Intervenções urbanas

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Trabalho Final de Graduação FAUUSP Dezembro 2008

intervenções urbanas Propostas de novas situações para Pinheiros

JULIANA QUARTIM BARBOSA GOTILLA orientadora CLICE DE TOLEDO SANJAR MAZZILLI


Pretendo ser uma ex-designer. Martì Guixè em palestra (Milão, 2007) defende o movimento ex-designer, em que os designers propõem livremente, sem tantas regras, formas e funções definidas, podendo atuar com mais variáveis, num campo mais sensorial ligado à arte, porém, sem haver a “obrigação” de ser um artista plástico formal.1 Neste Trabalho Final de Graduação busco um estudo interdisciplinar a respeito das práticas artísticas urbanas contemporâneas. Nele represento uma etapa de um grande projeto de vida e atuação profissional que consiste na implantação de intervenções no espaço público contemporâneo. Considero a oportunidade do intercâmbio no Politecnico di Milano (2006-2007) e as simultâneas viagens que fiz pela Europa fundamentais para o desenvolvimento do processo de reflexão aplicado à cidade.

Essas experiências me despertaram um olhar mais sensível à prática cotidiana, à qualidade do espaço urbano e às propostas culturais contemporâneas que estimulam a sua vivência e seu uso. De volta a São Paulo, me proponho a fazer uma revisão da cidade a partir do bairro de Pinheiros, unindo minha vivência à síntese das questões que me atraíram e acompanharam ao longo da formação na FAU. Proponho o uso da cultura como meio de estruturação de espaços públicos, como mote para a vida contemporânea. Faço um estudo sobre intervenções urbanas que propõem a experimentação da cidade e a desautomatização do olhar. Elas extrapolam o campo da arquitetura e do design transformando-se, talvez, em um ensaio artístico e um conjunto de referências, sugestões e diretrizes de projeto que trazem o imprevisto, o inusitado que incita mudança nas relações sociais e no uso do espaço público.


Imaginava realizar um trabalho muito mais propositivo do que teórico. Porém este tema, ainda novo para mim, exigiu uma pesquisa profunda para identificar os procedimentos e critérios para a realização de intervenções plásticas no ambiente urbano. Foi de grande dificuldade transformar esta pesquisa majoritariamente visual em um texto escrito. O estilo da linguagem se adequa ao objeto de estudo, livre, espontâneo, contemporâneo, experimental. As imagens compõem um discurso visual paralelo ao verbal, não ilustrando diretamente as discussões levantadas pelo texto. Comecei a propor após leitura de bibliografia e algumas caminhadas em que estive sensível à emoção que aqueles lugares, e as pessoas que por ali transitam, proporcionavam.

Era necessário descobrir qual o papel da arte urbana perante um panorama urbano como o de São Paulo, em sua explosiva situação de violência social e esgarçamento de sociabilidades coletivas2. O grande desafio não foi como dizer e sim o que eu queria dizer, o que teria pertinência, força crítica e lúdica. A idéia inicial era desenvolver uma série de propostas para São Paulo. Porém, houve uma preocupação para que essas intervenções não se perdessem na macroescala metropolitana. Desta maneira foi determinado um território menor, fazendo um recorte da cidade para o estudo de forma que as intervenções pudessem ser mais adequadas à região e seus usuários. Com isso elas criam força através de sua especificidade e unidade, à medida que formam quase que um itinerário, estabelecendo uma unidade entre as intervenções pela linguagem propositiva/crítica/lúdica e pela cor empregada, um vermelho fosforescente, tendo em vista que tanto os materiais quanto os suportes utilizados apresentam grande variedade.

O tema projetual varia em torno da questão da infra-estrutura urbana, propondo interpretações e soluções alternativas de caráter crítico e também lúdico. Fui saindo do meu mundo conhecido e fui apresentada a um alternativo, um que me faz pensar o espaço de maneira diferente. As propostas de projeto me encorajam a não levar o mundo tão a sério, a contemplar por um momento algo imprevisível. Elas reativam um sentimento de pertencimento ao ambiente revelando algo que de repente nunca foi visto antes, adicionando uma nova imagem inesperada no mundo, ou apresentando um novo ponto de vista para a leitura daquele espaço. Não me ative à intenção de fazer propostas de cunho político, por mais que em alguns projetos elas possam ter aparecido. Manifestei apenas o meu pensamento sobre as possibilidades que aquela realidade urbana oferece, criando algumas situações novas para os seus habitantes.



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propostas para pinheiros Camelô do relax 84 vivas ilhas 90 infra-móvel 94 Empenas vestidas 100 Botões urbanos 106 extavasar 112

considerações finais bibliografia

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objetivos 8 etapas e métodos 12 base conceitual 18 práticas artísticas urbanas contemporâneas 44 leitura de pinheiros 48 Área de estudo

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objetivos

Acredita-se que através de intervenções é possível entrar na rotina das pessoas, formando novos hábitos.3

O trabalho pretende proporcionar uma reflexão sobre a metrópole contemporânea a partir da revelação de sua beleza cotidiana e da transgressão de certos comportamentos e formas de apropriação pré-estabelecidos. Procurou-se realizar uma coletânea de trabalhos contemporâneos que têm o propósito distinto de afetar o mundo de forma criativa e provocante. O objetivo disso é desautomatizar a percepção e o raciocínio lógico do transeunte a respeito do lugar através de algumas situações criadas com a intenção de revelar a identidade das pessoas. Isso faz com que elas possam encantar-se para que, após vivenciá-las mudem a relação com aquele ambiente e com as pessoas que também o utilizam, estimulando uma “cultura de uso” do espaço livre público e estabelecendo relações de identidade e reconhecimento. Gostar de uma coisa é reconhecer esta coisa4. As propostas de intervenção a serem introduzidas no espaço da cidade não se restringem ao campo da estética. Elas também anseiam enfrentar a cidade de maneira crítica com um corpo teórico que mostra intenção, coerência com lugar e exigência poética e lúdica. As situações servem como propostas para um campo maior do que sua localização específica, criando uma rede de espaços públicos com vida e personalidade, para que assim estimulem a criação coletiva. 6

Cabe ao arquiteto a formulação de propostas no sentido de estimular o potencial criativo existente nas camadas populares a partir da percepção espacial dessas camadas, visando não justapor ou impor uma ‘visão de mundo’, o seu repertório a um outro distante do seu. É necessário que os dois repertórios se ampliem, que as diversas percepções se refaçam pela mútua interferência.5 A experiência de cada espectador varia de acordo com a cultura e repertório que ele tem. Mesmo aqueles que não estão abertos e nada fazem ao deparar-se com uma intervenção carregarão no seu subconsciente aquela proposta, desencadeando um trabalho com múltiplas temporalidades simultâneas. Mesmo quando não se ocorre nada, ocorre sempre alguma coisa (John Cage). A Europa se mostra aberta a propostas artísticas em espaços não institucionais principalmente como programação cultural de verão de muitas cidades. É notável que muitos são os fatores que facilitam a implantação de projetos desta natureza no exterior, mas acredito ser possível propor muita coisa para São Paulo, onde a questão do espaço público se coloca de uma maneira muito mais radical que no primeiro mundo, apresentando uma pluralidade de contradições numa cidade que se move em ritmo frenético.


Mas como um lugar tão frenético pode ser apresentado sempre de um modo tão silencioso? São Paulo, maior metrópole brasileira, já entrou em colapso com seus 5 milhões de automóveis, 240 mil caminhões, 41 mil ônibus, 9 mil lotações, 688 mil motocicletas.6 Caos. Cidade globalizada e multicultural. Falta uma identidade individual ou o reconhecimento se dá nesta pluralidade? Quem são e o que sentem os habitantes/ usuários desta cidade? Estão satisfeitos? Eles conseguem “tocar”, se apropriar e viver o espaço público? Estão alienados e alheios ao que se passa no ambiente? Nota-se que os 10 milhões de paulistanos se comportam como se fossem invisíveis além de, em sua maior parte não tem tempo e nem curiosidade para observar e vivenciar os lugares por onde passam. Estão acostumados a rotinas e percursos sem encantamentos imprevisíveis.

