HOJE NASCEU PARA VOCÊS O SALVADOR, QUE É O MESSIAS, O SENHOR! Pe. José Bortolini – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades – Paulus, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: ABC – TEMPO LITÚRGICO: NATAL DIA 24 – COR: BRANCO / AMARELO
I. INTRODUÇÃO GERAL
que supera a liderança de Moisés, conduzindo o povo à vida definitiva (Pai para sempre); mediante sua liderança, o exercício 1. Deus entra na história do ser humano por meio de uma mu- da justiça e a defesa do povo, criará a paz-plenitude dos bens lher marginalizada. Celebrar o Natal é fazer memória dos eventos (Príncipe da Paz). É a síntese de tudo o que aconteceu de bom no libertadores do nosso Salvador, Messias e Senhor. Jesus nasce no passado do povo de Deus. meio dos pobres, migrantes, pastores; enfim, encarna-se na realidade dos que sofrem, para remi-los. 6. O v. 6 descreve as conseqüências da administração justa: haverá um reino sem limites, realizando assim as promessas feitas 2. A liturgia é comunicação do Deus que optou pelos pobres, a Davi. Como poderá tal reino se manter? Qual a força que o falando a linguagem deles, resgatando-os definitivamente, para sustenta de forma perene? O próprio texto nos dá a resposta: esse que ninguém venha de novo oprimi-los. Nasce para nós o Salva- reino vai durar para sempre porque fundado na administração do dor. Hoje é dia de boas notícias, pois a história toma rumo novo, direito e da justiça. manifestando a solidariedade do Deus fiel. Glória a Deus no mais alto dos céus! Sua glória é ação concreta repercutindo na terra, 7. O texto messiânico de Isaías se encerra afirmando que esse é trazendo para todos a paz. Chegou o dia do grande Jubileu! En- o projeto que Deus pretende ver realizado no mundo (v. 6b). O volto em faixas e colocado na manjedoura; envolto num lençol e Novo Testamento leu esse texto à luz do nascimento, morte e colocado num sepulcro; feito pão e vinho e posto a serviço dos ressurreição de Jesus, porque tal espécie de realeza não encontrou que ele ama: assim é o nosso Salvador, o Messias, o Senhor, ressonância nos reis de Judá e Israel. O oráculo ficava aberto, na aquele que não reservou para si sua vida, mas a entregou a fim de expectativa-esperança. Lendo-o à luz do nascimento de Jesus, os nos resgatar e purificar, tornando-nos seu povo, dedicado a prati- cristãos constatam já possuir a realização da promessa. Contudo, car a justiça. permanece aberta a pergunta: por que o povo de Deus continua oprimido? Por que ainda não chegamos a fazer uma grande foII. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS gueira de tudo o que é sinal de opressão e morte? 1ª leitura (Is 9,1-6): Chegou a salvação para os pobres e opri- Evangelho (Lc 2,1-14): “Hoje, na cidade de Davi, nasceu para midos vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor” 3. No ano 732 a.C. Teglat-Falasar III, rei da Assíria, tomou os territórios de Zabulon e Neftali, pertencentes ao reino do Norte. A situação do povo é descrita por Isaías como lugar de trevas e país tenebroso (9,1). Para esse povo dominado, sem identidade e liberdade, o profeta anuncia a salvação que se aproxima.
