JUP Janeiro 2011

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Destaque 2 || educação 6 || sociedade 10 || JUPBox 13 || U.Porto 14 || Flash 16 || Desporto 18 || Cultura 22 || Críticas 27 || Cardápio 28 || opinião 30 || Devaneios 31

Propinas Jornal da academia do Porto || ano xxiii || Publicação Mensal || Distribuição gratuita Directora aline Flor || Director de Fotografia Miguel lopes rodrigues || Chefe de redacção Dalila Teixeira

para onde vai o nosso dinheiro?

reportagem Entrevista Movimento associativo na AEFEUP rui Tavares fala sobre democracia europeia

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Para onde vai o nosso dinheiro? Em época de contestação contra as propinas, o JUP foi falar com universidades públicas e privadas do Porto para perceber onde é gasto o dinheiro que, a cada prestação, os alunos pagam de propinas.

Começamos a viagem pela Universidade do Porto. Desde 2007, todos os alunos pagam o mesmo em propinas, independentemente do curso: eram 900 euros em 2006 (altura em que todas as universidades optaram por adoptar a propina máxima, dentro dos valores propostos pelo Ministério), subindo gradualmente, à semelhança do resto do país, à medida que a inflação assim o ditava. Hoje, são 986 euros por ano. No total, as propinas de todos os alunos da UP perfazem 32,4 milhões de euros, segundo os valores do orçamento de 2009. As propinas - que correspondem a cerca de 15% do total de receitas da Universidade do Porto - acabam por ser só um copo de água perto do garrafão que é preciso encher para sustentar a UP. Por exemplo, a Universidade gasta cerca de 140 milhões de euros só em salários dos professores (enquanto só recebe 131 milhões do Orçamento de Estado). O financiamento que vem do Orçamento de Estado depende dos índices de custo de cada curso, como explica Maria de Lurdes Rodrigues, vice-reitora para a Formação e Organização Académica da UP. Os cursos são divididos

em 8 níveis, antigamente denominados rácios - que calculam a necessidade de mais docentes, dependendo do grau de exigência técnica e teórica, e consideram também os equipamentos necessários -, e recebem financiamento consoante o número de alunos, em função do índice de custos onde se encaixam. O dinheiro das propinas, regra geral, fica nas faculdades. É utilizado para manutenção dos edifícios ou para melhoramento dos equipamentos, ou até mesmo para pagar os funcionários, quando o dinheiro recebido do Estado não é suficiente. O administrador da UP, José Branco, explica que existe ainda uma percentagem das propinas que as faculdades têm que enviar à Universidade equivalente a 10% do diferencial entre a propina mínima e a propina máxima -, que em 2009 chegou aos 800 mil euros. Esse dinheiro é aplicado “em áreas comuns em benefício” de todos os alunos. Passemos a quanto custa um estudante. Grosso modo, o Estado paga cerca de 4.000 euros por estudante da UP: isto é, se dividirmos os 131 milhões de euros pelos quase 31 mil estudantes em 2009.

dade de Engenharia divide-os em duas parcelas: a propina mínima – “o mínimo que as entidades públicas podem cobrar aos alunos” que “é gasta para pagar despesas correntes da faculdade” – e o diferencial de propinas – que representa “a diferença entre a propina mínima e o valor que cobramos”. Desse diferencial, 15% é retido pela reitoria e o restante é usado para “actividades mais directaAinda as Públicas mente relacioPara averiguar o processo do pa- Cada aluno do curso nadas com os estudantes”. gamento e gasto Nesta últidos rendimentos de Medicina custa categoria provenientes das cerca de 8.000 euros ma encaixam os propinas procuao Estado: oito vezes se financiamentos ramos informade actividades ções junto da mais do que o valor estudantis, tais FEUP. A professo- pago em propinas como “a assora Maria Antónia ciação de estuCarravilla, que foi pelo estudante. dantes (em parresponsável pelos serviços financeiros da FEUP até te)”, “as tunas” e outros grupos ao inicio deste ano lectivo, expli- estudantis que representam fins cou que a faculdade é financiada fixos – “fixos no ponto de vista do em parte pelas propinas, “as re- destino e não do montante que é ceitas próprias”, e em parte do atribuído”, pois o valor desse fiOrçamento de Estado, que “é en- nanciamento é decidido em cada tregue à reitoria e esta distribui ano. A professora explica ainda que há despesas especiais que são pelas faculdades”. Quanto aos rendimentos pro- pagas com essas receitas, como venientes das propinas, a Facul- por exemplo “um investimento Podemos aplicar o mesmo cálculo para cada faculdade: em média, um aluno da FLUP custa 3.400 euros ao Estado – que se somam aos quase 1.000 euros gastos em propinas. Por outro lado, cada aluno do curso de Medicina custa cerca de 8.000 euros ao Estado: mais de oito vezes mais do que o valor pago em propinas pelo estudante.

grande na aquisição de novos computadores para as salas de aula e de estudo” da faculdade. No caso da FEUP, em 2009, as propinas representaram 13% do orçamento total da faculdade. Neste ano lectivo e por decisão do Conselho Geral da U.Porto, as propinas são iguais para todos os cursos de cada ciclo de estudos. No entanto a professora admite que existem cursos mais baratos do que outros “porque não têm custos de laboratórios”, sendo por exemplo Engenharia Química e Bioengenharia alguns dos cursos mais caros. Os serviços de contabilidade da FPCEUP (Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto) esclareceram que os gastos a nível de propinas não são ligados à gestão da faculdade e que esta é inteiramente autónoma. O dinheiro das propinas pago pelos alunos vai directamente para a faculdade. Nutrição: A faculdade sem edifício A Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto é a única unidade orgânica da UP que não possui um edifício próprio. Os estudan-


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Miguel Lopes Rodrigues

Na FEUP, em 2009, as propinas representaram 13% do orçamento total da faculdade

Orçamento da UP Para manter o seu funcionamento, a UP tem vários tipos de despesas: vencimentos de professores e outros funcionários, contratação de serviços extraordinários, manutenção de património e reparações, etc. Tudo somado totaliza quase 190 milhões de euros, sendo que só os vencimentos correspondem a 140 ME. Já na parte das receitas, estão divididas entre a verba recebida do Orçamento de Estado, serviços prestados à comunidade, fundos comunitários e, claro, as propinas. No entanto, podemos fazer a comparação: enquanto a UP, em 2009, recebeu quase 132 ME do Estado, o valor recebido através de propinas foi de pouco mais de 32ME - menos de 15% do total de receitas da Universidade.

O motivo pelo qual a Faculdade tes contestam, as Associações de Estudantes fazem manifestações, de Ciências da Nutrição e Alimenmas os alunos da FCNAUP conti- tação não tem um edifício prende-se somente com o Orçamennuam a ter aulas na FEUP. to de Estado, Grande parte segundo fontes dos estudantes O PIDDAC é um administrativas questiona-se da própria faculacerca uso das programa em que a dade. O PIDDAC, propinas que construção de novos de pagam. Alguns edifícios é avaliada e Programa Investimentos membros administrativos da aprovada pelo Estado. e Despesas de Faculdade de A faculdade nunca foi Desenvolvimento da AdminisCiências da Nutração Central, trição e Alimen- contemplada nesse é um programa tação explicaram plano devido a uma em que a consque o facto de questão burocrática. trução de novos a faculdade não edifícios é avapossuir um edifício próprio nada tem a ver com liada e aprovada pelo Estado. A as propinas pagas pelos estudan- faculdade nunca foi contemplada tes. As propinas são um valor que nesse plano devido a uma quesa reitoria estabelece anualmente tão burocrática que não pode ser para todas as catorze unidades contornada na construção de um que constituem a Universidade novo espaço. do Porto. O valor é igual para todas as faculdades, tratando-se por Acção Social nas universiisso de um valor base, indepen- dades privadas Nem só o ensino superior púdentemente do número de alunos e da posse ou não de um edifício. blico recebe apoios do Estado: as

Miguel Lopes Rodrigues

As universidades públcias têm optado por manter as propinas iguais para todos os cursos

universidades privadas também. Na Universidade Lusófona do Porto (ULP) existe um gabinete específico para a acção social, o Serviço de Acção Social aos Estudantes (SASE). A ULP recebe apoios para bolsas de estudo por parte da Direcção Geral do Ensino Superior (DGES). Assim, a função deste gabinete é a ajuda às candidaturas a bolsa dos alunos da universidade. Alexandra Pinto é uma das funcionárias do SASE da Universidade Lusófona. Segundo

a mesma, mais de um terço dos alunos da Lusófona do Porto são candidatos a bolsa, adiantando valores: “neste momento temos 518 alunos que se candidataram à bolsa, embora ainda vá existir uma terceira fase, e muito provavelmente mais candidaturas”. A Universidade Lusófona dá a possibilidade aos alunos de apenas pagarem as propinas após saberem o resultado das candidaturas a bolsa, ou seja, o índice de alunos que não pagam propinas até


