01 | 03 INTRODUÇÃO REFERENCIAL TEÓRICO
S U M Á R I O | L I S TA D E F I G U R A S
SUMÁRIO INTRODUÇÃO Objeto [07] Problemática [08] Objetivo geral [11] Objetivos específicos [11] Justificativa [12]
REFERÊNCIAL TEÓRICO História da relação entre o comércio e espaço/ cidade [18] O espaço [22] Categorização das feiras [23] O espaço e a criatividade [26] Conceito de público e privado [30] Gradientes de privacidade [32] A comunidade e a rua [34] Forma e uso [37] A forma como instrumento: Uma nova tradição [39]
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Figura 1 - A arquitetura comunicativa. Ilustração digital. Fonte: Autora, 2020.
“Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar, use-o na proporção da sua fé. Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine; se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria.” ROMANOS 12:6-8
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INTRODUÇÃO A partir da criatividade surge a
quanto sociocultural, este estudo
habilidade de desenvolvimento de
tem como objetivo investigar o uso
novas ideias, da criação de soluções
misto do espaço, e os efeitos que
e formas para os problemas atuais.
a arquitetura pode proporcionar e
Esta capacidade do ser humano
possibilitar ao ser humano.
está relacionado de modo direto com a economia e apresenta grande
O trabalho Final de Curso consiste
influência na infraestrutura urbana.
no
qualidade
A
arquitetura
é
um
meio
de
estudo
desse criativa,
espaço, no
na
contexto
em que o projeto será inserido,
comunicação que possui o poder
bem
como
nos
impactos
que
de transmitir emoções e possui
buscará propiciar na sociedade e
forte simbolismo. A partir deste
no indivíduo, de maneira que essas
pensamento e levando em conta as
esferas funcionem em conjunto no
condições atuais arquitetônicas e
desenvolver da região central, a qual
urbanísticas do centro da cidade de
já apresenta fortes características de
Ribeirão Preto, tanto geoeconômica,
polo criativo.
INTRODUÇÃO | OBJETO
OBJETO O objeto de estudo propõe um projeto de espaço comercial colaborativo, composto por: loja, área de oficinas e ensino, cafeteria e para a interconexão destes, uma praça que servirá para o uso de atividades complementares que, por consequência, contribua para o incentivo à economia criativa local e de maneira subjetiva o sentimento de pertencimento da população sobre o centro da cidade. Esse objeto será inserido no centro da cidade de Ribeirão Preto, ponto de convergência de situações urbanas.
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Figura 2 - Village Feast. Pintura. Gillis Mostaert, 1590. Fonte: Wikipédia Modificada graficamente pela autora, 2020.
PROBLEMÁTICA As feiras, criadas por mercadores
dicional. Elas vêm trazendo como
a partir do renascimento urbano
base novos objetivos, que refletem
e comercial no século XI, destaca-
as novas necessidades do meio
ram-se como importantes merca-
social e não mais de um lugar de
dos comerciais e como centro de
apenas compra; objetivos estes de:
desenvolvimento das cidades. Teve
valorização, fortalecimento, conexão
início na Europa como um meio de
de marcas autorais e consumidor, e
transformação na vida social, econo-
fomento do crescimento cultural do
mia e principalmente na paisagem
meio inserido.
urbana. Essa atividade comercial desenvolvida pelos mercadores quase
O grupo de expositores dessa nova
sempre era realizada nos arredores
tipologia de feira deixaram de ser
das cidades, também conhecido por
compostos apenas por artesões ou
burgos (núcleos populares).
agricultores, e apresentam o seu
Atualmente muitas feiras livres vêm
corpo formado por designers gráfi-
acontecendo na cidade de Ribeirão
cos, designers de moda, designers
Preto e se apresentam como um
de interiores, ilustradores, arquitetos,
modelo diferente do formato tra-
engenheiros, makers1, farmacêuti-
I N T R O D U Ç Ã O | P R O B L E M ÁT I C A
cos e outros profissionais diversos. Dos espaços de suas residências, surge o local para criação de seus produtos, e das feiras a alternativa financeira para esses empreendedores e produtores criativos exporem de suas mercadorias, pois os custos de manter um local fixo são altos e demandam
burocraticamente
da
parte econômica e da mobiliária. O ato de criar é complexo, e as pessoas criativas necessitam de espaços adequados e preparados para atender suas mentes inquietas, espaços que consigam passar os objetivos daquilo que acreditam. Atualmente, em Ribeirão Preto, especificamente no centro, não possui locais fixos para que essas mentes criativas possam desenvolver-se, conectar-se, ensinar, trabalhar e realizar suas vendas
A sociedade vem mudando, e centro da cidade como organismo vivo e ponto de convergência de pessoas, culturas e vertentes de pensamentos diversos, possui o dever de demonstrar novos pontos de referência vivencial que transpareça os avanços da cidade, com o objetivo de fazer com que a sociedade atual também faça parte da história incumbida ao centro da cidade, dos avanços intelectuais, e assim, construa em conjunto com o passado o futuro arquitetônico.