O foco deste trabalho será o imprevisível, “o nunca imaginado”, o imprevisto que provoca alegria, imersão, que evidencia o específico, a identidade, os desejos, que provoca inquietação. Pretendo inserir no cotidiano da cidade momentos de suspensão, “válvulas de escape” para a mente, para o corpo! Para esta etapa do trabalho o bairro de Pinheiros foi selecionado como local de proposições por apresentar grande vitalidade dentro da dinâmica da cidade de São Paulo. As observações feitas situam-se no campo subjetivo, mais próximo ao da arte. A busca foi por um olhar multifocal, como é a realidade contemporânea, apoiando-se em bibliografia sólida. O trabalho não pretende descobrir uma regra e aplicá-la, mas em explorar uma maneira pessoal de perceber e conceber situações, relações, imagens e propostas, construindo um pensamento visual propositivo de acordo com uma leitura pessoal do contexto urbano. O objetivo deste estudo é reunir propostas, percursos e reflexões construídos através do contato com bibliografia correspondente, grupos de artistas atuantes nesta área e de experiências e emoções sentidas através da vivência no espaço público de Pinheiros.

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etapas e métodos

(...) Quero apenas o céu sobre mim, e a estrada sob os meus pés.7

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O trabalho foi realizado em 6 etapas: 1. Leitura espontânea das cidades marcadas pela expressividade de seus signos gráficos e ambiências contemporâneas; 2. Pesquisa bibliográfica visual e conceitual sobre a trajetória das práticas artísticas nas cidades; 3. Atuação, pesquisa e entrevistas junto a grupos de artistas que fazem intervenções urbanas; 4. Coletânea de imagens e textos de referência; 5. Estudo de São Paulo e, em particular, do bairro de Pinheiros; 6. Propostas de Intervenções criando situações novas que alteram o ritmo cotidiano de uma área específica de Pinheiros.


A fotografia e a frotagem foram usados como forma de leitura e registro dos elementos daquele espaço. A primeira etapa foi o despertar para as questões das intervenções urbanas, caracterizando-se por um período de estudo “informal” e descobertas sobre as possibilidades de expressão e uso dos espaços baseados em uma cultura artística contemporânea. A etapa seguinte foi um grande desafio. Entrar num território pessoalmente ainda desconhecido e pesquisar o “estado geral da arte”, teorias que sustentassem o pensamento que já se apresentava parcialmente formulado. Foi feito um estudo sobre os percursos já trilhados (o que já está proposto) e foram selecionados alguns artistas e trabalhos que se destacam neste campo para servirem de referência projetual.

O partido de projeto para as propostas foi tirado através da leitura da paisagem, com um olhar atento às situações que apresentavam possibilidade de transposição. Para produção de um conjunto de elementos que diferenciassem esta região do resto da cidade foram levantadas questões para a obtenção de um rigor formal e conceitual baseado nas peculiaridades daquele cotidiano específico. A fotomontagem foi necessária para simular as intervenções e para decidir a escala, materiais e cores que se diferenciassem e não se perdessem em meio à paisagem caótica de Pinheiros, formando uma linguagem inteligível àquela população.

Foi de grande importância o contato com grupos de artistas contemporâneos que estão fazendo propostas atuais de intervenções urbanas. Este contato tornou possível formatar o corpo da quarta etapa estabelecida por uma coletânea de imagens, pensamentos e práticas contemporâneas que embasam os projetos que formam o campo prático do presente TFG.

A força narrativa das fotomontagens mostra-se de grande importância porque nem todas as intervenções foram construídas/aplicadas nesta etapa. Servem, então, como ilustração das reflexões acerca o espaço urbano e as relações sociais intermediadas por ele.

Apresenta-se a cidade de São Paulo e a realidade do bairro de Pinheiros. Como é feito este espaço? O que o delimita? Quais as suas características, seu volume, elementos estruturais, formas dominantes, pontos notáveis, percursos, acessos, símbolos típicos? Além do estudo da história, imagens e sons daquele espaço foi traçado um percurso visual daquela paisagem, baseado nas ações cotidianas que ali se desenvolvem e nas sensações, encantamentos, recordações e emoções que o bairro provoca.

Todas as propostas aqui apresentados tem um caráter temporário de instalação, sendo o processo de reflexão e proposição o foco deste trabalho.

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“I take my wishes for reality, for I believe in the reality of my wishes.�

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base conceitual

É preciso lançar no mercado, nem que por enquanto seja só no mercado intelectual, uma quantidade de desejos cuja riqueza não ultrapasse os atuais meios de ação do homem no mundo material mas supere a velha organização social.8

Durante o trabalho foi identificada como de grande importância estabelecer alguns conceitos como base para as especulações e estudos que estavam sendo desenvolvidos.O ponto inicial de reflexão foi o uso do espaço público. Com o passar dos séculos este perdeu a sua função de lugar de vida, de jogo, de encontro, de trocas, de sociabilidade para ser fundamentalmente um lugar de passagem.

The naked city Guy Debord, 1957

Partindo de conceitos como paisagem, espaço, lugar, pós modernidade e não lugares estudados na iniciação científica PIBIC CNPq realizada em 2004/2005 – Apropriação informal dos espaços livres públicos - retoma-se neste TFG algumas questões anteriormente discutidas. Porém, no presente, isto é feito sob o viés da criação de situações através de intervenções de arte aliada às disciplinas do design, arquitetura e antropologia, com a intenção de promover a vivacidade do espaço público e a intensificação das relações sociais intermediadas por ele. Para iniciar esta proposta de estudo cultural foi necessário recorrer através do livro Apologia à Deriva aos textos situacionistas sobre a cidade, arquitetura e a vida cotidiana que propunham a prática coletiva da criação artística, o exercício de novos modos de fruição e apropriação dos espaços urbanos através da construção de situações. A importância atual do pensamento situacionista sobre a cidade está na força crítica dessas idéias. A Internacional Situacionista – composta por artistas, pensadores e ativistas – lutava contra o espetáculo, a cultura espetacular e a espetacularização em geral, ou seja, a não participação, a alienação e a passividade da sociedade. O principal antídoto contra o espetáculo seria o seu oposto: a participação ativa dos indivíduos em todos os campos da vida social, principalmente no da cultura9. O seu pensamento urbano baseia-se na psicogeografia, na deriva e, na construção de situações. A deriva seria uma apropriação do espaço urbano pelo pedestre através da ação do andar sem rumo. A psicogeografia estudava o ambiente urbano, sobretudo os espaços públicos, através das derivas e tentava mapear os diversos comportamentos afetivos diante dessa ação básica do caminhar na cidade10. As situações deveriam ser feitas de modo a ser vivida por seus construtores. The naked city talvez seja a melhor ilustração do pensamento urbano situacionista, a melhor representação gráfica da psicogeografia e da deriva, e também um ícone da própria idéia de urbanismo unitário. Ele é composto por vários recortes do mapa de Paris em preto e branco, que são as unidades de ambiência, e setas vermelhas que indicam as ligações possíveis entre essas diferentes unidades. As unidades estão colocadas no mapa de forma aparentemente aleatória, pois não correspondem à sua localização no mapa da cidade real, mas demonstram uma organização afetiva desses espaços ditada pela experiência da deriva11.

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A partir da imersão na crítica e ideário situacionista foi necessária uma busca a conceitos contemporâneos ainda com este tipo de abordagem, porém, aplicados à realidade contemporânea paulistana. O livro Cidade Polifônica de Massimo Canevacci foi muito importante no processo de transposição de conceitos e construção de um olhar crítico e formulação de um método de leitura da cidade de São Paulo. Caracterizando São Paulo como cidade patchwork12 apresenta uma metodologia de ‘dar voz a muitas vozes’, experimentando um enfoque polifônico à cidade multivocal. O único modo de se descrever a cidade de São Paulo é transfigurando-a. A idéia de poder representá-la na sua ‘objetividade’ é literalmente insustentável13. Por não se apresentar formalmente captável, a cidade mostra-se ao seu observador etnógrafo em diferentes facetas que permitem a todo o momento uma nova pesquisa de conceitos. Em vista disto, busca-se um estudo interdisciplinar através de referências internacionais e nacionais, que resulta num produto múltiplo, com diversos estilos de representação de projetos. Para capturar a realidade local utiliza-se da deriva, que ele caracteriza como “um abandono ao fluir das emoções”14 e defende o apuro no olhar para interpretação dos signos. A tese de mestrado Linguagens artísticas e a cidade de Jorge Bassani discute a configuração da cidade relacionada às linguagens artísticas urbanas e a percepção e interatividade suscitada em seus habitantes. Faz referência a Baudelaire, que se empenhou em entender a vida moderna e instituiu o termo flâneur. Bassani o caracteriza como aquele que faz de um passeio uma atividade filosófica e política, que transforma o mais insignificante dos fatos urbanos em um grande acontecimento15, rompendo com a distinção entre o público e o privado, tão ressaltada pela cidade industrial burguesa. Quem dentre nós não terá sonhado, em dias de ambição, com a maravilha de uma prosa poética, musical, mas sem ritmo e sem rima, bastante flexível e resistente para se adaptar às emoções líricas da alma, às ondulações do devaneio, aos choques de consciência? É sobretudo da freqüentação das cidades gigantescas, do crescimento de suas inúmeras relações, que nasce esse ideal obsessivo.16 Principalmente através dos livros de Miwon Kwon sobre experiências Site Specific, do Arte Cidade de Nelson Brissac, do Cidade e Cultura, organizado por Vera Pallamin, do Arte como questão - Anos 70 de Glória Ferreira e de catálogos de arte sobre a obra de Hélio Oiticica e Lygia Clark, foi possível fazer uma retomada histórica das intervenções urbanas e traçar uma linha do tempo com os principais fatos que podem embasar e apresentarse como referência diretas para a proposta central deste trabalho caracterizado pela aliança entre a arte e a prática urbana.

