memorial maria soledade | tfg vila bela 2018

Page 1

MEMORIAL MARIA SOLEDADE JOSÉ VERA LUZ

E 1


Trabalho Final de Graduação Campinas | 2018 Memorial Maria Soledade José Camilo Carlos Júnior Orientadores: Profa. Dra. Vera Santana Luz Prof. Antonio Fabiano Júnior Banca Examinadora: Magaly Marques Pulhez Maria Beatriz de Camargo Aranha Pontifícia Universidade Católica de Campinas Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

2


3


4


“A memória é sempre atual, uma construção vivida em um presente eterno” Aleida Assmann 5


Agradecimentos Obrigado todo mundo que ta junto de mim nesse processo que é viver, obrigado por confiarem em mim mesmo quando eu não duvidei. Não existe como eu estar aqui sem a mulher mais maravilhosa do mundo, mãe, eu só tenho que te agradecer pelo amor incondicional e sua força gigante. Você sempre me apoiou e me deu forças pra continuar lutando pelos meus sonhos, sem você nada disso seria possível. Alice (Ju-Lice). Mais que uma irmã, você é parte de mim, dos meus sonhos. Sem você, eu realmente não existo. Minha felicidade é também você estar. Obrigado. Pai, obrigado por todo esforço e luta que sem eles também não poderia estar por aqui. A “ Didi” e “Lalá” que tanto me apoiam e acreditam em mim e “Tako’’ por todo suporte. Ao grupo do tfg, por tudo que aprendemos juntos nesse tempo. Thais, Camila, Luisa e Diogo e à vocês que são tão especiais Breno, Felipe, Higor, Marco, Naomi, Rodrigo, Samira e Larissa que estaria aqui comigo, se não fosse pelo intercâmbio.

6

A Vila Bela, Edilene, Adriano e Juliana, pelo acolhimento, empatia e todos os ensinamentos. Antonio. Por todas as palavras lindas que você sabe muito bem como fazer, e nos emocionar. Vera. O seu tamanho eu nunca vou saber medir, ele ultrapassa a minha compreensão. Obrigado por ser mais que uma orientadora desse projeto que é nosso, mas por ser uma mãe pra mim. E sempre vai ser. Você sempre é muito forte e sensível, me ensinando a cada semana como pensar arquitetura, pensar nosso compromisso com o mundo e as pessoas. Todos os momentos vão estar comigo pra onde eu for, tudo que o você me ensinou, o carinho, as risadas, as jogadas de cabelo que eu amo, tudo.


Índice Introdução Memória e luta A casa pública Localização A Vila Bela Oficinas de memória O caminhar Área escolhida Implantação O Memorial O constructo Considerações finais Referências projetuais Referências bibliográficas

7


alice, oito meses, 1997 8


Acordei um pouco atrasada pro trabalho pro ônibus Pra vida Pro bom dia Poesia Acordei embaraçada Na correria Na lida Do dia-a-dia Na linda Beleza Da poesia Acordei meio passada Esquecida Com sede De água e Poesia Acordei emocionada Com minha memória sa-gra-da abstrata E aí No ir e vir Bate e volta Atrasada Pro trabalho Pro ônibus Pra vida Pro bom dia Lembrei, Poesia presente Da memória. Poesia feita pela minha irmã para o tfg, Alice. 9


10


Introdução As cidades são palco dos embates da vida cotidiana. São feitas de pessoas e suas ações que movem e movimentam as dinâmicas, cada uma de suas partes e com suas particularidades. A cidade de São Paulo, ainda continua sua urbanização selvagem baseada na segregação sócio territorial; as distâncias dessa forma são maiores, não são apenas econômicas, físicas e geográficas, também são sociais e culturais. As marcas dessa desigualdade está nos corpos, nas peles, na existência e na memória de cada um. O trabalho fala sobre memória e luta, perda e sonhos. Sobre uma periferia que nasce na carência, na luta. Tudo o que se conseguiu foi pela resistência a cada dia. A Vila Bela é isso, é existir através da resistência. De todas as conquistas a da água é mais marcante. É a morte de uma liderança, de uma mulher, uma mãe. Uma perda pela contaminação da água, pelo projeto de ausência do estado. A água, algo tão singelo na sua grandeza nos mostra a relação do ser humano e natureza, relação violenta, onde um matou o outro. E é esse acontecimento que intensifica o movimento de luta pela água, ou seja, pela própria vida. Todas essas questões geraram inquietações para que o projeto nascesse. O que seria então um Memorial, uma homenagem e abrigo a essas questões, a essa mulher? Das discussões desde o Projeto Urbano, o conceito de Casa Pública é transversal ao pensar nas intervenções em favelas e territórios vulneráveis. A casa é um dos nossos primeiros abrigos, primeiras construções das nossas memórias, mesmo que não conseguindo acessar essas lembranças, é onde o afeto se instaura. Assim, no Memorial aqui projetado a casa se torna pública, de todos e a memória vira sonho.

