FalaAitake2

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UGA PORTUGUESE PROGRAM

fala aí

ISSUE NO. 04 ISSN 2689-1492 (PRINT) ISSN 2689-1506 (ONLINE)


EDITORIAL TEAM Editor-in-chief Juliano Saccomani Managing editor Jean Costa English-language Editors Jamie Sauerbier Annie Whatley Portuguese-language Editors Lais Cruz Teresa Espallargas Alencar Guth Rafael Silva Designers Elizabeth Goggin Nina Howard Final Reviewer Viviane Klen-Alves Romance Languages Dept. Head Dr. Stacey Casado Portuguese Program Supervisor Dr. Andrea Villa-Ruiz

Associate Dean Martin Kagel met with Juliano Saccomani, our editor-in-chief, in September of 2019. Dean Kagel requested a meeting with Juliano after he saw the Special "Language Stories in Liverpool" issue. Dean Kagel has commended the initiative, the project, and the Fala AĂ­ team. He also kept a copy of the special issue for himself. ParabĂŠns!

A special thank you to our sponsors

Cover: Fortaleza, CE, Brazil. Picture by Jamie Sauerbier.


LETTER FROM THE EDITOR

Dear Reader, I am very happy to present to you the fourth issue of Fala Aí, the bilingual magazine of the Portuguese Program at the University of Georgia. After four years of great reviews and amazing feedback, we are very happy to share yet one more issue with you. I am also very happy to see this initiative gain momentum, and reach wider audiences. But I am not the only one excited to be on this project. Below you will find commentaries from the team members who have helped with this issue: Essa revista traz experiências multiculturais que colocam em contato duas culturas através da leitura. Espero que o leitor leve consigo esse contato multilingual a fim de aprender coisas novas sobre vários assuntos e que consiga se sentir inspirado a abrir o coração e a mente para uma nova parte do mundo. - Jamie Sauerbier

Por meio de relatos, poemas e histórias de continentes diferentes, a quarta edição da Fala Aí traz ao leitor a oportunidade ímpar de (re)pensar sua própria identidade. Durante a leitura, conexões vão se estabelecendo e o diálogo com as línguas, linguagens e culturas abre espaço para novos e surpreendentes significados! Enjoy! - Viviane Klen-Alves

Samba, carnaval e feijoada... mas também drag queens, fake news, reality shows, podcasts, memes, literatura, crítica e muito mais. Como assignment editor tentei buscar variedades ditas por quem sabe do que escreve. Leia aí! - Alencar Guth

Poder trabalhar em paralelo com minhas duas carreiras, jornalismo e literatura, é sempre um prazer enorme pra mim. Mas, mais prazeroso ainda é matar saudade e aprender sobre o Brasil com cada texto desta edição da Fala Aí. Obrigada e boa leitura! - Teresa Espallargas

Enjoy your reading

ISSN 2689-1506 (online) ISSN 2689-1492 (print)

OBRIGADO, Juliano Saccomani


TABLE OF CONTENTS Mídia e Entretenimento Podcasts: as ondas de retorno da rádio ..........................................................................................1-2 O meme nosso de cada dia.................................................................................................................3 Fake news no Brasil..........................................................................................................................4-5 Nascemos nus e o resto é drag........................................................................................................6-7 Casos de cozinha.............................................................................................................................8-9 África: o Continente, o Mito e a Lenda..........................................................................................10-11

Literatura Forja de José Saramago....................................................................................................................12 A cada boca, uma sopa.....................................................................................................................13 O reflexo.............................................................................................................................................14 Tag: the start-up that changed the book market in Brazil.............................................................15-16 hiatos do amor...................................................................................................................................17 bendito...............................................................................................................................................18

Viagem

Viajar sem sair de casa.................................................................................................................19-20 Visitando o Brasil...........................................................................................................................21-22 Snake Island.......................................................................................................................................23 Carnival in the jungle and blue coke..............................................................................................24-25 Experiences abroad in North America................................................................................................26

Society Senhoras Confeiteiras...................................................................................................................27-28 Atual situação do Brasil......................................................................................................................29 What are the minimum labor rights in Brazil?...............................................................................30-31 Diferentes Perspectivas................................................................................................................32-33

Best Practices Português na Stentson University................................................................................................34-36 A experiência da leitura em uma escola brasileira............................................................................37 Uma proposta de dar medo..........................................................................................................38-39 From Brazil to the US.........................................................................................................................40 Dos EUA para o Brasil.......................................................................................................................41 The greatest Brazilian albums from the 60s.................................................................................42-43 Atentado a um revolucionário............................................................................................................44 Cavalo Mangalarga............................................................................................................................45

Reflexões

Os Brasis no nordeste americano................................................................................................46-47 Fotografia como autoconhecimento...................................................................................................48 Existe uma família tradicional brasileira?.....................................................................................49-50

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indicates extra


fala aí - 01

Mídia e Entretenimento

Podcasts: As Ondas de Retorno da Rádio Por João Pedro Amaral Portuguese Teaching Assistant at Towson University Master in Literary Theory

rádio veicular qualquer notícia ou informação factual.

ᅠᅠ ᅠᅠA pesquisadora Marta Pacheco, no texto A rádio na Internet: Do ‘on air’ para o ‘online’ - Estudo de caso do Serviço Público e o caminho para o futuro, afirma que essa repaginação da rádio permitiu não apenas mudanças na forma e no conteúdo dos programas, mas também no comportamento do ouvinte. Agora, a rádio não está restrita ao espaço doméstico. Podemos escutar rádio em

ᅠ ᅠQuando

meios de transportes públicos, em a televisão surgiu, uma

maldição foi lançada sobre a rádio: ela estaria fadada ao esquecimento. Depois da TV, vieram computadores, laptops, videogames, a popularização da internet, MP3,

DVD,

Blu-ray,

cinema

3D,

smartphones, música por streaming, entre

carros, no celular e até praticando exercícios.

ᅠ ᅠNo

século XXI, a partir dessa

metamorfose midiática, surgiram os podcasts.

ᅠ ᅠEles são basicamente uma versão

digital de programas de rádio. Pode-se

outros adventos. Só não veio a maldição.

ouvir podcasts via streaming ou fazendo

O vídeo e outras mídias não mataram as

download em diferentes plataformas e

estrelas da rádio.

escutá-los quando e onde quiser. Os

ᅠ ᅠA

se

podcasts são veiculados em formato

adaptando a todas essas inovações. Além

episódico e abordam os mais diversos

do mais, arrisco dizer que nenhuma delas

temas,

a superou em sua principal idiossincrasia:

entretenimento, filosofia, literatura e

a instantaneidade da informação. Por

até assuntos específicos, como coleções

mais que a televisão, por exemplo, tenha

de

programas ao vivo, é muito mais fácil,

grande trunfo é justamente permitir

prático e rápido para uma emissora de

uma autonomia ao ouvinte.

rádio,

por

seu

lado,

foi

como

objetos

esportes,

inusitados.

política,

Assim,

seu


02 - fala aí

Mídia e Entretenimento

ᅠ ᅠÉ interessante perceber que o podcast

censura

não diminui (ou “rouba”) os ouvintes de

fluxo

rádio. Pelo contrário, o contato com essa

funciona

plataforma audiofônica pode até angariar

informações

ouvintes para a rádio. Muitos millenials,

sentido, os podcasts, com sua forma

nascidos na era digital, podem começar

organizada

ouvindo

representam um ótimo recurso para os

podcasts

posteriormente,

e

se

ouvintes

tornarem, de

rádio.

Ambos possuem o áudio como o recurso principal, porém, o podcast rompe as barreiras

do

promovendo

tempo uma

e

do

liberdade

espaço, para

o

funcionava de

bloqueando

informações, com

uma

hoje

e

de

ela

enxurrada

irrelevantes. fácil

o de

Nesse consulta,

ouvintes se informarem sobre o tema que desejarem.

ᅠ ᅠO

fenômeno dos podcasts é um

retorno, na era digital, do princípio mais

simples

(e

talvez

o

mais

usuário escolher o que ouvir, quando

primitivo) de aquisição de informação

ouvir e onde ouvir. Já a rádio, embora

que a rádio consagrou: a atenção

tenha ultrapassado a barreira do espaço –

através da habilidade de escutar. Não

vide as inúmeras rádios com plataformas

vão adiantar maldições até enten-

na web – ainda está presa ao tempo.

dermos que a rádio tem o corpo

Entretanto, na rádio o ouvinte dispõe da

fechado, pois meios de comunicação

possibilidade de contato direto com o

não

programa,

complementam.

além

da

mencionada

instantaneidade.

ᅠ ᅠOutra

característica fascinante do

podcast é a sua facilidade de produção e divulgação. Com isso, muitas pessoas ou comunidades subalternas podem ter suas vozes amplificadas. Além do mais, os podcasts permitem trazer à baila temas pouco discutidos nas mídias tradicionais. Por

outro

lado,

até

os

meios

de

comunicação hegemônicos não ficaram para trás, e a maioria conta com um ou mais

formatos.

De

certa

forma,

os

podcasts repopularizaram a rádio e seus fundamentos.

ᅠ ᅠNo

livro 21 lições para o século 21,

Yuval Harari afirma que, no passado, a

ᅠᅠ

competem

entre

si,

mas

se


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Mídia e Entretenimento

O meme nosso de cada dia Por Alencar Guth Fulbright Portuguese Teaching Assistant

ᅠ ᅠQuem nunca pensou em olhar o celular

por dois minutos e perdeu uma hora inteira vendo memes no Instagram? Ou estava interagindo com alguém pessoalmente e veio à cabeça aquele GIF perfeito para a situação? Os memes são uma nova modalidade de texto que vem tomando espaço no nosso dia a dia – e que, talvez, não sejam tão novos assim. De acordo com o Priberam, dicionário online de Língua Portuguesa, um meme é uma “1. Imagem, informação ou ideia que se espalha rapidamente através da internet, correspondendo geralmente à reutilização ou alteração humorística ou satírica de uma imagem. 2. Ideia ou comportamento que passa de uma geração para outra, geralmente por imitação.”. Entretanto, ainda são poucos os dicionários que definem esse verbete, nem mesmo o Vocabulário Oficial da Língua Portuguesa – VOLP reconhece o termo. Isso não quer dizer, contudo, que esse fenômeno de linguagem não esteja na boca do povo. GIFs animados, fotos compartilhadas, páginas e grupos de memes e stickers do Whatsapp estão por toda parte. Esses elementos já estão escapando do aparentemente despretensioso mundo das redes sociais e servindo de estratégia de comunicação para ambiciosas empresas e órgãos públicos, o que afeta até mesmo quem não é tão aficionado ao uso da internet. Com tanta informação por todas as partes, é difícil estar imune aos memes. Diversas empresas já estão utilizando esse tipo de texto para chamar a atenção dos clientes com bom humor. A Netflix, por

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exemplo, contratou pessoas que se tornaram famosas (ou voltaram a ser famosas) por meio dos memes, como Inês Brasil e Gretchen (a rainha dos memes no Brasil), para estrelarem as campanhas promocionais de novas temporadas das suas séries. Outro caso é o da Prefeitura de Curitiba, que usa sua página do Facebook, o mobiliário urbano da cidade e as televisões dos ônibus para publicar seus comunicados de maneira bem-humorada. Porém, mesmo que você ainda não se sinta atingido pelos memes virtuais, pode me ajudar a pensar se aquela piada interna entre amigos, aquela frase que repetimos para uma pessoa porque nos chamou a atenção em algum momento interessante ou até mesmo algum apelido exclusivo usado entre amigos para demonstrar carinho não seriam memes também. O conceito de meme pode fugir do mundo virtual e ser entendido como esses momentos satíricos que usamos no dia a dia. De fato, como uma forma de interação humana, os memes são elementos importantes de interação social e de publicidade e propaganda. Atualmente, com a multimodalidade que atingiram, é natural que apareçam por toda a parte e que recebam um nome diferente. Mas, no fundo, os memes atuais não passam de uma manifestação de um comportamento que nos acompanha há muito tempo.

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Gretchen, a rainha dos memes no Brasil Foto: Reprodução/Instagram


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Mídia e Entretenimento

Fake news no Brasil: a desinformação como ferramenta política Uma drag queen vai estampar as cédulas de R$50 no Brasil? As escolas brasileiras distribuem material que estimula a homossexualidade e a pedofilia? Crianças acima de cinco anos de idade passam a ser propriedade do Estado?

Por Vinícius Torresan Jornalista e mestre em Comunicação e Política pela Universidade Federal do Paraná

ᅠ ᅠPor mais ilógicas que essas perguntas possam ᅠ ᅠ soar, elas ganharam centralidade

no debate político brasileiro nos últimos anos. As fake news se alastraram de forma implacável e se tornaram um grande problema para a democracia brasileira. Afinal, se não há um entendimento mínimo sobre o que é real, como chegar a um consenso sobre o que é melhor para o país?

ᅠ ᅠPesquisas apontam que o auge da circulação de notícias deliberadamente falsas no Brasil se deu durante a campanha presidencial de 2018, que garantiu a vitória

de Jair Bolsonaro. As As redes foram tomadas por fotos e vídeos manipulados, teorias da conspiração e discurso de ódio, desafiando as instituições brasileiras a desenvolverem mecanismos de combate à desinformação.

