Plano de infraestrutura verde para a bacia do córrego Pires

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EIXO 4 - CIDADE E PAISAGEM: COMPLEXIDADES DA PRODUÇÃO CONTEMPORÃNEA BRASILEIRA

Plano de infraestrutura verde para a bacia do córrego Pires HANNES, Evy (1); FREITAS, Juliana M. S. (2); (1) Professora - UNIP e mestranda FAU-USP, evyhannes@usp.br (2) Arquiteta na Prefeitura Municipal de Santos, julianafreitas_it@yahoo.it

RESUMO Este trabalho tem como escopo principal apresentar, de forma concisa, a proposta de implantação de infraestrutura verde na bacia córrego Pires, situado no distrito do Butantã, São Paulo. Este estudo foi desenvolvido ao longo da disciplina “Estúdio de Infraestrutura Verde” oferecida pelo Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo e se estruturou através do diagnóstico das potencialidades e restrições dos espaços abertos da região em estudo. PALAVRAS-CHAVE: infraestrutura verde; córrego Pires; paisagem. INTRODUÇÃO O ponto de partida utilizado neste trabalho foi a relação estabelecida entre homem, natureza e cidade no que tange a duas questões: a primeira considera a realidade atual do processo de urbanização nas grandes cidades, onde a mancha urbana se expande cada vez mais para acomodar as demandas populacionais decorrentes das migrações do campo para a cidade e que avança, muitas vezes, sobre leitos de corpos hídricos, nascentes e encostas. Já a segunda considera o homem do cenário acima exposto, analisando sua relação com a paisagem consolidada e a consequente perda da leitura da natureza como valor, não apenas estético-cultural como também filosóficoespiritual.

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A partir dessa problematização inicial foi possível identificar, através de um estudo de caso, ações que possibilitem o estabelecimento de uma nova lógica de ordenação do território, favorável ao equilíbrio sistêmico da cidade. O estabelecimento deste novo cenário visa resgatar não apenas a relação entre homem e meio ambiente, mas qualificar ambientalmente o espaço urbano, garantindo sua resiliência e, consequentemente, a qualidade de vida de seus habitantes. Para aprofundamento dessas questões, analisou-se a aplicação dos conceitos de infraestrutura verde para a área delimitada pela bacia hidrográfica do córrego Pires, considerada área de urbanização consolidada da cidade de São Paulo, estabelecendo para a região um plano que considera 03 fases de implantação.

NATUREZA, HOMEM E CIDADE

A primeira grande revolução no relacionamento entre o homem e a natureza aconteceu no período Neolítico, por volta do ano 8.000 a.C., quando o homem passa a obter da terra o seu alimento, através da prática da agricultura. Esse advento permite ao homem se estabelecer, deixando para trás a vida de nômade e iniciando a implantação de uma das maiores criações humanas, a cidade. (JELLICOE, 1995). Junto à criação das cidades veio a necessidade de manipulação do território. Matas foram derrubadas para dar lugar e fornecer matéria-prima às construções, rios desviados e canalizados para irrigar as cidades e suas plantações. Como a água é primordial ao desenvolvimento da vida e das plantações, as primeiras cidades se estabeleceram junto a cursos d'água e vales férteis, como as cidades da Mesopotâmia, que desenvolveram técnicas evoluídas de planejamento da paisagem e jardinagem, consagradas nos famosos jardins suspensos da Babilônia, como ilustra a figura 01. (JELLICOE, 1995; NEWTON, 1971). A prática de manipulação das águas, iniciada nesse período, tornou-se uma constante na história da humanidade, bem como a derrubada de vegetação nativa para 2


criação de área livre para construção dos assentamentos humanos e de suas plantações e áreas de criação de animais. Tais pontos podem ser vistos no decorrer do desenvolvimento da história, desde os aquedutos romanos, passando pelos canais das cidades Persas e a cidade Asteca de Tenochtitlan, por volta do séc. XIV d.C. (JELLICOE, 1995; NEWTON, 1971). Os Astecas foram mestres em dominar e manipular o território e criaram a capital de seu império sobre uma ilha do lago Texoco, onde hoje é a Cidade do México. Através de uma técnica conhecida como Chinampas foram criadas uma série de ilhas flutuantes, entre uma malha de canais, usadas para produção agrícola e criação de animais, como mostra a figura 02.

