Unicaphoto 15

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Revista do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da UNICAP

quarentena Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Morbi placerat lorem vitae sem dapibus elementum.

#15 • AGOSTO DE 2020


EXPEDIENTE

COORDENAÇÃO Renata Victor

EDIÇÃO Carolina Monteiro

COMISSÃO EDITORIAL Carolina Monteiro e Renata Victor

PROGRAMAÇÃO VISUAL E DIAGRAMAÇÃO Jota Bosco

TEXTOS, FOTOS E VÍDEOS André Antônio, Julianna Torezani, Liliana Tavares, Bethânia Correia de Araújo, Gustavo Bettini, Filipe Falcao, Anne Stone, João Guilherme Peixoto, Renata Victor, Guy Veloso, Ana Pobo Castañer, Arnaldo Sete, Danyllo Feliciano, Elenildo Silva, Patrinny Aragão, Valdenio Atanásio, Marina Emilia Curcio, Bruna Reinaux, Rosália Cristina, Fernanda Travassos, Romulo Nascimento, Domingos Paz, Giselly Patrícia, Leandro Ricardo Nascimento, Alan Douglas, Aurenivea Oliveira, Jonatta Marinho, Noelly Santana, Rafael Candito, Rafael Yaguiu, Sidney Rocha, William Oliveira Nunes, Bruno Lira, Marina Morena, Hugo Santos, Danielle Souza, Felipe Correia, Arylanna Gomes, Maria Alice Siqueira, Matheus Acioli, Maria do Carmo de Farias, Matheus Portela, Gustavo Henrique Laurentino, Matheus Acioli, Amanda Luz Chaves, Emanuelle Torres, Ian Moreira Lima, Noelly Beatriz dos S Silva, Renee Sophi Luise C Uchoa da Silva, Zito Junior.

FOTO DA CAPA Renata Victor

FOTO DA CONTRACAPA Renata Victor

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A UnicaPhoto é uma publicação semestral do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco. (ISSN 2357 8793)

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EDITORIAL

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Renata Victor

Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap

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SUMÁRIO

PAG. 03 Editorial

PAG. 16 Entrevista: Guy Veloso

PAG. 30 Ensaio - O possível das imagens

PAG. 48 Ensaio - Recife Vazio

PAG. 62 Ensaio - Quarentena

PAG. 68 Ensaio - Quarentena

PAG. 80 Ensaio - Afrofuturismo

PAG. 94 Sobre os desafios de criar em tempos de quarentena

PAG. 102 o Recife que eu vi: memórias, afetos e imagens

PAG. 108 Audiodescrição

PAG. 06 Aconteceu

PAG. 28 Professor(a), precisamos falar sobre metodologias ativas de ensino e aprendizagem

PAG. 42 Ensaio - Autorretrato

PAG. 58 Ensaio - Quarentena

PAG. 66 Ensaio - Quarentena

PAG. 72 Ensaio - Quarentena

PAG. 92 Fotosíntese

PAG. 100 O novo normal atual do cinema

PAG. 106 Livro

PAG. 110 Colunas



ACONTECEU

JANEIRO

18/02 - 2º DIA DE ABERTURA DE SEMESTRE 28/01 - COLAÇÃO DE GRAU Dia 28 de janeiro, formandos de 2020.1 finalizaram mais uma etapa: a colação de grau. Uma noite cheia de alegria, emoção e um sentimento de dever cumprido. O aluno Sérgio Maranhão foi o laureado com a maior média da universidade.

Na noite da terça-feira, o curso

27/02 - EX-ALUNO ALEXANDRE MAGALHÃES FALA SOBRE FOTOGRAFIA DE CASAMENTO

contou com a palestra da jornalista

Na noite da quinta-feira (27), a turma

e atriz Stella Maris Saldanha,

do 1º módulo recebeu a visita do

professora do Curso de Jornalismo

ex-aluno Alexandre Magalhães, para

da Unicap, que apresentou uma

uma conversa sobre casamento

palestra sensível sobre Clarice

e processo criativo da fotografia

Lispector, escritora ucraniana

social.

naturalizada brasileira e que residiu em Recife.

MARÇO

FEVEREIRO

19/02 - 3º DIA DE ABERTURA DE SEMESTRE

17/02 - 1º DIA DE ABERTURA DE SEMESTRE O primeiro semestre de 2020 começou de forma presencial, com palestras que colaboraram para uma noite de muito aprendizado e troca. Daniel Fonseca, ex-aluno, trouxe questões pertinentes sobre o mercado fotográfico atual. Cesar Castanha, Mestre em

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No 3º e último dia da semana

28/03 - COMEMORAÇÃO DOS 10 ANOS

de abertura do semestre do

A noite foi muito especial para o Curso

Curso Superior de Tecnologia em Fotografia, tivemos apresentação das estruturas da universidade, palestra com o professor Robson Teles sobre a poesia de João Cabral de Melo Neto, atividade de interação entre os alunos veteranos e calouros.

Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap. Completamos 10 anos. Uma década de muitas conquistas e crescimento, de muito trabalho para formação de grandes profissionais. Depois de uma missa, exposição e coquetel marcaram a noite, que contou ainda com a 14ª edição da

Comunicação pela Universidade

Unicaphoto e a primeira edição de um

Federal de Pernambuco, falou sobre a

livro com a produção acadêmica de

fotografia no cinema de Fellini.

professores, alunos e ex-alunos.


MAIO

16/03 - SUSPENSÃO DAS ATIVIDADES PRESENCIAIS

06/03 - EX-ALUNA SELECIONADA PARA FESTIVAL DE FOTOGRAFIA DE TIRADENTES

No dia 16 de março, as aulas

26/05 - AULA ABERTA SOBRE MODA

presenciais do curso de Fotografia

Aula aberta do professor João

foram suspensas em função da

Guilherme Peixoto com o aluno do

pandemia do novo coronavírus.

curso de fotografia da Unicap Hugo

Alicia Cohim, ex-aluna do Curso

Santos e com o hair stylist Erick

Superior de Tecnologia em

Gobe.

Fotografia da Unicap, foi uma das fotógrafas selecionadas para expor seu portfólio na décima edição do Festival de Fotografia de Tiradentes.

18/03 - INÍCIO DAS AULAS EM MODO REMOTO As aulas da graduação em fotografia com todas as disciplinas sendo

28/05 - AULA ABERTA SOBRE FOTOGRAFIA DE FAMÍLIA

oferecidas através da plataforma

A fotógrafa Andréa Leal foi mais

Google Classroom, com o auxílio de

uma das convidadas maravilhosas a

10/03 - VISITA À BIBLIOTECA CENTRAL

outras tecnologias que viabilizaram

compartilhar experiências de forma

Os alunos do 1º módulo fizeram a

a oferta do conteúdo até a

remota com as turmas do curso de

tradicional visita à Biblioteca Central

conclusão do semestre letivo de

Fotografia.

da Unicap e foram recepcionados

2020.1.

são retomadas de forma remota,

pelos funcionários, que explicaram detalhadamente sobre o acervo físico e digital. No fim da visita, fizemos a foto mais esperada pelos calouros.

30/05 - AULAS REMOTAS COM AS EX-ALUNAS Duas ex-alunas maravilhosas convidadas para uma aula com os alunos de fotografia. Agradecemos a Marina Feldhues e Alicia Cohim por agregarem mais conhecimento nessa jornada de aulas remotas.

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JUNHO

convite do professor Filipe Falcão.

30/06 - LIVE COM BRENO ROCHA

O objetivo foi permitir aos alunos

Live de Renata Victor com Renato

conhecerem um pouco o trabalho

Rocha sobre “Profissão: Fotógrafo!”

de produção audiovisual.

BATE-PAPO INCRÍVEL COM ALFEU TAVARES Ex-aluno e hoje editor adjunto de

JULHO

fotografia da Folha de PE. Aula de Processos fotográficos e anatomia da câmera fotográfica com Renata Victor.

02/06 - DRAILTON GOMES CONVIDADO Mais uma participação incrível de um ex-aluno querido em nossas aulas remotas. Gratidão a Drailton

06/07 - LIVE COM IVAN ALECRIM

Gomes pela colaboração.

Ivan Alecrim e Renata Victor nos trouxeram reflexões e apontamentos importantes. Pensar

16/06 - DESPEDIDA REMOTA

a fotografia é sempre necessário!

A aula final da cadeira de Processos fotográficos e anatomia da câmera fotográfica, lecionada por Renata Victor para os alunos do 1° módulo,

03/06 - BATE-PAPO COM ROTEIRISTA LUIZ OTÁVIO PEREIRA

contou com a participação especial

Os alunos da disciplina de Roteiro,

teve esse período alguns trabalhos

Storyboard e Produção no

interdisciplinares junto a professora.

do professor André Antônio, que

Audiovisual tiveram a oportunidade

21,24 E 28/07 - OFICINA PARA INICIANTES Oficina “Fotografia para iniciantes:

de participarem de um bate-papo

utilizar smartphone na produção

com o roteirista Luiz Otávio, cujos

fotográfica” ministrada pelo aluno

créditos incluem o longa-metragem

Danyllo Feliciano para integrantes

Todas as Cores da Noite (2015), além

da ONG deficiente eficiente.

dos curtas Sobre Minha Melhor Amiga (2013), Canção Para Minha irmã

28/07 - OFICINA DE AUTOMAQUIAGEM

(2012) e Boa Sorte, Meu Amor (2012).

Oficina “Automaquiagem para

17/06 - LIVE COM AMANDA PIETRA Live incrível e necessária demais com Amanda Pietra e Renata Victor

fotografia” ministrada pela ex-aluna Catarina Pennycook para a ONG deficiente eficiente.

AGOSTO 06/08 - OFICINA DE MEDITAÇÃO

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04/06 - DIRETORA ANNY STONE CONVERSA COM TURMA

Em parceria com a ONG Deficiente

A cineasta Anny Stone, atualmente

mediou oficina de meditação, que

aluna do curso de especialização

também foi aberta ao público. Ela

Eficiente, a aluna Ana Fonseca

As Narrativas Contemporâneas

23/06 - LIVE COM GUSTAVO BETTINI

trouxe dicas valiosas para acalmar a

da Fotografia e do Audiovisual,

Live de Paulo Souza com Gustavo

mente neste momento tão difícil de

participou de uma aula remota com

Bettini. Tema: Gerenciamento de cor

crise e isolamento.

os alunos do primeiro período a

e impressão.