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Liliana Pinho

existe também a “Cooperação com elevadas carências económiAfricana”, isto é, um apoio aos cas foi isento de pagar qualquer alunos de origem africana que propina, no âmbito desse prograse traduz na redução de propi- ma de Cooperação Africana”. Existem outros nas, mediante apoios, nomeadaa situação fa- “Os alunos não têm mente protocolos miliar desses outra opção, visto com associações, estudantes. “No que não entram sindicatos e até ano passado municípios, como eram cerca de nas universidades por exemplo, es70 alunos que públicas que têm tudantes que sebeneficiavam jam filhos de PSP desse apoio”, re- médias de acesso ou GNR terão fere Alexandra, muito altas” 30% de redução e continua: “temos um caso excepcional de um nas propinas da Universidade Lualuno invisual, de origem africa- sófona. Apesar de se tratar de uma insna, que por ser muito esforçado e tituição privada, há extremos de económicas, como Quanto custa estudar numa Universidade privada? necessidades afirma Alexandra Pinto: “Já tivemos casos de alunos a virem O JUP perguntou a alguns alunos de instituições privadas quanto pedir apoio alimentar. O que fizepagavam de propinas. Os valores apresentados são mensais. mos foi encaminhá-los para instituições de solidariedade social”, Faculdade Curso Propinas conta. Mas acrescenta: “No início Universidade Lusíada do perguntava-me como é que pesDireito € 282 Porto soas a viver do rendimento social Universidade Lusófona do de inserção vinham estudar para Direito € 285 Porto uma universidade privada. Agora entendo essa situação, porque os Universidade Lusíada do Arquitectura € 340 Porto alunos não têm outra opção, visto que não entram nas universidaUniversidade Lusófona do Arquitectura € 310 des públicas que têm médias de Porto acesso muito altas”. Universidade Lusíada do Relações Internacionais € 282 Porto A Voz dos alunos Universidade Lusófona do Estudos Europeus e O JUP foi ainda recolher as € 262 Porto Relações Internacionais opiniões dos mais interessados e Universidade Fernando Ciência Politica e Relações envolvidos neste assunto: os estu€ 245 Pessoa Internacionais dantes. As opiniões são divergen-

Dezembro é muito alto na ULP, sendo das poucas privadas a dar essa opção. Quando questionada acerca do nível de desistência dos alunos após saberem se são bolseiros ou não, Alexandra Pinto disse que esse número de alunos não era muito significativo. Para um aluno ser considerado com carências económicas, este tem de ter uma capitação inferior a 503,06 euros. Por exemplo, “um aluno que tenha de capitação o valor de 503 euros, já inferior a 503,06 euros, terá de bolsa cerca de 48 euros, que é a bolsa mínima”, explica a funcionária. Neste serviço de acção social

tes de faculdade para faculdade. Alguns estudantes concordam com o valor pago. Comecemos com Cristiana Moreira, do 2º ano de Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde no ISMAI, que afirma que “No ano actual do meu curso pago o total de 1452 euros. Claro que penso que o valor é elevado mas as condições oferecidas pela faculdade são muito boas e a instituição está em constante desenvolvimento e actualizações.” Por outro lado há quem discorde com o que dizem ser um exagerado montante a pagar. Rita Tiago, do 2º ano de Relações Internacionais na FLUP, afirma: “Acho o valor muito exagerado pois o acesso à educação deveria ser para todos e, visto andarmos no ensino público, não deveria ser necessário pagar tanto para termos acesso a ele”. Quanto ao destino do valor pago, as opiniões recaem na generalidade sobre a ideia de que as propinas pagam os docentes, o material que é facultado ao alunos e a manutenção das instalações. É o que exemplifica Filipe Valente Silva, do 2º ano de Engenharia Civil na FEUP, que acredita que o valor das propinas é aplicado “na manutenção dos

laboratórios e do seu equipamento que, ao nível do meu curso, existem em elevada quantidade. Também na compra de várias licenças necessárias para o uso de programas informáticos específicos, licenças essas que podem ser muito caras”. No entanto há estudantes que não vêem investimentos a ser materializados, como Rita Tiago afirma: “Não vejo esse dinheiro aplicado em condições para os alunos. Pelo que tenho verificado e da experiência que tenho, desde que estudo na FLUP, não tenho visto grandes mudanças a esse nível.” Quanto às bolsas cedidas pelo Estado, os alunos bolseiros falam da ajuda económica como algo bastante positivo. Joana Nogueira, do 2º ano de Farmácia na ESTSP, explica que, “embora o valor das propinas seja bastante elevado, com este financiamento por parte do estado torna-se mais fácil para grande parte dos alunos suportar os gastos que o Ensino Superior exige”. Aline Flor, Catarina Medeiros, Daniela Neto, Daniela Teixeira, Eduarda Moreira, Joana Domingues, Luís Mendes, Mariana Catarino Miguel Lopes Rodrigues

O dinheiro das propinas pago pelos alunos vai directamente para a faculdade


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Liliana Pinho

FAP com nova direcção A tomada de posse dos novos órgãos da Federação Académica do Porto (FAP) aconteceu no dia 10 de Janeiro, na Reitoria da Universidade do Porto. A nova direcção da FAP é presidida por Luís Rebelo. Dos nove membros, apenas dois exerciam funções na gestão anterior, liderada por Ricardo Morgado. Luís Rebelo, que fazia parte da direcção anterior, justificou esta renovação com a necessidade de repensar a FAP “com novos olhos e ideias frescas”. O novo presidente da FAP pretende “aproveitar a estabilidade da Federação para deitar sementes à terra, proporcionando vantagens de médio e longo prazo que outros deverão colher”. Alguns dos pontos mais actuais do programa da lista única são a preocupação com “o preço da refeição social e do alojamento, que é da mais elementar justiça manter nos actuais valores”; a questão das prescrições, “que em Setembro próximo deverá arrastar centenas de estudantes para fora do Ensino Superior”; e a insistência junto aos às instituições para uma aplicação efectiva do processo de Bolonha, afirmando que “o ensino não poderá voltar a ser uma via de sentido único”. Uma das novidades que a nova direcção traz é um novo site da FAP, com a criação dos subdomínios para Alojamento, Emprego e Voluntariado. A nova direcção da FAP pretende apostar na “política educativa, desporto, cultura e intervenção social, considerando “fulcral trabalhar para que a longo prazo a FAP deixe de ser vista meramente como organizadora da Queima das Fitas”. Aline Flor

“Era um sistema de acção social, e não de assistência social, porque esta é muito mais abrangente”

“A bolsa de estudo passou a ser um apoio à família, e não ao estudante” A nova legislação para os apoios sociais veio mexer também com o financiamento do Ensino Superior. O JUP falou com João Carvalho, dos SASUP, que explicou que a mudança no regulamento de bolsas vai além de uma “mera” redução dos alunos ajudados. “Nenhum estudante da UP deixará de estudar por falta de recursos” - foi a garantia da vice-reitora para a Formação e Organização Académica da UP, Maria de Lurdes Rodrigues, quando questionada acerca dos altos valores pagos em propinas pelos estudantes. Segundo a vice-reitora, os SASUP estão receptivos para analisar mesmo os casos “perdidos”, de forma a que qualquer jovem, mesmo de famílias sem muitos recursos, possa ter acesso ao Ensino Superior. No entanto, João Carvalho, director dos Serviços de Acção Social da Universidade do

Porto (SASUP), vê com maior preocupação as consequências da mudança de regulamentos. A curto prazo, claro, encontra -se a questão da diminuição de estudantes apoiados por causa do novo regulamento de bolsas e das normas técnicas: “se atendermos que o indexante mudou, a bolsa de referência é menor, se passamos a trabalhar com rendimentos ilíquidos e se passamos a ponderar os elementos do agregado familiar para efeitos do cálculo da capitação, só por força da aplicação destes factores as bolsas têm que descer”, explica João Carvalho.