Figura 02. Maquete do sistema de agricultura asteca, as chinampas. Fonte: https://ezgrogarden.com/history-ofhydroponics-2/aztec-chinampas-of-centralamerica/. Acesso em: 06 de abril de2016.

Figura 01. Modelo do sistema de irrigação e agriculturausado na Mesopotamia. Fonte: http://teiadosfatos.blogspot.com.br/2012/02/e gito-antigo-dadiva-do-nilo.html. Acesso em 06 de abril de 2016.

A natureza continuou a ser manipulada pelo homem, como forma de mostrar seu poder sobre a mesma, após a Idade Média. Exemplos como a Vila D'Este, na cidade de Tivoli, Itália, cujas fontes eram abastecidas com água desviada do rio Aniene; os jardins renascentistas franceses dos séculos XVI e XVII que mostravam toda a supremacia do poder do homem sobre a natureza e os jardins ingleses, com sua mimetização da natureza.

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A valorização da razão no Iluminismo teve como uma de suas consequências o aprimoramento dos meios de produção com o abandono de técnicas tradicionais de cultivo, criação de animais e transporte. O salto tecnológico ocasionou profundas transformações não apenas na economia, mas também na relação entre cidade e natureza. O cultivo intensivo de monoculturas em áreas extensas levou ao desaparecimento das pequenas propriedades e a migração em massa de trabalhadores rurais para a cidade em busca de emprego e melhores condições de vida. (HERZOG, 2013). Como consequente efeito do desenvolvimento industrial e da migração massiva do campo, as cidades cresceram sem planejamento, ocupando o território de forma rápida e desordenada e sem a preocupação com a qualidade ambiental e espacial. A insalubridade, a densidade e a poluição generalizada deflagravam a baixíssima qualidade de vida urbana e as condições degradantes das cidades industriais (figura 03). Epidemias se alastravam rapidamente, afetando todas as camadas sociais, indiscriminadamente. É nesse contexto, de rápida expansão das cidades industriais e seu consequente impacto no ambiente urbano, que o espaço verde foi, pela primeira vez, introduzido nas cidades como elemento mitigador desses danos. Como exemplo de intervenção com esse caráter, podemos citar, guardadas as devidas diferenças, o Plano Haussmann (Paris, 1853-1870), as “Cidades-Jardim”, propostas por Ebenezer Howard (1902 - figura 04) e o Sistema de Parques de Boston (figura 05), também conhecido como “Emerald Necklace”, projetado por Frederick Law Olmsted (1878-1895). Tanto o projeto de Howard quanto o de Olmsted já demonstravam uma maior atenção em relação à conservação e incorporação de áreas verdes às cidades, mas foi apenas a partir do final do século XX que a preocupação com as questões ecossistêmicas passou a ser considerada no planejamento urbano e que este começou a adotar diretrizes de preservação ambiental e ecologia urbana como fundamentos de projeto.

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Figura 03. Cidade de Londres durante a Revolução Industrial e a insalubridade da área urbana. Fonte: BENÉVOLO, 1983.

Figura 04. Modelo de Cidade Jardim proposto por Ebenezer Howard. Fonte: HOWARD, 2002.

Com uma visão integrada da paisagem que abrangia seus processos e fluxos (inclusive considerando o fluxo de pessoas como parte dessa concepção inovadora), o sistema projetado por Olmsted previa conexão entre os parques existentes através de um corredor verde multifuncional projetado ao longo das margens do rio Muddy. Assim como o Central Park, a idealização do Colar de Esmeraldas levava em conta os benefícios que a introdução do espaço verde traz à vida humana, possibilitando o uso do espaço como áreas para encontro social que fortalecem os laços de comunidade, sociabilidade e práticas esportivas, contribuindo com a melhora da saúde mental e física dos cidadãos.

Figura 05. Mapa ilustrativo do "Emerald Necklace", o Sistema de Parques de Boston. http://www.emeraldnecklace.org/park-overview/emerald-necklace-map/. Acesso em 06 de abril de 2016.

