homem-rio
terminal fluvial da cidade de petrolina JULIA VASCONCELOS
Universidade Católica de Pernambuco Arquitetura e Urbanismo
HOMEM-RIO TERMINAL FLUVIAL PARA A CIDADE DE PETROLINA
Recife, PE 2021
apresentação O Trabalho de Graduação I, desenvolvido pela aluna Julia Jammyli Nunes Vasconcelos, sob orientação do Professor Ricardo Jorge Pessoa de Melo como requisito final para obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista, apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo na instituição UNICAP (Universidade Católica de Pernambuco).
Fig.1: Barca fazendo a travessia do rio. Fonte: Agência Criativando.
“Na margem do São Francisco nasceu a beleza E a natureza ela conservou” Jorge de Altinho
SUMÁRIO CAPINTRODUÇÃO 01
1.1 1.2 1.3 1.4
Narrativa Justificativa Objetivos: Geral Específicos Procedimentos metodólogicos
2.1 2.2 2.3
Principios da Permacultura e Bioconstrução Metódos Construtivos Tradicionais Materiais e Tecnologias Sustentáveis
Pág. 27
3.1 3.2 3.3 3.4
centro comunitário camburi Moradas Infantis Canuanã Centro Max Feffer cultura e sustentabilidade TERMINAL MARÍTIMO DE PASSAGEIROS DE FORTALEZA
CAPo território: 04
4.1 4.2 4.3
Apresentando o Local Construindo a Paisagem Analise do território
Pág. 08
CAPconceituação 02 teórica: Pág. 15
caminhando para o abrigo
CAPreferências 03 projetuais
Pág. 42
homem-rio
CAPdiretrizes 05 projetuais
Pág. 57
CAPCONCLUSÃO 06 Pág. 58
CAPREFERÊNCIAS 07 BIBLIOGRÁGICAS Pág. 59
01 INTRODUÇÃO
CAP 01
INTRODUÇÃO
Neste capítulo, será apresentado a proposta do trabalho de graduação, assim como as motivações e necessidades para a realização do projeto. Também, será desenvolvido os parâmetros a serem alcançados, através dos objetivos, e como serão alcançados em sua metodologia aplicada.
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1.1 Narrativa O transporte fluvial é usual e de grande importância no cotidiano de moradores de cidades ribeirinhas, sendo algumas delas Petrolina e Juazeiro, localizadas respectivamente no interior de Pernambuco e da Bahia. O trajeto que conecta as duas cidades, contempla o dia a dia de diversas pessoas da região – principalmente as que fazem uso do transporte público, o trajeto conota grande apelo cultural que à travessia do Rio São Francisco, que é protagonista em diversas histórias populares locais, músicas e poemas, ganhando vida através dessas histórias, tornando-se uma protagonista com identidade própria. A localização estratégica de ambas as cidades fez com que elas se desenvolvessem em meio ao Sertão, o Rio trouxe fartura para àquela região, possibilitando atividades econômicas e de subsistência. Tratar sobre ele vai além de um meio de transporte, é cultural, é um símbolo de resistência à tantas adversidades que já foram enfrentadas por esse povo. Entretanto, o modal recebe pouca atenção das prefeituras locais, as quais não fornecem uma infraestrutura que comporte e abrigue as pessoas que a utilizam em seu dia a dia. Fazendo com que os seus usuários aguardem pela barquinha¹ no sol escaldante - que é característico na região, obrigando a população a buscar refúgio em sombras de árvores na beira do rio, evidenciando assim a carência de um abrigo - assistir vídeo anexado ao QR Code para melhor compreensão do entorno. Desta forma, a proposta a ser desenvolvida neste trabalho, trata-se de um
PE
BRASIL
BA
PE
BA
PETROLINA
JUAZEIRO
Fig.2: Diagrama de Situação. Fonte: A autora (2021).
¹ Como os barcos que realizam a travessia são popularmente chamados pela população local. 09
abrigo que supra essa necessidade, assim como uma intervenção em seu entrono imediato, buscando enfrentar os desafios climáticos e naturais, seguindo os princípios da sustentabilidade e seus desdobramentos, tendo como principal premissa a preservação do Rio São Francisco. Buscando estratégias em uma arquitetura alternativas e autônomas, onde o seu abastecimento ocorra de maneira independente da infraestrutura da cidade, contribuindo para a preservação do ecossistema local. O abrigo, além de sua função, pode ser palco para contemplação da paisagem – que é um dos cartões postais da cidade –, e diversas outras atividades que possam vir a ser performados pela população no equipamento proposto. Para viabilizar essa proposta, faz-se necessário elucidar o contexto local e climático das cidades que sofrerão a intervenção, assim como apresentar os itens culturais que irão permear o trabalho. Ante o exposto sobre o sítio, será apresentado tecnologias estudadas e analisadas que atendam à proposta dentro dos nichos teóricos investigados, sendo eles, a Permacultura, a Bioconstrução e a Arquitetura Vernacular. A seguinte pesquisa se desenvolverá em sete capítulos. Primeiramente será realizado a introdução à temática apresentada, dando um panorama geral do que será contemplado nos capítulos que estão por vir. De forma consecutiva, será feito uma apresentação mais aprofundada no local de intervenção, e depois será apresentado os teóricos estudados e analisados para a construção deste volume, seguida por uma análise de estudos de caso que antecederão as diretrizes e o desenvolvimento do projeto em si.
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1.2 JUSTIFICATIVA Existe uma forte relação entre o desenvolvimento das Cidades e a presença de fontes d’águas, essa relação permeia todas as atividades que desencadearam o crescimento populacional e econômico das cidades ribeirinhas. Com Petrolina e Juazeiro, respectivamente no interior de Pernambuco e da Bahia, essa relação não poderia ser diferente. O Rio São Francisco é um fator urbanizador dessas cidades, é um ícone da região de grande valor cultural dessa gente que cresceu ao seu redor, assim como a autora do texto - nascida em Petrolina. Desta forma, a travessia do Rio São Francisco sempre foi uma atividade rotineira entre a população, tendo grande relevância como um modal e como uma experiencia cultural, que se relaciona diretamente com os pescadores que desbravavam o rio com suas carrancas² em suas embarcações. Tendo em vista a sua relevância, se faz necessário a proposta de um equipamento Arquitetônico que valorize e dê subsidio para um melhor funcionamento das barcas que navegam no Rio São Francisco, respeitando a sua diversidade e ecossistema. Em contrapartida, a busca pela preservação desse ecossistema encontra-se em um conflito direto entre a necessidade humana e a natureza, “Os seres humanos são considerados racionais e por conta disso, acreditam ter direitos sobre os outros seres e tratando os recursos naturais como infinitos” (CANEPA, 2007; LEITE, 2011). Em razão desse comportamento e a ambi-
ção do ser humano, a sede pelo capital, o desenvolvimento a qualquer custo, criou um cenário caótico e de grandes adversidades para a natureza. Afinal, o conceito de Desenvolvimento Sustentável, segundo a Agenda 2030 da ONU é “O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”. Somente em meados dos anos 90 que houve a disseminação de conceitos sustentabilidade aliados a arquitetura e a construção civil, mesmo sendo um segmento que intensifica diretamente diversas problemáticas ambientais, como o desmatamento, a poluição, a aquecimento global, geração de resíduos e tantos outros. Evidenciando-se a necessidade de conciliar a ambas as necessidades, a de construir e a de preservação da natureza e os seus recursos. É de extrema importância a disseminação e realização de estudos que contemplem a Arquitetura, já que é um dos fatores responsáveis para a conservação da paisagem natural. Buscando alternativas sustentáveis, a partir de investigações de temáticas como a permacultura, bioconstrução, arquitetura vernacular e tantos outros recursos que buscam solucionar e apresentar alternativas mais próximas de alcançar esse ideal.
² Figura confeccionada em uma escultura feita de madeira ou barro, onde apresenta um rosco com características humanas e animais, que é fortemente difundida no artesanato local, utilizada nas proas de embarcações como item de proteção. 11
1.3 objetivos 1.3.1 objetivo geral Propor um abrigo que contemple a população que utiliza o transporte fluvial nas cidades de Petrolina e Juazeiro, no Vale do são Francisco, respeitando o seu ecossistema e utilizando-se de princípios da sustentabilidade.