ᅠ ᅠEsse cenário se assemelha a outros episódios políticos relevantes em escala mundial. Comprovadamente, a eleição de Donald Trump e o referendo sobre a

saída do Reino Unido da União Europeia – o Brexit – são exemplos de como as notícias falsas se tornam potentes ferramentas de disputa política.

ᅠ ᅠO aplicativo de troca de mensagens é um verdadeiro fenômeno no país. De

acordo com a pesquisa Ibope Inteligência de 2018, 91% dos brasileiros conectados à internet usam o WhatsApp. Com o tempo, a ferramenta se mostrou compatível A população LGBTQI+ é um dos principais alvos das fake news no Brasil. Em 2018, esta montagem com o rosto da drag queen Pabllo Vittar na nota de R$50 circulou amplamente nas redes sociais acompanhada de texto “denunciando” um projeto de lei que determinava o uso da imagem da artista nas cédulas. Fonte: UOL.


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Mídia e Entretenimento

com a lógica da desinformação, uma vez que seu caráter privativo constrange e dificulta o êxito de iniciativas de combate às fake news.

ᅠ ᅠO WhatsApp vem desenvolvendomecanismos para minimizar o impacto das notícias falsas no país. A empresa comunicou que, entre outubro de 2018 e

setembro de 2018, extinguiu 1,5 milhão de contas cujo comportamento indicava o uso de robôs para disparo em massa de fake news e discurso de ódio. Institucionalmente, outras medidas têm sido tomadas, como a instalação de uma comissão

no

Congresso

desinformação no Brasil.

Nacional

ᅠᅠ

dedicada

a

investigar

o

mercado

Declaração atribuída a Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), que disputou o segundo turno das eleições presidenciais de 2018 contra Jair Bolsonaro. A Justiça Eleitoral determinou a retirada da imagem das redes, mas ela foi disseminada descontroladamen-te. Uma das páginas que a publicaram chegou a registrar 148 mil compartilhamentos. Fonte: Folha de São Paulo.

ᅠ ᅠPara além do debate sobre o que é ou não verdade, o boom das fake news

no Brasil indica o surgimento de um ecossistema comunicativo desafiador, não mais marcado pela hegemonia incontestável dos grandes grupos de comunicação e da imprensa. A disputa de narrativas políticas se dá em um ambiente complexo, em que produtores de conteúdo sem reputação conseguem uma visibilidade e influência política inéditas.

ᅠ ᅠO esforço de combate à desinformação dependerá do trabalho conjunto

entre governos, Poder Público e imprensa, mas é urgente que ele esteja no topo da lista de prioridades das grandes plataformas de comunicação, cada vez mais demandadas para responder satisfatoriamente às dimensões sóciopolíticas que ganharam no Brasil.

da


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Mídia e Entretenimento

Nascemos nus e o resto é drag: a percepção de espectadores brasileiros do programa RuPaul’s Drag Race. Por: Levino Bertochi Junior

Mestre em Comportamento do Consumidor

ᅠ ᅠO termo “drag” se originou no cenário

teatral e indicava um homem ou mulher que fazia uso de roupas designadas ao sexo oposto. Contudo, a prática dessa performance artística não ficou contida aos palcos e, durante anos, bares e boates serviram como espaço para a expressão desses artistas. A arte drag não obteve grande destaque na mídia até a década de 1990. Com o documentário Paris is Burning (1990) e outros filmes que retratavam drag queens em papéis de destaque, como Priscilla Queen of the Desert (1994), esse segmento artístico começou a ser revisitado. Ainda na década de 1990, a drag queen RuPaul irrompe no cenário musical com o single Supermodel (You better Work!), que alcançou o topo das paradas de 1993. RuPaul é largamente creditado por levar a cultura drag ao grande público, e esse título é associado ao seu programa RuPaul’s Drag Race. Inspirado em programas como Project Runway, American Idol e America’s Next Top Model, o reality show possui como premissa que suas competidoras (todas drag queens) se submetam a desafios das mais variadas naturezas e se apresentem a um corpo de jurados, a fim de determinar, ao final de cada temporada, qual é a “a próxima superestrela drag queen americana”. RuPaul recebe o auxílio crítico de Michelle Visage (cantora), Carson Kresley (design) e Ross Mathews (comediante), além de jurados convidados a cada episódio. No ar desde 2009, o programa possui uma base de fãs bem estruturada e desfruta de índices de audiência crescente.

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ᅠᅠ Foto: Facebook/Divulgação


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Mídia e Entretenimento

Além disso, o reality show se destaca no quesito premiações. Com mais de 30 indicações e 12 vitórias no EMMY Awards, o programa é o primeiro reality show LGBTQ+ a alcançar tamanho sucesso. A visibilidade que o reality proporciona para a arte drag permitiu que diversos artistas brasileiros impulsionassem suas carreias ou até mesmo iniciassem seus trabalhos como drag queens. O exemplo mais notável é o da cantora Pabllo Vittar que, por influência do programa, começou a se montar e se tornou uma das drags mais influentes no mundo. Pabllo passou a ser a drag queen mais seguida do Instagram e foi indicada a prêmios importantes como o Grammy Latino. Suas músicas são uma mistura de pop e ritmos brasileiros como o forró e o tecnobrega. Algumas das músicas de maior sucesso da artista são “K.O.”, “Sua Cara” e “Buzina”. Em diversas entrevistas, as participantes, os jurados e o próprio anfitrião do programa comentam sobre o Brasil e seus fãs brasileiros. Parte do sucesso de RuPaul’s Drag Race no Brasil é atribuído a questões sociais que o programa reverbera. Em minha pesquisa de mestrado, entrevistei alguns espectadores brasileiros do programa e pude perceber que essas questões atraem não somente o público homossexual, mas também o heterossexual, que as percebem como um meio de adquirir conhecimento e desenvolver habilidades que geram um sentimento de pertencimento. De modo específico, nota-se que cada grupo percebe o programa de modo distinto. Homens homossexuais utilizam os elementos presentes no programa como uma porta para busca de inspiração e/ou aumento da autoestima e da confiança. O principal atributo que desperta esses sentimentos são as participantes da atração. Mulheres homossexuais partilham das percepções do grupo mencionado anteriormente, contudo, utilizam o processo de transformação realizado pelas

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participantes como uma maneira de expandir seus conhecimentos sobre técnicas de maquiagem e tendências de moda. Homens heterossexuais destacam as histórias de vida que são compartilhadas pelas participantes. Tempest Dujour (sétima temporada) compartilhou toda sua experiência em conseguir se aceitar como homossexual e que, por causa de sua família, teve de passar por uma terapia de conversão para “se tornar heterossexual”. Valentina (nona temporada) comentou sobre seus problemas com um distúrbio alimentar e as dificuldades que teve de superá-lo. Essas conversações são, para homens heterossexuais, o que o programa tem de melhor, pois por meio desses testemunhos, esse grupo consegue buscar inspiração e aumentar a autoestima. Para mulheres heterossexuais, o programa é uma grande fonte de entretenimento, logo, conseguir se divertir é a principal razão para que integrantes desse grupo assistam o reality. A performance artística associada à arte drag, verificada principalmente durante o processo de eliminação, é descrita como responsável pelo sentimento de diversão. Muito do descrito pelas entrevistadas pode ser comparado a manifestações de euforia retratadas em partidas de futebol. De modo geral, o que se percebe é que o programa intriga o espectador brasileiro, incitando-o a buscar informações e a repensar pré-conceitos e pré-concepções. Esse processo faz com que seu público se divirta e consiga entender mais sobre temas como a diversidade, respeito social e que, assim como RuPaul diz, “nascemos nus e o resto é drag”.

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, y a t n a h S ! y a t s u o y


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Mídia e Entretenimento

“Casos de Cozinha”:

a apelação da TV brasileira chega aos reality shows culinários Por: Daniel Fernando Pigatto e João Vitor de Carvalho Fontes

ᅠ ᅠO gênero de reality shows chegou ao

Brasil no início dos anos 2000 com alguns nomes importantes como “No Limite” (o primeiro reality show produzido no Brasil), “Casa dos Artistas” e “Big Brother Brasil”. À época, o acesso à internet ainda era privilégio para poucos e os índices de audiência das emissoras de TV eram ainda muito altos, o que, somado à curiosidade inerente do ser humano pela vida alheia, despertou o interesse do brasileiro. O sucesso desses programas foi muito grande nas primeiras edições, sendo o BBB um dos mais duradouros, com produções anuais desde então e frequentes recordes de faturamento. Com o passar do tempo, naturalmente o interesse por realities de confinamento passou a diminuir. Começaram a surgir os reality shows de moda, reformas de casas e veículos, conflitos familiares (como os programas apresentados por Márcia Goldschmidt e, atualmente, o “Casos de Família”) e game shows (como o “Jogo do Milhão”, posteriormente renomeado para “Show do Milhão”). Nos anos mais recentes, abriu-se espaço para a culinária e a confeitaria, sendo os principais nomes o “MasterChef Brasil” (produzido pela TV Bandeirantes em parceria com o canal pago Discovery Home & Health), a “Batalha dos Confeiteiros” (produzido pela Record TV), o “Top Chef” (apresentado como

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quadro do tradicional programa “Mais Você”, da TV Globo) e o “Bake Off Brasil” (produzido pelo SBT em parceria também com a Discovery Home & Health). Porém, mesmo tão diferentes de seus precursores, uma característica em comum os aproxima: a necessidade de um tom apelativo para atrair audiência. O “MasterChef Brasil” é o reality show mais comentado do mundo no Twitter, marca comemorada pela produção do programa, que esgota o formato ano após ano com duas edições. Um programa exibido quase que o ano inteiro precisa inovar para chamar a atenção de seu público e não cair na mesmice. Apesar de haver uma clara preocupação da produção em trazer novidades de qualidade, para o brasileiro parece que só isso não é suficiente. Fazendo uma análise das

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Mídia e Entretenimento

temporadas mais recentes da adaptação brasileira do programa, percebem-se alguns comentários mais ácidos, provas que induzem ao aumento da competitividade e das intrigas entre os participantes, situações que beneficiam uns em detrimento de outros e os discursos de “amor pela comida” e “amor pela cozinha”, tentando incluir tal característica como um “ingrediente” essencial para qualquer prato ser bem sucedido. Por outro lado, o “Bake Off Brasil”, baseado no impecável formato britânico “The Great British Bake Off”, não só começou fraco na seleção e nos objetivos inerentes do reality show, que busca o melhor confeiteiro amador do Brasil, como abraçou e assumiu a apelação como elemento essencial de suas edições. Os participantes, salvo raríssimas exceções, têm perfis muito limitados e não conseguem realizar sequer o básico, derrubando a exigência a patamares vergonhosos. Não obstante, a produção

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parece apreciar a interação e (pior!) as intrigas entre os participantes, dando palanque para um show de terror. Quem conhece o “The Great British Bake Off” sabe que o programa é objetivo e agradável de assistir, com nível técnico extremamente alto e uma edição de áudio e vídeo que servem de referência para produtores de todo o mundo. Sua duração semanal de uma hora repleta de talentos de alta qualidade faz com que a audiência queira sempre mais. Já o seu “irmão brasileiro”, além de não mostrar nem 20% da qualidade técnica do britânico, ainda apresenta edição de baixa qualidade em intermináveis 3 horas semanais.

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ᅠFica o questionamento:

o brasileiro só consome produtos para ver o “circo pegar fogo” ou as emissoras de TV não conseguem sair da fórmula que sempre deu certo no passado?

Acesse o Cafezíneos, blog de Daniel Fernando Pigatto: https://cafezineos.danielpigatto.com

Foto: Carlos Reinis/Band


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Mídia e Entretenimento

África:

O Continente, o Mito e a Lenda * Como Ser um Criativo Interessado na África ou nos Fenômenos Relacionados à África Por: Oisakhose Ehekhaye Aghomo

ᅠ ᅠA África, como continente, tem sido mal compreendida, diminuída e vilificada por séculos. Historicamente, o continente "escuro", como foi referido no passado, foi muito discutido; sua narrativa foi criada pelos estudiosos Árabes e Europeus que encontraram relatos das outras pessoas ou se referiram a eles mesmos. A história é muitas vezes escrita pelo conquistador e, pelo fato de que muitas (nem todas) comunidades africanas supostamente não tinham textos escritos, a triste verdade é que as narrativas sobre a região mostravam de uma perspectiva que excluía os reais Africanos. Com o tempo, seria de esperar que essa perspectiva mudasse, mas não mudou. Eu observo o trabalho jornalístico e de mídia criado sobre a África e as comunidades africanas, muitos desses trabalhos ganham prêmios; mas são criados com frequência com lentes preconceituosas e desconhecidas, e isso me deixa triste. Meu objetivo aqui não é desencorajar as pessoas de escrever ou criar trabalhos sobre a África e as sociedades africanas se elas não são da África ou fizerem parte da diáspora africana. No entanto, há várias coisas a serem consideradas ao criar qualquer tipo de trabalho criativo ou informativo sobre a região; o trabalho deve ser inclusivo, não explorador, em sintonia com a história e as tradições culturais da região, e livre de qualquer racismo ou tendências salvadoristas.