de maneira continua, e que também o público que se identifica com o objetivo e a população possam adquirir de maneira orgânica dos produtos e conhecimento dos empreendedores criativos.
1 O Movimento Maker é uma extensão mais tecnológica e técnica da cultura Faça-VocêMesmo ou, em inglês, Do-It-Yourself (ou simplesmente DIY). Esta cultura moderna tem em sua base a idéia de que pessoas comuns como eu e você podem construir, consertar, modificar e fabricar os mais diversos tipos de objetos e projetos com suas próprias mãos.
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INTRODUÇÃO | OBJETIVO GERAL E OBJETIVOS ESPECÍFICOS
OBJETIVO GERAL O
trabalho
Final
de
Graduação
consiste no estudo e aplicação de espaços capazes de proporcionar estimulos à critividade, o fortalecimento do sentimento de pertencimento através do partido arquitetônico; de maneira que estas duas esferas contribuam em conjunto na propagação e incentivo ao fortalecimento do comercio criativo e artesanal local, inserido na região central, a qual apresenta potencialidades como polo criativo da cidade.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS •Estudar formas e possibilidades sensoriais e emocionais dos espaços internos e externos que estimulem a ação e a criatividade; •Verificar o uso do paisagismo como elemento de integração entre o edifício a praça interna a Praça Carlos Gomes, referência histórica da cidade; •Estudar métodos arquitetônicos de conexão entre exterior e interior, púFigura 3 - Sesc 24 de maio. Fotografia. Autor: Flagrante. Fonte: Site Cargo Collective.
blico e privado, coletivo e individual, edifício e rua.
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JUSTIFICATIVA O ser humano está relacionado às
Coletivo (localizada na A Fábrica3 e
próprias experiências vividas, e a
também em praças e locais diversos
maneira de entender o espaço está
da cidade; organizado pelo Instituto
ligada não apenas aos sentidos sen-
SEB), a Feira Afim4 (localizada no
soriais, mas também a sua cultura.
Cine Clube CAUIM ; organizada por
Esse entendimento sofre mudan-
empreendedores), a Feira Chiquita
ças com ordem ao conhecimento
Bacana5 localizada na Immaginare ;
cultural de cada um. Há um termo
organizada pelos proprietários em-
empregado para esse contexto, o
preendedores) e outras feiras que
termo ‘proxêmica’ (proxemics), cria-
ocorrem, mas não são amplamente
do pelo antropólogo Edward T. Hall
divulgadas. Mesmo que utilizem
(1963). Ele ressalta que tudo aquilo
dos mesmos locais frequentemen-
que o ser humano faz está relaciona-
te, algumas delas estão localizadas
do com a sua experiencia espacial2 e
em pontos da cidade onde não se
que o significado que damos ao es-
tornam acessíveis para um público
paço que determina o nosso desem-
amplo, e que não geram vínculo
penho está fortemente relacionado
com o ambiente circundante, ou
com as distâncias interpessoais. A
acabam
segurança pública, pessoal e social,
curtos, que geram a necessidade de
o conforto ambiental em espaços
um grande descolamento de tempo
públicos e sociais, o controle da
e espaço, ao invés de se apresentar
qualidade de espaços coletivos são
num espaço que faça parte do per-
fatores que, atualmente, é raro que
curso e acesso da população.
ocorrendo
em
horários
sejam encontrados nos espaços do centro da cidade.
As pessoas se identificam apenas com parte de todo o seu significado,
As feiras apresentadas inicialmente,
e algumas (as quais geralmente
foco do plano de trabalho, apresen-
não
tam atualmente um cronograma
conhecimento cultural e intelectual)
sazonal e locais não fixos. Presen-
com nenhuma. Esta última parcela
temente na cidade, das feiras exis-
que foi citada está envolvida numa
tentes as principais são a Feira do
rotina a qual não lhes restam tempo
possuem
oportunidade
ao
I N T R O D U Ç Ã O | J U S T I F I C AT I VA
Figura 4 - Privacy Paradox. Ilustração. Colagem. Autora: Tanya Cooper. Fonte: Site tanyacooper.
