, IG), vinho do Porto, vinho Verde, vinho da Madeira e espumantes. Com as medidas de segurança de mercado ao ar livre, aquele é o local ideal para a descoberta dos fantásticos néctares portugueses, juntando apreciadores e produtores, partilhando as novidades e redescobrindo vinhos, tudo num espaço amplo e com ambiente descontraído. Os visitantes terão a possibilidade de falar com os produtores, adquirir vinho a copo e garrafa, bem como produtos regionais e gourmet, enriquecendo a sua experiência. Durante o Wine market serão realizadas harmonizações diárias com vinhos, realizadas por um expert, partilhando o seu conhecimento para que a descoberta das melhores combinações seja ainda mais proveitosa.
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Ficará exposta no Welcome Center da Rota do Vinho do Dão
Garrafa de vinho do Dão autografada por Amália Rodrigues oferecida à CVR Dão U
ma garrafa de vinho do Dão autografada por Amália Rodrigues passou a fazer parte do espólio da Comissão Vitivinícola Regional (CVR) do Dão e ficará exposta no Wecome Center da Rota do Vinho do Dão. A oferta foi feita por Adelino Monteiro, que a guardou nos últimos 45 anos. A história é curta. Amália Rodrigues atuou em Setembro de 1975 na Feira de São Mateus e foi recebida no espaço da Federação dos Vinicultores do Dão (FVD). Adelino Monteiro, que naquele ano fez parte da Comissão da Feira, aproveitou a ocasião e pediu a Amália que autografasse a garrafa. “Ela, com um comportamento simples e civilizado, acedeu e disse que era um prazer”, recordou. “Com um xi-coração”, escreveu Amália. Engarrafada pela antiga Federação dos Vinicultores do Dão, a garrafa de 125ml “esteve comigo estes 45 anos e agora, no centenário do nascimento de Amália Rodrigues, achei que poderíamos criar algum valor e ligá-la à região do Dão”, referiu Adelino Monteiro. Assim, “após conversa com o Prof. Zé Ernesto Silva, da Confraria de Saberes e Sabores da Beira ‘Grão Vasco’, achámos que seria interessante criar este ‘upgrade’ e ofertar a garrafa à CVR Dão, ficando a Região e Amália ‘ligados’ no ano do seu centenário”. Para o presidente da CVR Dão, esta garrafa “tem uma importância histórica, porque está autografada por uma das figuras maiores da cultura portuguesa. Na CVR temos um espólio de garrafas antigas e dos respetivos rótulos e esta, sem dúvida, vem enriquecer esse espólio e é, dessa forma, um instrumento de promoção da Região”, salientou. Arlindo Cunha mostrou-se “feliz” e agradeceu a oferta, “que vai contribuir para tornar o Welcome Center da Rota do Vinho do Dão ainda mais atrativo e com um valor acrescentado, para promover a Região e os nossos vinhos”.
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