Comentário: Natal dia 25

Page 1

A PALAVRA SE ENCARNOU E ARMOU SUA TENDA ENTRE NÓS Pe. José Bortoline - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: NATAL – Dia 25 - COR: BRANCO / OURO

I. INTRODUÇÃO GERAL 1. Que bom seria se o espírito natalino tomasse conta de todos os dias da vida. Viveríamos continuamente agradecidos, pois o Natal – início de nossa redenção – é o ponto alto da comunicação amorosa do nosso Deus. Hoje é dia de boas notícias: o nosso Deus vem para reinar, para fazer estremecer de júbilo as ruínas de Jerusalém e as nossas ruínas; na pessoa do Filho – Palavra encarnada que armou sua tenda no meio de nós – Deus nos fala e nos contempla face a face, e nós podemos contemplá-lo como um de nós. A Eucaristia coroa nossa celebração, e nela somos gratos ao Pai, pois na Palavra feita gente recebemos o poder de nos tornarmos filhos de Deus, nós que acolhemos Jesus e acreditamos em seu nome. II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1ª leitura (Is 52,7-10): “Seu Deus reina” 2. O Segundo Isaías (Is 40-55) é o profeta da esperança e da consolação para o povo exilado na Babilônia. O descaso das autoridades fez com que o povo perdesse a liberdade e a identidade numa terra estranha. Também Deus estaria tratando seu povo com descaso? A presença do profeta entre os exilados é prova de que Deus não abandonou seu povo, e é possível reconstruir a vida na liberdade. 3. O texto fala veladamente do exílio falando claramente da situação de Jerusalém em ruínas (v. 9). Essas mesmas ruínas de uma cidade arrasada são convidadas à alegria e à festa “porque Javé se compadece do seu povo e redime Jerusalém” (v. 9). As palavras “salvação” (vv. 7.10) e “resgate/redenção” (v. 9) anunciam o novo que está para acontecer: o exílio está terminando e o próprio Deus virá para reinar em Sião: “Seu Deus reina” (v. 7). 4. Não se trata simplesmente de refazer a dinastia de Davi, responsável principal pelo cativeiro babilônico, mas de resgatar um tema e um tipo de sociedade muito caros aos profetas: a época das tribos, quando ainda não havia reis, mas Javé reinava mediante a partilha e a solidariedade entre os clãs e as tribos (os salmos da realeza do Senhor defendem essa perspectiva). O texto, portanto, faz a Jerusalém um anúncio de paz (shalom = bemestar para todos), levando-lhe uma boa notícia: Estão de volta os tempos dourados, sonhados pelas minorias que nunca aceitaram a monarquia, submetendo-se apenas à realeza de Javé: “Seu Deus reina”. 5. É isso que o autor vislumbra: As sentinelas da cidade vêem ao longe um mensageiro chegando com essas boas notícias. Elogiam-se os pés, as passadas, por serem portadores de novidade. Na cidade, sobre as muralhas em ruínas, os vigias prorrompem em gritos e cantos de alegria porque o conteúdo da boa notícia é a salvação: os exilados vão poder voltar e Jerusalém terá um novo rei, o próprio Deus. 6. É como estar revivendo novo êxodo. De fato, a expressão “Javé arregaçou a manga do seu braço santo” (v.

10) é típica das narrativas do êxodo. Aqui, contudo, esse gesto é feito “diante de todas as nações”, de modo que o mundo inteiro contempla a sua salvação. Evangelho (Jo 1,1-18): A Palavra se encarnou e armou sua tenda entre nós 7. O Prólogo (Jo 1,1-18) é a mais brilhante síntese do Evangelho de João. Ele contém em miniatura todos os grandes temas que o corpo do evangelho desenvolverá. É poesia e, se excetuarmos os vv. 6-9.15, que parecem ser um acréscimo em prosa referente a João Batista, o Prólogo pode ser dividido da seguinte maneira: vv. 1-5: a Palavra existindo desde sempre junto de Deus; vv. 1014: a Palavra no mundo; vv. 16-18: a Palavra no mundo voltada para Deus. (Para os vv. 6-9.15, cf. evangelho do 3º Domingo do Advento – Ano B.) a. A Palavra existindo desde sempre junto de Deus (vv. 1-5) 8. O início do Prólogo é um baú de ressonâncias do Antigo Testamento. Não é pura coincidência começar com as mesmas palavras com que se inicia a Bíblia grega, criando uma ponte simbólica entre Gn 1,1 e Jo 1,1. Em ambos os casos, lá está a Palavra criadora e geradora de vida. O que é a Palavra? É a força criadora que a tudo dá vida. Mas o Prólogo parece ir além, fazendo a Palavra existir desde sempre junto de Deus: “No princípio a Palavra já existia” (1,1a). Outro contato forte é criado entre esses versículos e Pr 8,22-36, o poema sobre a Sabedoria criadora (cf. também Sb 9,9-12 e Eclo 24,332). Pondo-os lado a lado descobre-se a intenção de quem compôs o Prólogo: Jesus é a Sabedoria criadora de Deus, existindo desde sempre junto dele. Mas vai além: “a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus” (1,1b). O que é a Sabedoria? É o sentido da vida presente em todas as coisas: “Nela estava a vida” (v. 4a). 9. Há contato forte igualmente com Is 55,10-11, encerramento do Segundo Isaías, onde se compara a Palavra à chuva e à neve que fecundam (“engravidam”) a terra, fazendo-a produzir (cf. 1ª leitura do 15º Domingo Comum – Ano A). Para o autor do Prólogo, Jesus é essa Palavra geradora de vida: “Tudo foi feito por meio dela, e, de tudo o que existe, nada foi feito sem ela. Nela estava a vida” (vv. 3-4a). 10. O tema da luz – primeira criatura de Deus – aparece com força. Luz é o resplendor da vida, a vida brilhando intensamente. Os caps. 8-9 de João desenvolvem abundantemente esse tema. Aqui, no Prólogo, salienta-se o confronto entre luz e trevas. No Evangelho de João, as trevas são as forças de morte agindo na sociedade e que põem obstáculos à prática de vida de Jesus. b. A Palavra no mundo (vv. 10-14) 11. Existindo desde sempre em Deus, a Palavra vem ao mundo, encarnando-se em nossa história. Tendo já mencionado as trevas tentando apagar a luz, é fácil compreender que o Prólogo se volte para a rejeição sofrida pela Palavra: não foi recebida na própria casa. Mais adiante o


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.