10 ANOS

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ENTREVISTA

GUY VELOSO Formado em Direito, é fotógrafo desde 1988 com diversas publicações nacionais e internacionais. Seus ensaios até hoje são feitos principalmente com equipamento analógico. Os projetos de cunho antropológico demoram anos para serem apresentados ao público pela extensa pesquisa e envolvimento do fotógrafo. O assunto “religião” é o mais recorrente, com várias nuances exploradas, como “o uso do corpo como transcendência”. Fé, arte e cultura popular estão presentes intimamente em seu trabalho – como em sua vida. Guy Veloso nasceu (1969) e trabalha em Belém-PA. Participou da 29ª Bienal de São Paulo/2010 e da 4th Biennial of the Americas, Denver-EEUU /2017. Foi curador-geral de fotografia brasileira contemporânea na 23ª Bienal Europalia, BruxelasBélgica/2011. Compõe os acervos da Essex Collection of Art from Latin America, Colchester-Inglaterra; Centro Português de Fotografia, Porto-Portugal; Abarca Family Collection, Denver-EEUU, Coleção Joaquim Paiva/MAM-Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; MAR-Museu de Arte do Rio; MAMMuseu de Arte Moderna de São Paulo e MASP-Museu de Arte de São Paulo. Foto: Joyce Nabiça /Arquivo pessoal

Você primeiro se graduou em Direito, para depois

esse interesse.

voltar-se para a fotografia. Como se deu esse

O Círio de Nazaré – a maior procissão do mundo – foi

processo?

um formador de meu imaginário quando criança e

Descobri a fotografia logo depois que passei no

adolescente em Belém. Depois, em 1993, fui de mochila

vestibular, aos 17 anos. Mesmo arrebatado por esta arte

e com uma velha Nikon fazer a pé (e sozinho) o Caminho

e já participando de exposições coletivas, fiz um esforço

de Santiago de Compostela, rota medieval espanhola

para terminar o curso. Não me arrependo.

de peregrinos por 37 dias. Daí, para ter a religiosidade brasileira como tema principal foi um só passo.

Você sofreu pressão ou foi desencorajado quando trocou o Direito, uma atividade mais tradicional, pela

Dentre as diversas manifestações religiosas que já

fotografia?

registrou, você destacaria alguma que lhe deixou

Sofro até hoje. Verdade! Críticas sempre veladas... Mas

particularmente emocionado?

não dou mais importância. Antes, porém, incomodava

Há 30 anos documento o Círio de Nazaré, em especial,

muito.

os romeiros que puxam a grande corda de navio em que o andor da Santa está atrelado. São apenas 500 metros

O tema mais recorrente do seu trabalho é a

para mais de 10.000 pessoas... Depois, as romarias de

religiosidade. Conta um pouco sobre o que despertou

Juazeiro do Norte e rituais de Candomblé, Umbanda e


Tambor de Mina em Belém. Emocionante também foi em 2011 fotografar a Dança dos Egunguns, ritual extremamente fechado na Ilha de Itaparica-BA.

Como foi a transição do processo analógico para o digital? Péssima! Tive que fazer por questões econômicas (usava apenas slides) no final de 2012. Pelo mesmo motivo, guardei as Leicas e comecei a usar Canon. Na real: até agora não me acostumei... Não tenho a mesma velocidade de ajustes; sinto pouca intimidade com a máquina. Mas tem um lado bom: no digital sigo a cartilha do analógico em ser comedido com o número de cliques. Assim, em uma saída, não faço centenas de fotos – o que certamente daria muito trabalho para editar e caro para armazenar.

Como se dá o seu processo de criação? Muita pesquisa. Logo depois, contatos prévios com os locais e personagens. Por fim, os pontos mais importante: extrema concentração durante as saídas fotográficas e intimidade e respeito com o tema e com as pessoas fotografadas.

Você destaca algum trabalho fotográfico contemporâneo? Vou me restringir ao meu Estado, o Pará: Elza Lima, Luiz Braga, Paula Sampaio, Luciana Magno, Nailana Thiely, Alberto Bitar, Flávya Mutran, Karina Martins, Alexandre Sequeira... são muitos...

Quais os critérios que você costuma usar na edição do seu trabalho? Estética e poética. Há, claro, a parte antropológica e histórica que fica em segundo plano, nas legendas e texto. Ao menos assim fiz com no Projeto Penitentes (2002-2019), cujo livro foi impresso ano passado (abri o pdf durante a pandemia para as pessoas baixarem gratuitamente). Porém, o que mais me faz sentir confortável é a presença de curadores no processo, já que o fotógrafo, creio, está envolvido emocionalmente com as fotos e há a necessidade de certa distância. Meus livros mais recentes tiveram dois talentosos – queridos – realizando este trabalho: Eder Chiodetto e Rosely Nakagawa.

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ARTIGO

Professor(a), precisamos falar sobre metodologias ativas de ensino e aprendizagem Texto:

João Guilherme Peixoto

E

m entrevista concedida à extinta revista

possibilidade de criar novos conhecimentos”.

Risk, em novembro de 1970, o educador

Uma afirmação incomoda, mas que, em tempos

pernambucano

ser

sombrios e incertos no qual vivemos, faz todo

Paulo

Freire,

ao

interpelado a respeito dos resultados de seu

sentido. E ainda nos traz a seguinte indagação: em

método de ensino e os e reais efeitos nos contextos

meio ao uso de recursos técnicos e tecnológicos,

social e político dos estudantes, afirmou: “O que a

como podemos despertar de maneira ativa os

escola significa? Ela é uma casa onde os estudantes

(as) alunos(as) para práticas educativas inclusivas,

são convidados a assumir uma atitude passiva,

contemporâneas, criativas e inovadoras?

para receber a transferência de um conhecimento existente sem nem ao menos refletir sobre a

Primeiramente, destaca-se que um dos pilares


da sociedade da informação na qual estamos

ativas de ensino e aprendizagem mais populares:

inseridos

a sala de aula invertida (na qual os ambientes

é

Entretanto,

o

desenvolvimento

autores

tecnológico. Castells,

online e offline se reconfiguram e se redesenham

Nicholas Negroponte, Zygmunt Bauman, Paula

como espaços de aprendizagem), a Aprendizagem

Sibilia, entre outras e outros possibilitaram a

Baseada em Problemas (focada na busca pela

compreensão dos fenômenos atuais a partir de um

solução

olhar para tal desenvolvimento o qual não encara

contexto

tal avanço como “salvador” ou “milagroso”. Sem

Baseada em Projetos (a qual estimula, por meio

dúvidas, a evolução tecnológica nos processos de

do desenvolvimento das etapas de um projeto,

produção, circulação, consumo e financiamento

aspectos relacionados ao trabalho coletivo, à

de

criatividade e o learning by doing), a Aprendizagem

conteúdo

(seja

como

ele

Manuel

educacional

ou

não)

de

situações-problemas

dos

estudantes),

a

inseridas

no

Aprendizagem

representa uma verdadeira revolução nas práticas

em

contemporâneas, mas é preciso ter em mente que

processos de empoderamento e co-criação de

tais recursos não substituem as reconfigurações

soluções), entre outras. E não faltam exemplos

no âmbito social.

bem sucedidos de utilizações estruturadas e

Pares

(que

aproxima

os

estudantes

de

responsáveis do uso de metodologias ativas de Ademais, nos

observa-se

contextos

quando

ensino

ensino e aprendizagem. Para maiores informações,

aprendizagem

sugiro uma pesquisa nos trabalhos publicados pelas competentes professoras Andrea Filatro,

fixemos nossa atenção para uma verdadeira

Carolina Costa Cavalcanti, Conceição Carrilho,

miríade de ferramentas, recursos tecnológicos

como também pelos professores João Mattar, Alex

e soluções “inovadoras e disruptivas” as quais

Sandro Gomes, William Bender, entre outros.

resultados

e

focamos

contemporâneos, há um forte apelo para que

prometem

de

que

miraculosos

para

as

complexas problemáticas características do campo

Todavia, é preciso estar atento aos contextos

da educação. E é que entramos em uma cilada

necessários

perigosa. Pois bem, e se, ao invés de canalizarmos

ativas. Antes mesmo de selecionarmos entre

toda nossa energia em descobrir qual a tecnologia

as possibilidades de aplicação disponíveis, faz-

“da vez”, por que não nos dedicamos a transformar

se necessário ter em mente alguns aspectos, a

o

um

saber: a) que resultados espero obter junto aos

processo mais dialógico, construtivo e ativo para

estudantes? b) como irei mensurar os resultados

todos os atores envolvidos no circuito?

obtidos com a aplicação das técnicas e processos?

processo

de

ensino/aprendizagem

em

ao

uso

destas

metodologias

c) de que forma pretendo inserir efetivamente É

neste

momento

falar

os estudantes nos protocolos de planejamento,

abertamente sobre metodologias ativas de ensino

execução e mensuração de atividades as quais

e

serão

aprendizagem.

que

Não,

precisamos

amigo(a)

educador(a).

realizadas?

Tais

questionamentos

(e

Definitivamente não estamos falando de um tema

diversos outros) devem representar o core das

“da moda” ou recentemente desenvolvido. Antes

preocupações de docentes interessados em iniciar

mesmo do termo popularizar-se nos anos 90 do

nesse universo.

século XX, educadores como John Dewey, Vygotsky e o próprio Freire apostaram na estruturação

Eis que, por fim, voltamos ao que Freire nos

de um modelo educacional que buscou inserir a

interpela: como trabalhar os processos de ensino

realidade discente (suas experiências) e a prática

e aprendizagem de forma mais ativa, empática,

constante como foco nos processos de ensino

efetiva, eficaz e eficiente? Gosto sempre de lembrar

e aprendizagem. Uma evolução interessante e

de uma fala da professora Terezinha Rios, a quem

considerável se tomarmos como base os protocolos

tive o prazer de conhecer: “Um projeto de escola

demasiadamente passivos do já bastante difundido

não se faz sem a participação de todos os que a

processo expositivo de ensino, no qual o docente

constituem e não é uma mera soma de projetos

(seus saberes, contextos e práticas) é o centro do

individuais, mas sim uma proposta orgânica, em

ambiente educacional.

que se configura a escola necessária e desejada, e na qual se articulam, na sua especificidade, as

Visto isso e buscando um horizonte de aplicações

ações de cada sujeito envolvido”. Que foquemos

possíveis,

pois nestes conselhos. E viva a educação!

podemos

citar

como

metodologias

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ENSAIO

O POSSÍVEL DAS IMAGENS Texto:

