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AVANÇOS EM INFRAESTRUTURA
EM 2011, RIO ITAJAÍ-MIRIM CHEGOU A 10,03 METROS
ENCHENTE DE 2011 MOTIVOU DESENVOLVIMENTO DOS SISTEMAS DE MONITORAMENTO DE CHEIAS E ALAGAMENTOS
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Em 2011, foram três vezes que o rio Itajaí-Mirim assustou a população de Brusque elevando seu nível e invadindo as avenidas Beira Rio e seu entorno. Nem o mais pessimista, porém, poderia imaginar que haveria uma quarta vez e esta seria a pior.
Brusque ainda se recuperava dos estragos do mês de agosto e as lembranças de 2008 ainda estavam bem vivas em todos. Já nos primeiros dias de setembro, a chuva voltou para o Vale do Itajaí.
Na segunda-feira, 5, a chuva começou e seguiu incessante durante toda a semana. Na quarta-feira, o sentimento da população era de apreensão. No dia seguinte, a chuva continuou forte e o rio Itajaí-Mirim subia rapidamente. À noite, a água ultrapassou a marca de 2008, quando o rio atingiu 8,75 metros.
Na madrugada de sexta-feira, 9 de setembro, o rio continuou subindo e, mais uma vez, Brusque foi castigada pelas águas. Assim como em 1961, 1984 e 2008, era preciso se unir e juntar forças para reconstruir a cidade.
A enchente de setembro de 2011 foi a maior desde 1984, quando o rio Itajaí-Mirim atingiu 10,30 metros. Praticamente 100% da população, que na época era de 107 mil habitantes, foi atingida de alguma forma.
Mais de 150 pessoas ficaram desabrigadas. Mais uma vez, residências, empresas e comércios foram devastados. Estradas, pontes, PRATICAMENTE TODA A CIDADE FOI ATINGIDA PELAS ÁGUAS DO RIO ITAJAÍ-MIRIM
árvores, foram levadas pela força das águas. Os deslizamentos de terra assustaram ainda mais do que em 2008. A cidade se transformou em um cenário de guerra.
Inicialmente, o pico da enchente de 2011 em Brusque foi divulgado como 12 metros. Porém, mais tarde, o número foi corrigido para 10,03 metros, ou seja, apenas alguns centímetros a menos que 1984.
A diferença nos números ocorreu porque a régua de medição do nível do rio na cidade ia apenas até oito metros. Quando a água ultrapassou essa marca, as medições foram realizadas pelas escadas ou pedaços de madeira, o que acabou jogando o nível do rio para cima.
UMA NOVA DEFESA CIVIL
Apesar de melhor estruturada do que em 2008, a Defesa Civil de Brusque ainda enfrentou muitas dificuldades em 2011. A começar por sua sede, na rua Manoel Tavares, que também foi atingida pelas águas.
Sem sistema de telemetria na cidade e dependendo de outros órgãos, naquela ocasião, a Defesa Civil não conseguiu prever que o rio superaria a marca de 2008 e causaria ainda mais estragos.
Definitivamente, era preciso investir neste trabalho que costumava ser esquecido quando a situação da cidade é de normalidade e muito exigido em eventos extremos como o de 2011.
Coordenador da Defesa Civil de Brusque, Edevilson Cugik define o trabalho do órgão como reativo. De acordo com ele, todos os problemas enfrentados em 2011 motivaram a virada na estrutura no município.
“Após a enchente de 2011 tivemos muitas mudanças. Não se tinha sistema de telemetria na cidade, dependíamos de outros órgãos. O modo de transmissão dos dados nem sempre era o melhor, a manutenção também não era nossa responsabilidade, então dificultava muito”.
Após 2011, a prefeitura investiu nas estações de telemetria na cidade. Foram implantadas dez estações, com sistema de transmissão de dados via rádio, o que proporciona mais segurança, já que na última grande enchente, a rede de celular que era utilizada para receber os dados do sistema, não funcionou.
Hoje, o órgão conta com as estações instaladas em Botuverá e também nos bairros Limeira, São Pedro, Bateas, Cedro Alto, Dom Joaquim, Guarani e Primeiro de Maio.