A linearidade trazida pelo novo regulamento torna a atribuição potencialmente mais justa, mas só até certo porto - perde-se a flexibilidade para analisar cada caso individualmente, já que a fórmula é universal e o dinheiro passa a vir directamente da Direcção Geral de Ensino Superior (DGES). Assim, é mais difícil resolver os problemas através da acção caso a caso, tendo em conta as circunstâncias, já que todos os alunos submetem-se aos mesmos critérios. O director dos SASUP preocupa-se com a mudança de paradigma que é imposta pelo Decreto-Lei 70/2010,

que define novas regras para os apoios sociais, já que “a bolsa de estudo passou a ser um apoio à família, e não ao estudante”. “Era um sistema de acção social, e não de assistência social, porque esta é muito mais abrangente”, explica. O director dos SASUP alerta também para as falhas que não foram colmatadas com o novo diploma. Continua ainda por definir a ponderação para estudantes de cursos mais caros, assim como se esbateram as ajudas a estudantes deslocados. Aline Flor alinerflor@gmail.com


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Acção Social

Entrevista Ricardo Costa Moreira

O Associativismo ainda não prescreveu Aos 22 Anos, Ricardo Costa é Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. O (quase) Engenheiro Mecânico fala sobre um Pólo inseguro, o novo regime de prescrições e o regulamento de atribuição de bolsas de estudo, num país em que “sempre que quisermos alguma coisa a tempo e horas, temos que realizar um encontro nacional”. Em Novembro, Ricardo Costa disse ao Jornal Universitário do Porto que “o local em que os estudantes têm aulas é integrado num ambiente manifestamente desprovido de segurança incapaz de assegurar a serenidade dos estudantes”. Fomos saber mais sobre o que o presidente da AEFEUP tem feito para melhorar a situação dos alunos. Considera que a segurança no Pólo da Asprela tem sido negligenciada pelas autoridades competentes? O que queremos dizer é que, embora nós percebamos a atitude das forças de segurança no pólo, o que estão a fazer actualmente não é suficiente. No início do ano lectivo passado realizou-se uma sessão de esclarecimento da PSP na Faculdade de Engenharia, organizada pela AEFEUP. Foi entregue um abaixoassinado ao Governo Civil, à PSP e à Reitoria da Universidade do Porto a dar conta do sentimento de insegurança dos alunos da Faculdade de

Engenharia e todas essas medidas tiveram o seu efeito. Verificámos que houve um aumento da passagem de forças policiais pela zona e, naquela altura, foi o suficiente. No início deste ano a criminalidade aumentou, houve inclusivamente uma situação de violência às dez da manhã no campus da FEUP. Nós não estamos de todo em desacordo com as medidas da PSP, já reunimos com eles, sabemos o que estão a fazer e têm o nosso apoio, mas de momento isso não chega. Provavelmente quem tem que intervir não é tanto a PSP mas sim o Governo Civil, uma vez que o Pólo da Asprela é muito mal iluminado e contrariar essa situação poderia ser benéfico. Tem alguma ideia do número de queixas ou de estudantes afectados? No primeiro mês de aulas deste ano lectivo enviei um e-mail a todos os estudantes da Faculdade de Engenharia a dar conta da insatis-

fação da AEFEUP relativamente à insegurança e a informá-los do que estávamos a fazer para tentar solucionar o problema. Nesse mesmo e-mail pedi para que me enviassem relatos pessoais de situações, o mais recente possíveis, para ter uma base real daquilo que se passa neste momento. Relativamente a situações mais recentes foram cerca de trinta os e-mails recebidos. Dentro da nossa comunidade sabemos que isso é um número reduzido mas também tenho a plena convicção que nem toda a gente que é vítima faz queixa porque há um claro desacreditar nas autoridades. Em que circunstâncias ocorrem os casos que lhe foram reportados? Todos os e-mails que eu recebi referem-se a casos que se passaram dentro da área que os alunos da Faculdade de Engenharia frequentam no dia-a-dia, desde o edifício principal à cantina e à associação de estudantes. Entre estes há uma avenida

com bastante movimento em horas de ponta mas que, ao entardecer e à noite, não tem muita luminosidade. Existe uma ponte que faz a ligação entre a biblioteca e a cantina que ao final da tarde é perigosíssima porque não tem iluminação, onde várias pessoas foram assaltadas, já tivemos uma cena de espancamento há um ano atrás naquela zona. Estou a falar de um ambiente em que um aluno da Faculdade de Engenharia está na biblioteca e por alguma razão quer vir à Associação de Estudantes, sente receio de passar pela ponte e tem que ir por outro caminho. Este clima de insegurança não é minimamente aceitável. Também há casos que ocorreram nas zonas circundantes, seja na avenida, seja numa rua de paralelos de acesso à cantina da Faculdade de Economia, que não faz parte do campus da FEUP em si mas é uma zona que, pela proximidade com a Faculdade de Engenharia, é um ponto de passagem pelos estudantes.

O movimento associativo está contente com o desenrolar da situação relativamente às bolsas de estudo? Nós entendemos que, dentro daquilo que o movimento associativo andava a pedir de há uns anos para cá, algumas dessas medidas estão incluídas. Na nossa opinião o grave problema das bolsas de estudo prende-se com o facto de o Decreto-lei 70/2010 prever um valor de capitação completamente diferente daquilo que havia dantes. Relativamente ao regulamento em si, nós estamos de acordo com ele. Acabou-se com o regime por escalões, passou a haver linearidade, e mesmo alguns aspectos negativos que o Decreto-lei 70/2010 podia trazer para o regulamento de atribuição de bolsas foram modificados, falo por exemplo dos vencimentos ilíquidos que passam a ser líquidos. Qual é o maior aspecto negativo? O problema deste caso é o mesmo que se verifica em tudo o que se mete o actual Ministro do Ensino Superior, os prazos em que as coisas são feitas. A Federação Académica do Porto organizou um ENDA extraordinário por causa das normas técnicas que podem modificar muito daquilo que está incluído no regulamento de atribuição de bolsas. A intenção era também pressionar o Ministério a pagar a primeira prestação e no mesmo dia houve uma intervenção do senhor Ministro a dizer que as bolsas iam ser pagas até à sexta-feira daquela semana. Aquilo que nos dão a entender é que, sempre que quisermos alguma coisa a tempo e horas, temos que realizar um encontro nacional, ou então têm que haver acções efectivas do movimento associativo para conseguir tirar alguma conclusão do Ministério. Acho que isto não é de todo benéfico porque só mostra

“O que não nos tem faltado são atrasos em todos estes processos do ensino superior.”


o interesse que o Ministério tem nestes assuntos todos. Demorou meses a entregar o regulamento de bolsas quando nós, no ENDA, conseguimos em um dia fazer aquilo que eles demoraram semanas. Não é dado qualquer tipo de explicação aos alunos por causa deste atraso, e essa é uma postura triste por parte do Ministério porque fica um pensamento negativo e um mau hábito para o movimento associativo que está aqui e que ainda há-de vir. Em que medida é que os alunos beneficiam com o critério de contratualização? A contratualização permite que, em tempo de análise de uma recandidatura, o aluno tenha a primeira

prestação garantida. Se um estudante que faz uma candidatura no segundo ano estiver à espera de receber a primeira prestação da bolsa só depois de esta ser reanalisada, é criado um certo espaço temporal que para ele não é benéfico. Quando há uma contratualização sabemos que um aluno que teve bolsa este ano, para o ano, na primeira prestação, vai receber exactamente o mesmo valor que recebia no ano anterior. Este é um dos pontos principais e um dos pontos benéficos que o novo regulamento nos fornece. Que outros pontos favoráveis encontra? Outro ponto tem a ver com as situações dos prazos, mas nada me

é garantido. Tem de haver um período em que têm de ser analisadas as novas candidaturas e outro para uma análise das recandidaturas. Se esses prazos forem cumpridos nós ficamos deliciados com aquilo que eles fazem, mas muito sinceramente acho que isso é impossível. Pelo que nós conhecemos dos serviços administrativos, não só neste caso mas no panorama nacional, sabemos que há sempre atrasos, e o que não nos tem faltado são atrasos em todos estes processos do ensino superior. A AEFEUP dá algum tipo de apoio a estudantes bolseiros? A AEFEUP começou no ano passado, e vai continuar este ano, a ter em todas as suas actividades preços

especiais para bolseiros. Caso ainda não haja uma lista de bolseiros, como aconteceu, por exemplo, no início das inscrições da liga Futsal, nós aceitamos o dinheiro do aluno e no futuro, caso ele prove que lhe foi entregue a bolsa de estudo para o ano corrente, nós devolvemos o dinheiro que pagou a mais por ser uma candidatura normal. Para além disso, estamos em contacto permanente com a direcção da FEUP. Uma das nossas preocupações é criar fóruns de financiamento para os alunos bolseiros dentro da Faculdade. Temos esse cuidado, apoiar os alunos bolseiros, e vai ser mantido ao longo de todo o ano. Regime de prescrições

Educação

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Houve petições, uma moção da FAP, mas o regime de prescrições entrou em vigor. Que balanço é que faz desta situação? O balanço que eu faço tem a ver com os números reais. A Faculdade de Engenharia é cerca de um terço das prescrições da Universidade do Porto. Em termos percentuais talvez não sejamos das faculdades com maior número de alunos prescritos, mas eu não me preocupo muito com o que se passa nas outras casas. Sei que no dia 1 de Setembro, quando tive acesso ao número de prescritos, a FEUP tinha 110 alunos. Alguns casos foram reavaliados e o número baixou, mas não deixámos de ser um terço, Bárbara Abraul

“O movimento associativo é ouvido, mas pode de facto estar a perder tais lugares de decisão. Perdemos representatividade.”


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não deixámos de ser muitos. E esse é um número que nos preocupa, acho que tanto a AEFEUP como a Federação Académica do Porto e todas as outras associações tudo fizeram e continuam a fazer para que o regime seja mais justo. Não quero com isto dizer que a AEFEUP é contra o regime de prescrições; a AEFEUP é a favor do regime de prescrições, achamos que este regime faz com que haja um comprometimento maior dos alunos para com o seu estudo e isso só melhora a qualidade de ensino da nossa Faculdade e a qualidade de ensino no geral. Só achamos que há uma certa injustiça do regime entre algumas Universidades. A haver um regime, tem que ser um regime igual para todos e achamos neste caso que os alunos de toda a Universidade do Porto podem estar a ser prejudicados. Acha que a Universidade do Porto pode ficar prejudicada por estarem alunos a prescrever que acabam por ir para outros estabelecimentos de ensino? Por ser o primeiro ano do regime de prescrições, os números também podem ser demasiado altos. Alguns alunos não estavam bem cientes daquilo que se estava a passar. Eu tenho quase a certeza

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drasticamente. Este é o nosso objectivo. Nós queremos que os alunos se sintam ajudados em todo este processo, que acredito que não seja fácil para quem prescreveu.