ᅠ ᅠPrimeiro, a inclusão não é difícil nem é

prejudicial ao processo criativo. Contrate africanos, use africanos para referência, converse com africanos; acredite ou não, os Africanos também criam coisas sobre si mesmos através de todas as formas de mídia; seria estúpido não utilizar os recursos que eles podem fornecer, sejam informações, opiniões ou criatividade. Até eu, uma Africana, sempre me lembro de verificar minhas fontes; eu tento a ter pelo menos três fontes de uma pessoa do país que estou estudando. Agora, por exemplo, eu estou estudando sobre as políticas na Moçambique, um país falante de língua Portuguesa, e eu estou usando notícias publicadas em mídias online como “Club of Mozambique”, e eu ouço a podcasts e assisto os vídeos das jornalistas em Moçambique. As melhores pessoas para ajudar a entender, criar ou traduzir um fenômeno sobre a região de estudo são as pessoas que moram lá. No entanto, ser inclusivo não significa se negligenciar; é preciso sempre dar o respeito, ganhos monetários e crédito intelectual que eles merecem. Isso não só é útil para o criativo, como também dá visibilidade para um grande grupo de pessoas que são negligenciadas.

* O título do texto faz referência à frase em inglês: “the man, the myth, the legend”.


fala aí - 11

Mídia e Entretenimento

ᅠ ᅠSegundo, a exploração é banida da mídia.

É um grande problema; várias fontes de mídia online, por exemplo, destacaram desnecessariamente o conteúdo gráfico e inflamatório após o tumulto em Ferguson e um fotojornalista/fotógrafo tirando fotos de crianças sem receber o consentimento deles ou de seus pais. Nada é mais irritante do que ver a exploração através da mídia; O problema é que a África e os africanos foram explorados e manipulados de várias maneiras, talvez, desde que o homem andou de pé. Eles foram explorados por recursos, mão-de-obra, arte e artefatos culturais, e como fonte de "inspiração criativa" (estou olhando para você, Picasso). Não use seu trabalho como um mecanismo opressivo para desfilar essas pessoas e seus problemas ou obter inspiração lucrativa em suas vidas, sonhos e traumas. Todo artista gostaria de ganhar dinheiro ou fama por sua arte, mas essa noção sempre deve ser separada da criação da própria arte, da exploração de uma cultura, terra ou povo pois obter lucros dessa forma é antiética. Terceiro, qualquer bom criativo que se inspire em uma região, seja para uma reportagem, filme ou fotografia, deve estar consciente do perfil histórico e sociocultural do assunto. É parte de uma pesquisa que, ironicamente, é inevitável como criador. Os conceitos precisam ser formulados e depois executados. Parece que essas regras se aplicam a qualquer outro lugar, exceto no trabalho sobre a África. Por exemplo, durante a guerra civil na Angola, outro país que fala português, as agências de notícias dos EUA (as poucas que foram) falaram extensivamente sobre os incidentes (isso é bom), mas sem o contexto e informação sobre a história colonial de Angola ou a guerra por procuração que estava acontecendo, ambos são críticos para entender o evento. Obviamente, sempre veri-

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fique informações, especialmente com a história Africana, porque elas podem ser mal transmitidas. No entanto, é importante reconhecer a história, e também tentar entender as implicações sociais e culturais de um fenômeno ou as tradições socioculturais que a influenciam. A compreensão aparece no trabalho. Finalmente, e este é o meu ponto mais importante; racismo e salvadorismo são alguns dos maiores problemas sociopolíticos e econômicos que os países africanos enfrentam (há séculos). Por favor, não contribua para isso, já existe o suficiente. O complexo industrial do Salvador Branco financiou muitos shows beneficentes, muitas escolas insustentáveis, muitos comerciais com crianças "famintas" e carentes fotografadas sem o consentimento dos pais, e muitas mulheres brancas sem nenhuma experiência médica “tratando” as crianças. Tudo de ruim que você puder imaginar, já aconteceu; os Africanos estão cansados disso. Então, se você sabe em seu coração que pensa que todos os negros são bandidos, ou que todos os árabes são terroristas, ou que não tem respeito pela cultura, ou você pensa que você é tão especial que pode resolver todos os problemas em uma região que já contém pessoas extremamente capazes; por favor, fique longe da África e de todas as coisas pertinentes a ela. A África não é a região que você deseja criar esse filme ou documentário racista, ou escrever um trabalho "jornalístico" que perpetua algum tipo de ideologia distorcida; se você é um criador e tem interesse em algo ou alguém Africano, jogue seus preconceitos, etnocentrismo e ego no lixo onde ele pertence.

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FORJA DE JOSÉ SARAMAGO: O POETA COMO UM ARTESÃO DA PALAVRA RODRIGO CONÇOLE LAGE FORJA: Quero branco o poema, e ruivo ardente O metal duro da rima fragorosa, Quero o corpo suado, incandescente,

Na bigorna sonora e corajosa, E que a obra saída desta forja Seja simples e fresca como a rosa (SARAMAGO, 1981, p. 18).

Ao longo do tempo, foram elaboradas diferentes ideias sobre o fazer poético, o que levou a algumas polêmicas. Dentre elas, temos as discussões referentes ao fato da poesia ser fruto da inspiração ou da técnica do poeta, que, no primeiro caso, é visto como

um artesão. As controvérsias sobre esse assunto surgiram no mundo grecoromano e foram sendo retomadas ao longo do tempo, em diferentes momentos (como no arcadismo, por exemplo). Além disso, em alguns períodos, nós podemos ver uma maior valorização da noção de inspiração e, em outros, a do fazer poético. O escritor, poeta, cronista, contista e dramaturgo português José Saramago foi um dos que escreveram sobre o assunto em um de seus metapoemas, o “Forja”, publicado no livro Provavelmente Alegria. Nele, o poeta é comparado a um ferreiro que trabalha com o metal, a palavra, lutando para forjar a rima. Em oposição à facilidade da inspiração, o eu poético ressalta a importância do trabalho duro na busca da palavra perfeita ao dizer: “Quero o corpo suado, incandescente,” (SARAMAGO, 1981, p. 18). O escritor posteriormente deixou bem claro que a valorização desse trabalho de carpintaria é uma característica do seu próprio fazer poético (de modo que podemos dizer que o eu poético reflete as ideias do próprio autor): “Quando escrevi poesia, tudo aquilo foi pensado; lembro-me de que o poema era muito fabricado, no melhor sentido que a palavra tem, ao passo que os afloramentos poéticos nos meus romances surgem, não há fabricação poética nos meus romances. A mesma coisa não posso dizer, talvez, da poesia. A poesia é fabricadamente poesia” (SARAMAGO, 2010, p. 240). Com isso, ele poderá criar o poema desejado. Mas não qualquer um, porque o que ele busca não é o poema hermético, obscuro, com palavras raras ou neologismos, nem o que revoluciona na forma ou no conteúdo. O que ele deseja criar é uma obra que “Seja simples e fresca como a rosa” (SARAMAGO, 1981, p. 18). E, se observarmos o conjunto da sua produção poética, veremos que o poeta conseguiu realizar esse intento. Referências: SARAMAGO, José. As palavras de Saramago: catálogo de reflexões pessoais, literárias e políticas. Org. e sel. de Fernando Gómez Aguilera. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. _________ Provavelmente Alegria. 2ª ed. Lisboa: Editorial Caminho, 1981.


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A CADA BOCA, UMA SOPA Michele Eduarda Brasil de Sá

O Brasil, na verdade, é Brasis. É senso comum, eu sei. Qualquer país com dimensões continentais como o nosso, com tanta riqueza geográfica, humana, ecológica... Não pode ser, a rigor, só um! E daí? E daí que tanta variedade se percebe também no vocabulário. Eu nasci no Rio de Janeiro, mas morei em Manaus (no estado do Amazonas), em Brasília (capital do Brasil) e me mudei recentemente para a cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, estado que faz divisa com Bolívia e Paraguai. Por onde passei, aprendi e aproveitei muita coisa. Ah, as comidas, as pessoas, a fauna... (ah, meu Deus, as comidas!) Tem algumas peculiaridades aqui no Mato Grosso do Sul que são muito fáceis de perceber logo no início. Uma delas é a seguinte: as pessoas daqui odeiam que se confunda Mato Grosso do Sul com Mato Grosso. O fato é que o estado do Mato Grosso do Sul se emancipou há pouco tempo (apenas 40 anos, contada a data de instalação do governo), de forma que, antes disso, tudo era Mato Grosso. Quem vem de outros estados, especialmente aqueles chamados de forma abreviada ( “Rio”, em vez de “Rio de Janeiro”, ou “Minas”, em vez de “Minas Gerais”), acaba naturalmente se referindo ao estado como Mato Grosso – o que é imediatamente corrigido por quem estiver por perto. Obviamente ninguém diz que “mora no Mato”, porque no Brasil inteiro “morar no mato” é uma forma um tanto pejorativa de dizer que

alguém mora muito distante da cidade grande, entendida como lugar de civilização. Daí todo mundo diz o nome completo do estado, sempre que vai se referir a ele. Outra coisa que se nota logo de início é que as pessoas têm o hábito de beber um chá gelado que, diga-se de passagem, é muito gostoso: o famoso tereré cai muito bem no fim da tarde – ou a qualquer hora de um dia de muito calor. Eu conhecia a palavra tereré com outro significado. Eu sempre ouvi a expressão “ficar tereré”, que quer dizer “ficar louco”. Mas esta novidade não foi nada de extremo, pelo menos não a ponto de me enlouquecer. O que me impressionou mesmo foi o caso da sopa. - Michele, você tem que comer a sopa paraguaia! “Comer” sopa? Estranhei logo. Eu sempre falei “tomar” sopa, e sempre ouvi falarem assim nos lugares por onde passei. “Comer sopa” era um pouco demais para mim. Será que os paraguaios falam “comer sopa”, e influenciaram o falar daqui? Até que eu descobri o que era a sopa paraguaia. Gente, que delícia! Só que não é líquida: é, na verdade, um bolo salgado, muito saboroso, feito com milho, queijo e cebola. Não é à toa que os portugueses dizem “a cada boca, uma sopa”. Variedade é o que há. Quanto a mim, por onde passo, vou experimentando o que puder. Tenho o “Brasil” no meu nome, mas dele ainda conheço pouco, ou menos do que gostaria de conhecer.


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O REFLEXO

IGOR S. FREITAS

Olhe só para ela... Tão linda! Todas as manhãs, não deixo de contemplar a beleza dos seus olhos verdes, a suavidade de seu nariz levemente arrebitado, enquanto ela penteia seus cabelos louros e vivos. Minha irmã é realmente maravilhosa. É claro, alguns podem dizer que sou tão linda quanto ela, mas poucos reparam em mim. São sempre os olhos dela que todos notam, não os meus. Eu fico apenas nas sombras, de escanteio, tolamente tentando imitar seus gestos para que alguém me note. Reparo sempre nas roupas que ela usa: de manhã, ela veste um jeans despojado em par com uma blusa levemente decotada, uma regata ou uma simples camiseta, ou então, mete um vestido de verão, sempre bem-vindo e infalível em seu corpo esguio e encurvado. Ela sorri para mim logo antes de sair, perguntame se estou bonita e vai embora para o dia-a-dia, sabendo que qualquer porta à sua frente será aberta com o brilho dos seus olhos. Vejo-a novamente apenas no final do dia, ela já preparada, logo após o banho, para as diversões que a noite lhe reserva. Ela fala comigo, enquanto passa rímel nos olhos, dizendo que esta seria a noite em que ela conheceria seu príncipe encantado. Por isso, precisava estar sempre impecável. Eu já sabia que ela atraía todos os tipos de olhares, inclusive aqueles perigosos, mas nada posso lhe dizer antes que ela vire as costas e saia para as suas aventuras. Na noite seguinte, ela ressurge, bêbada, os cabelos desarrumados e a maquiagem borrada. Volta a me encarar agora com vergonha nos olhos. Sua busca desesperada pelo amor a havia feito fazer coisas das quais se arrependeria depois, mas eu nada pude fazer por ela. Tentei lhe dizer na festa, com um olhar, que estava tomando a decisão errada, de que ela não precisava daquilo. Ela me encarou por breves segundos enquanto retocava a maquiagem, mas decidiu não seguir meu conselho. Agora, são olhos manchados de uma máscara borrada e lágrimas escorridas que me encaram. A preciosidade de sua beleza natural e singela desaparecia dentre aquela confusão cosmética e artificial, e, novamente, eu nada podia fazer por ela. Eu sabia que, na semana seguinte, ela faria tudo de novo. Eu tentaria impedi-la, mas continuaria impotente. Ao menos se eu fosse ela. Ao menos se eu tivesse o que ela tem. Pois, mesmo sendo sua irmã gêmea, nada posso fazer. Pois, mesmo tendo sua aparência, sou impotente atrás do vidro. Sete dias se passam, e ela está novamente diante de mim retocando sua maquiagem, prometendo-me que, dessa vez, as coisas seriam diferentes. Eu apenas reafirmo, incapaz de negar.

About the author: Igor é formado em Letras pela Universidade Federal de Uberlândia e atualmente trabalha como FLTA na Universidade de Arkansas. Escreve desde os 11 anos, quando finalizou sua primeira obra fantástica "Almas Reais". Em 2017, publicou sua segunda obra, "O Iceberg".