O texto de hoje descreve em três momentos a libertação desses territórios dominados: 1. Luz que brilha: Isaías faz ver que está para nascer nova aurora (9,1), como no início da criação, quando Deus fez a luz (Gn 1,3), pondo ordem no caos; 2. A libertação se traduz, concretamente, no fim da opressão inimiga, possibilitando ao povo crescer e viver em paz e alegria. A satisfação do povo libertado é semelhante à alegria experimentada durante uma colheita abundante; é como a alegria de repartir os despojos da guerra, onde o povo faz festa não só porque derrotou o inimigo, mas sobretudo porque, mediante o despojo, reconquistou para si o que o opressor lhe havia roubado brutal e violentamente (v. 2). Terminando a guerra, acaba também a opressão: Deus quebra a canga que oprimia o povo, a carga que sobre ele pesava, quebrando a vara do capataz (v. 3). O equilíbrio é restabelecido, a justiça volta a vigorar. A vitória dos pobres e oprimidos recorda o episódio de Madiã (cf. Jz 7,15-25), quando Gedeão, organizando e liderando um punhado de pessoas, desbaratou numeroso exército. Isaías continua descrevendo a vitória dos pobres: eles irão fazer uma grande fogueira com os símbolos da opressão: as botas dos soldados e os mantos embebidos de sangue (v. 4). 3. O nascimento de um menino que irá trazer a libertação para o povo. Esse é o motivo central, que explica e realiza o que até agora tinha sido anunciado.
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As esperanças dos pobres e oprimidos reflorescem a partir desse nascimento. O v. 5 descreve, em primeiro lugar, a característica do menino-esperança para o povo sofrido: ele traz sobre os ombros o manto de rei. Em segundo lugar, mostra qual é a identidade dessa personagem. Seu nome dá a conhecer suas ações em favor do povo: “Conselheiro Maravilhoso”, “Deus Forte”, “Pai para Sempre”, “Príncipe da Paz”. Esse nome estranho, de significado profundo, traduz a prática do novo rei: será mais sábio que Salomão, capaz de fazer justiça ao povo (Conselheiro Maravilhoso); será mais forte que Davi, defendendo o povo das ameaças externas, pois tem a própria força de Deus (Deus Forte); será líder
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8. No evangelho de Lucas, o relato do nascimento de Jesus pertence às narrativas da infância. Essas narrativas não nasceram da curiosidade em saber como tudo aconteceu; pelo contrário, surgiram da necessidade de reler os acontecimentos da infância de Jesus à luz de sua morte e ressurreição. Dessa forma, o texto de hoje não é um relato histórico, mas uma leitura teológica da história da salvação. O anúncio central do trecho de hoje (2,11) traz em si o início e a realização da salvação. Isso se torna compreensível se levarmos em conta o título que o Menino recebe da parte dos anjos: ele é Salvador (a salvação não se esgota no nascimento de Jesus, mas se completa com a morte e ressurreição). 9. Ao descrever o nascimento de Jesus, o evangelista estabelece estreito paralelismo com a morte e ressurreição do Messias. De fato, em 2,7a se diz que “Maria enfaixou Jesus e o colocou na manjedoura”; em 23,53a afirma-se que “José de Arimatéia enfaixou o corpo de Jesus e o colocou num sepulcro”. Os paralelismos são muitos, e não é necessário apresentá-los todos aqui. O importante é notar a preocupação de Lucas: ele descreve o nascimento de Jesus à luz do evento central da nossa fé. Seu nascimento é já anúncio de sua morte e ressurreição.
a. O Salvador nasce pobre no meio dos pobres (vv. 1-7) 10. O Messias entra na história da humanidade por caminhos alternativos não trilhados pelos poderosos. O imperador Augusto decreta, para todo o império romano, um recadastramento (2,1) que tem por objetivo arrecadar taxas sobre pessoas livres e escravas, homens e mulheres. A ordem vem de Roma, centro do poder de “Augusto”, que entende o poder na linha da dominação sobre as pessoas, arrogando-se direitos de explorar e dominar. O fato, para Lucas, se presta para uma leitura teológica da história: 1. A salvação não procede dos poderosos que dominam e abusam do poder; 2. Ela vem de um pobre, filho de migrantes marginalizados e explorados. José e Maria peregrinam de Nazaré, na Galiléia, para Belém, na Judéia, pois Belém era a cidade natal de José (v. 3). Com isso, o evangelista faz ver que Jesus, o Messias pobre, nasce como líder e Salvador na cidade de Davi, o rei que unificou o povo, trazendo-lhe vida, liberdade e paz.