1.3.2 objetivos específicos Investigar os princípios da Bioconstrução e Métodos Construtivos Tradicionais, assim como sistemas de vedações e tecnologias sustentáveis aplicáveis ao projeto; Analisar o contexto local existente, apresentando o local e identificando os itens que compõe a sua paisagem; Analisar o clima local e estudar técnicas para um sistema de proteção climática; Desenvolver uma estrutura de abrigo de baixo impacto para os terminais fluviais de Petrolina e Juazeiro;
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1.4 procedimentos metodológicos A abordagem utilizada para realização do presente trabalho conta com algumas etapas que serão abordadas no decorrer de seu desenvolvimento, na seguinte ordem: 1- Construção da conceituação teórica, focando nos princípios da sustentabilidade, a partir da pesquisa e leitura do material bibliográfico. 2- Análise do ponto de vista urbano e paisagístico, a partir de fotos, visistas a área de intervenção e documentações coletadas. 3- Conhecimento da área de intervenção e seus aspectos legislativos, como Plano diretor, Lei do Parcelamento do Solo, Código Municipal do Meio Ambinete. 4- Entender os princípios da Bioconstrução no aspecto de Petrolina e Juazeiro, a luz das técnicas de conhecimento popular utilizadas na região. 5- Estudo de Técnicas construtivas e materiais de vedações locais e biosustentáveis, buscando exemplares construtivos locais. 6- Análise de Estudos de caso, por meio de projetos publicados em sites, livros e revistas especializadas,que contemplam a premissa da Sustentabilidade. 7- Elaboração das Diretrizes Projetuais. 8- Desenvolvimento Projetual do Abrigo. O processo de pesquisa inicia com a construção da conceituação teórica, com enfoque nos princípios da sustentabilidade, feita a partir da pesquisa e análise bibliográfica. A partir disso, será realiza-
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do a apresentação do local, englobando alguns pontos de vistas de analise como o geográfico, o climático, o cultural, assim como busca compreender os seus aspectos legislativos. Após a coleta e análise dos matérias previamente citados, entramos em uma segunda etapa do trabalho, onde buscamos compreender a aplicação pratica dos princípios teóricos abordados no sítio de estudo. Nesta etapa, também buscará se aprofundar nas técnicas construtivas, assim como materiais de vedações que possam ser aplicados ao projeto, em seguida é feita uma análise de estudos de caso, os quais contenham soluções que possam agregar ao projeto que será concebido no final deste trabalho. Considerando todas as etapas prévias concluídas, será adotado diretrizes projetuais que espelham os conhecimentos obtidos no processo, e que serviram de princípios norteadores projetuais. Somente então, a concepção espacial do projeto do Terminal Fluvial das cidades de Petrolina e Juazeiro, começa a se estruturar.
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02
CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA: CAMINHANDO PARA O ABRIGO
CAP 02
conceituação teórica
Neste capítulo, será abordado o embasamento teórico que norteará o desenvolvimento do projeto. Como já dito anteriormente, o entendimento da Permacultura³, Bioconstrução⁴ e o conhecimento do uso das técnicas e dos materiais da arquitetura vernacular regional assumirão protagonismo no desenvolvimento arquitetônico do edifício. Destrinchado os seus conceitos a partir de uma análise crítica, com a finalidade de compreende-los e aplica-los ao projeto como objetivo final.
³ É a concepção de princípios e sistemas de gestão e criação ecológicos, a fim de usufruir da Terra em harmonia e conexão com a natureza. ⁴ É o uso de técnicas construtivas e de materiais locais no ato de construir, visando uma edificação de baixo impacto local. 15
2.1 PRINCIPIOS DA PERMACULTURA E BIOCONSTRUÇÃO Na história da arquitetura, a relação do edifício ou da cidade com a natureza sempre assumiu destaque no seu desenvolvimento. As formas da natureza sempre influenciaram o desenvolvimento das artes, em geral, e da arquitetura, em particular. A partir da revolução industrial e dos sus impactos na qualidade de vida das cidades, essa relação sai do campo eminentemente artístico e formal e adentra ao campo da sociologia urbana e da política. Essa discussão está presente desde as propostas urbanas e arquitetônicas do século XIX, como as cidades jardins inglesa, e culmina com as propostas modernistas do início do século XX. Entre meados das décadas de 60 e 70, os debates a cerca da sustentabilidade eram efevercentes e com eles surgirá os primeiros movimentos ambientalistas. Uma públicação relevante para essa discussão forá o relatório “Limites do Crescimento” (Meadows, 1972), fazendo uma conexão entre a explosão demográfica e o crescente consumo de recursos naturais finitos. Gerando grande alarte mundial, resultando na primeira encontro da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutirem as questões ambientais, na conferência de Estocolmo. Dai em diante, ocorreram diversos debates internacionais visando a busca pela sustentabilidade em suas diversas esferas, seus avanços e pesquisas foram aumentando gradativamente. Também nesse periodo, em um momento pós-guerra muitas coisas estavam sendo revistas, caracterizando-se pelo movimento Contracultural, que nada mais era que uma "cultura minoritária caracterizada por um conjunto de valores, normas e padrões de comportamento que contradizem diretamente os da sociedade dominante" (Outhwaite & Bottomore, 1996:134).
A Permacultura (advinda do inglês “Permanent Agriculture”), surge nesse cenário, criada por Bill Mollison e David Holmegren, o objetivo inicial era o estabelecimento de principios que auxiliassem a gerar uma agricultura permanete, onde o cultivo não entrasse em conflito com os ecossistemas naturais. Todavia, passa a incluir diversos outros aspectos de produção, ultrapassando a compreensão exclusiva da ecologia, atualmente é compreendida como uma ciência holistica ou uma doutrina a ser seguida, que Princípios e estratégias gerais de sustentabilidade busca acima Aspectos de tudo o ato de zelar e preservar a nossa permanência na Terra. A sua ética está calcada nos seguintes aspectos:
Ambiental
Manutenção da integridade ecológica por meio da prevenção 1- Cuidar da terra. das várias formas de poluição, de prudência na utilização dos 2-recursos Cuidar das pessoas. naturais, da preservação da diversidade da vida e do respeito à capacidade de carga dos ecossistemas. 3- Cuidar do Futuro (Dixon, 2014; Harland, 2018; McKenzie e Lemos, 2008) incentivando Limites ao crescimento e ao consumo (Mollison, 1988) de e a Partilha justa (Holmgren, 2002). Viabilização uma maior equidade de riquezas e de
Social
oportunidades, combatendo-se as práticas de exclusão, discriminação e reprodução da pobreza e respeitando-se a diversidade em todas as suas formas de expressão.
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Fig.3: Principios da Permacultura (editada pela autora). Fonte: https://permacultura.ufsc.br/o-que-e-permacultura/
A permacultura, tem como um de seus principios as “Soluções lentas, pequenas, mas seguras” Holmegren(2004), pregando a sua manifestações em uma escala micro, acreditando na mudança de comportamento a partir do exemplo individual, que por consequência atingirá aquele ciclo de pessoas e assim por diante. A ideia por detrás dos princípios da permacultura é que um conjunto de princípios gerais pode ser derivado do estudo do mundo natural e das sociedades pré-industriais sustentáveis, podendo ser aplicáveis universalmente para acelerar o desenvolvimento pós-industrial do uso sustentável da terra e dos recursos. O processo de satisfazer as necessidades das pessoas dentro de certos limites ecológicos requer uma revolução cultural. Inevitavelmente, semelhante revolução está cheia de confusões, caminhos errados, riscos e ineficiências. Ao que parece, resta pouco tempo para lograr esta revolução. No contexto histórico atual, resulta atrativa a ideia de um simples conjunto de princípios-guia que tenham aplicação ampla e, inclusive, universal (HOLMGREN, 2004, p. 42).