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tag THE START-UP THAT CHANGED THE BOOK MARKET IN BRAZIL

T

he past few years have shown a positive change in Brazilians’ reading habits. The new generation of young adults seems to be more interested in consuming books and attending book clubs or other book-related events. The arrival of Amazon.com in the country might have had its impact, offering books and eBooks for an affordable price. However, one of the most interesting projects to encourage Brazilians in their new habits was initiated five years ago by some idealistic young people in the south of Brazil. The first Brazilian company for book subscription boxes, TAG, has gathered more than 50 thousand readers in over 2300 cities since 2014. It is such an immense success that it has inspired other companies, bookstores and publishing houses to do the same. Nowadays, Brazil has countless options for book subscription boxes, each one focused on a different audience.

Every month, “TAG Curadoria” members receive a box with an exclusive edition of a book recommended by a curator. his curator is usually a well-known writer, artist or journalist interviewed by TAG. So far, they have invited famous Brazilians artists such as Luis Fernando Veríssimo and Fernanda Montenegro, and also international authors like Chimamanda Adichie and Rupi Kaur. The exclusive editions are always beautifully designed hardcover copies that accompany a slipcase, a bookmark, a small gift and an informative magazine about the book. Some of the editions are reissued copies of out-of-print books, new translations, or even unpublished works. For TAG’s five-year anniversary in July 2019, the members received a book written at TAG’s request by José Luís Peixoto, a renowned Portuguese writer. The experience continues online on TAG’s app, where the members can discuss the works, rate their experience and even organize face-to-face meetings. TAG also manages a blog, a podcast platform, a music playlist for each book and an online bookstore where they sell other books related to the ones they sent.


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tag

THE START-UP THAT CHANGED THE BOOK MARKET IN BRAZIL

Books sent by “TAG Curadoria” tend to be the kind that will get you out of your comfort zone and propose some reflection. They will come from a variety of different countries and cultural backgrounds. Realizing that this might not be the favorite kind of literature for most people, TAG started another project in 2018. Members from “TAG Inéditos” will receive a bestselling work still unpublished in Brazil, in a paperback edition. They are page-turners coming from different countries and genres.

01

TAG has received international attention by winning The Quantum Publishing Innovation Award at The London Book Fair in 2018. In its unprecedented success selling books in a country of few readers, TAG assumes its social responsibility by organizing campaigns like the “one book a month” challenge this year and making donations to public libraries all around the country. - Mariana Ferreira Quintela

October 2017 - The Joys of Motherhood, by Buchi Emecheta (1979) Curator: Chimamanda Adichie The best-rated book ever sent by TAG is the story of a Nigerian woman who submits herself to a precarious lifestyle in order to raise her children. The irony of the title becomes clear as the reader follows the hardships of a family trying to maintain their culture in the face of European colonization.

02

December 2017 - In Diamond Square, by Mercè Rodoreda (1965) Curator: Carol Bensimon Colometa is a naïve young woman living in Barcelona in the 1930s. She dreams of love and freedom, but she only encounters violence and oppression as her city is devastated by civil war. This is a story of a woman’s experience in marriage and war. Written originally in Catalan, Rodoreda’s style is poignant in its rawness.

03

September 2019 - Interpreter of Maladies, by Jhumpa Lahiri (1999) Curator: Rupi Kaur In this collection of nine short-stories, Lahiri guides us through the life of Bengali characters who struggle to find their place in the world. Some of them are still in India, trying to find their identity in a world divided by castes. Others have migrated to a different country and try to adapt to the new culture without losing their own.


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e nos hiatos do amor eu me encontro em encontros marcados com a sorte e me espalho entre gentes que esqueço mas que, poeira de estrelas, me são e me amam e nos amamos em chãos de parque e em chãos de ladrilho em banheiros públicos e privados e nos besuntamos em luzes metálicas

eu encomendo carinhos e são essas mãos que me entregam e essa boca me beija e quando meus olhos pedem os teus me atravessam e eu aprendo amar e viver e viver amando e aprendo o tempo de cozer e mais dispostas do que prontas as minhas pernas se movem um passo após o outro e arrumo gentes pra rir comigo dos tombos e enganos e a pra chorar de emoção nos encontros e vitórias eu me distraio lembrando da tua boca e procurando e perdendo sinais e te uso como desculpa pra partir e ficar

Betânia Noll de Oliveira


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bendito

dá-se a luz ao deus ateu, que abençoa com intriga e declara como escolhidos os que se apresentam à discórdia. a seus dizeres, o agradecimento e o amém servil: é com a graça do senhor que eu me abstenho da minha fé. agora, a descrença é de todos os que ousaram desafiá-lo em seu poder impotente – esses também coagidos por uma força que não agride. a malevolência proposta é vã, o alvo continua intocado e intocável, ao menos por esse mal manifestado que nada causa além de compaixão. a devoção à desgraça dá lugar à tentativa de resgate de uma prece que segue não atendida: maldito seja o fruto de vosso ventre e a ausência de luz. enfraquecido, justamente quando seu credo vem a ser reforçado por um gesto acolhedor e, redentor, nos que provocou descrença cresce a fé por uma bênção magistral.

F. K. Bettiol


VIAJAR SEM SAIR DE CASA

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Letícia Orciuolo

Todo amante de uma boa viagem sabe a dificuldade

Um mês depois, lançou o primeiro episódio do

que é escolher o próximo destino ou mesmo ter

TENC, que teve uma repercussão muito positiva,

budget suficiente para visitar todos os lugares

assim como feedbacks que a incentivaram a se

desejados. Sendo assim, recorre-se às mais diversas

desenvolver mais a cada episódio e testar

formas para viajar sem sair de casa. Além da

diferentes formatos.

literatura e dos filmes, uma nova maneira de conhecer

Existe uma infinidade de possibilidades para

inusitadas cidades e pontos turísticos é ouvindo

os formatos de podcasts: monólogo

podcasts!

roteirizado, mesa redonda, entrevista,

Na onda do crescimento da podosfera no Brasil,

storytelling... Como jornalista, a ideia de Letícia

Letícia Orciuolo, jornalista por formação, criou o Te

é trazer um conteúdo informativo e bem

Explico no Caminho com o intuito de se reconectar

apurado, associar com livros, filmes,

com sua profissão, realizar o antigo sonho de

documentários e séries relacionados ao tema,

trabalhar como locutora e falar sobre seus assuntos

assim como entrevistar outros viajantes, mas

preferidos: viagens e cultura.

sem deixar de lado uma introdução completa

Em junho de 2019, com um feriado que se aproximava,

sobre o destino que será discutido.

resolveu usar sua próxima viagem como teste para o

“Muitos assuntos eu consigo falar sozinha,

episódio-piloto: “Foi uma experiência diferente do que

pois são referentes a experiências próprias.

estava acostumada porque eu não sou uma pessoa

No episódio de Holambra, por exemplo, que é

muito atenta a detalhes quando estou passeando e,

uma pequena cidade próxima a São Paulo, no

nesta viagem a Paraty, anotei, gravei e prestei

Brasil, eu falei sobre as minhas percepções e

atenção em todas as informações ao meu redor”.

dicas.


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Sobre Hiroshima, por outro lado, fiz uma breve resenha sobre o livro que li sobre o desastre que aconteceu na cidade e na sequência chamei um convidado, o Matheus, que esteve lá como turista recentemente e contou sobre sua viagem”. O processo de criação do programa, no entanto, não é tão simples. Após a escolha do tema, que varia entre cidades do mundo todo, processos burocráticos relacionados a morar fora e outras experiências, é preciso realizar uma pesquisa profunda, construir a pauta, apurar as informações, elaborar um roteiro e gravar. Caso haja convidados, também é necessário preparar as perguntas que servirão como guia para a conversa, que pode chegar a uma hora e meia de gravação. Depois disso, o material deverá ser editado e o lançamento programado. A ideia é que haja um episódio novo toda semana. Para os próximos meses, um novo formato será testado: audioguias sobre pontos turísticos. “Estou morando em Barcelona e vou poder mergulhar a fundo na cidade, por isso tive a ideia de fazer episódios falando sobre pontos turísticos específicos no formato de audioguia para substituir a ideia de alugar aqueles aparelhos informativos nos locais. Farei isso com os pontos de São Paulo quando retornar ao Brasil”. Que tal então dar uma volta sem nem sair do sofá? Corre lá e ouça o podcast Te explico no caminho e conheça um pouco sobre cidades dentro e fora do Brasil!


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Visitando o Brasil ALUNOS DO PROGRAMA DE FLAGSHIP DE PORTUGUÊS DA UGA COMPARTILHAM OS LUGARES QUE QUEREM CONHECER

Eu gostaria de visitar Fernando de Noronha porque eu

Eu acho a Serra do Rio do Rastro um lugar muito

adoro praias e esse é um lugar que parece ser muito

interessante! A vista parece ser incrível e eu não acho que

bonito! Eu prefiro ir a um lugar natural que um lugar com

haja muitos outros lugares como esse no mundo. Eu

muitos edifícios. Eu adoro cidades também, mas eu

gosto muito de estar no meio da natureza, longe da

prefiro a natureza nas férias. Eu sou uma pessoa mais

cidade, porque é muito bom para nossa saúde, para se

feliz quando estou fora de casa, debaixo do sol!

desconectar e descansar.

Camelia Rivera

Lindsey O’Neill

As Cataratas do Iguaçu ficam entre a Argentina e o Brasil. Eu

Eu quero ver as águas cristalinas de Bonito. Mais

gostaria de visitar esse lugar porque é onde ficam as

especificamente, quero visitar as águas do Abismo

maiores cataratas do mundo! Iguaçu faz com que as

Anhumas. Eu gosto muito de nadar e pode ver tudo debaixo

Cataratas do Niágara pareçam tão pequenas! Elas são

d’água. No Abismo, existem centenas de estalactites e

incríveis e parecem ser um ótimo lugar para se visitar

estalagmites. Eu adoro essas formações naturais porque

quando você for ao Brasil!

elas não existem no mundo todo e é uma beleza muito relaxante. Eu quero mergulhar e ver animais como sucuris e

Ashley Nguyen

peixes coloridos. Nicholas Linder


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"É mais fácil ver a cultura local de um país numa cidade pequena."

Eu gostaria de ver as atrações históricas de Ouro Preto porque eu gosto muito de visitar cidades pequenas que não são muito famosas… pelo menos para as pessoas que não moram no país. Quando eu fui à Espanha, algumas das minhas cidades favoritas foram exatamente as muito pequenas repletas de coisas que eu precisei encontrar sozinho. Existem muitas coisas que você pode aprender em lugares como esses, especialmente numa cidade histórica como Ouro Preto. Além disso, é mais fácil ver a cultura local de um país numa cidade pequena, e por isso eu quero muito explorar esse lugar! Robert Fox


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SNAKE ISLAND: BRAZIL’S MOST DANGEROUS PLACE Jean Costa If asked about dangerous places in Brazil, you might immediately think of Rio and its criminality rates, or maybe the Amazon forest and its wildlife. However, these places present little to no threat when compared with Snake Island (Ilha da Queimada Grande, in Portuguese). Yes, this name means exactly what you’d think it means! Snake Island is a small island with approximately the size of 40 soccer fields, right off the coast of São Paulo. It is populated solely by snakes, and it is the only home of the critically endangered, venomous Bothrops insularis (golden lancehead pit viper), a snake whose venom can kill you in two hours. Fortunately, it only eats birds! The number of snakes on the island varies between 1 and 5 snakes per square meter. Yes, you read that right. There are thousands of highly venomous snakes there. And they can climb trees too! As the story goes, years and years ago the snakes became trapped when rising sea levels covered up the land that connected it to the mainland. Without any predators, they could breed freely… And as they needed to eat, their venom grew more deadly, and they evolved to climb trees. However, you need not worry! The island is rocky, and there are no beaches on the coast. There was once a lighthouse operated by people to inform sailors to steer away, but now it’s automated. No people live there anymore, and no one can visit – unless you are with the Brazilian Navy or a selected researcher. The place is closed to the public in order to protect both people and the snake population. Not that you would want to end up there anyway.


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CARNIVAL IN THE JUNGLE AND BLUE COKE By Paulo Eduardo

When somebody talks about a Brazilian festival with parade, music, floats, and paraders dancing using costumes, watched by thousand of spectators, where rival schools compete to be the champion of the year, you think about carnival in Rio de Janeiro - probably the most famous brazilian celebratition around the world. But what if I told you that there is another celebration as big, colorful, vibrant, and luxurious as Rio´s carnival, in the middle of the Amazon Forest? To be even more precise, in an island in the middle of the Amazon River (the biggest river in the world), where you arrive after a 20-hour journey by boat, would you believe me? Well, that´s all true, the celebration really exists: it´s the Parintins´ Folkloric Festival, celebrated every year on the last weekend of June, at Parintins, a small city of Amazonas, Brazil´s largest state.

Photo: Divulgação/Secom/Portal do Amazonas

Roughly a hundred thousand tourists from all over the country go to Parintins every year, almost doubling the city´s population, during the three-day celebration... The festival has its origins in one of the most popular legend of the Brazilian northern region: the legend of Boi Bumbá. Legend says that, in order to feed his pregnant wife, a poor man decided to kill one of his employer´s oxes, a rich farmer who had thousands of cattle. He did not know, though, that the one he killed was the farmer´s daughter favorite ox.

