SUMÁRIO INTRODUÇÃO
3 6 17 21
UMA BREVE HISTÓRIA DOS QUADRINHOS
PUBLICIDADE EM QUADRINHOS
UM ÓTIMO PRODUTO CHAMADO BATMAN
25 REFERÊNCIAS 26
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quadrinhos é uma arte em sequência, no qual o ilustrador usa desenhos para completar a mensagem escrita que ficou popular na década de 20, quando grandes jornais norteamericanos passaram a publicá-los.
4
A
s chamadas histórias em quadrinhos também são conhecidas como “arte do movimento parado” ou simplesmente, Nona Arte. Apesar de ser uma forma de comunicação instantânea, ela sempre foi relegada ao deselegante título de “subcultura”, algo que não traz relevância à vida cotidiana e um produto descartável da chamada cultura POP. Porém a arte sequencial que deu origem aos quadrinhos modernos é muito anterior aos modismos contemporâneos, prova disso, é o tempo em que as HQs (abreviação muito usada para histórias em quadrinhos) estão sendo publicadas, percebidas ou não pelos demais meios de comunicação e arte. É irônico se lembrarmos que nossos antepassados nos deixaram o legado das pinturas rupestres, desenhos em cavernas que tentavam demonstrar o dia a dia do homem primitivo, e são os relatos mais antigos da comunicação humana, o que nada mais era, do que a primeira forma de HQs, já que cada gravura nas paredes das cavernas, são apresentadas em uma sucessão de fatos. Quadrinhos tanto podem vender anúncios e idéias, como também seus próprios produtos. Sendo assim, podem sofrer “metamorfoses” com outras mídias aumentando ainda mais sua influência, por isso o grande interesse do cinema e da TV em fazer adaptações de personagens e tramas dos quadrinhos. As HQs foram agregadas à cultura pop, ganhando um
sem-número de fãs e colecionadores no mundo inteiro, isso demonstra a força comunicativa desse meio, demonstrando ser necessário o conhecimento para utiliza-lo em favor das vendas e do lucro, utilizando-se as técnicas da Publicidade e do marketing. Os Estados Unidos da América possuem o mercado de quadrinhos mais desenvolvido economicamente, seus personagens são os mais conhecidos e geram vendas dos mais variados produtos entre os personagens mais conhecidos temos o Homem-Aranha, Superman e Batman. Os quadrinhos japoneses estão na moda, seu estilo diferenciado, onde a arte e as sequências de ação têm mais destaque do que os textos atraem leitores mais novos. Os quadrinhos europeus são mais poéticos e autorais, ficando num nicho de mercado mais restrito aos intelectuais. O Brasil, apesar de possuir grandes autores como, Lincoln Nery, Emir Ribeiro e Francinildo Sena, e personagens como Jou Ventania, Velta e Crânio1, não encontra espaço para criar seu mercado comercial, pois, acaba sendo “engolido” pelo material estrangeiro tão diverso e difundido na cultura de massa do país. Algo que ocorre devido à falta de investimento na cultura do país que não é restrito apenas ao mundo da Nona Arte, mas ao cinema, literatura e TV e publicações em geral. Como os quadrinhos tem segmentos variados (humor, aventura, religião, etc.), dependendo apenas da qualidade e inventividade do autor, o foco deste estudo está no
segmento dos superheróis, o mais rentável produto advindo das HQs, com sua trajetória se iniciando no fim da década de 30 até os dias de hoje. As histórias trazem personagens com influências da Mitologia Grega, super-seres com habilidades divinas que andam no mundo entre os homens comuns e lutam por uma causa ou ideal, geralmente, a justiça. Um paralelo de quadrinhos entre Estados Unidos e Brasil, já demonstra como é forte o mercado norte-americano - altamente profissional - e o descaso do mercado brasileiro - que tem como único sucesso comercial A Turma da Mônica 2- para com a utilização deste meio e seus personagens. Batman é um dos personagens mais famosos e importantes dos quadrinhos, criado em 1939 pelo desenhista Bob Kane, sob encomenda da poderosa editora DC Comics, surge na esteira do sucesso de seu predecessor, o Superman, porém, diferente, Batman não apresenta nenhum tipo de poder, sua força vem da capacidade humana de superação de limites físicos e mentais.
5
T
ambém conhecido como o “Cavaleiro das Trevas” é uma figura de criação norte- americana, que se tornou parte do imaginário popular no século XX e leva terror ao coração dos criminosos a mais de setenta anos, além de ter se tornado uma poderosa marca mundialmente conhecida, que movimenta bilhões de dólares todos os anos, sendo com o lançamento de um novo filme, jogo, brinquedo, ou, até preservativos. A técnica de pesquisa a ser utilizada neste estudo é o método de análise de conteúdo, o qual será construído através das teorias da Comunicação Social, Marketing e Estética de Quadrinhos. Sendo utilizados livros, revistas - magazine ou quadrinhos -, entrevistas, sites da internet e outras fontes pertinentes ao tema.
de quadrinhos no Brasil é ímpar, sem dúvidas a maior contribuição do nosso país como estudo de HQs em nível mundial. Trabalhando com o conceito de “consumo de massa” em seu livro Shazam!, apesar de ser da década de 70, ainda é atual em muito aspectos em se tratando de uma organizada análise. O mineiro Silvio Ribas é um pesquisador da trajetória de Batman, o que lhe deu total
Um paralelo de quadrinhos entre Estados Unidos e Brasil, já demonstra como é forte o mercado norteamericano - altamente profissional - e o descaso do mercado brasileiro - que tem como único sucesso comercial A Turma da Mônica.
Este estudo baseia-se em livros de autores como os jornalistas brasileiros Álvaro de Moya (1930) e Silvio Ribas (1955), especializados em quadrinhos e no personagem Batman, e utiliza o processo de pesquisa bibliográfica, que permite a investigação do problema a partir do referencial teórico existente em documentos e credibilidade ao lançar em 2005, o Dicionário publicações. Ele é por excelência utilizada na do Morcego, tornando a obra uma grande fonte área das ciências humanas, na qual se inclui a de pesquisa séria e completa, pois há décadas, comunicação em quadrinhos. nada passou imperceptível por ele, quando o A importância de Álvaro de Moya para o estudo assunto se trata do Cavaleiro das Trevas.
Ribas, assim como Moya, fazem um esforço pioneiro para criar um campo de estudo a fim de auxiliar outros estudiosos na compreensão da presença norte-americana na vida brasileira, por meio de HQs. Para utilização dos conceitos do marketing, a pesquisa se baseia no livro The Interplay of Influence de 1992 da norte-americana Kathleen Hall Jamieson, professora de Comunicação e Diretora do Centro de Políticas Públicas da Universidade da Pensilvânia, sendo autora de mais de quinze livros sobre o assunto, com ênfase em divulgação política, ela apresenta idéias de agregar valores à comunicação, utilizando políticos e candidatos. O primeiro capitulo trata de contar a história das HQs, dividindo seus períodos e demonstrando sua força comunicativa – no âmbito pedagógico, psicológico e empresarial. Já o segundo capitulo visa a criação de um portifólio publicitário – um álbum de trabalhos de criação – para demonstrar como os quadrinhos podem ser utilizados para a divulgação de produtos. Finalizando, o terceiro capitulo explica que os personagens de quadrinhos são apenas produtos, que existem pela sua capacidade de vender, e como empresas e outros meios de comunicação estão se utilizando dessa ferramenta.
LINGUAGEM SEQUENCIAL algo de seu cotidiano numa Não se sabe terra qualquer, e ali estava como o homem lançando o futuro da hucomeçou a se manidade como conhecemos. comunicar nos Os primeiros registros primórdios da civde HQs vêm da Idade da ilização, mas verifiPedra, com as migrações, cando as pinturas tudo foi se separando, rupestres que noscriando-se tribos, clãs sos ancestrais iluscom diferentes agrutraram em cavernas, pamentos de sons, em descobrimos que dedesenhos diferentes e senhos são as forem línguas diferentes. mas mais primitivas de “A linguagem escrita se registrar um evense destacou daquela to ou idéia. comumente falada e conduziu depois a uma linguagem falada reImaginemos que o homem strita às elites (...)”. das cavernas com uma (Spirito, 1977, p. 73.). vareta fez uma imagem de
7
A
“Via Sacra” no interior das igrejas católicas contando a Paixão de Cristo, baixos-relevos que eram um tipo de ilustração em sequencia na Idade Medieval, as sombras chinesas - lanterna oriental - precursoras do cinema, tinham como fundamento ilustrações continuadas, e as gravuras de Goya contra os desastres da guerra, mantiveram a tradição do documento gravado para a posteridade.
jovem desenhista Bob Kane um novo super-herói. Com a ajuda do roteirista Bill Finger, Kane criou o inverso do Superman, poderes alienígenas foram esquecidos, assim em maio de 1939, na revista Detective Comics 27, surge Batman. Em 1940, estréia Robin, o primeiro parceiro/ajudante de super-herói, seu sucesso foi tamanho, que os super-heróis criados posteriormente, já eram publicados com seus respectivos ajudantes, como foi o caso do Capitão América que já foi criado com o seu parceiro Bucky, o mesmo ocorreu com o Arqueiro Verde e o seu pupilo Ricardito, entre outros. Ainda no ano de 1940, Bob Kane junto dos artistas de seu estúdio, Bill Finger e Jerry Robinson, cria aquele que seria o maior inimigo de Batman e o mais famoso vilão das HQs, o psicótico Coringa.
