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Revista do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da UNICAP
#16 • MARÇO DE 2021
EDITORIAL EXPEDIENTE
No último dia 12, meu sobrinho de nove anos me perguntou se
crítica e a prática artística-cultural, com ênfase na
eu iria ficar triste se ele me falasse algo. E logo veio a bomba:
América-Latina.
“Tia, sua profissão de fotógrafa não vale mais nada, pois todo mundo fotografa”. Respirei fundo e comecei: “Meu amor,
A entrevista dessa edição é com a fotógrafa e professora
quase todo mundo cozinha, mas poucos são chefs. Da mesma
Marina Feldhues, que inaugurou o MBA com a disciplina
forma, apertar um botão não torna a pessoa fotógrafa. Para se
“Cultura visual: imagem e fotografia”.
tornar um bom profissional é preciso se dedicar com afinco ao
COORDENAÇÃO
estudo da profissão escolhida, seja ela qual for”. A partir desse
Temos ainda uma matéria do professor Filipe Falcão sobre
Renata Victor
episódio, montei uma estratégia para começar a apresentar a
os prêmios obtidos pelos alunos(as) e professores(as) na
ele os trabalhos de alguns fotógrafos que admiro, como Cartier
mostra competitiva Expocom, do Intercom (Sociedade
Bresson e o seu olhar diferenciado do cotidiano; Robert Capa,
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação).
EDIÇÃO Carolina Monteiro e Filipe Falcão
COMISSÃO EDITORIAL Carolina Monteiro
com suas polêmicas fotografias de guerra; Philippe Halsman, com sua técnica do “Jump”; Margaret Bourke-White com seu
A professora Julianna Torezani lança luzes sobre o seu
pioneirismo em fotografar o território soviético e documentar
projeto “Desafios fotográficos” e o professor Paulo Souza
os campos de concentração nazistas; Maureen Bisilliat com
nos mostra as possibilidades das exposições virtuais.
PROGRAMAÇÃO VISUAL
seu comovente ensaio “Pele Preta”, dentre outros. Também
Jota Bosco
iremos assistir juntos ao documentário “Nascidos em bordéis”,
Como de costume, trazemos um ensaio de minha autoria,
que mostra a fotografia como instrumento de inclusão social, e
intitulado “Entre ondas e nuvens”. Ainda podemos
mesmo ler textos reflexivos sobre a imagem. Espero que possa
conferir os ensaios dos alunos Arnaldo Sette, com “A
ajudar meu sobrinho a entender a importância do estudo, para
verdade a céu aberto”; Danyllo Feliciano, com “Basta
diferenciar um profissional daquele que realiza a atividade
de violência”; Leonardo Araújo, com “Vazio”; Douglas
superficialmente e sem qualquer compromisso e, até, a fazê-lo
Fagner, com “A fé em tempos de pandemia” e Adelson
ver que uma fotografia pode ter o poder de denunciar, informar,
Alves, com “Uma história de resistência e persistência”.
DIAGRAMAÇÃO Aline Leôncio e Jota Bosco
TEXTOS E FOTOS André Antônio Barbosa, Filipe Falcão, Julianna Nascimento Torezani, Alice Brooks, Quel Valentim, Carol Monteiro, Mirandolina de Araújo Mouthuy, Gisely Tavares de Melo, João Guilherme de Melo Peixoto, Rafael Aguiar, Ricardo Marcelino e Renata Victor
comunicar e acrescentar novas possibilidades de expressão artística.
No campo dos ensaios teóricos, o professor André Antônio Barbosa apresenta “Mercadoria e
FOTO DA CAPA
Embora se constate que a fotografia se tornou o meio de
fantasmagoria: entre Walter Benjamin e The Bling Ring”;
Renata Victor
expressão da sociedade contemporânea, a nossa sociedade
e João Guilherme escreve: “Agenda 2030: uma proposta
ainda é despreparada para ler e compreender o poder da
de transdisciplinaridade em tempos de pandemia. Os
linguagem visual, fazendo apenas leituras superficiais. No livro
alunos Johnatta Marinho Rosália França também nos
“Pequena História da Fotografia”, de 1931, Walter Benjamin já
presenteiam com belos artigos.
FOTO DA CONTRACAPA Renata Victor
previa: “Já se disse que (o analfabeto do futuro não será quem
Escaneie o código QR abaixo, através de aplicativo no smartphone, e acesse todas as edições da revista na internet
não sabe escrever, e sim quem não sabe fotografar). Mas um
A grande novidade é a coluna do escritor e aluno do curso
fotógrafo que não sabe ler suas próprias imagens não é pior
de Fotografia Sidney Rocha, que chega para ampliar o
que um analfabeto?”
belo time de colunistas da Unicaphoto - Betânia Corrêa de Araújo, Gustavo Bettini e Liliana Tavares.
Para corroborar com a potência da fotografia, chegamos a 16ª edição da Unicaphoto, uma revista que tem como objetivo
Sem mais delongas, convido os leitores para desfrutarem
incentivar a produção acadêmica e artística dos alunos do curso
de uma edição riquíssima em ensaios e textos de
de Fotografia da Unicap. A Unicaphoto, ao longo dos seus sete
professores, alunos, ex-alunos e colaboradores.
anos e sete meses, testemunhou muitas das conquistas do curso de Fotografia da Unicap. Anunciamos mais uma: no último dia 01 de março, iniciamos o MBA “Cultura visual: fotografia A UnicaPhoto é uma publicação semestral do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco. (ISSN 2357 8793)
& arte latino-americana”, um curso inovador, com o objetivo de capacitar os profissionais à criação de projetos artísticos e culturais multidisciplinares, multimidiáticos e multilinguagens com uso da Fotografia, incentivando a pesquisa, a reflexão
2
Espero que vocês (e meu sobrinho) gostem.
Renata Victor
Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap 3
SUMÁRIO
PAG. 03 Editorial
PAG. 10 Entrevista: Marina Feldhues
PAG. 24 Ensaio - O possível das imagens
PAG. 42 Ensaio - Recife Vazio
PAG. 56 Ensaio - Quarentena
PAG. 64 Ensaio - Quarentena
PAG. 76 Ensaio - Afrofuturismo
PAG. 92 Sobre os desafios de criar em tempos de quarentena
PAG. 100 o Recife que eu vi: memórias, afetos e imagens
PAG. 106 Audiodescrição
PAG. 06 Aconteceu
PAG. 22 Professor(a), precisamos falar sobre metodologias ativas de ensino e aprendizagem
PAG. 36 Ensaio - Autorretrato
PAG. 52 Ensaio - Quarentena
PAG. 60 Ensaio - Quarentena
PAG. 68 Ensaio - Quarentena
PAG. 90 Fotosíntese
PAG. 98 O novo normal atual do cinema
PAG. 104 Livro
PAG. 108 Colunas
ACONTECEU
AGOSTO DEBATE SOBRE ACESSIBILIDADE COM A TURMA DA ESPECIALIZAÇÃO
ABERTURA DO SEMESTRE 2020.2
O segundo semestre começou
celebrado em 19 de agosto. A
na especialização As Narrativas
data coincidiu com a abertura
Contemporâneas da Fotografia
do semestre cuja programação
e do Audiovisual com visita da
trouxe as jornalistas Mônica Maia e
pesquisadora Liliana Tavares,
Simonetta Persichetti palestrando
idealizadora do festival VerOuvindo,
sobre o tema “Fotografia: crítica e
voltado para a discussão da
curadoria”, além do lançamento da
A cerimônia de Colação de Grau dos
produção audiovisual com
15ª edição da revista UnicaPhoto e o
concluintes de 2020.1 aconteceu
acessibilidade. No bate-papo
anúncio do prêmio Alcir Lacerda.
no ambiente virtual. O curso de
COLAÇÃO DE GRAU DA TURMA 2020.1
O Dia Mundial da Fotografia é
com a turma, Liliana falou sobre
Fotografia foi representado pela
acessibilidade e a importância
formanda e ex-monitora Bruna
de ferramentas de inclusão na
Reinaux.
fotografia e no audiovisual.
OFICINA DE LI VASC
outubro respeitando os mesmos
de Álvaro Brito, cuja fala abordou
A arte educadora Li Vasc realizou
protocolos de segurança.
“Dois gestos de montagem: a criação
nos dias 08 e 09 de outubro uma
do filme-ensaio”, e Larissa Veloso que
oficina ofertada pelo NEAS (Núcleo
INTERCOM REGIÕES 2020
analisou “Melancolia e paisagem nos
de Ações de Extensão Social do
Historicamente os alunos e alunas
filmes de Chantal Akerman e Jonas
Curso de Fotografia) em conjunto
do curso de Fotografia participam
Mekas”.
com a @ongdeficienteeficiente.
como finalistas no Expocom,
“A experiência da oficina foi
evento que faz parte da Intercom
enriquecedora. Cada aluno trouxe as
- Sociedade Brasileira de Estudos
suas questões e trabalhamos com os
Interdisciplinares da Comunicação.
OUTUBRO
conceitos das emoções como amor,
Para a etapa regional do Expocom
A IMPORTÂNCIA DA ILUMINAÇÃO
solidão e medo”, declarou Li sobre a
2020, os estudantes finalistas foram
Um dos destaques do mês de
oficina.
Ana Claudia Monteiro Dutra (Melhor
Os estudantes Danyllo Feliciano
O prêmio de 2020 não teve um
e Lidiane Mota, orientados pelo
vencedor, mas serviu como
professor João Guilherme Peixoto,
homenagem aos fotógrafos e
tiveram resumo de trabalho
cinegrafistas que atuaram na linha
aprovado para o XII Congresso
de frente da cobertura jornalística
Internacional de Ciberperiodismo. O
da COVID-19. Para representar estes
evento, promovido pela Universidad
profissionais foram escolhidos os ex-
del Pais Basco, na Espanha,
alunos Filipe Ribeiro e Augusto César.
aconteceu virtualmente nos dias
Filipe atua como fotógrafo do Jornal
9 e 10 de novembro de 2020. O
do Commercio e Augusto como
título do trabalho selecionado foi
cinegrafista da Rede Globo Nordeste.
“Fotojornalismo e inovação: uma análise dos especiais multimídia
A programação da abertura do
produzidos entre os anos 2010 e
semestre seguiu nos dias 20 e 21
2015 pelos portais JC Online (PE) e
de agosto com bate-papo com os
Diario de Pernambuco Online (PE)”.
professores do curso e participação
A pesquisa foi desenvolvida durante
de representantes dos setores
o Programa de Iniciação Científica da
administrativos da universidade,
Unicap (Pibic).
além do fotógrafo Renato Rocha que falou sobre “Luz e flash”.
Filme de Ficção), Arylanna Kelly
outubro foi o fotógrafo Adelson Alves convidado para a aula de
ALUNOS DA GRADUAÇÃO TIVERAM RESUMO APROVADO PARA CONGRESSO INTERNACIONAL
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encontro contou com as participações
PRÁTICA NO CAMPUS
Gomes Santos (Roteiro de Ficção),
SETEMBRO
iluminação da professora Renata
Bruna de Melo Reinaux (Videoclipe),
Victor. O profissional conversou com
Catarina Luíza de Macêdo
SEMINÁRIO PARA DEBATER FOTOGRAFIA E AUDIOVISUAL
a turma sobre a criatividade que o
Pennycook (Fotografia Artística),
fez construir muitos acessórios para
Débora Nascimento (Produção
trabalhar melhor a iluminação no seu
Multimídia Avulsa), Maria do Carmo
estúdio.
Farias (Roteiro de Documentário) e Sérgio Maranhão de Mendonça
BATE-PAPO SOBRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL
O dia 17 de outubro foi marcado
(Direção de Fotografia). Os trabalhos
A produtora, roteirista e diretora
pelo primeiro encontro presencial
foram orientados pelos professores
Gabriela Alcântara foi convidada
do curso de Fotografia desde o
Filipe Falcão, Paulo Souza e Renata
pelo professor Filipe Falcão, da
Victor.
A especialização do curso de Fotografia
começo das aulas remotas em
disciplina Captura de Vídeo em
realizou nos meses de setembro e
março de 2020. A atividade prática
HDSLR e Edição, para uma conversa
Os vencedores foram Ana Claudia
outubro o 1º seminário As Narrativas
de captura de vídeo foi ministrada
com os alunos sobre a importância
pelo professor Filipe Falcão para
Monteiro Dutra, Bruna de Melo
Contemporâneas da Fotografia e
da pré-produção na realização de
Reinaux, Catarina Luíza de Macêdo
do Audiovisual. O primeiro dia do
os alunos do 4° módulo. Todos os
um produto audiovisual. Gabriela
protocolos oficiais de distanciamento
Pennycook e Sérgio Maranhão de
evento teve como tema “Corpos
exibiu para a turma o seu filme
Mendonça. Os quatro se tornaram
pós-coloniais e desterritorialização:
foram criteriosamente obedecidos.
ainda não lançado e deu muitas
Os estudantes trabalharam em
finalistas do Expocom nacional.
gestos e movimentos afetivos em Bom
dicas de como produzir um curta-
Trabalho (Claire Denis, 1999)” e contou
pequenos grupos, ambiente externo
metragem.
e com um equipamento para cada
O ASSUNTO É ÁUDIO!
aluno. Um segundo encontro
O professor e especialista em som
presencial aconteceu no dia 24 de
Ricardo Maia esteve presente
com as participações de Mariana Cunha e Jyan França. O segundo
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na aula da disciplina de Captura
de Casamentos: Destination
Soares Passos, com a obra intitulada
representou a turma de Fotografia
RESTAURO DE IMAGEM
de Vídeo em HDSLR e Edição, do
Wedding, Do Contrato à Entrega) e
“Espalhando…”. O vencedor na
foi Danyllo Feliciano e o aluno
O mês de fevereiro terminou com
professor Filipe Falcão, para uma
Rômulo G. E. (Perdendo o Medo do
categoria de vídeo foi Douglas
laureado foi Matheus Mota Acioli.
um importante bate-papo sobre
conversa com os alunos sobre a
Lightroom).
Fagner, com a obra “A fé em tempos
conservação e restauro de imagens comandado por Luís Pavão e Renato
audiovisuais. Ricardo falou sobre
LIVE SOBRE CULTURA VISUAL NA AMÉRICA LATINA
o som no cinema e suas diferentes
O MBA em Cultura Visual: Fotografia
através do canal do YouTube do
e Arte Latino-Americana realizou
curso de Fotografia.
importância do áudio nas produções
de pandemia”.
DEZEMBRO
possibilidades como trilha sonora, foley e processos de captura.
NOVEMBRO 19 – FOTOVÍDEO 2020
CURSO LEVA PRÊMIO DE DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA NA EXPOCOM O FotoVídeo 2020 também recebeu as palestras de Karina Moraes (A Vida do Fotógrafo em Orlando: Começo, Mercado de Trabalho e Clientela) e Renato Menezes (Curadoria, Conservação e Gestão de Acervos Fotográficos). Por fim, o evento realizou a sua já tradicional Mostra de Vídeos.
DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA EM FOTOS E VÍDEOS
O aluno Sérgio Maranhão de Mendonça foi o grande vencedor no Expocom nacional. Com o documentário “Teresa”, desenvolvido na disciplina de Captura de Vídeo em HDSLR e Edição, o projeto venceu na categoria Direção de Fotografia. O projeto de Sérgio competiu com
emanadas pela transmissão online.
no dia 08 de fevereiro uma live
Não faltou animação, música e
para debater a cultura visual na
afeto.
América Latina. O evento contou com a participação dos professores
EXPOSIÇÃO VIRTUAL DO CURSO DE FOTOGRAFIA
do curso André Antônio, Catarina
A primeira mostra virtual do curso de
Andrade, Fernanda Grigolin, Maíra
Fotografia da UNICAP reuniu obras
Gamarra, Marina Feldhues e Rodrigo
dos alunos da graduação mostrando
Lessa.
