Comentário: 2º Domingo da Quaresma - Ano B

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CONFIAR, ESCUTAR E CELEBRAR A FÉ BORTOLINE, José - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: 2º DOMINGO DA QUARESMA – COR: ROXO

I. INTRODUÇÃO GERAL 1. Celebramos a certeza de que, se Deus é por nós, ninguém será contra nós (2ª leitura Rm 8,31b-34). Na celebração da Santa Ceia do Senhor (Eucaristia) aprendemos a escutar o que o Filho amado do Pai nos tem para dizer (Evangelho Mc 9,2-10) e, confiantes, não em nossas seguranças, mas no Deus fiel às suas promessas, enfrentamos os absurdos da vida (1ª leitura Gn 22,12.9a.10-13.15-18), as perplexidades e desafios que o mundo dos excluídos nos apresenta. A fé nos garante que é possível transfigurar também a vida de quem carece de dignidade humana. Jesus foi solidário conosco, entregando-se por amor. Seguindo seus passos, queremos aprender com ele a criar nova sociedade e nova história.

de Isaac, o patriarca quase não fala, e Deus se manifesta somente no início e no fim do relato. Abraão tem de fazer tudo sozinho, em silêncio e envolvido pelo mistério incomparável de Deus, superando com fé e confiança os absurdos que a vida apresenta. Mas o povo se identifica também com Isaac, pois somos todos frutos de uma promessa e esperança de futuro. Nós, como Isaac, perguntamos quando percebemos que em nossa caminhada falta o essencial. E a única força que nos anima é esta: "Deus vai providenciar".

6. Isaac é fruto da promessa. Mas Deus tirou de Abraão todas as seguranças para que ele não se acomodasse. Só assim é que a promessa se torna realização: "Uma vez que não me recusaste teu único filho, eu te abençoarei largamente e tornarei tua descendência tão numerosa como as estrelas do céu e como a areia da praia… Por II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS tua descendência serão abençoadas todas as nações da 1ª leitura (Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18): Confiar para terra, porque tu me obedeceste" (vv. 16b-18). construir nova história Evangelho (Mc 9,2-10): "Escutem o que o meu Filho 2. Estamos diante da maior prova de fé de Abraão, pai amado diz"

dos que crêem. Os estudiosos afirmam que o episódio do sacrifício de Isaac serviu de base para que o povo de Deus jamais admitisse sacrifícios humanos, ao contrário do que se fazia nos cultos cananeus. Isaac é resgatado por meio de um sacrifício, e isso tornou-se mais tarde lei em Israel (cf. Ex 13,13b). Disso aprendemos que a vida é dom de Deus, mas isso não significa que ele exija para si a vida de suas criaturas, nem no passado, nem no presente.

7. A transfiguração de Jesus se encontra também em Mateus (17,1-8) e Lucas (9,28-36), mas cada evangelista trabalhou a seu modo a narrativa dentro dos objetivos específicos de cada um. Marcos a inseriu no início da segunda parte do seu evangelho. De fato, a partir de 8,31 temos um novo início e, daqui para a frente, Jesus vai dedicar a maior parte do seu tempo ensinando aos discípulos o sentido profundo de seu messianismo.

8. Na primeira parte do evangelho de Marcos, Jesus é incompreendido pelos "de fora", acusado de blasfemar, de ser um possesso, louco e impuro. E os discípulos, o que pensam dele? Pedro, representando todos os que pretendem se unir ao Mestre, afirma que Jesus é o Messias (8,29). Mas Jesus proíbe severamente aos discípulos de falar alguma coisa a respeito dele (8,30). Marcos insere aqui o primeiro anúncio da paixão. E Pedro, representando mais uma vez os discípulos, se torna "Satanás" (cf. 4. Abraão havia sido convocado a deixar o passado o evangelho do domingo passado), porque pretende que (cf. 12,1), confiando na promessa daquele que o chamou, o messianismo de Jesus se baseie nos moldes tradicioprometendo-lhe terra e descendência. Isaac é filho dessa nais. Jesus é incompreendido também pelos "de dentro". promessa e, ao mesmo tempo, é a esperança de futuro. 9. E agora: a proposta messiânica de Jesus vai vencer? Abraão é chamado a renunciar também ao futuro, devol- A transfiguração responde afirmativamente. Jesus vai vendo a Deus o dom da promessa. Assim acabam todas vencer. Seu projeto será vitorioso porque é garantido as seguranças para o velho patriarca. Deus age desse pelo Pai, que o declara seu Filho amado, pedindo que modo porque somente ele é segurança, ele que se man- todos escutem o que ele diz (9,7). A transfiguração é, tém fiel até o fim. Passando pela prova, Abraão amadu- portanto, o sinal da vitória de Jesus e de seu projeto. rece na fé, tornando-se construtor de nova história e pai de um povo que irá perpetuar sua memória e ações em 10. Jesus sobe a uma alta montanha com Pedro, Tiago e outros tempos e lugares. João, três dos quatro primeiros escolhidos (cf. 1,16-20). A cena recorda Ex 24, onde Moisés é convidado a subir 5. O povo de Deus não só se identificou com o Abraão à montanha de Javé em companhia de Aarão, Nadab, eloqüente que conversa e pechincha com Deus (cf. Abiú e setenta anciãos. Somente Moisés se aproximou 18,22-33), mas se identificou também com o Abraão que de Javé e, ao descer do monte, contou ao povo tudo o cala diante do mistério. De fato, no episódio do sacrifício que Javé lhe havia dito. A resposta do povo é uma só:

O trecho em questão, porém, não quer simplesmente justificar leis ou costumes adotados pelo povo de Deus ao longo da história. Ele é, isso sim, o melhor retrato da pessoa que crê em meio à escuridão da vida. De fato, o v. 1 afirma que "Deus pôs Abraão à prova", sem contudo avisá-lo de que se tratava de prova. E o teste de Abraão é o mais duro possível: Isaac, segundo o v. 2, é seu filho único, e Abraão o ama muito. 3.


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