Ainda no ano de 1940, Bob Kane junto dos artistas de seu estúdio, Bill Finger e Jerry Robinson, cria aquele que seria o maior inimigo de Batman e o mais famoso vilão das HQs, o psicótico Coringa
Mas, foi com a descoberta da impressão por Gutemberg que o grande salto foi dado. Folhetins ilustrados, romances seriados, crimes pavorosos vendidos em pôsteres, finalmente, a expansão da imprensa norte-americana com suplementos dominicais coloridos, surge à figura de Yellow Kid, desenhado por Richard Fenton Outcault no New York World, de 1895. Mantendo a tradição das charges políticas, o camisolão de Yellow Kid exibia frases panfletárias ou cômicas, trazendo um comportamento anarquista. Com o aumento das vendas e milhares de cartas de elogios ao trabalho, os editores do jornal, viram que o público preferia os textos com desenhos e encomendaram máquinas especiais para publicações coloridas.
Mas, o que pouca gente sabe, é que muitos anos antes do Yellow Kid, Ângelo Agostini, um italiano radicado no Brasil do Século XIX, já desenhava para a revista Vida Fluminense, e em 30 de janeiro de 1869, ele lança As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte, quinze anos depois, ele criaria a primeira HQ de longa duração no Brasil, As Aventuras de Zé Caipora. Na história da comunicação por imagens, o Brasil contribuiu decisivamente para o estabelecimento da linguagem quadrinista. O precursor dos quadrinhos como conhecemos nasceu no Brasil, mas assim como a polêmica disputa pela criação do avião - entre Santos Dumont e os irmãos Irmãos Wright - , os EUA, continuam a dar o crédito à Outcault. Em 1897, Rudolph Dirks cria Katzenjammer Kids (Os Sobrinhos do Capitão), sendo a primeira tira moderna com balões de diálogos e personagens fixos. E assim, no início do Século XX, começou a aparecer nos jornais norteamericanos uma onda de tiras quadrinísticas. Nesse começo, existiam apenas personagens cômicos, daí o nome comics, que os norteamericanos usam para falar de HQs. Alguns personagens importantes são Gato Felix (1928), Popeye (1929), Belinda (1930), Betty Boop (1931), Brucutu (1933), da mesma época vêm o reporter-detetive Tintim, do belga Hergé, e as aventuras policiais de Dick Tracy (de Chester Gold). No decorrer da década de 30 grandes aventureiros surgiram em histórias mais bem- acabadas e com traços mais detalhados, como Príncipe Valente e Jim das Selvas. Logo, aparecem as primeiras ficções científicas do gênero com Buck Rogers e Flash Gordon, e heróis, Mandrake, Fantasma e Terry e os Piratas. Porém, é em 1938, que acontece a grande explosão do mercado de quadrinhos com o surgimento do Superman criado por Jerry Siegel e Joe Shuster para a edição número 1 da revista Action Comics. O sucesso do “Homem de Aço” – como também se tornou conhecido - foi estrondoso e fez com que os editores da revista encomendassem ao
Na década de 50, aparece The Spirit de Will Eisner, que revolucionou as HQs com desenhos baseados na perspectiva cinematográfica, e na década de 60, Stan Lee cria uma nova revolução com seus superheróis “humanizados”, com problemas do cotidiano (financeiros, psicológicos, etc.), algo inédito, já que os heróis sempre eram perfeitos.
8
V
amos destacar alguns momentos históricos do percurso das HQs, apresentado pelo escritor norte-americano Scott Beatty no livro The DC Comics Encyclopedia: The Definitive Guide to the Characters of the DC Universe de 1981.
A Era de Ouro dos Quadrinhos Do surgimento do Superman até 1945, quando acaba a Segunda Guerra Mundial, parece o que interesse dos norte-americanos pelos quadrinhos diminuiu gradativamente, com quase todos os títulos sendo cancelados, só ficando o próprio Superman, Batman e a Mulher-Maravilha.
A Era de Prata A formação dos super-heróis evoluiu, os escritores introduziram elementos de ficção científica nas origens e aventuras dos personagens, durou dos anos 50 ao princípio dos anos 70.
A Era Marvel Em 1961, quando a editora Marvel Comics começou a lançar novos super-heróis com conflitos extremos, assim conhecemos personagens como o Homem-Aranha – na revista Amazing Fantasy no 15 - um jovem com quem a garotada podia se identificar. Na escola, Peter Parker – seu alter ego - tinha dificuldades para arranjar uma namorada e sempre era importunado pelos valentões. Ele continuou a ser alguém com quem os leitores sentiam afinidade até mesmo enquanto crescia.
Nela, pessoas reais tinham super-poderes, o que exercia forte efeito no mundo. Watchmen era um grupo de vigilantes que foram forçados pelo governo a interromper suas atividades devido a uma greve dos policiais. Pela primeira vez, mostrou-se as mudanças que os super-heróis causariam aos grandes eventos históricos e seus efeitos em nossa sociedade.
A Era do Chamariz Em 1986 aconteceu uma transação comercial que afetaria os quadrinhos até os dias de hoje. A distribuidora Heroes World, proprietária da Marvel Comics, vendeu a editora a um empresário chamado Ron Perelman. Dando início ao momento que pode ser chamado de A Era do Chamariz. Sob a nova administração, A Marvel iniciou uma agressiva campanha de marketing para vender mais revistas. Criando sagas enormes que se estendiam aos seus títulos, forçando os leitores a comprarem todos os títulos para ler uma história completa. Outros chamarizes consistiam em capas com hologramas e desenhos fosforescentes, folders e outras idéias. Uma grande quantidade de itens promocionais foi oferecida.
Entre 1973 e 1974, um tipo diferente de herói passou a ser produzido pela Marvel, os anti- heróis, que não tinham grandes valores morais. O mais popular dessa espécie é o selvagem Wolverine criado pelo quadrinista Lenn Wein (1948), inicialmente para ser um vilão. Na década de 80 surgiu um novo estilo de quadrinhos de super-heróis, as histórias realistas. Este conceito foi abraçado primeiramente por Frank Miller quando assumiu a revista Demolidor da Marvel, em 1979. Seu trabalho nesse inspirou o realismo sombrio que lentamente se tornou mais popular nos anos seguintes. Mas o estilo realista só se consolidou em 1986, com a maior saga de Frank Miller, Batman: O Cavaleiro das Trevas. Esta história se passava no futuro e mostrava um Bruce Wayne (o Batman) velho, que deixava a aposentadoria vestindo o uniforme do herói pela última vez.
os anti- heróis, que não tinham grandes valores morais. O mais popular dessa espécie é o selvagem Wolverine criado pelo quadrinista Lenn Wein (1948), inicialmente para ser um vilão
No mesmo ano, a editora DC criou uma minissérie chamada Watchmen.
9
H
eróis morriam por um curto período e depois eram trazidos de volta à vida, outros se tornaram vilões, e inimigos populares viraram mocinhos. Logo, todas as outras companhias começaram a fazer o mesmo. Embora muitos fãs tenham se cansado desses truques, eles ainda são usados. Em 1988, outra aventura de Batman entrou para a história dos quadrinhos, a saga Morte em Família. O segundo Robin, Jason Todd, era assassinado pelo Coringa. Na época, os fãs foram convocados a telefonar e votar a favor ou contra a morte dele, a contagem final foi de 5343 a 5271 a favor. No mesmo ano, o Coringa discute ideologia com Batman e deixa a heróina Batgirl em uma cadeira de rodas, no especial A Piada Mortal. Em 1989, o filme Batman foi lançado e se tornou um grande sucesso. Ele ajudou a elevar as histórias em quadrinhos ao seu mais alto nível de popularidade desde a Era Marvel. E não foi apenas o filme que fez as HQs se tornarem populares novamente, mas também os velhos leitores. Colecionar quadrinhos geralmente era visto como uma atividade infantil. Os anos 80 mudaram isso, segundo pesquisas da Diamond, maior distribuidora de quadrinhos dos EUA, os quadrinhos se tornaram mais adultos, começaram a lidar com questões mais sérias embora tentassem se manter divertidos e menos pedantes. Resultando em uma mudança na faixa etária dos colecionadores, os adultos que liam quadrinhos quando garotos continuaram - ou voltaram - a lê- los. Segundo a mesma pesquisa da Diamond de 1990, as revistas atuais não são apenas para crianças, a média dos leitores atualmente transita entre 15 e 23 anos de idade e cerca de 30% dos consumidores têm mais de 20 anos.
A revista da editora Marvel, X-Men Nº. 01 escrita por Chris Claremont (1950) e desenhada por Jim Lee (1964), trouxe um novo artifício para gerar mais vendas, a mesma revista tinha cinco capas diferentes, quatro delas formando uma grande figura e uma quinta que trazia o desenho completo. Vendeu oito milhões de exemplares sendo, até hoje a revista em quadrinhos mais vendida de todos os tempos. Em1992, a estratégia foi outra, o Superman morreu. Na edição Nº. 75 da revista que leva seu nome, ele foi morto por um super-vilão chamado Apocalypse. Evento que criou um grande interesse por parte da mídia e fez com que várias pessoas através do mundo chorassem a morte do herói, se tornando a HQ mais conhecida do planeta. Aqui no Brasil, o evento foi noticiado no Jornal Nacional e no programa Fantástico, ambos da Rede Globo de Televisão.