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Uma das críticas à Permacultura está calcada na falsa impressão acerca da crise ecológica atual, dando a entender que os problemas possam ser resolvidos a partir de ações individuais e mudanças de valores, reforçando a visão assistencialista e atribuindo uma responsabilidade Estatal e Econômica à moral do indivíduo. Quando na verdade, o exemplo individual não é capaz de alcançar uma nova sociedade, assim como uma retorica reformista, a ideia de que “de grão em grão, a galinha enche o papo” é um tanto utópica. Holmegren, sintetiza suas estratégias da seguinte forma: 1) A competição e a luta pela existência. 2) A adaptação e a diversificação de nichos ambientais. 3) A colaboração, a cooperação e a ajuda mútua. 4) As transformações ambientais. 5) As organizações espaciais. 6) As ordenações temporais. Isto é de fundamental interesse no caso da permacultura, afinal de contas, a combinação destas ações configura a base na qual se estrutura qualquer modo de produção.
Uma das premissas do permacultor é maximizar a produtividade, obtendo o mínimo de desperdício em sua produção, que também compreende o seu conceito de design, leva em consideração a relação com diferentes elementos que caracterizam a natureza, como: os animais, as plantas, as construções e sua infraestrutura -esse último, normalmente é calcado na Bioconstrução. Em Bioconstrução, o prefixo “Bio”, é um elemento que denota a presença de vida, construir respeitando a vida das mais diversas formas, tendo em mente a edificação como um organismo vivo, o termo “Bioarquitetura” foi criado por Johan Van Legen (autor do livro “Manual do Arquiteto Descalço”), a partir da associação do termo: Bioarte. Se caracteriza como uma linha de sistemas construtivos, normalmente de pequena a média escala devido as possíveis limitações estruturais dos materiais, é calcada nas formas vernaculares de se habitar o espaço dentro dos conhecimentos e tecnologias atuais. Tem uma forte relação com a Permacultura, sendo conceitos complementares para alcançar um estilo de vida dentro dos parâmetros ecológicos. Os movimentos, dispõe de ferramentas para garantir o desenvolvimento sem comprometer às necessidades das gerações futuras, como atesta Brundtland(1987) em sua definição de desenvolvimento sustentável. A observação da natureza e seus sistemas naturais dentro da própria paisagem, de forma que possam ser aplicados nos métodos construtivos, que são resgatados da tradição vernacular, com o intuito de reduzir o impacto ambiental ao mínimo possível. Dentro da Bioconstrução, existe uma preocupação e valorização da utilização dos materiais e saber fazer local, a leitura e integração com o sítio é de extrema importância.
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Existe a preocupação de que os materiais, que virão a ser aplicados nas construções, tenham uma procedência limpa. Os naturais, que são amplamente explorados, como: madeira, bambu, pedras, argila, capim seco, fibras secas em geral, composições de solo, entre outros. Assim como os materiais industriais, provenientes de reuso da construção civil, assim como materiais recicláveis. Para garantir o baixo impacto da construção, além das estratégias previamente citadas, também se faz a adoção de sistemas de infraestrutura independentes de abastecimentos d’água, de energia e de saneamentos básicos. Através da ênfase no uso de recursos naturais locais, como por exemplo, a captação de chuvas, aproveitamento das águas cinzas e de técnicas de compostagem. Também, é comum que haja a participação efetiva do futuro morador ou usuários – a depender do objeto final, na construção. Alguns dos princípios orientadores afins de obter-se uma construção sustentável são definidas por Colombo (2004), os quais também serão utilizados na conceção projetual do produto final desse trabalho. Menor é melhor – Otimizar espaços, de modo que os recursos na construção e na operação (uso) sejam mantidos a um nível mínimo, com o objetivo maior de reduzir a pegada 1 total do edifício e usar os espaços mais eficientemente. Uso máximo de recursos – Otimizar o uso de material, no sentido de redução Independentemente do tipo de material que se use, usando menos, menor será o impacto. Construir elementos que possibilitem e facilitem a reciclagem dos resíduos. Função múltipla para os elementos – Aproveitar o máximo de funções possíveis que cada elemento oferece. Considerar a Natureza como um modelo (“o resíduo de um processo é recurso de outro”, as formas da natureza não são lineares) Integração com o meio – Respeitar as características culturais e sociais da população. Eficiência em consumo e aproveitamento de energia e água. Vida útil longa e de baixa manutenção – Quanto mais longa a duração de um edifício, mais longo é o período de tempo sobre o qual podem ser amortizados seus impactos ambientais. Reutilização (reuso e adaptabilidade futuras) – Edifícios duráveis também requerem possibilidades de modificações para dar lugar a usos diferentes do originalmente projetado. Edifícios saudáveis – construir edifícios que sejam favoráveis à saúde dos seus ocupantes. 19
É desejável, a integração entre todas etapas e processos, sempre respeitando e mantendo a harmonia com meio ambiente e a sua paisagem, aderindo à máxima do Chefe da tribo indígena Suquamish do estado de Washington, “o homem não tece a teia da vida: é antes um dos seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio”. Vale salientar, que nos dias atuais é quase imprescindível a reflexão acerca das formas de consumo dos recursos naturais. De um modo geral, a busca por práticas e estilos de vida mais sustentáveis e harmônicos com o meio ambiente, tem uma adesão crescente entre a população mundial, obrigando o mercado e grandes industrias a se adaptarem para atender essa nova demanda. Tanto a Permacultura quanto a Bioconstrução, são movimentos e práticas idealizadas para fornecer ferramentas que auxiliem nessa mudança constante e efervescente na sociedade, fazendo com que continuem sendo temas recorrentes e que permanecerão avançando e se aprimorando ao longo do tempo.
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2.2 MÉTODOS CONSTRUTIVOS TRADICIONAIS O avanço tecnologico na construção civil em seus materiais e tecnologias, advindas do setor industrial no périodo pós Segunda Guerra Mundial e da crescente exploração dos combustíveis fosseis, foram fatores fundamentais no processo de transição das tecnicas construtivas. As tecnicas tradicionais e populares passaram a ser consideradas rudimentares em deterimento do crescente uso dos materiais industriais, entre eles, o concreto e o aço. A reprodução em massa dentros dos moldes industriais, assim como a grande influência do sistema capitalista, resultaram em percas consideráveis para a arquitetura. Com isso, surge uma nova forma de projetar, por vezes desconsiderando itens norteadores de uma boa arquitetura, como: o conforto termico; a iluminação natural; e o conforto acustico. Tais fundamentos, foram perdendo espaço para o capital dentro do setor da construção civil, criando-se um modelo, que muitas vezes, visa o lucro em deterimento da qualidade arquitetônica. Ao mesmo tempo que, tais materiais proporcionaram novos horizontes para a arquitetura, resultou em cada vez mais um afastamento das técnincas construtivas vernaculares, que foram entrando em desuso ao longo do tempo, como por exemplo: a taipa de pilão; o bambu; a pedra; o pau-a-pique; a madeira; a fibra vegetal; o tijolo de adobe; entre outros. Com a busca em obter construções com baixo impacto ambiental, fez-se necessário o resgate dessas técnicas - atráves de diversas pesquisas cientificas.
Fig.4: Sistema construtivo com blocos de concreto e aço. Fonte: https://entendaantes.com.br/sistemas-construtivos/
Fig.5: Sistema construtivo tradicional, pau-a-pique. Fonte: https://oregionalonline.com.br/municipios/como-funciona-tecnica-construtiva-pau-a-pique/
Segundo Santoro e Penteado (2009), há 10.000 anos, a humanidade utilizava os materiais naturais ao seu alcance para construir habitações, somente nos últimos 100 anos começaram a substituir por materiais industriais. Em razão disso, visando o cenário atual onde passamos a olhar para o progresso sem nós questionar ou enxergar o caos que é provocado em seu alcance, temos muito com o que aprender com tais saberes.