Falcão.
interdisciplinar desenvolvido ao longo
CONCURSO DE CARNAVAL DE PERNAMBUCO
do semestre.
Mesmo com o cancelamento dos festejos de carnaval em decorrência
JANEIRO LANÇAMENTO DO MBA DE CULTURA VISUAL O curso de Fotografia lançou o
O documentário “Eu.Tempo”,
& Arte Latino-Americana. Inédito
MBA em Cultura Visual: Fotografia
produzido por Thaíse Moura, Mesmo com a pandemia e as aulas
ex-aluna da especialização As
curso tem como objetivo capacitar
remotas, o curso de Fotografia
Narrativas Contemporâneas da
os profissionais à criação de
realizou o seu já tradicional
Fotografia e do Audiovisual, venceu
projetos artísticos e culturais
FotoVídeo. O evento contou com
o Festival Cine PE 2020 em três
multidisciplinares, multimidiáticos
oficinas, workshops, palestras
categorias.
e multilinguagens com uso da
programação foi remota. As oficinas foram comandadas por Anderson Freire (Fotografia de Gastronomia), Débora Nascimento (Além das Paredes: Introdução à Fotografia de Arquitetura e Interiores), Diego Araújo (Na Edição a Gente Corrige. Será?), Pedro Ferreira (Fotografia de Eventos), Roberta Moura (Fotografia
O curso de Fotografia realizou o 1º Concurso de Fotos e Vídeos do Dia da Consciência Negra. Foram enviadas 61 obras de diversas partes do Brasil. A votação popular aconteceu nas redes sociais do curso e durou quatro dias com o total de 3947 curtidas. A foto vencedora foi a obra intitulada “Colore-me branco!”, do fotógrafo recifense Lucas Rodrigues de Lima. Além do júri popular, o concurso também teve comissão julgadora formada por professores e profissionais da imagem. O vencedor do júri técnico para fotografia foi o baiano Walter Mauro
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EX-ALUNA DA ESPECIALIZAÇÃO VENCE PRÊMIOS NO CINE PE 2020
no Brasil e com aulas remotas, o
e mostras de vídeo. Toda a
fotografia, incentivando a pesquisa, O documentário, que foi produzido
a reflexão crítica e a prática artística-
por Thaíse como trabalho de
cultural, com ênfase na América-
conclusão da especialização,
Latina.
levou os prêmios de Melhor Curta Nacional na escolha do júri popular, Melhor Curta Nacional na escolha
FEVEREIRO
da Associação Brasileira de Críticos
COLAÇÃO DE GRAU 2020.2
de Cinema (Abraccine) e melhor Edição de Som. “Eu.Tempo” recebeu, ainda, uma menção honrosa pelas histórias e vivências inspiradoras dos personagens.
MARÇO INÍCIO DAS AULAS DO MBA
o resultado de um trabalho coletivo e
trabalhos de todo o país. O vídeo foi orientado pelo professor Filipe
Menezes. A live foi transmitida
A noite de 02 de fevereiro marcou mais uma emocionante cerimônia de colação de grau, que contou com a participação dos estudantes e seus familiares. O orador que
da COVID-19, o curso de Fotografia decidiu realizar o seu tradicional concurso de Fotografia de Carnaval de Pernambuco. O formato deste ano foi diferente ao incluir nos finalistas os vencedores das edições anteriores para votação online. A
O dia 01 de março marcou a aula inaugural da primeira turma do MBA de Cultura Visual, Fotografia & Arte Latino-Americana foi um sucesso com a presença dos alunos e professores. Desejamos a todas e todos uma ano letivo cheio de aprendizados e novas experiências.
foto escolhida foi feita pela ex-aluna Renee Sophi.
ABERTURA DO SEMESTRE 2021.1 Os dias 18, 19 e 20 de fevereiro foram marcados pela abertura do primeiro semestre de 2021. Ricardo Gomes falou sobre “A fotografia e o vídeo como instrumentos de transformação socioambiental”, a professora Cynthia Suassuna debateu o tema “Os Oceanos e a vida na Terra: reflexões, regulações e ações”, Mariana Nepomuceno promoveu o debate “Que história a fotografia conta?” e o professor Paulo Souza falou sobre a experiência de organizar uma exposição virtual.
CONFRATERNIZAÇÃO 2020 O semestre não poderia terminar sem uma bela confraternização. Para 2020.2, os abraços foram substituídos pelas boas energias
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ENSAIO
Entre ondas e nuvens Fotos:
Renata Victor A nuvem é uma mistura de duas massas de ar. Uma quente e úmida na parte superior e outra fria e seca na inferior. Dura uns minutos ou se mantém por horas. Sua coloração decorre da presença de detritos no vapor condensado em seu interior. De acordo com a aparência, ela pode ter três aspectos: as fibrosas, altas, brancas e finas são denominadas Cirrus; as formadas em grandes camadas, Stratus; e as que se assemelham a uma couve-flor são chamadas de Cumulus. Já as ondas se formam a partir do sopro do vento na superfície do mar. O vento bate na água e causa uma ondulação composta de pequenas ondas entre 1 e 2 centímetros, as chamadas ondas capilares. Quanto mais veloz e durável for o vento, maior será a altura da onda. Essas são as explicações científicas. Mas, para mim, as ondas, às vezes, parecem nuvens e estas parecem ondas. Ambas apresentam uma linda dança, em suaves ou ferozes movimentos. Basta apreciá-las para me desvencilhar de qualquer incômodo.
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ENSAIO
VAZIO Fotos:
Leonardo Araújo Há um ano, em março de 2020, foram registrados os primeiros casos de pessoas contaminadas pelo novo Coronavírus no Brasil. Desde então, nosso modo de vida sofreu uma reviravolta como há muito tempo não se via. A pandemia do Covid-19 forçou o mundo ao isolamento social e todos passamos a desempenhar nossas atividades de forma radicalmente diferente. O trabalho e a educação remotos - algo que era, via de regra, repudiado no Brasil - tornou-se uma realidade do dia para a noite e a única forma de continuar trabalhando e estudando para muitas pessoas. Embora as imagens deste ensaio tenham sido produzidas em 2019, durante a semana FotoVideo da Unicap, elas retratam o vazio que ficou pelos corredores e salas de aula da Universidade Católica de Pernambuco, assim como por outras instituições de ensino e empresas ao redor do mundo. Ao que parece, a situação ainda vai perdurar por um bom tempo.
EXPOCOM
Trabalhos desenvolvidos por alunos ganham prêmios regionais e nacionais Filipe Falcão
“Vencer uma premiação com um trabalho autoral
Bruna não foi a única vencedora no Expocom Regiões
Sérgio Maranhão foi o grande vencedor no Expocom
desenvolvido em uma disciplina do curso mostra como
do curso de Fotografia da UNICAP no ano passado. Ana
Nacional na categoria Direção de Fotografia com o
somos capazes e bem preparados para o mercado”. A
Claudia Monteiro Dutra venceu na categoria Melhor
documentário “Teresa”. O curta também foi desenvolvido
afirmação vem da ex-aluna Bruna Reinaux. O produto
Filme de Ficção, Catarina Pennycook levou o prêmio
durante a disciplina de Captura de Vídeo em HDSLR
desenvolvido por ela foi um dos trabalhos vencedores
por Fotografia Artística e Sérgio Maranhão conquistou
e Edição e orientado pelo professor Filipe Falcão. O
no Expocom Regiões, concurso realizado pelo Intercom
a vitória em Direção de Fotografia. Os vencedores do
projeto de Sérgio conta a história de Teresa de Moura
- Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Expocom Regiões se tornam automaticamente finalistas
Pereira Xavier, mais conhecida como dona Teresa, uma
Comunicação. Esta primeira etapa do Expocom acontece
para a edição nacional do prêmio que aconteceu em
senhora do município de Flores, localizada no sertão
com os estados da região Nordeste.
dezembro.
pernambucano.
O trabalho desenvolvido por Bruna venceu na categoria
Em um primeiro recorte, dona Teresa pode parecer uma
Videoclipe e foi desenvolvido na etapa final da disciplina
mulher como tantas outras do sertão pernambucano.
de Captura de Vídeo em HDSLR e Edição. “Para esta
Lutadora e forte, acostumada com a lida do campo
disciplina todos os alunos precisam desenvolver um
em uma terra árida e sofrida. Ela teve oito filhos.
produto audiovisual que pode ser um curta de ficção,
Dois morreram ainda novos, um terceiro faleceu em
um clipe ou documentário e durante o semestre
um acidente de trânsito e uma das filhas se suicidou
acompanhamos este processo de criação que vai desde
após a morte do pai, que foi assassinado pelo próprio
o surgimento da idéia até a montagem na pós-produção”,
irmão. Desta forma, torna-se perceptível que além das
explica o professor Filipe Falcão.
dificuldades enfrentadas em uma terra seca e desprovida
falas, apesar das dores e do sofrimento consequente das
de políticas públicas, dona Teresa também precisou lidar
perdas precoces, permaneceu de pé cuidando da família
com tragédias familiares.
e dos negócios. A produção audiovisual é um convite
O videoclipe desenvolvido por Bruna se chama “Foi isso que eu aprendi”. Para a realização Bruna precisou
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para que o espectador percorra a história dessa corajosa
desenvolver roteiro e storyboard para depois pensar em
O tema proposto e o assunto são contextualizados por
mulher que diante das intempéries da vida, se recusou a
cenários e até elenco. Bruna também gravou a música
meio da narrativa. Aos 82 anos Teresa compartilha com a
desistir.
e fez todas as filmagens na própria universidade para
câmera como foram alguns dos momentos mais difíceis
depois se dedicar ao processo de edição.
da sua vida e mostra como precisou sobreviver. Nas suas
“Como fotojornalista, o prêmio acrescenta muito, mesmo 31
com o produto sendo um vídeo documentário, uma área na qual não atuo com frequência. E se tratando de uma premiação na categoria de direção de fotografia me alegro muito, pois o trabalho de um diretor de fotografia é o que há de mais próximo do fotógrafo no cinema”, comemora Sérgio sobre a vitória nacional. “Além disso, espero que esse prêmio sirva como uma homenagem pra Teresa. A história desse filme pertence a ela. Só o que eu fiz foi escolher como contar”, completa Sérgio. Além do Expocom Nacional, Sérgio também teve outro trabalho selecionado para a 2ª Mostra de Fotojornalismo Universitário realizada pela ECA/USP e FACOM/UFBA. A foto “Óleo no Litoral de Pernambuco” foi o trabalho selecionado e teve orientação da professora Renata Victor.
CAPA - O trabalho da aluna Catarina Pennycook venceu
ESPECIALIZAÇÃO
o Expocom Regiões na categoria Fotografia Artística.
As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do
-
A
ex-aluna
da
especialização
A imagem que ilustra a capa desta edição da Revista
Audiovisual Thaíse Moura produziu o documentário
Unicaphoto foi produzida para a disciplina da professora
“Eu.Tempo” como trabalho para a conclusão do curso e
Renata Victor como parte do Desafio Carolina de Jesus
resolveu inscrever o mesmo no Festival Cine PE 2020.
proposto pelo projeto Outras Leituras. O objetivo era
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encorajar os estudantes a produzirem fotos baseadas
O documentário levou os prêmios de Melhor Curta
nos textos da poetisa e escritora brasileira Carolina de
Nacional na escolha do júri popular, Melhor Curta Nacional
Jesus. A comissão julgadora, formada pelo professor
na escolha da Associação Brasileira de Críticos de Cinema
Robson Teles, a professora Fabiana Furtado e o grupo
(Abraccine) e melhor Edição de Som. “Eu.Tempo” recebeu,
Outras Leituras, selecionou as fotos assinadas pelas
ainda, uma menção honrosa pelas histórias e vivências
alunas Tiffany Anacleto e Catarina Pennycook.
inspiradoras dos personagens.
33
ARTIGO
Mercadoria e fantasmagoria: entre Walter Benjamin e The Bling Ring
“
Yes I’m a shopaholic, I’m a Gucci addict Can’t take my Visas from me, gotta support my habbit I spend a couple stacks, a little here and there They say I’m overshopping, darling, I don’t really care I’m a sucker for that Prada, I’m a sucker for couture I want it all baby just give me give me more” Reema Major
André Antônio Barbosa
E
Blanqui revelou, no seu último escrito, os traços terríveis dessa fantasmagoria. Nesse texto, a humanidade figura como condenada. Tudo o que ela poderá esperar de novo revelarse-á como uma realidade desde sempre presente; e este novo será tão pouco capaz de lhe proporcionar uma solução libertadora, quanto uma nova moda é capaz de renovar a sociedade. A especulação cósmica de Blanqui comporta o ensinamento segundo o qual a humanidade será tomada por uma angústia mítica enquanto a fantasmagoria aí ocupar um lugar (BENJAMIN, 2009, p. 54)
Cosmópolis (2012), de David Cronenberg – “Um fantasma
mera mercadoria brilhante na vitrine, juntar de maneira
ronda o mundo: o fantasma do capitalismo” – ecoa
inaudita – mesmo que lúdica e frívola – o longínquo e o
completamente o pensamento de Benjamin: o a lógica
atual.
Blanqui, sugere que o sujeito, no capitalismo avançado, está dominado por uma fantasmagoria que o faz reificar
m seus escritos sobre a Paris “capital do século XIX”, Walter Benjamin (2009) estava desenvolvendo uma maneira nova de enxergar a experiência estética na modernidade capitalista.
Sua investigação foi interrompida. Nesses escritos, Benjamin não enxergava o reino sensível da mercadoria
Assim, ao contrário do que muitos discursos que se O que, porém, a investigação de Benjamin traz de
querem radicais pregam, ao condenarem de maneira
verdadeiramente novo é a apresentação de uma forma
violenta, apressada e unilateral a artificialidade, a
de subjetividade que, ao invés de tentar “escapar” dessa
frivolidade e a fantasmagoria fetichista em prol de uma
fantasmagoria para (re)encontrar uma “verdade” perdida,
espécie de retorno a um valor de uso mais “natural” das
opta, pelo contrário, por se perder tão radicalmente
coisas e dos objetos – um retorno à “verdade” que seria
nos labirintos artificiais da própria fantasmagoria que
preciso revelar por baixo do ópio enganador que vitima
ensejaria uma transfiguração do peso e da força dos
as massas – a hipótese de Benjamin é que a chave para o
Conhecemos de perto, até hoje, a lógica dessa
seus grilhões demoníacos. Benjamin tateou esse tipo de
problema da fantasmagoria está na própria fantasmagoria
fantasmagoria – que a certa altura Benjamin denomina
sensibilidade em certos objetos de investigação: por um
incorpórea do capitalismo. Giorgio Agamben, sem dúvida
sua relação com a história, transformando todos os
de “progresso” (Idem, p. 66) – quando percebemos,
lado, artistas como Baudelaire, Proust, os surrealistas,
um dos principais continuadores do legado benjaminiano
elementos longínquos do passado em coisas pertencentes
perplexos, que continuamos insistindo em acreditar nas
Kafka e por outro, figuras como o flanêur, o boêmio,
na atualidade, volta ao próprio Marx para apontar a
a uma espécie de presente eterno, demoníaco e tedioso.
vagas potencialidades de acumulação e enriquecimento e
o dândi e instituições da época como as exposições
fraqueza do primeiro tipo de posicionamento:
É o eterno retorno do mesmo da repetição serial e
nas promessas abstratas de progresso e felicidade que o
universais, as passagens de Paris, as vitrines, a moda e os
mecânica da mercadoria, do valor de troca que equivale
fetiche e a experiência da compra de mercadorias trazem
interiores burgueses.
quantitativamente coisas das mais diversas qualidades,
consigo. Depois de o círculo se repetir incontáveis vezes,
do fetichismo que enfeitiça os objetos e impede que
sem que haja de fato qualquer avanço, constatamos que
Para Benjamin, na coisificação – ou artificialização – de
a “verdade” das relações e dos valores de uso sejam
a sucessão de coisas “diferentes” com as quais tínhamos
tudo, é possível ou se escravizar por completo (e com as
transparentes ou acessíveis. Assim Benjamin descreve
construído frágeis narrativas pessoais não passou, como
mudanças da sociedade de controle e do biopoder atuais,
essa fantasmagoria da qual os modernos são escravos e
uma peça publicitária muito óbvia, de uma impessoal e
o capitalismo tem mostrado uma capacidade de se
que não permite, como uma maldição, que eles retomem
entediante sucessão do mesmo. A inversão “globalizada”
renovar incansavelmente para conservar essa escravidão)
uma relação mais autêntica com o mundo:
da frase de Marx e Engels que escutamos no filme
ou aproveitar a chance para, já que o passado virou uma
como uma contraposição radical ao reino utópico da arte moderna, como parece ser a posição mais ampla do discurso modernista. Pelo contrário, ele investiga e tateia uma espantosa aliança entre esses reinos. Benjamin, sobretudo a partir do pensamento de Auguste
34
capitalista é a fantasmagoria última.