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Red Cube Nova York 1968 Isamu Noguchi

Tilted Arc Federal Plaza, Nova York 19811989 Richard Serra Spiral Jetty 1980 Robert Smithson

No final dos anos 1960 houve uma crise dos espaços expositivos tradicionais (museus e galerias) e uma procura dos materiais e objetos cotidianos para criar obras específicas para os lugares. Nesta situação, o espectador passa de uma contemplação deambulatória de objetos autônomos, apresentados num contexto neutro, para viver uma experiência estética, proporcionada pelo lugar investido artisticamente. As relações com o lugar tornam-se um componente indissociável da obra de arte17. As primeiras práticas site specific, aplicadas no final da década de 1960, não tiveram força. A arte para espaços públicos era feita de réplicas grandes de obras de museus, que tinham como representantes deste período Isamu Noguchi, Henry Moore, Alexander Calder, entre outros. Richard Serra e Robert Smithson radicalizaram os procedimentos produzindo obras que se adequavam ao lugar e introduziam um olhar crítico sobre a situação urbana, econômica e políticas do espaço, enfatizando as contradições e conflitos, constituindo a vanguarda americana neste campo de proposições. Os procedimentos artísticos iam desde a execução de pequenas mudanças numa realidade preexistente, com aplicações discretas, passando por murais, instalações cênicas e grandes encenações de temas políticos e sociais in loco, até a total remodelação transitória dos espaços. Uma das razões que levaram à aprovação da nova arte no espaço público foi o desejo de que a arte levasse em consideração as funções públicas dos locais de exposição urbanos assumindo ela própria uma função pública. Todavia, aos poucos, foi se cristalizando o entusiasmo pela arte das instalações específicas para um determinado lugar como gênero popular, que apresenta dois objetivos: representar os moradores e incentivar simultaneamente a comunicação entre os vizinhos18. Instalação Munique-Neuperlach 1969 Peter Nemetschek

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A consideração e a estima do indivíduo se reveste de grande significado social quando acontece num contexto social mais restrito. Em 1969, Peter Nemetschek conseguiu convencer 77 de um total de 88 moradores de um edifício num novo conjunto habitacional em Neuperlach (Munique) a tirarem fotos individuais, que depois foram utilizadas por ele durante um dia para dar um rosto múltiplo ao prédio19.


No final da década de 1960 Hélio Oiticica e Lygia Clark inovam no Brasil a forma e sentido da participação em suas obras criando a arte ambiental, o eternamente móvel, transformável, que se estutura pelo ato do espectador. Somos os propositores: somos o molde; a vocês cabe o sopro, no interior desse molde: o sentido de nossa existência.20 Colocam um sentido social à posição do criador, que não só denuncia uma sociedade alienada de si mesma mas propõe uma posição permanentemente crítica. Apoiavam as proposições abertas visando fazer com que cada um encontrasse a si mesmo. O Hélio citava um texto da Yoko Ono em que ela dizia não acredita em artistas criativos, mas em artistas que mudavam o valor das coisas. E ele era um cara que fazia isso.21 Hélio Oiticica projeta nesta época as cabines de lazer, com colchões para deitar. Tempos depois apresentam-se em São Paulo os grupos que faziam intervenções urbanas no final dos anos 70 – 3NÓS3, Manga rosa, por exemplo – fortemente marcados pelas experiências com arte pública dos concretos. As ações, em São Paulo, do grupo 3Nós3, formado por Hudinilson Jr., Mario Ramiro e Rafael França, se caracterizam como intervenções no contexto urbano, exteriores às instituições e com a incorporação da transitoriedade do urbano e do público não especializado. Ao ensacar estátuas, em sua primeira ação, em 1979, parecem apontar, simbolicamente, para a crise da lógica do monumento como mediação entre o local em que se situam e o signo que representam. Suas ações dialogam, assim, com os investimentos em locais específicos que marcaram a práxis artística desde o final dos anos 60 e com a chamada arte pública, ao mesmo tempo em que apontam para a invenção e reinvenção de modelos de produção, de apresentação e recepção da arte que caracterizam as práticas atuais mais estimulantes22. Richard Serra ao introduzir Tittled Arc em 1981 defende a escultura não utilitária, não funcional, em 1989 esta obra foi retirada do local devido a inúmeras reivindicações. Os anos 1980 foram marcados pelo movimento para arte pública estabelecer um diálogo com os projetos de arquitetura do entorno, integrando-se à paisagem, usando materiais que reforçassem a identidade daquele local, aumentando assim o seu valor social. Também nesta época começa a ser reconhecido o valor artístico do grafite e Jean Michel Basquiat e Keith Haring começam a expor em galerias de arte. Sussex University Experience 1969 Helio Oiticica Operação ensacamento 3NÓS3

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Parlamento Berlim Christo & Jeanne Claude

No final dos anos 1980 a Land Art e trabalhos site specific ocupavam os lugares mais originais das cidades constituindo uma série de itinerários urbanos, e uma retomada do flanêur e sua fascinação com o estranhamento da cidade. Nesta época surgiu o ‘artista interventor itinerante’, que toma o mundo como um vasto campo para suas ações pontuais. O artista convertido em etnógrafo23. A implantação de projetos aliados à antropologia, sociologia, crítica literária, psicologia, história, arquitetura, urbanismo, filosofia e política, passam a servir para promover os não lugares como lugares únicos, fazendo parecerem específicos novamente, auxiliando na reintrodução de valores como autenticidade e singularidade. Ocorre uma apropriação da arte situacional para valorização de identidades urbanas. Ao contrário do ocorrido no início dos anos 70, os artistas já não se importam tanto com a liberação da criatividade que devia disseminar-se entre os leigos, e sim com a ativação geral dos espectadores passivos, transformando-os em usuários ativos24. South Bronx Sculpture Park 1991 John Ahearn

São desenvolvidos trabalhos livres em lugares reais com pessoas reais equipando os suportes cotidianos democratizando a arte como, por exemplo, no projeto South Bronx Attitude desenvolvido por Ahearn com a intenção de estabelecer uma política de identidade comunitária, marcando a fase em que artistas aliam-se a arquitetos para fazer projetos para o espaço público. Os projetos de arte temporária como cultura de eventos encontram seu auge popular em trabalhos como o embrulhamento de prédios realizado por Christo, a exemplo do parlamento em Berlim em 199525. Na década de 1990, este novo gênero de arte pública, que sugere um espírito comunitário e ativista usando metodologia colaborativa e mídia não tradicional, faz aparecer os grupos de “artistas de Guerrilha” que exploravam estratégias alternativas de intervenções.

Gordon Matta-Clark

Nesta mesma época devido, à consolidação das megalópoles, houve uma superação do horizonte original in situ, fazendo com que não existisse mais a individualidade do local, mas sim territórios urbanos. Começa a haver um renovado interesse pelas questões essenciais das intervenções da Land Art dos anos 1970. As edificações cortadas de Gordon Matta-Clark enfatizavam o caráter precário e desagregado da paisagem urbana, tornando visíveis múltiplas e inesperadas camadas espaciais e temporais. Começam a ser retomadas estas questões problematizando agora a relação de interior e exterior, centro e subúrbio, funcionando como uma crítica aos projetos empresariais de revitalização urbana.