2 A percepção do espaço é investigada por Hall por meio dos seus órgãos dos sentidos, que são abordados como receptores. Os receptores próximos são o olfato, tato e os receptores remotos, a audição e a visão. 3 O Instituto SEB, braço de investimento social do Grupo SEB, tem como missão engajar, por meio de uma educação inovadora, crianças e jovens para que se tornem protagonistas do desenvolvimento sustentável de nossa sociedade, localizado em R. Mariana Junqueira, 33 - Centro, Ribeirão Preto – SP. 4 Cineclube CAUIM - Entidade Cultural sem fins lucrativos localizada em Ribeirão Preto -SP. 6 Immaginare Escola de Criação e Design. R. Mal. Rondon, 236 - Jardim Sumaré, Ribeirão Preto – SP.
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para parar e apreciar a rica história
conhecimento cultural e intelectual,
da cidade, o que causa, em grande
mas não se sente confortável ao
parte,
afetivo
estar no centro da cidade por conta
pela cidade, gerando a falta do
da falta de costume e identidade
sentimento de pertencimento.
com o espaço (por muitas vezes,
o
distanciamento
desde criança, apenas frequentar Todavia, há, ainda, outra parcela
locais como shoppings e parques
da
contemplada
privados para o lazer). Nesse sentido,
que
José
população
anteriormente
não e
possui
alguma oportunidade de acesso ao
Ferrater
Mora
(1986,
MONTANER, 2012) afirma:
apud
I N T R O D U Ç Ã O | J U S T I F I C AT I VA
“Paradoxalmente não são as pessoas que vivem querendo apagar o passado e olhar apenas para o futuro as que nos trazem as grandes inovações. Os que modificam substancialmente o futuro são aqueles que vivem enraizados no passado e são plenamente conscientes das implicações da história, daquilo que as relações passadas podem acarretar no futuro. Por isso, a sua contribuição não é um apêndice ou algo transitório, mas uma mudança que se incorpora, que concorda profundamente com o sentido que já existia, daquilo que já estava implícito e apenas esperava que o desenvolvesse. Então cria-se algo com grandes chances de deitar raízes, de converter-se em uma nova tradição.” (MORA, 1986, apud MONTANER, 2012, p. 19).
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Assim, o projeto também busca melhorar um problema urbano de Ribeirão Preto em relação à questão de pertencimento da sociedade sobre o centro histórico da cidade, local que apresenta o maior potencial de encontro de pessoas, troca de ideias e criação, por conta do seu rico fator cultural, emocional e histórico. Todavia, o centro da cidade, principalmente na famosa área do quadrilátero central e calçadão, apresenta hoje traços da situação de degradação e declínio: fachadas descuidadas, falta de segurança e usos no período noturno, partidos arquitetônicos que não geram conexão física e atratividade insuficiente. Este último aspecto gera, então, um reforço pela escolha, pois a intenção é que o projeto se apresente como ponto de intervenção nesse trecho importante da cidade, a partir do seu caráter comercial e cultural, oferecendo assim como modelo e ponto de partida para o surgimento de um local arquitetonicamente planejado e projetado para atender as novas demandas de comércio e as necessidade de lazer, cultura e emocional do ser humano.
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“A ARQUITETURA É CONSIDERADA COMPLETA COM A INTERVENÇÃO DO SER HUMANO QUE A EXPERIMENTA” TADAO ANDO, 1941.
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REFERENCIAL TEÓRICO O complexo arquitetônico intitulado
disposição da companhia. O con-
“Quarteirão Paulista”, na região cen-
junto é constituído por três edifícios
tral da cidade de Ribeirão Preto, teve
(classificados pelo estilo eclético): o
seu início na década de 1920, en-
Teatro Pedro II, o Palacete Meira Ju-
quanto a região de Ribeirão Preto se
nior e o Hotel Central.
encontrava em seu ápice econômico por conta do mercado cafeeiro, por
HISTÓRIA DA RELAÇÃO ENTRE O COMÉRCIO E ESPAÇO/CIDADE As
feiras
livres
tradicionalmente
feira significa “dia santo ou feriado”.
se estabeleceram por intermédio da relação entre campo e cidade,
Na transição da Idade Média para a
e vêm apresentando um aconteci-
Idade Moderna, houve uma transfor-
mento econômico e sociocultural
mação tanto na maneira de produ-
procedentes dos agrupamentos de
ção exercida com a estabilização do
pessoas e barracas, onde ocorre a
capitalismo, quanto no modo que os
comercialização de vários tipos de
seres humanos vivenciavam em so-
mercadorias.