Marx opõe o gozo do valor de uso à acumulação do valor de troca, como algo natural a algo aberrante, e se pode afirmar que toda a sua crítica do capitalismo é feita em nome da concretude do objeto de uso contra a abstração do valor de troca. (...) O limite da crítica de Marx reside no fato de que ele não consegue superar a ideologia utilitarista, segundo a qual o gozo do valor de uso é a
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relação originária e natural do homem com os objetos, escapando-lhe por conseguinte a possibilidade de uma relação com as coisas que vá além tanto do gozo do valor de uso, quanto daquele da acumulação do valor de troca (AGAMBEN, 2007, p. 83).
É preciso indicar a mudança, operada por Benjamin, na compreensão da fantasmagoria, do Exposé de 1935 e 1939. Em 1935, Benjamin distingue produtos culturais ideológicos do inconsciente coletivo – as imagens de desejo e seu potencial de desfetichização – das puras mistificações, que são as fantasmagorias. A desmistificação das fantasmagorias era uma experiência do despertar. Já em 1939, o poder de desmistificação é atribuído à própria fantasmagoria (MATOS, 2009, p. 1130).
Para Benjamin, uma volta a esse tipo de relação supostamente mais simples e transparente entre pessoas e objetos não está em questão; e também não é esse tipo de relação o que precisa ser “revelado” pela arte. Um certo ranço romântico que ainda havia em Baudelaire, um dos artistas que para Benjamin mais levou longe a radicalização da fantasmagoria, talvez dificultasse que ele próprio percebesse que o “novo” (ou seja, o diferente que estaria ausente da repetição do mesmo) não vai ser revelado através de uma “quebra” da ilusão espectral que escraviza os modernos, mas exatamente a partir dessa ilusão:
mercadorias pode vir, assim, a ser ela própria a repetição do diferente. Não se passaria de um domínio do falso e do artificial para o do verdadeiro e do natural. A repetição fantasmagórica continua, as máscaras e envoltórios mantêm o redemoinho trivial em um movimento vão – mas ainda assim algo novo e diferente pode surgir desse contexto mesmo, ou melhor, de sua radicalização. Uma
o novo que ele espreitou durante toda sua vida não é feito de outra matéria que não dessa fantasmagoria do “sempre-igual” (...) O novo é uma qualidade independente do valor de uso da mercadoria. Está na origem dessa ilusão cuja infatigável provedora é a moda. Que a última linha de resistência da arte coincidisse com a linha de ataque mais avançada da mercadoria, isso deve ter escapado a Baudelaire (BENJAMIN, 2009, p. 62-63).1
de se perder nos labirintos da imagem como o flanêur se perde nas ruas da cidade ou um distraído sonha em frente a uma vitrine. A resposta que Benjamin procurava, ele esperava achá-la não em qualquer espécie de “despertar” mas
no
forma de vida positiva a partir da própria artificialidade de tudo trazida pela marcha capitalista. Mas como esse processo de radicalização ocorreria? Os jovens protagonistas do longa-metragem The bling ring (Sofia Coppola, 2013) são presos pela polícia no último ato do filme depois de vários roubos e invasões a mansões de celebridades em Los Angeles. Mas a questão do filme não está em saber em que medida as ações desses jovens seriam ou não “revolucionárias”. The bling ring é o antiThe Edukators (Hans Weingartner, 2003). As mercadorias
Encontrar um modo de imaginar, sonhar e se fascinar,
político,
A repetição superficial do mesmo que é a lei no reino das
continuar
radicalmente
sonhando.
Conforme observa Olgária Matos, esta posição ousada ficou mais clara apenas no segundo Exposé “Paris, capital do século XIX” (de 1939, sendo o primeiro de 1935) no qual Benjamin apresenta o andamento e as expectativas para sua pesquisa das Passagens:
de luxo roubadas por eles não possuem qualquer possibilidade de recuperar um uso mais “natural” e “autêntico”; muito pelo contrário. Aqueles jovens estavam absolutamente mergulhados na superficialidade da cultura de consumo e dos reality shows, na fantasmagoria da moda e no fetiche da mercadoria. Apesar disso, no lugar mais inesperado, acabou sendo originada uma dobra, um “desvio”, um ruído – que os levou à prisão.
Com as mercadorias que roubavam eles faziam
praticamente o mesmo que seus donos “legítimos”, mas de maneira mais radical. Eles tiravam infinitas fotografias que eram publicadas nas redes sociais e festejavam – com
1 Gostaríamos de acrescentar estes comentários de Agamben: “contudo, observando melhor, não haviam passado desapercebidas à sua [de Baudelaire] prodigiosa sensibilidade a novidade e a importância do desafio que a mercadoria estava propondo para a obra de arte” (2007, p. 73) e “O que é certo é que ele [Baudelaire] odiava demais a “repugnante utilidade”, para pensar que o mundo da mercadoria pudesse ser abolido através de um simples retorno ao valor de uso. Para Baudelaire, assim como para o dandy, a fruição utilitária já é uma relação alienada com o objeto, parecida com a mercadorização. A lição que deixou em legado à poesia moderna é que o único modo de superar a mercadoria consistia em levar ao extremo suas contradições” (Idem, p. 84).
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álcool, maconha e cocaína – nos espaços privilegiados das boates mais caras. Sem ter realizado qualquer feito “importante” ou “relevante”, eles experimentavam algo como uma longínqua e fugaz aura de fama. E é exatamente essa aura remota o que Sofia Coppola tentou capturar com o longa-metragem. Ela é um locus de beleza, experiência e felicidade extremamente inefável e inapreensível, como uma miragem cujas características velozmente escapam à memória. Quase como um cheiro. É um aceno fugaz e
sutil de potencialidades e possibilidades, o único a que
filme (baseados em fatos reais) em um sítio de memória:
aqueles jovens podem ter acesso, o único lugar em que
Mark (Israel Broussard), um dos membros da “gangue”
eles ainda conseguem sonhar, eles para quem a própria
que agora se dissolveu, relembra e narra os acontecidos
cultura americana na qual estão mergulhados até os
com certa nostalgia.
ossos não faz mais sentido. Nenhum deles vê significado na escola e nos valores morais de um conservadorismo
A memória, através da imaginação e da desaceleração
frágil que suas famílias lhes tentam transmitir – todos são
(que no filme se traduz nos slow motions de alguns planos),
profundamente entediados e vivem de maneira intensa a
que é sensível às possibilidades não concretizadas que
repetição demoníaca do mesmo, sem qualquer esperança
permeiam uma atmosfera que chegou ao fim, consegue
de que esta esteja relacionada a qualquer ideia positiva
dar uma dimensão nova aos fatos. Aquilo que de outra
de progresso.
forma seria apresentado de uma maneira “banal” ganha ares fantasmáticos e quase inquietantes de miragem. O
Ora, o que estamos chamando aqui de uma
que causa uma espécie de estranhamento e faz um apelo
inefável aura da fama é radicalmente diferente da mera
sensível diferente ao espectador. Coppola, com efeito,
fama que é vendida repetidamente pela cultura de
já havia realizado uma operação similar em As virgens
consumo contemporânea. No entanto ambas as coisas
suicidas (The virgin suicides, 1999) para suscitar uma
são bastante parecidas e possuem quase os mesmos
potência mágica de nostalgia: ela não quer quebrar o
elementos, com a diferença de que a primeira é uma
encanto e revelar a “verdade” para que possamos por fim
radicalização – e não uma destruição – da segunda;
agir; é o oposto – quer mergulhar o mais longe possível
a primeira é o que Benjamin chamou de “novo”: mas
no fantasma remoto e na contemplação indecisa de suas
esse novo surgiu na própria repetição do mesmo. Em
ambiguidades infinitas, capturar sua riqueza inefável
meio a toda aquela cultura do brilho, Coppola enxergou
e cheia de possibilidades. Tal riqueza não se distingue
e percebeu um brilho que era diferente, especial e
mas ao mesmo tempo é radicalmente diferente do
mais interessante, sem que ele deixe de ser, por isso,
artifício vazio da mercadoria. Exatamente por isso ela é
igualmente superficial e fantasmático. Para acessar esse
experimentada como algo de inquietante e estranho.
brilho qualitativamente mais rico, Coppola precisou lançar mão de estratégias como a de transformar os eventos do
Na radicalização da fantasmagoria fetichista e da
37
em cheque o que Agamben considera como a rígida
Unidos. E, de fato, Coppola não deixa de incorporar em
repressão das normas de uso dos objetos:
suas imagens o que há de Unheimliche na decadência de um certo mal gosto daqueles jovens, um mal gosto típico
aquela que se exerce sobre os objetos, fixando as normas do seu uso. Este sistema de regras é, em nossa cultura, embora aparentemente não sancionado, tão rígido que, tal como mostra o ready-made, a simples transferência de um objeto de uma esfera a outra basta para torná-lo irreconhecível e inquietante (AGAMBEN, 2007, p. 95).
de um suburbano usando as roupas elegantes de uma estrela. Nesse olhar sobre o “cafona”, Coppola continua fiel à sensibilidade camp de seus filmes anteriores. O fetiche que envolve os jovens da gangue, assim, é quase patológico: eles entraram tanto na lógica do capital que agora não conseguem mais se reajustar à “cultura da saúde” que faz prosperar o biopoder contemporâneo.
repetição do mesmo, aquilo que é muito conhecido –
garantir a sua integridade e preservação. O capitalismo
o mesmo – volta como o diferente, como inquietante
é um sistema econômico apenas possível dentro da
(Unheimliche). Benjamin nomeou esse fenômeno de choc
lógica da fantasmagoria, mas desde que a fantasmagoria
do longínquo com o atual. Agamben apresenta-o como
escravize seus “consumidores” e os obrigue a enxergar
uma condição básica do próprio objeto transformado
a eterna repetição do mesmo como progresso e como
em mercadoria na modernidade, ou seja, que deixou
possibilidade de acumulação e riqueza quantitativas.
de ter o seu valor de uso “natural” e tradicional, suas
Que os escravize através da ilusão segundo a qual a
qualidades próprias, para ensejar um processo de
felicidade vai ser alcançada, um dia, com o obedecimento
fetiche. Através do valor quantitativo de troca que iguala,
a determinadas regras de um modo de vida e de um
pela abstração do dinheiro, o objeto a todos os outros
biopoder que garantem a preservação do sistema
objetos existentes pelos quais poderia ser trocado, ele
econômico. A noção de progresso envolve a lógica da
suscita em quem o contempla (numa vitrine ou numa
fantasmagoria com limitações e regras que lhe dão um
propaganda publicitária por exemplo) uma relação com
sentido sagrado, mítico e incontestável.
algo de muito remoto: uma aura de possibilidades que a mera relação utilitária nunca teria o poder de invocar.
Mas é sempre possível escapar à escravidão permanecendo
Assim a mercadoria teria um “caráter místico” (AGAMBEN,
na própria fantasmagoria – radicalizando-a. A alienação
2007, p. 67). Esse caráter longínquo e inquietante não
distraída e o fascínio onírico pela mercadoria ganham
estaria por trás das superfícies achatadas e fantasmáticas
dimensões que são improdutivas e até prejudiciais
da mercadoria; seria, pelo contrário, feita de sua mesma
para o capital em figuras como o flanêur, o dândi, o
natureza. Agamben confirma esse fenômeno através da
colecionador benjaminiano ou o fumador de haxixe.
noção freudiana de Unheimliche:
São figuras liminares que tiveram lugar na cultura do
Mas o esplendor e a beleza da alta moda, longe de serem
São como sonâmbulos entrando nas enormes mansões
recusados pelos protagonistas do filme, são por eles
fantasmagóricas e vazias com suas piscinas e paredes de
levados a outro patamar: um patamar mais longínquo,
vidro (um tipo de arquitetura cuja aura superficial mas
inefável, inapreensível, fraco, frio e remoto mas, na
ao mesmo tempo inquietante fascina, desde os anos
eterna repetição demoníaca do mesmo, um patamar
60, representantes da pop art como David Hockney e Ed
diferente, estranho, inquietante, ambíguo, cheio de
Ruscha). As personagens do filme não querem acordar
possibilidades infinitas. Esse novo patamar é sutil e
do sonho, vão levá-lo o mais longe que conseguirem. De
fugaz, delicado e frágil como uma fragrância. Coppola
certa forma, eles possuem a obstinação que Benjamin
consegue capturá-lo e fixá-lo no deslizar das imagens do
enxergava nos colecionadores (uma designação que
seu filme. A escolha de Coppola por construir a atmosfera
está longe de caracterizar esses jovens, mas que não
musical do filme sobretudo com peças do hip-hop
obstante parece, aqui, mais apta do que “ladrões” ou
americano contemporâneo como Kanye West, Azealia
“consumidores” a transmitir a experiência que eles
Banks e Rye Rye é significativa. Nesses sons barulhentos
empreendem, no filme, com a mercadoria):
e pouco harmoniosos há toda uma história de como a sensibilidade dos guetos sonha e se relaciona com os bens de consumo mais sofisticados e caros dos Estados
Seu ofício [do colecionador] é a idealização dos objetos. A ele cabe a tarefa de Sísifo de
século XIX e cujo o caso Benjamin já identifica no início do Ele [Freud] vê no inquietante (Unheimliche) o familiar (Heimliche) removido. “Esse inquietante não é, de fato, nada de novo, de estranho, mas sim algo que desde sempre é familiar à psique, e que só o processo de remoção tornou outro”. A recusa de tomar consciência da degradação dos factícia mercadorizados expressa-se criptograficamente na aura ameaçadora que envolve as coisas mais familiares, com as quais não é mais possível sentir-se seguro (AGAMBEN, 2007, p. 88-89). Porém, essa potência de deslocar um objeto familiar para muito longe, possibilitada pela própria alienação dos usos tradicionais que a modernidade capitalista configurou e pelo fetiche que inconscientemente adora algo invisível através de um objeto específico, é limitada pelo próprio capitalismo para que o sistema possa
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século XX: o capital sempre marginalizará ou incorporará, através de transformações do sistema, essas figuras que, apesar de seu mergulho radical no lúdico, não seguem as regras do jogo. É o caso do niilismo hedonista dos jovens invasores de The bling ring. A questão do filme não é uma questão de “Robin Hood”. Ao ignorarem as convenções que tornam as propriedades do capital privadas, os protagonistas do filme subtraem as mercadorias “à tirania do econômico e à ideologia do progresso” (AGAMBEN, 2007, p. 75). Há um desvio ou um ruído que ultrapassa as regras segundo as quais todas aquelas mercadorias de grife deveriam pertencer apenas a um tipo específico e mínimo de casta social (os membros do bling ring vêm de famílias californianas abastadas, mas nunca a ponto de possuírem a abundância das roupas de estilistas e acessórios de alta costura que eles roubam das celebridades hollywoodianas). Tal desvio coloca
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retirar das coisas, já que as possui, seu caráter de mercadoria. Mas não poderia lhes conferir senão o valor que têm para o amador, em vez do seu valor de uso. O colecionador se compraz em suscitar um mundo não apenas longínquo e extinto, mas, ao mesmo tempo melhor, um mundo em que o homem, na realidade, é tão pouco provido daquilo de que necessita como no mundo real, mas em que as coisas estão liberadas da servidão de serem úteis (BENJAMIN, 2009, p. 59).