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Tadeu Knudsen

Rubens Mano

Em São Paulo dentre as manifestações artísticas da década de 1990, três grandes projetos se destacam, em especial por terem sido realizados e patrocinados pela Secretaria de Cultura: A cidade sem janelas, A cidade e seus fluxos e A cidade e suas histórias, idealizadas por Nelson Brissac Peixoto, em conjunto elas levam o título de Arte Cidade, projeto que apoiou as iniciativas de artistas plásticos e poetas, literatos e filósofos, que conseguiram juntar a beleza da palavra, com a imagem extraordinária da tecnologia digital usando a cidade como suporte26. Dentro da intervenção A cidade e seus fluxos destaca-se o projeto de Tadeu Knudsen que retoma princípios dos dispositivos de projeção, usando uma tela de 30m de altura pendurada por balões e posicionando a certa distância um palco e um refletor. Expõe os transeuntes ao anonimato, visto que apenas sua sombra é projetada ali. Já Rubens Mano utiliza 2 grandes projetores de 12.000 watts de potência instalados ao lado do viaduto do chá. As faixas de luz possuem 1,5m de diâmetro, cortam a calçada e as silhuetas das pessoas dando-lhes importância fugaz, marcada pela velocidade da cidade. No projeto A cidade e suas histórias é interessante notar o estudo que Marcos Ribeiro faz a cerca do trem e o cinema. Da janela dos vagões de um trem se observa, como nas telas de cinema, o mundo passar a 24 quadros por segundo. Ele produz uma sequência de desenhos e os pendura por cabos na altura das janelas dos vagões.

Nelson Brissac afirma Hoje qualquer projeto de intervenção urbana deve ser feito a partir das operações urbanas promovidas pela administração pública. (...) Trazendo um viés crítico para o que está sendo planejado e apontando para direções alternativas ou complementares que possam assumir27. É a partir deste pensamento que novas propostas práticas de intervenções passam a ser desenvolvidas para provocar ecos e inventar novas conexões.

Marcos Ribeiro

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práticas artísticas urbanas contemporâneas Intervenções usam a cidade como suporte, com ou sem autorização prévia. Muita gente acha que é vandalismo, invasão de propriedade, uma maneira de sujar a cidade. Eu acho que os artistas têm mais é que usar o espaço público, mas com uma desobediência que faça sentido, a obra precisa ter pertinência e relevância, não ser meramente decorativa ou uma auto-propaganda. 28 Agnaldo Farias

Nesta parte do trabalho intercalam-se referências contemporâneas coletadas a partir de uma investigação perceptiva, leitura espontânea da cidade, com pesquisa bibliográfica e iconográfica e experiências com grupos de artistas. A coletânea de imagens inicia-se com a expressão mais livre e espontânea do grafite; passa pelo estêncil e lambe-lambe, formas mais controladas e passíveis de reprodução em série; faz uma rápida investigação a respeito do movimento e interatividade permitido pelas projeções, associadas muitas vezes ao uso do som; traz referências de projetos urbanos bem resolvidos, com desenhos e soluções interessantes; mostra algumas imagens de publicidade e arte de guerrilha; e apresenta um enfoque especial no estudo de intervenções “tridimensionais” realizadas por grupos interdisciplinares contemporâneos. Tais intervenções são compostas de alguns dos elementos citados anteriormente aplicados sobre estruturas modulares produzindo situações novas, diversos tipos de ambientação, happenings, provocando novas sensações e experiências ao usuário cotidiano do espaço público da cidade. 19


O grafite está inovando e criando uma nova linguagem de formas e imagens que se fundem com design gráfico contemporâneo e à ilustração. Os artistas estão usando cada vez mais materiais e técnicas novas de intervenção, como pôsteres, adesivos, colagens, cerâmicas, acrílicos, utilizando a mais emotiva linguagem visual dos ícones com o objetivo de subverter os sistemas de símbolos da cidade29. Muitas vezes a proposta artística vale-se da forma e material do mobiliário urbano presente no espaço como partido para o projeto. A arte de rua faz a sociedade repensar o espaço e a vida na cidade. Hoje, em grandes centros urbanos do mundo, artistas plásticos realizam murais, esculturas, grafites e intervenções com o objetivo de sensibilizar o espaço urbano, mostrando que a cidade é um organismo vivo e que a arte tem de estar ao alcance de todos30. As galerias estão buscando os artistas de rua para expor em seus espaços. Porém esta parceria entre o poder público ou grupos privados e os artistas que pintam painéis nas ruas de São Paulo gera divisões em um movimento que ainda vê na ilegalidade sua força motriz.

BANKSY, artista inglês de identidade desconhecida e fama internacional ilustra satiricamente temas políticos e cotidianos com grafite, associando o desenho livre ao uso de estêncil. Alexandre Órion vem desenvolvendo trabalhos muito interessantes com grafite e lambe-lambe.

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Em julho de 2007 fez uma intervenção diferente, enxergou o túnel subterrâneo que passa sob a Av. Cidade Jardim como uma catacumba urbana de onde, caso fosse escavada a fuligem, seriam achadas ossadas. Por 13 madrugadas, Órion ia até o túnel Max Feffer, com um pedaço de pano úmido, ia limpando a fuligem acumalada nas chapas de aço ao mesmo tempo que desenhava caveiras, uma intervenção que chamou de ossário. ‘A polícia vinha reclamar, mas não tinha argumento. Eu não estava pichando, estava limpando o túnel’,diz.31


O protagonista é o bairro e seus habitantes. O artista escolhe um lugar, alguém da vizinhança, tira uma foto e, com a ajuda de um suporte, desenha a carvão no muro o retrato em grande escala. Em algumas horas, um anônimo qualquer ganha proporções de ídolo ou herói. Essa é a intenção do cubano-americano Jorge Rodrigues Gerada, reforçar a identidade de um lugar transformando pessoas comuns em celebridades, buscando um diálogo entre os habitantes e o local onde vivem.33 El tono&nuria, um casal espanhol, fazem discretas invasões urbanas baseados em códigos gráficos dos seus respectivos símbolos. Eles sempre integram suas composições com a arquitetura e elementos do entorno.32 O duo 6emeia foi criado e desenvolvido pelos artistas SÃO e Delafuente, moradores do bairro da Barra Funda onde se iniciou o projeto com o intuito da mudança e transformação do cotidiano.

Os gêmeos, Otavio e Gustavo Pandolfo fazem grafite no cruzamento da Av Alcântara Machado com a rua Carneiro Leão. Os brasileiros possuem fama internacional, usando sempre a figura amarela, característica de seus desenhos.

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porto PT

mil達o IT

vila madalena SP paris FR

berlim DE 22


aclima巽達o SP

ipanema RJ mil達o bovisa IT

porto PT

mil達o IT 23


Existe uma técnica de grafite temporário, feito com laser. Deve haver um capturador de vídeo que possua um sensor de leitura do movimento do laser. Este deve ser associado a um computador sincronizado a um projetor que faz permanecer o movimento do desenho feito pelo laser. Graffiti Reasearch Lab

Em Milão, na semana de Design de 2007, foi feita uma instalação com luzes e projeções no Castelo Sforzesco, criando uma nova ambiência àquele espaço e usando as empenas do edifício como suporte. 24


Krzysztof Wodiczko em 1990 faz projeção sobre a fachada do Hirshhorn Museum de Washington, valendo-se de sua forma para criar uma brincadeira inusitada.

Na noite de 26 de maio de 2000, sem autorização prévia, o artista Ducha instalou gelatinas vermelhas nos 18 holofotes que iluminam o Cristo Redentor. Por cerca de uma hora e meia o ícone maior do Rio se tornou vermelho.

Na Bienal de Arquitetura de Veneza, 2006, no pavilhão da Finlândia havia uma brincadeira com projeção de um livrinho, maneira para cativar a atenção e leitura de seus projetos.

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Alguns projetos e artistas foram encontrados por meio da internet. Sites, blogs e fórum de discussões expõem iniciativas contemporâneas, uma forma de divulgação rápida e de longo alcance.

OBJECT ORANGE (Detroit) projeto de Wooster collective pintaram prédios abandonados de laranja fosforescente para estimular a prefeitura a olhar para o problema e tomar atitudes. Felice Varini, nascido na Suiça, usa suportes 3D para imagens 2d criando ilusões óticas que só podem ser compreendidas do ponto de onde foi projetada a imagem.

Sculp me point Food facility

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Marti Guixé, designer Catalão nascido em 1964, luta contra o estigma do design de ter que trabalhar o objeto buscando sua forma e função. Mais do que dar forma aos produtos ele procura trabalhar para alterar maneiras de ver e pensar. Freqüentemente faz uso de materiais baratos e seus trabalhos têm a característica de serem montados rapidamente e de serem efêmeros em sua duração. Usa o design como plataforma para questionar, visualizar e influenciar o comportamento humano.


Graziano Cecchini, artista contemporâneo/ futurista italiano destacou-se recentemente por 2 intervenções interessantes que realizou nos maiores pontos turísticos de Roma. Na primeira, jogou tinta vermelha na Fontana di Trevi, transformando rapidamente o seu espelho d’água límpido em uma fonte de sangue. Na segunda ele jogou do alto da escadaria da Piazza Spagna milhares de bolinhas coloridas, transformando aquele espaço em uma cascata de cores. De maneira simples e lúdica Cecchini vêm transformando ambientes já desgastados pelo mercado do turismo.