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Olmsted é, portanto, o precursor de uma linha de intervenções que coloca as questões naturais como integrantes fundamentais dos planos urbanísticos e que originou todo o pensamento e conceituação de disciplinas como ecologia urbana e planejamento ambiental. INFRAESTRUTURA VERDE Nos últimos dez anos têm-se falado muito sobre infraestrutura verde. Esse conceito foi utilizado pela primeira vez em 1994, em um documento elaborado pela Florida Greenways Comission que apontava a importância dos sistemas naturais no contexto urbano, sendo esses equivalentes ou até mais importantes que a infraestrutura convencional, ou infraestrutura cinza. (FIREHOCK, 2010). Embora o termo seja recente, seu conceito é antigo e pode ser definido como: “Infraestrutura verde é o sistema de suporte de vida natural - uma rede interligada de cursos d’água, zonas úmidas, florestas, habitats selvagens e outras áreas naturais; caminhos verdes, parques, áreas de conservação; fazendas, ranchos e florestas; desertos e outros espaços abertos que sustentam espécies nativas, mantém o processo ecológico natural, sustentam fontes de ar puro e reservas de água limpa e contribuem para a saúde e qualidade de vida para as pessoas e comunidades (...)”. (BENEDICT; MCMAHON, 2006, p.1, tradução nossa).

Os autores Benedict e McMahon abordam ainda a questão das diferentes escalas envolvidas nos projetos de infraestrutura verde: “(...) o termo significa diferentes coisas dependendo do contexto no qual ele é empregado: pode ser desde o plantio de árvores que tragam benefícios ecológicos em áreas urbanas; para outros se refere a estruturas de engenharia tais como manejo de enchentes ou tratamento de águas projetado para tornar-se ambientalmente amigável. No entanto infraestrutura verde pode ter um significado mais ambicioso e abrangente”. (2006, p.1, tradução nossa).

O conceito é interdisciplinar e engloba áreas relacionadas ao Planejamento Urbano, Arquitetura da Paisagem, Ecologia, Geografia, Biologia, Conservação, Patrimônio e Transportes.

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Podemos então dizer que infraestrutura verde é uma rede de conexões que funciona na forma de sistema, considerando os elementos naturais ou projetados e que visa o equilíbrio e a conservação dos processos da paisagem, promovendo benefícios econômicos, culturais e sociais. São projetos de baixo impacto e alto desempenho e deverão ser o suporte dos ecossistemas da paisagem urbana, provedores de biodiversidade e fornecedores de abrigo para fauna e flora, exercendo múltiplas funções na sociedade. (HERZOG; ROSA, 2010; FRANCO, 2010) Pellegrino (2014) coloca sua importância como modelo inovador de infraestrutura urbana, multifuncional e interdisciplinar, em contraste com os modelos tradicionais, que tem se mostrado ineficientes. São redes entrelaçadas ao tecido urbano que podem fornecer uma grande variedade e diversidade de serviços ambientais, urbanos e sociais. Ressalta também seu papel estratégico na formação de cidades mais sustentáveis e resilientes. As tipologias de infraestrutura verde constituem soluções multifuncionais e que apresentam desempenho potencializado quando utilizadas em forma de sistema e associadas a outras modalidades de infraestrutura urbana como mobilidade, captação e tratamento das águas urbanas. Para a análise do caso concreto apresentado neste trabalho foram estudados os seguintes elementos, que podem ser vistos nas figuras 06 a 09: jardim de chuva, biovaletas, escadas verdes, lagoas pluviais, canais naturalizados, wetlands, telhados verdes, corredores verdes, agricultura urbana e floresta urbana.1 Como visto anteriormente, a infraestrutura verde trata de uma rede de elementos e intervenções que fornecem serviços ecossistêmicos e benefícios sociais, culturais e econômicos à população. O foco da implantação de um sistema de infraestrutura verde é criar intervenções que funcionem em forma de sistema, visando o equilíbrio ecológico do mesmo, onde seus elementos forneçam serviços e benefícios

1 Para a definição dos elementos de infraestrutura verde cf. LABVERDE (2015) e CORMIER; PELLEGRINO (2008)

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múltiplos e que contribuam no processo de desenvolvimento sustentável e resiliência urbana da área tratada e seu entorno.

Figura 06. Jardim de chuva. Fonte: http://www.sarajanezanetti.com.br/chuva3007 2014/index.html. Acesso em 06 de abril de 2016.

Figura 07. Biovaleta. Fonte: https://digbyhall120.wordpress.com/2013/07/1 1/the-rain-garden-retrofit/l. Acesso em 06 de abril de 2016.