ENTREVISTA
MARINA FELDHUES
Rebecca (Katie Chang), talvez a fetichista mais incurável de The bling ring, depois de invadir a mansão do seu “ultimate fashion icon”, Lindsay Lohan, experimenta o perfume da estrela na frente do espelho em um lânguido slow motion. Poderia ser uma publicidade de perfume, não fosse a trilha sonora lúgubre (a esta altura do filme, os
REFERÊNCIAS
jovens invasores estão prestes a serem descobertos pela
AGAMBEN, Giorgio.
polícia) e a mansão escura e deserta. Coppola transforma
ocidental. Belo Horizonte: UFMG, 2007.
Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura
o conhecido em inquietante, mas sem precisar construir choques cinemáticos para isso. Ela prefere a sutileza
BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: UFMG, 2009.
de uma fragrância. Naquele perfume que é uma mera mercadoria, Rebecca entra em contato com algo de muito
MATOS, Olgária. “Alfklarung na metrópole: Paris e a Via Láctea”. In:
longínquo e remoto; algo que Agamben (2007) chamou de
BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte, UFMG, 2009.
Nessa conversa com Marina Feldhues, a fotógrafa, professora, pesquisadora e ex-aluna do curso de Fotografia da Unicap conta como se apaixonou pela fotografia e pelos fotolivros, apresenta o grupo de estudos “Narrativas anticoloniais” e fala sobre sua trajetória acadêmica, com destaque para ampla contribuição para o curso MBA “Cultura Visual: fotografia & arte latino-americana”, da Unicap, que iniciará no dia 01 de março.
“a epifania do inapreensível” (p. 69) ou “a apropriação da irrealidade” (p. 81). Coppola, com sua estética do artifício e do frívolo, faz filmes sobre esse “algo”.
Como e quando a fotografia entrou na sua vida? Aos sete anos de idade virei a fotógrafa oficial da família. Minha missão era fazer fotos de minha mãe com minha irmã recém nascida. Minha mãe tinha por hábito escrever no verso das fotos e, em algumas delas, tinha escrito “foto batida por Marina em 1989...”. Fotografei muito dos 7 aos 18 anos com câmera analógica. Tenho um vasto álbum de minha infância e adolescência e também da infância de minha irmã, que foi minha principal modelo.
Foto: Joyce Nabiça /Arquivo pessoal
Qual a importância da Fotografia?
a fotografia media nosso pensamento? Produzindo ao
A fotografia é importante porque media muitas relações
menos dois tipos de imagens. Primeiro temos as imagens
em nossa vida. Ela pode ser um gatilho para a recordação,
que servem para dominação social, controle de corpos,
mediando nossa relação com eventos passados. Pode
controle do modo como vemos o mundo e como nos
mediar nossa comunicação cotidiana nos ambientes
relacionamos com o mundo e no mundo com os outros
virtuais, milhares de memes, nudes, pratos de comida,
seres viventes. A junção imagem-texto que se dá na
selfies sobem à rede todos os dias. Nos comunicamos
fotografia com o auxílio da legenda educa o nosso olhar
pela fala, pelos gestos corporais, pela escrita e também
por meio da repetição. Entre no google images e escreva
por imagens, é aí que se destaca a fotografia e o vídeo.
a palavra “traficante”, que tipo de imagens surgem?
Especialmente agora que acessível economicamente
Existe imagem de algum traficante que seja homem,
a maior parte das pessoas no planeta.
A fotografia
branco de paletó e gravata na tela inicial do google? Há
pode ainda mediar nossa relação com as instituições
algum padrão visual que se repete? Qual é? Na minha
sociais públicas e privadas, funcionando como imagem
tela de busca vejo em sua maioria homens de cor de
identitária, por exemplo. E, talvez principalmente, ela
calção, chinelo, alguns sem camisa, ostentando armas e
media o nosso pensamento.
com o corpo tatuado. Isto é a fotografia aliada ao texto produzindo uma imagem estereotipada do que seja
40
Quais são os limites da Fotografia?
um “traficante”. E, assim, nosso olhar é treinado para
Para responder, vou retornar à pergunta anterior. Como
enxergar as pessoas que se encaixam nesse estereótipo
como “potenciais traficantes” ou criminosos, em geral.
Qual é a proposta do grupo de estudos “Narrativas
Isso é alfabetização visual, somos treinados todos os dias
anticoloniais”?
e não o percebemos, porque nosso treinamento diz que
É um grupo de estudos público e gratuito em que lemos
“é natural” que seja assim.
e discutimos autores que pensam todo-o-mundo se posicionando criticamente contra todas as formas de
Por outro lado, é possível alfabetizar visualmente para fins
colonização ainda vigentes, seja a colonização de nossa
de emancipação social, Nego Bispo escreve lindamente
subjetividade, do nosso pensamento, do território, etc. O
sobre o assunto e recomendo a todos a leitura de seus
outro lado da modernidade ocidental é a colonização que
textos. É possível fotografar com as pessoas, respeitando
organiza as relações humanas em escala planetária. Para
o retratado como coautor na realização da fotografia.
compreender as imagens e a fotografia, em particular, é
Afinal, a fotografia acontece no encontro entre o fotógrafo
preciso mais do que nunca estudar sobre colonização e
e o fotografado. Ela é o resultado desse encontro e se
sobre aqueles que lutam contra a colonização há mais
uma pessoa aceitou ter sua imagem capturada pela
de 500 anos. Para que o futuro possa ser benéfico aos
câmera é porque, por algum motivo, aquilo é importante
seres viventes, é necessário reaprender a imaginar, a
para ela. Uma foto carrega em si muitos desejos. Sempre
sonhar e a tornar nossos sonhos realidade. Descolonizar
é possível usar a fotografia para valorizar o outro, para
nossa mente é talvez o primeiro passo. Esse grupo de
humanizar o mundo e a nós mesmos, para colocá-la a
estudo tem essa missão, ajudar a mim e aos outros nesse
serviço da diversidade dos modos de existir no planeta.
processo de cura e de libertação de nossa mente.
Com isso, posso agora responder a questão, os limites da fotografia estão nas escolhas políticas e éticas, nos
Qual é a importância do fotolivro no mundo
posicionamentos que assumimos no mundo, ao longo do
contemporâneo?
processo de produção e circulação das imagens.
Gostaria de falar não da importância dos fotolivros, mas da importância dos fotozines (sejam eles físicos ou
Fale um pouco sobre as disciplinas que você irá
virtuais). Fotolivro é um produto caro, de produção pouco
lecionar no MBA “Cultura Visual: fotografia & arte
acessível, economicamente falando, para a maioria
latino-americana”
dos fotógrafos e artistas visuais, voltado mais para o
Vou lecionar a disciplina Cultura Visual: imagem e
mercado colecionador da classe média e média-alta que
fotografia. Essa disciplina parte das questões “o que
se interessa por fotografia e não para o grande público.
é cultura visual?” e “qual o papel das imagens e da
O fotozine é economicamente mais viável e é igualmente
fotografia nas sociedades contemporâneas?” para dar
um excelente lugar para compor narrativas visuais. No
início às reflexões críticas coletivas que serão propostas,
zine, você pode se expressar verbo-visualmente e fazer
abordando temas como: a construção de sentidos e
seu trabalho circular nas redes físicas e virtuais a um
afetos por meio de imagens; o usos políticos e sociais das
custo mais viável. Em termos gerais, o que diferencia um
imagens; o papel das tecnologias do ver; imagens técnicas;
produto do outro é a qualidade de impressão, o papel
imagens do sonho; imagem, imaginário e imaginação;
usado, a editora de nome que, muitas vezes, assume da
representações do outro e do mundo; regimes da
edição das fotos à circulação.
visualidade
colonial;
racionalismo,
etnocentrismo,
antropologia; imagem e antropoceno; reflexões críticas
Zine dá pra fazer em casa com uma impressora jato
sobre o pensamento fotográfico; o pensamento por
de tinta, uma copiadora, etc. Além do que existem
imagens; e teorias da fotografia (fotográficas: efeitos
plataformas de publicações on-line. É muito mais
sociais e limitações teóricas).
interessante ter os discursos, as narrativas diversas, os pontos-de-vista, as narrativas fotográficas circulando
42
E também vou lecionar a disciplina Memória, arquivo e
aos montes em todos os espaços, em comunidades, em
documento. Qual o papel do arquivo? E da Fotografia
redes sociais, em escolas, no museu, na livraria, galeria,
como documento? Esta disciplina visa introduzir o aluno
etc. do que o artista/fotógrafo ficar esperando anos até
aos estudos das relações entre memória, arquivo e
conseguir ser contemplado em um edital e publicar seu
fotografia a partir da prática artística contemporânea.
fotolivro, ou até conseguir se capitalizar e ter o dinheiro
Serão
e
sobrando para fazê-lo. Se você puder fazer um fotolivro,
temporalidades; temporalidades da imagem; leitura
abordados
questões
como:
memória
faça. Mas se não, não perca tempo esperando, faça
dos tempos; a fotografia como mediação de memórias;
um zine, se expresse, bote seu discurso no mundo da
ressignificação imagens do passado; a visualidade
forma que lhe for possível. Creio que os fotozines são
colonial; a descolonização de imagens coloniais.
importantes porque possibilitam que mais e mais 43
Baby Doll - fotomontagem Sobre Corpxs construídos como mostruosxs. Corpxs do Séc XVII e Rosto do Séc. XXI - filtros do insta localizados por “Beautiful Make”
discursos verbos-visuais diversos estejam em circulação, atingindo públicos que ainda não são atingidos. É preciso pôr as ideias na rua, liberar a imaginação, é disso que o mundo precisa.
Quais são os elementos principais na construção do fotolivro? Para fazer um fotozine você vai precisar (receita de bolo) primeiro saber sobre o que você quer falar, como dizer isso verbo-visualmente e que reações, em termo de afeto-pensamento, você está propondo para seu leitor. Um livro é um diálogo, é uma troca com o leitor. É para ele que você está fazendo o livro. Do contrário, você pode fazer um diário e guardar na gaveta da cômoda. Tem algumas perguntas propostas por Jörg Colberg no livro Understanding Photobooks que podem ajudar nesse momento de definições iniciais, são elas: “o que o livro deveria fazer? Que experiência o espectador deveria ter? O que o livro dirá a seu espectador? Como o livro vai fazer Escala Humana - foto filme sobre a construção de corpos suspeitos.
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isso? O que as imagens estão falando para o espectador? O que a forma como o livro agrupa diz ao espectador?”.
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Responder a essas questões é chegar ao conceito do
recomendo o livro de Keith Smith”Structure of Visual
livro. E sem ter isso em mente não dá para avançar.
Books”, um clássico sobre o assunto. Infelizmente não conheço tradução para o portugês. E recomendo
A seleção das imagens, textos e grafismos que farão
também minha dissertação de mestrado
parte do livro, bem como seu ordenamento nas páginas
fotolivros: (in)definições, histórias e processos de
“Conhecer
e, evidentemente, o formato do livro e materiais que
produção”.
serão usados, são guiados pelo conceito. Não seleciono a foto mais bonita, seleciono aquela que contribui
Minha dissertação e outros textos que escrevi podem
para composição da narrativa verbo-visual. Por sinal,
ser
chamo de composição porque a proximidade com a
MarinaFeldhues
encontrados
em
https://ufpe.academia.edu/
música e a poesia é algo notório, a narrativa visual fotográfica tem ritmo, rima, tem repetição de refrão, tem tom. Evidentemente que ter um fotozine nas mãos
Você tem algum conselho para estudantes de
proporciona uma dimensão de experiência háptica que
fotografia que queiram mergulhar no universo dos
um fotozine virtual não vai possibilitar.
fotolivros? Pratiquem sem medo. Não esperem ter dinheiro, façam
No mais, existem muitas formas de compor narrativas
em casa bonecos, façam zines, publiquem na internet,
verbo-visuais. Uso sempre o termo verbo porque todo
deem seus livros de presente, produzam, experimentem,
livro tem título, ainda que o conteúdo seja apenas
pratiquem. É preciso não só ler sobre o assunto, mas
de fotografias, e algumas fotografias podem mostrar
botar a mão na massa, a matéria vai te ensinar muito, é
textos, portanto fotozines, fotolivros, são sempre verbo-
com a mão na massa que a coisa acontece.
visuais. Para adentrar a composição de narrativas visuais
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49
MATÉRIA
“Agenda 2030”: uma proposta de transdisciplinaridade em tempos de pandemia João Guilherme Peixoto
Entre as principais características das Metodologias
recursos didáticos os quais estimulassem a participação
Ativas
a
ativa dos estudantes, optamos por utilizar ferramentas
participação efetiva e funcional do aprendiz, que passa
de
Ensino/Aprendizagem
destacamos
e técnicas relacionadas à aprendizagem baseada em
a ter mais controle e protagonismo em sala de aula.
problemas como também à aprendizagem baseada em
Leitura, pesquisa, comparação, observação, imaginação,
projetos. Definidos como “ancoras”, materiais didáticos
obtenção e organização dos dados, elaboração e
que buscam estimular a participação e o desenvolvimento
confirmação de hipóteses, classificação, interpretação,
do pensamento crítico por parte dos discentes, foram
crítica, busca de suposições, construção de sínteses
apresentados vídeos, ensaios fotográficos e textos sobre
e aplicação de fatos e princípios a novas situações,
os objetivos de desenvolvimento sustentável para
planejamento de projetos e pesquisas, análise e tomadas
equipes. Atrelado a isso, realizamos encontros síncronos
de decisões (DIESEL; BALDEZ; MARTINS, 2017, p. 274) são
em plataforma digital de ensino/aprendizagem (Google
protocolos operacionalizados com frequência durante a
Meet) com foco no acompanhamento do processo
utilização de metodologias como: Aprendizagem Baseada
de construção dos ensaios fotográficos. Também foi
em Problemas (BARBEL, 1996; ARAÚJO; GENOVEVA, 2009;
utilizada a plataforma Google Classroom para troca de
MUNHOZ, 2019), Blended Learning (BERGMANN ; SAMS,
mensagens com os grupos de trabalho, além de funcionar
2012; CROUCH; MAZUR, 2012; HORN; STAKER, 2015),
como “espaço” de acompanhamento de prazos e troca
entre outras.
de referências e experiências entres as equipes. Todo
as
esse processo foi realizado entre os meses de outubro e Isso posto, observamos que, com o objetivo de trabalhar
novembro de 2020.
processos de transdisciplinaridade no Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica
Por fim, como proposta de avaliação da atividade
de Pernambuco (Unicap), foi planejada para o semestre
transdisciplinar,
2020.2 uma atividade em conjunto entre as disciplinas
dos grupos durante um dos momentos síncronos
“Linguagem Fotográfica I” e “Fotografia e Semiótica”,
das disciplinas. Cada equipe ficou responsável por
ambas pertencentes ao segundo módulo do curso.
compartilhar as experiências vinculadas às etapas de
Atrelado aos processos relacionados à convergência de
planejamento e execução do ensaio fotográfico. Os
saberes e procedimentos didáticos, optamos também
grupos também deveriam realizar a apresentação do
pela utilização de metodologias ativas de ensino/
ensaio fotográfico com o objetivo de estimular o debate e
aprendizagem com foco na estruturação, planejamento,
a troca de experiências do processo como um todo. Entre
execução e monitoramento das tarefas desenvolvidas
os objetivos de desenvolvimento sustentável trabalhados,
durante o semestre.