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Eduardo Srur é um artista brasileiro que vem fazendo intervenções de porte em São Paulo com o apoio do poder público. Em outubro de 2007, espalhou num trecho do rio Pinheiros 100 caiaques coloridos ocupados por manequins de plástico. Foi responsável também pelas intervenções das enormes garrafas pet ao longo da marginal do rio Tietê. A cidade é o suporte de sua arte. Minha proposta é lúdica e provocativa, a arte tem de alterar a realidade cotidiana adormecida34, diz o artista. Atualmente Eduardo Srur veste 25 esculturas da cidade com coletes salvavidas. Essa intervenção, cujo nome é Sobrevivência, tem como idéia central reativar visualmente o patrimônio histórico e restituir a memória do espectador.35

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Recentemente a Mostra Sesc de artes 2008 promoveu uma intervenção muito interessante, Play Me, I’m Yours (Toque-me, Sou teu) de Luke Jerram (Inglaterra) em que pianos foram colocados em pontos estratégicos da metrópole (Poupatempo da Sé, Largo de Santa Cecília, Marquise do Ibirapuera, Estação Santo Amaro CPTM, Estação da Luz, Parque da Juventude, Pátio do colégio, Largo de pinheiros). Interferem no cotidiano visual e sonoro do espaço público. Estavam livres para a apropriação e manipulação por qualquer pessoa, fazendo-as esquecer do estresse do dia-a-dia. Além disso, cada piano tem uma página própria no blog da mostra, permitindo ao público postar registros de suas intervenções 36.

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Em1984 Jay Conrad Levinson lança um livro com o título de Guerrilla Marketing sobre métodos de promoção não convencional a baixo custo. Define Guerrilla como ação rápida e estratégica, inesperada e radical. Tais ações caracterizam-se por nascerem mais do investimento de tempo, energia e idéias do que apenas de investimento econômico. Curiosas e inteligentes elas ganham o consumidor ao surpreendê-lo graças a idéias inusitadas, inserindo o lúdico no espaço urbano como estratégia de propaganda e marketing. 37

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São apresentados alguns projetos retirados do livro Design and Landscape for people, 2007 que reúne iniciativas contemporâneas. Elas podem ser consideradas bem sucedidas pela maneira que foram implantadas, que são administradas, e pelo potencial de transformação que impingiram no lugar onde foram instaladas.

Play or rewind Italia 2001 Cliostraat Intervenções realizadas na cidade histórica de Siena que provocam surpresa e geram apropriações espontâneas transformando o ritmo da cidade. Através de desenhos que remetiam a quadras de esportes aplicadas na malha urbana de Siena, complementados por elementos em grande escala para a sua apropriação e interação, como bolas, o pedestre era estimulado a participar daquele “evento”, daquele jogo, exercitando a sua criatividade e sociabilidade, criando novos valores de uso e beleza para os espaços.

Playpump África do Sul 1997 – presente Latz&Partners landscape architects Instalado em inúmeras comunidades rurais da África do Sul, este projeto mostra a força que tem um projeto criativo e inovador num ambiente de grandes dificuldades, onde as necessidades são muitas e os recursos são escassos. Infraestrutura básica para a saúde é gerada através de brincadeira das crianças, que no gira-gira geram a força para bombear a água para tanques, economizando o uso de energia.

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Landschaftspark Duisburg Nord Alemanha 1989 – presente Realizado no Vale do Ruhr, pelo programa de promoção de espaço verde público e espaços de lazer, valeu-se de estruturas industriais e fábricas abandonadas para promover novas formas de uso e apropriação associadas ao grande parque público.

The Strip Holanda 2002-2004 Programa artístico realizado em Rotterdam que tem como foco reativar espaços comerciais abandonados de conjuntos habitacionais. Procura envolver a população local em atividades artísticas coletivas, promovendo encontros e ações para melhorar a região onde moram, estimulando assim o convívio, a troca de experiências e cultura entre os habitantes.

Stanica Eslováquia 2001 - presente TRUC SPHERIQUE O projeto reanimou uma estação de trem que apresentava espaço subutilizado, na cidade Zilina, integrando infraestrutura urbana com a cultura cotidiana local. O grupo interdisciplinar TRUC SPHERIQUE se instalou neste ambiente e realiza ali suas atividades culturais, workshops, apresentações, festas e exposições contando com a participação de crianças, jovens, adultos, artistas e passageiros que transitam pela estação.

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No Politecnico di Milano foi possível ter contato com Ezio Manzini e um grupo de professores que faz parte do projeto Sustainable everyday, programa financiado pela UNEP (United Nations Environment Program). Eles dispõem de um site com um “catálogo de casos” que serve de plataforma para discussões e troca de experiências e projetos que visam a sustentabilidade no contexto cotidiano. Reúnem novas visões de projetos sustentáveis para a vida cotidiana, para a promoção de inovações sociais. Pessoas particularmente inventivas que, sem esperar a mudança geral do sistema (economia, instituições, infraestrutura) souberam recombinar aquilo que já existe para produzir algo de novo, propondo soluções que fazem convergir o interesse individual com o social e ambiental. 38

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Em julho de 2007 houve uma mostra em Basel chamada Situarchiteture INSTANT URBANISM que apresentou trabalhos de Lucy Orta (França), Santiago Cirugeda (Espanha), EXYZT (França), Srdjan Jovanovic Weiss (Belgrado, Basel), NL architects (Holanda) IAN+ (Itália), PPAG (Áustria). Exibia conceitos e projetos que redefinem a cidade como espaço de brincadeiras e apropriações através da construção de situações. Por meio de uma arquitetura temporária desenham espaços de usos flexíveis que respondem à precariedade dos espaços urbanos39. Na Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, 2007, o projetos representante da Áustria apresentava-se como uma coletânea de propostas que questionam o cotidiano, evidenciam alguns embates e inventam novas soluções para problemas diários criando uma nova esfera pública (Isn’t this the right place for a different kind of human interaction?; Rent a hitchhiker; Do we really need public space?; Toronto barbecue).

Michael Rakowitz, “Parasite”, tendas para mendigos usarem no inverno, infladas pelo ar que saem de aquecedores, ar condicionados; esse projeto ganhou um prêmio da Unesco

NL Architects, “Basketbar”, quadra montada sobre a laje de um bar, aproveitando o espaço e trazendo uma combinação inusitada para equpar a região

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Em visita à 10 Bienal Internacional de Arquitetura, Veneza, 2006 foi possível ter contato com a ação MetaVilla do grupo parisiense EXYZT (coletivo de artistas de raiz situacionista) que transformou o pavilhão francês em residência/ albergue habitado durante os 3 meses da Bienal. Ao apresentarem um projeto de arquitetura de maneira alternativa, eles propunham a vivência da proposta, a experimentação do conceito, atigindo os espectadores de uma maneira instigadora, revelando simplicidade e beleza cotidiana.

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Este grupo, iniciado por 5 arquitetos (Nicolas Henninger, François Wunschel, Phillipe Rizzotti, Pier Schneider e Gilles Burban), tinha o desejo de construir uma arquitetura alternativa, caracterizase por sempre propor projetos utópicos. Através desse conceito eles procuram estimular a criatividade e reflexão das pessoas, renovando as relações sociais e sugerindo novos sistemas de trocas onde todos podem ser arquitetos do próprio mundo. Ao transformar a arquitetura em um campo interdisciplinar, eles instigam os espectadores a resgatarem consciência do seu ambiente, a reagirem e agirem.40

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Em Milão o grupo interdisciplinar ESTERNI, ativo desde 1995, promove intervenções e happenings com o mote de requalificar o espaço público e transformálo em lugar de vida e experimentação conjunta, fazendo com que os cidadãos descubram o papel das praças e das calçadas como “lugar socializante”. Gostamos de ser itinerantes, apresentarnos em lugares diferentes mas sempre de grande afluência, e propondo alguma coisa de muito alternativo. Alguma coisa que abra novas possibilidades e façam repensar os espaços públicos.41 38


Durante a Semana do Salão de Móvel em Milão eles promovem inúmeras atividades “Fuori Salone”, uma maneira alternativa de conhecer e aproveitar a cidade durante esta semana.