A Faculdade de Engenharia é cerca de um terço das prescrições da Universidade do Porto. absoluta de que os alunos que este ano não prescreveram mas estiveram em risco vão trabalhar para atingir os seus objectivos, e a partir daí conseguir acabar o seu curso o mais rápido possível. Porquê? Porque ninguém quer prescrever. Esta é uma situação recente, ninguém sabia bem como ia ocorrer mas agora, a partir do momento em que houve a primeira vez, toda a gente já sabe quais são as penalizações existentes. Por isso vão ver o problema com outros olhos. Eu tenho a certeza que, não só por haver uma consciencialização dos estudantes mas também porque a AEFEUP não vai deixar de apoiar os estudantes em risco de prescrever, para o próximo ano, os números vão baixar

Houve casos de injustiça em que alunos prescrevem por razões que lhe foram alheias? Nos casos em que a falta de aproveitamento escolar não é da responsabilidade do aluno é feito um requerimento ao director da Faculdade e a todos os que comprovaram a sua situação foi-lhes retirado o título de prescrito. Um despacho da reitoria da Universidade do Porto datado de Fevereiro veio resolver algumas situações que nós ainda achávamos que podiam ser injustas. Sei que todos os casos de alunos da Faculdade de Engenharia em que a falta de aproveitamento não é da responsabilidade do estudante estão a ser resolvidos com a maior das atenções e com a resposta o mais célere possível. No geral a opinião estudantil é favorável a este novo regime? Eu duvido que haja alguém na Faculdade de Engenharia que seja contra haver prescrições. Acho que quem perder cinco minutos a tentar perceber o regime deve ser a favor. Contudo, como é óbvio, todos

eles têm a noção que pode haver injustiças e por isso é que nós fizemos um abaixo-assinado em que a Faculdade de Engenharia, de todas as Faculdades da UP, foi a que teve mais assinaturas. Os alunos assinam, dizem-nos que são a favor das prescrições mas que pelo que é indicado há situações que podem estar a ser injustas.

na Faculdade candidatei-me quatro anos à Associação de Estudantes. Aquilo que eu acho é que o movimento associativo pode, não por culpa própria, estar cada vez mais a perder peso nos órgãos de decisão. E aí sim, por muito que batalhemos, não deixamos apenas de dar a nossa opinião que no momento da decisão pode valer pouco ou nada.

Movimento Associativo

Há algum exemplo concreto em que o movimento associativo não foi ouvido ou que a sua opinião não foi levada em consideração? O movimento associativo é ouvido, mas pode de facto estar a perder tais lugares de decisão. Podemos ver pelo exemplo da Faculdade de Engenharia, que sempre teve alunos no conselho directivo e agora com a reorganização dos órgãos de gestão já não temos lá nenhum. Perdemos representatividade. E isso faz com que toda a informação que poderíamos obter a partir dos elementos estudantis, por exemplo do conselho directivo, têm que ser papel da AEFEUP pedir informações, pedir reuniões.

Actualmente, fala-se muito que os jovens já não se interessam por política nem reclamam os seus direitos. Também se está a perder o interesse pelo movimento associativo? Eu acho que, nos dias que correm, e pelas dificuldades económicas que o país atravessa, um aluno que entra na Faculdade de Engenharia, ou pelo menos grande parte deles, tem por dever cumprir o curso. O aluno tem uma obrigação pessoal em não se distrair, em seguir um caminho muito recto para acabar o seu curso. E acho que isso é que pode estar a tirar pessoas ao movimento associativo. Agora não penso que o movimento esteja pobre, de maneira nenhuma. Caso assim fosse, se eu não acreditasse no movimento associativo, provavelmente não estava aqui e desde que ando

São muitos os alunos interessados em participar na associação? Mais uma vez em termos percentuais é possivelmente baixo. Porquê? Porque somos muitos. publicidade


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Mas não há nenhuma associação no Porto que tenha tantos elementos como a AEFEUP. A actual direcção tem 109 elementos. É óbvio que nem todos trabalham por igual porque isso seria impossível, mas eu noto que há um grande empenho, em cada departamento há um trabalho conjunto, de equipa, porque só assim conseguimos fazer com que em todos tenhamos uma atitude positiva e cada vez mais empreendedora dentro do trabalho que delineámos no início do ano. Acha que actividades como o Arraial de Engenharia acabam por ser a imagem da AEFEUP para o exterior? Isso é inevitável. Aquilo que nós tentamos fazer, e tenho a certeza que conseguimos, é mostrar a quem nós representamos, os alunos da Faculdade de Engenharia, que os outros assuntos não são esquecidos. Este ano temos um gabinete de apoio ao aluno no edifício da Associação, em que todas as sema-

nas há elementos do departamento pedagógico à espera que venham com questões para ajudar a esclarecer algum assunto. Com as várias sessões de esclarecimentos que fazemos de todos os assuntos pedagógicos queremos demonstrar os valores da Faculdade de Engenharia. Fazemos actividades, é certo, e não vou mentir que em termos

O Arraial não é de todo a nossa prioridade. orçamentais têm um peso muito grande, não só pela actividade em si mas pelos patrocinadores que conseguimos arrecadar com essas mesmas actividades. Mas o Arraial não é de todo a nossa prioridade vendo a direcção como um todo.

Não tenho qualquer problema em dizer que as actividades desportivas são uma prioridade superior Todas as semanas se fazem festas na Universidade do Porto, mas é muito difícil ter actividades desportivas. Porquê? A reitoria da Universidade do Porto peca por um elevado défice de instalações desportivas, e se não é a AEFEUP a disponibilizar actividades com um preço reduzido ou mesmo gratuito os nossos alunos não têm como praticar desporto. Essa é uma actividade que nos requer maior atenção e que é uma maior prioridade relativamente ao Arraial, que acredito que seja a actividade que mais lança o nome da AEFEUP. Sabemos inclusivamente, pelo feedback que temos das Associações de Lisboa, que o Arraial de Engenharia é falado por todo o país. Dentro do departamento recreativo, é prioridade deles trabalhar no Arraial. Mas para mim, que sou Presidente da AEFEUP e tenho de pensar na

AEFEUP como um todo, não é prioridade minha e não tenho qualquer tipo de problemas em referir isso. É Presidente da AEFEUP desde Junho deste ano. Até agora tem sido este o seu maior desafio? Dentro da AEFEUP, sem dúvida nenhuma. No meu segundo ano candidatei-me ao gabinete desportivo, mas na altura não ganhámos as eleições. Depois candidatei-me como tesoureiro, e agora sou Presidente. Ser tesoureiro dá muito trabalho, é uma grande responsabilidade ter que gerir 720 mil euros que é o orçamento anual da AEFEUP. Mas ser Presidente é um grande desafio porque não me posso preocupar só com as contas, tenho de me preocupar com tudo. Temos uma comunidade estudantil que admiramos muito pelo feedback que nos dá, eu recebo constantemente e-mails de todas as áreas a dar opiniões, a dizer aquilo que fizemos bem ou mal e vivemos sob uma pressão constante diariamen-

Desafios para quem quer ser Mestre O JUP acompanhou uma conferência do jornalista António Granado na Universidade do Porto e deixa alguns conselhos essenciais para uma investigação de sucesso. Hoje em dia há cada vez mais alunos a optar pela realização de um Mestrado. Opção ou “obrigação” de Bolonha, na grande maioria dos casos, a obtenção deste grau não é conseguida sem a execução de uma tese ou dissertação. Este trabalho, que ocupa um ano curricular, requer o respeito por uma série de regras. E foi sobre elas que se debruçou António Granado, docente de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa e autor do blogue “Ponto Media”, numa conferência que teve lugar nas instalações do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto em Novembro.