podemos citar: Água Potável e Saneamento (ODS 06),
propusemos
a
apresentação
oral
Educação e Qualidade (ODS 04), Cidades e Comunidades
0
contexto da pandemia reconfigurou nossas certezas e verdades sobre os processos de ensino e aprendizagem. Novos protocolos de construção do conhecimento precisaram ser “ativados”, novas problemáticas associadas à colaboração e ao engajamento estudantil
Sobre a proposta, ressaltamos a escolha do tema central
Sustentáveis (ODS 11), Vida na Água (ODS 14), Trabalhos
“Agenda 2030” como ponto de partida. O grupo, formado
decente e crescimento econômico (ODS 08) e Ação contra
por 20 estudantes, inicialmente recebeu informações
a mudança global do clima (ODS 13).
sobre a importância do debate acerca dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) presentes no
A partir dos resultados apresentados (Fotos 01, 02, 03,
documento
definidas
04, 05 e 06), podemos constatar que o objetivo central
pela Organização das Nações Unidas), além de serem
de aprendizagem definido (trabalhar processos de
estimulados a acessarem a plataforma “Agenda 2030”
transdisciplinaridade no Curso Superior de Tecnologia
(http://www.agenda2030.com.br/) com o objetivo de
em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco)
Um caminho interessante a ser seguido é a introdução de metodologias ativas de ensino e
colher informações iniciais sobre as temáticas abordadas.
foi alcançado. Destacamos que o uso de metodologias
aprendizagem. Horn e Staker (2015) apontam para defasagens nos modelos tradicionais de ensino
Ademais, os professores responsáveis pelas disciplinas
ativas de ensino/aprendizagem ofereceu aporte teórico
(também chamados “modelos industriais”), os quais influenciam diretamente nos resultados de
especificaram o produto final da atividade: um ensaio
e metodológico para o desenvolvimento de aspectos
aprendizagem dos estudantes. Já para Mattar (2017, p. 19), um dos erros mais comuns quando
fotográfico composto por até 15 fotografias, além de
relacionados à participação, ao desenvolvimento do
mencionamos o tema “Metodologias Ativas” é associá-lo ao desenvolvimento de tecnologias
um texto o qual trabalhasse questões teóricas sobre
pensamento crítico e a problematização das etapas de
disruptivas, meios de produção virtualizados e demais processos ligados à evolução das tecnologias
linguagem fotográfica e semiótica.
planejamento e execução de ensaios fotográficos. Atrelado
foram evidenciadas. Mas diante da incerteza de que caminhos devem/podem ser tomados,
fica a questão: de que maneira podemos construir uma participação discente crítica, humanizada e efetiva em ambientes virtuais de aprendizado.
(representam
metas
globais
a isso, o uso de tecnologias digiais de comunicação e
digitais de informação e comunicação (TDIC). Diferentemente dessa conceituação, o uso de
50
metodologias, as quais têm por objetivo central estimular o fazer compartilhado em sala de aula
Após essa etapa, os participantes foram divididos
informação (TDIC) contribui de forma significativa para
(seja ela virtual ou não), remete não apenas ao desenvolvimento técnico, como também a processos
em duplas ou trios para darem início ao processo de
a elaboração dos resultados, como também para o
de ordem comportamental.
planejamento das propostas. Com o objetivo de oferecer
processo de acompanhamento dos grupos de trabalho.
51
Foto 01: Juliana Amara e Noelly Beatriz
52
Foto 02: Sidney Rocha, Amanda Luz e Fernanda Travassos
53
Foto 03: Priscilla Maria e Alícia de Souza
Foto 04: Ricardo Rafael, Alice Flávia, Jéssica Priscilla e Ítalo Ribeiro
54
55
MATÉRIA
DESAFIOS FOTOGRÁFICOS Julianna Nascimento Torezani Foto 05: Alice Karoline
Estudar a história da fotografia atualmente vai além de
Instagram dos profissionais, assim as pessoas podem
buscar as referências que contam os fatos que ocorreram
diretamente conhecer os trabalhos de cada um.
na Europa e nos Estados Unidos do século XIX em diante. É necessário pesquisar o que aconteceu nos demais
Esse projeto foi iniciado em 23 de abril de 2020, neste
lugares do mundo. Quais temas foram fotografados e em
ano apresentou 164 fotógrafos na sua primeira edição.
qual contexto? Quem são os fotógrafos e as fotógrafas
Em 13 de janeiro de 2021 começou a segunda edição, que
que documentam imageticamente seus países? Quais
já completou o número de 200 profissionais. Importante
equipamentos fotográficos são utilizados? Quais as
mencionar que também integram fotógrafas e fotógrafos
mudanças ocorreram nas produções fotográficas? Estas
europeus e norte americanos, entre nomes já conhecidos
perguntas surgiram em meio à pandemia, visto que os
e outros mais recentes, uma vez que estes compõem
estudos se intensificaram neste momento pela internet,
a história da fotografia e são referências para muitos
sobretudo porque muitos profissionais da fotografia
profissionais da fotografia, além de ter profissionais que
possuem perfis nas redes sociais e até fundações que
atuaram em diversos momentos. Outro critério foi ter o
cuidam de acervos de fotógrafos antigos também criaram
mesmo número de profissionais de cada grupo e que se
tais perfis para mostrar a preservação das imagens.
revezam nesta ordem: fotógrafa estrangeira, fotógrafo estrangeiro, fotógrafa brasileira e fotógrafo brasileiro.
Ao pesquisar sobre tais questionamentos surgiram
Foto 06: Rafael de Freitas Correia, Ian Lima, Romulo Francisco
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importantes nomes e fotos incríveis que mereciam ser
Entre as fotógrafas estrangeiras destacam-se: a retratista
compartilhadas com pessoas que também se interessam
indiana do século XIX, Julia Margaret Cameron; a fotógrafa
pelo estudo da fotografia. Desse modo, surgiu o Projeto
que retratou Aisha que teve o nariz e as orelhas mutiladas
Desafios Fotográficos, utilizando a ferramenta “Teste”
para capa da Times, Jodi Bieber, da África do Sul; a artista
no Stories do Instagram. A cada dia é colocada uma
inglesa Gillian Wearing, com a série Cartazes que dizem o
imagem com a seguinte pergunta “De quem é esta foto?”
que você quer que eles digam e não cartazes que dizem
e três opções de fotógrafos ou fotógrafas para indicação
o que outra pessoa quer que você diga; a alemã Candida
dos participantes. Em seguida é colocada a imagem do
Höfer que fotografa o interior de instituições culturais e
fotógrafo ou da fotógrafa, a fotografia do desafio, o título
educacionais; a turca Nilüfer Demir, que fez a imagem do
da imagem, local, data e informações sobre o autor ou
menino Alan Kurdi morto na praia da Turquia; a artista
autora. Nas publicações são mencionados os perfis do
francesa Sophie Calle, criadora da série Cuide de Você;
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de moda da Vogue Itália, fez o Calendário Pirelli 2020 intitulado Procurando Julieta; Erwin Wurm da Áustria, que criou a série Esculturas de um minuto; Philippe Halsman da Letônia, que fez a icônica imagem Dalí Atomicus, em 1948, em que os elementos ficam suspensos no ar. Também integram este grupo: o sul africano Kevin Carter, que fez a icônica imagem Sudão, em 1993, que mostra a criança e o abutre; o norte americano James Nachtwey, premiado fotógrafo de guerra, que documentou o genocídio em Ruanda, em 1994; o autorretratista camaronês Samuel Fosso, que trata sobre identidade e cultura; o mexicano Manuel Alvarez Bravo, que documentou a cultura, a sociedade e arte mexicana; o líbanês Benjamin Abrahão Botto, que trabalho com Padre Cícero em Juazeiro do Norte e retratou os cangaceiros liderados por Lampião; o cubano Alberto Korda, que fez a famosa imagem de Che Guevara; Nick Ut do Vietnã, que fez a inesquecível cena Crianças fugindo de um ataque de napalm sul-vietnamita, em 1972, durante a Guerra do Vietnã; o canadense Jeff Wall , que une dezenas de imagens na pós-produção criando uma única cena; o Imagem: Elysangela Freitas
Imagem: Nair Benedicto
colombiano Federico Ríos Escobar, que fez a série FARC, os últimos dias na selva, em função do acordo de paz entre o governo colombiano e as FARC.
a irlandesa Hannah Starkey, que fotografa modelos
e acessórios; Daniella Zalcman do Vietnã, que retratou
para documentar a perspectiva feminina em diversos
sobreviventes dos internatos canadenses, que causou
No grupo das fotógrafas brasileiras se destacam: a
lugares; Linda Al Khoury da Jordânia, que criou a série
genocídio cultural e trauma intergeracional, é fundadora
grande fotojornalista paulista Nair Benedicto, que fez
Substituição e é curadora do Image Festival Amman,
da Women Photograph, organização sem fins lucrativos
a imagem Mulheres do Sisal, na Bahia; a gaúcha Alice
A ideia é ter representantes de todos os estados, o
na Jordânia; a holandesa Rineke Dijkstra, que registra
que trabalha para apresentar fotógrafas mulheres e não
Martins, que cobre crises humanitárias e conflitos
que vai ocorrer na continuação do projeto. Também
crianças e adolescentes para mostrar a vida em transição;
binárias, conta com mais de 1000 jornalistas visuais em
armados no Oriente Médio; a pernambucana Renata
integram esta lista a Claudia Andujar que nasceu na Suíça
a iraniana Shirin Neshat, que criou a série Mulheres de
mais de 100 países.
Victor, grande fotógrafa, professora e curadora, criadora
e a Maurren Bisiliat que nasceu na Inglaterra, ambas se
do Curso Superior em Fotografia da UNICAP, bem
naturalizaram brasileiras.
Alá que aborda a cultura iraniana; a italiana Tina Modotti,
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Imagem: Shirin Neshat
que retratou a Parada dos Trabalhadores, no México, em
Os destaques dos fotógrafos estrangeiros são: o mítico
como a especialização As Narrativas Contemporâneas
1926; a israelense Elinor Carucci, que fotografa momentos
fotógrafo de guerra Robert Capa da Hungria, que criou
da Fotografia e do Audiovisual; a paraense Elza Lima,
Para os fotógrafos brasileiros, em destaque estão: o
íntimos da família desde os 15 anos; Irmina Walczak da
a Agência Magnum e retratou o Dia D da Segunda
que documenta as manifestações culturais paraenses,
grande fotojornalista baiano Evandro Teixeira, que
Polônia, junto com o seu marido Sávio Freire, registra o
Guerra Mundial, na França em 6 de junho de 1944; o
em especial o Círio de Nazaré; a paraibana Flora Negri,
trabalhou no Jornal do Brasil por décadas, criou a obra
cotidiano de sua família morando em diferentes lugares
francês Henri Cartier Bresson, atuou como fotojornalista
fotografa a si e aos outros de forma inovadora e
Canudos 100 Anos e 1968 Destinos 2008 – Passeata dos
do mundo; a suíça Hildegard Rosenthal, que atuou no
em vários países, co-fundador da Agência Magnum;
criativa; a paranaense Isabella Lanave, que criou a série
Cem Mil; o mineiro Sebastião Salgado, de fotojornalista
Brasil e foi fotojornalista da Agência Press Information.
Edward Steichen de Luxemburgo, que retratou a atriz
Fátima, sobre o imaginário de sua mãe por conta do
a fotógrafo documental, autor de várias obras, como
Glória Swanson e foi curado da Exposição The Family of
transtorno bipolar; a baiana Helen Salomão, que criou
Gênesis, que buscou fotografar os santuários do
Além destas também destacam-se: a autorretratista
Man; o romeno Brassai, que fotografou Paris à noite; o
o Projeto Fotopoético Casa Corpo Pele Parede; a carioca
planeta; o catarinense Araquém Alcântara, fotógrafo
norte americana que trabalhos iniciados na década
alemão Thomas Hoepker, que fez a polêmica imagem do
Ana Carolina Fernandes, fotojornalista independente
de natureza, autor de vários livros, em destaque para
de 1970, Cindy Sherman; a chilena Lotty Rosenfeld
atentado ao World Trade Center em Nova York, em 2001;
que registrou o Grafite na Zona Norte do Rio de
Terra Brasil; o potiguar João Oliveira, criador do Margem
que fotografou as ruas com intervenções artísticas
o inglês Cecil Beaton que retratou a famosa cantora Maria
Janeiro elaborado pelo coletivo @contraconsciencia e
Hub de Fotografia, em Natal, documenta história,
durante a Ditadura Militar no Chile; a mexicana Patricia
Callas, em 1956, fotógrafo de moda e da realeza britânica;
colaboração do @nogenta; a alagoana Maíra Gamarra,
cultura, decolonialidade e direitos humanos; o paraense
Aridjis, que criou a série Las Horas Negras retratando
o suéco Erik Johansson, que produz cenas surrealistas; o
que elaborou o ensaio Terra Incerta, que trata da relação
Gabriel Chaim, fotógrafo e cinegrafista independente,
os presídios femininos da Cidade do México; a peruana
russo Alexander Rodchenko, que fez a famosa imagem
da fotógrafa com a Bolívia, terra de seu pai; a mineira
documenta áreas de conflito e crises humanitárias, como
Cecilia Larrabure, que retratou o carnaval em Llachón,
Menina com Leica, em 1934, explorou os efeitos de
Marilene Ribeiro, criou a série Água Morta para mostrar
a Guerra na Síria; o brasiliense Ricardo Stuckert, fez
no Lago Titicaca, no Peru; Nikki S. Lee da Coréia do Sul,
convergência nas imagens; Juca Martins de Portugal,
as pessoas afetadas pelas hidrelétricas; a potiguar Luisa
imagens dos índios isolados do Humaitá, registra política
discute sobre raça e identidade ao participar e registrar
fotojornalista que fundou a Agência F4 e a Pulsar Imagens
Medeiros, que cria seus trabalhos em defesa de direitos
e os indígenas brasileiros; o paulista Cristiano Mascaro,
diversos grupos, utilizando inclusive roupas, maquiagem
no Brasil em 1957; o italiano Paolo Roversi, fotógrafo
humanos, contra o racismo, a gordofobia e a transfobia.
fotógrafo e arquiteto, documenta várias cidades do
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Imagem: Robert Capa
Imagem: Maíra Gamarra
Imagem: Alcir Lacerda
Imagem: Erik Johansson
mundo; o cearense Tiago Santana, documenta a romaria
Elysangela Freitas, Breno Rocha, Marina Feldhues, Carol
a Juazeiro do Norte, no Ceará; o capixaba Leonardo
Figueiredo, Douglas Fagner e Renato Menezes, grandes
Merçon, fotógrafo de natureza e conservação, criou
fotógrafos, com trabalhos incríveis, em breve outros
imagens para o Projeto Amigos da Jubarte; o paranaense
também vão participar.
João Urban, registra a vida dos imigrantes poloneses no Sul do país; o piauiense José Medeiros, foi fotojornalista
As pesquisas foram feitas em livros, catálogos de
da Revista O Cruzeiro, documentou o Candomblé; o
exposições,
carioca João Roberto Ripper, fotojornalista e fotógrafo
especialmente, através da participação de eventos e
documental, registrou e denunciou o trabalho escravo
festivais que ocorreram em 2020, como o 10º Festival de
infantil e conflitos indígenas; o maranhense Joelington
Fotografia de Tiradentes e o I Simpósio Latino Americano
Rios, que criou a série O que sustenta o Rio?, membro
de Fotografia do Rio de Janeiro. O contexto atual da
do Quilombo Jamary dos Pretos, em Turiaçu, em seus
pandemia causada pela COVID-19 trouxe novos temas
trabalhos une fotografia, vídeo, colagem e som; o
e olhares aos profissionais da fotografia, também aqui
pernambucano Alcir Lacerda, fez a imagem premiada
foram contemplados no projeto. Agradeço imensamente
E o amanhã?, publicada pela revista Time, criou a ACÊ
a todos que colaboraram com imagens e que participam
Filmes, foi homenageado no carnaval de Recife, em
diretamente no Instagram, no perfil @juliannatorezani
2013, e para o reconhecimento de grandes fotógrafos
fotografia
e,
Souza, Sofia Queiroga, Sidnei Gomes, Rafael Martins,
E-mail: juliannatorezani@yahoo.com.br
é ter fotógrafos de todos os estados. Com muito orgulho, também faz parte desse projeto
60
sobre
imagens de alunos dos cursos de Fotografia, como Paulo
UNICAP criou o Prêmio Alcir Lacerda. Igualmente a ideia
Imagem: Breno Rocha
específicos
Julianna Nascimento Torezani é mãe de Lis. Doutora em Comunicação pela UFPE. Mestre em Cultura e Turismo e Bacharel em Comunicação Social pela UESC. Professora de Fotografia e Iluminação do Curso de Comunicação Social da UESC. Sócia da Intercom, da ABCIber e da SOCINE.
e fotógrafas pernambucanos o Curso de Fotografia da
Imagem: Leonardo Merçon
sites
61
ARTIGO
MINHA TIA MESMERIANA
Sidney Rocha é escritor. Estuda Fotografia na Unicap. Esta crônica foi sua prova na cadeira de Semiótica, de Carol Monteiro, a quem o autor agradece.