11


Memória e luta A cidade se caracteriza por ser um ambiente construído; nas periferias onde a relação da cidade mesmo sendo um direito precisa ser conquistada, é construído pelas pessoas com muita luta e resistência, luta essa que é pelo direito do existir. Desta forma, os espaços, os afetos e as memórias estão impregnados pelas batalhas cotidianas vividas pelos moradores. Somos um receptáculo de eventos, guardados e solidificados na nossa memória com os mais diversos sentimentos. Nossas experiências e vivências vão sendo acumuladas nos tornando o que somos no presente, essa construção constante é sentida a cada momento e transformada em lembranças, sejam elas tristes, alegres, engraçadas, doloridas ou um pouco de cada, aliás somos seres híbridos transitando pelas mais diversas emoções. O que nós somos sem memória, sem nossas lembranças? A nossa reação frente às lembranças dos acontecimentos se dá em diversas formas, somos levados a outros estados, outros olhares e perspectivas a cada novo contato com elas; estamos experimentando o tempo e os lugares de formas distintas a todo momento, e a memória é uma ferramenta que nos auxilia. Ela é parte de nós.

12


A reconstituição da memória vai no sentido de lembrarmos de algo que aconteceu ou mesmo nos apoiarmos nas lembranças do outro. Em uma conversa com alguém sobre acontecimentos passados, você pode até não lembrar de algum fato ocorrido, mas já percebeu que acabamos por construir juntos com o outro uma perspectiva sobre o que aconteceu? Essa construção coletiva faz as “nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivéssemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos.” (HALBWACHS, 1990, p. 26) As memórias que temos, em comum ou não, são compartilhadas nas relações que temos com nossos vizinhos, amigos e familiares. São as lembranças que temos sobre fatos que não necessariamente aconteceram conosco, mas que nos afetam, afetam nossa vivência e a do coletivo que nos une, seja pela luta por direitos ou em solidariedade a alguém. Entendo então que elas devem estar a serviço da formação de identidade, de ressignificar nossa existência e criar recordações coletivas. Essas sempre no plural, onde cabem as lembranças de todos, cheia de singularidades.

13


14


A Casa pública As favelas, na urgência de morar, invertem a lógica convencional, onde a moradia, ou seja, o espaço privado, é muitas vezes ocupado primeiro. As ruas, vielas, são fruto dessa ocupação ora organizada, ora espontânea com a preocupação de se ter um abrigo, um lar, deixando o mínimo de espaço público para maximizar a produção da moradia. Sendo assim, ele é resultado de uma produção coletiva. O espaço se torna misturado no seus usos tornando ilimitada a transformação do que é público, se colocando diversas vezes como o prolongamento do espaço da moradia. Seu caráter híbrido entre público e privado consolida a intenção do grupo deste trabalho acadêmico através do conceito de Casa Pública, onde esses limites são quebrados e interseccionados. Onde a transformação do espaço público e coletiva, é feita a partir dos elementos domésticos por outra perspectiva, através da infraestrutura ambiental e pública. O Memorial, desta forma, se coloca intrínseco a essas questões e representação da Casa Pública.

15


sĂŁo paulo zona leste subprefeitura de sĂŁo mateus vila bela

16


Localização

vila bela

memorial maria soledade 17


18


travessa roberto dinamite | desenho urbano

19


A Vila Bela Na primeira vez que fomos à Vila Bela, conversamos com o Adriano Diogo, liderança política que luta pelas reivindicações das pessoas que mais precisam, Juliana, também liderança política, esperançosa por mudanças que façam diferença na vida de cada pessoa, e Edilene, mulher forte e íntegra, extremamente gentil e de uma empatia gigante; é a principal liderança e voz das pessoas que vivem na Vila Bela, é responsável junto com a população pelas principais conquistas do território, seja da água, da luz, do esgoto. Esses encontros vão ficar para sempre marcados, o quanto aprendi andando e vivenciando através das palavras; um pouco da história de construção e luta deste lugar.

As lutas enfrentadas são as pelo direito de ir e vir, de existir, dentre elas a luta pela água marcou. Não se tinha agua tratada e então, uma liderança comunitária, Maria Soledade, morre através da contaminação da água, e é partir da morte de Soledade que se intensificou a luta pela ligação de água em todas as residências.