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Esses conhecimentos foram se consolidando nos mais simples moldes, através da necessidade de habitar, onde o capital era escasso, na casa de um pescador, na oca do Índio, na casa do pequeno agricultor, nas palafitas, entre tantos outros. Exemplos de grande relevância na atualidade, cada qual com seus conhecimentos e especificidades, que trazem diversas estratégias para contornar as adversidades do meio em que se inserem. "O uso de certas técnicas de execução e materiais próprios está intrinsecamente ligado ao meio onde a construção está inserida. Será o ambiente que determinará, em alguns casos, se a casa será perene ou temporária, será abrigo ou moradia, terá um nível de acabamento mais apurado ou não, explorará certo material ao seu extremo ou não. Será o meio que determinará o tamanho e as possibilidades construtivas, influenciará o morador a conservar a casa ou não e durante quanto tempo, determinará sua localização em relação ao ambiente e seus recursos. Desse modo a natureza dita as regras de existência e convívio, seja este simbiôntico ou não, o que é extraordinário."(LIMA, 2007 p.13)
Dessa forma, as praticas vernaculares, calcadas em particulariedades regionais, tratam-se de um saber local fazendo o uso de materiais e demais recursos da região. Todavia, atualmente essas técnincas construtivas ainda padecem pela carencia de mão de obra especializada, em razão da pequena quantidade de pessoas qualificadas para atuar na área, dificultando a maior disseminação desses metódos construtivos. Reforçando a ideia de um saber restrito à uma pequena parcela da sociedade, que ainda conseguem mante-los vivos entre si, como salientado por Holmegren (2007), a pessoas comuns e em consonância com fontes tradicionais de sabedoria e bom senso. Em contrapartida, existem diversas iniciativas e organizações, como o TIBÁ (Instituto de Tecnologias Intuitivas e Bio-Arquitetura) - fundado por Johan Van Legen em 1987, que disseminam os conhecimentos dessas tecnicas construtivas vernaculares, através de cursos vivenciais através de suas aplicações práticas.
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2.3 MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS O conceito de sustentabilidade dentro do mercado da construção civil surge somente em meados dos anos 90, a priori, uma edificação sustentável, tinha como objetivo alcançar o baixo impacto ambiental e obter a eficiência energética, alcançados através de tecnologias de alto custo e investimentos privados. Essas estratégias foram amplamente utilizadas na arquitetura High Tec - que compreendia grandes expoentes como Norman Foster, Renzo Piano e Richard Rogers, teve como maior parte de sua produção grandes edifícios coorporativos. Entretanto, esse modelo de edificação sustentável que foi disseminado em 1994 na Agenda 21, era inviável no cenário dos países em desenvolvimento e periféricos, onde há necessidades básicas em evidência, resultando em uma segunda conferencia em 1998, a Agenda 21: para construção sustentável nos países em Desenvolvimento, onde o conceito abrange outras esferas como a social, econômica, política e cultural, estas passam a ser indissociáveis do conceito de sustentabilidade. Tais aspectos foram sintetizados por Silva e Shimbo (2004 apud Yuba, 2005), desenvolvendo e correlacionando as suas dimensões como parte de um todo, assim, idealizando o que é possível alcançar em suas respectivas partes dentro da sustentabilidade, como ilustrado na tabela abaixo.
Aspectos
Princípios e estratégias gerais de sustentabilidade Manutenção da integridade ecológica por meio da prevenção
Ambiental
das várias formas de poluição, de prudência na utilização dos recursos naturais, da preservação da diversidade da vida e do respeito à capacidade de carga dos ecossistemas. Viabilização de uma maior equidade de riquezas e de
Social
oportunidades, combatendo-se as práticas de exclusão, discriminação e reprodução da pobreza e respeitando-se a diversidade em todas as suas formas de expressão. Realização
Econômico
do
potencial
econômico
que
contemple
prioritariamente a distribuição de riqueza e renda associada a uma redução das externalidades socioambientais, buscandose resultados macrossociais positivos. Criação de mecanismos que incrementem a participação da sociedade nas tomadas de decisões, reconhecendo e
Político
respeitando os direitos de todos, superando as práticas e
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Econômico
prioritariamente a distribuição de riqueza e renda associada a uma redução das externalidades socioambientais, buscandose resultados macrossociais positivos. Criação de mecanismos que incrementem a participação da sociedade nas tomadas de decisões, reconhecendo e
Político
respeitando os direitos de todos, superando as práticas e políticas de exclusão e que promovam o desenvolvimento da cidadania ativa. Promoção da diversidade e identidade cultural em todas as suas formas de expressão e representação, especialmente
Cultural
daquelas que identifiquem as raízes endógenas, propiciando também a conservação do patrimônio urbanístico, paisagístico e ambiental, que referenciem a história e a memória das comunidades. Quadro 1. Princípios e estratégias gerais de sustentabilidade. Fonte: Silva e Shimbo apud Yuba (2005, p.18)
A sustentabilidade, também pode ser alcançada no momento da concepção arquitetônica independente das tecnologias aplicadas ao projeto, mas sim nos recursos arquitetônicos, como a implantação da edificação, estudo de suas aberturas, aumento a eficiência e aproveitamento energético das edificações, caracterizando uma boa arquitetura, como salienta Serra apud Nakamura (2006), “há muito que pode ser feito na prancheta do arquiteto para melhorar a relação das cidades com o meio ambiente”. Assim como compreende as esferas mais primordiais do ato de projetar, desde o conhecimento dos materiais que está sendo especificado, desde a sua fabricação até a chegada na obra. Até o consumo de manutenção e do funcionamento, esgoto, abastecimento de água e elétrico, que podem ser concebidas de maneira autônoma na edificação, de forma que independa dos sistemas básicos urbanos compreendidos nestes setores. Os métodos construtivos usuais na atualidade, se caracterizam por uma parcela significativa no setor econômico, a construção civil respondeu por 6,2% do PIB do Brasil em 2017, assim como 34% do total das indústrias brasileiras. As empresas cimentícias, siderúrgica, entre outras movimentam um setor relevante da economia, mas é importante frisar que o processo construtivo destes materiais acarreta consigo etapas de grande gasto energético em sua produção, sendo insustentável, e geram lucro a grandes corporativas. Ao optar pelo produtor local, além de ativar a economia onde se está atuando, é possível ter maior confiabilidade na procedência no produto do que um pré-fabricado. O uso dos materiais industrializados que são utilizados em ampla escala sem se quer questionar, o consumo médio do cimento no Brasil foi de 205kg/habitante em 2005. Seus danos foram frisados na Agenda 21 para construção sustentável em países em desenvolvimento:
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O ponto mais simples para começar a avaliar a indústria da construção é observar o seu consumo de energia e emissões de gases geradores do efeito estufa. Os maiores culpados em termos de mudanças climáticas são os materiais que formam a base da construção moderna - concreto e aço. (...) A produção do cimento é, depois da queima de combustíveis fósseis, o maior contribuinte antropogênico de emissões de gases geradores do efeito estufa. (CIB, 2002, p.13-14)
Assim, a Permacultura, a Bioconstrução e as técnicas construtivas vernaculares, nos atentam aos benefícios do resgate dos materiais provenientes da natureza, nos diversos aspectos compreendidos pela sustentabilidade. Vale ressaltar, que cada material tem seus benefícios e limitações, que devem ser analisados previamente a sua aplicação de maneira estratégica, para obter o resultado desejado. Entre os materiais utilizados nas técnicas construtivas, alguns deles são: Adobe – O tijolo de adobe é feito a partir de uma mistura de barro, palha e água, que é moldado em formato de bloco, desenformado e seco naturalmente durante alguns dias ao sol. É uma tecnica com uma boa durabilidade e ecologico, podendo ser reutilizado, já que o barro não é cozido, todavia também não é recomendado para edificações com mais de um pavimento. Taipa de pilão – Conhecida como construção em terra pisada, primeiramente é realizado uma fundação para isolar a umidade, partindo para a seleção da terra, segundamente a montagem das formas e por ultimo a sua compactação. Se carcteriza como uma técnica milenar amplamente utilizada, de origem latina, com diversas vantagens e desvantagens, assim como a tecnica de pau a pique tem limitações quanto a sua verticalização. Pau a pique – Consiste inicialmente no entrelaçamento de madeiras ou bambu verticais, amarrados entre si com cipó ou utilizando parafusos, para serem fixados perpendicularmente sobre a fundação, segundamente, na aplicação do barro como vedação. A técnica foi criada pelos árabes, difundida no Brasil no periodo colonial, de simples e facil aplicação, entretanto só é recomendada para edificações térreas e de pequeno porte, e está sujeita a maior influencia aos inteperes. Bambu – Existem diversos fatores que implicam em sua resistência mecânica, como sua idade e a sua espécie, tem como caracteristica alta resistência, estabilidade e certa flexibilidade, possibiltando diversas escalas de construções, um fator a ser ressaltado, é a necessidade de uma base que o isole do contato direto com o solo, evitando a umidade. COB – É uma técnica de terra, composto por uma mistura de argila, areia e palha, um material similar ao adobe. Tem como caracteristica grande plasticidade - permitindo a realização de formas escultoricas – podendo ser utilizada de diversas maneiras além de vedações, sua aplicação consiste na moldagem em formatos de bolas, que serão assentados uns sobre as outras. 25
Partindo da premissa da sustentabilidade, a escolha do um material deve ser feito de acordo com a abundância e oferta no ambiente em que se está atuando. Logo, é importante destacar a terra crua como material construtivo, além de inúmeros benefícios - como por exemplo, ser um excelente regulador térmico - está presente em maior parte das localidades, e tem uma grande variedade de aplicação: Adobe; Superadobe; Taipa de Pilão; e Pau a pique. Nesse aspecto, tem-se como intensão projetual utilizar-se de materiais em abundância nos arreadores. Um dos materiais que, possivelmente, seja amplamente utilizado é o Bambu, que permitirá a construção de grandes e leves estruturas, com grandes cobertas. Além do recurso da materialidade, temos as tecnologias sustentáveis que podem vir a ser incorporada no projeto, elas estão associadas a funções de abastecimento e gestão dos resíduos produzidos, de extrema importância para o atenuar o impacto naquele ecossistema. O reuso da água, até há alguns anos tido como opção exótica, é hoje uma alternativa que não pode ser ignorada, notando-se distinção cada vez menor entre técnicas de tratamento de água versus técnicas de tratamento de esgoto.” (SANTOS, Hilton. MANCUSO, Pedro, 2003, p.121).