André Antônio

andre.barbosa@unicap.br A câmara escura era um dispositivo através do qual uma

câmeras - que deixaram de ser câmaras - ainda possam

imagem era refletida na parede de um quarto vedado

nos mostrar o brilho do mundo? Não sei se tenho uma

a partir da luz advinda de um pequeno buraco do lado

resposta definitiva para esta questão. Mas comecei

oposto. Na Europa do século XVII, as pessoas gostavam

a sentir possibilidades de caminhos nas imagens

de se maravilhar olhando para aquela projeção. Por um

produzidas pelos meus alunos das disciplinas de “História

lado, ela era mais fantasmagórica e mais etérea que a vida

da Fotografia” e “Poética da Imagem”, no curso de

concreta que ela refletia. Como se fosse um fantasma

Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco.

seu. Por outro, era mais brilhante, mais fascinante, mais misteriosa. Parecia uma miragem onírica, como uma

Todas essas imagens foram produzidas no primeiro

prova de que o mundo que habitamos pode ser mais

semestre de 2020, no contexto limitante e assustador

utópico, como uma terra de fantasia.

dos começos do Covid-19. Sou muito grato por ter sido presenteado com essas imagens. Agora, gostaria de

Alguns séculos depois, estamos testemunhando o oposto

compartilhá-las com o leitor da Unicaphoto. A seguir,

de uma utopia. A vida concreta, lá fora, está cada vez mais

esses trabalhos estão divididos em cinco seções. Às

sem brilho. No entanto, continuamos a olhar imagens.

vezes eles são vídeos, imagens em movimento. Às vezes,

Imagens que são herdeiras diretas daquela que era vista

são imagens congeladas - fotografias. Mas todas, com

na câmara escura. Essas imagens, agora digitais, saíram

perspectivas estéticas distintas, nos convidam a olhar

da Europa e espalharam pelo mundo inteiro. Saíram da

novamente para o mundo - quem sabe com um pouco

parede e se movimentam em telas de computador e

mais de esperança, afeto, estilo e, também, humor. Em

celular.

baixo de cada imagem ou vídeo, podemos ler brevemente um trecho do projeto escrito de cada fotógrafo. Dêem

O que elas, agora, nos mostram? É possível que as

play, observem: vamos reaprender a olhar para o mundo.


I. a fotografia documental

Marina Emília Curcio. “Ponto de Ebulição”. “Afetividade, intimidade, liberdade carcerária, agonia, angústia, compaixão, insatisfação, ansiedade, medo, relações digitais, felicidade, tesão, estresse.. Pretendi desenvolver recortes de um cotidiano experimentalista. Falar um pouco sobre as vivências atuais, mostrando particularidades nas relações inter e intra pessoais de duas mulheres e os nuances de nossas emoções nesse convívio contínuo”.

Amanda Luz - “Um é pouco, dois é bom, três é demais”. “Fiz fotos que documentam a vida do meu pai, Jorge, durante a pandemia que vem devastando milhares de famílias por todos os cantos. Quando tudo acabar, estes registros servirão de documentos históricos retratando como as pessoas, presas em casa por um bem comum, continuaram seguindo as suas vidas em meio ao caos”.

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Arnaldo Sete. “Warao. Refúgio na pátria amada”. “Eu registrei as dificuldades de quinze famílias indígenas venezuelanas, (aproximadamente 52 pessoas, entre homens, mulheres, crianças e idosos) em dividir o espaço em uma mesma casa localizada no bairro da Boa Vista, na cidade do Recife, o convívio entre eles enquanto comunidade naquele ambiente, seus costumes e cultura indígena, e o modo de lazer das crianças. Essas famílias em questão são refugiados venezuelanos onde esse grupo em específico pertence à tribo indígena Warao. São índios oriundos da região norte da Venezuela. Em sua língua nativa, Warao significa ‘povo da canoa’”.

Bruna Reinaux. “De pai para filho”. “Meu ensaio mostra o trabalho da vida de homens que trabalham em um cultivo de hortaliças a beira da estrada da BR 232. As fotos procuram mostrar a beleza e a importância dessa profissão, como se torna uma tradição que vai de fato ser passada de geração em geração.”

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Fernanda Travassos. “Neta”. “Fotografei meus avós com o intuito de mostrar o dia a dia deles e como a vida de um idoso, apesar de pacata, cheia de limitações - em especial, físicas e, às vezes, invisível na sociedade “líquida”, pode ser mostrada de uma forma afetiva e bela”.

Romulo Nascimento. “Um olhar diferente diante da pobreza”. “A pobreza causa sentimentos de tristeza e dor. Mas também fé, esperança, coragem para conquistar tudo que um dia não se teve. Pessoas em situação fragilizada não devem somente ser fotografadas infelizes”.

Rosália Cristina. “40tena: a vida como ela é”. “Meu projeto teve por finalidade construir uma narrativa da rotina dentro de casa na pandemia do novo coronavírus dentro da perspectiva da fotografia documental. A pandemia causada pelo covid-19 nos obrigou a fazer reflexões, como por exemplo: preparar a própria comida, a saudade das pessoas queridas, passamos a ficar mais presentes virtualmente”.

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II. MODA: O CORPO E AS ROUPAS Domingos Paz. “No Street 19”. “Meu ensaio fotográfico usará o que tenho em mãos no período de pandemia. Ou seja, contarei com o auxílio da minha irmã atuando no papel de modelo, além da composição de combinações estilosas com as roupas disponíveis em casa, também vou priorizar cenários acessíveis com fundo branco. Steve Johnston mudou o cenário da moda dos anos 1970, através de capturas fotográficas dos Punks. Ele buscava paredes brancas pois eram o mais próximo de um fundo de estúdio fotográfico. Também acreditava que quanto mais simples e direta, mais poderosa seria a imagem”.

Giselly Patricia. “Abalando estruturas”. “Com espaço e recursos limitados, fiz meu ensaio via FaceTime. Quis exibir mulheres negras que estão inseridas no mundo da arte e que se vestem com características bastante evidenciadas através dos movimentos afropunk e afrofuturista, mostrando por meio desse catálogo formas e cores em suas roupas, adornos e maquiagens”.

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Leandro Ricardo Nascimento. “Corpos que resistem”. “A proposta do ensaio é unir a estética do Afrofuturismo ao Queer, mostrando o protagonismo no trabalho de moda autoral da artista que é conhecida como “Rainha do Recife”. A vivência dela resulta na desconstrução normativa da sociedade, tendo-se em vista que ela se torna estatística diariamente neste país que reprime o povo preto e as pessoas transexuais. Projeto realizado através do FaceTime”.

Danyllo Feliciano. “Circulon”. “O video foi produzido se inspirando na estética do afrofuturismo: a modelo fotografada é negra e utilizei características futuristas ao mesmo tempo que trouxe a idéia de ancestralidade nas fotografias”

Alan Douglas - “Estética do dia”. “Meu ensaio tem como proposta se inspirar nos gêneros retrato e fotografia de moda. Como referência, penso no fotógrafo Irving Penn, que era conhecido nos anos 1950 e foi um dos pioneiros a usar esta técnica do fundo liso”.

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III. O PICTORIALISMO

Aurenivea Oliveira. “Dissentir”. “O ensaio consiste em uma sequência de fotografias das plantas e flores existentes em minha residência, que durante o isolamento, devido à pandemia do Covid 19, fazem parte do meu dia a dia e que tenho uma grande relação afetiva. Por ter me inspirado no Pictorialismo, foram feitas manipulações, tanto no ato do clique, como na pós produção. Efeitos de cores, que mudam a realidade, que trazem um aspecto mais poético e sentimental, com a textura mais granulada, que foge um pouco da nitidez rígida. Trazendo como seu título palavra que significa o sentir diferentemente, que causa desconforto a quem espera a realidade crua, sem nenhuma manipulação e que causa, também, emoção positiva a quem se permite sentir diferente”.

Jonatta Marinho. “Pure innocence”. “Minha principal referência foi a fotógrafa Julia Margaret Cameron e seus retratos influenciados pelo Pictorialismo, uma técnica que tem como objetivo levar um pouco da pintura para a fotografia, como um quadro com pinceladas leves e muita textura”.

Renée Sophi. “Minha primeira tela”. “Quis através deste ensaio mostrar como uma criança, mesmo ainda pequena, pode deixar aflorar suas emoções brincando com os pincéis e tintas ao se expressar na tela colocada no cavalete à sua frente. Me inspirei no movimento Pictorialista e nas técnicas alegóricas das fotógrafas Julia Margaret Cameron e Gertrude Käsebier, que participaram desse movimento”.

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Rafael Candido. “Retratos pictóricos de sentimentos atuais”. “Captadas por um celular, as imagens deste ensaio tiveram como referência artistas como a fotógrafa Julia Margaret Cameron (que utilizava uma técnica de usar algo amarelo que difundisse a luz, aproximando as fotografias das tonalidades usadas nas pinturas) e o fotógrafo, também pintor impressionista, Edgar Degas”.

Noelly Santana. “O universo que habita em nós”. “A fotógrafa Julia Margaret Cameron foi a responsável pela inspiração desse projeto. Por seus incomparáveis retratos que traziam traços da personalidade, emoções e sentimentos do fotografado. E suas cenas históricas e de obras literárias com o foco nos trajes da época retratada, decorações e adereços”.

Rafael Yaguiu. “A minha tela é pintada com luz”. “Este projeto consiste numa série de fotos retratando o que vejo pelas janelas de meu apartamento num período de 24 horas, à minha maneira. Irei fotografar o céu, as ruas, o sol, talvez pessoas, prédios, mas não apenas de maneira tradicional. A ideia é tentar trazer um ar de pintura para as fotos, para isso usei algumas técnicas fotográficas como Panning, Light Painting, Longa exposição e também a pós-edição”.

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IV. A IMAGEM ALEGÓRICA Sidney Rocha. “I am a poseur”. “Na fotografia, a pose é metáfora para certa naturalidade de gestos que repetimos no dia a dia. A pose é a busca do natural, do que se repete. Ou do que deveria. Esse é o universo da fotografia. O fotógrafo tenta, pela repetição, retirar do modelo sua característica mais personalíssima, singular. Isso justifica seu trabalho e seu lugar no mundo. Naquele espaço-tempo que é o set, pelo menos”.

Hugo Santos. “Acessos”. “O ensaio tomou como base a valorização do surrealismo, tendo como objetivo principal mostrar uma visão diferente do mundo, buscando novas formas de ver além do que a razão nos permite através de retratos. Os surrealistas valorizavam os sonhos e seus significados, pois seria no sonho onde nós poderíamos acessar uma realidade acima da realidade, na qual as informações obtidas não teriam interferência do nosso consciente e teríamos uma liberdade e um acesso a nosso inconsciente”.