Photo: Criatives

To read this text in Portuguese, access the online magazine


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CARNIVAL IN THE JUNGLE AND BLUE COKE Afraid of being punished by his employer, the poor man asked his friend, an indigenous shaman, to resurrect the ox. The shaman agrees, and bring the ox back to life, but not as an actual animal, but as an ox made of cloth, instead. This is the legend they act every year at the celebration, adding other stories, myths and culture from Amazon´s indigenous people. Two teams - or oxes - parade during the three days of celebration (Friday, Saturday, and Sunday): the blue team is "Boi Caprichoso"; the red team, is "Boi Garantido". On Monday they sum up all grades regarding different categories such as costumes, lyrics and music, and floats (just like in Rio de Janeiro´s carnival). Photo: Divulgação/Secom/Portal do Amazonas

The rivalry between both teams is so strong that the city become divided, half blue, half red. Both sides are not allowed to engage, therefore even families - couples, parents and sons, siblings remain apart from each other during the celebration. The visual is really impressive, and you can see astonishing things like 30-feet tall floats and super detailed costumes.The whole preparation process takes more than six months, and most of the island inhabitants are involved. The Parintins´ Folkloric Festival is a living proof of the Brazilian creativity and the richness of its cultural mix.

Photo: Criatives

The celebration is something so unique, that even a gigantic corporation like The Coca-Cola Company had to adapt its brand, and create a Coke blue can, along the traditional and iconic red one, so both fans, from Caprichoso and from Garantido, could enjoy the product.


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EXPERIENCES ABROAD IN NORTH AMERICA

Jaqueline Jacob

Renata Comelli

My first exchange program was a dream come true in my 50s! My choice was Toronto, in Canada. Why? I don’t know. The whole time when I had been dreaming about it, Toronto always came to my mind. I went there all by myself. It was a trip into the unknown and I had no idea how it would be. I was lonely, but I couldn’t be happier, I felt fulfilled.My first experience when I arrived in Toronto was with public transport. It’s perfect, it works very well. I liked how the people were very friendly and receptive. About the school, for me it wasn’t the best, but I made some friends from Japan, Mexico, France, Switzerland, Panama, and Germany.The best moment for me was when I went on sightseeing tours with the school. My favorite places were Nathan Philipps Square and Lake Ontario. I tried the famous Maple Syrup, Icewine and Ginger Ale. These were the best thirty days of the year. I miss Tim Hortons Café, red fruits and beautiful parks.And you, when are you going to make your dreams come true?"

In December 2013, I went to San Diego/CA to study English. The course lasted for four weeks and it was an amazing experience.Besides visiting a wonderful city with a lot of great landscapes and stunning beaches, I had the opportunity to meet people from different countries. In my classroom, I had classmates from Japan, China, Saudi Arabia, South Korea, Lebanon, Mexico. The funny thing is that there were no Europeans! (I don't know why). The chance of exchanging experiences with people from several nationalities was the most positive point of the trip. Inside the classroom, we used to talk about each other’s culture, habits, customs and typical food. I found out, for example, that Japanese men don't have the habit of hugging or kissing their mothers, sisters or daughters. They are very formal. And what a joy it was when one day, in a class about cooking, I figured out that the Brazilian word "berinjela" (eggplant) has almost the same sound in Arabic.Overall, I think it was the most enriching experience in my life. I'm waiting for my retirement to study English abroad again. Next time, I wish to stay at least three months overseas.

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SENHORAS CONFEITEIRAS

TRUFAS,BOMBONS,PIRULITOS, PORTA RETRATOS, PÃES DE MEL, BEM CASADOS, CUPCAKES... Eu, Lia, sempre me identifiquei muito com a cozinha, e sempre trabalhei com doces e salgados. Porém, devido ao aparecimento de uma doença séria, com previsão de tratamento bastante rigoroso, me vi forçada a parar com a cozinha, me dedicando somente ao trabalho com uma empresa de vendas diretas. Erika, minha nora, se dedicou durante 11 anos à área da educação infantil. Após algumas crises financeiras em nosso país e a chegada de 2 filhos, precisou mudar de emprego. Foi então que ela teve a ideia de fazer pães de mel para vender e me fez o convite para que eu lhe desse suporte, pois sabia que essa era minha área preferida. Embora eu ainda estivesse em tratamento, não pensei duas vezes, fui correndo. A escolha do nome para o empreendimento foi o primeiro desafio. O primeiro que surgiu foi o mais óbvio, ‘Nora e Sogra’, mas quando pensamos em ‘Senhoras Confeiteiras’, não houve dúvida de que tinha uma sonoridade melhor e chamaria mais atenção. Era novembro de 2017, quando nos juntamos para desenvolver nosso empreendimento. Hoje, contamos com a consultoria da empresa Whirlpool, que adotou o nome ‘Consulado da Mulher’ para desenvolver um trabalho de ajuda a pequenas empresárias. Estamos crescendo e procurando aplicar em nosso negócio as orientações que nos dão. Um exemplo disso é o curso que estamos fazendo para elaborarmos marmitas fit congeladas, que se tornaram uma tendência aqui no Brasil. Ao mesmo tempo que o lado profissional se desenvolve, cuidamos também do lado pessoal -- afinal, somos uma empresa familiar. Eu e Erika, sogra e nora, nos damos muito bem! Posso dizer que a tenho como filha e, através de muito diálogo, sempre chegamos a acordos que beneficiam ambas. O pão de mel continua sendo nosso carro chefe, mas já temos uma farta linha de bolos e doces para festas. Outro doce que faz muito sucesso, ao lado do pão de mel, é nosso brigadeiro trufado. Por isso, enviamos as duas receitas, com muito carinho, para que vocês possam saborear esses tradicionais docinhos brasileiros! Esperamos que saber da nossa história de luta dê um toque a mais de sabor quando vocês os provarem. Aproveitem!!!

r e si n h L ia T e

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RECEITAS

PÃO DE MEL

150g de mel 45g de chocolate em pó 50% 75g de açúcar mascavo 50g de ovos 250ml de leite 20g de margarina 240g de farinha de trigo 5g de bicarbonato 5g de canela em pó 2g de cravo em pó 5g de fermento em pó

Misture tudo e coloque em forminhas para pão de mel, e leve para assar. Depois de pronto, recheie com doce de leite, e banhe no chocolate derretido. Embale, e pronto! Aproveite!

BRIGADEIRO TRUFADO

1 lata de leite condensado cozido 500g de chocolate ao leite em barra derretido 5g de manteiga

Misture tudo muito bem. Deixe descansar por 12 horas. Faça as bolinhas no tamanho de sua preferência e passe no confeito de chocolate. Coloque em forminhas de papel, e sirva!


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ATUAL SITUAÇÃO DO BRASIL Por: Alice Maria Morse

A situação econômica do Brasil está causando muita preocupação a toda população que depende do seu próprio trabalho para garantir o sustento da família. Sejam empregados ou empresários, estão todos preocupados com os rumos que nossa economia vem tomando nos últimos tempos. Essa situação vem fazendo com que empresários adiem investimentos e novos empreendedores aguardem momentos menos incertos para iniciar seus projetos.

O governo tem, sim, responsabilidade sobre a atividade econômica e deve atuar em momentos de crise. Ele deve estimular o emprego diretamente pelo investimento. Apesar de contar com a legitimidade fornecida pelas eleições, o presidente eleito pode enfrentar uma forte oposição por causa do cenário de polarização do país. O presidente provocou o surgimento de otimismo depois de fazer uma campanha baseada em promessas de disciplinas fiscais, eficiência do governo e repressão ao crime. O Brasil é hoje um país dividido que enfrenta uma forte maré de insatisfação popular ampla e habilmente manipulada, que agora vive momentos de transição e está confiante que a mudança será para melhorar a vida dos brasileiros referente à saúde, educação e transporte dignos.


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What are the minimum labor rights in Brazil? BY FELIPE PINHEIRO Labor law is a trending topic in Brazil. This scenario is due to the country’s economic and social context, where almost 13 million are unemployed¹, and the current political guideline, which stands for economic liberalism. Add to that the very recent Labor Reform (Law n. 13.48467/2017) and the exponential increase of workers who depend on the gig economy (freelance jobs such as Uber, Cabify, Rappi) – a typical characteristic in countries facing economic downturn. Historically, the origin of labor law is attached to economic, social, philosophical and religious events². In most languages, the word “labor” is etymologically related to pain and suffering. For instance, the word “labor” in Portuguese, “trabalho”, the French “travail” and the Spanish “trabajo” are etymologically connected do the Latin term “tripalium” – a torture instrument used to trap domestic animals while being hooked – while the English word “labour” and the Italian “lavoro” hold their origin in the Latin “labor”, which means pain, suffering, fatigue³. Despite the etymology, the meaning of the word went through an abrupt transformation during the slavery period, being related to dignity and value, inspired by the reality of those who would find their freedom through work. But it was during the Industrial Revolution, in the 18 th century, that labor laws began to take on their current shape. Once human labor was replaced by machines, unemployment rates surged, wages were reduced, and labor conditions deteriorated. The government had to set the boundaries. In Brazil, the evolution of labor laws is very similar to that of the European laws, with some adjustments, since Brazil was mostly agricultural in the 18 th century. Influenced by the social constitutionalism movement, the Brazilian Constitution from 1934 was the first to address a specific chapter on labor rights in the country’s history. The right to a minimum wage, salary equivalence, and 4 protection to women’s and children’s work were some of the ones that stood out, among many others. Nowadays, Brazilian labor laws are broad. They are regulated by the Constitution, a specific law named “CLT” (Decree-Law n 5.452/1943), as well as several other sparse laws. But after all, what are the basic labor rights in Brazil? Before emerging into the topic, it’s important to distinguish those who are considered simple workers from those considered employees, since the basic rights we will talk about are exclusive to employees. ________________________________________ ¹ https://oglobo.globo.com/economia/desemprego-cede-novamente-em-agosto-mas-ainda-atinge-126milhoes-de-brasileiros-23976185. Acesso em 27.09.2019 ²MARTINS, Adalberto. Manual didático de direito do trabalho. 6ª Edição. São Paulo. Malheiros, 2019. P. 19 4³MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. 7ª Edição. São Paulo. Saraiva, 2016. P. 77 ARAUJO, Luiz Alberto David, JÚNIOR, Vidal Serrano Nunes. Curso de direito constitucional. 17ª Edição. São Paulo. Editora Verbatim, 2013. P. 134


In Brazilian labor law, as well as in other countries, work is a genre of which employment is a species. Therefore, it’s perfectly reasonable to say that not all workers are employees, but all employees are always workers. Employment relationship possesses five concomitant prerequisites: (i) personality – a specific person must be hired for a certain job and cannot be replaced by anyone else; (ii) mandatory payment – employees must always be paid for their work; (iii) alterity – only the employer is held accountable for risks related to that specific work relationship; (iv) non eventuality – this is the repetition of work by the employee or the expectation that the employee will keep providing services to the employer; and (v) subordination – meaning it’s the employer who determines where, when and how said services will be provided by the employee. After these considerations, the minimum labor rights provided in Article 7 of the Constitution of the Federative Republic of Brazil are:

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1. Employee Severance Indemnity Fund (FGTS) – monthly deposit equivalent to 8% of the employee's remuneration in a bank account managed by the government; 2. Dismissal compensation –40% fine on the total amount deposited in the FGTS account, which is only paid when the employee is dismissed without cause; 3. Unemployment insurance, according to the law; 4. Remuneration will never be lower than the national minimum salary, regional minimum salary or professional salary floor; 5. Thirteenth salary (Christmas gratification) – one additional salary per year; 6. Night shift additional – night hours (between 10pm and 5am) are worth at least 20% more than the daytime shift; 7. Working hours limited to 8 hours per day and 44 hours per week; 8. Overtime additional of at least 50% of the regular working hours, when exceeded 8 daily working hours; 9. Remunerated weekly day off (DRS) 10. Vacation pay plus 1/3 – after every 12 months of work, employees are entitled to 30 days of rest, with guarantee of equivalent salary of the worked period added with 1/3; 11. Prior notice (worked or indemnified) in case of dismissal without a cause – which may vary from 30 to 90 days; 12. Health hazard bonus or risk premium, depending on the employee’s activities; 13. Minimum 120 days for maternity leave; 14. Minimum 5 days for paternity leave; 15. Family allowance – granted only to low income employees and in specific situation said by the law; 16. Salary equality.

Once all legal rules are justified by a sociological principle, which demands them to be appropriate to the reality in which they are inserted, the relevance of mentioned rights must be analyzed along with the country’s historical and social context. Since reality is constantly changing, the contemplation of law is a daily exercise. It is always important to re-evaluate and reconsider! *Felipe Fernandes Pinheiro is a lawyer in São Paulo, Brazil, specialist in labor law, and currently a master student and assistant teacher at Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

to read this text in Portuguese, access the online magazine


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Diferentes perspectivas: contribuições de estrangeiros em reflexões universitárias

ᅠ ᅠAlunos são comumente vistos como pessoas que devem aprender e não podem

ensinar. Embora isso esteja mudando, relações dicotômicas entre “ensino” e “aprendizagem” ainda perpassam práticas escolares, mesmo no âmbito universitário brasileiro. Quando se trata de estrangeiros*, que vêm ao Brasil e precisam aprender português, isso pode evidenciar-se ainda mais.