ciedade. Através dessa modificação, é possível compreender como os
Historicamente, o surgimento vem
meios de consumo foram formando
desde a Antiguidade, por volta do
os espaços da cidade, de mesmo
ano de 500 a.C., antes mesmo da
modo que os espaços foram moti-
existência do modelo de dinheiro
vando o comportamento de seus
como pagamento, por meio das
utilizadores.
trocas
de
suas
produções
por
outras. A etimologia da palavra “feira” apresenta uma relação entre comércio e religião.A palavra latina
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Figura 5 – Título não identificado. Os melhores desenhos de 2018. Colagem. Autor: J. C. Architecture. Fonte: Site Archdaily.
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“Ao longo do tempo e da história, as feiras conservaram, recriaram e reafirmaram ciclicamente seus caracteres e atributos originais, mantendo uma identidade milenar, reconhecível nas mais diferentes partes e culturas do mundo onde se instalaram. São mercados vivos, dinâmicos, móveis, alegres, insubordinados. Montamse e desmontam-se. Alimentam e reproduzem a vida, as informações e os vínculos sócio afetivos entre as pessoas e as mercadorias, entre o urbano e o rural. Põem em movimento símbolos, valores e sentidos que tornam habitável e humana a mais fria, impessoal e cosmopolita das metrópoles contemporâneas.”
(JUNQUEIRA 2015, pág. 27)
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A partir do século XI, momento das mudanças causadas pela Revolução Industrial, as feiras adquiririam o conhecimento de público e consolidaram-se entre as hierarquias mais populares em pontos onde a sociedade realizava trocas ou vendia seus produtos. No Brasil, há indícios de feiras livres já nos períodos de colonização e, mesmo com o período da modernidade, elas persistem, e de acordo com FORMAN (1979), muitas cidades do interior do Brasil possuem as feiras como a única forma de comércio da população, exercendo também como centro de educação, entretenimento e cultura. Na atualidade, as feiras têm diversificado o oferecimento de produtos. Assim,
particularmente
sobre
as
quais
temos conhecimento, hoje,
elas dispõem de uma grande gama de mercadorias, desde produtos que atendem as camadas mais populares até produtos sofisticados, que apresentam um design correspondente ao crescimento tecnológico atual.
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O ESPAÇO A feira como espaço físico se mostra
apresenta a mesma vivência mais de
como um local aberto, amplo, de
uma vez, visto que as histórias e os
possibilidade
eventos são únicos a cada instante
para
utilização
de
tipologias diversas de atividades que
vivenciado, não havendo repetição.
se constituem pela concentração de pessoas. Uma característica particular das feiras livres é a utilização de um espaço que impõe ao local as necessidades características de modificações, um espaço que é modificado para ocorrer o evento e que, posteriormente, volta a composição primária. Além disso, possui a necessidade de fornecer, periodicamente, um espaço onde as trocas físicas e pessoais possam ser praticadas. Ainda sobre a função da feira, além de suas características econômicas, Braudel (1998, p.14) afirma que essa possui a função de romper com o círculo exageradamente estreito de trocas tradicionais, reconstituindo-se nos locais habituais das cidades, “com suas desordens, sua afluência, seus pregões, seus odores violentos e o frescor de seus gêneros”. Essa história, no interior e exterior do espaço da feira, com particularidade significativa e remodelada, não
Figura 6 - Kleinste gorky. Colagem. Autora: Tamara Stoffers. Fonte: Site Tamara Stoffers.
R E F . T E Ó R I C O | O E S PA Ç O | C AT E G O R I Z A Ç Ã O D A S F E I R A S
CATEGORIZAÇÃO DAS FEIRAS Após a análise sobre o surgimento das feiras num contexto amplo, achou-se
necessária
investigação
mais
uma
aprofundada
sobre as características atuais desses eventos, especificamente na cidade de Ribeirão Preto. Assim, a partir da listagem de feiras feita pela Prefeitura de Ribeirão Preto, e levantamentos das feiras Figura 7 - Mapa de localização das feiras alternativas na cidade de Ribeirão Preto. Ilustração digital. Fonte: Autora, 2019.
divulgadas por
em
movimentos
redes e
sociais
e
instituições
privadas, foram categorizadas três classificações que dividem os tipos de feira na cidade de acordo com os produtos e maneiras de exposição de cada uma.