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Danielle Souza. “Doces memórias”. “Meu ensaio é sobre alimentos, desde da sua produção até seu resultado final. Me inspirei em Irving Penn, que era fotógrafo de moda e também de naturezas mortas”.


Marina morena. “Arte imitando a fotografia ou fotografia imitando a arte?”. “Usei objetos comuns do dia-a-dia que, normalmente, nos passam por despercebido e podem trazer uma composição legal para a imagem, tais como: copos, talheres, frutas, plantas, pratos, espelhos, etc.”

William Oliveira Nunes. “Deixe-me entrar”. “’DEIXE-ME ENTRAR’ é resultado de uma pesquisa de fotografia para um filme de terror que já está em andamento, e terá como produto tanto as imagens que indicam os frames do vídeo e o próprio filme para ser assistido. Intensifiquei minha pesquisa em algumas situações que remetem a um filme de terror como estudo, sem necessariamente ser uma obra com uma história de início, meio e fim.”

Bruno Lira. “Cartografias do isolamento”. “O projeto é uma série de gifs, que tratam do período de isolamento social com o objetivo de explorar as práticas (na maioria das vezes virtuais) que compõem a fuga do espaço físico repetidamente visto e retratam o desejo de se locomover fisicamente. O formato de gifs foi escolhido para visualizar a repetição incessante das práticas e overflow de informações cotidianas a que somos expostos no espaço virtual”.

Felipe Correia. “Crônicas dramáticas da saudade”. “Qual é a sua saudade mais visceral dessa quarentena? O que te dá uma agonia ao lembrar? e o que é que você tanto deseja do fundo do seu coração que está tão distante nessa quarentena? qual é a sua saudade que te rasga as entranhas e faz você suspirar ao lembrar? Qual é a seu maior desejo? o que alimenta suas esperanças nessa quarentena?”

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V. BRINCANDO COM O MAU GOSTO Arylanna Gomes. “2014 Feelings”. “Meu ensaio é o feed de uma adolescente instagrammer no ano de 2014, uma garota tímida que cria um universo para se expor da maneira que quer ser vista e compartilhar as coisas que gosta (livros, músicas, fotos), fazendo-se popular naquele ambiente”.

Matheus Acioli. “Até onde o exagero é exagero”. “Um personagem onde, a cada próxima foto, as peças de roupa dele vão aumentado pro espectador se perguntar até onde o exagero é realmente exagerado. Isso não tem uma resposta realmente certa, vem do conceito de cada pessoa”.

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Maria Alice Siqueira. “Consequências de um coração ofegante”. “Minha série teve uma extravagância mórbida refletida no cenário, pensado como um fundo fotográfico amador feito de tecido branco, e figurinos que levantam a dúvida do que seria razoavelmente fashion ou brega. A estética deve enalteceu uma fotografia que tem o potencial de editorial contemporâneo, mas que fica presa, ainda, no estilo homemade. As Glamour Shots, populares nos anos 80, certamente foram fontes de inspiração para a pós produção, trazendo um efeito glow”.


Maria do Carmo de Farias. “Lixo ou irônico?”. “O KITSCH é uma arte que atrai gostos populares e não sofisticados. Em determinados círculos, emprega-se o termo com intenção pejorativa e como reprovação moral, tudo isso às vezes apreciando de forma consciente, irônica, humorística e em alguns momentos de forma natural”.

Gustavo Henrique Laurentino. “Sensibility e Sensibilidade”. “Uma série de fotos coloridas de bonecos em poses de pinturas do século XIX, com uma câmera dslr”. Matheus Portela. “Kitsch”. “O melhor é que o kitsch, que alguns podem chamar de superficial, na realidade tem uma característica muito autêntica por ser uma construção social de uma visão estética que vem sendo consumida por muito tempo. E acaba refletindo de maniera fantástica uma personalidade de caráter bastante ativa e bem humorada”.

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ENSAIO

autorretrato Texto:

Renata Victor O autorretrato é um trabalho que sempre desenvolvo na disciplina de Processos fotográficos e anatomia da câmera fotográfica, pois é uma forma de arte, mas também um exercício que envolve a criatividade e construção de identidade com uma narrativa visual e conceitual. Os autorretratos apresentados são dos alunos do primeiro módulo de 2020


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ENSAIO

RECIFE VAZIO Fotos:

Zito Júnior As fotografias do francês Eugène Atget ficaram famosas

continuava com sua vida normal. Atget que conseguiu

por retratar uma Paris que, em tese, não existia. Uma

“criar” outra atmosfera, captando avenidas, ruas e vielas

cidade vazia, sem movimento de pessoas. É inimaginável

sem gente. Recife, não! Recife foi atingido diretamente

pensar uma cidade como Paris sem a efervescência

pela pandemia. As imagens retratam tal qual a cidade

típica das grandes metrópoles, mesmo em meados

se encontrava: vazia. De certa forma, o vazio do Recife

do início do Século XX. Por isso, Atget é considerado o

vai ao encontro do vazio das pessoas gerado pelo

precursor do surrealismo na fotografia. Ele conseguiu

isolamento, pelas perdas de amigos/familiares, pelo

transpor os limites da fotografia que, até então, tinha

noticiário. O silêncio da cidade, o silêncio das pessoas,

como foco os retratos. Com suas imagens da paisagem

a monotonia da cidade, a monotonia da quarentena, o

urbana parisiense, transformou a cidade em um lugar

tempo suspenso...

universal, um lugar do inconsciente, um território muito mais próximo da fantasia e da subjetividade, embora

Ítalo Calvino, em suas Cidades Invisíveis, nos ensina que

não fosse essa sua intenção a priori.

“a cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata. (...) a cidade não conta

E o que essas imagens de Atget têm em comum com os

o seu passado, ela o contém como as linhas da mão,

tempos atuais? Respondo: bastante coisa! Não podemos

escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas,

negar que a pandemia empurrou as pessoas para

nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios,

suas casas e esvaziou as ruas. Aquela Paris deserta se

nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por

atualizou em todas as cidades que tiveram que passar

arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.” Muito

pelo isolamento obrigatório, inclusive no Recife. Nas ruas

mais do que revelar a cidade concreta, a série Recife Vazio

mais movimentadas, via-se tão somente vazio e silêncio.

sugere ser documento de um tempo subjetivo. Tivemos

Fotografar a cidade do Recife foi trazer à tona que as

que parar. Silenciar. Cerrar nossas portas. Essas imagens

linhas que separavam surreal e real estavam desfeitas.

falam muito mais de nós e de nossas subjetividades.

O surreal e o real se tornaram um amálgama único. Paris

Este Recife Vazio é sobre cada um/a de nós.


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ENSAIO

quarentena Fotos:

Elenildo Silva Este ensaio retrata o meu dia a dia durante isolamento social da pandemia, em três meses em casa. Quis passar a sensação de estar preso dentro da minha própria casa, as milhões de sensações e a insegurança que estamos passando nesse momento.


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ENSAIO

quarentena Fotos:

Patrinny Aragão As fotografias foram feitas pouco tempo depois da pandemia estourar. Naqueles dias, estava cheia de trabalho, preocupada com os meus próximos e fazia um bom tempo que não fotografava. Talvez por falta de tempo, ou mesmo de inspiração. Sem poder nem querer sair de casa, encarei o isolamento como uma oportunidade de tirar a poeira dos livros e também da câmera, uma Canon T6 aclopada a lente 24mm 2.8. Nesse meio tempo, parei para enxergar a beleza nos lugares que eu não notava. O pé de goiaba do quintal morreu, o de laranja, seu vizinho, cresceu mais ainda e a jibóia, ha dias na janela, finalmente enraizou. Somente quando encontrei tempo, pude sentir o tempo passar.

Passei algumas tardes

imersa a experimentar novos olhares diante dos detalhes que me cercavam, em querer sentir o ambiente que minha correria cotidiana negava. Ahh, não poderia esquecer de citar minha grande companheira, Fayga Ostrower, e o seu livro de criatividade e processos de criação. “A criatividade não seria senão a própria sensibilidade”.


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ENSAIO

quarentena Fotos:

Valdênio Atanásio As fotos, realizadas em uma Nikon D850 com lente 2470, foram tiradas no dique que vai de Brasília Teimosa em direção ao Cais de Santa Rita. As fotos, realizadas em julho de 2020 por Valdênio Atanásio da Silva, tinham como objetivo retratar o final de tarde e o pôr do sol no Recife Antigo registrando suas belezas naturais.

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ENSAIO

quarentena Fotos:

Ana Pobo Castaner


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ENSAIO

quarentena Fotos:

Arnaldo Sete


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ENSAIO

Afrofuturismo Fotos:

Danyllo Feliciano O ensaio fotográfico será produzido na estética do afrofuturismo, onde a modelo fotografada é uma afrodescendente, utilizaremos características futuristas e traremos a ancestralidade nas fotografias. As fotos, todas coloridas, representadas pelas cores: amarela, vermelha e dourada, pois são traços da cultura afro. Além disso, usaremos formas geométricas, tanto na maquiagem, quanto na máscara a ser fotografada, a máscara é uma forma de introduzir a tecnologia. Incluiremos uma flor para representar o gênero narrativo ao ensaio. O tempo encenado será em um hipotético futuro, cujas tendências são as cores e formas supracitadas. A conclusão se dará com vídeos de referências as maiores franquias futuristas e fantasia do mundo pop. Nestes vídeos, serão compostos por músicas sobre ancestralidade e futurismo, deste modo, as fotografias formarão o enredo da narrativa proposta. Os equipamentos utilizados serão: câmera nikon D5400 com duas lentes, sendo uma de 35mm e a segunda zoom 18-55mm, capturadas em raw, duas rings light (para trabalhar cores quentes, frias e neutras), lanternas e fundo preto. Técnicas nos posicionamentos de luzes, evidenciando luz de cabelo, luz primaria e secundaria.


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FOTOSĂ?NTESE

Meu companheiro


de Quarantena

Renata Victor

Fotos:


ARTIGO

SOBRE OS DESAFIOS DE CRIAR EM TEMPOS DE QUARENTENA Anny Stone

O

ano de 2020 dificilmente será esquecido

do TCC para todos os outros trabalhos criativos que

tão cedo. Tomado no primeiro semestre

tivesse de fazer, fossem eles acadêmicos, fossem em

por uma pandemia mundial, o período tem

busca dos editais criados por conta da pandemia mundial

sido de desafios e reinvenções do cotidiano.

de covid-19.