Em 2007 foram organizados: La cena di tutti - jantar organizado numa praça central de Milão, caracterizada por ser apenas local de passagem; Il paesaggio di tutti - mirantes foram instalados pela cidade para que se tivesse recortes e pontos de vista mais bonitos das paisagens de Milão; La casa di tutti - foi construída com estrutura de andaimes um “albergue” para hospedar estudantes e designers durante a feira. O Politecnico di Milano cedeu o auditório de Bovisa e o lugar foi transformado e habitado; Il letto di tutti - em alguns pontos estratégicos da cidade, locais com muita atividade e pedestres, foram instaladas estruturas com colhões para o descanso e repouso dos visitantes, associados a um bar com música; La festa di tutti - todos os anos eles fecham um túnel da cidade e fazem uma festa neste espaço, promovendo oficinas de música, projeções, grafite, lambe lambe, etc. 39


No mês de abril de 2008, Milena Szafir (do grupo “mm não é confete”) foi organizadora do workshop “Que situação, hein Debord” no CCBB de São Paulo e do Rio de Janeiro. Este ciclo de debates foi fechado com uma intervenção artística na rua da Quitanda, centro de São Paulo, na quinta feira, dia 24 às 18 horas, horário de fim de expediente. A intervenção consistia na projeção, em uma fachada, de imagens gráficas intercaladas a videos capturados durante o dia naquela mesma região com música sincronizada e microfone aberto. Algumas pessoas se reuniram e dançavam por ali, outras passavam um pouco tímidas e assustadas. Alguns trechos de textos situacionistas eram lidos no microfone. Foi uma experiência interessante manter contato e trocar idéias e experiências com os artistas envolvidos e sentir a recepção, da cultura paulistana em relação a este tipo de ação.

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Embora a temática da arte urbana não seja recorrente entre nós – o que se pode ver pela própria bibliografia nacional, que é escassa sobre o assunto - , São Paulo tem sediado em seus espaços públicos alguns significativos trabalhos de caráter crítico42. No Brasil, os coletivos de arte tendem a se aglutinarem em prática-política-estética, em grupos não necessariamente fixos, reunindo pessoas de pensamento similar, que dividem idéias e criam grandes intervenções na cidade, atuando, às vezes, em conjunto com movimentos sociais independentes. BijaRi, Horizonte Nômade, Nova Pasta, Coringa, Piratininga, Esqueleto e Contrafilé são alguns dos coletivos paulistas em atividade. A internet é um veículo amplamente usado pelos coletivos para as suas discussões e a difusão de idéias a baixo custo. O C O R O - Coletivos em Rede e Ocupações 43 é uma iniciativa de artistas que a principio buscou unir outros artistas que também trabalham coletivamente no Brasil. Teve origem em São Paulo pelo Horizonte Nômade. Começou a se articular em meados de 2003, a partir do levantamento de coletivos brasileiros e iniciativas autônomas realizado por Flavia Vivacqua desde 2000. Iniciou no ano de 2005 sua expansão para além do território brasileiro, com o COLETIVAÇÕES, intercâmbio entre artistas brasileiros e franceses. 42

O Estúdio Bijari é um coletivo de artistas paulistas que cria projetos de arte orientados por um olhar crítico sobre as questões da realidade urbana utilizando meios para investigação da construção de significados a partir de intervenções, performances ou vídeo-projeções.44 Foi criado ainda quando os seus integrantes estudavam na FAU como um estúdio para desenvolver propostas artísticas. Mesmo vendo na arte uma liberdade de prática crítica, com o tempo se abriu a trabalhos comerciais de comunicação, design gráfico, campanhas de guerrilha, cenários e multimídia para poder se sustentar e alimentar o andamento dos trabalhos autorais, que são a força motriz do estúdio. Já participaram de várias bienais de arte, Havana, Costa Rica e no Festival de arte da serrinha. Em uma de suas intervenções em São Paulo, registrada em vídeo, eles soltaram uma galinha no Largo da Batata, reduto de cultura popular e ponto de camelôs, e depois colocaram o bicho em frente ao Shopping Iguatemi, lugar freqüentado pela elite da cidade. Queriam registrar a reação das pessoas que passam por estes 2 lugares, da afetividade à rejeição, mostrando como duas realidades tão distintas estão separadas apenas por uma avenida.” 45


Como parte da programação artística do Motomix the rockr festival, importantes pontos da cidade de Sâo Paulo (Marginal, Faria Lima x Cidade Jardim, MASP, Ibirapuera) foram ponto de recebimento de caçambas pintadas por artistas de todo o Brasil com árvores plantadas no interior. Projeto desenvolvido pelo coletivo de arte BijaRi + Tupinãodá (de Zé Carratu).

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leitura de pinheiros O bairro de Pinheiros foi selecionado por ter uma força muito grande dentro de São Paulo. O bairro é antigo, possui história e tradição, está presente no imaginário coletivo e estabelece relações afetivas com grande parte da população da cidade. Apresenta uma escala local bem enraizada e ao mesmo tempo mostra-se global à medida que se conecta por meio da rede de transportes públicos com quase todas as regiões da cidade. A região costura bairros com realidades distintas consolidando uma face plural à paisagem, desde as atividades que ali se desenrolam até a população que ali habita ou por ali transitam que se apresentam de classes sociais e idades variadas. Fatos interessantes para a idealização de um tipo de intervenção com grande escala de alcance e reverberação.

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Pinheiros é o bairro mais antigo de São Paulo, situa-se a sudoeste da cidade, ao longo do rio Pinheiros e tem por centro o Largo da Batata. Seu nome é devido às grandes extensões de pinheiros nativos (araucária brasilienses) que ali existiam. Somente a partir de 1930 deu-se início a real expansão populacional de Pinheiros devido à transferência da sociedade Hípica Paulista àquela região, a inauguração do Mercado dos Caipiras e a instalação da Cooperativa Agrícola de Cotia que se dedicava ao cultivo de batatas, marcando a região como centro de comércio atacadista. Na década de 1960, o bairro passou a abrigar a população de estudantes, funcionários e professores da então recém inaugurada Cidade Universitária da USP.


Na década de 1990, durante a prefeitura de Paulo Maluf, houve um processo de desapropriação para a ligação das avenidas Brigadeiro Faria Lima e Pedroso de Morais. Com a conclusão das obras o Largo da Batata perdeu completamente sua feição original, tornando-se alvo de muitos projetos de revitalização, ainda não implantados. Atualmente sofre grandes transformações por causa da obra da linha amarela do metrô.46

Assim, dentro deste grande bairro foram selecionados o Largo da Batata e os eixos das ruas Teodoro Sampaio e Cardeal Arcoverde como objeto de estudo e proposições.

Ao longo do desenvolvimento deste TFG foi possível acompanhar de perto a dinâmica da vida e sociabilidade da população (local ou flutuante) desta região. A partir de visitas e caminhadas foi identificado um espaço a ser trabalhado independente à delimitação institucional do bairro, baseado nas relações sociais e comerciais desenvolvidas na região, e na dinâmica de percursos das pessoas que usam aqueles espaços.

O local se apresenta como uma sobreposição de identidades e de funções comerciais, possuindo uma rede de transportes pesados aplicados numa malha viária truncada impactando de maneira agressiva o meio urbano, prejudicando a escala do pedestre e “sucateando” os espaços livres públicos.

A área em questão apresenta um alto grau de desorganização arquitetônica e um confuso tecido urbano, resultado da falta de atualização das antigas estruturas e inúmeros projetos de revitalização e reconstrução feitos pela metade.

São Paulo é um complexo construído em função das necessidades industriaismercantis, é a esfinge enigmática no país tropical, não tem praia, seu carnaval é suspeito e sua fauna circula velozmente como formigas operárias num formigueiro, ao invés de deleitar-se ao sol na areia e refrescar-se no mar. São Paulo é construção e existe por isso e a sua cultura é isso. 47

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รกrea de estudo

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perspectivas

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perspectivas

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tr창nsito

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calรงadas

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calรงadas

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mobiliรกrio urbano

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mobiliรกrio urbano

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demolição

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natureza urbana

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fachada residĂŞncias

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fachada comÊrcio e serviços

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comĂŠrcio

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serviรงos

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comĂŠrcio

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grafite

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grafite

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hidrosuprimento (tampas instaladas na calçada) luzes que sinalizam “entrada e saída de veículos”

frotagem

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piso com relevo para deficientes visuais medidas de um ponto de 么nibus tampas de garrafas de cerveja incrustadas no asfalto

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piso novo das calçadas da Teodoro Sampaio módulo do piso da calçada com o desenho de São Paulo placa de instrução para farol de pedestres

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placas que fixam os botões nos postes dos faróis de pedestres forma do “chapéu” que fica entorno das lâmpadas do farol de pedestres forma da figura verde do farol de pedestres

frotagem

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propostas para pinheiros

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Como iniciar uma transformação? Como fazer proposições de melhora dos espaços públicos em Pinheiros de maneira que a população seja envolvida e permitindo momentos de suspensão, dando margem a questionamentos e catalisando uma grande mudança na sociedade? Buscando respostas a esses questionamentos iniciam-se o processo, o projeto, as propostas de implantação de objetos artísticos nas cidades que criarão novas leituras e novas organizações perceptivas do ambiente urbano, que servirão de crítica, revelarão a beleza do cotidiano e suas possíveis transgressões. O mais curioso é que os processos de pesquisa e criação produziram projetos que algumas vezes chegam aos mesmos finais de outros artistas, sem que se tivesse o conhecimento prévio.