Figura 08. Wetland ao longo de córrego em parque urbano na China. Fonte: http://www.turenscape.com/English/news/msg. php?id=1208l. Acesso em 06 de abril de 2016.

Figura 09. Agricultura urbana nas coberturas dos edifícios comerciais da cidade de New York. Fonte: https://mcorreia.wordpress.com/category/urba n-agriculture/. Acesso em 06 de abril de 2016.

Dentro da perspectiva da ecologia da paisagem ligada às questões do planejamento urbano, esse tipo de intervenção traz inúmeros benefícios, tanto em

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termos urbanísticos como socioambientais. É inegável o salto qualitativo dos espaços urbanos através do incremento da qualidade ambiental e consequente aumento do bem-estar de seus usuários. A implantação de um sistema de infraestrutura verde visa, além do já exposto, intermediar a reconexão do homem com a natureza. E para isso é necessário medir de que forma sua ausência impactou a vida do homem, sua percepção psico-fisiológica do ambiente urbano, seus impactos comportamentais e culturais que influenciaram diretamente em sua qualidade de vida. (FORATTINI, 1991). Essa reconexão não diz respeito apenas à natureza presente na cidade e sim à natureza da cidade, aquela que já se relaciona com o urbano e se desenvolve junto a ele, adaptada ao mesmo. Propiciar essa mudança de percepção em relação aos elementos naturais e ao seu valor enquanto elementos culturais formadores da paisagem urbana podem ser considerados o maior desafio da infraestrutura verde na atualidade. UM PLANO PARA O CÓRREGO PIRES O Distrito da Vila Sônia, em especial a bacia hidrográfica do córrego Pires, foi escolhido como área de estudo, pois se apresenta como interessante oportunidade de pesquisa acerca da qualidade ambiental dos bairros situados nas bordas da cidade. Tal configuração coloca a localização como área de urbanização consolidada, mas que apresenta ainda grandes áreas vegetadas, fragmentos de mata nativa, terrenos não construídos, córregos não canalizados e nascentes preservadas. Possui caráter majoritariamente residencial, com centralidades de escala do bairro. Seus inúmeros terrenos vazios tem sido alvo das grandes incorporadoras, principalmente com a construção da Linha Amarela do Metrô, cuja Estação Vila Sônia ainda não está em funcionamento. Das nascentes que formam o córrego, algumas se encontram preservadas e outras foram cobertas por construções. O leito do córrego encontra-se canalizado em aproximadamente metade de sua extensão e seu trecho aberto corre entre ruas locais e pequenas áreas verdes (figuras 10 e 11), onde deságua no Pirajuçara em local muito 9


próximo ao piscinão Cedrolânia, o piscinão do Taboão da Serra. Recebe ligações clandestinas de esgoto apenas quando passa sob a favela Vila Praia.

Figura 10. Trecho do córrego correndo a céu aberto em área com margem vegetada. Fonte: acervo próprio.

Figura 11. Ocupação das margens do córrego pelo sistema viário. Fonte: acervo próprio.

Diretrizes gerais e etapas de implantação

Através da análise dos aspectos naturais, da ocupação existente no território, da relação entre os vazios urbanos e seu entorno edificado, da relação da população local com as áreas verdes e da dinâmica de desenvolvimento da região, foi desenvolvido o diagnóstico de projeto, que levou à construção das diretrizes propositivas de intervenção para a área. O objetivo da proposta é fazer com que as transformações que o local vem enfrentando incorporem os processos naturais e dessa forma colaborem com a construção de uma cidade mais humana e resiliente, como podemos ver na tabela da figura 12.

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Figura 12. Tabela mostrando o cenário atual do córrego e a situação pretendida.

Para isso, a área de trabalho foi dividida em cinco, de acordo com suas características morfológicas e de ocupação, como mostra a figura 13, e foi desenvolvido um conjunto de sete diretrizes que serão aplicadas à essas áreas. São elas: criação de parques de proteção das áreas de nascente como ferramenta de conservação dos recursos hídricos e manutenção da biodiversidade local; requalificação dos cursos d'água visando não apenas o controle das inundações, mas também o restabelecimento do contato entre a população e as águas urbanas; implantação de biovaletas e jardins de chuva que atuem como medida mitigadora de alagamentos e inundações; requalificação do piscinão Cedrolândia através da criação de área verde de lazer que abrigue um sistema de bacias de detenção e wetlands; ampliação das rotas de ciclovia priorizando percursos que propiciem o contato com a água e a nova paisagem do bairro;

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incentivo à implantação de fachada ativa em parte dos muros dos grandes condomínios e criação da habitação social verde na área da favela Vila Praia.