A Vila Bela, localizada na zona leste de São Paulo, sob administração da subprefeitura de São Mateus, como outras periferias, é território de vulnerabilidade, inclusa num projeto de ausência do Estado, sua história é de resistência. Desde a sua ocupação em 1995 o embate para a permanência no território e um abrigo para morar é constante, enfrentando dificuldades e a pressão do Estado através da polícia.

O projeto é uma homenagem a essa liderança e as essas lutas eternizadas na figura de Soledade. Utiliza da memória para a solidificação dessas lutas e conquistas e se transforma em possibilidades, quaisquer elas forem. A resistência se dá através da existência desses territórios, mostrando que mesmo que excluídos, fazem parte das dinâmicas e relações da cidade. É assim, através da vida que o Memorial existe, junto às pessoas, criando novas lembranças e recordações.

20

“memória de um grupo se destacam as lembranças dos acontecimentos e das experiências que concernem ao maior número de seus membros e que resultam quer da sua própria vida, quer de suas relações com grupos mais próximos “ (HALBWACHS, 1990, p. 45)


21


22


3. Abordagens

soledade substantivo feminino 1. estado de quem está ou se sente só; solidão. 2. lugar ermo, deserto, solitário; retiro. 3. tristeza de quem está abandonado ou só; melancolia, saudade. 23


tfg_vila bela

24


25

análise

“O tempo se condensa em espaço; o que o tempo torna invisível, os locais sempre sustentam de modo misterioso.” Aleida Asmann


Oficinas de memรณria

26


Na perspectiva da criação de novas lembranças, o Memorial começa antes dele mesmo existir enquanto corpo material, são propostas oficinas de memória. Elas são ações espalhadas pela Vila Bela, estimulando ainda mais o afeto, a convivência e os rituais cotidianos dos moradores. São oficinas que falam sobre os talentos e as experiências vividas por cada um, sua tematização é feita junto dos moradores por meio de um processo participativo. Elas são infinitas possibilidades, sonhos que voltam ao passado pra alcançar o futuro.

27


28


29


O caminhar Caminhar é estar em contato com o chão, com o lugar, com a terra. Ele é o primeiro ato do Memorial, são pontos, fixos pela Vila Bela. Eles se dão através da do plantio de 8 árvores nas esquinas junto com um arco no chão feito de tijolos de barro que acolhem, são caixas da memória guardando aqui uma lembrança. É a marca da saudade no território que floresce durante a data de nascimento** de Soledade, elas ligam e aproximam sua casa ao último ponto, o lugar de implantação do memorial.

legenda árvores

** não se conseguiu essa data, contudo, o projeto prevê a escolha através das oficinas de memória em conjunto com a população.

30


31


ru a

fru to sd

em

aio

rua manoel da luz drummond

32


33

a

ru iri m

m

ra

pe

o


Área escolhida

O projeto é implantado no encontro de dois rios. Está ao lado do córrego Caaguaçu, o maior curso d’agua da Vila Bela onde há dois momentos, um em que está contido numa calha junto a vias de acesso e circulação no bairro e outro em seu estado natural, espontâneo. Está também sobre seu afluente; o projeto pousa no território nesse momento, no de seu curso natural, se colocando como continuação da vivência a água. Essa área tem acesso por umas das principais vias de entrada à Vila Bela. Além do encontro de rios também é uma confluência de caminhos e percursos que são prejudicados pela falta de transposições urbanas e a falta de infraestruturas que qualifiquem o curso d’agua.

34


35


Implantação

O principal acesso se dá pela rua Manuel da Luz Drummond e rua Frutos de Maio, onde há a proposta da nova rota de ônibus previstas pelo Projeto Urbano, como também por outras vielas que vão em direção ao curso d’agua. Dessa forma na implantação se faz essencial a conexão entre os lados dos rios e costura urbana, integrando ao sistematizado no Projeto Urbano de mobilidade e a circulação das pessoas. O Memorial se coloca no território como um amplo espaço público e coletivo das trocas sociais que pode facilitar a integração da população e inverter a lógica da água como uma barreira como algo ameaçador à vida. A partir da premissa urbana, pontuamos tanques de evapotranspiração e jardins filtrantes ao longo dos rios e florestas de bolso© a fim de tratar e qualificar a água.


rio retificado x natural

fluxos

renaturalização do rio e florestas de bolso


fonte: favelagrafia


O Memorial

O Memorial é um conjunto de elementos que trazem a Casa Pública como elemento da totalidade das experiências cotidianas na criação de novas memórias, potencializadora das relações em coletivo. É apresentada uma parede de tijolos baianos que fixa a favela como arquitetura e prática estética e nos leva a “pôr em xeque alguns antigos (pre)conceitos da própria arquitetura erudita como disciplina e prática profissional” (JACQUES, 2011, p. 16). Ela se mostra então como ser de materialidade que une os programas que o Memorial contempla: a praça, a piscina, a lavanderia e o casulo.