Sidney Rocha
E
u conversava dia desses com um amigo. Ele tem trinta anos de idade e não alcançou a televisão de tubo. Eu comentava de como assistir TV numa casa pobre era, sobretudo, lutar contra fantasmas. As imagens chuviscavam, perambulavam “vivas” em ondas pelas ruas de areia do bairro. Algumas vezes, entravam nas casas. Quando saltavam vultos aos nossos olhos, enfim, eram resultado de um grande esforço de decodificação,
fruto mágico da nossa fé&desejo associados à fagulha arbitraríssima das válvulas. Desejo e fé. Duas tias minhas se converteram ao Espiritismo ou talvez ao Mesmerismo diante da TV, do fenômeno magneto-elétrico, ali na sala naqueles
anos 70. E o que viam ou imaginavam ver? Espectros se duplimultiplicando: vinte tarcísios-meira beijando incontáveis miasmas de glórias-menezes, nos infinitos pontos de flashes de luz e escuridão do tubo. Então, o trabalho da gente da casa era decidir, optar, entre o “real” e o espectral, e seguir por ali, perseguindo sua escolha hertziana. Víamos a programação de jeito particular e único, para além do que já sabemos de vivermos em mundos distintos, por conta de cada psiquismo e de cada caverna. Por isso, lá em casa a fenomenologia era mais embaixo. Cada qual tinha seu próprio repertório de não-imagens, sua experiência peculiar e sensorial. Extrassensorial algumas vezes. Formas. Metaformas. Metaformoses. Morfoses. Era o todo, depois cada parte dos fantasmas, que resultava a experiência completa. Portanto, não foram os alemães, mas nós, lá em casa, os criadores da gestalt. “Sou da geração que consumiu fantasmas”, eu disse para meu amigo. “Platão sabia disso mais que os artistas (da imagem) contemporâneos. Para ele, as primeiras imagens são sombras. Depois, reflexos num espelho d’água. Somente depois são os esses corpos opacos, brilhantes, onde a luz, para não fracassar completamente em sua travessia, se reflete neles. Se Deus é luz é somente o homem é fotógrafo, que Deus é este, o da imagem? É o deus da permanência, que luta contra a (nossa) morte, que vende a ideia de uma alma imortal, e nisso consiste o modo como nos relacionamos, mas
62
as imagens (máscaras mortuárias, sepulcros, câmeras,
contemporânea (mais antiga do que muitos pensam)
grotas) porque algumas imagens (primais, arquetípicas)
e a imagem-mídia são conceitos mais amplos, que não
antecedem inclusive as ideias.
cabem numa simplificação somente possível nessa categoria da fé. A fé é uma simplificação, tia, como a felicidade é também, o senso comum, eu pensava. Uma
“Entendo”, meu amigo respondeu.
imagem é também uma simplificação, um fantasma. Uma evocação. Já não queremos a ideia da Sombra (arquétipo
Aproveitei que ele mentia e pulei uns séculos.
ou fenômeno natural da luz projetada)? Platão que se “Somente mais à frente passamos a entender a
exploda. Nem queremos somente a Imago, a ideia da
imagem como objeto, em si. E depois a imagem no
máscara mortuária, portanto de novo a imagem de um
sentido avassalador, invasivo, a imagem midiática, toda
fantasma. Ou de um sonho. Minha tia não conheceu a
relacionada ao desejo, ao consumo, em um tempo-
ortodoxa judaica Mélanie Klein nem o católico Lacan, nem
espaço onde todo tipo de imagem coexiste, disputa, e
Henri Wallon, que não sei qual fé professava, nisso das
que não quer somente nossa contemplação. Não busca
imagens mentais, oníricas, sobretudo das crianças.
somente familiaridades ou reconhecimento. As imagens requerem novas experiências psicológicas catalogáveis,
Infantilmente, queremos a ideia do homem-imagem-
úteis para os mercados dos you-tubos e dos I’Tudos. Essa
semelhança, que a filosofia e o mundo judaico-cristão
estesia, hiperestesia, hístero-estesia, é a nova Aestesis
nos ensinou, imagens diante das quais nos prostremos,
ou Estética, a experiência-total, da imagem-total, meio &
imagens-vivas, de um novo monoteísmo, amém, querida
mensagem ao mesmo tempo.
Tia Mesmeriana? A fé que vence a ideia da morte. A morte é imagem e permanece imagem, como disse o morto Barchelard. Eis uma imagem que precede sua própria
“Medium”, diria minha tia Mesmeriana.
ideia. Mas
ela
não
precisa
entender
que
a
imagem
63
Mas voltei a dar atenção ao amigo.
“E como as sociedades lidam com essa ideia, você sabe?”
“Somos nós agora os aparelhos.”
“Não,” respondeu.
“’Aparelhos’?” Ele perguntou. “A palavra ainda é do mundo
“Eu lhe digo: por compensação.”
anos que frequenta o texto acadêmico, é lugar-comum,
Explico: gramática especulativa é a soma de todos os signos
mas serve ainda para apontar para as ambiguidades, os
possíveis, interpretação, denotações, significações...”
vários sentidos de algo, sobretudo na fotografia, esse tipo de representação. Uma
dos espíritos, não?”
representação
“Compensação?”
representado.
“Sim. Sob a eterna ameaça da morte, lidamos com as
Errado.
“Entendo. Um alfabeto próprio. Um “letramento”. sugere
a
pré-existência
do
“Nada. Esqueça essas palavras da moda. É mais do que isso e é mais simples ainda: uma ciência que é ao mesmo
“Eu sei.”
tempo (sua própria) linguagem.”
No fundo, toda imagem, uma fotografia, por exemplo,
imagens do modo imediato. Por símbolos. E símbolos
é sobre a morte. A “alma do mundo”. Sobre um tempo
não têm necessariamente correspondência natural com
Para Pierce, a de sua teoria os signos, por exemplo, essa
morto. Toda imagem termina sendo um tipo de memento
a coisa. Os símbolos são essa compensação. As imagens
correspondência não é obrigatória. A representação
“Isso. A Teoria Geral do Tudo. É isso. Você entendeu. Na
moris. Toda foto carrega uma única legenda: “Lembre-se.”
servem para nos submeter.”
pode ser usada pra qualquer algo, qualquer coisa, visível
mosca.”
O resto é retoricismo.
“Beba mais.”
imaginadas, até.
A forma como a sociedade lida com as imagens está
“Quem transmite uma imagem submete um inocente”,
O signo é o agente de alteração, o que nos faz
partir dessa gramática que fotógrafos podem buscar
intimamente ligada à forma como lida com a ideia-
não é assim que disse aquele filósofo?”
compreender, ampliar ou mudar nosso entendimento
classificações, análises para variações da linguagem,
sobre as coisas do mundo. Inclusive o mundo. Disso
sinais, códigos, buscando novantigas objetivações &
trata o signo. Das coisas. Coisas que se confundam com
interpretações.”
“Uma tudologia.”
e invisível, ao mesmo tempo, fantasmagorias sequer “Por isso ela é importante em todas as éreas do conhecimento e mais ainda na prática fotográfica: é a
imagem-símbolo
da
morte.
Mesmo
que
sejamos
sociedades humanas híbridas, em fusão, não deixamos
“Qual?”
objeto que o signo consiga ser aplicado para lhe dar um
de ser sobretudo simbólicos.” “Régis Débray.” perguntou.
valor. Denotativo ou conotativo. De três categorias, pelo
“Ora, que seja. O ato fotográfico é também arbitrário.
“Caracas. Você conhece esse fantasma?” “Pare. Você não vai me dar aula.”
“Da nossa. Da de todos os tempos.” “Retórica. Isso não diz tudo.” “Quando falo das sociedades me refiro à sociedade onde
“Arbitrárias.”
menos. Primaridade...
“Mas de quais sociedades você está pensando?”, ele me
O ato fotográfico é um ato ditatorial. De ruptura. O enquadramento não é somente uma ‘moldura’, mas um
Eu não disse ao amigo nem sim nem não. Débray influenciou toda uma geração à luta armada contra a
Pensava alto. Eu só estava tentando dizer que o signo é
ato intencional, intelectual e profundo, escolhido para
ditadura no Brasil. Quando cheguei ao Recife, um velho
algo que, em algum panorama ou modo, representa algo
representar parte do mundo, objetivo ou não. Não é à toa
professor me falava dele como alguém vivo, da família. E
para alguém. Mas isso diria Pierce, para quem a semiótica
que o obturador se assemelha a uma guilhotina. Várias.
esse professor perdera um irmão para o regime.
é somente uma parte de suas formas de interpretar o
Uma foto é um corte. Uma decepação.”
mundo, sua lógica, ética e estética. Contudo, deixei o
todos vivem. Onde vivemos. Está bom assim para você? “Isso é outro papo”, desconversei. E bebi mais.
amigo em paz, um pouco.
“Você parece irritado.”
Estava indo longe demais nisso da história das
Como aqueles malucos do filme “O ponto de mutação”,
“Não estou.”
são mais sociedade que nós, os vivos, os visíveis. São
mentalidades, ou seja, de como as imagens influenciaram
tergiversava, sozinho. Pensava como a teoria semiótica
em maior número. Diante da TV miasmática de sua tia,
mais e menos a sociedade. A “imagem” da família diante
serve para lidarmos tanto com uma abstração quanto
estaremos sempre nos reportando a chuviscos, chiados,
da TV da casa-morta ainda se me iluminava como fosse
com
a imagens imperfeitas, por nunca mais se completarem,
uma fotografia. Eu pensava mais para dentro agora,
mentalidade.
fotografia.
Não estava. Contudo, a ideia-imagem da morte voltava a
pretéritas, de homens e mulheres das quais não sabemos
em um mundo interior deflagrado por essa iconografia
Sobretudo a fotografia, esse ente híbrido: antes físico-
perambular pelo ambiente e saí para respirar um pouco,
mais os nomes, mas nos afligimos pelo que acorreu a eles
pessoal, tardia, sentimental, em certa semiologia;
química, hoje menos que o ar, informação e nuvem. A
ali onde os outros se fumavam.
buscava recuperar, agora usando o intelecto, tentava
semiótica está intimamente ligada à imagem e seus
ler (“intelecto” vem de legere: ler, escolher) a imagem
usos e, particularmente, à fotografia e ao ato e a prática
Voltei. Quando me sentei, era a imagem do olho-signo
Ele tinha razão. Não há outro assunto para a literatura
por dentro da coisa, seu aspecto simbólico, o panorama
fotográfica.
do filme de Bruñel que não deixava de ocupar todos os
ou as artes: Amor+Morte. Amorte. A contra-imagem do
interno da forma que é ao mesmo tempo conteúdo,
“Mas aí está seu erro.”, ele me disse. E prosseguiu: “Note: a maioria das sociedades está morta. Nossos antepassados
e que, inexoravelmente, nos ocorrerá.”
primeiro mistério a enfrentar. Essa presente Ausência,
reviravolta, paradigmas.
uma
cadeira. Uma
Um
comportamento
Fotografia
ou
uma
ou
“Mas parece. Beba menos.”
uma
meus pensamentos. A navalha, para além da navalha, Sua importância ou relevância na fotografia está na
dinamicamamente.
construção de uma gramática própria, especulativa, no
essa ausente Presença. Disforme e horrível efígimagem. Meu pensamento era um carrossel. Santaela cita Bazin
desenvolvimento de uma lógica crítica, baseada nessa
A sensação era que o uber me levaria para casa, a
Não importam as revoluções técnicas, as novas culturas
apud Dubois: a fotografía terminou por criar uma
gramática.
estranha antiga casa-morta, no passado, onde as velhas
do olhar, as imagens sempre serão um incômodo visível
“reviravolta radical na psicologia da imagem”. Esse é
para uma angústia invisível, com a qual conviveremos até
um dos três paradigmas da imagem. Paradigma é uma
o último disparo do botão, o último touch da tela.
palavra paradigmática, hoje. A palavra tem uns sessenta
tias dormiam na sala, diante da TV, profundamente. “Gramática? Especulativa?” “Poxa”, respondi ao amigo. “Pensei que você dormia.
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65
ARTIGO
MEMÓRIAS DOS TEMPOS DE USINA Rosália Cristina de França
Este artigo surge das lembranças que a autora tem da Usina Jaboatão na época de sua infância. Uma relação intrigante e curiosa de uma criança que achava
Foto de Rosália França de porta-retratos com imagens antigas de autoria anônima da Usina Jaboatão.
aquela construção magnífica: a Usina falava com seus sons e cheiros, e isso despertava a curiosidade. Se a autora tinha suas lembranças, imagine quem trabalhou e viveu de perto aquele lugar? Acessar essas lembranças era não
A USINA JABOATÃO
deixar essa história desaparecer com o tempo e também mostrar aos antigos funcionários a importância que cada um teve na trajetória da usina. Assim, a proposta foi resgatar essa história com imagens dos antigos trabalhadores da
As terras onde se localizava a Usina Jaboatão, na zona da
Diogo Soares, que construíram um engenho de açúcar
usina entrevistados e das ruínas que vem sobrevivendo ao tempo da Usina
Mata Sul de Pernambuco, delimitada até às margens do
com o nome de Nossa Senhora da Assunção, que veio a
Jaboatão.
Rio Jaboatão, foram cedidas a Sesmaria, no século XVI, por
ser padroeira do engenho. O local da Usina era nas terras
Duarte Coelho de Albuquerque, em 1566. Gaspar Alves
adquiridas em Jaboatão, onde também foi construído o
A cana-de-açúcar trazida para Pernambuco por Duarte Coelho Pereira, em
de Pugas foi o primeiro titular da Sesmaria, em 1575 sua
engenho Suassuna, situado na ribeira do rio Jaboatão
1553, encontrou no estado clima e solo compatível para o plantio e cultivo,
demarcação foi efetuada nos 1° Anais Pernambucanos
(USINA, [1996]).
proporcionando uma grande gama de variedades de cana. A chegada da
pág. 371, vol. 1° (USINA, [1996]). Gaspar Alves de Pugas
cana, além do seu manejo e cultivo, trouxe consigo mudanças no estilo de
vendeu uma parte da Sesmaria a Fernão Soares, em 1573,
Sob a dominação da Progresso Colonial, a Usina Jaboatão
vida das pessoas que ali já habitavam: mudanças na cultura, economia e
com a escritura lavrada em 15 de Setembro daquele ano,
é fundada em 24 de setembro de 1895, segundo contrato
na natureza. Esse acontecimento contribuiu para que a coroa Portuguesa
tratava-se de uma área de 1.200 braças de norte a sul
firmado em 04 de outubro de 1895, com uma produção
destruísse gradativamente as matas que aqui encontraram, impondo, com
por 60 braças de leste a oeste, vendida por duzentos mil
estimada de 150 sacos por dia e 04 caminhões pipas
a plantação da cana, a monocultura como a única opção de plantio sem dar
réis. Como forma de pagamento no documento de venda,
de álcool (USINA, [1996]). De 01 de julho de 1905 a 31
chance, por exemplo, para as lavouras de subsistência (SILVA, 2010). O Brasil
Gaspar Alves concede cana-de-açúcar para ser moída no
de janeiro de 1908 a Companhia Progresso Colonial se
por muito tempo foi o principal país a produzir açúcar, com sua economia
engenho que Fernão Soares (USINA, [1996]).
chamava Usina Santa Teresa. A Usina só passou a ser
estável e detentora de muitos lucros, mas isso mudou com a concorrência
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denominada Usina Jaboatão, em 1914, com capacidade
colocada pelos holandeses nas Antilhas, instalando uma crise no Brasil ainda
Com o passar do tempo Fernão passou a ser dono da
diária de 200 toneladas e uma linha férrea com 40
Colônia (SILVA, 2010).
maior parte da Sesmaria de Gaspar, junto com seu irmão
quilômetros de extensão. (USINA, [1996]). 67
Imagem 02: Foto de Rosália França da escadaria do sobrado, 2020.