Através das tecnologias estratégias a serem aplicadas no produto final, afim de proporcionar maior autonomia a edificação, algumas delas são: • • • • •
A utilização de fontes de energias limpas; O reaproveitamento das águas da chuva; A reutilização das águas cinzas; Uso de técnicas de compostagem no descarte do lixo; O sistema do sanitário seco;
No contexto Brasileiro, a disseminação de práticas sustentáveis teve como principal liderança – ao contrário de outros países - a iniciativa privada, o que implicando na dificuldade de adesão e menor alcance da população. Apesar de existirem algumas iniciativas governamentais, a discrepância entre as realidades da população brasileira e a estratificação social, onde se enfrenta necessidades básicas ser sustentável não é a principal prioridade. Resultando em um processo de transição lento e gradual do perfil de consumo, que reforça a importante da sustentabilidade andar em paralelo com as demais esferas citadas anteriormente.
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03 REFERÊNCIAS PROJETUAIS
CAP 03
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Neste capítulo irá se discorrer sobre possíveis referencias afim de contribuir em seus diversos aspectos na concepção do projeto, que se tem como objetivo final deste trabalho.
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3.1 CENTRO COMUNITÁRIO CAMBURI Localização: Camburi, Ubatuba, São Paulo. Arquitetos: CRU! Architects Área: 175m² Ano: 2018
Fig.6: Foto externa da cozinha. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/906019/centro-comunitario-camburi-cru-architects?ad_source=search&ad_medium=search_result_all
O projeto do centro comunitário é locado na região litorânea de Ubatuba, São Paulo, fica em uma área dentro da Mata Atlântica – o bioma mais devastado no Brasil. Além desse condicionante, os habitantes nativos sofrem com o processo de gentrificação devido ao grande interesse do setor empresarial, em razão disso fez-se necessários medidas governamentais para garantir a subsistência dessa população e da floresta, criando parques de preservação, os quais dentre eles está o Parque Estadual da Serra do Mar, onde está situado o centro comunitário. A mudança de habitat e as condições de preservação, afetam diretamente nas atividades econômicas e de subsistência dos nativos remanescentes, restringindo-as, “Há 150 anos quilombolas e caiçaras, misturados em uma comunidade homogênea, seguem uma vida tradicional baseada na agricultura, caça e pesca” (CRU!Architects, 2020).
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Fig.7: Pátio Interno. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/906019/centro-comunitario-camburi-cru-architects?ad_source=search&ad_medium=search_result_all
O centro realizado em parceria com a ONG Bamboostic, visa atender as necessidades da comunidade local, amparando-a e a incluindo-a em todo o processo, desde a resolução do programa até a construção. Em paralelo a isso, aconteceu a capacitação dos locais nas técnicas construtivas utilizadas, possibilitando uma nova fonte de renda, cumprindo além da sua função social.
Fig.8: Circulação Externa. Fig. 9: Circulação Interna Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/906019/centro-comunitario-camburi-cru-architects?ad_source=search&ad_medium=search_result_all
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Fig.10: Detalhe encaixe em Bambu Fig. 11: Foto interna da Cozinha Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/906019/centro-comunitario-camburi-cru-architects?ad_source=search&ad_medium=search_result_all
Além disso, a adoção de estratégias para a inserção do edifício na paisagem, buscando o menor impacto ambiental utilizou-se do bambu, taipa, adobe e garrafas pet em sua construção. Vale ainda comentar a respeito da implantação que segue a melhor orientação de acordo com os principais ventos. Evitou-se a utilização de paredes perpendiculares que bloqueassem o fluxo dos ventos e a elevação da coberta para facilitar a exaustão, conferindo uma ótima eficiência energética. Também se utilizou um reforço estrutural com contraventos nas tesouras, afim de proteger a edificação contra a ação do vento, sendo aspectos que servirão para se referenciar.
Fig.13: Isométrica com detalhe construtivo.
Fig.12: Corte do Projeto Centro Camburi. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/906019/centro-comunitario-camburi-cru-architects?ad_source=search&ad_medium=search_result_all
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3.2 MORADIAS INFANTIS – FUNDAÇÃO BRADESCO Localização: Formoso do Araguaia, Tocantins. Arquitetos: Aleph Zero, Rosenbaum Área: 23344m² Ano: 2017
Fig.14: Perspectiva externa do projeto. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero
O projeto trata-se de uma escola com internato, localizada na Fazenda Canuanã, com atendendo ao público de 800 alunos entre 7 e 18 anos. Tem como principal objetivo criar um ambiente que remetendo ao modelo cultural e familiar dos alunos, fazendo-se necessário inclusão delas durante o processo, o espaço se divide em duas vilas que são divididas por pátios que agregam um paisagismo atrativo.
Fig.15: Planta Pavimento Térreo. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero
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Fig.16: Pátio. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero
Em sua arquitetura existe grande influência da cultura indígena local que vem a ser traduzida no projeto, assim como as diversidades de seu contexto, como o encontro entre diferentes biomas. A imensidão do cerrado, a infinitude do céu e os saberes populares. É o continuo, o vasto e uma tênue linha imaginária ao fundo que acolhem a jornada e os saberes dos brasileiros residentes na região central do país. A arquitetura lá proposta não poderia ser distinta de tal conformação. É a amplitude que nos toca aliada à beleza do povo que lá habita (Aleph Zero, Rosenbaum, 2020).
Fig.17: Pátio. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero
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Utilizou-se uma grande coberta independente como estratégia para a integração dos volumes, intercalados com pátios entre as edificações e divisões espaciais, podendo ser uma estratégia a ser adotada. Realiza a apropriação da materialidade com maestria, realizando uma arquitetura de excelência, reconhecida e premiada internacionalmente. Fazendo o uso de tijolos de adobe como ponte para a cultura local e o uso da Madeira Laminada Colada (MCL), proveniente de áreas florestais em recuperação, que possibilita peças em grandes dimensões e simplificou a montagem do projeto e se apresenta como um material promissor.