“Alguns lugares já tinham a estação de outros órgãos, mas decidimos colocar uma nossa também para não precisar depender desses equipamentos na obtenção dos dados”.
A manutenção das estações é realizada pela própria Defesa Civil.
Além disso, foi realizado um trabalho em parceria com o governo federal sobre áreas de risco de deslizamentos e alagamentos no município.
“Antes de 2008, os deslizamentos eram menos frequentes. Após, esse problema ficou muito visível e abriu os olhos para essa questão. Em 2011, se agravou, tanto que tivemos mais de mil mortes no estado em decorrência dos desmoronamentos. Isso fez com que o governo federal abrisse caminho para o que chamamos de geologia de desastres, com mapeamento das áreas de risco”.
Como Brusque sofre com eventos climáticos constantes, foi um dos 850 municípios do país contemplados na primeira fase deste estudo. A partir disso, foram mapeadas 46 áreas de risco em Brusque e em 2019 o levantamento foi atualizado para 199 áreas de risco de deslizamento, enxurrada, erosão fluvial e mancha de enchentes na cidade.
Desde 2014, a cidade conta também com a cota e a carta enchente, estudos realizados com base na enchente de 2011, quando o rio chegou a 10,03 metros.
Pelo site da Defesa Civil, os moradores podem consultar a cota de enchente de sua rua, ou seja, em quantos metros o rio pode chegar até atingir determinado local. Foram levantados mais de 1,9 mil pontos da cidade onde foram estabelecidas as cotas de cheia.
Também baseado em 2011, os pesquisadores foram a campo, visualizaram as marcas da enchente e entrevistaram moradores para estabelecer e simular a mancha de enchente de sete a 15 metros, o que é chamado de carta enchente. Este trabalho foi realizado em parceria com o Centro de Operação do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu, órgão ligado à Universidade Regional de Blumenau (Furb) e está disponível no site da Defesa Civil.
A estrutura física e de pessoal da Defesa Civil da cidade também cresceu. Em 2011, cinco pessoas atuavam no órgão. Hoje são 14 e mais cinco servidores cedidos para o Corpo de Bombeiros.
Em 2009, logo após a enchente, o órgão municipal tinha apenas dois veículos. 11 anos depois são cinco carros disponíveis, sendo duas caminhonetes. Fora isso, em 2017 foi inaugurada a sede própria da Defesa Civil de Brusque, que hoje conta com uma boa estrutura, na rua Dr. Penido, junto ao Parque Leopoldo Moritz. NOVO PRÉDIO DA DEFESA CIVIL DE BRUSQUE FOI INAUGURADO EM 2018
AINDA HOJE, IMAGENS DAQUELE SETEMBRO DE 2011 NÃO SAEM DA CABEÇA DOS BRUSQUENSES
CONSCIENTIZAÇÃO É FUNDAMENTAL
Para o geólogo Juarês Aumond, a evolução da Defesa Civil de Brusque nos últimos anos é fundamental para que a cidade esteja preparada para enfrentar novos eventos resultantes, principalmente, das mudanças climáticas.
“A nossa Defesa Civil hoje está muito bem preparada. Todos os órgãos estão mais preparados para enfrentar uma crise como a de 2011. Sem dúvida, a Defesa Civil de Brusque é uma das melhores ao lado da de Blumenau, Itajaí e Gaspar”.
Aumond lembra que o problema das enchentes em Brusque vem desde a colonização, em 1860, quando as margens do rio foram ocupadas e deram início ao desenvolvimento da cidade.
“Se os primeiros imigrantes tivessem ocupados áreas como a que temos no Jardim Maluche e preservado as matas ciliares, certamente não precisaríamos de retificação de rio, de canal extravasor, mas fomos ocupando de forma desorganizada há 160 anos, até porque não tínhamos consciência individual ou coletiva do que poderia acontecer 50, 100 anos depois”, diz.
“Passados 160 anos, não podemos continuar cometendo os mesmos erros. Hoje temos conhecimento das áreas de risco, estão todas mapeadas, temos noção das nossas limitações e obrigação de não replicar os erros do passado”, completa.