De acordo com o antigo editor da secção on-line do jornal Público, ser especialista no campo em que se está a escrever é um dos aspectos a demonstrar numa tese de Mestrado. Uma boa tese tem de ser original, e de preferência com um tema inovador que acrescente algo de diferente à área que estamos a estudar. Com o assunto definido, é necessário reunir uma série de fontes bibliográficas, fazendo assim uma “Revisão da Literatura”, ou seja, um sumário do que os outros autores escreveram sobre o objecto da dissertação. Todas as fontes encontradas devem ser registadas no Software bibliográfico Endnote, segundo aconselhou o

docente da Nova de Lisboa. Ao longo da conferência, António Granado sublinhou vários pontos essenciais numa tese, tais como, a realização de “uma análise crítica” do que já foi feito e a actualidade dos trabalhos em que nos baseamos, pois 50 por cento das investigações encontradas tem de ter menos de cinco anos. Contudo, o mais importante numa tese é o princípio e o fim. O princípio – como o início de um livro ou um de lead de uma notícia, como descreveu o docente – tem de cativar de imediato o leitor e levá-lo a ler o trabalho. O resumo da investigação, que dá a conhecer

a investigação, deverá sumarizar a tese e explicar todos os passos e conclusões retiradas. A introdução é também um capítulo essencial, pois é aí que se vai inserir a justificação do tema da dissertação e qual a sua pertinência. É um espaço para convencer o leitor e “deve ser escrita em último lugar”, sublinhou António Granado. Os resultados do estudo realizado têm de estar descritos ao pormenor, bem como a metodologia que utilizamos, continuou. A conclusão é, por fim, mais um desafio para o futuro mestre. Deve ser escrita de forma clara, sem erros, em particular os ortográficos, e sem

te. Todos os dias temos coisas completamente diferentes para fazer. Eu tanto tenho de me preocupar com as selecções, com alguma coisa que eu ache que podemos fazer de novo, como esta quarta-feira temos o fóruns de AEs, em que o reitor vai estar presença, e temos de preparar os documentos. Quarta-feira há reunião de pedagógico, têm que se reunir os documentos necessários, lê-los e saber aquilo que vamos falar. A direcção da AEFEUP não é daquelas que vai para as reuniões apenas ouvir aquilo que eles estão a dizer. Nós também queremos falar. E para falar temos de ler os documentos, temos de saber do que é que se trata, temos de estar informados de tudo aquilo que envolve o mundo do ensino superior. Dá trabalho, mas é um trabalho que nós fazemos com todo o gosto e não estou minimamente arrependido da escolha que fiz. Bárbara Abraúl b.abraul@hotmail.com

Chaves para o sucesso António Granado deixou alguns conselhos aos estudantes, apelidando-os de “chaves para o sucesso”: 1. O tema deve ser interessante e pertinente 2. A revisão bibliográfica “deve ser consistente” 3. A metodologia apropriada ao tempo da investigação 4. Os resultados devem ser profundamente analisados e apresentados de forma transparente 5. A escrita deve ser clara, simples e acessível a todos 6. A apresentação deve ser cuidada e sem falhas ambiguidades, explicando “exactamente qual a contribuição” que dá em termos científicos. Neste capítulo, deve ser realçada a importância da investigação. Granado mencionou ainda a apresentação perante o júri: o passo final da tese de Mestrado. “A pessoa deve ir directa ao assunto e apresentar logo as conclusões”, assinalou. Renata Silva


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Entrevista Rui Tavares

“Sem democracia europeia não vamos conseguir resolver esta crise” O escritor e historiador conversou com o JUP para falar sobre Europa, democracia e como Portugal pode sair da crise. A partir de que momento é que se passou a considerar um homem de Esquerda, até anarquista, como já se apresentou? Responder à pergunta do Anarquismo é mais fácil do que à da Esquerda. A da Esquerda tem razões que são sociais e familiares. A minha família era de gente do Ribatejo, camponeses principalmente, que tinham vindo para Lisboa, e que eram de Esquerda, portanto eu nasci em 1972 já nesse ambiente, num tempo em que o país era muito mais politizado do que é hoje em dia, em que toda a gente estava muito interessada e muito entusiasmada com a política. Uma criança achava aquilo uma coisa quase festiva, com tantos partidos, tantos cartazes, tantos símbolos, slogans escritos na rua e tudo mais. Isso deu-me interesse pela política e pela Esquerda. Depois houve ali um momento quando eu tinha 13 anos, em que comecei a achar que não podia ter só as ideias políticas da minha família. Então fui para a biblioteca, e pedi livros sobre ideologias políticas várias. Foi aí que eu li pela primeira vez alguma coisa de mais interessante acerca do anarquismo, que, antes disso, era uma corrente filosófica que eu até menosprezava e achava ingénua, como a maior parte das pessoas. No entanto, acabei por descobrir uma espécie de constelação de autores que, do ponto de vista filosófico, político e até literário, são muito interessantes. Como o

Proudhon, o Tolstoi, o George Orwell, ou até o Oscar Wilde, que não é muito conhecido por ter escrito sobre Política, mas que escreveu um livrinho chamado A Alma do Homem sob o Socialismo, que, do meu ponto de vista, é um belíssimo livro sobre Política. Eu alio duas coisas: ideias de Esquerda, que é sempre uma aliança das pessoas comuns, das pessoas que não são poderosas, não são ricas, e que para poderem fazer ouvir a sua voz têm de dar as mãos e se juntar, e eu acredito nisso, pela minha herança de Esquerda. Mas ao mesmo tempo o meu anarquismo tempera isso. Porque eu acho que devemos dar as mãos, mas para trazer liberdade e felicidade individuais. Porque estas são coisas que nós vamos sempre experimentar de forma individual. É cada um de nós que vai estar feliz no emprego ou não. Desse ponto de vista sou um libertário, com uma boa dose de individualismo, mas por ser de Esquerda acho que as melhores hipóteses que temos de maximizar isso é

Eu acho que devemos dar as mãos, mas para trazer liberdade e felicidade individuais.

trabalhando juntos, não é ganhando dinheiro e explorando os outros. Para quem conhece a realidade há tanto tempo, os blogues são hoje o auge da discussão política e social, ao invés da comunicação social? Acho que os blogues serviram para provar que afinal havia muito mais gente interessada em discutir a realidade do país, política, cultural e social, do que aquilo que se pensava. Somos um país que tem uma elite muito conservadora, e que fica convencida que há uma realidade só à volta dos jornais e de quem escreve nos jornais, e que o resto das pessoas vão bebendo aquilo acriticamente. Não é nada verdade. O país é mais culto e educado do que aquilo que era antes, evidentemente, e é um país que, de forma assinalável, conseguiu despachar-se de grande parte dos complexos de ter vivido 48 anos sob ditadura, ainda que não de todos. Portugal tem mais gente do que aquilo que as elites pensam que há, gente mais interessante e debates mais interessantes do que aquilo que poderia ser de esperar. A blogosfera ajudou a ensinar isso. Disse, quando foi eleito, que um dos seus objectivos era aproximar os portugueses da UE. Porque é que acha que os portugueses se distanciam tanto das questões europeias? Não é exactamente isso que eu


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Bio Rui Tavares é deputado independente no Parlamento Europeu, eleito nas listas do Bloco de Esquerda, e também colunista do Público e comentador político da SIC Notícias. Em 2003, foi um dos criadores do Barnabé, um blogue que teve uma expressão importante na realidade portuguesa. Mantém-se activo via twitter, blogue e youtube, onde cobre as iniciativas do Parlamento Europeu. digo. Eu não acho que as pessoas tenham que ser aproximadas da UE, como quem está a fazer babysitting aos cidadãos. O que eu disse é que uma das coisas que eu vinha fazer para aqui era uma aprendizagem, e tenho obrigação de levar aquilo que eu aprendo aos cidadãos, que é diferente. Depois, as pessoas têm os seus dilemas, como eu aliás tenho acerca da Europa. Eu acho que o projecto europeu é uma solução, mas acho

uma política clara a seguir. O problema é que, da maneira como as coisas estão feitas, nem sequer conseguimos trazer o debate europeu para o primeiro plano. Se as pessoas perceberem que ele é, de facto, o debate crucial, perceberão que deveriam estar a fazê-lo, e que deveriam estar mais informadas acerca do assunto. Mas a verdade é que não é só o debate, é preciso democracia. E a única instituição democrática da UE é o Parlamento. O Conselho e a Comissão não são instituições democráticas. E portanto, em termos de democracia contra burocracia, os burocratas estão a ganhar 2-1, o Parlamento está isolado. Eu sou a favor da UE, mas precisamos dos cidadãos connosco para que a Democracia tenha um futuro na União.

que está tão doente, que primeiro é preciso salvá-lo, para ele depois nos poder salvar a nós. E a maneira de fazer isso é trazer esse debate para as pessoas. E demonstrar que perdemos muito tempo no debate interno, achando que ele tem grande importância. Neste momento, Sócrates e Passos Coelho não têm importância nenhuma. A senhora Merkel diz uma frase, e os nossos juros sobem ou descem, e depois o senhor Passos Coelho e o senhor Sócrates ficam a discutir se foi uma decisão tomada em 2010 ou em 2009... Não. Se o Euro estivesse desenhado duma forma mais democrática, se o BCE tivesse obrigações de combater o desemprego no seu mandato - e aí PSD e PS, quando estavam nos Conselhos de Ministros das Finanças da UE deixaram fazer isto -; se a Comissão Europeia, que vai passar a mandar nos nossos Orçamentos, fosse eleita; se nós tivéssemos democracia na UE, e essa foi a minha principal plataforma eleitoral, tudo isto seria muito mais claro para os cidadãos, e, acima de tudo, poder-se-ia escolher Nuno Fox/Global Imagens, Fonte: JN

“Se me perguntar entre a crise e a democracia europeia o que é mais importante, eu digo que sem democracia europeia nós não vamos conseguir resolver a crise.”