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FEIRAS DE ABASTECIMENTO
FEIRAS ALTERNATIVAS
São feiras de fornecimento, que
São feiras que apresentam itens
vendem verduras, frutas, legumes,
mais específicos que as demais. Sur-
e outros alimentos provindos do
giram nos últimos anos, e ainda vêm
rural. Geralmente ocorrem uma vez
ganhando espaço e visibilidade, se
por semana, em locais fixos, dentre
diferenciam pelos produtos vendi-
vários bairros da cidade, atraindo um
dos, como, alimentos vegetarianos
público fiel.
e veganos, produtos artesanais, de design autoral, produtos locais, feitos manualmente e em microescala. Muitas são itinerantes, sem data fixa
FEIRAS ESPECIAIS São feiras que vendem vários tipos de produtos. A maioria reúne em um só local bancas de alimentos, de vestuário, brinquedos, animais de estimação, produtos de origem estrangeira macroescala.
Figura 8 - A painting of The Real Food Market on the Southbank. Pintura. Autor: Liam O'Farrel. Fonte: Site liamofarrell.
e
produzidos
em
ou local pré-definidos, utilizando de espaços colaborativos, tanto público, quanto privado.
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O ESPAÇO E A CRIATIVIDADE A força da Economia Criativa, ou
Em uma das notas do seu livro ‘A
o famoso “capital humano”, é o
modernidade
conhecimento. Por isso as cidades
cita a arquiteta modernista ítalo-
não devem ser planejadas apenas
brasileira Lina Bo Bardi, afirmando
para as máquinas, mas sim para os
novamente
seres humanos que habitam nela,
de se criar espaços próprios para as
de maneira que eles se sintam parte
novas formas de produção e pensar,
do ambiente urbano e se sejam
dizendo que Bo Bardi não propôs
protagonistas do mesmo.
apenas uma forma arquitetônica,
superada’,
sobre
a
o
autor
importância
mas um método que superou a Para MONTANER (2012), “o mercado criativo local é uma situação de diversidade e pluralidade que não pode ser confrontada com soluções únicas e universais de mercado/ comércio. [...] é imprescindível uma nova forma de gerir e projetar arquitetura e o urbanismo, uma nova forma de essencialmente bottom up (a partir da base), que leva em conta a diversidade de pessoas e de contextos e que saiba integrar tais dados.” (MONTANER. 2012. p. 11).
modernidade em suas limitações, que consista em harmonizar a base cultural do passado e a riqueza e a vitalidade da cultura popular como projeto moderno de criar novas formas para uma nova sociedade, tampouco histórico e modernidade são antagônicas. (MONTANER. 2012. p. 19). Dessa maneira, se anteriormente a indústria baseava-se vigorosamente na confinidade de seus recursos físicos, como linhas férreas ou os rios, fortalecendo-se as margens e ao longo deles, na atualidade a indústria
necessita
ambiente
que
de
espaços/
encorajem
o
compartilhamento de ideias, das relações sociais e da criatividade.
REF. TEÓRICO |
O E S PA Ç O E A C R I AT I V I D A D E
Figura 9 - Lina Bo Bardi: Habitat. Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi. Ilustração: Nanquim e aquarela sobre papel. Autora: Lina Bo Bardi. Fonte: Site Instituto Bardi.
“No nível mais básico, a economia do conhecimento refere-se a pessoas criativas se juntando – a cidade á o diferencial que propicia isso – para adicionar valor ao trabalho através da troca de informações, gerando, assim, novas ideias.”
(LEITE, 2012. p.70)
REF. TEÓRICO |
O E S PA Ç O E A C R I AT I V I D A D E
Em Ribeirão Preto, bairros antigos
Portanto, a identidade desses luga-
como o Centro partilham da multi-
res vai contra os ambientes fechados
plicidade cultural e disporiam forte
de centros empresariais, dos sho-
potencialidade para o desenvolvi-
ppings, as indústrias: introduzidos
mento da nova economia. Todavia,
na malha urbana, precisam incenti-
devido ao processo histórico, de-
var a troca de experiências entre os
monstram espaços urbanos que se
utilizadores das mais diversificadas
apresentam em um estado degra-
culturas, sendo favorável aos eventos
dado e que desestimulam a vivência.
e estimulantes a ponto de proporcionarem a apropriação da cidade.