Fig.18: Uma das vistas do projeto evidenciando sua grande coberta. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero
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3.3 CENTRO MAX FEFFER CULTURA E SUSTENTABILIDADE Localização: Pardinho, São Paulo. Arquitetos: Amima Arquitetura Área: 1651m² Ano: 2008
Fig.19: Perspectiva Externa. Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/amima_/centro-max-feffer-cultura-e-sustentabilidade/1695
O projeto fica situada em uma zona rural, seguir os princípios da sustentabilidade foi uma das premissas desse projeto, sendo a primeira edificação na América Latina a receber a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Seu programa também conta com atividades, como inclusão digital, espetáculos, atividades artísticas que incentivam o desenvolvimento sustentável em três diferentes pilares: ambiental, econômico e social. Dentre os recursos utilizados nos critérios de sustentabilidade, assim como as referências expostas previamente, o uso da materialidade, sendo utilizados o bambu, eucalipto, madeira de cultivo, tijolos e madeiras de demolição. Dentre eles, o bambu que foi utilizado com destaque em sua coberta, além ser de fácil cultivo é encontrado em diversas regiões do país, também conta com algumas características: leve, resistente, durabilidade, econômico. O bambu é pouco utilizado na arquitetura estrutural, mas conseguimos reconhecer suas qualidades específicas e trabalhá-las com criatividade (Leiko Motomura, 2008). 34
Fig.20: Estrutura da Coberta. Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/amima_/centro-max-feffer-cultura-e-sustentabilidade/1695
O cuidado com o consumo energético e nos compostos emitidos, havendo a escolha criteriosa dos materiais, como a telha que tem 42% de papelão em sua composição. Assim como a preocupação com os resíduos da obra, incorporando parte deles na construção – como bancos e bebedouros -, e no paisagismo estratégico buscando sempre a apropriação com o sítio, utilizando-se principalmente de plantas nativas – que naturalmente consomem menos água e tem menos problemas de adaptação.
Fig.21: Estrutura da Coberta vista a noite. Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/amima_/centro-max-feffer-cultura-e-sustentabilidade/1695
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Adotaram-se tecnologias para obter-se melhor eficiência dos recursos, como o sistema de ventilação e iluminação natural, que reduz significativamente o consumo de ambos. Quanto a economia de água, faz-se a captação das águas das chuvas em um reservatório para a utilização nos sistemas internos e o sistema de filtragem para águas cinzas, além de administrar o seu consumo, faz-se uso do mictório seco e tratamento de esgoto por zonas de raízes. Todos esses critérios adotados, contribuíram para que uma edificação de grande porte, como essa, gerasse baixo impacto. Tornando-se um ótimo exemplo, auxiliando na escolha dos materiais, de acordo com o seu processo produtivo, sendo essenciais para alcançar esse objetivo.
Fig.22: Divisões internas e coberta solta. Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/amima_/centro-max-feffer-cultura-e-sustentabilidade/1695
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3.4 TERMINAL MARÍTIMO DE PASSAGEIROS DE FORTALEZA Localização: Fortaleza, Ceará. Arquitetos: Architectus S/S Área: Ano: 2015
Fig.23: Perspectiva Externa. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/785423/terminal-maritimo-de-passageiros-de-fortaleza-architectus-s-s?ad_source=myarchdaily&a d_medium=bookmark-show&ad_content=current-user
O terminal surge a partir da demanda da copa do mundo de 2014, afim de atender a demanda turística e a promover espaços multiusos para eventos, exposições, festas e entre outros. Apesar de sua volumetria expressiva e da escala discrepante em relação ao produto final a ser adquirido, o foco desta analise será no programa adotado para servir de auxilio desta demanda. Além da estrutura do terminal de passageiros, conta com uma área de bagagens, apoio, estacionamento, um pátio para contêineres, um cais multiuso. Levando para a escala do projeto a ser realizado, se faz necessário uma releitura, de uma estrutura para o controle de acesso de passageiros, uma área de apoio ou suporte, assim como uma área de permanência e público acesso, ficando-se a critério de análise de acordo com a demanda de estacionamento da área.
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Fig.24: Planta de Implantação. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/785423/terminal-maritimo-de-passageiros-de-fortaleza-architectus-s-s?ad_source=myarchdaily&a d_medium=bookmark-show&ad_content=current-user
Fig.25: Planta Térreo. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/785423/terminal-maritimo-de-passageiros-de-fortaleza-architectus-s-s?ad_source=myarchdaily&a d_medium=bookmark-show&ad_content=current-user
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A edificação principal é composta por um térreo mais dois pavimentos. Os ambientes são dispostos entre infraestrutura para funcionamento e de acesso ao público. Conta com a recepção, a seguida do saguão principal que é subdividido em três setores, o que possibilita a utilização conforme a demanda, quiosque de alimentação e espaço comercial, ainda de suporte a ao controle de pessoas existe um espaço destinado à alfandega e a inspeção da polícia federal. Além disso, existem quatro espaços reservados ao fluxo de pessoas: Embarque Controlado; Embarque Franco (em trânsito); Desembarque Franco (em trânsito); Desembarque com Bagagem.
Fig.26: Planta 1° Pavimento. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/785423/terminal-maritimo-de-passageiros-de-fortaleza-architectus-s-s?ad_source=myarchdaily&a d_medium=bookmark-show&ad_content=current-user
No primeiro pavimento já se é destinado usos mais esporádicos, como o salão de eventos/cultural, bar, restaurante, terraço e varanda, assim como fornece o funcionamento de alguns serviços como o Juizado de Menores, ANVISA e a administração interna. No pavimento subsequente, os usos vão ficando mais restritos e de menor acesso, se concentrando áreas de manutenção e depósitos. É importante salientar que as escalas do estudo de caso se diferem do projeto a ser proposto como produto final, mas se faz de grande relevância estudar o programa proposto similar ao terminal fluvial, fazendo um paralelo com o cenário atual e a análise do território realizada, para a realização de uma proposta.
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Fig.27: Planta 2° Pavimento. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/785423/terminal-maritimo-de-passageiros-de-fortaleza-architectus-s-s?ad_source=myarchdaily&a d_medium=bookmark-show&ad_content=current-user
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04 homem-rio
o território:
CAP 04
o território
Nesse capítulo irá se discorrer a respeito do local de inserção do projeto, Petrolina e Juazeiro, afim de contextualizar com a realidade local e cultural, suas referências, destacando quais são suas demandas e condicionantes de extrema relevância para a criação das diretrizes projetuais.
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4.1 apresentando o local
Figura 28: Mapa do Estado da Bahia, 1892. Fonte: Acervo Nacional, Mapa do Estado da Bahia por Miguel de Teive e Argolo, 1892.
Na região do Vale do São Francisco, situam-se as cidades Petrolina e Juazeiro, juntas contam com aproximadamente 769.544 habitantes (IBGE, 2020), na atualidade formam o maior polo de fruticultura irrigada do Brasil. A cidade de Juazeiro, consolidada desde o ano de 1833, sendo um ponto comercial estratégico na época, a cidade vizinha, Petrolina tratava-se de nada a menos e nada a mais que uma passagem para chegar em Juazeiro - “Passagem do Joazeiro” (SÁ Y BRITTO, 1995), o local era conhecido apenas como tal, até que recebeu o título de vila com a construção da Igreja Matriz, em 1858. A passagem servia como ponto de apoio do desenvolvimento da zona sertaneja do Estado, com vias de acesso para os Estados do Piauí, Ceará, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo (PETROLINA, 2014).