ᅠ ᅠNa Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Curitiba (UTFPR-CT), desde

2013 oferecemos atividades de português para estrangeiros, muito focadas em sua participação ativa na aprendizagem de português, cujo currículo é, em sua maior parte, aberto, isto é, possibilita a contribuição da turma em sua construção. Evidentemente isso é possível por estarmos em uma universidade e por termos envolvido nesses projetos, os estrangeiros participantes dos grupos com os quais trabalhamos, bem como estudantes do Curso de Letras – que são monitores assistentes nas turmas – e, finalmente, professores da universidade – entre os quais me incluo – que, entre suas atribuições, devem promover atividades de extensão condizentes com seu campo de ensino e pesquisa e, em alguma medida, inovadoras.

ᅠ ᅠParte do que consideramos “inovação” refere-se à promoção de uma mesa-redonda

que seja protagonizada por estudantes ou ex-estudantes estrangeiros da UTFPR-CT pelo menos uma vez ao ano, em algum evento acadêmico da universidade. Tal atividade remete a nossa visão de trabalho em que tratamos de horizontalizar ao máximo as relações entre “professoras” e “alunos”, uma vez que entendemos que as ações que realizamos têm como base a interação. Por mais que continuemos as responsáveis pelos projetos, os estudantes são também participantes das atividades, desde o planejamento até a avaliação. Entre os objetivos dessas mesas está a possibilidade de estrangeiros terem protagonismo em eventos acadêmicos e que suas perspectivas sobre diferentes temas sejam ouvidas pela comunidade acadêmica de que fazem parte, mas, que muitas vezes os entendem numa relação de subalternidade. Além disso, vemos como isso não é só relevante para os estrangeiros, como também contribui para a formação de brasileiros – estudantes e professores da UTFPR-CT – porque fazem com que eles possam praticar empatia e exercer humanidade. *Ainda não encontrei termos melhores para “estrangeiro” e “brasileiro”, mas continuo buscando porque acredito que eles não revelam nossa perspectiva de trabalho e podem mostrar um abismo marcado por fronteiras geográficas e muitas vezes linguísticas que gostaríamos que não existissem dessa forma. Fernanda Deah Chichorro Baldin Professora de português Departamento Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas DALEM – UTFPR-CT

Para saber mais sobre o trabalho da professora Fernanda com alunos imigrantes, acesse a revista online


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Para mim, a participação no evento “Diferentes perspectivas de margem” foi fantástica. Pude pensar em mim, no meu passado e na minha nova vida, ou seja, o evento foi para mim uma forma de liberdade, de ser livre, de me afirmar como uma pessoa capaz e com habilidades. E, o melhor de tudo foi a oportunidade de compartilhar e socializar. A sala estava cheia de estudantes e professores da universidade; conheci várias pessoas e entre elas outros migrantes que agora são meus amigos. Francisco Javier Díaz, venezuelano. Fonte: Facebook DALET-UTFPR/Divulgação. (26/01/2020)

Primeiramente quero aqui dizer: a vida proporciona-nos inúmeras oportunidades, de várias formas; e uma delas, está o fato de termos sido privilegiados com a participação na roda de conversa “Mesa com Estrangeiros: diferentes perspectivas de margem”, na UTFPR, para falarmos sobre nossas experiências de vida como imigrantes, o que engloba as nossas lutas de sobrevivência, deixando pistas para futuros migrantes. A isso, chamo um descomedido privilégio! Moisés António, angolano.

Fonte: Facebook DALET-UTFPR/Divulgação (26/01/2020) No final da mesa. Da esquerda para a direita, professora Jeniffer de Albuquerque, (comissão organizadora), Luiz Fernando da Rosa (comissão organizadora), Álvaro Pino (jornalista – argentino), Moisés Antonio (escritor- angolano), Francisco Díaz Uzcategui (professor de literatura – venezuelano), professora Fernanda Baldin, Erin Carlisle Rosa (professora – norte-americana), Julia Rinaldin (comissão organizadora).


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PORTUGUÊS NA Stentson University Os textos aqui reproduzidos foram feitos por alunos da aula Elementary Portuguese and Lusophone Cultures II ministrada pela FLTA Fernanda Ribeiro.

Português na Stetson University "A comunidade falante de língua portuguesa é a terceira maior na Flórida, o que torna cada vez mais necessário estudar o idioma."

POR FERNANDA RIBEIRO (FLTA 2018-2019) A Stetson University, localizada na cidade de DeLand, é a universidade privada mais antiga do estado da Flórida e conta com vários programas de ensino de línguas oferecidos pelo Department of World Languages and Cultures, incluindo o português, que é ofertado pela instituição desde 2015 e ensinado por bolsistas Fulbright. A cada ano, o programa vem se expandindo e recebendo alunos interessados na língua e na cultura do Brasil com os mais diversos propósitos: conhecer mais sobre a cultura brasileira, falar melhor o português (nos casos de alunos que o têm como língua de herança), aprender a língua devido a sua grande semelhança com o espanhol ou, até mesmo obter melhores oportunidades de emprego. Isso porque a comunidade falante de língua portuguesa é a terceira maior na Flórida, o que torna cada vez mais necessário estudar o idioma. Ao longo do ano acadêmico de 2018-2019, os alunos inscritos no curso de português desenvolveram as quatro habilidades linguísticas através de apresentações orais, atividades de leitura, escuta de material autêntico produzido por falantes nativos de todas as partes do Brasil e, também por meio da produção textual. Nesse sentido, como atividade extra de final de semestre para a disciplina Elementary Portuguese and Lusophone Cultures II, pedi que os estudantes escrevessem um texto, de no mínimo 200 palavras, sobre qualquer assunto que desejassem. As produções de Juan, Molly, Rachael e Sydney, que podem ser vistas a seguir, me enchem de orgulho!


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A Importância do Português para mim POR JUAN A. VELÁZQUEZ (FRESHMAN) O português é muito importante para mim. Isso é porque, desde que eu era pequeno, eu gostava de aprender línguas diferentes. Minha irmã foi quem me ajudou a descobrir isso, pois ela também gostava de aprender sobre línguas diferentes. Ela começou com o japonês e, depois de algum tempo, decidiu que ela gostava mais do português. Quando eu ouvi o português, eu achei que era muito interessante. Durante toda a minha vida, eu havia falado o espanhol, mas eu conseguia entender o português bastante. Depois de algum tempo, quando eu entrei na Stetson, me disseram que eu tinha que fazer uma aula de alguma língua estrangeira.

Eu queria fazer isso em algum outro ano, mas quando me deram minhas aulas para meu primeiro semestre, uma das aulas era a de português. Eu achei que era muita coincidência e decidi não mudar a aula. No início, eu não sabia o que esperar porque eu nunca tinha tido uma aula duma língua que eu não conhecia. Foi então que comecei a entender a minha professora quando ela falava e percebi que eu gostava muito de falar em português. Agora que eu fiz aulas de português por um ano, eu posso dizer que eu não me arrependo de ter feito essas aulas.

"Agora que eu fiz aula de Português por um ano, eu posso dizer que eu não me arrependo de ter feito essas aulas."


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A banda Sepultura POR RACHEL D. RYAN (SOPHOMORE)

A banda Sepultura foi iniciada por dois irmãos de Belo Horizonte, Minas Gerais. Ambos cresceram em um ambiente difícil, mas encontraram conforto na música. Eles foram considerados uma banda muito influente na época na década de 1980 e contribuíram fortemente para a comunidade de heavy metal. Muitas pessoas que tocaram em sua banda começaram outras bandas, por exemplo Sarcófago. Eles também influenciaram outras bandas brasileiras nessa comunidade, por exemplo, Stress, Sagrado Inferno, Dorsal Atlântica. Um de seus álbuns mais interessantes e complexos foi chamado Roots. Eles realmente usaram influências nativas brasileiras em suas músicas e em uma de suas canções eles realmente estavam falando de um membro da tribo Xavante. Eles fizeram isso não apenas porque isso se aplica a eles e à sua herança, mas também porque queriam conscientizar sobre os problemas diários que essas pessoas enfrentavam no Brasil. Um dos meus álbuns favoritos deles é chamado Esquizofrenia e é o meu favorito por muitas razões. Primeiro, o álbum foi influenciado por outros músicos que eu também gosto muito. Em segundo lugar, a introdução do álbum começa com a música tema do filme "Psycho", que também é um dos meus filmes favoritos. Em última análise, sinto que esta é uma das bandas mais importantes do heavy metal e thrash metal e estou realmente ansiosa para vê-los em algum show um dia.

Uma missão nas línguas POR MOLLY R. POPE (SOPHOMORE) Quando cheguei à universidade, eu achei que eu tinha o plano perfeito. Eu planejava obter um diploma em Sociologia, um minor em Francês, e talvez pegasse algumas aulas de marketing. Uma coisa que eu sabia positivamente era que eu não iria estudar algo que eu não amava especialmente matemática! Eu fiquei animada: a ideia de aprender sobre culturas e o motivo da sociedade funcionar da maneira como é foi perfeita para mim. Eu quero passar minha vida dedicada a aprender, apreciar, viajar, descobrir e entender novos lugares e o mundo. Cada um de nós é tão pequeno no universo e não há tempo para ficar estagnado, porque tudo que você conhece e acredita não é uma verdade universal e há algo para aprender de cada pessoa, e que no grande esquema nós estamos todos conectados. Então... quanto tempo isso durou? Um total de três semanas. Foi depois do meu primeiro grande projeto de Sociologia que percebi “não, obrigada”. Eu não estou interessada em agrupar pessoas com números e porcentagens ou prever o que o mundo fará a seguir. Eu quero entender e aprender sobre o que está ao meu redor da maneira mais pessoal: através da língua. Mudar meu foco para línguas me fez mais feliz e eu estou animada para continuar minha jornada.

A tribo Kayapó e o desmatamento POR SYDNEY ARRINGTON (SENIOR) Nem todos sabem sobre a tribo Kayapó no Brasil. Eles são um grupo indígena que mora no Brasil, na Amazônia. Historicamente não tinham muito contato com a sociedade moderna pois moravam isolados. Eles estão ainda aprendendo a viver em uma sociedade capitalista enquanto tentam, ao mesmo tempo, manter sua cultura. Há 8.000 Kayapós morando em aldeias sobre 11.000.000 hectares de terra legalmente protegida. O tamanho do território Kayapó é o mesmo dos estados de Virgínia ou Tennessee e maior que a Nova Escócia. Há muitas coisas afetando essa comunidade hoje. Por exemplo, a mudança do clima, muitas barragens, emissão de gases de automóveis, e invasões de rancheiros e mineiros. Além disso há o desmatamento na floresta tropical. Por essa razão, seus recursos e biodiversidade estão diminuindo rápido. A tribo Kayapó se preocupa que a construção de barragem vai aumentar o desmatamento e políticos dizem que querem reduzir a terra dos indígenas. Eles têm grande orgulho da sua cultura, então seguem lutando pela floresta, defendendo a terra, e protegendo as tradições e o idioma. Vinte por cento da floresta já está destruída. A tribo Kayapó é a solução para salvar o meio ambiente.


A experiência da leitura em uma escola brasileira A leitura em nossos dias ganhou um novo aspecto relacionado às plataformas que suportam os vários gêneros textuais (filmes, séries, conto, poesia, notícias, reportagem, batepapo etc.). Essas plataformas, como é o livro, mas também a televisão, o computador, os tablets e smartphones, se complementam e trazem à leitura a possibilidade da diversidade para que ela seja feita em casa, na escola ou até no transporte público.A escola e o sistema educacional no Brasil têm sentido bastante essa transformação nas possibilidades leitoras de nossos jovens. Em primeiro lugar, por ainda não abarcar as formas com que esse público lida com os suportes técnicos de leitura, a escola está ainda engatinhando nessa nova configuração. Em segundo plano, pelas poucas condições materiais de aquisição desses suportes para que sejam massificados no ambiente escolar. Contudo, um novo horizonte surge na metodologia de ensino: os professores cada vez mais se interessam por inserir novas tecnologias em sala de aula para as atividades acadêmicas. Os estudantes, por sua vez, são receptivos às tecnologias de aprendizagem. Nesse contexto, as atividades de leitura são enriquecidas e ampliadas com objetivos que vão desde a identificação dos gêneros textuais até a compreensão das temáticas sugeridas pelos próprios textos. Assim, na Escola Gonçalves Dias (nome que homenageia um poeta brasileiro), no estado da Paraíba, estamos trabalhando em conjunto com todo o corpo de professores e alunos para que possamos inserir o hábito da leitura usando as plataformas que a escola tem à disposição. Uma das ações utilizadas nesses dois anos em nossa escola se refere a um projeto fomentado pelo governo do Estado da Paraíba, o “Projeto Jovem Leitor”. Esse projeto consistia em utilizar

um kit de leitura em 2018 que, por bem, ampliamos para que a ideia de tornar a leitura um hábito perdurasse até hoje. O kit possui vários títulos de obras literárias locais e universais. Não obstante, ainda refletimos sobre a ampliação do trabalho educativo com esses textos para que eles não apenas ficassem na leitura das obras, mas que os alunos também refletissem os temas que os textos sugerem. Para isso, utilizamos filmes que complementassem as temáticas sugeridas para se fazer comparações entre como as formas da linguagem dos textos se diferenciavam da linguagem do cinema. Os alunos demonstraram grande interesse em perceber como as plataformas de reprodução técnica (livros e o cinema) apresentavam o tema. Cada linguagem a seu modo, tratava-se sobre direitos humanos, especificamente do bullying na escola. Os alunos ainda iniciaram pesquisas sobre notícias e reportagens feitas em seus smartphones e tablets como atividade extraclasse. A familiaridade e o interesse dos alunos acerca das novas ferramentas metodológicas, associada ao trabalho docente, contribuíram para uma enriquecedora atividade de leitura em que temas de importância para o contexto escolar fossem devidamente explorados e também para que a prática da leitura em si se tornasse uma atividade prazerosa na modelagem de cidadãos respeitosos e antenados à realidade à sua volta.