E como fica a criatividade em tempos como esses? Eu, me vendo como artista neste cenário, não me sentia à

Desta decisão de buscar um caminho mais prazeroso

vontade com a pressão por qualquer tipo de produção.

de produção, começou a surgir ISOLAMENTOS, ainda não

No entanto, num Brasil que tem sido muito duro com

como o TCC, mas num formato de teaser, mais curto,

o fazer artístico, em especial com a minha área de foco

servindo como teste para este trabalho futuro, e é sobre

que é o audiovisual, surgiram algumas brechas de

a construção desta videoarte que falarei aqui no texto.

esperança. Editais e concursos artísticos de emergência,

Para mim, a atividade mais “fácil” de aderir consistiu

aproveitando as plataformas online para apoiar diversos

num mergulho dentro do meu próprio olhar, uma busca

artistas do país.

de artista por sua própria linguagem que já vem sendo construída ao longo de alguns anos. Um processo de

Em paralelo a esta vontade de me expressar e de

investigar, em milhares de imagens que já produzi, o que

buscar os recursos emergenciais, hoje eu também sou,

pode uni-las, juntá-las, aproximá-las em torno de um

além de artista, estudante. Nas atividades acadêmicas,

mesmo sentido, um mesmo “recado”.

realizadas de forma remota desde março, também veio a necessidade de refletir a própria produção, de

Eu quis investigar o que já existia no passado e que

desenhar um projeto para o futuro, mesmo com todas as

poderia, de alguma forma, dialogar com a necessidade

incertezas: tive que fazer um pré-projeto de TCC. Passei

presente. Diante do cenário de pandemia e isolamento

por um grande bloqueio de criatividade até que, num

social, esse processo me levou construir um referencial de

dia qualquer, veio a grande faísca: precisava fazer o que

atualidade a partir de paisagens imaginadas, construídas

gosto, o que já parece “fácil”, natural à minha produção.

a partir da seleção de diversas fotografias. Imagens de

O que não iria “dar trabalho”, mesmo que seja bastante

paisagens vazias, remotas, com vestígios de pessoas e

trabalhoso, mas que faça o tempo passar tão rápido que

do tempo, ou de locais públicos até bastante povoados,

só pode ser uma experiência esteticamente prazerosa de

mas nos quais interferi digitalmente para apagar todas as

realizar. Resolvi então me utilizar dessa mesma premissa

pessoas ali registradas.


esses

A busca dos artistas por práticas vanguardistas, como

“apagamentos” da presença física nos espaços foi através

as experimentações com a linguagem de videoarte,

da videoarte, dialogando com uma técnica conhecida

encontraram campo prolífero atualmente com as

por found footage, que consiste em utilizar material já

novas possibilidades digitais e midiáticas disponíveis

existente. No texto Uma Experiência Radical de Videoarte,

para o audiovisual. Se antigamente o vídeo era opção

o teórico Arlindo Machado narra a trajetória da videoarte

mais econômica, em contraponto à película 16 mm

e sua consolidação no Brasil, a partir da década de 1970.

ou Super-8, hoje em dia a tecnologia favorece ainda

Ele comenta a busca dos artistas à época por procurar

um

suportes de expressão mais inovadoras:

inclusive a própria etapa da filmagem: “videomakers

A

melhor

forma

encontrada

para

traduzir

reaproveitamento

de

materiais,

suprimindo

com baixos orçamentos podem formular uma espécie (O vídeo) foi particularmente privilegiado em decorrência do seu baixo custo de produção, de sua absoluta independência em relação a laboratórios de revelação ou de sonorização (que funcionavam como centros de vigilância da produção na época da ditadura militar) e sobretudo pelas características lábeis e anamórficas da imagem eletrônica, mais adequadas a um tratamento plástico. Esse privilegiar do meio eletrônico no movimento de busca de alternativas para as idéias criativas vai favorecer o surgimento do fenômeno estético da videoarte no contexto brasileiro. (MACHADO, 1997)

de minimalismo cibernéticos, atingindo um máximo de beleza e de efeito com custos mínimos”. (STAM, 2003, p. 353). Segundo a pesquisadora Sabrina Tenório Luna, o found footage é mais recorrente no cinema “em suas vertentes documental e experimental. Devido às liberdades artísticas proporcionada por esses gêneros, assim como as possibilidades de desafio às normas narrativas convencionais”. (LUNA, 2015, p. 28). Desde o filme Um Homem com uma Câmera, de 1929, o cineasta soviético Dziga Vertov fez um trabalho inventivo com imagens do cotidiano dos russos, montadas de maneira experimental. Vertov, de certa forma, é também

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precursor do experimentalismo praticado no found footage. O teórico russo sempre valorizou o processo da montagem, que, para ele, é esta etapa na qual é feita a permuta “incessante desses pedaços-imagens até que todos sejam colocados numa ordem rítmica em que o encadeamentos de sentido coincidam com os encadeamentos visuais”. (VERTOV, 1983, p. 262-263). Visualmente, as primeiras referências para a construção do projeto foram as fotografias da norte-americana Francesca Woodman e as pinturas surrealistas do belga René Magritte. O que os dois têm em comum é a recorrência de obras nas quais o corpo traduz sua ausência, o espaço vazio deixado pelo personagem desfeito na paisagem: seja ela de uma natureza surreal, seja ela o ambiente da casa.

Imagem 1 e 2. “Autorretrato” por Francesca Woodman.

Imagem 3. “O Falso Espelho”, obra de René Magritte. Imagem 4. “Decalcomanie”, 1966, obra de René Magritte.

Outras fortes influências são os documentários da brasileira Petra Costa, a exemplo de Elena, lançado em 2012. No filme, a realizadora explora vídeos caseiros, fotografias, recortes de jornais, cartas e diários para reconstruir sua memória a respeito de uma irmã que cometeu suicídio. Além disso, a voz over da narradora costura todo o filme. Essa linguagem poética serve de forte inspiração ao projeto. Os estudos sobre videoarte, found footage e as referências visuais citadas permearam todo o processo de ISOLAMENTOS, somando ainda a influência das disciplinas estudadas em contexto acadêmico na especialização em fotografia. Na disciplina de “Produção Audiovisual”, ministrada pela professora Mariana Porto, por exemplo, foi solicitado à turma que fosse elaborado um diário gráfico sobre nossos projetos: uma espécie de caderno no qual se pode anotar tudo que for pensado sobre um filme. Exausta de telas e da imersão digital, comecei a escrever à mão alguns trechos do meu poema construído para a narração do filme.

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Imagem 1 e 2.Imagem 1 e 2. “Autorretrato”“Autorretrato” por Francescapor Woodman. Francesca Woodman.

Já na disciplina de “Gêneros do Audiovisual”, ministrada por Pedro Severien, além de revisar os preceitos de videoarte e de produção audiovisual a partir

Imagem 5. Página do diário gráfico.

do olhar feminino, surgiu ainda mais uma referência estética que foi a “cola” final para a composição da videoarte em sua versão atual. Foi o curtametragem experimental Congo, de Arthur Omar, lançado em 1972. O filme intercala vídeos com cartelas de texto que, unidas pela montagem, constroem um significado. Tanto a estética dessas cartelas quanto à soma que ela produz foram incorporadas à minha videoarte, com as frases que tinha escrito à mão.

Imagem 6 e 7. Plano e contraplano em “Congo”, de Arthur Omar

Imagem 8 e 9. Cartelas inseridas em “ISOLAMENTOS” após assistir “Congo”

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Para fazer ISOLAMENTOS, além das fotografias e registros escritos, utilizei o software Adobe Photoshop intervindo nas imagens, e em seguida o Final Cut X para montar o vídeo em si. O áudio da narração também foi captado por mim, num gravador Tascam DR-60D e serviu de base para a montagem do filme. Fui completamente guiada pela soma das referências visuais, estéticas e teóricas aqui descritas, e sempre resgatando o sentimento de trabalhar de uma maneira que fosse leve e prazerosa nessa produção artística. A minha estratégia de estudante-artista para criar em meio à pandemia foi, então, a de me aventurar e investir numa única ideia a ser estudada e reestudada, afinada, repensada, construindo-a ao longo das novas influências que se somaram à proposta inicial. ISOLAMENTOS foi a minha aposta não só para os trabalhos acadêmicos, mas também para os editais emergenciais de apoio à produção artística no Brasil. Nesta semana, recebi a excelente notícia de que o projeto foi selecionado pelo edital Itaú Cultural: Arte como respiro, o que me faz acreditar mais na minha própria produção artística, e funciona também como indicativo do quanto à videoarte acabou por se conectar com as necessidades contemporâneas de expressão audiovisual contemporânea.

REFERÊNCIAS LUNA, Sabrina Tenório. Found Footage: uma Introdução. Esferas, ano 4, n.7, jul-dez./2015. Disponível em: <https://portalrevistas.ucb.br/index.php/esf/article/viewFile/6948/4343>. Acessado em 15 de junho de 2020;

MACHADO, Arlindo. Uma experiência radical de videoarte. In: COSTA, Helouise (Org.). Sem medo da vertigem: Rafael França. São Paulo: Marca d’Água, 1997. Disponível em: <https://videarte. wordpress.com/texto-de-arlindo-machado/>. Acessado em 15 de junho de 2020.

STAM, Robert. Introdução à Teoria do Cinema. Tradução de Fernando Mascarello. Campinas: Papirus, 2003;

VERTOV, Dziga. Extrato do ABC dos kinocs (1929), In: XAVIER, Ismail (org.). A Experiência do Cinema. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.

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ARTIGO

O novo normal atual do cinema Dr. Filipe Falcão1

A

s telas no século 21 são plurais para exibições com filmes que podem ser assistidos em dispositivos móveis, em televisões, em computadores e, claro, nas tradicionais salas de cinema. A verdade é que, mesmo com tantas telas, muitos admiradores da sétima arte ainda preferem a tradicional sala de cinema. Comprar o ingresso, ser obrigado a assistir

aos trailers e até o barulho de pessoas muitas vezes sem educação nas poltronas ao lado. Tudo isso faz parte da experiência cinematográfica como a conhecemos desde sempre de assistir ao filme em uma tela grande. Esta realidade se mostrou diferente no novo normal provocado pela pandemia da covid-19. Os cinemas fecharam suas portas e filmes que seriam lançados nas grandes salas sofreram atrasos e seguem sem datas em uma indústria que parece em pânico sem saber ao certo como se adaptar ao novo normal. Isto não significa que paramos de assistir filmes uma vez que os serviços de streaming e de pirataria tentam preencher a ausência das grandes salas. Mas, afinal, em um cenário apocalíptico, o que acontece se nunca voltarmos ao estilo de vida normal de antes da pandemia? Se nunca for descoberto uma vacina para a covid-19? Se as medidas de isolamento demorarem anos para deixarem de existir? Isto significa nunca mais ir ao cinema? Você, amante da sétima arte, já pensou nesta possibilidade? Ao pensar no novo normal, uma solução que está sendo apontada responde pela volta dos antigos cinemas drive-in. Trata-se de uma experiência interessante e diferente. Entre tantas telas, aqui temos mais uma. No entanto ir ao cinema drive-in não é a mesma coisa de ir ao cinema. É melhor ou pior? Isso vai depender da sua expectativa e da sua relação com diferentes formas de consumir produtos audiovisuais.