A partir desta contribuição, pode-se afirmar que o profissional arquiteto
Assim, como acontece em outros
defende que elementos fundamen-
meios de comunicação, a arquite-
tais da infraestrutura para a criativi-
tura é responsável pela transmissão
dade são os propagadores do conhe-
de emoções e apresenta um forte
cimento como incubadoras, centros
simbolismo,
de pesquisa, universidades, além de
uma escola simboliza educação, a
espaços culturais e públicos.
casa simboliza abrigo/conforto, a
como
por
exemplo:
igreja simboliza religiosidade, o que demonstra a conexão entre a arquitetura, cultura, memória, comuni“o arquiteto pode contribuir para criar um ambiente que ofereça muito mais oportunidades para que as pessoas deixem suas marcas e identificações pessoais, que possa ser apropriado e anexado por todos como um lugar que realmente lhes “pertença”.” HERTZBERGER (1999, p. 47.).
dade e individualidade. O arquiteto necessita compreender o contexto em que o objeto arquitetônico vai ser introduzido, bem como as consequências que ele poderá produzir na sociedade e no indivíduo.
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CONCEITOS DE PÚBLICO E PRIVADO Para compreender melhor sobre a
como tradução em termos espaciais
utilização do espaço público e do
de “coletivo” e “individual”. Sobre
espaço privado, suas relações e di-
uma perspectiva mais completa,
ferenciações para aperfeiçoamento
a área pública seria um espaço ou
do uso da arquitetura pela socieda-
local que todos, a qualquer instante,
de buscou-se a definição de alguns
poderiam acessar e o comprometi-
conceitos.
mento de manter o espaço sempre em bom estado, com a manutenção
O escritor HERTZBERGER (1999) afir-
devida, é de responsabilidade de
ma, em seu livro Lições de Arquite-
todos, em conjunto. Privada, então,
tura, que os conceitos de “público” e
seria um espaço ou local ao qual o
“privado” podem ser compreendidos
acesso é restrito, estipulado por um
REF. TEÓRICO |
C O N C E I T O S D E P Ú B L I C O E P R I VA D O
público
Figura 10 - Indivíduo público e coletivo privado. Ilustração digital. Fonte: Autora, 2020.
grupo menor, ou até mesmo por
espaciais especificas.” HERTZBER-
apenas uma pessoa, que possui a
GER (1999), e a contraposição entre
responsabilidade de conserva-lo.
o coletivo e individual são indicativos de desmembramento dos vínculos
Ainda sobre o conceito de “público”
humanos substanciais, pois a cidade,
e “privado”, pode-se entender e visu-
como conjunto de pessoas, grupos,
alizar estes “termos relativos como
tribos, cultura, é resultado da união
uma série de qualidades espaciais
e comprometimento recíproco, uma
que, diferindo gradualmente, refe-
questão de individualidade e coleti-
rem-se ao acesso, à responsabili-
vidade.
dade, à relação entre propriedade privada e a supervisão de unidades
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GRADIENTES DE PRIVACIDADE Uma área ampla, uma sala, um quarto ou mesmo um espaço podem ser planejados como um lugar totalmente ou parcialmente privativo ou como uma área pública, de acordo com o grau de acesso, da maneira que este é supervisionado, de como este lugar é utilizado, e por quem é utilizado e de quem é o responsabilidade de tomar conta dele. O nível de acessibilidade dos espaços e lugares irá, de acordo com HERTZBERGER (1999), fornecer os padrões para o plano do projeto, a distinção das justificativas arquitetônicas, sua forma, materialidade,
articulações,
todas
essas são estabelecidas, de certa forma, pelo grau de acessibilidade e demandado por um espaço.
“A tradução dos conceitos de “público” e “privado” à luz de responsabilidades diferenciadas torna mais fácil para o arquiteto decidir onde devem ser tomadas medidas para que o usuário/habitantes possam das contribuições ao projeto do ambiente e onde isto é menos relevante. Na organização de um projeto em função de plantas-baixas e de cortes, e também de acordo com o princípio das instalações, podem-se criar as condições para um maior senso de responsabilidade e, consequentemente, também um maior envolvimento no arranjo e no mobiliário de uma área. Deste modo os usuários tornam-se moradores.” HERTZBERGER (1999).
REF. TEÓRICO |
G R A D I E N T E S D E P R I VA C I D A D E
Figura 11 - Gradientes de privacidade. Ilustração digital. Fonte: Autora, 2020.