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camelô do relax Propõe uma arquitetura alternativa a partir da estrutura modular usada nas barracas de camelôs. O que pode ser feito com os camelôs do eixo das ruas Butantã, Teodoro Sampaio e Cardeal Arcoverde? Eles ao mesmo tempo oferecem produtos que interessam muito à população que por ali transita e atrapalham o fluir da caminhada, a visualização da rua e o local de espera para aqueles que esperam ônibus. A idéia é oferecer um produto na mesma estrutura do camelô mas que atenda diretamente uma necessidade da população. Não há espaço de espera nos pontos de ônibus sempre lotados. O “camelô do relax” soluciona uma lacuna, melhora a condição de espera criando ilhas de convivência estimulando a relação interpessoal e fazendo uma crítica à imprevisibilidade do transporte público urbano.

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vivas ilhas

Caçambas, elementos de recolhimento de entulho, tornam-se pontos de vivência itinerantes. Aparecem como proposta de complementar o espaço das calçadas promovendo no espaço de estacionamento de veículos junto às guias algumas ilhas que suportam diversas atividades e apropriações. Parte-se da forma original da caçamba podendo apresentar variações e complementos para adequar-se às atividades propostas. A idéia inicial foi a construção de “jardins suspensos”, plantando árvores para promover sombras nas calçadas e para dar um pouco de ambiência à alguns locais muito massificados pela urbanização. Em outros casos propõe-se o uso daquele módulo para promoção de relações sociais, apropriado por pessoas em seu interior, bar, “relax”, piscina, playground, complementando as atividades que se desenrolam nas calçadas ou mesmo promovendo atividades diferentes como piscinas em locais desprovidos de tal animação. 90


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infra-móvel Apresenta-se como um jogo crítico. A idéia é lançar um grupo de equipamentos móveis de infra-estrutura urbana que podem ser transportados pelos habitantes e usados à sua maneira, revelando a falta que representam em determinados lugares, o uso real e as aspirações para determinados espaços urbanos. Onde se gostaria de atravessar a rua, pegar um ônibus, sentar-se a sombra de uma árvore etc... Assim é possível tornar o habitante num interventor na cidade, aproximando-o da problemática dos espaços em questão, alterando sua maneira de fruição, tornando-o ativo e consciente de sua importância no poder de decisão e conformação da sua cidade.

ponto de ônibus inflável ou modular

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faixa pintada no ch達o ou em rolo de tecidos

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coloca-se apenas a sombra da รกrvore como um registro da sua falta naquele espaรงo

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Empenas vestidas

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As empenas cegas de São Paulo pós-cidade limpa apresentam-se nuas, escancaradas, mostrandose como suporte para novas formas de apropriação e comunicação. Os edifícios que fazem o entorno do Largo da Batata mostram-se agora sempre iluminados devido às obras do metrô, que também são realizadas a noite, projetando sombras e silhuetas de equipamentos construtivos em grande escala de forma gráfica. A idéia é utilizar estes mesmos holofotes como projetores. Através de máscaras e interessantes desenhos gráficos feitos em papel transparente colocados na fonte de luz será possível projetar elementos nas empenas, até com o uso de cor, alterando a condição de abandono daqueles espaços.


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Botões urbanos

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Valendo-se da forma das tampas do serviço de água aplicadas nas calçadas, foram criados os botões urbanos. A partir deles incita-se o imaginário de poder controlar o ritmo da cidade, da vida, decidindo quando parar e quando iniciá-lo. Pode ser interpretado também apenas como suporte lúdico, para uma brincadeira ou para imaginar a música preferida que toca naquele local. O objetivo é mudar o olhar das pessoas dirigido àquelas tampas e, conseqüentemente, aos elementos do mobiliário urbano. Além disso pode-se explorar as possibilidades que podem ser desenvolvidas com elementos desta ordem, pensando-se além. Mais lúdico, este botão propõe uma suspensão que tira o pedestre daquele ambiente, faz pensar no ritmo pessoal e no da cidade. Pode levar a momentos de reflexão interna, estimulando a percepção, e melhora na qualidade de vida, assim como a interação e o jogo com as pessoas que estão no entorno.


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Processo de execução

rua martim carrasco

rua cardeal arcoverde

rua martim carrasco 110


rua fern達o dias

rua padre carvalho 111


extravasar se expor se soltar

Extravasar A idéia parte da reflexão da massificação e falta de individualidade dos habitantes da São Paulo contemporânea. Como personificá-los, como fazer extravasar seus desejos, vontades, aspirações, sua identidade? Como mostrá-los únicos perante a sociedade sem estar sujeito a julgamentos? Todos se comportam da mesma maneira, apresentam-se com a mesma forma. Ao observar um semáforo de pedestres esta mesma reflexão volta a tona. E então, da união dessas duas variáveis foi criado o projeto “extravasar”. O homem vermelho foi então imaginado como o “ser” moldado, tolhido pela sociedade, uniformizado, massificado. Ao apertar o botão aparece ao indivíduo a oportunidade de mudar, de se libertar, de extravasar, caracterizada pela personificação do “homem verde”, livre. 112

curtir


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Processo de execução

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rua artur de azevedo x rua mourato coelho


rua artur de azevedo x rua lacerda franco

rua cardeal arcoverde x av. pedroso de morais

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rua teodoro sampaio x av. pedroso de morais

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rua eugenio de medeiros x rua paes leme 117


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considerações finais Mostra-se necessário iniciar um processo de criação e atuação alternativa em projetos para o espaço público. A arte associada ao design, à arquitetura e à etnografia mostra uma força muito grande ao enfrentar criticamente as cidades. A vanguarda vem trabalhando com as contradições dos espaços e com os desejos transgressores da população para executar projetos de situações, mesmo que efêmeros, que passem a sustentar relações sociais e tragam sentido novo à vida e aos lugares das cidades. Estes projetos podem ser breves na mensagem, mas, apresentam-se perenes no significado e na memória daqueles que a vivem! Tem que se começar por uma fase experimental, preparar pequenas ações como ponto de partida, para abrir pouco a pouco a mentalidade dos habitantes da cidade, mostrá-los capazes de atuar em seu ambiente e assim, após algum tempo, partir para ações maiores que promovam mudanças estruturais, tomando a cultura como suporte para a reinvenção da vida contemporânea. “A lot of people never use their initiative because no-one told them to.” BANKSY 48

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notas

1 www.ex-designer.com 2 In: PALLAMIN, Vera (Org.). LUDEMANN, Marina (Coord.). Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana. São Paulo: Estação liberdade, 2002. p. 14 3 In: Guerrilla Art Kit 4 Cláudio Feijó em Palestra na FAU, 2007 5 In: ALONSO, Carlos Egídio. Você vê o que eu vejo? Usuário, espaço... São Paulo: Tese de Mestrado FAU USP, 1982. p. 11 6 In: Megacidades. Grandes Reportagens OESP agosto/2008. “No limite. Contra o Caos, medidas duras” Lourival Sant’Anna e Sergio Pompeu 7 Stevenson. Pavilhão do Japão, Bienal de Arquitetura, Veneza 2006 8 In: JACQUES, Paola Berenstein (org.) Apologia à deriva: escritos situacionistas sobre a cidade / Internacional Situacionista. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. p 40 9 In: JACQUES, Paola Berenstein (org.) Apologia à deriva: escritos situacionistas sobre a cidade / Internacional Situacionista. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. p. 13 10 In: JACQUES, Paola Berenstein (org.) Apologia à deriva: escritos situacionistas sobre a cidade / Internacional Situacionista. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. p. 22 11 In: JACQUES, Paola Berenstein (org.) Apologia à deriva: escritos situacionistas sobre a cidade / Internacional Situacionista. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. p. 23 12 In: CANEVACCI, Massimo. A cidade polifônica: ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. 2ª edição. São Paulo, Studio Nobel, 2004. p. 10 13 In: CANEVACCI, Massimo. A cidade polifônica: ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. 2ª edição. São Paulo, Studio Nobel, 2004. p. 140