O segundo Robin, Jason Todd, era assassinado pelo Coringa. Na época, os fãs foram convocados a telefonar e votar a favor ou contra a morte dele
10 A Era Image Outro evento muito importante que aconteceu em 1992, foi a formação da Image Comics, companhia fundada por um grupo de artistas e escritores que haviam saído da editora Marvel descontentes por não terem liberdade criativa ou controle editorial sobre os novos personagens. Esse grupo era composto por Todd McFarlane, Rob Liefeld, Jim Lee, Erik Larsen, Jim Valentino e Marc Silvestri. A nova companhia colocou a indústria em polvorosa com sua arte de altíssima qualidade. Spawn nº 01 é a revista independente mais vendida até hoje, foi lançada em maio de 1992 e vendeu 1.7 milhões de cópias. A revista criada por Todd McFarlane foi a primeira a vender mais do que as revistas das grandes editoras – DC e Marvel. Em 1993, outras companhias começaram suas linhas de super-heróis, as duas principais são a Malibu e a Dark Horse. Já, em 1996 a DC e a Marvel fizeram um grande encontro de personagens. Nele, os super-heróis das duas editoras lutaram uns com os outros para ver quem sairia vencedor. Alguns dos vencedores foram decididos por voto popular, tanto por correio como por e-mail, enquanto outros foram decididos pelos autores.
Já, em 1996 a DC e a Marvel fizeram um grande encontro de personagens. Nele, os super-heróis das duas editoras lutaram uns com os outros para ver quem sairia vencedor
As duas maiores editoras de quadrinhos do mundo são as norte-americanas Marvel Comics e DC Comics. No Brasil, o único grande sucesso é do grupo Mauricio de Sousa Produções Ltda., que traz histórias infantis da Turma da Mônica e infanto-juvenis da Turma da Mônica Jovem. A primeira publicação de quadrinhos nacional é O Tico-Tico de 1905, com histórias do norte-americano Buster Brown (chamado de Chiquinho no Brasil), anos depois, surgiram os personagens brasileiros; Lamparina, o trio Reco-Reco, Bolão e Azeitona, entre outros. Em 1934, o jornalista Adolfo Aizen lança o Suplemento Juvenil, e traz os quadrinhos norte-americanos. Em 1937, o também jornalista, Roberto Marinho, entra na área dos quadrinhos com o jornal O Globo, e em seguida com Gibi - que caiu tanto no gosto popular, que se tornou sinônimo de revistas em quadrinhos. Só em 1950, surgem os super-heróis nacionais Judoka, Raio Negro, Escorpião, entre outros.
Hoje existe um grande movimento de quadrinistas nacionais – Emir Ribeiro, Marcos Franco e um sem número, vindos com muita força pela internet, trazendo cada vez mais super-heróis com fortes raízes nacionais. Entre eles podemos citar os personagens Jou Ventania, Crânio, Velta e Lagarto Negro. Tiras de jornais, os suplementos juvenis - que traziam pequenas aventuras de personagens com um acabamento de jornal - e as revistas em quadrinhos são os formatos utilizados para a editoração e publicação de histórias em quadrinhos.
11 A COMUNICAÇÃO NAS HQS Ao utilizar a linguagem escrita como um complemento de uma figura gráfica, os quadrinhos se tornam uma forma de comunicação instantânea, a palavra “HomemAranha” escrita em português tem uma forma e junção de letras especifica, já em japonês é tem outra, sendo uma forma de falar diferente em cada língua existente, mas a visualização do personagem é identificável por leitores de cada lugar do mundo, não necessitando de uma interpretação da linguagem.
Uma HQ pode retratar os mais variados assuntos, assim como o cinema, você pode ler ou escrever uma HQ de humor, de drama, de religião, de terror, e assim por diante. O argumentista pode incluir no conceito do roteiro questões ideológicas, raciais, sexuais, do cotidiano como um todo ou algo totalmente irreal e lúdico. Em 1970, no número 76 da revista norteamericana do Lanterna Verde e Arqueiro Verde, os quadrinhos da editora DC se tornaram mais sérios, nela os dois heróis falavam de problemas da vida real, como a indefinição entre o bem e o mal. O Lanterna Verde salvava um homem que estava sendo atacado por um garoto, mas as pessoas do bairro acabam atacando o herói por salvá- lo. O Arqueiro Verde intervinha, explicando ao colega, que se tratava do dono de um velho prédio de apartamentos que queria despejar os moradores e construir um estacionamento no local. Os dois heróis trabalhavam juntos para encontrar uma maneira de derrotar legalmente o proprietário.
No final, o Lanterna e o Arqueiro conseguiam uma caminhonete e saíram viajando pelo país para lidar com questões sociais controversas. Outra edição dessa revista trazia uma história sobre o ex-parceiro do Arqueiro – Ricardito se tornando um viciado em drogas. Numa época de guerra como 1941, surgiu o Capitão América, valoroso defensor dos ideais norte-americanos à antiga, mais ou menos como os primeiros desbravadores para quem índio bom é índio morto. Ele já começa sua carreira liquidando o espião nazista que mata o cientista benfeitor que lhe concedeu suas habilidades, através de uma experiência cientifica. Ao esconder sua identidade como um abobalhado recruta Rogers, o Capitão dá a entender claramente que, em sua opinião, o último lugar onde se poderia esconder um bom norte-americano é atrás de um mau soldado. A própria escolha do uniforme, a bandeira dos EUA, deixa transparecer as suas intenções, assim como deixar bem claro; “América para os americanos”. É estranho um herói tão agressivo ter escolhido um instrumento defensivo. Talvez ele queira, através do escudo, insinuar simbolicamente que os Estados Unidos só atacam para se defender. O melhor exemplo da força comunicativa dos super-heróis ocorre durante a Segunda Guerra Mundial. Atendendo a um apelo do Presidente Roosevelt aos criadores, os personagens de quadrinhos também ingressaram na batalha contra os nazistas, provocando a célebre frase de Goebbels, ministro da propaganda de Hitler: “O Superman é um judeu!”.
Atendendo a um apelo do Presidente Roosevelt aos criadores, os personagens de quadrinhos também ingressaram na batalha contra os nazistas, provocando a célebre frase de Goebbels, ministro da propaganda de Hitler: “O Superman é um judeu!”
12
O
s EUA precisavam do respaldo popular para que pudessem participar da guerra, de forma a não comprometer sua supremacia. Por isso, nada mais eficaz do que o apelo à emoção para sensibilizar a opinião pública.
As histórias em quadrinhos como eficiente meio de comunicação de massas, participam do processo educativo, até mesmo em plano inconsciente, pelo mecanismo de identificação projetiva. Mesmo tendo sofrido acirradas criticas, elas acabaram suplantando a visão de alguns educadores e provando que tem grande importância e eficácia nos trabalhos escolares.
do texto escrito, numa perfeita identificação e entrosamento das duas formas de linguagem; a palavra e o desenho, exatamente como convém ao caráter sincrético e intuitivo do pensamento infantil. Os quadrinhos como meio pedagógico se fortalece com o uso dos quadrinhos de autor. Os artistas fazem um estudo antes de criarem as histórias, por isso, ao fazer uma leitura mais detalhada e profunda o leitor descobre elementos de psicologia, ideologia, filosofia, ciência e tecnologia. Adaptando os quadrinhos à programação de aula, o professor está dando um novo estímulo ao aluno e, consequentemente, tornando sua aula mais interessante aumentando a frequência.
Com gibis, as crianças conseguem deduzir o significado da história apenas olhando para a sequência dos desenhos, mesmo que ainda não saibam ler e decifrar as palavras
As crianças aprendem a gostar de ler, se divertindo com os diversos personagens, com as imagens e os diferentes conteúdos das histórias. As HQs possuem potencialidade pedagógica e podem dar suporte a novas modalidades educativas, podendo ser aproveitadas nas aulas de Língua Portuguesa, História, Geografia, Matemática, Ciências, Arte, de maneira interdisciplinar, fazendo com que o aprendizado se torne, ao mesmo tempo, mais reflexivo e prazeroso em nossas salas de aula.
A recomendação de usar histórias em quadrinhos nas escolas consta do volume do PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais - dedicado ao ensino da Língua Portuguesa. Com gibis, as crianças conseguem deduzir o significado da história apenas olhando para a sequência dos desenhos, mesmo que ainda não saibam ler e decifrar as palavras, o que passa para a elas a sensação de serem leitoras, algo importante no processo de alfabetização, assim elas ficam familiarizadas com a atitude de ler. A seriação de HQs - que se assemelha a uma lenta projeção cinematográfica - assume o caráter de verdadeiro relato visual, que sugestivamente se integra com as rápidas conotações
O grande quadrinista Alex Raymond (1909) criou o aventureiro Flash Gordon e através de suas histórias, desenhou objetos inexistentes até então na vida real; a minissaia, a propulsão a jato, os foguetes interplanetários, a televisão, os intercomunicadores, o raio laser, os computadores e as vias expressas elevadas.