Figura 13.Setorização e proposta geral do Plano de Infraestrutura verde do córrego Pires.

A caracterização das cinco áreas que englobam a proposta dará ênfase ao detalhamento de duas áreas foco: o Parque das Nascentes e o Parque das Wetlands, localizados consecutivamente nas áreas 01 e 05 desse estudo. Tal escolha reflete a leitura feita do território escolhido e sua problemática.

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Propostas: áreas de amortecimento (buffer zones) Áreas densamente urbanizadas, situadas às margens de córregos, rios e riachos, sofrem com a deposição de resíduos (como partículas de solo, fertilizantes, produtos químicos, óleo, metais e lixo) trazidos pela água das chuvas, gerando erosão de suas encostas, poluição das águas e sedimentação desses materiais no fundo dos leitos dos rios, o que transforma drasticamente suas características biológicas e naturais. (SPIRN, 1984). Áreas verdes também sofrem com a pressão causada pela urbanização. As áreas de amortecimento, ou buffer zones, são áreas adjacentes às áreas de valor ambiental ou de conservação que funcionam como faixa de abrandamento de impacto às mesmas, criando zonas com regras de ocupação e uso específicas. A Zona de Proteção Primária, marcada em vermelho na figura 14, visa recompor as áreas de proteção legais estipuladas pelo Código Florestal (Lei no. 12.651, de 25 de maio de 2012) e constitui as áreas de proteção ambiental imediatas aos cursos d’água, que deveriam ser livres de qualquer urbanização já que são fundamentais ao equilíbrio ecológico e ao processo de funcionamento dos processos ecológicos. Nessas áreas serão criados parques e corredores verdes que resguardem as características naturais dessas paisagens. A Zona de Proteção Secundária, com extensão de 100 a 300 metros ao redor das áreas de conservação e marcada em laranja na figura 14, terá como diretriz a implantação de elementos que contribuam com o aumento da biodiversidade local, como a intensificação da arborização urbana, manejo das águas pluviais através da ampliação da permeabilidade do solo e microdrenagem, implantação de jardins de chuva e biovaletas, incentivo à utilização de telhados verdes, implantação de lagoas de detenção e tratamento de águas pluviais nas praças e canteiros existentes; implantação de zoneamento ambiental que limite as taxas de ocupação do solo e coeficiente de aproveitamento. Prevê a caracterização desses espaços como zonas de transição entre o natural e o urbano, que seguem o conceito de “parque design” utilizado por Frederick Law Olmsted na implantação do projeto de Riverside em Chicago, ilustrado pela figura 13


15. (NEWTON, 1971). Áreas mistas de moradia e lazer, "de linhas curvas graciosas, com espaços generosos, integrando lazer, contemplação, tranquilidade e felicidade”. (OLMSTED; VAUX, 1868 apud NEWTON, 1971).

Figura 14. Áreas de amortecimento de impacto - buffer zones, entorno do curso d'água.

Figura 15. Plano geral de Riverside, projeto de Frederick Law Olmsted.Fonte: www.riverside.il.us/index.asp?Type=B_BASIC&SEC={D C4955B9-2DBD-4383-A011-14F34A625889}. Acesso em: 16 de abril de 2016.

Área 1 - Parque das Nascentes A área em estudo configura-se como parte de uma grande gleba em processo de verticalização limitada pelas ruas Dr. Luiz Migliano, Rua José de Coimbra, rua João S. de Souza e Rua José Arzão (figuras 16 e 17). Tem como principal característica a forte declividade, possuindo trechos que ultrapassam 45%, e acolher quatro das nove nascentes que contribuem diretamente para a formação do córrego Pires. Inicialmente a proposta se concentrou no miolo dessa gleba, com o intuito de proteger as nascentes. Porém, após um estudo mais detalhado da problemática do entorno, optou-se por questionar a ocupação existente ampliando os limites do parque para suas bordas. A análise também apontou para uma forte potencialidade dessa área

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se configurar como vetor de recomposição da qualidade urbano-ambiental da região, com importante papel no manejo das águas urbanas.