É um crítico severo da falta de legitimidade democrática tanto da Comissão Europeia como agora do Presidente do Conselho Europeu. Até quando é que a UE pode continuar a adiar esta questão? Está cada vez mais tarde. No Brasil, com o presidente Lula, agora com a futura presidente Dilma, ou nos EUA, com o Presidente Obama, pode-se ter mais ou menos dificuldade para fazer face à crise, mas ao menos há alguém que foi legitimado para seguir determinada política. Ambos podem dizer nas eleições que têm em mente os problemas de todos os brasileiros, ou de todos os norte-americanos, e que a política que querem fazer é de austeridade, ou é defender os empregos, que é mais de direita ou mais de esquerda. Mas é legitimada. Agora, quem é que diz isso numas eleições europeias? Quem é que, quando estiver a discutir com a senhora Merkel e o senhor Sarkozy, lhes pode dizer que eles têm os problemas dos alemães ou dos franceses em mente, mas que têm de pensar nos 500 milhões de europeus, e que esses são portugueses, estónios, irlandeses ou polacos? Quem é que lhes pode dizer que foi votado por 500 milhões de pessoas para ter os problemas de todos em mente, e que os deles, alemães e franceses, são legítimos, mas não são os de toda a gente? Neste momento não há ninguém para dizer isto. O Dr. Durão Barroso não foi escolhido pelos 500 milhões, portanto não pode dizer isto. As pessoas perguntam-se porque é que ele nunca levanta a voz para dizer à senhora Merkel que o que a Alemanha está a fazer nos está a arruinar a nós. Ele não diz isso porque foi escolhido por ela. Dos 27 primeiros-

ministros, basta dois ou três se juntarem, Merkel, Sarkozy e Berlusconi, por exemplo, e são eles que tomam a decisão e os outros vão atrás, portanto ele vai obedecer àquelas três pessoas. A UE tem mais gente que os EUA, tem uma economia mais forte que a dos EUA, mas politicamente não é nada, porque de facto não temos legitimidade democrática para além do Parlamento Europeu. Portanto, acho que se faz cada vez mais tarde, até porque só vamos resolver esta crise quando houver alguém - mandatado pelos 500 milhões - que tenha uma política clara para a resolver. Precisamos de ter uma eleição democrática para um Governo europeu. Criticou duramente o que aconteceu em França com os ciganos. Diz que é o “renascimento dos egoísmos nacionais”. Numa altura de crise, acha que a UE está a optar por percorrer caminhos perigosos? A UE está a desfazer parte dos seus fundamentos. Um dos quais é a liberdade de movimentos. O espírito dos Tratados e das Leis é que os cidadãos europeus possam viver e trabalhar em qualquer lado da União, e este não pode ser um direito abstracto. Não há ciganos e não ciganos, há cidadãos europeus. E se eles o são, têm direito a movimentar-se. O que é facto é que os franceses atacaram cidadãos europeus, muitos deles sem qualquer cadastro, alguns deles integrados, e com filhos na escola

Eu acho que o projecto europeu é uma solução, mas acho que está tão doente, que primeiro é preciso salvá-lo, para ele depois nos poder salvar a nós. e tudo, que é uma coisa que se diz muito pouco. E começa pelos ciganos, mas depois já pode ser pessoas que não têm meios de subsistência, porque o Presidente Sarkozy começou a dizer isso. Muito rapidamente ia chegar também a portugueses. Então se pode ser contra os romenos e os búlgaros, porque é que não pode ser contra os portugueses que estão em França, e que agora lhes aconte-

ce estarem desempregados? O problema dos egoísmos nacionais é que parecem resolver problemas de curto prazo, mas acabam por nos arruinar a todos. Se os franceses começam a fazer isso, porque é que a seguir não o fazem os alemães, e os espanhóis e os portugueses? E a seguir nós podemos dizer que se eles não querem os nossos cidadãos lá, nós também não queremos os produtos deles cá. E desfaz-se a Europa. É, de facto, muito grave. A liberdade de circulação é, por exemplo, uma das coisas que permite que países como os Estados Unidos ou o Brasil, lá está, reajam bem às crises. Nós só temos hipóteses de competir com grandes potências regionais como a China, a Índia, o Brasil ou os Estados Unidos, através da escala. Nós temos 500 millhões de cidadãos, e isso é muito. Até estamos numa situação privilegiada. Temos cidades que são extraordinários pólos económicos, como Londres, Paris ou Frankfurt, outras culturalmente muito interessantes, como Barcelona, Lisboa ou Roma. Temos todas as ferramentas para fazer face à crise, mas só se formos inteligentes na forma de as utilizar. Assim, daqui a pouco tempo os portugueses vão-se começar a perguntar o que é que estão a fazer no Euro, e a seguir o que é que estão a fazer na União. E se nós também decidirmos ser egoístas, como os outros são? É um péssimo caminho para toda a gente. Escreveu no seu blog que este orçamento não só é errado como é trágico. Havia alternativa a não ser as medidas violentas de austeridade que o governo tomou? As alternativas criam-se. Na vida pessoal, como na vida do país, temos sempre de estar a pensar na alternativa. Não é só pensar em resistir, é fazer a mudança acontecer. E houve desde logo uma alternativa política, que ainda há, de levar a questão para os fóruns europeus duma forma muito mais efectiva. Agora, se nós aceitamos ser o rato, a certa altura o rato não tem outra solução. Devíamos ter dito, desde o início, que a Europa devia ter políticas expansionistas, e que ainda não era altura de entrar em retracção. A economia tem de estar muito melhor. Claro que o Estado tem de poupar no défice, mas tem de poupar quando a economia estiver a crescer, quando não tenhamos de fazer sofrer a população toda. Se conseguirmos pôr a economia a crescer, e isso é muito mais fácil


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de fazer à escala europeia, na altura custará muito menos tirar 1% disso para ir pagando a dívida, e a dívida paga-se em 6 ou 7 anos. Desta maneira, nós estamos a fazer decrescer o nosso PIB, porque estamos a produzir menos e temos mais desemprego, e esta dívida custa mais a pagar e demora mais a pagar. E, de cada vez que a pagamos, tornamos a nossa situação mais insustentável. Isso de não termos outra hipótese é que nos está a levar ao caminho sem hipóteses. Nós estamos numa situação mais insustentável agora do que há 15 dias, e há 15 dias já estávamos numa situação mais insustentável do que meses antes. O que eu quero saber é porque é que o primeiro-ministro Sócrates nunca confrontou a chanceler alemã publicamente em relação a isto. Porque é que não fez uma aliança com a Irlanda, a Espanha e a Grécia? Porque é que estes países não se juntaram e disseram que com este tipo de política não contassem com eles? É um jogo que está viciado para nós perdermos. Nunca disseram que a UE devia ser mais democrática, que o BCE devia ter políticas de crescimento e de emprego, que é uma loucura completa termos uma moeda que tem um Banco Central mas não tem um tesouro,

não tem fiscalidade própria, que tem orçamentos que são absolutamente inadequados. É preciso mudar institucionalmente a forma de fazer política na Europa. Se me perguntar entre a crise e a democracia europeia o que é mais importante, eu digo que sem democracia europeia nós não vamos conseguir resolver a crise.

Isso de não termos outra hipótese é que nos está a levar ao caminho sem hipóteses. Decidiu retirar uma bolsa do próprio bolso. Como é que reagiu ao que viu? Há coisas muito boas. Há coisas que não são exactamente projectos, de gente que precisa mesmo muito do dinheiro para acabar o curso, e então fica um bocadinho difícil decidir, porque eu não tenho condições para conhecer em detalhe a situação de cada uma dessas pessoas. Aprendi imenso com isto, duma forma às vezes até