1 Prof. de Roteiro, Storyboard e Produção no Audiovisual


O surgimento dos cinemas drive-in tem ligação com

o filme de estreia foi O motel, pornochanchada de 1975.

filmes de baixo orçamento em especial de terror e ficção. A popularidade destes dois gêneros nos Estados

Os cinemas drive-in começaram a perder público na

Unidos parece ter encontrado o público ideal no jovem

década de 1980. Trata-se do período onde surgiram as

e adolescente que frequentava os cinemas drive-in. Este

primeiras redes multiplex com várias salas em um único

formato de exibição começou timidamente nos Estados

espaço, como em shoppings. A principal vantagem

Unidos em 1933. O fenômeno do drive-in se apoiava no

destas novas salas não era apenas oferecer uma grande

preço de um ou dois dólares por carro, embora também

variedade de filmes por dia, mas trabalhar com alguns

fossem cobrados ingressos mais baratos por pessoa.

títulos específicos sendo exibidas em intervalos de 20

Em seus estudos sobre a cultura maintream, o francês

ou 30 minutos em mais de uma sala. Bastava chegar e

Frédéric Martel explica que em 1956 existiam mais de

comprar o ingresso para a próxima sessão.

quatro mil drive-ins na América. Os cinemas drive-in entraram em extinção e nas décadas É importante observar que esta forma de consumir

seguintes passaram a ser vistos apenas como lembranças

cinema passou a atingir um novo público, mais jovem, que

daqueles que o frequentavam ou em reproduções em

usava jeans, camiseta e adorava ir ao cinema mesmo que

filmes cujas ações se passassem nas décadas de 1960 e

o filme não fosse bom: o adolescente. O público adulto

1970. Desta forma, no novo normal é até compreensível

e sério até podia frequentar os cinemas drive-in, mas a

que as pessoas demonstrem interesse e curiosidade

maioria preferia as salas tradicionais onde estavam os

em comparecer nas sessões drive-in e registrarem o

melhores filmes com grandes astros e sucessos de crítica.

momento nas suas redes sociais. Mesmo hoje o filme parece não importar, visto que a sessão de abertura

O drive-in passou a ser um espaço jovem. Culturalmente

no Recife contava apenas com títulos já conhecidos do

foi também uma grande mudança na forma de ver filme

público como Minha mãe é uma peça 3.

uma vez que a questão técnica ou de roteiro da película nem sempre era o mais importante. Como constata Martel,

Assim como na década de 1970, ir ao drive-in hoje pode

a qualidade da imagem não era boa, os roteiros tinham

representar uma diversão independente do filme. O

inúmeros problemas, os efeitos especiais eram péssimos,

preço infelizmente se mostra um ponto negativo em

mas os casais de jovens não queriam profundidade nos

comparação com o passado com valores de R$ 70 por

filmes. Para Martel, o drive-in desempenhou um papel

veículo com até quatro pessoas.

importante nas primeiras experiências sexuais dos adolescentes americanos.

Trata-se do novo normal do cinema? Atualmente, sim. No entanto, no momento em que este texto está sendo escrito

Barato e com filmes de qualidade duvidosa, o drive-in era

acabam de ser publicadas matérias em portais de notícias

uma festa, mas que não chegou a ameaçar as salas de

afirmando que os cinemas tradicionais estão trabalhando

cinema. Existiam filmes para todas as telas. Ao chegar

para possíveis formas de abrirem novamente e isto não

em outros países, como o Brasil, nas décadas de 1960

deve demorar. Parte do público se mostra contando os

e 1970, o cinema drive-in também chamou atenção e

dias para essa reabertura. Até lá, os amantes da sétima

começou a atrair parte do público. As programações

arte podem se permitir a experiência de uma ida ao

incluíam matinês com filmes para crianças e, ao se tratar

modo drive-in. É caro e provavelmente você já conhece

de Brasil, produções pornochanchadas para os adultos.

ao filme, mas não vai deixar de ser uma experiência. No

No primeiro cinema drive-in que começou a funcionar na

século das telas cada vez mais plurais, trata-se de mais

capital pernambucana, o Autocine Drive-in, na sede do

uma tela que ressurgiu, porém que talvez tenha prazo de

Aeroclube de Pernambuco, no bairro do Pina, zona sul,

duração muito curto.

101


ARTIGO

Lenilson Gomes de Medeiros, 76, natural de Mossoró (RN), 3 filhos e 5 netos. Foto no Centro do Recife, em 1963.

o recife que eu vi memórias, afetos e imagens Julianna Nascimento Torezani1 e Renata Victor2 1 Mãe de Lis. Doutora em Comunicação pela UFPE. Mestre em Cultura e Turismo e Bacharel em Comunicação Social pela UESC. Professora de Fotografia e Iluminação do Curso de Comunicação Social da UESC. Sócia da Intercom. E-mail: juliannatorezani@yahoo.com.br 2 Coordenadora e professora do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Coordenadora da Especialização As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual da UNICAP. Coordena o curso de extensão Ganhando Assas Através da Comunicação e da Arte da UNICAP. Professora do curso de Jornalismo da UNICAP. Mestranda em História pela UNICAP. Especialista em Design da Informação e Bacharel em Design pela UFPE. E-mail: fotorenatavictor@gmail.com


V

er o Recife através de fotografias é uma viagem pelo tempo, pois observamos as pessoas,

os

lugares,

os

acontecimentos

sempre em busca de narrar o que ocorreu

a cada lugar e época. Ao ter acesso a essas histórias contadas pelas pessoas que lá estiveram é encantador, reforça o papel da fotografia enquanto registro, fonte histórica, documento e possibilidade de interpretação da realidade. A pesquisadora de fotografia Ludimilla Wanderlei (2018, p. 23) reflete que “a fotografia é um artefato que emociona, mobiliza, descreve, faz pensar”. Quando nos referimos às fotografias do passado, observamos que os alguns elementos da memória estão ali cristalizados e nos permite narrar os acontecimentos. O Projeto “O Recife que eu vi” faz com que as pessoas voltem ao passado e relembrem suas histórias através fotografias. Esse projeto foi criado por Karina Moutinho, professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, em março de 2020, quando entramos em um período de distanciamento social por conta da pandemia causada pela COVID-19. Por conta dessa doença, a UFPE convidou a comunidade acadêmica a pensar atividades para enfrentamento deste período e as notícias sobre

Socorro Moutinho, casada com Lenilson, 3 filhos e 5 netos. Foto no Parque Dois Irmão, 1981

as pessoas acima de 60 anos eram muito preocupantes, por ser mais vulneráveis ao novo coronavírus. Karina conta que “a ideia surgiu a partir de minhas memórias de criança e adolescente. Sempre que visitava minhas tias,

momento da pandemia com o protagonismo dos idosos,

encantava-me com as fotos na parede ou nos álbuns

“entendemos que ao voltar no tempo para escolher uma

que elas sempre gostavam de mostrar. Ao mesmo

foto afetivamente especial, possivelmente com ajuda

tempo que tinha a chance de conhecer a família em

de algum parente, idosos e idosas estariam tratando

sua juventude, através de histórias que elas conheciam

de algo que somente eles tinham vivido, somente eles

e eram revividas no encontro familiar, a cidade do

sabiam e podiam falar”, como relata Karina. Assim, o

Recife também surgia de uma maneira completamente

projeto queria elaborar uma outra narrativa diferente

inovadora para mim, às vezes irreconhecível, às vezes

do discurso midiático que informava diretamente sobre

sutilmente modificada”.

a doença, as histórias das fotos protagonizadas pelas pessoas idosas potencialmente nos deslocariam no

Nesse momento de distanciamento social em que a

tempo e no espaço, podendo levar a momentos de

casa se torna o local de estudo, descanso, lazer e tantas

nostalgia, satisfação, alegria e bem-estar na cidade do

outras atividades, propor que as pessoas abram e olhem

Recife.

seus álbuns para recordar histórias do passado é uma profunda experiência emocional, que combina com esse

Dentro desta perspectiva, a professora de fotografia

momento de reflexão. Desse modo, o fotógrafo catalão

Ana Taís Portanova Barros (2017, p. 154) pontua que “o

Joan Fontcuberta (2012, p. 106) sinaliza que “as imagens

passado e a memória não se conservam; constroem-se”.

estão a serviço de uma reflexão sobre a memória”.

Para apresentar esta experiência, as histórias contadas

Com o objetivo de promover saúde mental aos idosos,

pelos idosos foram gravadas em vídeo e publicadas no

Karina convidou pessoas com mais de 60 anos a rever

Instagram através do perfil @orecifequeeuvi, ao olhar

seus antigos álbuns de fotos feitas em Recife, escolher

para as fotos o idoso indicava o lugar, a data e o motivo

uma imagem e contar suas histórias. Essa experiência

pelo qual essa foto era especial. Na equipe, além de

permite fazer uma construção simbólica adicional ao

Karina, tem Rômulo Pinto (mestre e doutorando em 103


Lucide Maria da Veiga Pessoa, 86 anos, 2 filhos e 3 netos. Foto na Rua da Imperatriz, 1955.