JAIR DE OLIVEIRA

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VALERIA SILVA

UMA PROPOSTA DE DAR MEDO Despertar o interesse dos alunos durante as aulas é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores desafios de um professor, sobretudo quando estamos falando de pré-adolescentes. Em Língua Portuguesa as propostas de Produção de Texto costumam ser encaradas por parte dos estudantes como algo chato, mais uma tarefa como outra qualquer. Trabalhar textos clássicos de maneira moderna, antes de ser um paradoxo, é um desafio necessário nos dias de hoje. Foi pensando em tudo isso que procurei elaborar um projeto de Produção de Texto que envolvesse os alunos e, pelos resultados obtidos, acho que fui bem sucedida. Foi logo após o intervalo, enquanto ainda relutavam para desconectar seus smartphones que os alunos do 7º ano, com idade entre 12 e 13 anos, conheceram seu primeiro conto clássico de terror: A máscara da morte escarlate, de Edgard Allan Poe. As crianças demonstraram certo estranhamento nesse primeiro contato, sobretudo em relação ao vocabulário, mas interessaram-se muito pela temática funesta e não foi difícil, junto a eles, elencar alguns dos elementos do gênero mistério e terror, presentes no texto de Poe. Na aula seguinte, com a luz apagada e com fundo musical, li alguns microcontos de terror. A ideia era trabalhar a ambientação desse tipo de narrativa e mostrar como por meio de narrativas curtas também conseguimos alcançar o medo. Os alunos ficaram bastante animados e muitos deles procuraram por conta própria exemplos de histórias parecidas para compartilharam com o grupo e a família.

Nesse mesmo dia, perguntei às crianças quais eram seus maiores medos e escrevi cada um no quadro, para que eles se inspirassem ao planejar o texto, ainda não haviam recebido a proposta, apenas tópicos de um plano de texto, mas a essa altura já estavam empolgados para elaborá-lo. Para trabalhar os elementos de construção de um mistério de uma maneira lúdica, preparei, com o apoio da Coordenação Pedagógica, uma espécie de “escape room”. Ao chegarem à sala os alunos se depararam com a porta lacrada, com uma fita de isolamento. Essa ação despertou a curiosidade deles e de outras turmas, que passavam e também se perguntavam sobre o que poderia ter acontecido ali. Quando finalmente adentramos a sala, as crianças já estavam bastante entusiasmadas por desvendar os mistérios lá contidos.


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Após toda essa preparação, finalmente os textos foram escritos. Demorei um pouco para entregar a correção e vi que estavam muito ansiosos em receber seus textos de volta. Percebi que essa ansiedade não era proveniente apenas do desejo de saber o conceito alcançado, mas sim em poder compartilhar as histórias escritas. Foi daí que surgiu a ideia de transformar esses textos em um livro, meus alunos não haviam escrito o texto somente para mim, professora, mas para leitores. Os textos que haviam sido escritos a mão, foram digitados e editados. Decidimos juntos o título do livro, a capa e alguns alunos ainda se dispuseram a fazer ilustrações, tudo iniciativa própria. Para divulgar os textos - e porque percebi que as crianças ainda tinham mais coisas a falar sobre o assunto - propus a elaboração de um podcast, cuja temática seria o universo do terror e mistério. É óbvio que o sucesso da empreitada deu-se graças à motivação e comprometimento dos alunos. Confesso que não sabia ao certo aonde chegaria com essa proposta, no máximo em mais uma produção de texto, cheia de reclamações, mais uma tarefa como outra qualquer. No entanto, acredito ter ido mais longe, vi vários deles escolhendo livros na biblioteca cuja temática fosse parecida com a que estudávamos, sem que eu pedisse. Vi a alegria e orgulho no olhar deles ao verem o resultado final e ao apresentá-lo a seus pais durante a reunião de encerramento do trimestre, como se fossem verdadeiros escritores; quem disse que não eram? faça download da versão digital de Contos de Dar Medo

acesse a versão digital da Fala Aí para ler comentários dos alunos e muito mais!

Valeria Cristina da Silva é mãe da Leonora, de dois anos, professora de Língua Portuguesa do Colégio Inovati e Doutoranda em Teoria Literária pela Unicamp. Trabalha com educação há 13 anos, onde tem interesse pelas áreas de Multiletramentos e Usos da tecnologia na educação.


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FROM BRAZIL TO THE US

brazilian students recommend musicians from home

GUSTTAVO LIMA There are many Brazilian singers that I would recommend, but if I had to name one, I would choose Gusttavo Lima. He was born in Presidente Olegário-MG and is 30 years old. He started his career performing shows in the states of Minas Gerais and Goiás. He was originally inspired and supported by Jorge and Mateus, a Brazilian duo. As he started to get famous around Brazil, he decided to do it by himself. He plays Sertanejo, a famous Brazilian country music style. What I like the most is the fact that even now that he is extremely famous, he has not changed the way he deals with his fans and public life. Recently I went to his show in Mineirão and it was amazing how he interacted with the audience. - Gustavo Barbosa Vilela TIAGO IORC Brazilian singer and songwriter Tiago Iorc was born in Brasilia, the capital of Brazil, where he lived for a few months before moving to the UK, and then to New York, with his family. Returning to Brazil years later, Tiago Iorc began his career at a music festival in Paraná state in 2006, performing a song by Three Days Grace. Since then, he has been invited to record songs for soundtracks of different Brazilian soap operas. In 2008 released his first album "Let Yourself In", with songs in English only. Today Tiago has five albums, two recorded in English, two recorded in Portuguese, and one with songs in English and Portuguese. His latest album was a surprise for fans: after years away from the media, he released a full album with music videos for every track at once. Iorc’s songs follow a folk-pop style, so those who like this kind of music will probably enjoy his sound, just like me. If you would like a tip on which songs to start with, I recommend “Tua Caramassa” and “Hoje Lembrei do Teu Amor”, both from his latest album Reconstrução; I also recommend “Story of a Man” from his album Umbilical; and “Amei te ver” from Troco Likes. - Ana Luiza Costa

to see what other artists they recommended, read the magazine online


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DOS EUA PARA O BRASIL

alunos estadunidenses recomendam músicos da região

THEY. THEY. é uma banda com dois membros apenas, de Los Angeles, Califórnia. Eles tocam R&B e rock. Eles são famosos porque são muito talentosos. Eles foram descobertos Timbaland e Bryson Tiller e ficaram famosos quando começaram a fazer parcerias musicais com outros artistas. Eu gosto de THEY. porque a música deles é divertida, mas as letras carregam muitos significados. Suas músicas sobre sentimentos são difíceis de descrever sem melodia. Minha música favorita deles é “Broken” porque me ajudou muito durante meu primeiro ano em Athens. - Sydney Phillips HALF ALIVE Uma de minhas bandas favoritas não é muito conhecida e se chama Half Alive. É uma banda americana que foi formada em 2016, na Califórnia. Seu tipo de música é bastante diferente: eles tocam alternativo, eletrônico e um pouco de psicodélico. Eles são famosos por suas primeiras faixas: The Fall e Aawake at Night, que são calmas e relaxantes. Eu gosto muito da banda porque, para mim, ela tem muitas músicas nostálgicas que me lembram do passado. Se você pretende começar a ouvir Half Alive, recomendo ouvir primeiro as faixas Still Feel, Aawake at Night e Arrow, para conhecer os tipos diferentes de música que a banda tem. - Robert Fox THE SURFACES Uma banda que eu gosto muito se chama The Surfaces. A banda é do Texas e tem dois membros: uma irmã, Alexa, e um irmão, Collin. O tipo de música é indie pop. Eu gosto da música porque é muito relaxante e bonita. Na minha opinião, quando eu ouço a banda, sinto que estou na praia. Eles são famosos pela música boa! - Ashley Nguyen

Para ver quais outros artistas foram recomendados, acesse a revista online


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THE GREATEST BRAZILAIN ALBUMS FROM THE 60S

POSTER A C TIVITY

BY DANNY ANDERSON MENEZES DA SILVA AND STEFANIE DELLA ROSA The following posters were created by high-school students at the Instituto Federal de São Paulo in Hortolândia, Brazil. Through a combination of art, research, and writing, students chose a Brazilian album from the 1960s to analyze. This project’s main objective was to promote student engagement in topics related to Brazilian musical movements of the ‘60s, such as Tropicália, Jovem Guarda, MPB, and Bossa Nova. All such topics were discussed in art class, while the writing analysis was developed in literature class. Beyond the written review, students were invited to recreate their own interpretation of their album’s cover. The creative outcome exceeded expectations and proved to be a successful portrayal of the students’ talent and engagement. ÁLBUM: É PROIBIDO FUMAR Criar uma nova capa para o álbum “É proibido fumar”, do Roberto Carlos, foi uma experiência interessante porque buscar imagens para a capa que tinha relação com a época nos fez entender e conhecer mais os jovens de antigamente, seus gostos, suas músicas e seus costumes e como pensavam. Das cores vibrantes até a roupa. Ver o resultado final valeu o trabalho. A experiência de escrever a crítica do álbum em uma língua estrangeira, procurando palavras novas e diferentes, nos deu uma perspectiva melhor, nos deixando com mais interesse na língua inglesa.

INTEGRANTES: Emilly Daiane, Jenifer Gomes, Gabrielly Rocha, Tawany Gabrielly, Gabriella de Oliveira To see more about the activities carried out at this Federal Institute in Brazil, follow their Facebook page


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Atentado a um revolucionário

Daniella França

Antes mesmo dele nascer já tínhamos escolhido seu nome. Cuidadosamente, eu e o pai pensamos em algo forte e com grande significado para nós. “Ernesto” foi a escolha perfeita na visão daquela jovem de 21 anos que não fazia muita ideia do que era a maternidade, principalmente a maternidade solo. Mesmo eu tendo estado “junto” com o pai do meu filho por três anos e meio, não posso dizer que contei com ele emocionalmente para cuidar do Ernesto, mesmo quando morávamos juntos. E foi mais ou menos assim que tudo começou. Quando nos separamos meu pequeno ficou comigo. Eu voltei para a casa do meu pai porque seria mais fácil ficar onde eu teria ajuda pra cuidar do meu pequeno. Era uma cidade de interior, custo de vida mais barato, o vovô carinhoso, sempre por perto, e um porto seguro pra eu deixar meu pequeno todas as vezes que precisei viajar a trabalho. Cheguei a ficar um mês e meio longe de casa. Ernesto ficava com meu pai, tendo os melhores cuidados do mundo, numa casinha pequena e muito simples, mas com um quintal de terra, cheio de árvores, onde ele tinha um cantinho de areia pra brincar com seus carrinhos e muito espaço pra andar de bicicleta.

Teoricamente, deveríamos ir à escola para aprender e socializar. A parte do socializar é muito importante para que as crianças entendam normas sociais, tenham noção de espaço coletivo, democracia e várias outras noções que uma educação domiciliar não daria ou daria menos. A parte do aprender é que é o problema. Aprender o que? Todo fim de tarde ia com vovô pra pracinha. Enquanto o vovô batia papo com o tio Luiz e outros conhecidos que chegavam, Ernesto brincava sob araras que passavam voando e gritando por ali para dormir nos buritis da praça. Vez em sempre ia pescar, viajar de caminhão, tomar banho de rio, numa cidade de menos de quatro mil habitantes, em constante e intenso contato com a natureza. Minhas viagens não eram mensais. Eu viajava quando o dinheiro acabava e precisava de mais para as despesas. Recusei muito trabalho pra poder ficar com meu pequeno. Recuso até hoje.