A Usina passou para os domínios de Antônio Martins mas, após sua morte , em 1943, a viúva e seus filhos, Guilherme, Armando e Joaquim instituíram uma sociedade feita por cotas, com escritura publicada em 20 de Maio de 1943 sob a denominação de Indústria Açucareira Antônio Martins de Albuquerque Ltda, composta por: Engenho Caxito, Pedra Lavrada, Bom Dia, Guarany, Palmeiras, Contra Açude, Mato Grosso, Brejo, Floresta, Caraúna, Javunda, Canzanza, Sacupeminha, São Joaquim, Penamduba, Santo Amaro, cujos os lotes também faziam parte do patrimônio (USINA, [1996]).
Imagem 05: Foto de Rosália França do que restou do bueiro, 2020.
Imagem 03: Foto de Rosália França das ruínas do sobrado, 2020.
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Imagem 04: Foto de Rosália França da frente do sobrado, 2020.
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OS RELATOS SOBRE A USINA JABOATÃO A Usina Jaboatão foi um lugar que já teve tudo e hoje
As lembranças, acreditamos, tem o poder de fazer voltar
só tem as lembranças de um tempo de muita riqueza,
no tempo, de mostrar sua forma mais bruta, sobretudo,
carroças, casa da Maria Farinha, do horizonte infinito da
vinda daqueles que, sem perceber, fizeram história da
própria cana-de-açúcar, das benzedeiras, das parteiras,
Usina, a exemplo do auxiliar de fiscal, do analista, da
da cachaça mais pura que alguém já fez com as forças de
tesoureira e do soldador enfim, personagens anônimos
suas mãos.
que passaram pela Usina Jaboatão.
Imagem 07: Foto de Rosália França de Adalgiza Ribas, D. Dida, ex-funcionária da Usina Jaboatão.
Imagem 06: Foto de Rosália França de José da Hora, Zé da Hora, ex-funcionário da Usina Jaboatão.
O auxiliar fiscal José da Hora relata que chegou às terras da Usina Jaboatão por volta dos 14 anos, quando iniciou os trabalhos como lenhador para abastecer a Maria Farinha. Conta também que sua maior alegria foi quando, em fevereiro de 1964, recebeu sua carteira de trabalho, “o número do meu cartão era 01, eu chorei de alegria”. Descreve que sua maior saudade daqueles tempos é a locomotiva, pois anunciava o início e o fim da moagem da cana-de-açúcar. Adalgiza Ribas, mais conhecida por Dona Dida, conseguiu seu primeiro emprego na usina em 1972 e trabalhou lá até a usina fechar, em 1995. Sua família já trabalhava há anos para os donos da usina. Ela começou no escritório, no departamento de pessoal e depois se tornou a tesoureira, orgulhosa dos tempos de serviço prestado à Usina. Conta que sua maior lembrança era da calmaria do lugar, da sensação de paz e do sentimento de pertencimento.
Imagem 08: Foto de Israel Antônio dos Santos, Seu Zé, ex-funcionário da Usina Jaboatão.
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Muito saudoso, Israel dos Santos conta que foi funcionário da usina nos anos de 1956 a 1989, quando teve um acidente
e que nenhum dinheiro poderia
de trabalho e se aposentou. Assim como Zé da Hora tem muitas saudades da locomotiva, foi por um período maquinista
comprar.
e diz que o trabalho era animado: “essa época nunca sai da minha mente”, afirma.
mesmo sem perceber, foram autores presentes
Todas da
essas
história
pessoas, da
Usina
O senhor José Mariano, que trabalhou como fiscal de moagem e analista, de 1975 a 1995, traz lembranças sensoriais
Jaboatão, ouvir seus depoimentos
do período que a usina moía e relembra do característico “cheiro do mel da cana de açúcar soprado pelo vento” e
foi voltar no tempo, sentir o cheiro
do apito da locomotiva que avisava quando estava chegando com o câmbio de carro do engenho. Uma das maiores
da cana queimada, o som da Maria
saudades do Seu Mariano está relacionada às amizades, segundo ele, “o convívio era ótimo”.
fumaça, as caldeiras e seus vapores, e as buzinas dos caminhões. Sem esquecer, jamais, dos que já se foram, mas deixaram suas marcas.
REFERÊNCIAS MELO, Mário Lacerda de. O açúcar e o homem: problemas sociais e econômicos do Nordeste canavieiro. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de
Imagem 11: Foto de Rosália França de um dos cômodos do sobrado, 2020.
Pesquisas Sociais, 1975. SILVA, Girlan Cândido da. A representação socioeconômica da cana de açúcar para a região da zona da mata de Pernambuco. In: Revista eletrônica do curso de geografia – campus Jataí/UFG. Jataí-GO, n.14, jan-jun/2010. USINA Jaboatão. Pernambuco, [1996].
Imagem 09: Foto de Rosália França da fachada do sobrado, 2020.
De minha parte, em especial da minha infância, e das luzes e espaços que podia observar da janela de minha casa, sentada, via admirável a Usina em meio aos galhos das árvores do quintal e também da frente. Uma criança que passeava, visualmente, em imaginações e curiosidades de como seria aquela estrutura (usina) por dentro. Este trabalho teve o objetivo de, a partir das memórias de criança, ter a honra de contar e trazer à tona a memória de alguns que dedicaram sua vida à Usina, e até falar um pouco de fatos históricos que essa autora desconhecia. Ouvir Imagem 10: Foto de Rosália França de porta-retratos com imagens antigas de autoria anônima da Usina Jaboatão.
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cada relato foi encontrar uma pedra preciosa na sua forma mais bruta
Imagem 12: Foto de Rosália França de um do salão principal do sobrado, 2020.
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ENSAIO
Uma história de resistência e persistência. Adelson Alves
Passando pela cidade de Garanhuns, na charmosa Av. Rui Barbosa, com seus canteiros e constantes mudanças, lá no nº 558, existe um pedacinho congelado do tempo. Entrar pelas suas portas é como voltar 110 anos, dos quais, os últimos 60 têm sido administrados pelo Sr. Daniel, um homem de bom coração e sorriso amplo, uma figura carismática da cidade, muito querido e respeitado por todos. Este lugar é um clássico na cidade, localizada no Agreste do Estado. Já rendeu muitas reportagens no país e também no exterior. O local é muito visitado por fotógrafos, filmmakers e jornalistas. A história da lojinha sempre é contada como um caso de resistência ao tempo. Apesar de tudo ao seu redor ter mudado ao longo dos anos, ela permanece do mesmo jeito. O Sr. Daniel nos faz lembrar o Sr. Carl Fredericksen, da animação Up, dos Estúdios Pixar, com todo seu amor e cuidado pelo estabelecimento. Todas as vezes que alguém chegou querendo arrendar, alugar ou oferecer qualquer tipo de negócio pelo imóvel, foi posto para correr pelo icônico senhor, que relata sua célebre frase: “nem fui atrás de você e nem estou precisando de dinheiro! Deixe minha lojinha em paz!” E esta é a história de Sr. Daniel e de sua lojinha. Uma história de resistência e persistência.
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ENSAIO
ITAPUAMA BANHADA DE PETRÓLEO Rosália Cristina de França 1 Johnatta Vitor Silva Marinho 2
Este ensaio foi realizado com câmera DSLR Nikon d3100 e d3200, com lente 18-55, em 23 de outubro de 2019, durante um dia de acompanhamento das ações dos voluntários na limpeza da praia de Itapuama/PE em decorrência do derramamento de óleo cru que atingiu diversas praias do Nordeste brasileiro, sendo este vazamento o maior da história do país. Passados quase dois anos do crime ambiental, ainda são imensuráveis os danos que tamanha poluição causará a curto e longo prazo à população das áreas atingidas e ao meio ambiente. O petróleo é um combustível fóssil que possui diversas substâncias tóxicas, como o benzeno e hidrocarbonetos que causam severos danos aos pulmões, pele, sistema nervoso, intoxicações, infecções. Mesmo após a retirada do piche das praias, esses componentes químicos continuaram circulando na corrente marítima, sem que sejam percebidos a olho nu. O material derramado no Oceano Atlântico atingiu o litoral do Nordeste em final de agosto e causou danos à saúde humana, à economia local e ao ecossistema. A chegada oficial do óleo na praia de Itapuama foi constatada por volta das dezesseis horas do dia 21 de outubro de 2019. Neste mesmo dia, moradores locais, nativos da praia, surfistas e frequentadores deram início às ações voluntárias de limpeza que foram até o anoitecer daquele dia e continuaram no dia seguinte. Os voluntários trabalharam por dias, sem equipamentos de proteção, sem ferramentas que facilitassem a retirada do óleo, não estavam preocupados em saber se o material era tóxico para a saúde, apenas queriam sua praia de volta, sua fonte de sustento e vida. 1 Discente do curso de Fotografia da UNICAP. Rosaliacfranca@gmail.com 2 Discente do curso de Fotografia da UNICAP. Johnmarinho13@gmail.com
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ENSAIO
Comunidade do Pilar: a verdade a céu aberto. Arnaldo Sete
As imagens foram produzidas durante o módulo na disciplina Linguagem Fotográfica I ministrada pelo professor João Guilherme na graduação em Fotografia na Unicap. Nesta ocasião abordamos a linguagem do fotojornalismo. Sendo assim, elaborei uma pauta com o objetivo de mostrar as dificuldades enfrentadas pelos moradores da Comunidade do Pilar, localizada no bairro do Recife, no que diz respeito à falta de saneamento básico e o fornecimento de água tratada para os moradores da área.
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ENSAIO
A fé em tempos de pandemia Douglas Fagner
Em 30 de setembro de 2020 participei de uma aula no terreiro de Pai Vadindo, em Passarinho, Olinda. Fui convidado para fotografar o evento e fiz um recorte sobre a pandemia e sobre como ela mexeu com os costumes do povo de terreiro. Esse problema, de ver a realização de seus rituais serem impedidos, não é novidade para os povos de terreiro, uma vez que sempre enfrentaram restrições parecidas por conta da intolerância e do racismo religioso. Hoje, de alguma forma, todo mundo sabe a dor de não poder cumprir os seus rituais com liberdade. Por conta da pandemia, foram criadas formas diferentes de realizar as tradições e os costumes tiveram que ser reformulados e adaptados aos protocolos de cerimônias religiosas. Alguns instrumentos simbólicos foram revistos para que pudessem ser cumpridos nos rituais sem a presença do corpo. Tentei registrar com imagens o silêncio, o recolhimento e a introspecção que esse novo momento trouxe para os rituais.
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ENSAIO
Chega de violência contra a mulher Fotos:
Danyllo Feliciano da Silva A violência contra a mulher é um problema antigo e
Fatores como a falta de informação e de apoio às vítimas
mundial, perpassando séculos e culturas distintas.
de violência doméstica tornam-se obstáculos resistentes
Todavia, só há pouquíssimo tempo, em contexto histórico,
para que o sistema de Justiça enquadrem mais casos de
organizações mundiais começaram a se organizar contra
violência doméstica. Não obstante, o fator medo se faz
esse tipo do violência. Levando em consideração sua
o mais recorrente na não denúncia desses casos. Um
frequência, faz-se necessário constantemente falar sobre
outro agravante que pode-se citar na atual situação do
a temática.
país é o isolamento social causado pela pandemia do Covid-19. Esse quadro social, levou mulheres a passarem
Com o surgimento da cultura patriarcal, a mulher tem
mais tempo em casa com seus maridos e agressores,
seu papel no âmbito social desfeito, se encaixando em
aumentando o número de ligações para o 180 (Central de
posição de submissão e devoção aos seus maridos.
Atendimento à Mulher) em 36% (MORAES; CARVALHO; DA
À vista disso, a mulher teve sua liberdade limitada de
SILVA CUNHA, 2021).
forma mais autoritária possível. Logo, é nesse contexto de inferioridade que surge a violência contra a mulher
Diante da gravidade e recorrência da temática, foi tido
(MORAES; CARVALHO; DA SILVA CUNHA, 2021). Assim,
como necessário contribuir para a literatura local. Dessa
coube a elas lutarem pelo seu lugar na sociedade e pela
forma, o presente ensaio foi desenvolvido em conjunto
criação de leis que visassem defender sua atuação e
com a aluna de Psicologia da FACHO Débora Martins
integridade física e mental.
para ser utilizado em seu artigo. No ensaio é retratado a história de uma mulher vítima de violência doméstica.
No Brasil, a causa feminina conseguiu levar à vigência
Durante a sequência de fotos, é percebido que as
a Lei Maria da Penha, n°11.340. Todavia, nem mesmo a
agressões começam através de pequenos machucados,
criminalização da violência contra mulher foi capaz de
que vão aumentando até chegar ao triste fim, mais um
sanar esse problema social, visto que a cada 4 minutos
caso de feminicídio.
uma mulher é agredida (MORAES; CARVALHO; DA SILVA CUNHA, 2021). Essa violência doméstica, que muitas
REFERÊNCIA
vezes começa com agressões psicológicas, evoluindo para
MORAES, Ana Beatriz Guedes; CARVALHO, Ana Carolina Silveira; DA
agressões físicas, terminam em feminicídio, encerrando,
SILVA CUNHA, Carolina. As faces da violência contra a mulher. Jornal
assim, o ciclo de violências.
Eletrônico Faculdade Vianna Júnior, v. 13, n. 1, p. 28-28, 2021.
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luz. Algo que possui nuances e que podem se revelar em diferentes intensidades, na opacidade, na transparência, no brilho... No dia a dia, essa instabilidade pode ser mais claramente experimentada na hora do lusco-fusco, do alvorecer, quando as silhuetas se acentuam, e, logo em
ÁUDIODESCRIÇÃO
seguida, aos poucos, as cores vão ganhando definição, a paisagem fica iluminada, e se mostra em cores. O oposto acontece durante o crepúsculo. Essa volatilidade da cor fica ainda mais evidente quando usamos os
o registro das cores amplia a experiência estética
diversos dispositivos digitais imagéticos para produzir ou reproduzir cores. Por exemplo, o uso de um programa de design que fixa e define uma paleta de cores, não garante que determinada cor será vista igualmente em outras telas, menos ainda na impressão do papel. Na audiodescrição de fotografias, detalhes simples, como o de mencionar o céu azul ou cinza já dá o indicativo do tempo; falar a cor da pele de uma pessoa fornece informação étnico-social. “Ver” por meio da audiodescrição é uma experiência cognitiva-sensorial
Liliana Tavares
1
Foto em preto e branco na horizontal do rosto de um caboclo de lança de meia idade. Ele tem feições que evidenciam sua ancestralidade afro-indígena. Tem o nariz largo e bigode fino, rente ao lábio. Olha para a esquerda e ao longe. Tem um cravo branco no canto esquerdo da boca, preso pelos dentes, de onde sai um trancelim fino. Usa um lenço estampado ao redor da cabeça, amarrado no queixo; e, por cima, o chapéu,
que sempre questiona o entendimento de ver apenas em
de aba larga, densamente coberto por fitas finas e
função do sistema ótico.
leves. Sobre os ombros, vê-se parte da gola bordada de lantejoulas.