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A COMUNIDADE E A RUA A rua apresenta-se como um espaço comunitário, pois, ao envolver uma área onde há o envolvimento de pessoas, moradores ou de passagem, apresenta traços individuais destes, gerando a apropriação e transformação deste espaço. Para que este espaço se mantenha em condições de qualidade, é necessário que o espaço envolva a comunidade, de modo que esta se insira presencialmente na rotina da mesma, transformando-a em um espaço com identidade. HERTZBERG (1999) afirma que é preciso capacitar as ruas residenciais, para que estas apresentem a qualidade de uma sala de estar, não apenas para a relação do dia a dia, mas também para os momentos de importância e singularidade, da maneira que ações comunitárias que apresentem valor para a comunidade sejam concretizadas. A rua também pode gerar contribuições para todos os moradores locais, uma vez que nela aconteça atividades espaciais de celebração.
Figura 12 - Red Gates Kleinst. Colagem. Autora: Tamara Stoffers. Fonte: Site Tamara Stoffers.
REF. TEÓRICO |
A COMUNIDADE E A RUA
“A rua foi, originalmente, o espaço para ações, revoluções, celebrações, e ao longo de toda a história podemos ver como, de um período para o outro, os arquitetos projetaram o espaço público no interesse da comunidade a que de fato serviam.” HERTZBERGER (1999).
Sobre o espaço público em geral, o autor anteriormente citado faz um apelo, a fim de se dar importância à maneira do domínio público, para que haja o funcionamento não apenas para gerar o estímulo da interação social, mas também uma maneira de reverberar este quesito. Quanto a todo o espaço público, devemos nos perguntar como ele funciona: para quem, por quem e para qual objetivo.
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REF. TEÓRICO |
FORMA E USO
FORMA E USO A expressão do espaço arquitetado está de modo consequente vinculado ao espaço livre, onde não há construção, de maneira que se contribuam mutuamente em suas definições características, pois um apenas existe em função do outro. Portanto, o caráter que é apresentado como espaço arquitetado e construído é a ambiência determinada pelos edifícios na morfologia da cidade, vinda do relacionamento e
ligações
proporcionadas
pelos
elementos de arquitetura e que irão condizer com o sentimento espacial em que o meio é traduzido. A ambiência está vinculada à ocupação e atividade que é desenvolvida no edifício, na sua tipologia e conceitos de identidade que o ligam com a sua interpretação do espaço à que se insere. Há também outros fatores físicos que atuam como primordiais fundamentais na formulação do espaço da mente.
Figura 13 – Poema em foto: Expressão é sentimento, a cidade é ligação. Fotografia. Fonte: Autora, 2020.
“O jogo de relações dos espaços cheios e vazios estabeleceu, tanto para os espaços externos quanto para os internos – destinados ao trabalho e convivência -, o conceito de espaço fluido e permeável. O espaço exterior vazio foi utilizado para estabelecer ou favorecer a própria condição de complementariedade do vazio interior. A relação assim criada valorizava o espaço interior e recriava o espaço exterior. O próximo passo desse jogo foi construído com a ampliação dos vazios, ampliação que, por sua vez, esteve impressa concretamente na reflexividade dos visuais de ambos os espaços.” (GUIMARAENS, 2002)
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O centro da cidade de Ribeirão
apresentam uma comunicação que
Preto, principalmente na região do
expresse o conceito que fundamen-
quarteirão
apresenta-se
ta a forma, que realmente gere uma
contendo atualmente uma quanti-
continuidade espacial em que o edi-
dade grande de edifícios de diferen-
fício e o ambiente exterior se apre-
tes vertentes arquitetônicas, prin-
sentem como um objeto unificado e
cipalmente ecléticas. A maioria dos
complementar. Para o melhoramen-
edifícios desse local apresenta como
to desse fator, é primordial que haja
tipologia a função do uso comercial,
a constituição de identidade de uso
prestação de serviço e etc.
e relação que possa vir a ocorrer por
paulista,
meio da consolidação da arquitetura por meio dos conceitos e partido, “O fato de as formas de uso do solo estarem diretamente relacionadas com o valor que a sociedade lhes empresta confere à localização dos objetos arquitetônicos aspecto preponderante a sua condição formal.” (GUIMARAENS, 2002)
A relação da rua com o edifício está posicionada, além da função, na maneira como são apresentados, se passam ou não a sua comunicação principal ou se fazem a integração com o contexto. Isto, remete-se então a forma da arquitetura a qual apresentam. Alguns edifícios apresentam-se como tímidos, introspectivos, passando despercebidos e não geram características de incentivo que possam influenciar o meio externo junto ao meio interno. Uma característica negativa da análise é de que, sobre esse fator, poucos
uso e forma na morfologia urbana. Esta consolidação e característica de continuidade, mesmo que empírica, vai sendo reproduzida e correspondida pela incorporação e identificação do usuário em sua forma de entendimento do meio.
