NOSSO DEUS É ÚNICO E DIFERENTE PORQUE É LIBERTADOR BORTOLINE, José - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: TRINDADE – COR: BRANCO
I. INTRODUÇÃO GERAL Facilmente fabricamos deuses para nós, e facilmente nos submetemos a seus caprichos e seduções. Às vezes aceitamos pacificamente os ídolos que nos são impostos pela sociedade consumista e gananciosa, que favorece a vida a uns poucos, mas gera a morte de muitos. Por causa disso amargamos exploração, opressão e violência. O único Deus verdadeiro é Javé, o Deus que liberta para que todos tenham vida. Sua originalidade e unicidade consistem nisto: ser nosso parceiro fiel e libertador (1ª leitura Dt 4,3234.39-40), ser nosso Pai, que nos dá o Reino em herança, adotando-nos como filhos e eliminando, pelo Espírito de Jesus, o medo que nos escraviza e aprisiona (2ª leitura Rm 8,14-17). Esse Deus se revela na prática da comunidade cristã que vai refazendo os gestos de Jesus, até que o mundo seja transformado e tudo se torne posse da Trindade (Evangelho Mt 28,16-20).
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atribuído a Javé, mas sim à dureza de coração do povo que não se comportou como companheiro da Aliança. Aderindo aos ídolos, o povo acabou sendo por eles devorado. Daí surge a amarga constatação: de fato, nenhum ídolo pode libertar, pois o que ele faz não é dar vida às pessoas, mas tirá-la. 6. Planejando o futuro (v. 40). A tomada de consciência leva à adesão a Javé. Essa adesão consiste em reatar a Aliança rompida, e isso é feito através das leis e mandamentos. Em outras palavras, será necessário recuperar a fé no Deus que age na história libertando. Essa fé se traduz num projeto em que a vida e a liberdade sejam buscadas e preservadas com toda determinação. Delas dependem a felicidade, descendência, vida longa e posse da terra.
Evangelho (Mt 28,16-20): O Deus-conosco se revela na práxis da comunidade cristã
O texto é a conclusão do Evangelho de Mateus. Pode ser dividido em três momentos: a. Um relato de aparição 1ª Leitura (Dt 4,32-34.39-40): Javé é o único Deus por- (vv. 16-17); b. instrução de Jesus aos discípulos (vv. 1820a); c. promessa (v. 20b). que é o libertador II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
No capítulo 4 do Deuteronômio, apesar de conservar o estilo de todo o livro, é um acréscimo feito no tempo do exílio na Babilônia. A tônica desse capítulo, colocado no fim do primeiro discurso de Moisés (Dt 1,6-4,40), é o monoteísmo, com o conseqüente desmascaramento dos ídolos. Só quem liberta da escravidão é que deve ser considerado Deus. Aliás, a unicidade e originalidade do Deus de Israel consistem justamente no fato de ser o Deus que age na história como aliado fiel. Portanto, Javé não é um Deus de conceitos, mas agente de fatos libertadores do seu povo. E a fé do povo não é abstrata, mas está ancorada na história, na experiência daquele que age libertando.
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a. A experiência do Ressuscitado (16-17)
Inicia-se falando dos Onze discípulos que se dirigem à Galiléia, ao monte que Jesus havia indicado (v. 16). A comunidade dos discípulos tomou o rumo certo: a Galiléia. É bom lembrar o que significa para o evangelista essa localização. Para entendê-lo, devemos recordar o início da atividade de Jesus. Ele começa sua missão na Galiléia das nações (ler Mt 4,12-17), no meio daquela gente pisada e marginalizada, a fim de levar-lhe a Boa Notícia da libertação e da vida do Reino. É para lá que os discípulos se dirigem. É o lugar do testemunho e ação da comunidade cristã. Os discípulos, em Jesus e a partir dele, dão início à práxis cris3. O texto de hoje começa olhando para o passado de tã. Deus e das pessoas (vv. 32-34), visando suscitar o reconhe- 9. Mateus fala também de um monte como ponto de encimento – tomada de consciência (v. 39), para conduzir à contro de Jesus com sua comunidade. Não se trata de locapráxis geradora de felicidade, vida longa, descendência e lizar geograficamente esse ponto de encontro. É um monte posse da terra (v. 40). que recorda a atividade de Jesus. Nesse sentido, o monte é Olhando para o passado (vv. 32-34) o povo descobre que o Senhor esteve ao lado dele. A criação foi grandiosa, porém mais eloqüente foi a Aliança do Sinai, onde Deus se mostrou próximo e parceiro na caminhada da libertação. O povo pôde conversar com ele, conservando a vida. A originalidade e exclusividade de Javé está em ter escolhido um povo no meio dos outros, libertando-o do sofrimento e opressão em que se encontrava (escravidão no Egito). O v. 34 mostra como isso aconteceu, enumerando sete recursos usados por Javé no processo da libertação: provas, sinais, prodígios, luta, mão forte, braço estendido e grande terror. O Deus de Israel luta com tudo o que pode para libertar seu parceiro. E nisso ele é único e original: os ídolos não podem e não devem escravizar o povo de Deus! Se isso acontecer, Javé está em guerra, pois ele quer seu povo livre para viver a comunhão com ele (Aliança).
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o das tentações (4,8-10), o da transfiguração (17,1-6), mas sobretudo o monte sobre o qual Jesus anunciou seu programa missionário: o monte das bem-aventuranças (5,17,29). Agindo assim, a comunidade se torna autêntica discípula. Identifica-se com Jesus e seu projeto (os discípulos se prostram diante dele).
10. Contudo, há sempre o risco de não acolher plenamente o significado da prática de Jesus na vida da comunidade: “ainda assim alguns duvidaram” (v. 17b). O verbo duvidar (edistesan em grego), ao longo do Evangelho de Mateus, encontra-se somente aqui e em 14,31, onde Pedro duvida e afunda na água. Duvidar, portanto, comporta a falta de fé, mas também a falta de percepção maior da prática de Jesus que vence todas as formas de morte e alienação. Dúvida é ter medo do risco e do compromisso. É um alerta que acompanha constantemente a comunidade cristã, colocando5. Olhando para o presente (v. 39). A memória do parcei- a numa atitude de conversão permanente ao projeto de ro fiel suscita o reconhecimento naqueles que agora sofrem Deus. novamente o exílio, desta vez na Babilônia. O passado b. O poder de Jesus é passado à comunidade (vv. 18-20a) serve de lição que ilumina o presente. O exílio não pode ser