Ele fez mais: deu forma aerodinâmica aos aviões a jato, numa época em que existiam apenas modestos bimotores. E embora confessasse certo desprezo pela verossimilhança científica, foi quem intuiu todo o mecanismo de segurança e conforto dos futuros astronautas. A Nasa reconheceu haver-se inspirado nas histórias de Flash Gordon para resolver determinados problemas de suas espaçonaves. Segundo a definição da professora de pós-graduação em Psicomotricidade da Universidade Cândido Mendes, Fátima Alves (1958), a Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, um tema muito difícil de ser explicado e entendido, pensando nisso, o estudioso Joel Defontaine, lançou em 1980, o livro A Psicomotricidade em Quadrinhos, apresentando o estudo com uma leitura clara e atraente. As ilustrações muito precisas permitiram a visualização dos conceitos e melhor entendimento do texto, tornado a leitura muito compreensível.
13
M
as isso não está restrito apenas à pedagogia, comprovadamente, adultos não se interessam por quadrinhos se já não possuírem esse hobby em sua infância, mas sentem-se atraídos e perdem o preconceito pelos gibis quando, em seu local de trabalho, são apresentados aos quadrinhos institucionais e entendem com muito mais facilidade as mesmas informações que costumavam ser passadas por circulares, e-mails, slides e outros veículos “sem alma”. Essa constatação é fruto de pesquisas realizadas por empresas de todo o Brasil que cada vez mais vem utilizando gibis para transmitir informações sobre assuntos organizacionais aos seus funcionários. Antes concentrados no universo infantil, com temas informativos e educativos relacionados a esse público, como os que a Mauricio de Sousa Produções costuma produzir com os personagens da Turma da Mônica, sendo publicados e promovidos, via de regra, por órgãos públicos, os quadrinhos institucionais entraram de vez no mundo corporativo.
Em matéria escrita pelo jornalista Marcus Ramone e divulgada no portal de internet Universo HQ, a empresa foi a primeira do segmento no Brasil a receber a certificação ISO 9001, e é considerada benchmark - processo sistemático utilizado para de avaliação de produtos, serviços de um determinado setor - do setor no quesito Qualidade Total. Mesmo com toda essa bagagem e valendo-se dos mais variados recursos de novos e antigos modelos de gestão baseados em QT, a Flu Look resolveu apostar na simplicidade dos quadrinhos e distribuiu aos seus funcionários, em todos os níveis hierárquicos, a HQ - O Caminho da Qualidade - produzida pela Montandon & Dias Comunicações e Editora, de São Paulo, na qual os preceitos da ISO 9001 são explicados por uma mascote que expõe a importância dessas normas para a sobrevivência de uma empresa e o crescimento profissional dos que nela trabalham.
Ao contrário do que possa parecer, a linguagem dos gibis institucionais em tom de humor e com desenhos infantis não afasta os leitores adultos pouco afeitos a HQs
Ao contrário do que possa parecer, a linguagem dos gibis institucionais em tom de humor e com desenhos infantis não afasta os leitores adultos pouco afeitos a HQs. Um bom exemplo disso aconteceu recentemente na Flu Look, rede de óticas sediada em Maceió, Alagoas.
A UniverCidade também apostou na linguagem de quadrinhos em uma série de cartazes internos criados pela Agência Experimental Méier, protagonizados pelo personagem Jucal – criado por Lincoln Nery. A idéia era avisar aos alunos do curso superior de Publicidade e Propaganda, que a Agência estava com vagas abertas para interessados em estágio. O resultado foi tão positivo, que os cartazes foram noticiados em sites de cultura pop da internet – Impulso HQ e Projeto Continumm.
14
R
amone ainda explica que esse é um nicho de mercado que está em ascensão. Em todo o Brasil, são muitos os profissionais, agências de publicidade e estúdios especializados em produzir quadrinhos institucionais para empresas privadas e órgãos públicos. O ilustrador paulista André Luiz é um desses especialistas. Sua atuação no setor, além da criação de HQs desse gênero, inclui a organização de oficinas e workshops com o título Quadrinhos como Ferramenta de Campanhas Institucionais. Em seu site, o artista expõe dez excelentes motivos pelos quais as empresas devem utilizar os gibis como apoio a ações corporativas ou de marketing. A Artecétera, de São Paulo, também se dedica exclusivamente a essa área, e ainda encontra tempo para produzir algumas histórias em quadrinhos tradicionais para o gibi do Menino Maluquinho. Em seu portifólio há trabalhos para os setores odontológico, varejista, gestão do meio ambiente, marketing, RH e muitos outros. O estúdio também foi o responsável pela produção da revista em quadrinhos A gente sabe, a gente faz, minissérie em oito edições lançada em 2005 pela Editora Globo e promovida pelo Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, em parceria com o cartunista Ziraldo. A publicação era um curso de vendas em quadrinhos e, em cada edição semanal, apresentava com muito humor e didatismo um capítulo das venturas e desventuras de uma família e sua microempresa, além de uma história real de pessoas empreendedoras. A utilização de quadrinhos e charges na divulgação de produtos e serviços em jornais e revistas também era bastante
comum até o final dos anos 1980, mas esse recurso sucumbiu na década seguinte, nos anos 90, diante das novas tecnologias a serviço da propaganda. Entretanto, alguns recentes cases publicitários apontam para o retorno tímido dessas ferramentas no âmbito institucional, como atestam a série de charges em anúncios da operadora Intelig; as tiras criadas pelo cartunista Laerte para a academia de fitness Companhia Athletica e as de Ziraldo - mesclando fotos e desenhos - para o Banco do Brasil, entre outros exemplos. Álvaro de Moya explica no livro Shazam! (1977) que estes psicológicos aplicados em crianças demonstraram que a informação quando transformada em história em quadrinhos era aprendida num tempo assustadoramente pequeno. Numa época em que a complexidade do conhecimento é cada vez maior, fácil compreender a relevância desse fato. Com os estudos a respeito da problemática da comunicação de massa, cai definitivamente por terra a antiga idéia de que os quadrinhos deixam as crianças preguiçosas mentalmente para, numa reviravolta total, chegar à conclusão exatamente contrária, os quadrinhos despertam uma resposta imediata e fulminante. De qualquer forma o tratamento dado aos quadrinhos está mudando, seja com exposições de arte de peças sequenciais pelo mundo todo, e por listas como a do jornal inglês Daily Telegraph, onde uma eleição junto a um grupo de críticos literários elegeu os cinquenta maiores vilões da literatura, colocando o Coringa num honrado 23º lugar, enquanto Watchmen, do também inglês Alan Moore, foi considerado pela revista norte-americana Time, um dos 100 romances mais importantes do Século XX.
15 OS QUADRINHOS SUBVERSIVOS Mas, para os quadrinhos alcançarem o status que merece, ainda falta muito caminho a percorrer, e um dos seus maiores obstáculos vêm do ano de 1954, quando o livro Sedução do Inocente foi publicado. Escrito pelo alemão Dr. Fredric Wertham (1895 - 1981), o escritor era um evangélico engajado na missão de salvar a juventude estadunidense de seus piores impulsos. Ele acreditava que os leitores copiariam o conteúdo das histórias em quadrinhos e enxergava maus exemplos em cada página das HQs. Com a publicação, pela primeira vez, as ilustrações e tramas típicas das histórias em quadrinhos policiais da época despertaram a atenção dos pais, cientistas e da sociedade em geral. Muitas pessoas passaram a interpretar de maneira equivocada o conteúdo das revistas, já que o livro trazia a suposta prova clínica e científica dos efeitos resultantes da leitura das HQs – homossexualismo, violência, sexualidade precoce, entre outros. Como consequência, houve uma mudança imediata no mercado. Em pânico, as editoras resolveram se unir e formaram a CMAA - Comic Magazine Association of America (Associação das Revistas em Quadrinhos da América), através da qual pretendiam estabelecer um “padrão de moral” para assegurar aos leitores uma revista de qualidade. Assim, no dia 23 de outubro de 1954, as editoras norte-americanas enviaram uma série de regulamentos que chamaram de Comics Code Authorit (Código de ética das HQs) para os jornais, associações comunitárias e outros órgãos envolvidos na moralização das HQs, informando que todos os títulos com o selo do Comics Code estampado em suas capas estariam livres de qualquer indução negativa às crianças. Neste pequeno tratado enviado, além das regulamentações sobre crimes, violência e vocabulário, há uma parte dedicada especialmente ao casamento e ao sexo, são eles: 1 - Divórcio não deve ser tratado humoristicamente, nem ser representado como algo desejável, 2 - Relações sexuais ilícitas não devem ser retratadas e anormalidades sexuais são inaceitáveis, 3 - Todas as situações que tratem
da unidade familiar devem ter como principal objetivo a proteção das crianças e da vida familiar. Em caso algum a quebra do código de moral deve ser representada como recompensadora, 4 - Estupro nunca deve ser mostrado ou sugerido, 5 - Perversão sexual ou qualquer alusão ao desvio é estritamente proibida. Obviamente, os padrões morais de hoje são bem diferentes dos da época da publicação deste código, assim como a abordagem do sexo e do casamento nos quadrinhos. Depois da leitura do item Três, por exemplo, é possível compreender que as regras morais de cinco décadas atrás eram bem mais rígidas. Por ser justamente o primeiro personagem fictício a ser atacado pelo Dr. Wertham, o Batman – solteirão, morando com um menino adotado – acabou absorvendo todo o impacto da polêmica e algum tempo depois já era taxado de forma absolutamente preconceituosa e errônea de “gay”, como o próprio Wertham explica: Todo pré-adolescente tem um período que despreza as meninas. Algumas revistas em quadrinhos fixam essa atitude e ainda criam a idéia de que garotas só servem para apanhar ou seduzir. É sugerida uma atitude homoerótica da forma que a masculinidade é apresentada. As mulheres sempre são bruxas ou violentas. As mulheres sempre são desenhadas num tom pouco erótico. Já os heróis
Todo pré-adolescente tem um período que despreza as meninas. Algumas revistas em quadrinhos fixam essa atitude e ainda criam a idéia de que garotas só servem para apanhar ou seduzir sempre estão em tons agressivamente eróticos. O musculoso “super-tipo” é enfatizado com o objetivo de criar estímulo e curiosidade sexual no leitor. (WHERTAM, 1954, p. 20) Após explicar suas teorias infames, Wertham ataca diretamente as histórias de Batman: Algumas vezes, Batman está de cama por causa de algum ferimento. Robin aparece sentado ao seu lado. Eles levam uma vida idílica. São Bruce Wayne e Dick Grayson. Bruce é descrito como milionário bon vivant e Dick como seu pupilo. Eles moram numa mansão suntuosa com lindas flores em vasos enormes. Tem um mordomo, Alfred. Batman aparece algumas vezes de roupão. Parece um paraíso, um sonho de consumo de dois homossexuais que vivem juntos. Às vezes aparecem num sofá. Bruce reclinado e Dick ao seu lado sem paletó e de camisa aberta. (Ibid, 1954, p. 66)
16
A
s suposições homossexuais de Wertham são sugeridas por sua interpretação de certos signos visuais. Então, para se mostrarem “machos”, Bruce e Dick deveriam ter feito o seguinte: não mostrar preocupação quando estivessem feridos; morar numa cabana; ter flores horrorosas em pequenos vasos; não terem um mordomo; nunca dividirem um sofá; usar paletó; manterem suas camisas abotoadas e jamais usarem roupão. Mas os “desvios sexuais” não eram exclusividade do Cavaleiro das Trevas na visão do autor. A superheróina Mulher-Maravilha também foi acusada pelos devaneios de Wertham: A conotação homossexual das histórias da Mulher-Maravilha é psicologicamente irrefutável. Para os meninos, a imagem da MulherMaravilha é assustadora. Para as meninas, é um ideal mórbido. Se Batman é antifeminino, a atraente Mulher-Maravilha e suas contrapartes são definitivamente antimasculinas. A Mulher-Maravilha tem suas próprias seguidoras femininas. Suas seguidoras são as meninas que gostam de “festejar”, as lésbicas. (Ibid, 1954, p. 78) A visão do escritor, além de preconceituosa, é totalmente machista. Para Wertham, mulheres fortes, resolutas e admiráveis só servem para transformar meninas em lésbicas e uma heroína dessas só pode ser apontada como “ideal mórbido”. Mas, infelizmente, os tempos – e as mentes – eram outras e as loucuras de Wertham deram resultado.