R E F . T E Ó R I C O | A F O R M A C O M O I N S T R U M E N T O : U M A N O VA T R A D I Ç Ã O
A FORMA COMO INSTRUMENTO: UMA NOVA TRADIÇÃO A arquitetura como forma pode se
interferindo, criando contextos e
apresentar um meio de comunica-
provocando a vida” (SANTOS, 1998).
ção que possui o poder de transmitir emoções e possui forte simbolismo.
Lina Bo Bardi utilizou da arquite-
Considerando
pensamento
tura e da implantação do projeto
como ponto de partida e tendo em
como uma ação determinada a fim
consideração a presente situação
de gerar uma forma pragmática
arquitetônica e urbana do centro da
de desenvolvimento, estimular as
cidade de Ribeirão Preto, pode-se
contradições, impondo uma leitura
perceber que esta vem se modifi-
e entendimento. A arquitetura gera
cando e criando novas tradições,
como resultado um movimento com
novos costumes, consumo, mentali-
o qual o objetivo é de fazer com que
dade e modo de vida. Uma nova ar-
o usuário se identifique e percorra
esse
quitetura verifica a realidade e tenta solidifica-la trazendo uma resposta ao contexto. Um caso de muita importância que serve de exemplo para solidificar esses pensamentos é o projeto do SESC Pompéia, de autoria da arquiteta Lina Bo Bardi na cidade de São Paulo. De acordo com SANTOS (1998) no livro SESC – Fábrica da Pompéia, o projeto foi inaugurado em 1982 e nos seus primeiros anos de
funcionamento
apresentou-
se como uma novidade para o cenário brasileiro, onde a arquiteta trabalhou arquitetura
fortemente do
com
“a
comportamento
humano, projetando espaços e nele
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REF. TEÓRICO |
A F O R M A C O M O I N S T R U M E N T O : U M A N O VA T R A D I Ç Ã O
por toda a estrutura, sendo motivado por uma sucessão de sinais e provocações colocadas e espalhadas ao decorrer do projeto. Ainda sobre o mesmo, é inserido no projeto por Bardi um elemento de grande singularidade e forte referência, o conjunto das três torres, que surgem, de acordo com o autor, como
“uma nova postura de intervenção na cidade: criam um marco, uma nova referência visual em uma paisagem homogenia na sua heterogeneidade absoluta, identificam o território do SESC Pompéia apontando para o seu passado próximo.” (SANTOS, 1998)
Figura 14 - Lina Bo Bardi, SESC Pompeia, Bloco de esportes. Fotografia: Romulo Fialdini. Autor: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. Fonte: Site Graham Foundation.
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REF. TEÓRICO |
A F O R M A C O M O I N S T R U M E N T O : U M A N O VA T R A D I Ç Ã O
O usufruidor e a forma se fortificam
e juntamente com as mudanças
reciprocamente e interagem – e
e desenvolvimento da população
esta relação é semelhante ao que
cresce a indispensabilidade de novas
se encontra entre comunidade e in-
referências vivenciais e visuais que
divíduo. As pessoas e a sociedade se
transpareça esses avanços por meio
projetam sobre a forma. Esta, quan-
de formas construídas que gerem
do destinada a um objetivo escolhi-
desenvolvimento, que estimule con-
do, pode apresentar a função assim
tradições e imponha sobre as pes-
como a de um aparato, em que a
soas que vivenciam do espaço uma
forma e as necessidades do espaço
leitura, entendimento e fruição.
se solicitam mutuamente. Um apa-
rato que possui um funcionamento
A forma é um dos resultados da
adequado produz o resultado, o tra-
função, todavia é fundamental con-
balho para qual está planejado e é
siderar a preexistência de um pen-
aguardado por ele. Ao ser planejado
samento mais ou menos consciente
da maneira correta, há a possibilida-
– de precisão, de elegância, de digni-
de de obter resultados para todos.
dade, de sobriedade, de rudeza, de força e etc. – que apropriadamente
A combinação historicista e eclética
distribuído conduz a uma multiplici-
que conteve a arquitetura mais co-
dade de resultados realizáveis entre
mercial e representativa do período
os quais se encontram os resultados
de
pertinentes e significativos para en-
estruturação
e
pós-moderno
do Centro da cidade de Ribeirão Preto está perdendo a vitalidade,
tender o projeto.
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