Figura 16. Uso e Ocupação do entorno da Área 01e 02. Elaborado pelas autoras com base nos dados da PMSP.

Figura 17. Vista aérea da Área 01 e 02 com marcação das nascentes. Fonte: Google Earth, marcação das autoras.

Considerando o exposto, as diretrizes estabelecidas para a implantação do parque objetivaram resguardar as características naturais locais, protegendo as nascentes e criando condições de recomposição dos processos sistêmicos ambientais da área e seu entorno (figura 18). Como objetivo secundário, visou-se a criação de espaços para o desenvolvimento de diversas atividades comunitárias, desde plantio de hortaliças a contemplação da paisagem. Com o intuito de preservar o solo o máximo possível, estabeleceu-se um sistema de travessias elevado composto por passarelas de madeira dispostas ao longo das copas das árvores. Esses passeios permitiriam ao transeunte não apenas usufruir da beleza da paisagem, mas também acessar os espaços de contemplação e as hortas e viveiros suspensos. Distribuídas ao longo de todo o trajeto, as “nuvens”, como apelidadas as estruturas aramadas das hortas e viveiros, visam fortalecer o elo entre o parque e a

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comunidade local, possibilitando o aprendizado a respeito do funcionamento dos fluxos naturais e sua importância para a cidade.

Figura 18. Implantação proposta para a Área 1 - Parque das Nascentes - e para a Área 2 – Habitação Social Verde.

As passarelas também proporcionam o acesso aos equipamentos previstos para o parque, a saber: o centro de estudos em Educação Ambiental, a Biblioteca “Verde” e o apoio administrativo do parque. Uma quarta edificação foi prevista nos limites da intervenção 2 (Habitação Social “Verde”) e acessível pelo deck desta intervenção e pela trilha do parque. Apesar de situado dentro dos limites estabelecidos pela intervenção 1, este equipamento objetiva ser um centro de apoio à população da Favela Vila Praia, oferecendo cursos de jardinagem, reciclagem e outros temas correlatos. O parque conta ainda com mirantes de transposição, que fazem a integração entre as passarelas e se elevam acima destas para que se possa ter uma visão panorâmica de todo o conjunto, e trilhas no solo, para a observação de espécies vegetais nativas e aprendizados referentes ao ciclo hidrológico do córrego. Os objetivos presentes no Parque das Nascentes são essenciais para que se possa cumprir os objetivos da Habitação Social Verde e do Parque das Wetlands, demonstrando a importância de se pensar globalmente e agir pontualmente. A adoção

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dessas diretrizes irá garantir que o plano funcione como um grande sistema, minimizando problemas como ilha de calor, inundações e alagamentos, e incentivando práticas sustentáveis que visem a construção de um novo olhar sobre a paisagem da cidade.

Área 2: Habitação Social Verde A Favela Vila Praia possui 330 domicílios, sendo que 250 ainda não foram urbanizados. Parte de suas casas foi construída sobre as estruturas da canalização do córrego Pires e despeja esgoto in natura em suas águas (figura 19). A diretriz principal para esta localidade é a remoção dos domicílios que estejam invadindo a área de proteção do córrego e dos domicílios do seu entorno imediato, de forma a liberar o solo para a criação de uma wetland com decks de aproximação e trapiches de transposição (figura 20). A população seria relocada em habitações coletivas, formadas por edifícios de três pavimentos sobre pilotis. Estes edifícios contariam ainda com teto e paredes verdes, cisterna para captação de águas pluviais e biodigestores para tratamento de dejetos residenciais. O térreo liberado abriga caminhos em pavimento drenante, espaço para horta e áreas de lazer.

Figura 19. Ocupação irregular sobre o córrego na Favela3:Vila Praia. Fonte: acervo próprio Área Educação ambiental

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Figura 20. Implantação proposta para a Área 2 – Habitação Social “Verde”.