Na Inglaterra, por exemplo, chegou até a ser proibida a importação de revistas em quadrinhos norte-americanas. No meio disso tudo, Batman perdeu sua couraça de vigilante e tornou-se um defensor dos valores ianques. Os editores introduziram Batwoman e Batgirl para que não existisse nenhuma dúvida a respeito da opção sexual da Dupla Dinâmica. Batgirl era sobrinha da Batwoman, pois, se fosse filha, isso significaria que ela teve uma relação sexual com alguém. Aqui no Brasil, o livro Sedução do Inocente só ficou conhecido bem mais tarde, quando o jornalista Samuel Weiner divulgou as teorias de Whertam para difamar seu concorrente Roberto Marinho, na época, um grande publicador de quadrinhos. Antes de morrer, Whertam veio a publico pedir desculpas aos quadrinistas e leitores, garantindo que havia exagerado no que escreveu. E o que Bob Kane, criador do herói, achava disso tudo? Kane acreditava que as convenções estadunidenses são as mais hipócritas do mundo. Primeiro, ele teve que criar o Robin para humanizar a figura do Batman por exigência da moral e bons costumes. Os críticos não achavam que o estilo sombrio e os métodos violentos do personagem fossem boas influências para os leitores. Assim, Robin, o Menino-Prodígio, foi desenvolvido como um contraste para o lado sombrio do Cavaleiro das Trevas.
Na Inglaterra, por exemplo, chegou até a ser proibida a importação de revistas em quadrinhos norte-americanas.
Nos anos 50 aconteceu um pânico moral por causa dos “perigos” das revistas em quadrinhos. Depois da introdução do Código de Ética, carreiras acabaram e companhias faliram.
Depois dessas mudanças, os mesmos críticos continuaram sua caça às bruxas, afirmando que a dupla agora era homossexual. Decepcionado, Kane também era categórico em afirmar que Batman e Robin são heterossexuais e que, infelizmente, os fãs serão obrigados a conviver eternamente com
essa chacota, graças ao Dr. Wertham. Saindo do âmbito sexual, os quadrinhos também são acusados em alguns textos - que falam da suposta e nunca comprovada mensagem subliminar - de passarem gestos satânicos nas poses do Homem-Aranha, que imediatamente antes de soltar teias pelas mãos, faz o símbolo satânico que é associado também ao heavy metal3. Este gesto faz com que as crianças cresçam revoltadas e contra o sistema. A humanidade tem a tendência instintiva de passar a culpa de alguma coisa ruim para uma força fantástica, mística e incontrolável. Seria bom que as pessoas parassem para pensar, admitir que são elas as responsáveis pelo que acontece aqui no mundo real e “arregaçar as mangas” para fazer deste planeta um lugar melhor, ao invés de esperar que tudo se resolva sozinho.
A VENDA EM QUADRINHOS Já conferimos o poder dos quadrinhos como meio de comunicação e pedagogia, agora vamos ver como nossos heróis se comportam na hora de vender. Segundo a professora de Comunicação Kathleen Hall Jamieson (1946), os anúncios estabelecem pontos em comum com todos nós, alguns personagens representam quem gostaríamos de ser, um super-homem, por exemplo, é aí que os personagens dos quadrinhos podem ser fundamentais na persuasão da promessa de venda de um anuncio.
A
18
importância das HQs para a publicidade é tamanha, que a publicação de 1905, O Tico- Tico, um marco do quadrinho brasileiro, é citada no Dicionário Histórico-Biográfico da Propaganda no Brasil de 2007, uma publicação da ABP (Associação Brasileira de Propaganda), cujo objetivo é oferecer aos interessados no tema, assim como aos estudiosos da propaganda no Brasil, informações organizadas e sistematizadas, e assim tornando-se uma obra de referência. No mundo publicitário é bastante comum encontrar profissionais que gostem de quadrinhos, como Jorge Ventura4. Afinal, a linguagem da arte sequencial é perfeita para dar vazão à criatividade em muitos ramos da propaganda - que o digam os storyboards de tantas peças e filmes. Mas há uma diferença básica entre os mercados brasileiro e norte-americano: os anunciantes.
2009 da Prol Editora Gráfica, onde o personagem anuncia o seu próprio boneco a ser vendido na Loja Brigade. Finalizando, temos a sexta imagem de uma publicação do selo de quadrinhos NG Brasil Publicidade também de 2009, onde há a divulgação de diversas empresas. Os norte-americanos cansaram de provar - ao anunciarem produtos diversos - que quadrinhos são ótimas vitrines, só que precisam ser bem vendidos. No Brasil, só pra constar, há revistas das áreas de games, moda, cultura e outros setores que praticamente “se pagam” só com os anúncios. O que vem do preço de capa é lucro. O desejo de toda editora de HQs é que, um dia, isso também aconteça em suas revistas, para não dependerem única e exclusivamente das vendas em bancas. Para isso, porém, elas precisam buscar alternativas, demonstrando para as empresas o quão pode ser lucrativo o anuncio em uma revista em quadrinhos.
Nos Estados Unidos, os quadrinhos são encarados como um veículo potencial de divulgação no lançamento de filmes e produtos destinados ao público jovem. Enquanto isso, no Brasil, poucos trabalham bem esse aspecto - a exceção são os gibis da Turma da Mônica, voltados para o público infantil.
Em entrevista produzida pela Agência Experimental Méier da UniverCidade, o pesquisador fluminense de quadrinhos nacionais, Johnny Fonseca (1975), questionado sobre a importância da mídia HQs como meio de comunicação, foi categórico ao dizer; “As pessoas não tem noção do que o quadrinho pode fazer. Qualquer área se pode divulgar pelos quadrinhos. É um meio que atinge com mais facilidade do que uma divulgação convencional”.
