Chegou a hora de se mudar?

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Júlia Flores Enfoque 3

Chegou a hora de se mudar? Movidos pelo desejo de encontrar novas oportunidades, moradores estão colocando suas casas à venda Muitos são os motivos que fazem as pessoas ficarem ou procurarem um novo lugar para viver. Segurança, serviços básicos, oportunidades de emprego. E muitos moradores estão deixando o bairro Santa Marta pela falta desses itens. A ideia, em questão, é deixar para trás aquele ambiente que hoje não supre mais suas necessidades. Trocar “seis por meia dúzia” não resolverá o problema. São, contando por cima, 25 casas à venda. Há moradias boas, de material, pintadas e bem decoradas. Outras são mais humildes, de alvenaria, sem pintura, com portão frágil, já desgastados do tempo. Os valores dos imóveis variam. Os mais simples podem ser adquiridos por 15 mil reais. Os mais caros, em torno de 80, 100 mil reais. Alguns estão com a documentação em dia, água encanada e luz regularizada. Mas o contrário também acontece. O famoso “gato”, que vem a ser a ligação de energia clandestina, é bem comum entre os moradores do bairro. Mas o que levaria esse grande número de moradores a buscar um novo lar? Os motivos são muitos. Segundo Enilda Terezinha Gonçalves, residente há 11 anos na Santa Marta, o objetivo é encontrar um lugar melhor para ela e os filhos crescerem. “Quero ir para um cantinho só nosso, maior, mais limpinho. As pessoas do bairro são muito boas, mas o ambiente é muito sujo, não dá vontade de continuar. É lixo para todo o lado”, relata ela. A casa de aproximadamente 40 metros quadrados é habitada por 10 pessoas. A filha mais velha de dona Enilda, por exemplo, optou por fazer um puxadinho nos fundos da casa, para ter mais espaço, já que mora com os dois filhos pequenos na casa da mãe. Enilda é a chefe da família e veio para o bairro porque um primo havia lhe dito que as oportunidades de trabalho eram muitas. Sem ter encontrado um emprego, seguiu entre uma faxina e outra. “Eu vim para cá porque me prometeram novas possibilidades. Mas não encontrei elas. Quero voltar para Porto Alegre, de onde sou, ter uma casinha sem precisar pagar aluguel. Antes eu só queria o dinheiro, mas com a dificuldade em vender, hoje já aceito proposta e até carro na troca. Minha casa e a documentação foram feitas de acordo com a justiça e só isso já vale bastante”, diz Enilda. Se vender uma casa regularizada já se torna um processo complexo, o que dizer de uma que foi construída em área verde, numa rua não asfaltada e sem rede elétrica (apenas a do “gato”)? Certamente não deve ser fácil. E segundo seu Astrogildo Mendonça, não é! Sua casa está à venda há mais de 06 meses e ainda não teve nenhuma oferta concreta. “O pessoal vem pedir para vender fiado. Mas onde já se viu. A gente sabe que hoje em dia isso não existe mais. Infelizmente o dinheiro e a ganância corrompe as pessoas. Se eu vender assim nunca mais verei a cor do dinheiro”, destaca ele. Pedindo 25 mil reais pela casinha de três peças e sem conseguir vendê-la, Astrogildo se vê estagnado e sem saber o que fazer exatamente. “Quero sair, ir para outro lugar. Não tenho nenhum em mente, mas na hora a gente vê. Importante é conseguir me mudar”.


A falta de estrutura do bairro, sem saneamento básico em sua maioria, sem rede elétrica, água tratada e sem pavimentação asfáltica, influenciam diretamente no desejo de mudança. Mesmo assim, alguns moradores gostam do bairro, mas querem se mudar para ter mais sossego, como é o caso de seu Henrique de Camargo, 74 anos. A casa, regularizada e com as contas em dia, o fez feliz durante os 20 anos em que ali residiu. Mas com o passar dos anos e a idade chegando, decidiu voltar a sua terra de origem, na cidade de Cerro Grande. “Quero ir para um lugar mais calmo, com mais segurança, mais paz. Lá onde cresci, qualquer coisa que tu faz para o vizinho, a polícia já vem resolver. Quero envelhecer em paz, cuidando dos animais no campo”, destaca ele. Para isso, precisa vender a casa de cinco cômodos. O investimento é de 80 mil reais e a garantia de um imóvel dentro dos padrões exigidos pela prefeitura da cidade. “Nunca fui de fazer nada errado. Sempre optei pelo justo, dentro da Lei. Sempre tive o nome limpo, não seria agora, com essa idade que iria manchar meu nome”, relata Camargo. Aluguel não é opção Mas se vender está difícil, porque não optar pelo aluguel? Para os moradores, essa não é uma vantagem, já que precisam do dinheiro em mãos, em sua quantia total, para realizar novas aquisições. “Eu só posso ir para outro lugar quando vender e tiver o dinheiro em mãos. O aluguel não me dá a segurança de que vou receber certinho”, relata Astrogildo. Em contrapartida, as imobiliárias locais vêm o crescimento das ofertas por casas de aluguel. Embora não exista um levantamento amplo sobre o número de casas para locar em São Leopoldo, a gerente de venda de imóveis da Clarel Imobiliária, Claudia Bender, relata que o locatário procura por imóveis mais em conta. "O número de casas para alugar cresceu consideravelmente no último ano e tudo isso devido à necessidades financeiras. Vender ficou mais difícil e alugar mais fácil”, conta ela. Se as questões econômicas envolvem diretamente essa relação entre o interessado em vender e o interessado em comprar, os moradores da vila Santa Marta que desejam se mudar ou procuram por novas oportunidades, precisam se adequar ao quadro econômico do momento. Sendo assim, poderão realizar suas vontades de ir em busca de coisas melhores para eles e suas famílias.


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