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O nome das cidades originadas respectivamente, de uma típica arvores nativa da caatinga brasileira chamada de Juazeiro, é responsável por gerar uma grande sombra e se tornar abrigo para as pessoas que desbravam a caatinga, normalmente encontrando-a isolada na mata. Já o nome de Petrolina, são contadas em algumas histórias, a mais conhecida popularmente é a existência de uma pedra linda na margem do rio, que foi utilizada para a construção da Igreja Catedral, há também um autor petrolinense, Santana Padilha, que registrará sua versão em um livro, Pedro e Lina, eles seriam os primeiros moradores e ao se casarem e pronunciarem seus nomes, ouvira-se “Petrolina”. Ambas as cidades se inserem geograficamente no Polígono das Secas definido em 1936 no governo de Getúlio Vargas, busca uma classificação voltada para a identificação de áreas de extrema aridez e secas, necessitando de investimento de políticas públicas associados aos recursos hídricos. Todavia, as cidades ribeirinhas contam com localização estratégica a margem do Rio São Francisco, que foi um fator responsável por gerar fartura e desenvolvimento para a região, hoje Petrolina é chamada como “Terra dos Impossíveis”, por ser uma terra que ninguém esperava prosperar. O Rio carinhosamente chamado de “Velho Chico”, é um dos cursos d’águas mais importantes na América do Sul, responsável por diversas atividades como por exemplo: navegação, irrigação, abastecimento de água, produção energética. Culturalmente, se tornou personagem principal de diversas histórias populares, palco para diversas
façanhas populares, suas ilhas ofertam lazer e turismo, faz-se presente nos principais cartões postais e artesanato local.
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4.2 CONSTRUINDO A PAISAGEM Além dos fatores geográficos, é imprescindível trazer à tona a grande influência da Igreja Católica na urbanização das cidades, desde as missões católicas de catequização nos territórios ribeirinhos são franciscanos, que foram responsáveis pelo início do processo de urbanização. Portanto, a malha urbana de freguesias fora configurada pela Coroa em associação com seus oficiais eclesiásticos, notadamente os arcebispos e bispos. As paróquias cumpriram o duplo objetivo de gestoras do cotidiano espiritual e temporal dos ribeirinhos. Com a fundação das sedes paroquiais, eles passaram a usufruir, no dizer de Marx, das formalidades civis oferecidas pelo Estado (ARRAES, 2013, p.17)
A Catedral de Petrolina, assim com a construção de duas escolas cristãs pioneiras na região, respectivamente os colégios Maria Auxiliadora e o Dom Bosco, desencadearam o crescimento urbano com a criação de avenidas e alterações em sua malha viária. Esses três empreendimentos foram idealizados por Dom Antônio Maria Malan, primeiro bispo da diocese, “Façamos a Casa de Deus, e tudo mais crescerá ao redor” (CAVALCANTE, 1999a), e assim como planejado a catedral tornou-se um ponto primordial para a urbanização da cidade, como ilustra parte de seu processo nas fotos em anexos.
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Figura 29: Foto de Petrolina com a catedral erguida em 10 de maio de 1937. Fonte: Pernambuco em foco, Facebook, 2020.
Figura 30: Foto área de Petrolina após o processo de ocupação. Fonte: Um passeio pela Petrolina de antigamente, 2019. Disponível em < https://www.skyscrapercity.com/threads/um-passeio-pela-petrolina-de-antigamente.2221974/#post-164088 388 >
Figura 31: Foto área de Petrolina em 2016. Fonte: Maurício André Anjos, 2016.
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A construção da Ponte Presidente Dutra, marca na história outro item formador da paisagem de ambas as cidades, conta com a tecnologias de pontas para a época como o uso do concreto protendido, possibilitando o vão de 54 metros entre os seus pilares, também conta com duas torres que possuem um sistema para a suspenção da parte central da pista para a passagem de grandes embarcações, atualmente o sistema encontra desativo. A ponte faz a integração das cidades, cruzando a ilha do fogo, reforçando o cotidiano dos seus moradores, atualmente sofreu uma duplicação nas pistas para atender o crescente fluxo de veículos. A ocupação de ambas orlas fluviais se caracterizam pelos skylines de ambas as cidades, em Petrolina já é possível perceber o processo de verticalização, mas ainda se algumas casas familiares se mantêm remanescentes, havendo um perímetro de preservação dos casarões conhecidos como Petrolina Antiga. No outro
lado, em Juazeiro, já não se percebe a verticalização na mesma intensidade, apesar da presença três prédios, prevalecem edificações com um gabarito baixo – entre térreo e térreo mais três –, apesar de algumas edificações históricas sere m desconfiguradas ainda é possível identificar os vestígios da história. O rio é o palco principal para a paisagem local, entre eles permeiam as vistas de ambas as cidades, a presença da ponte e a ilha do fogo ao centro, assim como as barquinhas que cruzam o rio. Dentre os demais elementos formadores de paisagem a serem destacados do mapa, vale ressaltar a presença de duas esculturas que permeiam o rio, do lado de Petrolina, a sereia azul que representa a Mãe D’água, que seria uma representação de Iemanjá, do lado de Juazeiro, a presença do Nego d’água, figuras folclóricas do Rio São Francisco.
Figura 32: Skylines da orla fluvial de Petrolina, analisando seus respectivos gabaritos a cada 3m. Fonte: Autora, 2021.
Figura 33: Skylines da orla fluvial de Petrolina. Fonte: Autora, 2021.
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MAPA DE ELEMENTOS DE PAISAGEM
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4.3 apresentando o local legislação A paisagem de uma cidade é um registro físico da mudança que aquela área sofreu ao longo do tempo. Os processos humanos a alteraram na medida de suas necessidades e evolução, e para garantir que ocorram de maneira adequada existem as delimitações definidas na legislação. A cidade de Petrolina conta com o Zoneamento segundo o Plano Diretor vigente (Lei Municipal nº 1.875/2006), que no aspecto da área de intervenção é complementar ao Código Municipal de Meio Ambiente (Lei Municipal n°1.199/2002), o novo plano diretor continua em tramitação no setor legislativo. A área de intervenção está inserida na Zona de Preservação Ambiental (ZPA), que é discorrida no Art. 85 do plano diretor pelas suas características, assim como a disponibilidade de terrenos para a expansão urbana e propícia para a ocupação de baixa densidade e compatível com a sustentabilidade ambiental. Ainda no Plano diretor, é definido algumas premissas e fatores condicionantes para a sua ocupação, disposto no Art. 86 da seguinte forma: A Zona de Preservação Ambiental (ZPA) corresponde a uma área de propriedade e uso do Exército, caracterizada pela baixíssima densidade populacional e construtiva, sem urbanização, com vegetação significativa e espécimes endêmicas do bioma caatinga, constituindo-se num entrave à expansão da malha urbana, cujo entorno é ocupado por loteamentos e habitações de mercado popular, e de estrito interesse do Município. § 1º O território da ZPA, de que trata o caput deste artigo, é prioritariamente propício à utilização dos instrumentos da política urbana e ambiental aplicáveis, com fins de: I - Criação de unidades de conservação ou proteção ambiental; II - Criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes; III - Implantação de equipamentos urbanos e comunitários afins; § 2º Para efetivar a utilização do território da ZPA e integrá-lo à malha urbana, deverão ser adotadas, sucessivamente, as seguintes medidas: I - Gestões municipais no sentido de pactuar com a União as providências para a disponibilização do território e sua urbanização; II - Elaboração de estudo de impacto ambiental; III - Delimitação de áreas para instituição de espaços públicos de lazer e áreas verdes, e de preservação ambiental, com igual proporcionalidade entre elas; 49
IV - O disposto no inciso III deverá ser regulamentado através de lei específica e com a participação da sociedade através dos Conselhos Municipal da Cidade e do Meio Ambiente e Fóruns pertinentes. § 3º As condições de uso e ocupação do solo, inclusive as mudanças de uso, ficarão sujeitas à análise especial dos órgãos municipais competentes, devendo respeitar os parâmetros urbanísticos dispostos nesta Lei.
A proposta projetual a ser desenvolvida está em consonância com as leis condicionantes, por se tratar de uma edificação de baixa densidade e de caráter público, tratando-se de um equipamento público que visa adotar a medidas de baixo impacto ambiental e a dispor de espaços de área verde e lazer.