Na mesma oportunidade, foi perguntado para Fonseca se ele achava que essa mídia é pouco explorada pelas empresas no Brasil, e o mesmo respondeu o seguinte; “Muito pouco. As pessoas devem dar mais importância aos quadrinhos, em especial aos nacionais, pois estará valorizando o que é nosso, nossa cultura”. Nos Estados Unidos, os quadrinhos são encarados como um veículo potencial de divulgação no lançamento de filmes e produtos destinados ao público jovem. Enquanto isso, no Brasil, poucos trabalham bem esse aspecto - a exceção são os gibis da Turma da Mônica, voltados para o público infantil. Vamos conhecer maneiras de se fazer uma divulgação em uma edição de quadrinhos, para isso utilizaremos seis exemplos distintos de como empresas já anunciaram em revistas de HQs. Os quatro primeiros foram publicados em revistas em quadrinhos da editora Abril Jovem na década de 90, por anunciantes que pagaram para divulgar no espaço, na ordem de apresentação temos; Regazone, First Quest, Instituto Universal Brasileiro e Toddy. A quinta imagem vem de uma tira publicada em uma revista de
19 OS SUPER GAROTOS-PROPAGANDA Segundo Jamieson, quando encontramos celebridades nos comerciais quase sempre o seu papel é apresentar um testemunho a favor do produto. Com frequência a celebridade não só diz porque usa o produto, mas também sinaliza que se quisermos ser como ela, deveremos usar aquele produto. O que os atores procuram é transferir para o produto a confiança que temos em seus personagens, o mesmo acontece quando se utilizam personagens de quadrinhos que possuem uma empatia com o público. É comum ver na publicidade norte-americana trabalhos impressos e de vídeo com os personagens de quadrinhos, no Brasil, mais uma vez, temos somente personagens da Turma da Mônica, como no caso que ocorreu com o elefante verde Jotalhão que foi criado por Mauricio de Souza em 1962 para uma campanha publicitária do Jornal do Brasil que tinha um elefante como símbolo de seu caderno de anúncios classificados. A campanha acabou sendo cancelada e o personagem foi oferecido então à Cica (atualment Knorr de propriedade da Unilever), sendo adotado no ano de 1979. Jotalhão é, até hoje, um garoto-propaganda do extrato de tomate
Homem-Aranha, Batman e Superman também foram garotospropaganda da Stori, grife que compõe a Chaya Garments, gigante da moda sediada na Índia
O Extrato de Tomate Elefante foi introduzido no mercado em 1941, e trazia na embalagem um elefante bem diferente do divertido Jotalhão. Em 1968, porém, Maurício de Souza publicou no jornal Folha de São Paulo uma tirinha na qual a personagem Mônica puxava o Jotalhão pela tromba, sob o olhar do Cebolinha, que ponderou: “Não sei, não... mas acho que o que sua mãe pediu foi massa de tomate”. A partir daí, foi estabelecido o novo garoto-propaganda da marca que ajudou a modernizar e rejuvenescer o produto. Este foi o grande salto para que Maurício de Souza saísse dos quadrinhos e popularizasse seus personagens. Vale lembrar também, que, nas poucas vezes em que revistas em quadrinhos foram anunciadas na televisão brasileira, os resultados nas bancas foram extraodinários. Existem comerciais clássicos com personagens de quadrinhos na TV norte-
americana, podemos listar alguns; Superman participa de um comercial contra o cigarro em 1981, Batman e Robin aparecem em uma série de quatro comerciais para Zellers (loja de brinquedo), no ano de 1987. A Dupla Dinâmica ainda fez um comercial para a loja de conveniência Zayre em 1986. Em 1999, os super-heróis Marvel fizeram um divertido comercial para a tradicional campanha norte- americana Got milk? A Visa tem um produto no mercado americano chamado “Visa Check Card”, uma espécie de cheque eletrônico, aceito em milhares de estabelecimentos. Fácil de usar, rápido, não precisa ser preenchido e nem esperar ser aprovado, mas sua principal virtude é a segurança que o consumidor possui quando o cartão é perdido ou roubado. Foi para divulgar esta característica que a agência BBDO de Nova York convocou os personagens da Marvel para estrelar o comercial intitulado Super-Heroes, veiculado no intervalo do Super Bowl,em 2005. Sem dúvida o mais bem produzido de todos foi campanha da empresa OnStar em 2001, com a presença de Batman em quatro episódios. Os comerciais fizeram tanto sucesso que o ator que viveu o Cavaleiro das Trevas, Bruce Thomas, o fez novamente em um episódio da série de TV norte-americana Birds of Prey da Warner Bros. Homem-Aranha, Batman e Superman também foram garotospropaganda da Stori, grife que compõe a Chaya Garments, gigante da moda sediada na Índia. Em algumas peças publicitárias criadas pela agência indiana 1Pointsize e veiculadas naquele país, os atores devidamente caracterizados como os famosos personagens vestiam roupas da companhia. Todas as imagens tinham as frases “Inside Story” e “Outside Stor”, um trocadilho com a palavra “história” em inglês e o nome da grife. A loja de fantasias Duende Azul, sediada em Santiago, no Chile, lançou em 2006 uma campanha institucional criada pela agência de publicidade Ogilvy & Mather. Protagonizavam por famosos super-heróis dos quadrinhos, as peças publicadas em jornais e revistas mostravam ilustrações nas quais os personagens trocavam de uniformes, as imagens eram assinadas com o slogan “Transforme-se em quem você sempre sonhou ser”. Assim, Tarzan fazia às vezes de Homem-Aranha; o herói aracnídeo da Marvel se vestia de Superman; e o Senhor Fantástico encarnava o Batman e dominava um bandido com seu braço elástico. Os belos desenhos eram de autoria do artista chileno Nelson Daniel.
20
A
importância destes personagens para divulgação é tamanha que a cidade de Cleveland, Ohio, nos Estados Unidos, mas exatamente no bairro Glenville, restaurou a casa onde Siegel, morou e onde concebeu o Superman, em meados dos anos 1930. Em frente ao imóvel foi erguida uma placa que homenageia o antigo morador e registra a importância histórica da casa. A Assembléia Municipal de Cleveland também concordou em proclamar Siegel e o personagem Superman como cidadãos honorários da cidade. Mas a cidade pareceu estar disposta a fazer muito mais para ser conhecida como o “berço” do Superman. Líderes comunitários de Cleveland organizaram o Summer Superman, um evento para comemorar os 70 anos do Homem de Aço, assim se reuniram em Nova York com executivos da DC Comics, proprietária dos direitos autorais do herói, para falar sobre a criação de uma ONG apoiada pela editora, com a finalidade de promover festivais relacionados ao Superman, formalizando, assim, a cidade como o local de nascimento do personagem. O comitê organizador do Summer Superman explicou que a ONG funcionaria sob as exigências legais e criativas direcionados pela DC para o uso da imagem do Superman. As contrapartidas seriam claras: a editora ganharia com a visibilidade de seu personagem; e a cidade de Cleveland, definitivamente, entraria no
roteiro das romarias de turistas fãs do Homem de Aço. A disputa, entretanto, seria acirrada com outra cidade, Metrópolis, no estado de Ilinois, cujo o nome coincidente com o da morada do herói nas suas aventuras, onde há 30 anos é realizado outro prestigiado festival, o Superman Celebration.
SUPER-PRODUTOS SUBSTITUTOS Porém nem sempre é um legitimo superherói dos quadrinhos quem realiza a campanha publicitária, muitas empresas criam personagens baseados no estilo ou apenas fazem alusão a eles, para não gastarem dinheiro com o pagamento de direitos autorais aos criadores. É quase como uma das definições que o escritor e professor de marketing, o norte-americano Michael Potter (1947) diz ao definir o que chamou de “Cinco Forças Competitivas” do mercado que determina a intensidade da concorrência no livro Competitive Strategy (Estratégia Competitiva) de 1980. Segundo Potter, as forças competitivas são usadas para analisar a concorrência entre as empresas e assim desenvolver a estratégia mais adequada a ser usada em uma campanha. As mesmas seriam; Concorrência, a forma como as empresas competem umas com as outras, Poder de Negociação dos Clientes que é a capacidade do consumidor em pressionar as
empresas, como um pedido de queda de preços, Poder de Negociação dos Fornecedores, que trata da pressão que fornecedores de matéria-prima podem passar para as empresas, como; aumentar seus preços, Novos Entrantes, fala sobre a entrada de novas empresas concorrentes no mercado e os Produtos Substitutos, que representam aqueles que não são os mesmos produtos, mas atendem à mesma necessidade, como água e refrigerante. No caso, os produtos substitutos são bens e serviços que desempenham funções equivalentes ou parecidas com o produto oferecido de determinada empresa. Em 1961, a famosa empresa fabricante de brinquedos, Estrela, encomendou a criação de um superherói brasileiro apenas para divulgar os seus produtos, assim surgiu o Capitão Estrela, que tinha como símbolo o logotipo da empresa, nos início dos anos 2000, a bebida energética Red Bull utilizou este artifício ao veicular um comercial em desenho animado, onde um super-herói que possuía características semelhantes ao Superman sentia-se fraco ao não utilizar o produto, em 2009, a marca de cremes para limpeza dental Close Up criou um dupla de heróis chamada Ice e Fire - que em português quer dizer Gelo e Fogo - para estrelarem uma campanha publicitária onde os poderes dos personagens faziam alusão aos benefícios do creme dental na boca d o consumidor.
QUADRINHOS DE RESULTADO É irônico ver os leitores discutindo via internet em comunidades de redes sociais, fóruns e blogs, sobre qual herói vence em uma luta contra outro ou, qual é simplesmente o melhor, quem sabe mais sobre a vida de um determinado personagem, ou por que na última edição ele fez ou falou algo que foi contra o que aconteceu numa edição de dez anos antes. Parece que os fãs esquecem que na verdade o personagem, seja ele qual for, é só um produto, ele é como um carro, que a cada ano a montadora relança com um design novo.
Para ilustrar isso, vamos usar o Batman, personagem com quase um século de vida, que se tornou parte do imaginário popular, sofreu modificações como nenhum outro, e conseguiu ultrapassar a popularidade, de Superman a partir dos anos 80. Como explica o jornalista Silvio Ribas, depois da retumbante estréia de Superman, os editores da DC Comics só pensavam em ganhar dinheiro com outro herói fantasiado. O encarregado para criar o novo herói foi o jovem Bob Kane em maio de 1939.