Comunicação pela UFPE, responsável pela edição

da metade de seguidores, até julho de 2020, é jovem

de som e imagem dos vídeos que são postados no

ou jovem adulto. Para Karina, “entendemos que estes

Instagram) e Liliana Tavares (doutora em comunicação

resultados se referem a uma possível baixa adesão

pela UFPE e tem um trabalho dirigido à acessibilidade

dos idosos ao Instagram, embora não tenhamos feito

comunicacional). Liliana faz audiodescrições e atua

uma pesquisa sobre acesso e uso desta plataforma.

para viabilizar acessibilidade às pessoas cegas e com

Entendemos também que sinalizam como o projeto

baixa visão. O Instagram não é plenamente acessível

pode ter ofertado um conteúdo inovador ao público

às pessoas com deficiência visual, possui um item

de usuários do Instagram, que podem se beneficiar em

chamado “configurações avançadas”, no qual é possível

vários âmbitos: por voltarem uns 50 anos e conhecerem

“escrever texto alternativo” em “acessibilidade”, no

o trabalho de um fotógrafo ou de uma pessoa leiga que

caso a audiodescrição das fotografias, infelizmente

fotografava. [...] São histórias com 50, 60 e até mais de

não tem o recurso para vídeo. Karina conta que

70 anos. Ainda assim, algumas delas cruzam nossas

“Liliana convidou então um conjunto de profissionais,

vidas de uma maneira absolutamente encantadora”.

consultores de audiodescrição: Michelle Alheiros, Felipe Monteiro e Manoel Negraes. Estas quatro pessoas

De acordo com historiador de fotografia Boris Kossoy

fizeram audiodescrição de todas as 53 publicações – 12

(1999, p. 52), “toda fotografia tem atrás de si uma

imagens e 41 vídeos - que temos no perfil através da

história”. Assim, desse projeto já foram contadas

hashtag #pratodomundover. Assim, o projeto se tornou

histórias fantásticas, que nos faz conhecer o passado

acessível às pessoas com deficiência visual através de

de uma maneira muito especial, pelos relatos pessoais,

um trabalho qualificado e inclusivo”.

como da menina que tinha por volta de 2 ou 3 anos, nos idos de 1956, que conta sobre o passeio para a praia

Quanto ao público que acessa o perfil no Instagram

com a família, ela lembra do transporte, do que sentia

trata-se de: 29% das pessoas tem idade variando entre

na época, do percurso que parecia tão distante. “Em um

25 e 34 anos; 26% das pessoas tem idade variando entre

minuto ela nos faz pensar que a história não é só dela.

35 e 44 anos; somente 3% tem 65 anos ou mais. Mais

Mas é a de muitos de nós, ainda que mais de 60 anos

104


tenham passado”, como aborda Karina. Vale observar

REFERÊNCIAS

que no projeto tem muitos retratos. Este é um dos

BARROS, Ana Taís Martins Portanova. Imagens do passado e do futuro:

temas fotográficos que sempre está muito presente

o papel da fotografia entre memória e projeção. In: Matrizes. V.11 - Nº

nos álbuns, ajudou inclusive a desenvolver as técnicas

1

fotográficas e a popularizar a fotografia em vários

periodicos.usp.br/matrizes/article/view/122953 Acesso em: 05 jul. 2018.

jan./abr. 2017. São Paulo. p. 149-164. Disponível em: http://www.

ambientes com a abertura de estúdios que tinham fundos pintados, móveis e trajes para que as pessoas

FABRIS, Annateresa. Identidades virtuais: uma leitura do retrato

pudessem escolher como queriam ser representados

fotográfico. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.

em suas vidas para posteridade. Para Annateresa Fabris (2004, p. 38): “O retrato fotográfico [...] contribui

FONTCUBERTA, Joan. A Câmera de Pandora: a fotografi@ depois da

para a afirmação moderna do indivíduo, na medida em

fotografia. Tradução de Maria Alzira Brum. São Paulo: G. Gilli, 2012. Título

que participa da configuração de sua identidade como

original: La Cámara de Pandora.

identidade social. Todo retrato é simultaneamente um ato social e um ato de sociabilidade: obedece a

KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia, SP:

determinadas normas de representação”.

Ateliê Ed., 1999.

A equipe do projeto já produziu um vídeo de curta-

WANDERLEI,

metragem, disponível no canal “O Recife que eu vi”

documental. Curitiba: Appris, 2018.

Ludimilla

Carvalho.

O

trabalhador

na

fotografia

no YouTube (https://youtu.be/bOfl2LaH_Jw), lançado no dia 11 de julho, com recurso da audiodescrição. Como Karina é autora e produtora, ela conta que o vídeo “tem formato de documentário e nele fazemos uma compilação de algumas das histórias contadas no Instagram. Inclui também o depoimento de profissionais que participaram de algumas das lives que fizemos sobre temas que vimos como importantes no projeto: saúde mental, velhice, acessibilidade, fotografia”. Para o futuro, está sendo preparado um livro e novas histórias podem ser contadas e enviadas para publicação, como agradece Karina: “Será um prazer ouvir idosos e idosas que visitem seus álbuns e queiram compartilhar conosco momentos preciosos de suas vidas na cidade do Recife. Nos emocionamos com cada história, com cada imagem. E por isso temos muito a agradecer”. As imagens estão presentes nas casas das famílias, em álbuns físicos, que ajudam a narrar histórias de tempos passados, onde é possível ver as pessoas e os lugares, como uma pista para a memória. Através desse projeto é possível dividir com as outras pessoas esses momentos e os afetos vividos, além de ressignificar e, até mesmo, “reviver” os fatos que ali estão guardados. Como elucida Boris Kossoy (1999, p. 147), que “através da fotografia dialogamos com o passado”. Vida longa ao Projeto “O Recife que eu vi”.

Maria do perpétuo Socorro truta de Oliveira Gomes, 89 anos, 2 filhos e 3 netos. Foto na Praia de Boa Viagem, 1946.

105


LIVRO

Coletivos Fotográficos Contemporâneos: estudo de Eduardo Queiroga Julianna Nascimento Torezani1

P

ensar a autoria na Fotografia como uma possibilidade criativa ocorre em diversos momentos históricos e de formas distintas. O fotógrafo, professor e pesquisador Eduardo Queiroga nos apresenta uma rica discussão teórica e crítica deste tema a partir do livro Coletivos Fotográficos Contemporâneos. A obra foi lançada pela Editora Appris, em 2015, fruto de seus

estudos no Programa de Pós-Graduação em Comunicação na Universidade Federal de Pernambuco. Na Apresentação, o autor indica os caminhos percorridos da pesquisa incluindo sua trajetória profissional na área da Fotografia e diante do cenário afirma que “em tempos de individualidades tão exacerbadas e em meio a um campo em que a vaidade anda de mãos dadas com o egocentrismo, pensar o coletivo é animador. [...] O que forma um coletivo não é um contrato, nem tampouco legislações e regras. São as ligações que dão forma aos coletivos, eles se fazem pelas relações entre seus componentes. A afetividade e o embaraçamento da participação de cada integrante na fotografia que é produzida são ingredientes importantes nessa receita”. O Prefácio, A Fotografia e a Noosfera, foi escrito pelo orientador da pesquisa, o professor José Afonso Jr. Para o pesquisador, o coletivo é uma forma de agir em rede, pois através desta prática há reconhecimento, pertencimento, acolhimento e partilha no campo do sensível. Ao tratar das mudanças afirma que: “Onde existiria a lógica industrial de produção, temos a lógica dos bits; onde teríamos hierarquia, temos o rizoma, a ação entre pontos sinérgicos da trama; onde reinava o especialista, agora temos o compartilhamento; onde antes havia o sossego da obra acabada, agora existe a inquietude do processo”. Assim, os coletivos permitem criação multivocal e com estratégias 1 Mãe de Lis. Doutora em Comunicação pela UFPE. Mestre em Cultura e Turismo e Bacharel em Comunicação Social pela UESC. Professora de Fotografia e Iluminação do Curso de Comunicação Social da UESC. Sócia da Intercom. E-mail: juliannatorezani@yahoo.com.br


de financiamento e distribuição alternativas e pós-

chave da autoria é a obra e ela não é apenas resultante

massivas.

de um processo criativo, mas ela também se compõe de outras camadas, principalmente uma forte ligação

A obra foi dividida em três capítulos, no primeiro intitulado

institucional. A autoria em si também é uma criação”

Indivíduos e Grupos na Fotografia, o autor discute que a

(QUEIROGA, 2015, p. 118).

linguagem e a construção fotográfica perpassam por aspectos subjetivos, para além dos aspectos objetivos

O terceiro capítulo, O Coletivo Fotográfico Contemporâneo,

em função do uso dos equipamentos, para tanto faz uma

indica que trata de um grupo em que estão fotógrafos,

importante abordagem histórica que vai do princípio físico

editores, diretores de arte, entre outros profissionais que

da câmera escura ao conceito de fotografia-documento

se unem em função da criação de uma obra fotográfica.

de André Rouillé. Interessante abordar a referência que

O pesquisador afirma que “é importante chamar a

faz ao fotógrafo húngaro Robert Capa, pseudônimo de

atenção para um aspecto no que diz respeito à junção

Endre Erno Friedman, famoso pela cobertura de conflitos.

de indivíduos distintos na formação de um novo corpo.

Queiroga explica, ainda, as experiências colaborativas na

Essa ligação é a espinha dorsal dos coletivos, é nela

fotografia quando traça as características dos fotoclubes,

que tudo se sustenta. Ela alimenta e se alimenta desses

das agências fotográficas (incluindo a criação da Agência

conceitos acima discutidos, na possibilidade de um

Magnum) e da produção do projeto americano Farm

trabalho compartilhado” (2015, p. 145). O livro apresenta

Security Administration que incluiu vários fotógrafos

as características dos coletivos fotográficos Cia de Foto,

como Walker Evans e Dorothea Lange resultando em

Caixa de Sapato, Pandora e Garapa, além da experiência

mais de 160 mil imagens da década de 1930, nos Estados

chamada Eleições (feito pela Folha de São Paulo, em 2008).

Unidos. O livro ao nos apresentar os elementos teóricos para No segundo capítulo é abordado sobre O Cenário Pós-

análise dos coletivos fotográficos nos provoca a pensar os

Fotográfico que discute as mudanças na produção e

processos criativos atuais, incluindo os nossos, em termos

circulação das fotografias no final do século XX e início

de imagens, sons e textos, já que pelas ligações que os

do século XXI, dentro de uma lógica pós-industrial e

coletivos operam se tornam rizomáticos, alimentados em

ligada a cibercultura o que se descortina no conceito

função das tecnologias digitais, que inclui aspectos de

de pós-fotografia. Queiroga (2015, p. 89) afirma que

convergência e de conexão em rede.

“a prática do coletivo insere questões no que se refere a uma expansão do lugar do sujeito na fotografia da contemporaneidade. O sujeito antes não existia, depois passa a ser o proprietário de um olhar transcendental, pessoal, mágico. Agora ele amplia esse raio de operação para a inserção de vários olhares, de vários momentos, de tempos diferentes, estamos expandindo esses limites”. Neste capítulo o autor traz as diretrizes para refletir sobre este cenário contemporâneo através das seguintes concepções: cultura da convergência pelas reflexões de Henry Jenkins (2009); rizoma através das ideias de Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995); inteligência coletiva pela perspectiva de Howard Rheingold (1996) e de Pierre Lévy (2000); cibercultura pela abordagem de André Lemos (2005); pós-fotografia pelas diretrizes de construção imagética de Lucia Santaella (2005), Fred Ritchin (2010) e Joan Fontcuberta (1997). Nesta parte também apresenta as diferenças entre autoria e criação, visto que existem obras que são criadas por um grupo de pessoas e, no entanto, são assinadas apenas por um autor, ou seja, é necessário que se discuta em qual circunstância se coloca uma criação coletiva ou

QUEIROGA,

individual. “A autoria se nutre da criação, afinal uma peça-

Contemporâneos. Curitiba: Appris, 2015.