Nos mudamos para o interior do Pará em agosto de 2013. Assumi um cargo na coordenação de um monitoramento ambiental muito importante na cidade de Itaituba, às margens do Rio Tapajós. Eu fui primeiro. Em setembro meu pai levou Ernesto pra mim. Eu já havia esquematizado uma babá para meio período, pois ele ficaria na escola na parte da manhã. Eu trabalhava o dia inteiro mas estava sempre com ele. Eu o levava para o campo sempre quando dava, para procurar sapos, o que ele tanto gosta de fazer. O contato com a natureza não cessou e a saúde dele era de encher os olhos, mas foi nessa época que tive uma amostra de que ser mãe daquela pequena criatura seria como lutar na revolução ao lado de um revolucionário! Já nos primeiros dias na escola, muitas reclamações da professora que dizia: “ele é muito inteligente, muito ativo, mas não quer ficar na sala de aula dele, quer ficar na sala da coleguinha” que era a sobrinha da babá, a qual ele adorava e passava as tardes junto. Isso era um problema sério! Eu também achava, principalmente porque eu não tinha nenhum estudo de pedagogia e nem de maternidade! Me baseava na criação que eu havia recebido, onde filhos não tinham direito de questionar autoridade! Eu conversava com ele mas não adiantava. Ele não entendia o porquê de não poderparticipar da aula com a amiga. E assim fomos indo até que me mudei do Pará... Para continuar lendo a história da Daniella, acesse a versão online da revista


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Cavalo Mangalarga JAMIE SAUERBIER O Mangalarga Marchador é uma raça de cavalo brasileiro, cuja origem remonta ao século XIX. A história desse cavalo lindo começou numa fazenda chamada Campo Alegre, em Minas Gerais. Vários fatores contribuíram ao sucesso desta raça. Em primeiro lugar, Minas Gerais, naquela época, não apenas possuía terras ricas em fontes de ouro, mas também era propício para a criação de animais, principalmente a qualidade de água e abundância de vegetação. Tudo começou na fazenda de Gabriel Francisco Junqueira, cujo título nobiliárquico, Barão de Alfenas, foi dado a ele pelo então rei do Brasil Dom Pedro II. O Barão experimentou com o cruzamento das raças nativas Mineiras e a raça Alter, uma raça portuguesa, notável pela sua docilidade, elegância e sua beleza. A reprodução dessa nova raça, originalmente chamada Junqueira, em homenagem a seu criador, gerou um novo avalo não apenas com todos os temperamentos do Alter, mas também uma nova característica que não havia existido antes, a marcha. A marcha da raça e destacável porque substituiu o trote. Essa nova raça atraiu muita atenção pois era capaz de aguentar

distâncias maiores, enquanto sendo muito mais confortável para os montadores que tinham que fazer caminhos longos. Impressionado com essa nova popularidade, um fazendeiro rico adquiriu alguns cavalos e trouxe para o Império do Brasil no Rio de Janeiro. As pessoas começaram a desejar os cavalos, e em função disso, o fazendeiro as direcionou para a fazenda Junqueira, em Minas Gerais. Quando as pessoas chegaram, eles se referiam aos cavalos com o nome da fazenda no Rio de Janeiro, chamada Mangalarga. Como consequência disso, a raça ganhou o novo nome, Mangalarga Marchador.


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OS BRASIS NO NORDESTE AMERICANO Vírning Moizinho Toca o aviso sonoro para manter os cintos afivelados e as luzes de cabine se acendem. Gentilmente, a tripulação nos informa que é hora de pousar. Como orientado pela chefe de cabine, abro a persiana da janela ao meu lado, e lá está ela, em todo seu esplendor: Nova Iorque sabe impressionar à primeira vista. É verão, a noite tarda em cair, e o crepúsculo emoldura o horizonte. Já passa das oito da noite, os arranha-céus estão iluminados, e entre tantos outros, está o Empire State. Esboço um sorriso de canto de boca.

sozinho nos primeiros dias no meu novo lar. Andrea é Uruguaia, mas vive há muitos anos Por: no Brasil. Já se mudou de país um par de vezes, e sabe quão solitário pode ser. O que nós não sabíamos é que ainda havia muito Brasil para me acolher pela frente.

Minha missão nos Estados Unidos da América é ser embaixador cultural do meu país, mostrar as riquezas e singularidades do meu povo, além de ensinar língua portuguesa para os futuros oficiais do exército americano. Contudo, eu não estou sozinho. Em West Me lembro dos amigos e familiares me Point trabalham outros seis professores de parabenizando por estar aqui. O fascínio português, cada um deles com sua própria deles pelos Estados Unidos não é gratuito. As conexão com o Brasil. proporções impressionam, as cidades te envolvem, os preços seduzem, e as Uns viveram em nosso lindo país por muitos experiências criam memórias duradouras. anos, outros são casados com brasileiros, e Não tardo em sair do avião, e a oficial de imigração americana já me recebe com uma calorosa surpresa: assim que vê meu passaporte, passa a falar em português comigo, dividindo experiências dos quatro anos que passou como intercambista no interior de São Paulo. Nossos Brasis se reconheceram, o idioma em comum nos fez sentir descontraídos, e então demos risadas, falamos da falta que a feijoada faz, e seguimos nossos caminhos. Tenho de sair do aeroporto e chegar até a U.S. Military Academy em West Point, mas não vou só. Andrea, amiga-irmã de Brasília, está no aeroporto à minha espera. Ela não mora em NYC, mas estava lá para me ajudar a encontrar onde morar, e para eu não estar

ainda há aqueles que são filhos de brasileiros. Todos temos algo em comum, entendemos as mesmas referências, compartilhamos gostos musicais, rimos das mesmas piadas e nos impressionamos com as notícias sobre o Brasil que não cessam. As relações entre duas nações podem permear muitas facetas. Comidas, hábitos, similaridades e diferenças, posição geográfica, influência econômica são alguns dos pontos comumente listados quando comparamos países. Contudo, dados, números e quantidades têm pouco valor se não associados ao que têm de mais essencial, as pessoas. O povo de um país é a manifestação mais pura e genuína de uma cultura, e esses mesmos indivíduos se conectam pelo laço do idioma. Compartilhamos ideias, desejos,


necessidades, conhecimento e emoções porque temos o artifício da comunicação. Expressamos nossos pensamentos e reflexões, decodificamos mensagens e registramos nossa história por meio da língua que falamos. Até o vocabulário que usamos identifica traços da nossa personalidade. Meus cadetes (os alunos em uma academia militar) dizem que eu troco de persona quando flutuo de um idioma para outro, perfeitamente natural para um professor de língua estrangeira. O que eles ainda não percebem é que o mesmo acontece com eles. Quando nos expomos a um novo idioma, também aprendemos cultura, história e peculiaridades de outros povos. E como gostam dessa parte! Sempre que temos um momento propício, lá estão os cadetes cheios de perguntas sobre o Brasil e sobre o nosso ponto de vista sobre o mundo. Comentam, debatem, perguntam o porquê e assimilam que temos semelhanças e diferenças. Um pouco do Brasil cresce em cada um deles. Para tornar o nosso processo de aprendizagem mais significativo, West Point me permite viajar com os cadetes para lugares com números relevantes de habitantes falantes da língua portuguesa. Aqui, no nordeste dos Estados Unidos, temos diversas opções. NYC por si só já satisfaria esse quesito, mas queremos sempre ir além, e por isso temos viagens planejadas ao longo do semestre para Danbury-CT, the Ironbound em Newark-NJ, Boston-MA, e para a região de Washington, DC. Cada uma dessas localidades têm sua própria brasilidade, exatamente como é o Brasil, muitos em um. É relativamente fácil identificar as comunidades brasileiras no nordeste dos Estados Unidos, basta observar alguns aspectos: o primeiro deles é a nossa hospita-

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lidade ímpar. Não há um brasileiro que não vá te receber de braços (e coração) abertos, te oferecer um cafezinho, comida (afinal, para quê viver se não for para comer?), e puxar uma cadeira para você sentar, conversar e contar histórias. Adoramos umPor: "causo".

O povo de um país é a manifestação mais pura e genuína de uma cultura, e esses indivíduos se conectam pelo laço do idioma Vê-se a gentileza emanar do sorriso espontâneo. Um olhar minuncioso também encontrará marcas de expressão na testa, pois trabalhamos duro. Mas as marcas do passar do tempo na moldura de um sorriso são prova concreta que, apesar dos problemas, escolhemos a resiliência, a alegria e a boa-vontade. No dia a dia não há problema sem solução, sempre encontramos as mais diversas respostas. Se é inusitado, pode ir atrás, tem dedo nosso. Por vezes postergamos, mas sempre seguimos em frente. O nordeste americano é, de fato, um país à parte. A máxima é válida tanto aqui quanto nos trópicos. Há várias comunidades que, juntas, formam o mais belo tecido cultural. O brasileiro do nordeste tropical é força, é trabalho, é esperança, insistência e persistência. No nordeste dos Estados Unidos, somos a renda, o detalhe que encanta, que compõe e arremata. Os vários Brasis daqui são heterogêneos, independentes mas complementares. Persistem, resistem, e crescem, como todo brasileiro, onde quer que esteja.


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FOTOGRAFIA COMO AUTOCONHECIMENTO:

a elevação da consciência através do contato com o belo

Era metade do ano de 2016. Eu estava em São Paulo para a exposição do artista Tom Barreto e lá conheci a Evy, uma menina que me encorajou para iniciarmos uma conversa. Achei aquela atitude ousada, curiosa e inspiradora. Alguém estava interessado em mim e na minha disfarçada quietude, porque, cá entre nós, muitas vezes os tímidos são os mais inquietos. E naquele momento, eu era o tímido. E também o mais inquieto. Ela parou do meu lado e perguntou qual era a minha. Disse que soube que eu era sagitário e puxou uma conversa sobre temas existenciais e filosóficos. A Evy estava finalizando sua tese de psicologia, relacionando física quântica, psicologia junguiana e a quebra do paradigma científico moderno. O seu trabalho tinha a mesma contrapartida do meu trabalho fotográfico: o afastamento do homem com a natureza e o religar com a essência.Sempre tive, mesmo sem saber, a fotografia como uma grande alicerce do autoconhecimento e da sabedoria. Desde criança, eu já sabia que estamos vivendo uma grande crise global através do afastamento entre homem e natureza, e a arte da fotografia foi o que me salvou desse paradigma e me mostrou o seu poder como forma revolucionária de luta a favor de um novo mundo mais integrativo em potencial. Através da Evy, conheci o livro Profecia Celestina. Uma das frases que mais me impactou foi “Quanto mais beleza vemos, mais evoluímos. Quanto mais evoluímos, mais alto vibramos.". Essa frase me confirmou a relação de evolução através do contato com a beleza. Eu sempre gostei da visão, das cores e das possibilidades de combinações de elementos. Sinto que é fotografando que consigo me aproximar desse infinito e imensurável amor pela criação.Recebi este convite para escrever sobre mim e o meu trabalho algumas horas atrás, e neste momento mesmo estou indo para Minas Gerais me encontrar com a Evy. Ela recebeu um chamado para ir morar lá no alto de uma montanha, hoje tem a Missão Pássaro Estrela de ancoragem da Energia da Nova Terra e trabalha como psicóloga em São Paulo. Toda viagem nos desloca para mais dentro de nós mesmos. E nesse deslocamento interno, eu deixo minha gratidão por esse movimento de criação e sustentação de espaços interativos onde as pessoas podem compartilhar um pouco das suas perspectivas e vivências sobre esse vasto, desafiador e provocativo viver sendo um humano no Planeta Terra hoje.

Angelo Bonini

Siga o trabalho do Angelo:


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Existe uma família tradicional brasileira?

A cultura de criar os filhos para serem eternamente dependentes dos pais

As mães brasileiras, e acredito que de uma forma geral as mães latinas, têm uma forte ligação com seus filhos ao ponto de atrasar o amadurecimento de alguns. Muitas mães que conheço e que conheci na vida têm uma enorme dificuldade de deixar que seus filhos tenham suas próprias experiências e façam suas próprias escolhas. Muitas mulheres pensam que precisam apresentar cada cenário catastrófico para seus filhos no intuito de fazê-los escolher aquilo que elas consideram ser a escolha “certa”. O resultado disso são filhos confusos e ansiosos pois o medo foi incutido neles e nunca a perspectiva de que um erro não necessariamente resulta em uma tragédia de proporções mundiais. Mães superprotetoras criam filhos inseguros de si que no futuro poderão transmitir as mesmas inseguranças aos seus próprios filhos. Minha pergunta é, será que a insegurança da criação solo é o que gera a ansiedade nessas mães ou será apenas um traço inerente às mães Outra situação clássica na vida dos brasileiros em comparação à outras culturas é que, em grande parte, os filhos moram com os pais por um longo tempo podendo até durar a vida toda. Em algumas famílias os pais vêem seus filhos quase como propriedades ao ponto de se importarem excessivamente com a


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profissão que escolhem, quem namoram e sua maneira de conduzirem suas próprias vidas. Alguns filhos saem da casa dos pais para morarem apenas a alguns metros deles, seja no mesmo terreno ou às vezes em uma casa construída em cima da casa dos pais. Alguns filhos saem da casa dos pais para morarem apenas a alguns metros deles, seja no mesmo terreno ou às vezes em uma casa construída em cima da casa dos pais. Esse fenômeno cria comunidades com relações muito próximas causando uma infinidade de problemas, mas há quem pense que essa proximidade com os pais é positiva pois significa uma rede de proteção segura.

A meu ver, família tem um papel muito importante na formação de um indivíduo mas apenas até certo ponto de seu amadurecimento. Depois da adolescência ou às vezes até durante ela, a intensa intervenção na vida de uma pessoa pode gerar tanto revolta quanto uma dependência aguda de uma fonte externa de validação. Seria essa necessidade de estar perto dos seus descendentes um trauma com raízes na nossa história colonial? Como uma mãe do início da história brasileira se relacionava com a sua prole? Qual será o futuro das próximas gerações no Brasil?

POR DAMARIS LEITE


FINAL WORDS

Dear Reader, We hope you liked the fourth issue of Fala Aí. We also hope that you learned a little more about the culture related to the Portuguese world at the University of Georgia and abroad. But now we would like to hear from you. Please, let us know what you thought about this issue. If you have comments or ideas do not hesitate to inform us. You can follow the link below to take a quick survey about this issue and make suggestions for the upcoming ones. And if you feel like writing for our next issue, please send it our way. The same goes for images, if you happen to have pictures or drawings related to the Lusophone world, we will be happy to include them in our next issue. Whatever way you find fit to get in touch with us, we will be delighted to hear from you. Once more, a special thank you to our sponsors:

TCHAU,

FALA AÍ TEAM

ISSN 2689-1506 (online) ISSN 2689-1492 (print)

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