O primeiro ato do Memorial é uma parede de tijolos ‘baianos’, uma geometria que se assenta na terra e cruza o rio. É a presença material de Soledade no projeto, é a contraposição da ausência e perda à sua presença que se eterniza num elemento que representa a própria arquitetura das favelas, agora reverenciada, e atinge seu ápice aqui, último ponto do percurso desde sua casa. Ela começa com 45cm e se coloca como um banco para a paisagem e um trampolim para a piscina. Sua inclinação vai no sentido de se relacionar com os corpos ali presentes que passam e interagem com ela, ao se passar um pequeno momento, ela é do seu tamanho, do seu corpo. A praça elevada 36cm acima do nível da piscina, cria uma pequena arquibancada para a mesma e para a contemplação do rio associada às relações coletivas. Sua transição é singela a fim da percepção de um único espaço, integrado em seus usos e apropriações. As passarelas urbanas fazem a conexão e dão acesso ao Memorial e ao mesmo tempo elas conectam as pessoas, em um território fragmentado muitas vezes pela falta de infraestruturas urbanas. São pontes não só como conexões funcionais, que diminuam as distâncias aproximando as pessoas umas das outras, facilitadoras da troca sejam elas das vivências, de histórias ou memórias. O tanque, que é o lavar roupas, também é o brincar. No centro, voltada para o rio, é pensada uma piscina pública, o centro e aglutinador, como o próprio rio. A alusão da piscina me faz pensar no estado da água, líquida, em movimento como deve ser, uma dança feita entre água e pessoas, algo prosaico mas ao mesmo tempo tão sagrado como as atividades no Memorial e da própria vida. Como previsto no projeto urbano, as garagens agora são espaços possíveis para o uso coletivo, dessa maneira são utilizadas garagens que rodeiam o projeto para a colocação de espaços de apoio e confraternização como para churrascos e convivência.



Uma atividade do nosso cotidiano é o lavar roupas. Presente nas nossas vidas seja por nós mesmos, ou nossas mães, pais, avós, tias e tios, é muita das vezes o quintal quando existe, é o tanque que na falta de outros espaços também serve de banheira para brincadeiras das crianças. É proposta assim, uma lavanderia pública, uma sombra pra essa atividade que permeia nossa vida de várias formas agora no estado do coletivo, lembrando o que foi predicado no Projeto Urbano como Casa Pública, também como espaços costumeiramente existentes na moradia, mas que, na urgência característica da Vila Bela muitas vezes não são possíveis para muitos moradores, como também banheiros, cozinhas e espaços de convivência. O casulo. Ato final. Indistinção entre profano e sagrado. Ele é o refúgio, fuga e ao mesmo tempo encontro. É um ponto das ações através do tijolo “baiano” desde a casa de Soledade, o arco envoltório das árvores e a parede da memória que fazem um circuito. Ele é o lugar dos rituais cotidianos, quaisquer eles forem; seja uma conversa em roda, vestiário para a piscina, um abrigo, para dormir, descansar, a meditação, a contemplação da água, da luz e da terra ou a lembrança de Soledade. O Memorial no seu conjunto se apresenta como um ser próximo, já conhecido de cada um. Ele é o espaço coletivo e público transversal às atividades que convida à troca e aos usos que são os mais diversos e imprevisíveis e que talvez seja a mais bonita das coisas na arquitetura, a surpresa, o pertencimento e afeto que se multiplicam nas possibilidades de apropriação de algo, confundindo o prosaico e o profano ao sagrado de qualquer ação.

fonte: favelagrafia 42


43


corte a-a

jardim filtrante

corte b-b

corte e-e

44

casa de mรกquinas


corte a-a

corte b-b

corte c-c

corte d-d

corte e-e

45


46


47


“Tudo que é sólido se desmancha no ar” Marshall Berman



fonte: favelagrafia


O Constructo

O projeto buscou se apropriar de materiais de simples execução, baratos e reutilizáveis, para dialogar com a realidade onde ele se insere, com intuito de apresentar um projeto que seja viável e possa ser realizado pelos próprios moradores num processo participativo e de construção do lugar que já foi levantado por cada um, bem como apropriadas suas tecnologias como exemplaridades possíveis de sistemas construtivos.


elementos construtivos

passarelas parede de tijolo ‘baiano’ piscina lavanderia coletiva

52


parede de tijolo ‘baiano’