Área 3: Educação ambiental A proposta para essa área, ilustrada na figura 21, se baseia na renaturalização do braço do córrego que passa por trás da escola e a criação de um pequeno sistema verde que o interligue às áreas verdes adjacentes, criando áreas onde possam ser implantados pequenos comércios e equipamentos que atraiam e mantenham o pedestre no local. O curso d’água terá suas margens trabalhadas com vegetação ripária, alargamento do leito na área da Praça Douro, com wetlands e pequena lagoa de detenção. O trecho final do percurso, que passa em área estreita entre o Carrefour e o centro comercial, será tratado como biovaleta, devido à sua inclinação acentuada. O colégio que dá fundos para o córrego (hoje canalizado) já utiliza a área para plantio de hortas e árvores frutíferas. Com isso, pretende-se criar um programa de educação ambiental para as crianças, pais e comunidade que mostre à população todas as vantagens que viver em harmonia com a natureza e a preservação dos recursos naturais pode trazer para o bairro e para a vida das pessoas.

Figura 21. Diretrizes de implantação para a Área 03 - Educação Ambiental, mostrando a renaturalização do cóorrego que corre por entre os fundos de lote, criação de áreas comerciais ligadas à atividades ambientais em laranja, áreas de lazer em bege, passeios elevados em marrom e a lagoa de detemção e wetland azulcompartilhadas claro. Área 4: em Ruas

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Área 4: Ruas compartilhadas As Ruas José Luna e Olímpio Rodrigues da Silva configuram situação comum na cidade de São Paulo que é o caso das ruas que ladeiam córregos ainda abertos que não possuem margens de preservação adequada. As diretrizes para essa área, como mostra a figura 22, consistem em transformar essas ruas em vias de tráfego compartilhado que permitam a convivência pacífica entre veículos, bicicletas e pedestres, alargando a calçada em frente às residências, mantendo apenas uma faixa no leito carroçável, criando duas faixas de ciclovia e ampliando a margem do córrego, permitindo a inserção de espécies vegetais e remodelagem de suas bordas, evitando riscos de erosão das mesmas. Essa margem revitalizada e arborizada do córrego também tem função de restabelecer conexão entre o pedestre e os elementos da natureza.

Figura 22. Diretrizes de implantação para a Área 04 - Ruas compartilhadas, mostrando a ampliação das margens vegetadas ao longo do curso d'água, áreas de lazer em bege, passeios elevados em marrom, novo trajeto da ciclovia em laranja, lagoa de detenção e wetland em azul claro.

Área 5: Parque das Wetlands Esta grande área verde, localizada entre a Rua Dr. Luiz Migliano e Avenida Dr. Guilherme Dumont Vilares, é cortada pelo leito do córrego e vegetação em estágio de

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regeneração. Configura-se como mancha verde dentro dos princípios de ecologia da paisagem (DRAMSTAD; OLSON; FORMAN, 1996) e apresenta diversas potencialidades urbanas e ecológicas, podendo tornar-se peça chave na recomposição da qualidade ambiental e urbana do bairro, bem como no elo de reaproximação entre moradores e natureza local. Sua proximidade ao piscinão Cedrolândia reforça seu papel no manejo das águas urbanas. Assim como o Parque das Nascentes, visa resguardar as características naturais locais, proteger seu curso d’água e criar condições de recomposição do equilíbrio ecológico e processos sistêmicos ambientais da área e arredores. Tem como objetivo criar espaços multifuncionais que permitam ao usuário desenvolver diversas atividades, desde compras de alimentos, aulas, esportes, plantio de hortaliças a atividades esportivas, de lazer, convívio comunitário e contemplação da paisagem. Outros propósitos são aumentar a arborização, melhorando assim a qualidade e umidades relativas do ar, diminuindo o fenômeno da ilha de calor, melhoria da acessibilidade, melhoria das condições de drenagem urbana, recuperação das águas do córrego Pires e incentivo a utilização de fontes alternativas de geração de energia (figuras 23 e 24).

Figura 23. Proposta para a Área 05 - Parque das wetlands.

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Figura 24. Vista aérea da Área 05 - Parque das wetlands. Imagem: Cauê Martins.

