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A NEUTRALIZAÇÃO DA DERROCADA
EFEITOS DA CRISE ECONÔMICA DE 2008 SÃO MENOS SENTIDOS EM BRUSQUE, GRAÇAS À FORÇA DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
EFEITOS DA CRISE CHEGARAM ANOS MAIS TARDE AO PAÍS
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Considerada a pior desde 1929, os efeitos da crise econômica de 2008 foram sentidos em todo o mundo e em diferentes épocas. No Brasil e especificamente em Brusque, seus efeitos tardaram um pouco, comparados ao resto do mundo, mas não deixaram de ser sentidos pelos empreendedores.
A crise foi iniciada nos Estados Unidos, quando os bancos concederam empréstimos a juros baixos para a população financiar a compra de imóveis, mesmo para aqueles que não tinham renda suficiente para quitá-los.
A facilidade de crédito fez a
Rita Cassia Conti, presidente da Acibr procura pelos imóveis crescer rapidamente e, com isso, os preços foram subindo. A consequência foi a chamada bolha imobiliária, pois as pessoas financiavam imóveis a um preço muito acima do que eles realmente valiam.
Os bancos, então, passaram a aumentar a taxa de juros dos empréstimos e, por isso, muitas pessoas não conseguiram mais pagar as parcelas. Os bancos, por sua vez, não tinham mais dinheiro para realizar as operações. Foi aí que a crise começou.
Esta situação motivou a queda no consumo, diminuição dos lucros e demissões em massa. Tudo ficou ainda pior, com a quebra do banco Lehman Brothers, fundado em 1850.
Não demorou muito para que o problema se espalhasse para outros países com o aumento dos juros e do dólar, e a queda das bolsas de valores mundialmente.
Algumas economias sentiram os efeitos mais rapidamente, outras foram pegas ao longo do tempo. Foi o caso do Brasil. Em 2009, o Produto Interno Bruto (PIB) chegou a ficar negativo, mas em 2010, a economia conseguiu reagir. Naquela época, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que a crise seria uma “marolinha” no país.
Presidente da Associação Empresarial de Brusque (Acibr) na época, o empresário Aliomar Luciano dos Santos lembra que as empresas tiveram dificuldades diante da crise mundial.
“As empresas de Brusque tiveram de lidar com um mercado extremamente competitivo, com os preços baixos demais, fez com que todo mundo puxasse o freio”.
Para a atual presidente da Acibr, Rita Cassia Conti, o mundo todo sentiu reflexos negativos daquela crise. Em Brusque, porém, ela avalia que as grandes empresas têxteis, como a Renaux, Schlösser e Buettner foram as mais afetadas.
“Foi uma crise muito severa para as grandes empresas, mas mesmo assim, não sentimos tanto os efeitos porque a mão de obra acabava sendo absorvida por outras empresas menores, principalmente no setor têxtil e de confecção, essa é uma grande característica de Brusque. Não dependemos apenas de uma indústria, mas de todo um polo. Tivemos uma queda, claro, mas não como nos grandes centros e em outros países”.
O economista Roberto Zen destaca que 2008 gerou mais uma crise de confiança nos mercados do que propriamente uma paralisação das atividades. “Muitos negócios não se enxergavam naquela crise americana aqui no Brasil”.
A sensação era de que o país havia passado em branco diante dos problemas que afetavam a economia de muitos países pelo mundo naquele período.
Por aqui, Santos lembra que havia pleno emprego, sendo que muitas empresas precisavam buscar mão de obra em outras cidades. A tranquilidade, entretanto, durou até 2013. Em 2014 tudo se reverteu e, aí sim, as dificuldades começaram a aparecer.
“Em 2013, a crise começou a dar sinais de que alcançaria o Brasil e em 2014 veio forte. Muito desemprego, o capital estava raro. Os mercados se retraíram e houve crescimento das demissões”, destaca o empresário.
Em 2013, a criação de empregos com carteira assinada teve o pior resultado em dez anos, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Entre os empresários, há quem diga que esta crise ainda causa impactos. Isso porque seus efeitos tardaram a chegar à região mas, quando chegaram, somaram-se a novas dificuldades econômicas e também políticas.
Esta história, entretanto, será contada nos próximos capítulos, quando os efeitos começam a ser sentidos mais diretamente na economia.
MAIS CAPACIDADE DE PREVENÇÃO
ENCHENTE DE 2008 ATRAIU OLHAR DA CIDADE PARA A NECESSIDADE DE FORTALECIMENTO DA DEFESA CIVIL
24 ANOS DEPOIS DA ÚLTIMA GRANDE ENCHENTE, BRUSQUE SE VIU, MAIS UMA VEZ, EM MEIO ÀS ÁGUAS DO RIO ITAJAÍ-MIRIM
intensas registradas na cidade resultavam nas inundações. Porém, a partir de 2008, Brusque começou a sentir também os efeitos dos desmoronamentos de forma mais intensa.
Foi assim que a tragédia de 2008 fez uma vítima fatal na cidade. André Alexandre Bittencourt, 28 anos, morador da localidade Cerâmica Reis, não resistiu à força do deslizamento de uma encosta que atingiu sua residência e morreu no sábado, 22 de novembro.
Diversas regiões do município registraram pontos de deslizamentos. Quem não foi atingido pelas águas, foi pelos desmoronamentos de terra. Abrigos em todos os bairros da cidade foram montados para atender as famílias desalojadas, num momento de muita tristeza e fragilidade.