Embora não haja uma solução definitiva e 100% eficaz para o problema das enchentes na cidade, Cugik avalia que mais importante do que a estruturação do órgão municipal ao longo dos anos foi a conscientização da população.
“Tivemos uma mudança de pensamento, não só das autoridades, mas da população, sobre o papel da Defesa Civil. Observamos que ano a ano vem crescendo o número de solicitações para o nosso órgão, mesmo sem eventos como o de 2011. Temos muito para caminhar, mas vejo que já criamos uma consciência, as pessoas estão preocupadas em não ocupar áreas de risco e isso é fundamental para minimizar os problemas”.
SAÚDE SAI DA EMERGÊNCIA
INTERVENÇÃO DA PREFEITURA NO HOSPITAL AZAMBUJA TROUXE MAIOR VOLUME DE INVESTIMENTOS À INSTITUIÇÃO
DE 2013 PRA CÁ, HOSPITAL TEVE MUITOS AVANÇOS
Padre Nélio Schwanke, diretor do hospital
ciavam desde janeiro a renovação do contrato, como acontece anualmente. Diretor da unidade hospitalar desde 1984, padre Nélio Schwanke lembra que o hospital estava passando por dificuldades financeiras, e não tinha mais condições de pagar os plantões da emergência.
“O que a prefeitura nos pagava era o mínimo, cobria apenas a metade do número de atendimentos feitos no hospital. Isso tudo começou a pesar muito. Começaram as negociações, ficamos de janeiro a junho discutindo. Não houve acordo, até que a diretoria chegou à conclusão de que não dava mais para continuar e tomamos a decisão”.
A partir do anúncio do hospital, a prefeitura precisou tomar uma atitude rapidamente, para evitar que a população ficasse sem atendimento via SUS na cidade.
No início da tarde do dia 3 de junho, Eccel convocou a imprensa para anunciar a publicação de um decreto de calamidade pública e, consequentemente, a intervenção administrativa do hospital até 31 de dezembro. Já naquele dia, o nome de Fabiano Amorim foi anunciado como novo administrador.
No dia 4 de junho, o pronto-atendimento do hospital ficou cerca de uma hora fechado, durante a reunião entre a diretoria e a prefeitura. Após a reunião, Fabiano Amorim e a então secretária de Saúde, Cida Belli, reabriram a unidade. A partir de então, o local voltou a funcionar normalmente.
“O hospital foi para a Justiça para barrar o decreto, mas a Justiça manteve e nomeamos o Fabiano como interventor, que tinha uma experiência fantástica na área”, destaca Eccel.
Em coletiva de imprensa na manhã do dia 3 de junho de 2013, a diretoria do Hospital Azambuja anuncia que a partir do dia seguinte, o pronto-atendimento da unidade não atende mais pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A decisão preocupou a população, que teria que se deslocar para outros municípios para receber atendimento de saúde gratuito. O anúncio do hospital pegou também a Prefeitura de Brusque de surpresa.
Prefeito na época, Paulo Eccel diz que ficou sabendo da decisão do hospital pela imprensa. “Estávamos em processo de negociação e fomos surpreendidos com o anúncio do fechamento do pronto-socorro. Na semana anterior, tivemos uma longa reunião com a administração do hospital, onde foi feita uma proposta e aguardávamos uma resposta. A reunião foi bem produtiva, amigável, nunca imaginei que isso pudesse acontecer”, diz.
Hospital e prefeitura nego- EM COLETIVA DE IMPRENSA, PAULO ECCEL ANUNCIOU A INTERVENÇÃO NO HOSPITAL AZAMBUJA
Passados os momentos de turbulência e apreensão, a crise financeira, que culminou com o anúncio do fechamento do pronto-atendimento e com a intervenção da prefeitura, é vista como um divisor de águas dentro do Hospital Azambuja.
Para Eccel, a crise gerou uma fase positiva para o hospital. “Confirmou o que a gente falava, que o problema do Hospital Azambuja era de gestão. Tinha que mudar a forma de gestão e o hospital mudou. Os resultados estamos vendo até hoje”, avalia.