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MAPA DE legislação
JUAZEIRO
PETROLINA
ZPA ZR-1 ZR-2 ZR-3
ZAM ZPH ZIDU 1 ZIDU 2
N 0
100
300
500
FLUXOS E MOBILIDADE Ambos os mapas visam informar as possíveis conexões cotidianas -principalmente dos pedestres – em relação ao transporte fluvial, quais são as possíveis rotas a serem realizadas daquele ponto de partida e como se dará continuidade, se por exemplo será necessária a adoção de outro modal ou não, já servindo de orientação para possíveis intervenções do poder público, afim de integra-los entre si. O mapa de mobilidade, consiste em classificar as vias lindeiras ao recorte de analise, nele constam os seguintes modais: Ônibus, Carro, Bicicleta e o Caminhar. As principais vias, que são condizentes ao embarque desembarque de passageiros consegue abranger todos os modais citados, sendo elas as possuem maior fluxo de pessoas, principalmente por permearem o centro de ambas as cidades. Ambas as maneiras de se realizar a travessia do rio, sendo através da ponte e das embarcações, apesar apresentarem tempos de viagem e conforto diferentes, sendo a segunda mais vantajosa principalmente por proporcionar maior contemplação da paisagem. Um fator interessante a respeito da ponte, é que apesar que apenas o trecho da travessia apresenta segurança para bicicletas e pedestres, o acesso é realizado por uma escadaria em ambas as orlas.
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VEGETAÇÃO A vegetação local, se caracteriza pelo bioma da Caatinga, incluindo diversas espécies arbustivas e arbóreas, que impactam diretamente em qualquer interferência na paisagem. O mapa destaca as principais massas vegetativas que se encontram mais distantes do centro da cidade e mais voltados as margens do Rio. Também evidencia a existência de áreas descampadas, sendo uma característica do bioma a existência de arvores e arbustos espaçados entre si. O sítio de intervenção, está locado em um desses descampados que permeiam entre a cidade edificada e o Rio São Francisco.
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MAPA DE FLUXOS
JUAZEIRO
PETROLINA
LEVE MODERADO INTENSO
N
0
100
300
500
MAPA DE MOBILIDADE
JUAZEIRO
PETROLINA
N vias para carros e ônibus vias para pessoas, bicicletas e carros vias para pessoas, bicicletas, carros e ônibus
0
100
300
500
MAPA DE VEGETAÇÃO
JUAZEIRO
PETROLINA
MASSA VEGETATIVA
N
0
100
300
500
CLIMA O clima de Petrolina é classificado como “semiárido quente”, pela classificação climática de Köppen-Geiger, que é a classificação utilizada globalmente. De maneira geral esse clima, tem como principais características verões bem quentes e invernos que variam entre quente a fria e com pouca precipitação de chuva. Neste tópico, estaremos analisando de forma mais específica três fatores, sendo eles: 1 – Chuvas: Nesse aspecto o clima de Petrolina, há a escassez e a irregularidade das chuvas, com alta evaporação devido ao alcance de altas temperaturas, tendo como índice pluviométrico de apenas 483 milímetros por ano, um dos mais baixos no país. O mapa em anexo classifica a precipitação de chuva mensal acumulada em milímetros, segundo o INMET 2016. A partir deles podemos perceber que os principais períodos de chuva se caracterizam nos períodos entre Fevereiro e Abril, onde há maior precipitação, e o período de maior estiagem nos meses entre Junho a Setembro e no mês de Novembro. Com isso, há pouca necessidade de tomar medidas arquitetônicas afim de proteger-se das chuvas e que seria extremamente benéfico a sua captação e reuso.
Figura 34: Gráfico com indice de chuvas mensais. Fonte: http://www.mme.gov.br/projeteee/dados-climaticos/?cidade=PE+-
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2 - Ventos: O gráfico ilustra os dados fornecidos no INMET 2016, que indica as principais direções dos ventos recebidos na cidade de Petrolina, sendo o principal deles os ventos advindos do Nordeste, chegando à velocidade entre 4 a 6 metros por segundo, e os ventos secundários nas direções Leste e Sudeste, as demais direções apresentam valores não significativos. Com isso, temos em mente que as principais frentes do projeto a serem priorizadas afim da captação de ventos e um ambiente confortável termicamente, seria manter aberturas nas fachadas Nordeste e Sudeste.
Figura 35: Rosa dos Ventos de Petrolina. Fonte: http://www.mme.gov.br/projeteee/dados-climaticos/?cidade=PE+-
3 - Irradiação Solar: É importante salientar, que a região tem como caracteristica o alcance de altas temperaturas, sua média varia entre a média máxima de 34,1° e a média mínima de 20° (INMET 1981-2010). No cotidiano as sensações térmicas chegam a ser bem desconfortáveis, por isso é de extrema importância a criação de sombras e ambientes que criem proteções da excessiva irradiação solar.
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Será utilizado como material de analise a ferramenta da Carta Solar5, disponibilizada pelo LABCON (Laborátorio de Conforto Ambiental e Eficiência Energética no Ambiente Construído). A partir de sua leitura, é possível perceber a melhor orientação para implantar a edificação e quais fachadas precisão de mais proteção, sendo está a fachada Norte, que recebe maior quantidade de luz solar em maior periodo do ano.
Latitude 9,23° Sul
Petrolina - ZB7 N
22.6 24.7
22.6 21.5
13.8
W
1.5
28.8
16.4
11.9
3.4
24.9
21.3 8.3
6.10
0
20.1
1
4.1
.11 .12 22 18
22
Figura 36: Carta Solar. Fonte: LABCON.
16
15
14
13
12
17
11
10
9
E
23.2 9.2
8 7
21 .1 .12
22
6
S
5 Trata-se de uma representação dos percursos realizados pelo sol em diferentes horários e meses do ano. 55
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05 diretrizes projetuais
CAP 05
diretrizes projetuais
Neste capítulo, será descrito e ilustrados as premissas a serem seguidos na concepção do projeto. Visando atender a demanda com o menor impacto possível para o ecossistema local, sendo listadas da seguinte forma: 1Utilização de matériais locais e de reuso, para reduzir no baixa produção energética. 2Realizar-se de técnologias como captação de águas da chuva, aproveitamento de águas cinzas e captação de energia solar. 3Criação de um abrigo, formando sombras com auxilio de grandes cobertas e beirais. 4Proteger as fachadas do sol, utilizando-se de brises, peles e sistemas de proteção. 5Vazar as paredes, permitindo a passagem do fluxo dos ventos, através de elementos vazados em suas vedações. 6-
Criação de massa arbustiva no entorno com espécies nativas.
7Elevar o edificio, preservando o solo permeavel e o seu ecossístema, adaptando-se ao nível do rio. 8Preservar a paisagem, realizando a sua inserção de forma a respeitar o contexto. 9-
Subsidiar os usuarios do transporte fluvial.
10Prover espaços de permanencia, que se façam presente no cotididano dos habitantes.
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06 conclusão
CAP 06
conclusão
Por fim, a proposta em desenvolvimento busca explorar as vertentes a cerca do movimento ambientalista e ecológico, afim de compreende-las e apurar as necessidades e estratégias adotadas para o desenvolvimento sustentável no contexto atual. Assim como a demanda existente na região do Vale do São Francisco, que fora identificada nos capítulos anteriores. Nela se encontra uma dialética entre a necessidade humana e a preservação de seu ecossistema, as diretrizes projetuais utilizam-se das premissas da Permacultura, Bioconstrução e o Conhecimento Técnico Popular para encontrar uma estratégia afim de solucionar essa problemática. É importante salientar, que devido os fatores do cenário atual da pandemia, houveram adversidades em alguns de seus procedimentos metodológicos como os itens 4 e 5, que buscam a compreensão das técnicas construtivas populares locais a luz de idas ao local e diálogos com a população, ficando a finalizar em futuras visitas ao sítio. O resultado final a ser obtido nessa pesquisa prosseguirá em desenvolvimento na disciplina de Trabalho de Graduação II, obtendo-se como objeto final o projeto do terminal fluvial de passageiros e abrigo das cidades de Petrolina e Juazeiro, de forma a adequar-se e integra-se em sua paisagem, de maneira sustentável.
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07 referências
CAP 07
referências
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