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14 In: CANEVACCI, Massimo. A cidade polifônica: ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. 2ª edição. São Paulo, Studio Nobel, 2004. p. 14 15 In: BASSANI, Jorge. As linguagens Artísticas e a Cidade. Dissertação de Mestrado (orientadora Profa. Dra. Odiléa Setti Toscano) FAUUSP, 1999. p. 51 16 In: BASSANI, Jorge. As linguagens Artísticas e a Cidade. Dissertação de Mestrado (orientadora Profa. Dra. Odiléa Setti Toscano) FAUUSP, 1999. p. 46 Baudelaire. O Spleen de Paris, p. 16 17 In: PEIXOTO, Nelson Brissac. Intervenções urbanas – Arte/ Cidade. Ed. Senac, 2002. p. 18 18 In: PALLAMIN, Vera (Org.). LUDEMANN, Marina (Coord.). Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana. São Paulo: Estação liberdade, 2002. p. 74 e 87 19 In: PALLAMIN, Vera (Org.). LUDEMANN, Marina (Coord.). Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana. São Paulo: Estação liberdade, 2002. p. 87 20 Lygia Clark, 1968, p. 95 21 BENE FONTELES, 1986, Funarte p. 100 22 In: FERREIRA, Gloria. Arte como questão: Anos 1970. Instituto Tomie Ohtake, 2008. 23 In: PEIXOTO, Nelson Brissac. Intervenções urbanas – Arte/ Cidade. Ed. Senac, 2002. p19 e 20 24 In: PALLAMIN, Vera (Org.). LUDEMANN, Marina (Coord.). Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana. São Paulo: Estação liberdade, 2002. p. 80 25 In: PALLAMIN, Vera (Org.). LUDEMANN, Marina (Coord.). Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana. São Paulo: Estação liberdade, 2002. p. 80 26 In: PALLAMIN, Vera (Org.). LUDEMANN, Marina (Coord.). Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana. São Paulo: Estação liberdade, 2002. p. 34 27 In: PEIXOTO, Nelson Brissac. Intervenções urbanas – Arte/ Cidade. Ed. Senac, 2002. p. 28 28 Vida Simples abril/2008, edição 65 p.51 29 In: MANCO, Tristan. Street Logos. United Kingdom, Thames&Hudson LTD, 2004. 30 Vida Simples abril/2008, edição 65 p. 49 31 Vida Simples abril/2008, edição 65 p.51

32 MANCO, Tristan. Street Logos. United Kingdom, Thames&Hudson LTD, 2004. 33 Vida Simples abril/2008, edição 65 p. 49 34 Vida Simples abril/2008, edição 65 35 REVISTA DA FOLHA. 19/10/2008. Ano 17, edição n 839 36 REVISTA DA FOLHA. 19/10/2008. Ano 17, edição n 839 37 In: 7TH FLOOR: Share your vision for the future. Anno2, n 6. 2007, IT. 38 In: Creatività diffusa e sostenibilià. Innovazione sociale, nuovi modi di essere e di fare, nuove domande di strumenti, servizi Ed infrastrutture. Ezio Manzini. http://www.sustainable-everyday.net/ 39 In: “SITUARCHITETTURA” MOUSSE: Free contemporary art magazine. Issue 9, summer 2007, IT. Instant Urbanism p. 81 40 http://www.exyzt.net/ 41 In: 7TH FLOOR: Share your vision for the future. Anno2, n 6. 2007, IT. “Fuori Salone: Esterni” PROGETTO PUBBLICO. http://www.esterni.org/ita/home/ 42 In: PALLAMIN, Vera (Org.). LUDEMANN, Marina (Coord.). Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana. São Paulo: Estação liberdade, 2002. p. 109 43 www.corocoletivo.org/#movimentos 44 www.bijari.com.br/ 45 Vida Simples abril/2008, edição 65 p. 52 46 www.guiadepinheiros.com.br 47 In: BASSANI, Jorge. As linguagens Artísticas e a Cidade. Dissertação de Mestrado (orientadora Profa. Dra. Odiléa Setti Toscano) FAUUSP, 1999. p. 122 48 BANKSY. Wall and Piece. Century. Germany, 2006. pg. 21


créditos das imagens

Rita Branco p. 24 Livros BANKSY. Wall and Piece. Century. Germany, 2006. p. 20c, 20d CHRISTO&JEANNE-CLAUDE. Wrapped Reichstag, Berlin, 1971-1995. The Project Book, Benedikt Taschen, 1995. p. 16a CUMBERLIDGE, Clare. MUSGRAVE, Lucy. Design and Landscape for people: New approaches to renewal. Thames &Hudson, 2007. p. 32/33 DISERENS, Corinne. Gordon Matta-Clark. New York: Phaidon; 2006. p. 16c FERREIRA, Gloria. Arte como questão: Anos 1970. Instituto Tomie Ohtake, 2008. p. 15b FUNARTE. Instituto nacinal de Artes Plásticas. Lygia Clark e Hélio Oiticica; Sala especial do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas. Apres. de Luciano Figueiredo. Rio de Janeiro, 1986/1987. p. 15a In Girum Imus Nocte ET Consumimur igni – The Situationist international (1957-1972). JRP/ Ringier. Zurich, 2006. p. 10/11, 12 Italy’s Most wanted - Graffitti & Urban Environment. Issue 5. Year 2008. p. 24a, 24b KWON, Miwon. One place after another: Site specific art and locational identity. First MIT Press paperback edition, 2004. p.14a, 14b, 14c, 16b

MANCO, Tristan. Street Logos. United Kingdom, Thames&Hudson LTD, 2004. p. 21b OLIVEIRA, Nicolas de. OXLEY, Nicola. PETRY, Michael. Installations, l’art en situation. Thames &Hudson, Paris, 1997. p. 25b PALLAMIN, Vera (Org.). LUDEMANN, Marina (Coord.). Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana. São Paulo: Estação liberdade, 2002. p.14d PEIXOTO, Nelson Brissac. Intervenções urbanas – Arte/ Cidade. Ed. Senac, 2002. p.17a, 17b, 17c SMITH, Keri. The Guerrilla art kit. Princeton Architectural Press, New York, 2007. p. 30/31 Revistas MEGACIDADES: Grandes reportagens. OESP, Agosto 2008. p. 44/45 REVISTA DA FOLHA. 27/07/2008. Ano 17, edição n 827 p. 21a VIDA SIMPLES: Para quem quer viver mais e melhor. Abril 2008, edição n 65. p. 20a, 20b, 21c, 28a, 28b Jornais METRO SP. 26/06/2008 p. 45 MOUSSE: Free contemporary art magazine. Issue 9, summer 2007, IT. p. 35

AS IMAGENS QUE NÃO FORAM CITADAS ACIMA SÃO DE MINHA AUTORIA

Sites www.6emeia.com p. 21d www.woostercollective.com p.26b www.varini.org p.26a www.guixe.com p.26, 26d www.fitacola.com p. 29 www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/mostrasesc08/ playme.cfm p. 29c, 29d, 29e, 29f www.sustainable-everyday.net/cases p. 34 www.bijari.com.br p. 42/43 Cartografia GSPSCAN. Mapa bitmap de quadras, logradouros e curvas de nível. São Paulo. Fonte: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Seção de Produção de Bases Digitais – CESAD. Fonte básica: GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Secretaria de Economia e Planejamento. Sistema Cartográfico Metropolitano da Grande São Paulo. São Paulo, [1974]. Escala 1:10.000 p. 47, 82/83 Foto aérea do Município de São Paulo ano 2000. Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo/ Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano/ Departamento de Regularização de Parcelamento do Solo. Ano 2000, 1: 6.000 / 1: 5.000 (Escala de vôo) p. 46 Museus/ exposições Galeria Vermelho nov/2007 p. 2/3 Imagens vetorizadas Catálogo NEUBAUWELT p. 84 a 109

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Agradeço Clice e Catharina que me encantaram com a visão aberta que possuem a respeito das propostas contemporâneas para o espaço urbano. Devo reconhecer o apoio, as idéias, os conselhos e, principalmente, a oportunidade de prática e aprendizado gráfico neste ano de Estúdio RO. Obrigada Ricardo, Monica, Mari e Nazareth! Fico muito feliz em ter contado com meus amigos Hena, Ana, Isik, Filippo, Rafa, Piccina, Raquel, Victor, Dri, Rodrigo e Maria que me ajudaram na execução deste trabalho, enriquecendo a reflexão, a formulação das idéias e na formatação de material. Sou muito grata à minha família que incentivou minhas escolhas e, especialmente neste ano de TFG que, mesmo sem saber ao certo o que eu produzia, me estimulou em todos os momentos.

desenhos em carvão na parede de entrada do Arsenale Bienal de Arte de Veneza, 2007




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