Comentário: Ascensão do Senhor - Ano B

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A HISTÓRIA DE JESUS CONTINUA NA VIDA DA COMUNIDADE BORTOLINE, José - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulus, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: ASCENSÃO DO SENHOR – COR: BRANCA

I. INTRODUÇÃO GERAL 1. Celebrar a partida de Jesus para o Pai é senti-lo eternamente presente na vida das pessoas e da comunidade cristã. Ele não se afastou. Criou sua morada estável em nosso meio, como aquele que sustenta os passos e o testemunho dos que nele crêem (Evangelho Mc 16,15-20). Cabe agora à comunidade cristã mostrá-lo presente mediante o testemunho (1ª leitura At 1,1-11). Ele está sempre presente no meio de nós, em nossas comunidades, pois a glória de Deus é estar conosco; e nós o glorificaremos quando o reconhecermos e manifestarmos como Senhor Absoluto, Cabeça da Igreja, razão da nossa esperança (2ª leitura Ef 1,17-23). II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1ª leitura (At 1,1-11): A comunidade cristã: sacramento das palavras e ações de Jesus 2. Atos dos Apóstolos é o segundo livro que Lucas escreveu. No seu plano, o evangelista pretende mostrar que os ensinamentos e ações de Jesus continuam nos ensinamentos e ações dos cristãos. Portanto, o livro dos Atos não é um manual de história da Igreja, mas sim o prolongamento da prática do Senhor na vida da comunidade cristã. Se no evangelho de Lucas temos a práxis de Jesus desde o começo até o dia em que foi levado para o céu, no livro dos Atos temos a práxis apostólica cristã. E quem deseja ser amigo de Deus, "Teó-filo" (este nome certamente tem caráter simbólico, querendo identificar todos os cristãos), tem na práxis de Jesus e de seus seguidores as linhas-mestras de inspiração e conduta. A passagem do primeiro momento para o segundo está nas instruções que Jesus dá aos apóstolos que tinha escolhido, movido pelo Espírito Santo (v. 2). O mesmo Espírito esteve presente em Jesus e está presente na práxis cristã da comunidade. 3. Esta tarefa está ancorada na experiência do Cristo ressuscitado: "Foi a eles que Jesus se mostrou vivo depois da sua paixão, com numerosas provas" (v. 3a); tem o aval do Pai, cuja promessa se realiza em Jesus e na comunidade (v. 4b) por meio da efusão do Espírito (v. 5), que levará a comunidade à identificação de sua práxis com a de Jesus. Lucas fala de "quarenta dias" (v. 3b), durante os quais Jesus apareceu e falou aos discípulos sobre o Reino de Deus. O fato não tem caráter cronológico, mas teológicocatequético: a prática cristã nasce de experiência que Lucas visualiza num contexto de intimidade e comunhão: a refeição (v. 4a). É dessa intimidade com ele que nasce o testemunho cristão, a missão, a evangelização, pondo em movimento a Boa Notícia trazida por Jesus. E a garantia de sucesso está no batismo com o Espírito Santo. Ele é a memória continuamente renovada e atualizada do que Jesus disse e fez (cf. Jo 14,26). 4. Os vv. 6-8 contêm a pergunta dos discípulos e a resposta de Jesus. A pergunta dos discípulos revela a ânsia da comunidade cristã, a fim de que o projeto de Deus se realize completamente. Estão curiosos em saber se existe um limite até o qual se possa resistir e lutar corajosamente, e depois "descansar", sem que haja mais nada por fazer (v. 6). A resposta de Jesus contém duas indicações. A primeira (v. 7) afirma que o projeto de Deus não depende de uma data histórica: "Não cabe a vocês saber os tempos e as da-

tas". A segunda é conseqüência da primeira e manifesta qual deve ser a autêntica preocupação da comunidade cristã: sob a ação da força do Espírito, testemunhar (v. 8a) a práxis de Jesus. O projeto de Deus não depende de teorias, mas do testemunho que atualize o que Jesus fez e disse. 5. A palavra "testemunho" é como um fio que amarra juntos os dois livros que compõem a obra de Lucas. De fato, o evangelho dele se encerra falando desse testemunho (24,48). E aqui Jesus renova o compromisso dos discípulos (v. 8b). Nos Atos, após o Pentecostes, eles não cessam de repetir que são testemunhas (At 2,32; 3,15; 4,33; 5,32; 13,3; 22,15). Em palavras e ações, prolongam a práxis de Jesus. O testemunho, segundo os Atos dos Apóstolos, vai se espalhando a partir de Jerusalém, onde Jesus deu o testemunho final com a morte e ressurreição, atinge a Judéia e a Samaria (At 8,1-8) e chega aos confins do mundo (as viagens de Paulo). O projeto de Deus está aberto e ao alcance de todos. 6. O v. 9 fala do arrebatamento de Jesus. A referência à nuvem símbolo teofânico afirma que Jesus pertence definitivamente à esfera de Deus. É a certeza da comunidade de que Jesus cumpriu perfeitamente a vontade do Pai. Contudo, não basta sabê-lo. Torna-se necessário descruzar os braços, deixar de olhar passivamente para o céu, encarar a realidade que nos cerca, perceber que somos todos "homens da Galiléia", comprometidos com o testemunho de Jesus (vv. 10-11). O texto de hoje termina fazendo referência à volta de Jesus, da mesma forma como foi visto partir para o céu. Lucas está falando de parusia ou de teofania? Quando voltará Jesus: no fim dos tempos, ou no Pentecostes que leva a comunidade cristã a ser epifania sua, mediante o testemunho? Evangelho (Mc 16,15-20): A história de Jesus continua na vida da comunidade 7. Os estudiosos da Bíblia concordam em afirmar que Mc 16,9-20 não é de Marcos. Esses versículos existiam à parte, como um dos relatos pós-pascais. Mais tarde foram anexados ao final do evangelho de Marcos, talvez para atenuar a maneira incomum com que Marcos encerra sua obra. Os versículos que interessam à liturgia de hoje (15-20) são parte desse acréscimo posterior. 8. Apesar de não pertencer à obra original de Marcos, esse apêndice está em íntima sintonia com o evangelho. De fato, os versículos hoje propostos à nossa reflexão falam do mandato de Jesus aos discípulos: eles deverão anunciar o Evangelho a todos (vv. 15-18), exatamente como Jesus tinha feito; depois, Jesus é levado ao céu (v. 19); a seguir, os discípulos saem a pregar, ajudados pelo Senhor (v. 20). Em outras palavras, podemos afirmar que não há ruptura entre a missão de Jesus e a dos discípulos. A história de Jesus continua no testemunho da comunidade. É importante, ainda, ter presente que, apesar de Jesus ter-se sentado à direita de Deus (v. 19), continua caminhando nas estradas da humanidade, nos passos e ensinamentos dos discípulos (v. 20). Isso nos leva à afirmação de que a ascensão de Jesus não nos priva de sua presença; pelo contrário, oferece-nos modos novos de senti-lo e de encontrá-lo. 9. O texto de hoje inicia com a ordem de Jesus: "Vão pelo mundo inteiro e anunciem o Evangelho a toda criatura!" (v.


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