Olhe bem as montanhas

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JOSÉ MARCOS RAMOS

OLHE BEM PARA AS MONTANHAS

BELO HORIZONTE

PRIMAVERA DE 1976

Compõem esta edição Ilustrações de Elza Versiani e textos de Saint-Exupéry


Dedicatória Ao Amigo Geraldo Magela Leite do Santos (che) que sempre me acompanhou nas minhas fantasias.

“Que tempo são esses, quando falar sobre árvores é quase um crime, pois significa silenciar sobre tanta injustiça!” BB


De vários pontos da cidade avista-se uma árvore solitária que na primavera floria alegrando o nosso pôr do sol. Ponto oeste de todo e qualquer indivíduo que se identifica com a natureza nas várias tardes do ano. Eis aí a história dela e do amor que ela oferta e ofertou, Maria Inês Carneiro Ramos


Quando se tem a natureza como companheira. Quando se tem uma árvore como referência de um passado presente, quando estamos tristes ou alegres, é doce ter uma árvore no horizonte que se possa olhar, sentir alegria e compartilha-la com um amigo, com a mulher amada, e sob seus galhos esquecer a dor, a angústia, a opressão, a guerra, a miséria. Mas quando não existe horizonte, não existe árvore, é necessário plantar, mesmo que seja dentro do coração em forma de amor.


I Tenho saudades de quando olhávamos o horizonte de qualquer ponto do bairro, e víamos uma árvore, e nos perdíamos n’um verde azul que nos fazia sorrir. “E nenhuma pessoa grande jamais entenderá que isso possa ter tanta importância!”


II Você se lembra dos dias em que olhando o horizonte, víamos a árvore resplandecendo crepúsculo? “Gosto muito do pôr do sol, vamos ver um?”


III E era eu, E era Você, E era a Cleide, E era o Paolo, E era a Nicoletta, E era a Nely, E já era a Inês, E eu era feliz... “É bom ter tido um amigo, mesmo sabendo que se vai morrer.”


IV Antes de vermos o infinito, olhávamos para uma árvore que mudava o sentido do nosso olhar para dentro d’alma, e nos fazia sentir a alegria da natureza. “Só se vê bem com o coração, o importante é invisível aos olhos.”


V Quando solitário, a amava, talvez por solidariedade ela estava sempre só. “Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.”


VI Quando triste, olhava-a para alegrar-me, quando alegre, a esquecia. “Quando a gente está triste demais, gosta do pôr do sol”.


VII Hoje olhei para o horizonte E o vazio me contou da vida... “A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar.�


VIII Hoje, alegre é feliz, quis contagiá-la, quando descobri que após o choro do céu, uma espada de luz segou-lhe os galhos que era a sua vida, junto com um rufar de tambores celestes. O Céu se fez luz, e um fio mágico cortou o sonho-verde de não sei quantas alturas que se via de todos os pontos, “Uma casca de árvore não é triste”


IX Hoje me lembro dela: Saudoso porque cresci sob seus galhos verdes, que alegravam o nosso horizonte, Triste porque ela se foi como um amigo, abandonada, sozinha... “E quando te houveres consolado (a gente sempre se consola)�


X Não a vi desaparecer... Mas na hora do pôr do sol, quando olho para o horizonte, vejo-a dentro do entardecer, me transmitindo alegrias “O que torna belo o deserto, é que ele esconde um poço nalgum lugar...”


XI Quando ela caiu deve ter sido sepultada no Cemitério da Paz, que hoje me parece mais verde. “E foi caindo suavemente... Não houve sequer um som”.


Revisão: Maria Inês Carneiro Ramos & Carla Lúcia Ramos Machado


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