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um bocadinho emocional. É emotivo porque se vê mesmo através das candidaturas das bolsas que o país está numa situação difícil, e que vai estar numa situação pior. Esta crise não é uma coisa abstracta. Há gente que não vai conseguir acabar os estudos, há gente que não vai ter o emprego que poderia, há gente com talento que, nos próximos anos, vai ficar um bocado pelo caminho, e isso é assustador. Ao receber as candidaturas vi isso. Por outro lado, é interessante ver que há tanta gente do país, e até gente de fora, a querer fazer coisas muito boas. Gente do interior do país que entrou em belíssimas escolas nas grandes metrópoles do mundo, gente de fora que aprendeu português, e que quer fazer um projecto em Cabo Verde ou no Brasil, projectos de ciência, de arte, outros mais politizados. Foi uma experiência muito interessante. A principal lição que eu tiro é levar isto para um projecto mais sério e mais abrangente. Já apareceu gente que quer meter dinheiro nisto, e reforçar as bolsas que eu vou dar, e portanto isso deu-me a ideia de que eu daqui a um ano devia relançar as bolsas, com uma ideia em mente que é a de criar uma plataforma inter-bolsas na Internet, que permita juntar

os dois lados da investigação. Quem tem projectos, poderá ir à plataforma apresentá-los, e as pessoas que tiverem possibilidades de apoiar financeiramente podem comprometer-se, nem que seja com 50 ou 100€, porque juntando as várias ofertas, às tantas 10 ou 15 pessoas conseguem financiar um projecto, mesmo que com pouco cada uma. Este primeiro ano foi experiência, o segundo será para criar essa plataforma inter-bolsas, e a partir daí se for preciso criar legislação, é trabalhar nisto, e usar isto como uma espécie de alimentação circular do meu próprio mandato aqui, porque foi isso que me permitiu começar isto. Disse que, a poucos anos da Democracia portuguesa igualar o período da ditadura, continua a ser preciso provar que a Liberdade é boa porque também permite construir uma sociedade muito melhor. O que é que temos de mudar na próxima década? Eu como analista político todas as semanas me ponho a adivinhar o que vai ser o futuro. Mas eu acho que a mensagem mais importante é que nós não estamos aqui para adivinhar. Ou seja, eu estou a dar esta entrevista a um jornal universitário que vai ser lido pelas pessoas que vão fazer

esse futuro. Vocês é que vão fazê-lo, ou pelo menos vamos fazê-lo juntos. Portanto, para que me vou pôr a adivinhar? O melhor que eu posso fazer é exortar as pessoas a que consigamos o que eu dizia nessa frase. A cada comemoração do 25 de Abril, nós dizemos que foi bom porque a democracia é boa, a liberdade é boa, e são melhores do que a ditadura e do que a opressão. De acordo. Mas além disso, eu gostaria que essa vitória dos cidadãos e da democracia seja de tal forma clara que, depois de 48 anos de democracia, a gente se vire para trás e pense que o regime que é feito por toda a gente é de facto muito superior. Não é só conseguirmos liberdade de imprensa, de expressão, não haver polícia política nem presos políticos, mas conseguir que mais gente estude, que haja mais conforto nas nossas cidades para os deficientes e para os idosos, ou que uma criança, quando nasce, quer seja no Interior ou na cidade, quer seja pobre ou rica, tenha boas oportunidades. Eu não posso adivinhar isso, mas posso fazer qualquer coisa para que isso aconteça, e vocês todos podem também. Paulo Pereira paulop27@hotmail.com

Saúde em Portugal: de mal a pior Já era sabido que o nosso Sistema Nacional de Saúde tinha fraquezas. A falta de médicos nos centros de saúde é uma delas. A falta de médicos nota-se em especial no interior, onde muitas são as pessoas sem médico de família. É também lá que os horários de funcionamento são menos extensos, dificultando o atendimento dos pacientes. Mas não só: as listas de espera para cirurgias, consultas e tratamentos são regularmente grandes, e as demoras, por regra, ultrapassam

os prazos do recomendado para cada tipo de tratamento. Estas e outras queixas ouvimos todos os dias na opinião popular. Com o Orçamento de Estado 2010, estes problemas agravar-se-ão e outros ainda se vão colocar, uma vez que a área da Saúde é aquela que levou o corte maior – cerca de 13%, ou 50 milhões de Euros – corte que a Ministra da Saúde, Ana Jorge, garante não afectará a qualidade do SNS. Mas será que os dados adquiridos até agora apontam para tal? Como estudantes em tempos de crise e a pensar no futuro, temos sempre em mente que o curso com melhor probabilidade de sucesso é o de Medicina. Mas já não é bem assim. Os recém-formados especialistas não entram directamente para o quadro dos SNS, são “contratados” como prestadores

de serviços, ou seja, a recibos ver- podem suspender a reforma por des, num regime de precariedade. três anos – mas só 40 destes aceiJá os de medicina geral estão a ser taram a proposta. integrados no sistema, mas com Para colmatar estas deficiênsalários inferiores aos tabelados. cias, tentou-se a modalidade de os Uma solução possível para estes médicos “tarefeiros” – sem conmédicos é trabalharem no sector trato, pagos à hora, que só no priprivado, com melhor condições, meiro semestre de 2009 custaram horários e salários. ao Estado 47 milhões de Euros – Só até Outubro deste ano já se que não melhoram a situação. aposentaram perto de 600 médi- Segundo uma auditoria do Tricos (uma subida em flecha, com- bunal de Contas, as reclamações parando com e os custos por 410 em 2009) Segundo uma auditoria doente socorrido – na sua larga do Tribunal de Contas, aumentaram. maioria médiTambém na as reclamações e os cos de família, classe dos enferagravando ainda custos por doente meiros, outrora mais a situação socorrido aumentaram em falta gritanreferida antete nos hospitais riormente. Para combater este portugueses, se prevê problemas. verdadeiro êxodo de clínicos, Segundo um estudo da Universicriou-se um novo regime espe- dade de Coimbra, nem metade dos cial em Julho em que os médicos que saírão das escolas de enferma-

gem até 2020 serão integrados em unidades de saúde públicas. A situação actual não está muito longe: em 2007, só 37% do total dos formandos o conseguiu. A culpa reside na quantidade elevadíssima de escolas de enfermagem públicas e privadas por Portugal fora. Os portugueses, já a prever piores tempos no SNS, cada vez recorrem mais aos hospitais e clínicas privadas: o equivalente a 13% das consultas e a 15% das cirurgias do serviço público. Ou seja, o sector privado conta com dois milhões de pacientes. 60% das consultas de oftalmologia, 90% das de medicina dentária e 54 % das de cardiologia também são no sector privado. É caso para se dizer: quem pode, pode; quem não pode, contentase com o nosso SNS. Christina Branco


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O que achas que funciona mal na Universidade? Direitos reservados/Arquivo JUP

Paulo Teixeira 3º Ano Filosofia

Luís Moreira 2º Ano Geografia

Rui Dantas 3º ano Eng. Electrotécnica

Marta Monteiro 2º Ano FEP

Acho que está mal o sistema de faltas, porque há uma infantilização dos alunos pelos simples facto de terem de ir a aula para assinar a ficha e de haver professores que passam a folha de presenças e outros que não. No plano de estudos acho que devia haver uma espécie de estágio, porque a filosofia está em todo o lado, devia ser mais valorizada.

Eu entrei depois de Bolonha, mas parece que antes o curso era mais extenso, havia mais tempo para dar cada programa. Havia cadeiras de um ano que agora são dadas num semestre. Acho que se devia acabar com as faltas e sou a favor o sistema de avaliação contínua, porque se durante os 3 meses formos avaliados continuamente é escusado estar a concentrar tudo num exame que vale 100%, como fiz no ano passado.

Acho que os exames exigem conhecimentos mais aprofundados que aquilo que nos damos nas aulas, muito. Regularmente chumba sempre muita gente e eles estão sempre a alterar os critérios de avaliação para passar uma certa percentagem mínima de pessoas.

O facto de não termos nenhum contacto com o mercado do trabalho. Temos muita parte teórica e não sabemos até que ponto podemos aplicar isso ao mercado de trabalho. Não temos mestrado [integrado] nem estágio.


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O diploma à distância de um “clique”

Até 5 de Janeiro Exposição: “PRINTING AND THEN AGAIN” Evento principal do programa WAGO, a exposição reúne o trabalho de 4 gravadores contemporâneos japoneses (Ryoji Ikeda, Ryuta Endo, Hiroshi Watanabe e Toshihisa Fudezuka) e de 4 artistas portugueses (Francisco Laranjo, Pedro Tudela, Júlio Dolbeth e Marco Mendes). 2ª a 6ª feira, das 14h30 às 18h Entrada livre

6 DE JANEIRO Direitos Reservados

Esqueçam-se as filas de espera na secretaria e os carimbos de autenticação. Em breve, todos os estudantes da Universidade do Porto poderão obter o seu certificado de habilitações online e ligá-lo, em poucos segundos, aos currículos apresentados virtualmente. Tudo isto graças ao “Digitary”, uma plataforma que promete facilitar a vida aos alumni da Universidade na hora de se lançarem no mercado de trabalho. Apresentado no passado dia 22 de Novembro, o novo sistema digital de pedido de certidões - inserido nas medidas do programa SIMPLEX – permite que os antigos estudantes tenham acesso a um conjunto de documentos online, que podem ser utilizados para completar o currículo ou para eventuais candidaturas a bolsas. Os documentos estão disponíveis para cursos da U.Porto homologados no âmbito do Processo de Bolonha e incluem, por exemplo, o certificado de habilitações em Português e Inglês. Para utilizarem a plataforma, os es-

AGENDA

tudantes devem autenticar-se no sítio da faculdade onde concluíram o grau e, na ficha pessoal, aceder a “Digitary”. Se já existirem documentos que lhes digam respeito, podem consultá-los autenticando-se na plataforma. Nesta primeira fase, o “Digitary” encontra-se em fase de testes na Faculdade de Letras (FLUP) mas será rapidamente incorporada nas restantes 13 faculdades da Universidade do Porto.

