NÓS TEMOS QUE APRENDER A RETROCEDER

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PAPO CABEÇA POR SÉRGIO FRANCISCO

ão há como negar a importância da internet atualmente. Por causa dela, temos acesso à informação, educação, comércio, lazer, entretenimento e, principalmente, comunicação. O destaque são as redes sociais. No Brasil, segundo o IBGE, mais de 126,4 milhões de pessoas têm perfis em redes sociais. Dentre elas, 20,5 milhões, aproximadamente 17%, têm entre 10 e 19 anos. Esses internautas, como você e eu, usam a internet com o intuito de compartilhar fotos, arquivos, ideias e mensagens em plataformas como Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, Youtube, entre outras. Apesar de todas as vantagens que esses espaços oferecem, eles também são considerados a face mais perigosa do universo virtual. Isso porque nós, adolescentes, estamos frequentemente sendo colocados diante de uma tela cheia de possibilidades e informações quando ainda estamos desenvolvendo a capacidade de discernir o que é verdadeiro ou falso e bom ou mau. Assim, as redes

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viram verdadeiras portas abertas para diferentes perigos. Como permitir, então, que a chamada Geração Z, da qual você e eu fazemos parte, que não conhece a vida sem a internet, possa usá-la com segurança? Respondendo a essa e outras questões, Leonio Alves, doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco e professor de Direito da Família, da Criança e do Adolescente, da Faculdade de Direito do Recife, dá dicas de como utilizar a world wide web corretamente, tomando as precauções necessárias.

⋆ Prof. Leonio, hoje, há quem não consiga passar sequer um dia sem usar o celular. Mais impensável ainda seria ficar 24h longe de todas as redes sociais. Como lidar com essa situação de dependência? É muito delicada a situação. Porque, hoje, as pessoas estão bastante submersas


Uma vez habitando em “terra de ninguém”, qual a principal medida que nós devemos tomar para termos uma experiência saudável com o meio virtual? Primeiramente, as plataformas devem filtrar os conteúdos. Há formas, e determinados programas, de você restringir acesso. Uma espécie de pré-monitoramento, um filtro tecnológico, por palavras chaves, expressões etc., disponíveis pelas próprias redes. Além dessa filtragem de conteúdos, o que mais precisamos fazer? É preciso ir, progressivamente, se afastando. Porque essas redes atingem o cérebro. São mecanismos que trabalham com a psique, e, com isso, viciam. São feitos e desenhados, em sua composição, para viciar. A construção desses sites, a arquitetura, não é aleatória. Ela tem propósito psicológico. Então, estipular um limite, de vinte, trinta minutos, no máximo, por dia, para que esse limite passe a ser uma rotina, é fundamental.

Entender o funcionamento das redes e o quão complexas elas são parece ser mesmo uma necessidade para o bom uso da internet. Sim. Sem dúvida! Há exemplos de estudos e medidas de utilização consciente da ferramenta cibernética no Brasil? No Rio Grande do Sul, nós temos um laboratório, dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), referente ao uso das redes e das mídias sem danos. A existência desse laboratório simboliza, então, a construção de uma política de ponderação eficaz. Os gaúchos construíram esse grupo de estudos – que conta com a participação de pais e filhos – para interagir sabendo que esse tipo de sistema é complexo, haja vista que ele envolve educação, segurança pública, delegacias especializadas na defesa da criança e do adolescente contra crimes cibernéticos e muitas outras variantes. Qual o seu conselho pra nós, adolescentes, que vivemos cada vez mais conectadas? Então, eu costumo dizer que nós temos que aprender a retroceder, em algumas situações. Não retrocesso de conquistas; não é isso, de jeito nenhum. Mas o retrocesso, neste caso, tecnológico. Um freio tecnológico, pois as pessoas não estão vivendo mais. Meu receio é chamarem tal medida de censura. Eu não chamaria isso de censura. E sim de medida de proteção, porque, do jeito que está, não pode ficar.

FOTO: REPRODUÇÃO/PANDLE

na tecnologia. E é preocupante porque a internet é uma “terra de ninguém” – sua regulação, no mundo todo, em regra, vai depender da legislação de cada país. Não há um marco internacional que regule a internet. Mas o lado pesado e negativo de tudo isso é quando não há nenhum limite e crianças e adolescentes são arrastadas, tragadas para o crime virtual: para ser alvo de crimes ou participar de crimes; dada a vulnerabilidade que é muito grande.


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