K
22
ane inspirado na dupla identidade do Zorro – aventureiro literário de 1919 - criou um personagem revolucionário, poderes alienígenas foram esquecidos, Batman é humano até demais, sua psique é das mais complexas; testemunhou o assassinato dos pais, sua formação das mais obsessivas, dedicou à vida para a perfeição física e mental. Difícil é entender por que uma simples figura gráfica tem tanto a falar sobre a experiência única do Cavaleiro das Trevas na indústria cultural e sobre os costumes modernos. Ribas também revela que testes feitos pelo grupo norte-americano Gallup - maior instituto de pesquisas do mundo - há duas décadas mostravam que uma pessoa que tivesse vivido em pequenas comunidades e de uma forma praticamente isolada do consumismo dos grandes centros, alheia aos apelos de marketing e ao conteúdo da comunicação de massa, expressava uma identificação diversa do logotipo internacionalmente conhecido de Batman, diante da pergunta “O que isso representa para você?”, a pessoa hesitava um pouco e respondia com outra questão: “Seria uma boca com dentes?”.
Os meios de comunicação se sofisticaram, a esfera urbana se expandiu mais e a economia tratou de colocar mais consumidores de fé capitalista abaixo da linha do Equador e no lado oriental do mapa-múndi. Batman acompanhou a consolidação desse novo cenário e sua mitologia se forjou além do simples modo de vida norte-americano. Batman ficou maior que um desenho animado ou um pôster do ator inglês Christian Bale com a armadura de borracha do Cavaleiro das Trevas usada no cinema, esse reconhecimento da marca registrada é o que faz o símbolo divulgado pela mídia estar em pipas empinadas, paredes de botecos, pára-choques de caminhões, entre outros. Ele está no diálogo de atores de uma novela de TV que em nada tem haver com seu universo, na tatuagem do presidiário e na capa de caderno do universitário.
Para mim, o verdadeiro Batman é aquele personagem sombrio e enigmático, mas as fases irônicas também foram vividas pelo mesmo personagem, gostem ou não
Esse é um caso muito raro hoje, pois Batman avança em terreno de cognição universal. O elemento gráfico do uniforme de Batman serviu de sustentáculo para as mais diversas ações de marketing e de desaguadouro para idéias, manifestações artísticas e usos particulares, tudo concebido a partir do personagem.
Para mim, o verdadeiro Batman é aquele personagem sombrio e enigmático, mas as fases irônicas também foram vividas pelo mesmo personagem, gostem ou não os fãs do modelo-base criado por Bob Kane em 1939. A razão para isso, como bem explica o jornalista Sidney Gusman para a revista Wizard Brasil, remete ao fato que o Cavaleiro das Trevas é um ótimo produto. E para funcionar precisa gerar dividendos para sua empresa, a DC Comics. Para quem não sabe, entre os anos 40 e 60, Batman foi policial interplanetário; virou anão, monstro e até gordo; foi transformado em gênio, teve a companhia de um Bat Cão, lutou contra gigantes, bruxas, robôs, etc. Tudo com um visual bem sorridente.
23
N
as capas da revista World’s Finest, então, ele e Robin apareciam com Superman em situações que hoje soam constrangedoras, como brincando numa gangorra, jogando beisebol, tênis ou basquete, pescando, patinando e muito
mais.
hos nos cursos de pós-graduação brasileiros. A USP (Universidade de São Paulo) bateu recorde no ano de 2006, sete ao todo. A produção científica estimulou a formação do 1º Seminário de Pesquisa em Histórias em Quadrinhos (2006), realizado em São Caetano do Sul. Um marco no tema.
Gusman ainda afirma que tais fatos são retratos de uma época, porém a editora não manteria essa linha se não obtivesse retorno financeiro. Ou seja, as vendas respaldavam aqueles momentos, que hoje causam tanto estranhamento. A partir de 1968, as histórias de Batman voltaram a ter o tom sombrio da versão original do herói, impulsionadas pelo desenhista norte-americano Neal Adams.
Ainda na educação, o governo federal assumiu a política de colocar quadrinhos na sala de aula; o Programa Biblioteca na Escola (2007) para distribuir 7,5 milhões de exemplares em escolas públicas do ensino fundamental. A compra de quadrinhos pelo governo já estimula as editoras a lançarem títulos com cunho educacional, são basicamente biografias, obras históricas e
Porém, se as vendas da revista não tivessem demonstrado que valia a pena reformular o personagem, isso dificilmente teria ocorrido. É uma ótica cruel, mas é como funciona essa indústria. Tanto que, na década de 70, o personagem voltaria a passar por momentos esquisitos. Bruce Wayne teve um irmão, se casou com a Mulher-Gato e teve uma filha que viria se tornar a heróina Caçadora, depois disso, morreu e não ressuscitou.
adaptações literárias. Inserir uma delas no programa federal significa altas vendas, dificilmente atingidas apenas com livrarias e bancas.
Essas histórias que tanto chamavam a atenção dos leitores pertencem à cronologia de uma Terra Paralela. Ou seja, não teve efeito verdadeiro nas histórias de Batman. No ano de 1986, O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, estabeleceu o padrão do personagem até hoje. Frio, calculista, sombrio, anárquico, uma versão melhorada daquela de 1939. Para a maioria dos fãs das ultimas três, quatro gerações, este é o Batman. No entanto, não devemos chamá-la de definitiva. A fase “sorridente” também durou cerca de 20 anos. Então, numa analise bem parcial, o jeito é torcer para que a fórmula atual continue agradando os leitores e deixando os cofres da DC cheios de dólares. Também visando o lucro, quadrinistas nacionais - Orlandeli, Ruy Jobim, Mauricio de Sousa -colocaram seus personagens em syndicates, empresas que distribuem as histórias para jornais do mundo todo. No ensino, nunca foi tão alto o número de produções científicas sobre quadrin-
A mídia em geral - jornais, revistas e TV - dedicou mais espaço aos quadrinhos em 2006. Quadrinhos estão incluídos oficialmente entre as notícias de portais de informação, algo que não vinha ocorrendo até então e que dá uma automática projeção ao tema. A internet ajudou a divulgar as histórias em quadrinhos como notícia, como assunto de fóruns de discussão ou como espaço para hospedar trabalhos de desenhistas, assim como aumentaram os blogs e fotoblogs dedicados ao tema.
24 A CONVERGÊNCIA DOS QUADRINHOS Hoje se lê muito menos quadrinhos do que nos anos 40, 70, onde as edições tinham respectivamente 100 e 50 mil cópias, nos dias atuais, um campeão de vendas mensais não passa dos 20 mil. Muitos editores de HQs acreditam que isso se deve à criação dos chamados scans da internet - são revistas em quadrinhos impressas, digitalizadas e disponibilizadas de forma gratuita entre os leitores.
vistas em quadrinhos de alta qualidade - criadas por computador deixaram muito a desejar. Consolidadas as inovações das últimas décadas, a computação gráfica surge agora como uma ferramenta para os autores de quadrinhos. Com o avanço dos programas e o aperfeiçoamento dos instrumentos gráficos já é possível hoje simular no computador, com uma grande fidelidade, quaisquer técnicas artísticas.
Consolidadas as inovações das últimas décadas, a computação gráfica surge agora como uma ferramenta para os autores de quadrinhos
Existe uma guerra entre as editoras e os scans, como ocorreu com o cinema as gravadoras de música que tem seus trabalhos rapidamente difundidos pela internet, ou seja; os quadrinhos também sofrem com a pirataria. Poderíamos dizer que é o fim dos quadrinhos? Talvez até seja o fim da forma como o conhecemos, pois ninguém sabe ao certo até que ponto chegará à internet, seja como for, os personagens estão longe da aposentadoria.
Assim, como os outros meio de comunicação, as história em quadrinhos estão partindo para chamada convergência, que como definiu o professor de ciências humanas, Henry Jenkins (1958) no livro Convergence Culture Consortium (Cultura da Convergência) de 2008, é um processo midiático que elimina barreiras entre setores antes isolados em seus mundos, como telefonia, internet, TV, cinema, e provoca uma migração entre as mídias. Em meados dos anos 80, começaram a surgir HQs cuja arte era inteiramente produzida em computadores - no Brasil, foram lançadas as graphic novels; Crash, estrelada pelo Homem de Ferro, e Digital Justice, protagonizada pelo Batman. O surgimento de tais trabalhos levou algumas pessoas a pensarem que no futuro os desenhos feitos à mão se tornariam obsoletos e computadores especialmente programados chegariam a substituir os desenhistas. Porém, anunciadas como o futuro dos quadrinhos, as primeiras graphic novels – re-
Neste ponto, entra em cena uma peça fundamental no processo criativo: o próprio artista. Afinal, como comprovam negativamente as primeiras experiências com computação gráfica aplicada aos quadrinhos, apenas recursos de computação não são o bastante para se produzir um trabalho de qualidade. Ao se limitar à simples utilização das novidades da computação, nenhuma HQ será mais que um produto descartável ligado a modismos passageiros. Por outro lado, a utilização da computação gráfica subordinada ao talento pessoal já vem rendendo bons frutos. Como bons exemplos temos a HQ A Guerra dos Imundos do quadrinista mineiro Guga Schultze, desenhadas diretamente no computador com um mouse, e as últimas edições da revista X-Men, desenhadas por Joe Madureira, nas quais as cores produzidas por computador valorizam os desenhos e acrescentam dinamismo às sequências. Enquanto a computação gráfica vem oferecer novas possibilidades para os autores, a internet apresenta novos desafios para os quadrinhos. Desde que surgiram, as histórias em quadrinhos estão ligadas aos meios impressos, mas com a internet sua veiculação deixa de depender diretamente do meio original - o que pode levar ao desaparecimento dos quadrinhos como os conhecemos.