Na época, 100 residências foram interditadas por deslizamentos. Cinco pessoas ficaram levemente feridas. O município contabilizou ainda 300 desabrigados e 160 desalojados.
O prefeito da época, Ciro Roza, decretou estado de calamidade pública para conseguir recursos para a reconstrução da cidade o mais rápido possível.
Paulo Eccel, que um mês antes da enchente foi eleito prefeito, precisou mudar tudo que havia planejado para o início de seu mandato. “Todo o planejamento que nós tínhamos para iniciar o governo foi radicalmente transformado pela realidade”, diz.
Vinte e quatro anos depois da maior enchente registrada em Brusque, a cidade voltou a sofrer as consequências das chuvas. Desta vez, com uma intensidade ainda maior do que em 1984.
Em 72 horas, choveu em Brusque naquele novembro de 2008, entre 200 a 400 milímetros, o equivalente a três meses de chuvas. O resultado não poderia ser diferente. Muitos estragos e a sensação de impotência diante da força do rio Itajaí-Mirim.
A água invadiu casas, empresas, ruas, destruiu estradas e deixou praticamente a cidade inteira sem luz e água encanada. Os brusquenses viviam, mais uma vez, em meio ao completo caos.
A história parecia se repetir, mas desta vez, com um agravante: os deslizamentos. Até então, as chuvas
Paulo Eccel, ex-prefeito de Brusque
UNIÃO DE FORÇAS
Apesar das dificuldades que a cidade enfrentou nos meses após a enchente, Eccel afirma que havia um sentimento de união na cidade. “A gente andava pela rua e via grandes empresários com a mão na massa, comandando caminhão de limpeza, de entulho. A cidade estava unida. Eu vejo que esse foi o diferencial, a superação. Todo mundo tinha o mesmo objetivo”.
O ex-prefeito diz que esse sentimento de união motivou a criação de uma nova festa na cidade, a Felicità.
“Vejo que foi um marco na reconstrução da cidade. A gente sabia que os problemas continuavam, que ainda tinha barro dentro das salas, cozinhas, quartos das pessoas, mas pensamos que criar um novo evento, bastante familiar, daria ânimo para as pessoas”.
A festa, que homenageava as diferentes etnias que colonizaram a cidade, teve sua primeira edição realizada em abril de 2009 e seguiu até 2015.
OBRAS DE INFRAESTRUTURA
O ex-prefeito afirma que foi a partir da tragédia de 2008, que Brusque iniciou o que ele classifica como “uma das obras mais importantes da história da cidade”: o PAC Macrodrenagem.
“Lembro como se fosse hoje. Aquele início de 2009 foi terrível, a cidade ainda não tinha se recuperado da grande enchente, e todo final de dia dava uma chuva daquelas de alagar tudo. No dia 25 de janeiro de 2009 recebi uma ligação de Brasília. Era o governo federal chamando os prefeitos aqui do Vale do Itajaí para uma reunião para discutir as catástrofes”.
Eccel lembra que foi para a reunião com a missão de até o dia 10 de fevereiro apresentar um projeto de obras de drenagem na cidade. “Não existia projeto nenhum disso na cidade. Tivemos que a jato buscar apoio de diversos profissionais para elaborar as linhas gerais do PAC”.
De acordo com ele, a base para o projeto de macrodrenagem na cidade foi as reportagens que saíam na imprensa de Brusque apontando os principais pontos de alagamento.
“Vejo que aquela crise trouxe essa transformação em obras de infraestrutura para Brusque”, diz. “É uma obra de transformação, de infraestrutura, que vai além de um governo, ela pensa a cidade pra frente, as obras de macrodrenagem foram pensadas a cidade para os próximos 50 anos”, completa.
As obras do PAC iniciaram em 2010. Foram anunciados projetos para 14 bacias em diferentes regiões da cidade. As obras, apesar de necessárias para resolver problemas históricos de alagamentos em vários pontos de Brusque, também trouxeram vários transtornos.
Atrasos, trocas de empresas, problemas estruturais e de solo foram alguns dos problemas enfrentados pela prefeitura para a realização da macrodrenagem.
Ao longo dos anos, foram concluídos os PACs da rua São Pedro, Bateas, Steffen, Paquetá, Azambuja, Santa Terezinha, Limeira e Poço Fundo. A macrodrenagem de parte do Centro também foi realizada. O PAC Nova Brasília teve diversos problemas, e foi concluído parcialmente.
Apesar dos transtornos causados pelas obras, - muitas levaram anos para serem finalizadas -, pontos da cidade que tinham histórico de alagamentos com enxurradas e que receberam a macrodrenagem hoje já não sofrem com esse problema.
OLHAR PARA DEFESA CIVIL
Foi também a partir de 2008 que a Defesa Civil de Brusque começou seu processo de evolução. Após a enchente, ficou cada vez mais evidente a necessidade de manter o órgão estruturado e equipado para poder auxiliar a população em situações como essas.
Depois de 2008 foi realizado concurso público na Prefeitura de Brusque para a contratação de agentes de Defesa Civil. O órgão, que dividia um espaço no quartel do Corpo de Bombeiros, foi para um novo local, na rua Manoel Tavares, no Centro.
Assim como em Brusque, a Defesa Civil estadual também se desenvolveu após a enchente de 2008. Antes, o órgão se limitava a apenas registrar as ocorrências do estado e, a partir de então, começou o processo de modernização, com ações efetivas de prevenção e auxílio aos municípios.
Essa evolução iniciada a partir de 2008 seguiu nos anos seguintes tanto em Brusque quanto no estado, até o trabalho que é realizado atualmente.