A parede da memória, estando em cima do rio, vence um vão de 8m e assim é concebida como caixas ocas aliviando o seu peso próprio, feita de tijolos baianos de medidas 11,5x14x24cm dispostos horizontalmente com juntas em prumo, onde é colocada a armação de estruturação da parede formando uma gaiola de aço. Embora o parede em sua extensão seja majoritariamente oca, há de 2,70 em 2,70 metros fiadas que fazem contraventamento entre os dois planos longitudinais. esc. 1:20

esc. 1:25

53


passarelas urbanas As passarelas são pensadas a partir de pontaletes de secção circular diâmetro de 10cm, paus roliços que articulam vigas duplas de carregamento e transversais para a rigidez da estrutura bi-apoiada em pilares de diâmetro de 10cm. Compondo a estrutura, os montantes tem uma modulação de 2m, atirantados com cabos de aço, intercalados com o guarda corpo que finaliza o elemento. Para a passarela com vão de 26m, a estrutura é reforçada e com pilares de seção de 15cm e vigas duplas em ambos sentidos.

54 esc. 1:50

esc. 1:50


pontalete cortado em meia cana guarda-corpo de pontalete vigas de travamento transversal

esc. 1:25

55


a piscina A piscina, feita a partir de peças longitudinais de fibra de vidro, facilmente transportáveis e realizáveis em oficinas cooperativadas locais. Uma “cama” de concreto é primeiramente realizada para recebê-las, pensada por meio de tiras articuladas e coladas por meio de resina e fita de armação, devido ao porte da piscina, uma vez que é pública. As nervuras estão em ambos os sentidos enrijecendo a estrutura.

esc. 1:25

esc. 1:50

56


a lavanderia A lavanderia tem uma estrutura porticada de bambu, com vãos de 9m e 6m, estruturadas por vigas duplas e espaçadas para vencer o vão pela altura do conjunto. Recebem tirantes de aço, para a fixação da lona plástica para sombreamento do espaço. Para isso, projeta-se um arco de contra flecha que funciona ao revés das forças da estrutura.

57


esc. 1:25

esc. 1:25

58

esc. 1:25


tanque O tanque é feito de argamassa armada, pensado para serem feitos também em oficinas locais. É composto por duas peças, com espaço abaixo para gaurdar utensílios que forem necessários.

o casulo O casulo é uma casca de cobertura feita em forma de abóboda a partir de tijolos cerâmicos furados, estruturados em compressão; uma contra cúpula diretamente apoiada no solo e um arco plano como envoltória fazem o elemento de piso. Seu acesso se dá através de uma rampa de 50cm de desnível, como um suspiro e aviso para os acontecimentos que este casulo poderá abrigar.

59


josĂŠ (eu) dez meses, 1996

60


Considerações finais Estudar arquitetura aconteceu na minha vida. Não sabia que iria estar onde estou hoje. Esses anos me fizeram ver muitas realidades e aqui me deparo com mais uma, essa que é carente dos seus direitos, mas imensa em sua força. As favelas e comunidades têm em seu cerne muita luta. São histórias do dia a dia, das conquistas e das batalhas enfrentadas pelas pessoas; essas histórias merecem ser contadas e recontadas, a memória deve estar a favor do fortalecimento da identidade e pertencimento aos lugares. Em tempos difíceis, onde a história é perdida, diluída, apagada e transformada é importante olharmos para trás, pelo que foi feito e como foi feito. Esse trabalho é uma homenagem a não só uma, mas a todas histórias da Vila Bela.

61


Referências projetuais

mãe, lavanderia, cruzília, 2018

62


pai, olaria, cruzĂ­lia, 2018

63


memorial rosa luxemburgo e karl liebnecht, berlim, mies van der rohe - 1926

arquitetura das favelas

64

pavilhĂŁo, Colectivo seis etc., cidade do mĂŠxico - 2018

kerĂŠ arquitetura


refúgio polonês, jakub szczesn, são paulo/sp - 2016

toigetation 2, h&p architects, vietnam - 2016

65


Referências bibliográficas ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memorial cultural. Editora da Unicamp, Campinas – SP, 2011. CARDIM, R. Floresta de Bolso™. Cardim Arquitetura Paisagística. 2016. Disponível em: <http://www. cardimpaisagismo.com.br/projetos/floresta-de-bolso>. Acesso em: 25 Ago. 2018. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Editora revista dos tribunais ltda. São Paulo – SP, 1990. JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011.

ilustrações por Andrés Sandoval. favelagrafia, projeto de fotografias nas favelas do rio de janeiro.

66


67


68


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.