Atualmente já se falou do fim da Arte, do Cristianismo, da Ciência, da História - além é claro do Fim do Mundo. Assim, falar do fim dos quadrinhos pode parecer apenas mais uma variação no tema do “Apocalipse”. Entretanto, essa possibilidade baseia-se em dois fatos; primeiro o de que há uma forte tendência para o desaparecimento dos veículos impressos em papel - um dos motivos é seu alto custo ecológico. O outro é o fato de que a internet fornece muito mais recursos do que a linguagem dos quadrinhos necessita, sugerindo que, ao se adaptarem ao novo meio, os quadrinhos venham a se transformar. Seja qual for o futuro, o scan de histórias em quadrinhos já é uma realidade. Não há quem possa negar. Alguns leitores não gostam, reclamam da leitura no monitor do computador. Outros já não se importam. Nos EUA, país que mais é afetado por scans, a discussão sobre o assunto começou há tempos. Há dez anos atrás, a internet não tinha tanta força como hoje, e os leitores de quadrinhos sobreviviam sem os scans. Os amantes de música viviam sem os MP3, e os cinéfilos - ou os fãs de séries de TV - viviam sem fazer download de seus vídeos.
25
Considerações finais A presente pesquisa teve como objetivo estudar a forma de utilização das revistas em quadrinhos para a divulgação e publicidade em geral, além da utilização de super-heróis como “mascotes” de campanhas e produtos. A área estudada não é diferente dos demais meios de comunicação, pelo contrário, por causa do preconceito, o trabalho com quadrinhos se torna mais difícil, devido a não aceitação de quem desconhece o meio por simples ignorância, por preferir ficar preso a velhos paradigmas, deixando de lado uma grande oportunidade de negócio, especialmente, no mercado brasileiro.
N
o primeiro capitulo o estudo mostrou a possível origem do que viria a ser o quadrinho moderno, e seus desdobramentos em diversas culturas, e a forma como foi ganhando o aspecto comercial nas variadas décadas, dividas em momentos históricos. Vemos que a comunicação de HQs é instantânea de forma explicita, e que ainda vem com um forte apelo implícito, dependendo apenas da qualidade do autor da obra. Percebe-se o quão simples e forte pode ser o uso das revistas em quadrinhos na divulgação de produtos, analisado no capítulo dois, e que ainda cria-se vários desdobramentos, como a utilização dos personagens oriundos dos quadrinhos em outros meios de comunicação, como a TV. Chegamos a conclusões simples com o final do terceiro e último capitulo do trabalho; quadrinhos tanto podem vender anúncios e idéias, como também seus próprios produtos. Ou seja; Batman pode vender o boneco
Batman, a camisa Batman e qualquer produto que imaginem com sua marca, ou pode ser o garoto-propaganda de uma linha de automóveis que nada tem haver com seu universo fictício. Vendendo com sucesso em ambas as ocasiões. Sendo assim, os quadrinhos demonstram que podem sofrer “metamorfoses” – ou convergência, se preferir - com outras mídias aumentando ainda mais sua influência, por isso o grande interesse do cinema e da TV em fazer adaptações de personagens e tramas dessa arte. Os quadrinhos constituem um verdadeiro império de fãs, leitores e colecionadores não só do produto em si, mas de tudo que determinada marca – no caso, super-herói - agrega. Para este público, uma cueca com o símbolo de Batman, vale muito mais do que uma cueca de uma marca de roupas conhecida no mercado. Porém, no Brasil, não existe um profissionalismo por parte das editoras
para mostrar o potencial de vendas desse meio de comunicação, e muito menos interesse das empresas em buscar inovações para o mercado, seja divulgando produtos específicos para o leitor de HQs, seja investindo nos heróis nacionais como garotospropaganda. A falta de inovação é um problema já conhecido das empresas brasileiras, que desde que o país abriu seu mercado para produtos estrangeiros nos anos 90, com a já citada globalização, a maior parte das corporações nacionais conservou o velho hábito de apenas “copiar” modelos prontos e produtos de fora, uma verdadeira “preguiça criativa”. O país ainda vai ter que perder muito financeiramente, para que as empresas entendam que diferenciar seu negócio, é ter uma poderosa vantagem competitiva, principalmente em um mundo globalizado, que não se vê como um pedaço destacado, e sim como um todo formando algo único.
26
Referências ABREU, A. Dicionário Histórico-Biográfico da Propaganda no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2007. AGÊNCIA EXPERIMENTAL MÉIER. Rio de Janeiro. 06 outubro 2009. Papo na Cidade – Episódio 1 Disponível em <http://ppmeier.blogspot. com/2009/09/papo-na-cidade-episodio- 1.html> Acesso em 14 junho. 2011. BATMAN: A TRAJETÓRIA. Rio de Janeiro. 01 maio 2001. Batman: a Trajetória. Disponível em <http:// www.batmanatrajetoria.hpg.com.br> Acesso em 7 março. 2010. BATMAN MAGAZINE. São Paulo: Abril Jovem, março.1995. BEATTY, S. The DC Comics Encyclopedia: The Definitive Guide to the Characters of the DC Universe. Nova Iorque: Dorling Kindersley, 1981. BLOGCITÁRIO. Salvador. 26 março 2007. Quadrinhos como Ferramenta. Disponível em < http://blogcitario.blog.br/> Acesso em 5 março. 2010. BODEGA DO LEO. São Paulo. 01 maio 2008. Bodega do Leo. Disponível em < http://www. bodegadoleo.com/> Acesso em 7 março. 2010. BONFÁ, S. Licensing - Como Utilizar Marcas e Personagens para Agregar Valor aos Produtos. São Paulo: M Books, 2009 CERNEY, J. V. O Poder da Comunicação. São Paulo: Ibrasa, 1978. COMICS COD AUTHORITY. E.U.A: CMAA, 1954. DEFONTAINE,
J.
A
Psicomotricidade
em
Quadrinhos. São Paulo: Manole Ltda., 1980. DC 2000. São Paulo: Abril Jovem, no35 novembro, 1992. FERRAZ, E. O Motor da Inovação. Exame. São Paulo: Abril Jovem, 2002. GALLUP. EUA. Nova Iorque, 1983. GUSMAN, S. O (ótimo) produto chamado Batman. Wizard. São Paulo: Panini Comics, no21, 2005. HOMEM-ARANHA. São Paulo: Abril Jovem, no13 julho, 1984. HQ MANIACS. São Paulo. 18 outubro 2001. HQ Maniacs. Disponível em <http://hqmaniacs.uol. com.br/principal.asp > Acesso em 7 março 2010. HQNADO. São Paulo. 29 setembro 2005. HQNADO. Disponível em < http://www.hqnado. com> Acesso em 5 março 2010. JAMIESON, K. The Interplay of Influence. Canadá: Wadsworth, 1992. JENKINS, H. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008. JOU VENTANIA. Rio de Janeiro: NG Brasil Publicidade, no1 janeiro, 2009. JOU VENTANIA - UNIVERSO. Rio de Janeiro. 05 abril 2009. Jou Ventania - Universo. Disponível em <http://jouventania.multiply.com/> Acesso em 7 março 2010. LIGA DA JUSTIÇA & BATMAN. São Paulo: Abril Jovem, no 17 novembro, 1995. LOPES JR. O. Batman. Cinemim. Rio de Janeiro: Ebal, no57 out.1989. MOYA, A. Shazam!. São Paulo: Perspectiva, 1977.
NERY, L. Brasil Comics – Super-Heróis Brasileiros. São Paulo: Agbook, 2011. OI QUADRINHOS. Rio de Janeiro. 01 janeiro 2010. OI Quadrinhos – Vilania Comics Universo. Disponível em < http://quadrinhos. oi.com.br> Acesso em 7 março 2010. OMELETE. São Paulo. Omelete entretenimento levado a sério. Disponível em:< http://www.omelete.com.br/> Acesso em 7 março 2010. POTER, M. Estratégia Competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1991. RIBAS, S. Dicionário do Morcego. São Paulo: Patati, 2005. ROKO-LOKO e ADRINA LINA HEY HOO... São Paulo: Prol Editora Gráfica, 2009. SAIBA MAIS! COM A TURMA DA MÔNICA. São Paulo: Panini Comics, no8 abr.2008. SALEM, R. Piada Mortal. SET. São Paulo: Editora Peixes S.A, no253 jul.2008. SPIRITO, U. Memórias de um Inconsciente. Milano: Rusconi, 1977. UNIVERSO HQ. São Paulo. Empresas no Brasil investem em quadrinhos para funcionários e clientes. Disponível em:< http://www.universohq. com.br/> Acesso em 7 março 2010. WHERTAM, F. A Sedução do Inocente. Nova Iorque: RinehartHouse, 1954. WIKIPÉDIA. Brasil. 1 março 2010. Wikipédia. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org> Acesso em 7 março 2010