Para melhorar as condições de acessibilidade local foram criadas novas passagens de veículos e pedestres entre os dois lados do córrego, que se apresenta como um limite na composição da malha urbana. A ciclovia existente na Rua Luiz Migliano foi transferida para dentro o parque garantindo maior qualidade à mesma e possibilitando o contato com as águas do córrego e suas margens ajardinadas. Quatro edifícios de apoio foram implantados no projeto, com previsão de usos diversos que ajudem a caracterizar a identidade do espaço e também promover sua aceitação e utilização pela comunidade local. São interligados com passarelas de madeira que formam um sistema de travessias e circulação acessível que permite ao transeunte usufruir da beleza da paisagem por cima do nível da copa das árvores (figura 25). Outra aposta do projeto é a agricultura urbana que permite aos moradores participar coletivamente dessa atividade, solidificando seus laços sociais e contato com a natureza. As áreas ao redor das hortas serão vastamente arborizadas visando à recomposição da floresta urbana (figura 26). O leito do córrego terá suas margens alargadas e nelas serão criadas wetlands e áreas de extravasamento de águas na época de cheias. As wetlands e margens serão tratadas com vegetação ripária de características filtrantes e permitirão que os usuários 21


cheguem até suas bordas, propiciando amplo contato com as águas tratadas do córrego, contato esse que será intensificado através da implantação de piscina natural de uso público, com sistema de tratamento fitossanitário (figura 25). O parque também terá áreas de playground, grandes pergolados com mobiliário de estar, área para pic-nic, passeio pela mata e bicicletários.

Figura 25. Piscina natural, córrego com wetlands, edifícios de apoio e passarelas. Imagem: Cauê Martins.

Figura 26. Agricultura urbana frente um dos edifícios de apoio. Imagem: Cauê Martins.

CONCLUSÕES O projeto aqui apresentado faz uma leitura da bacia hidrográfica do córrego Pires, afluente do córrego Pirajuçara e através do reconhecimento desse território, de suas condicionantes e potencialidades, exibe sua contextualização urbana e ambiental na localidade onde está inserido. Destaca a questão principal que motivou o desenvolvimento do projeto, o enfraquecimento da relação entre homem e natureza, a natureza da cidade e coloca o conceito de infraestrutura verde como solução para restituir essa relação, bem como para recompor o equilíbrio dos processos naturais no contexto urbano. Elenca intervenções para áreas públicas e privadas, suas etapas de implantação e propõe um plano de infraestrutura verde para toda a bacia estudada. O estudo mais atento da região nos revela suas inúmeras potencialidades e desperta um novo olhar, carregado de motivação, capaz de antecipar a criação de uma

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nova condição para a comunidade local, uma nova realidade onde o bem-estar e a qualidade de vida sejam elementos chaves e norteadores de propostas de intervenção urbana. Desvela a possibilidade de implantação de um sistema de áreas verdes integrado ao tecido urbano da Vila Sônia, melhorando sua condição ambiental, social e econômica, estabelecendo uma condição de equilíbrio sistêmico que potencializa as condições necessárias para o desenvolvimento sustentável do bairro, maximizando seu índice de resiliência urbana. A proposta idealiza a implantação de um projeto único e pioneiro na cidade de São Paulo que possa funcionar como projeto piloto para o desenvolvimento de um estudo mais amplo e integrado que permita sua adaptação e implantação em outras áreas da cidade, confirmando a tese de que os elementos de infraestrutura verde são potenciais indutores de qualificação ambiental e urbana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENEDICT, Mark A.; MCMAHON, Edward T. Green Infrastructure: Linking Landscapes and Communities. Washington: Island Press, 2006. BENEVOLO, Leonardo. A História da Cidade. São Paulo: Editora Perspectiva, 1983. CORMIER, Nathaniel S.; PELLEGRINO, Paulo R.M. Infraestrutura verde: uma estratégia paisagística para a água urbana. Paisagem e Ambiente, [S.l.], n. 25, p. 127-142, jun 2008. ISSN 2359-5361. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/paam/article/view/105962>. Acesso em: 06 maio 2016. doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.2359-5361.v0i25p127-142. DRAMSTAD, Wenche E.; OLSON, James D.; FORMAN, Richard T. T. Landscape Ecology Principles in Landscape Architecture and Land-Use Planning. Cambridge: Harvard University Graduate School of Design, Island Press and ASLA, 1996. FERREIRA, José Carlos; MACHADO, João Reis. Infraestruturas verdes para um futuro urbano sustentável. O contributo da estrutura ecológica e dos corredores verdes. Revista LABVERDE, [S.l.], n. 1, p. 69-90, set. 2010. ISSN 2179-2275. Disponível em: <http:// www.revistas.usp.br/revistalabverde/article/view/61279>. Acesso em: 02 dez. 2015.

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