Eduardo.

Coletivos

Fotográficos

107


ÁUDIODESCRIÇÃO

FOTOGRAFIA SONORIZADA: VOZ SINTETIZADA X VOZ HUMANA Liliana Tavares1

O

fotógrafo pode escolher a forma como seu registro vai ser visto por quem não enxerga. Sim, porque, ao contrário do que muita gente ainda pensa, pessoas com deficiência visual podem e devem ter acesso ao mundo imagético. Audiodescrição é um direito adquirido, que amplia o universo cognitivo, cultural, social e afetivo desse público. Cada

vez mais, as fotos serão reveladas por meio das palavras. A audiodescrição de uma fotografia pode ser acessada pela pessoa cega ou com baixa visão basicamente de três formas: POR MEIO DO BRAILLE Sistema hoje menos usado, por causa do volume da impressão – imaginem que para cada lauda em tinta são produzidas três ou quatro folhas em braile, algo meio sem sentido em um mundo cada vez mais compactado e digital. Com o advento do leitor de tela, a partir dos anos 90, o braille perde sua atração como recurso de acesso à leitura e torna-se, para a maioria, uma forma maçante de aprender como decodificar as letras. Porém, ele ainda é ferramenta essencial para alfabetização. Se bem que, talvez não seja mais necessário ler e escrever: as máquinas eletrônicas estão se encarregando disso. E, assim, as pessoas com deficiência visual não aprendem ortografia. Uma centelha de esperança é a linha braille, uma espécie de teclado que tem na horizontal uma faixa de pontinhos que sobem e descem, tocando nas pontas dos dedos, à medida que o cursor vai deslizando na leitura, tanto do braille digital, quanto de qualquer escrita digitada. Talvez assim, com esse teclado portátil, a fotografia seja lida pela voz interior.

1 Audiodescritora, gestora da Com Acessibilidade Comunicacional, Doutora em Comunicação pela UFPE. Idealizadora e coordenadora do Festival VerOuvindo. Supervisora da acessibilidade do Projeto Alumiar/Fundaj entre 2017 e 2019. Tem vasta experiência na produção audiovisual acessível. Entre os trabalhos nessa área, foi coordenadora da acessibilidade e audiodescritora do filme Bacurau de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles e do filme Estou me guardando para quando o carnaval chegar de Marcelo Gomes e Fim de festa de Hilton Lacerda. Autora do livro: Verouvindo: Audiodescrição e o som do Cinema - o segundo volume da Coleção Cinemateca Pernambucana pela Editora Massangana, lançado em julho de 2020.


POR MEIO DA VOZ SINTETIZADA DOS LEITORES DE TELA

E o que pensam os usuários? Parecem unânimes em

Essa forma de ler já se tornou muito popular, não apenas

declarar a preferência pela voz humana. Segundo

entre os usuários com deficiência visual, mas entre

Michelle Alheiros, cega desde os 6 meses de idade, “Por

aqueles que não querem mais ler com os olhos, não

mais que a voz sintetizada se aproxime da voz humana,

querem decodificar as letras com a vista, nem tampouco

não há comparação. Ela é cansativa, sem emoção. Prefiro

folhear um livro. Como alternativa, os dispositivos

a voz humana, principalmente porque ela vai me trazer

móveis possuem a opção de acionar a voz sintetizada.

mais clareza da obra. Sempre que eu puder escolher, vou

Antigamente, era necessário baixar um programa. Hoje

escolher a voz humana”.

em dia, a voz sintetizada é oferecida em muitos sites. Abram qualquer jornal online e vocês irão encontrar uma

Segue

faixa de áudio logo acima da matéria. Pronto, é só ler

audiodescrição nos três formatos, escrita, voz sintetizada

com os ouvidos. Nos computadores existe um menu de

e voz humana (com e sem BG).

um

experimento

de

foto

sonorizada

com

vozes sintetizadas, tanto masculinas quanto femininas. Tem também muitas que podem ser compradas. Uma vez escolhida a voz, é possível moldar a velocidade da leitura. Essa voz, por mais parecida com a voz humana, não é capaz de dar entonação, de passar afetividade. Ela ainda tem uma pronúncia esquisita de muitas sílabas ou letras, porque é programada para ler em várias línguas. É dessa forma que muitas imagens e livros de fotografias audiodescritos estão sendo acessados. A galeria do site do Curso de Fotografia da Unicap é um exemplo http:// www.unicap.br/galeria/pages/?page_id=14845 e tantos outros livros de fotógrafos renomados, como “Cordão”, de Eduardo Queiroga https://eduardoqueiroga.com/ cordao/ Audiodescrição:

Nesses dois exemplos, a audiodescrição está aberta, isso quer dizer que as pessoas que enxergam também poder ler a audiodescrição. Existe a possibilidade de deixar a audiodescrição embutida, apenas para o leitor de tela, como é o caso do livro da artista Cecília Urioste, “Para levantar as forças” https://ceciliaurioste.com/ParaLevantar-as-Forcas-Livro-virtual-com-audiodescricao

Roteiro e narração: Liliana Tavares Consultoria: Michelle Alheiros Edição de som: Júlio Reis Foto: Renata Victor

Com BG

Sem BG

Na rua, um unicórnio e um papangu estão frente a frente, vistos de perfil, da cintura para cima. O unicórnio à esquerda e o papangu à direita. Uma pessoa magra de pele morena usa uma camisa de malha branca

POR MEIO DA VOZ HUMANA

de mangas curtas, e uma máscara de unicórnio

A audiodescrição pode ser gravada, editada e finalizada

emborrachada que cobre toda a cabeça. A máscara é

com ou sem efeitos sonoros. Nessa modalidade, a foto

branca, com crinas curtas, um chifre em espiral, olho

torna-se sonorizada, e pode ganhar outros significados

azul, narina dilatada e vazada e a boca aberta. A máscara

por causa da correlação com o som. Em um dos nosso

do papangu também cobre toda a cabeça. O rosto é de

primeiros

experimentos

nesse

campo,

em

2017,

sonorizamos o cartaz para o VerOuvindo: Festival de Filmes com Acessibilidade Comunicacional do Recife, https://www.youtube.com/watch?v=8ii09DXZqp0

.

Artifício semelhante vem sendo usado nos stories do Instagram, em que é possível postar uma foto com uma música, o que altera a percepção da imagem. Poucos dias atrás, fiquei sabendo do filtro greenscreen no Instagram. Ele permite que uma imagem seja escolhida e

papel manche rosado, tem sobrancelhas finas, sombra azul nos olhos vazados, nariz afilado e boca fechada vermelha. Os cabelos são grandes cachos em tons de verde e azul, que vão até a altura dos ombros. Usa roupa de cetim folgada, de mangas compridas, na cor verde e gola de babado grande de tule amarelo com fitas verdes e amarelas costuradas na horizontal. O papangu está com os dois braços flexionados para os lados. Na mão direita, com luva branca, segura uma castanhola; na esquerda, um lenço azul. Ao fundo, a fachada de uma

um áudio seja sobreposto a ela. Nesse caso, o áudio seria

casa colorida: parede amarela, porta e janelas azuis com

a audiodescrição, como fez a audiodescritora Márcia

moldura vermelha e grade azul e vermelha.

Caspary no https://www.instagram.com/p/CDW-OYcAi3J/ .

109


COLUNA

Betânia Corrêa de Araújo

A

s cidades sempre tiveram seus cronistas. Utilizando o texto , o desenho ou a fotografia, de Marco Polo aos viajantes europeus que visitaram o Brasil no século XIX, reais ou imaginárias, histórias foram contadas em livros , imagens , cantos e versos.

Na década de 1920 chega ao Recife oriundo de Goa o fotógrafo amador Francisco Manuel Rebelo. Rebelo constrói com sua câmera uma crônica do Recife do início do século XX. Com o olhar voltado para cenas do cotidiano e tipos populares Rebelo registrou entre os anos de 1920 e 1940 vendedores de rua, ambulantes e jornaleiros. Grande parte de suas fotografias encontra-se com seus familiares e sua obra merece além de pesquisa, difusão.


COLUNA

A impressão é o que fica! Gustavo Bettini1

Q

ual é a maneira mais segura de preservar uma imagem?! Vint Cerf, um dos criadores da internet já fez declarações prevendo uma “Idade das Trevas Digital” em que mesmo

que ainda tenhamos os arquivos, não conseguiremos acessá-los. No mundo digital, as fotografias estão em nuvens, ou em formatos que ficam obsoletos com o passar dos anos. O risco de perder uma imagem por um dano ao HD, ou por desatualização do arquivo é um fato muito provável de acontecer. garantia de uma longevidade real e duradoura, a partir

“Se há fotos com as quais você se importa, Imprima-as” Vint Cerf

de padrões, critérios e materiais específicos. Entre eles, é fundamental o uso de papéis de Bela Artes, geralmente de fibras de algodão, sem branqueadores óticos, impressos com pigmentos minerais, o gerenciamento do processo de impressão por estabelecimentos certificados, atestados pelo cumprimento dos rigorosos padrões e protocolos.

Uma vez eleitas as fotos relevantes em seu acervo, é preciso pensar como materializar essa imagem para que,

Como impressor, percebo que muitas pessoas pensam

de fato, ela tenha garantida sua longevidade e existência.

na impressão fine art apenas para grandes trabalhos, registros importantes. Mas, o que de fato importa? Cada

O nascimento da fotografia está datado em 1816,

pessoa sabe o que de fato importa pra si. Um ensaio

quando Joseph Niépce materializou uma imagem. Em

fotográfico, uma foto premiada, a foto dos filhos, da

sua definição por essência, uma imagem só passa a ser

viagem inesquecível, de um encontro com os amigos...

fotografia quando materializada. O que você quer guardar por muito tempo ou ter A impressão fine art, tão difundida nos últimos anos,

disponível sempre que desejar? São essas fotos que você

surgiu da busca pela qualidade dessa materialização e

deve imprimir.

1 Fotógrafo e printer no Ateliê de Impressão


REVISTA DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM FOTOGRAFIA DA UNICAP

www.unicap.br/unicaphoto


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