Responsável por administrar o hospital durante o período de intervenção, Fabiano Amorim lembra que inicialmente foi feita a verificação de todo o faturamento do hospital, que era em torno de R$ 1,3 milhão por mês.
Foi também neste período que o hospital foi informatizado. “Quando entramos, era tudo manual, na caneta. Qualquer relatório demorava duas semanas pra chegar, não conseguia administrar assim. Não tem como tocar uma estrutura de 150 leitos fazendo prontuário na mão. Então essa situação, quando assumi, estava um pouco caótica e com o tempo fomos modernizando”.
Além da informatização, Amorim destaca o credenciamento em vários programas do Ministério da Saúde e, consequentemente, a vinda de mais recursos federais, fundamental para organizar a gestão do hospital de Brusque.
“Tinha diversas questões de recursos federais, de portarias, que a gente verificou que o hospital poderia ser habilitado. Na época, o faturamento do SUS representava R$ 750 mil e o restante era de particulares e convênios. Com o credenciamento no Ministério da Saúde, aumentamos a receita, a oferta de serviços para a comunidade e adquirimos diversos equipamentos”.
Ao fim dos seis meses de intervenção, a administração do hospital foi devolvida à Mitra Diocesana, e Amorim foi convidado para continuar na função de administrador da unidade. Ele permaneceu à frente do hospital até dezembro de 2017.
“Quando deixei o hospital, o faturamento estava em R$ 3,7 milhões. Em quatro anos, ele foi de R$ 1,3 milhão para R$ 3,7 milhões. No início, recebia em torno de R$ 750 mil do SUS e passou a receber R$ 1,7 milhão, e o restante particular e convênios. Estava com uma receita boa e tudo isso proporcionou a subida. A organização administrativa, convênios com o governo federal através das portarias que davam recursos”.
Padre Nélio Schwanke destaca o trabalho feito por Amorim durante o período de intervenção.
“O Fabiano Amorim, que era o administrador nomeado pelo prefeito, fez um trabalho bom. Tanto que quando a prefeitura devolveu a administração do hospital, eu fiz questão de ficar com o Fabiano, mesmo contra a opinião de outros. Por que mexer no que está dando certo? Não há motivos para isso”.
O padre também lembra da auditoria que foi realizada nas contas do hospital, em que não foram encontradas irregularidades. “Tinha essa desconfiança de que o dinheiro era desviado, mas a auditoria não encontrou nada, nenhum desvio de dinheiro, de roubo, podem ter encontrado algum erro acidental, passível de correção, mas proposital, não”.
Ao longo dos anos, já com a figura do administrador consolidada, o hospital teve diversos avanços, como três plantões destinados a emergência, novos equipamentos e profissionais, além de melhorias estruturais e novos serviços.
“Criamos a ala particular e de convênio, o centro de imagem, o ambulatório particular e de convênios, compramos tomografia nova, ressonância magnética, aparelho de ultrassom, equipamentos cirúrgicos. A credibilidade do hospital mudou. A comunidade passou a respeitar mais”, avalia Fabiano.
Padre Nélio também avalia que a crise gerada com a intervenção da prefeitura gerou frutos que o hospital colhe até hoje.
“Eu acho que foi bom. Não tenho mágoa do prefeito ou da secretária. Claro que não gostei da forma como foi encaminhado, mas foi bom para a instituição. A prefeitura, que é a maior compradora de serviços, pode ver bem de perto como funciona, o que é muito diferente de eu ir lá e dizer. Nós mudamos, a prefeitura viu onde deveria mudar e o assunto foi resolvido e deu uma alavancada bonita”.
Com 118 anos de história, o Hospital Azambuja conta hoje com mais de 500 colaboradores e se prepara para inaugurar novos serviços como a hemodinâmica, conquistada com a ajuda de empresários locais, e também implantar a UTI neonatal. O hospital deve inaugurar, em breve, a reforma na emergência, e iniciar também melhorias no centro cirúrgico.
“Sem dúvida, o hospital evoluiu de lá pra cá e estamos mantendo essa evolução a cada ano que passa”, destaca o padre.