A
Nestes dois exemplos de audiodescrição das fotografias inda existe o mito de que as pessoas com deficiência visual não conseguem “ver” as cores. Grosso modo, as pessoas com deficiência visual podem ser divididas em três grupos: 1 pessoas que nasceram sem a visão, as cegas congênitas; 2- pessoas que perderam a visão, as cegas adventícias; e, 3- pessoas que têm baixa visão, sendo este grupo muito diverso
em graus de acurácia da percepção visual. Assim, a experiência com as cores vai depender, não apenas da condição física, biológica, mas também de vivência psicossociocultural de cada indivíduo. Portanto, mesmo quando um cego me diz que “as cores não têm nenhum significado” para ele, que “dizer ou não dizer uma cor dá no mesmo”, e que ele só quer saber das cores das roupas na hora da compra, para poder marcá-las e saber como escolher as peças na hora de vestir, eu percebo aí, nesse ato da escolha da cor da roupa, já uma forma de significação da cor. Nesse momento, ele se contradiz e revela a necessidade de participar do significado cultural do uso da cor adequada da roupa para cada ocasião (horário, local, propósito), e busca replicar a referência estética para uso de uma de cor de roupa (moda, estilo, representação de personalidade, status). Ao contrário do exemplo acima, a maioria das pessoas com deficiência visual valoriza e se interessa pelas cores. Elas entendem que as cores podem estimular a construção de significados, de sensações e de estados emocionais que ganham corpo na relação com diversos estímulos imagéticos. Flavia Mayer (2018) propõe uma perspectiva de auto-organização criativa do processo de conceitualização das cores, tendo em vista as especificidades do público com deficiência visual. Essa auto-organização é a forma como cada um faz sua cadeia de associação e imaginação. Além de todo o aspecto cultural e simbólico que envolve as cores, trabalhar com elas, e também com a ausência delas, é lidar com algo que é mutável e que varia de acordo com a incidência de
1 é, audiodescritora; coordenadora do Festival VerOuvindo, @verouvindo; gestora da Com Acessibilidade Comunicacional, @comacessibilidades; doutora em Comunicação pelo PPGCOM/UFPE; mestre em Educação e graduada em Psicologia
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de Renata Victor, uma em preto e branco e outra colorida, é possível observar o quanto de informação está contida nas cores. Sabe-se que, tradicionalmente, a cor predominante do chapéu de um caboclo de lança é a cor do “guia”. Nesse caso, o chapéu é amarelo dourado, a cor de Oxum. As cores carregam aspectos subjetivos, muitas vezes significados arquetípicos que podem e devem fazer parte do universo da pessoa com deficiência visual por meio da audiodescrição.
REFERÊNCIAS MAYER, Flávia Affonso. A importância das coisas que não existem. Construção e referenciação de conceitos de cor por pessoas com cegueira congênita. BH: Editora PUC -Minas, 2018.
Foto colorida na horizontal do rosto de um caboclo de lança de meia idade. Ele tem feições que evidenciam sua ancestralidade afro-indígena. Tem nariz largo, pele queimada do sol, e bigode fino, rente ao lábio. Olha para a esquerda e ao longe. Tem um cravo branco no canto esquerdo da boca, preso pelos dentes, de onde sai
DOMINGUES, Celma dos Anjos. A Educação Especial na Perspectiva
um trancelim prateado fino. Usa um lenço estampado
da Inclusão Escolar: os alunos com deficiência visual: baixa visão e
azul, vermelho, amarelo e roxo, ao redor da cabeça,
cegueira / Celma dos Anjos Domingues ... [et.al.]. - Brasília: Ministério
amarrado no queixo; e, por cima, o chapéu, de aba
da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza] : Universidade
larga, densamente coberto por fitas douradas, finas
Federal do Ceará, 2010.
e leves. Sobre os ombros, vê-se parte da gola bodada de lantejoulas coloridas, cada linha de uma cor: branca, vermelha e azul. O dourado brilhante do chapéu reflete sobre rosto suado. O canto inferior direito, com fitas e parte da gola, está desfocado.
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COLUNA
CATÁLOGO
A formação de um coisógrafo Sidney Rocha
Olha o passarinho!
1
“Num meio-dia de fim de primavera”, o poeta Alberto Caeiro teve “um sonho como uma fotografia.” Sonhou com figuras sagradas e coisas banais – onde geralmente a verdadeira poesia mora. Talvez pudesse se dizer: um sonho “de formação”, “bildungsroman”, como
a expressão aparece no métier literário. O termo deve ser a base para este texto. Espero. Deixemos o poeta ali, no seu meio-dia que nada tem a ver com o Demônio do Meio-dia de Solomon. Mas, de alguma forma, com seu (e meu) daimon.
Betânia Corrêa de Araújo
Vejamos onde chego. Uma leitura das mais marcantes da minha garotice, depois do Quixote de Cervantes, foi um desses “bildungsromans”: Anos de aprendizado de Wilhelm
N
Meister, de Goethe. A cada edição que compro, vou lá e marco a mesma oração as festas de família do século XX, além de louças e talheres, toalhas e doces, uma nova ferramenta entrou em cena. A câmera fotográfica. Muitas leicas foram adquiridas por fotógrafos amadores para registrar batizados, festas religiosas e almoços de família. São fotografias que permanecem no nosso convívio em paredes e porta retratos e nos conectam
com o passado por meio de imagens que esbanjam poesia. O sabor do tempo, revelado na oxidação dos papéis fotográficos muitas vezes abandonados em brechós e feiras de antiguidades, emociona pelo afeto ou por mera curiosidade. São imagens de um tempo em que a fotografia tinha o valor da modernidade.
ou reza: “Instruir-me a mim mesmo, tal como sou, tem sido obscuramente meu desejo, desde a infância. Ainda conservo essa disposição.” A essa altura do romance, Wilhelm, o protagonista, está vivendo seu inferno na Terra. Naquela época, tínhamos isso em comum. Verões os mais duros, outonos injustos, grandes invernos foram bem marcados e eram mais fins que primaveras, na vida. Ah, não culpo o Sol nem os planetas. A vida para mim sempre foi sobre minhas escolhas e de ninguém ou nada mais. Ali estava à prova minha formação, a ferro&fogo. Esse fogo&ferro se chama literatura. Ela me levou por essas estações, sonhando o sonho de outro poeta, Rimbaud, de sentar a Beleza em meus joelhos. Sem tantas forças para injuriá-la.
Ser moderno era revelar-se.
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a raizinha do espírito, onde ela se inseria ou se extraía do corpo. E os dois
4
livros juntos me ofereceram um caminho ou formação empolgantes, porque
linguagem. “Coisa”, aqui, são vapores ou plasmas, como no meu Aminioticus
paradoxais. Minha tentativa cartesiana de dissecação, de encontrar os reinos
mundi, que só existe enquanto se derrete no interior do vidro. Um espírito
ou as partes – e, nisso, a Verdade –, se contrapunha à ideia de Hegel, de que
vítreo em convulsão e falência. E o que não?
2
De novo, a leitura piorou tudo. Em 2009, mais ou menos, li a tradução de Fenomenologia do Espírito, de Hegel. Havia lido dois anos antes um livrinho de nada, As paixões da alma, de Descartes, e desde lá andava com meu bisturi estético, estésico, tentando encontrar
Então discutimos o tema, eu e Renata. E o tema não seria o objeto. Mas a parte. Esqueça a ideia da gestalt, esses psicologismos não servem aqui. É sobre determinada “aura”, Daimon. Do espírito dessas coisas que há em tudo e que tenta sobreviver em busca de
uma singularidade ou autenticidade esquecidas. Um mundo todo feito de
só há a verdade no todo. O velho romancista aprendia com o aprendiz de fotógrafo. Eu estava Então guardei essa dúvida extática na sacola, à espera daquela longa
disposto a criar o fluxo de consciência, agora na fotografia. Era sobre isso.
temporada no inferno, ou no céu, sei lá, onde houver boa conversa, que nesse
Sobre espiríticoisas irreprodutíveis. Nalguma hora copiados, contudo esses
mundo não mais. E, enquanto não vinha o chamado, me matriculei no curso
coisespirítos não existem mais. Nunca existiram. Sua efemeridade é sua
de fotografia de Unicap.
eternidade. Fluxos mediados pela fotografia e sua capacidade de marcar o passado-morto, de algo e romper aurasespíritos.
Como escritor, precisava aceitar outras formações. Uma delas era a de fotógrafo. Era preciso aprender a “olhar para as coisas”, como dizia o poeta
Nisso resta falar de uma intenção política, o direito à existência, de um
Caeiro, se referindo ao seu sonho-fotografia. Saber de “todas as coisas que há
universo híbrido, deslocado, transviado, de personagenscoisasespíritos sem
nas flores”. Ver “como as pedras são engraçadas/ Quando a gente as tem na
lugar nesse mundo, como as criaturas literárias e reais pelas quais mais me
mão/ E olha devagar para elas.”
apaixono.
Estava na hora de encontrar nessas experiências uma individualidade, um lugar
Bom, não quero teorizar sobre isso. O Demônio bem diz ao Fausto, no Fausto,
no mundo. Sem isso, artista ou escritor, ninguém avança com honestidade.
ainda de Goethe: “toda teoria é cinzenta; e verde a dourada árvore da vida.” A
3
citação, hoje, me dá mais vontade de correr para a máquina de fotografar do Quando a contemporânea Iluminati Renata Victor me deu a tarefa de
que a de escrever.
criar um catálogo, todas as ideias sobre as unidades e as partições, as frações, o mundo cartesohegeliano, se confrontaram em mim. Eu
Sobre esses espíritos das Coisas devo responder como falam por aí ter
pensava nas Coisas, não somente como no poema pueril de Pessoa,
respondido Flaubert sobre sua Bovary: “Emma Bovary c’est moi”.
mas no Espírito das Coisas. De um mundo que pudesse partir da minha própria experimentação, em busca de uma experiência estética pessoal e
Portanto, Ovaginus? Sou eu. Aminioticus mundi? Sou eu. Calixananas & códix?
intransferível, de um tempo proustiano, perdido. De todos os modos era um
Também sou eu. Ou não há nenhum desses espíritos que há nas coisas que eu
exercício de Iluminação, no que a palavra tem a ver com Formação, assim,
não desejasse ser, enquanto os equilibrava em minhas mãos e os fotografava.
com caixas altas e baixas. Esse catálogo tentaria expressar uma experiência maior, interior, de aprendizagem, de auto-sedução e sedição do garoto de 55 anos que chegava ao curso de fotografia.
Acesse: https://issuu.com/unicaphoto/docs/catalogo_tecnico_final
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EXPOSIÇÃO
Explorando o universo das exposições virtuais Paulo Souza
A
o longo dos últimos anos muitas bibliotecas e museus reuniram suas coleções especiais como livros raros, manuscritos, fotografias, panfletos, recortes de jornais, partituras
musicais, entre outros, e os digitalizaram criando coleções de arquivos online que podem ser exibidos por meio de exposições virtuais. Esta nova modalidade de visitar museus e galerias democratiza e promove acesso para coleções e acervos que, para muitas pessoas, nunca poderiam ser vistos de outra forma. A era das exposições digitais surge como consequência de uma nova geração de ferramentas gratuitas, incluindo opções de software livre e de código aberto, que tornam possível não apenas catalogar e gerenciar coleções digitais, mas também criar narrativas e layouts imersivos para exibições online. No final de 2020, diante da necessidade de distanciamento social imposta pela pandemia do coronavírus, o curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco realizou a sua primeira mostra virtual, a Exposição Interdisciplinar de 2020.2. O serviço de criação da exposição foi o Artsteps (www.artsteps.com), que fornece
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uma plataforma para criar, projetar e compartilhar suas
mobiliário, figuras humanas e itens decorativos. E, apesar
próprias exposições virtuais de forma gratuita, dispondo
da mídia principal ser a fotografia, são aceitos também
inclusive de compatibilidade com dispositivos móveis e
textos, pequenos vídeos e arquivos de som. A ferramenta
óculos de realidade virtual.
viabiliza ainda a criação de visitas virtuais, onde, quem acessa pode criar marcos no espaço expositivo para
A exposição reúne obras dos alunos da graduação
coletar mais informações que podem incluir texto ou
e sintetiza um trabalho coletivo e interdisciplinar
áudio aumentando a experiência do visitante.
desenvolvido durante 2020.2. “Temos como meta a interação, pois é uma maneira de suplementar e
Para aqueles que têm curiosidade de conhecer mais
possibilitar a formulação de um saber crítico-reflexivo.
sobre o mundo das exposições virtuais, uma boa dica
Saber esse que deve ser valorizado cada vez no processo
é explorar as iniciativas reunidas através da plataforma
de ensino-aprendizado”, explica a coordenadora do
Google Artes e Cultura (artsandculture.google.com) que
curso, Renata Victor. Em 2020.2, durante o segundo
tem catalogado e reunido, em um só projeto, grande
módulo, os alunos vivenciam as disciplinas As artes e as
parte dos principais museus e exposições ao redor do
novas tecnologias, Iluminação, Linguagem fotográfica I,
mundo. Trata-se de uma ótima porta de entrada para
Fotografia e semiótica e Edição e tratamento de imagens
familiarização com o formato virtualizado dos espaços de
I. Já no quarto módulo as disciplinas foram Legislação
exposição.
sobre o uso da imagem, Gestão comercial da imagem, Captura de vídeo em HDSLR e edição, Montagem de
Para visitar nossa exposição fotografe o QR Code abaixo
portfólio e curadoria e Edição e tratamento de imagens
ou acesso o endereço: http://bit.do/fotounicap
III. A
plataforma
utilizada
permite
construir
espaços
expositivos do zero ou partir de alguns modelos preestabelecidos. Além disso, é possível importar objetos tridimensionais para enriquecer o espaço, tais como
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COLUNA
E-BOOKS
“Também, com essa câmera?!”
Título
Gustavo Bettini1
Q
uem nunca ouviu aquele belo elogio à
Com tudo isso, sim, se consegue um padrão de excelência
sua câmera? “Nossa, que foto incrível! Sua
como resultado, tal como na música. A importância dessa
câmera deve ser profissional!” Sim, todos nós
engrenagem toda funcionar simultaneamente é tanta
já passamos por isso. As pessoas tendem a
que empresas como a Canson e Hahnemuhle passaram
atribuir, dimensionar a qualidade do trabalho de um
a certificar os estabelecimentos que seguem todos os
fotógrafo ao tipo de câmera, número de pixels que a
protocolos para a garantia dos dois pilares que definem
máquina é capaz de gerar e até mesmo ao número de
o resultado como impressão fine art: longevidade e
seguidores que tem nas redes sociais pode entrar nesse
altíssima qualidade.
bolo... Com impressores fine art, isso também costuma acontecer. Num mercado em ascensão, impressores apegados apenas aos equipamentos reforçam a ideia de que a boa impressão está relacionada apenas à marca da impressora, dos monitores e ao uso do icônico par de luvas brancas de algodão. Vamos pensar da seguinte forma: Quando ouvimos uma música espetacular, quem é o responsável por ela? Os instrumentos bem afinados, os músicos que estudaram anos e ensaiaram inúmeras vezes ou a partitura bem elaborada? A música é o resultado! Quando falamos de impressão fine art, precisamos entender que ela não é feita apenas por boas impressoras, papéis de Belas Artes e pigmentos minerais... Mas, de tudo isso associado a espaços com temperatura e umidade controladas, ambientes neutros e printers com vasta experiência, técnicas, muito estudos sobre o assunto.
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REVISTA DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM FOTOGRAFIA DA UNICAP