VII WORKSHOP E-LEARNING@ UP

Direitos Reservados

dos seus quatro núcleos expositivos (Arqueologia e Etnografia, Mineralogia, Paleontologia e Zoologia). É esse património que poderás ajudar a divulgar participando na organização de visitas guiadas, na inventariação do acervo ou na colaboração em exposições. Todos os interessados em ter um papel nesta “História” devem aceder ao espaço do Museu de História Natural da U.Porto na plataforma de voluntariado “Migos” - http:// www.migos.org/missions/24 - e registar-se nas “Tarefas” pretendidas.

Auditório Alberto Amaral, FMDUP, 9h Criada a 6 de Janeiro de 1989, a partir da integração da Escola Superior de Medicina Dentária na U.Porto, a FMDUP prepara-se para celebrar o seu 22º o seu aniversário. A efeméride será assinalada com uma sessão solene a ter lugar ao longo da manhã. Programa completo em: http://fmd.up.pt

7 de Janeiro

Torna-te“migo”doMuseu de História Natural

Gostas de pedras preciosas e anseias por partilhar o que sabes com o mundo? Gostarias de liderar uma “expedição” ao encontro de múmias egípcias reais, esqueletos de baleias e elefantes, e fósseis com milhões de anos? Se a resposta é “sim”, então agora poderás fazer isto tudo tornando-te “migo” - voluntário - do “Museu de História Natural da Universidade do Porto. Localizado no Edifício Histórico da Universidade do Porto, o Museu de História Natural “esconde” um impressionante acervo ao longo

DIA DA FACULDADE DE MEDICINA DENTÁRIA – “FMDUP XXI”

Faculdade de Ciências da U.Porto, 9h15 Anfiteatro M004, Edifício FC1 (Departamento de Matemática) Evento em que onze professores da U. Porto apresentarão as respectivas candidaturas ao Prémio Excelência em e-Learning 2010. Mais informações em http://elearning.up.pt

7 DE JANEIRO A 7 DE FEVEREIRO Exposição de “ARTISTAS EM RESIDÊNCIA” Casa Oficina António Carneiro (COAC), 9h15 Mostra inserida no âmbito do Programa de Artistas em Residência, promovido pela Faculdade de

Belas Artes da U.Porto. Em exposição, trabalhos de João do Vale e de Lara Soares, antigos estudantes da FBAUP. Entrada livre

10 DE JANEIRO

“Percurso literário de um cientista”. A sessão vai ser moderada moderada por Sebastião Feyo de Azevedo, Director da FEUP. Entrada livre

“PALAVRAS CRUZADAS - entre o Evangelho e a Universidade” e-learning Café da Universidade do Porto, 21h15 Terceira sessão da iniciativa promovida pela Pastoral Universitária do Porto com o objectivo de reflectir a presença da religião na vida dos estudantes universitários. Mais informações em: http://elearningcafe.up.pt/ Entrada livre

10 DE JANEIRO VI SEMINÁRIO ERASMUS | FMUP Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, 14h30 Sessão que visa motivar os estudantes da U.Porto a participar no Programa LLP/ERASMUS e esclarecer as dúvidas relativas ao processo de candidatura. Este ano, o evento conta com a participação de António Marques, Vicereitor para as Relações Internacionais. Entrada livre

13 DE JANEIRO DIÁLOGOS COM A CIÊNCIA III - ECONOMIA E FINANÇAS Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto, 21h30 Dois ex-ministros da Economia e das Finanças debatem o estado das contas do país em mais uma sessão integrada na segunda edição do ciclo Diálogos com a Ciência. Até Março de 2011, personalidades de diferentes quadrantes debatem temas em foco nas Ciêncais Sociais e na actualidade do país. Convidados: Daniel Bessa e Luís Campos e Cunha Mais informações: Marco Gabriel - mgabriel@reit.up.pt Entrada livre

27 DE JANEIRO CLUBE DE LEITURA DA FEUP Percurso literário de um cientista: Prof António Coutinho Biblioteca da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, 12h António Coutinho, Director do Instituto Gulbenkian de Ciência, vai apresentar esta 4ª sessão do Clube de Leitura da FEUP, que terá como tema o

1 DE FEVEREIRO A 17 DE JULHO Exposição “A EVOLUÇÃO DE DARWIN” Casa Andresen (ao Jardim Botânico do Porto) Evento inaugural do programa de comemorações do Centenárioda Universidade do Porto, esta mostra ambiciosa dará a conhecer a vida e obra de Charles Darwin através da reunião inédita de um conjunto de acervos provenientes da Universidade e de várias outras instituições nacionais e internacionais. Mais informações em: http://expodarwin.up.pt http://centenario.up.pt

17 A 19 de FEVEREIRO IJUP’11 Ao longo de três dias o edifício da Reitoria recebe mais uma edição do Encontro de Investigação Jovem na U.Porto (IJUP’11). Pelo quarto ano consecutivo, os estudantes de todas as áreas de conhecimento da U.Porto, do 1º ou 2º ciclos (incluindo estudantes de mobilidade)são convidados a apresentar trabalhos de investigação em que colaboraram. Mais informações e inscrições em: http://ijup.up.pt


A Ciência e o país em “Diálogo” na Reitoria Um sociólogo e um cardeal reunidos para debater os valores da sociedade actual; antigos ministros “lado a lado” para um diagnóstico ao estado da economia do país; autarcas e dirigentes associativos à mesma mesa pela Regionalização. Desde o passado dia 25 de Novembro, estas são algumas das “combinações” com passagem marcada pelo Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto, no âmbito de mais uma edição do ciclo “Diálogos com a Ciência”. Mantendo o propósito dos “Diálogos” originais, este evento visa criar pontes de contacto entre o mundo da Ciência (com relevo para as ciência sociais) e um universo de temas que marcam a “agenda” de Portugal e do mundo. Um mote que será respondido por figuras da política local e nacional, da religião, da academia, do mundo empresarial e do associativismo. Depois de, no primeiro debate, Dom José Policarpo e António Barreto terem trocado pontos de vista sobre “Sociedade e Valores”, os “Diálogos” prosseguem com mais quatro sessões. A segunda aconteceu a 16 de Dezembro, data em que a relação” Ocidente vs Islão” foi analisada por um quadro de especialistas de várias universidades nacionais. Já em 2011, a 13 de Janeiro, o estado da “Economia e Finanças” lançou o repto para um debate que contou com Daniel Bessa e Luís Campos e Cunha, ex-ministros da Economia e das Finanças, respectivamente. A 10 de Fevereiro, será a vez de Alexandre Soares dos Santos (presidente do grupo Jerónimo Martins), Isabel Jonet (presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome) e do Padre Lino Maia se juntarem sob os desígnios da “Responsabilidade Social”. A última sessão dos “Diálogos”, a 17 de Março, será dedicada à “Regionalização” e tem como protagonistas Rui Moreira (presidente da Associação Comercial do Porto), Jorge Nunes (presidente da Câmara de Bragança) entre outros. Todas as sessões têm início às 21h30. A entrada é livre, mas sujeita à lotação do Salão Nobre.

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Cem anos para celebrar com toda a cidade A maior Universidade portuguesa faz anos em 2011 e vai festejar ao longo do ano com um programa de eventos nos quais também os estudantes terão um papel principal. Ainda que as suas origens remontem ao século XVIII, o dia 21 Março de 1911 é a data que os livros de História assinalam como o primeiro dia da vida da Universidade do Porto. Por isso mesmo, 2011 será um ano especial para a Universidade, que se prepara para celebrar o seu primeiro Centenário com um programa de comemorações aberto a toda a população. Exposições artísticas e museológicas, mostras científicas, concertos, competições desportivas, conferências e encontros, tudo isto e muito mais pode ser encontrado num ciclo de eventos que fará jus ao legado da instituição, sedimentado no último século. O momento alto das comemorações está reservado para 22 de Março, a data em que se assinala o centésimo aniversário da Universidade. Procurando mobilizar toda a comunidade para a efeméride, as celebrações arrancam logo de madrugada ao som da “Serenata Monumental” interpretada pelo Orfeão Universitário, para prosseguirem com a tradicional Sessão Solene do Dia da Universidade, que contará com a presença de personalidades dos vários quadrantes da vida da cidade e do país. De resto, música, arte, literatura, debate e desporto combinam para fazer do Centenário um momento aberto a toda a cidade e, especialmente, aos estudantes da academia, a quem a Universidade convida a ter

Direitos Reservados/UP

um papel activo nas celebrações. Incluem-se neste leque as actividades promovidas pelo Teatro Universitário da U.Porto, pelo Orfeão e pelas várias tunas das faculdades. Aos estudantes está também “reservada” a presença numa grande variedade de eventos desportivos a decorrer um pouco por toda a cidade. Celebrar o passado, projectar o futuro A liderar o programa de Comemorações está uma comissão ad hoc presidida por Luís Valente de Oliveira. Referindo-se aos múltiplos eventos projectados para os pró-

ximos meses, o vice-presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP) destaca o propósito comum de se “mostrar uma instituição com um passado sólido e de que se pode orgulhar”. No entanto, “queremos também pensar no futuro da Universidade e como este se encaixa na sociedade”, ressalva. Para além da comunidade académica, Valente de Oliveira apela por isso a que a comunidade no seu todo se junte às celebrações. “É no exterior que temos de procurar a nossa legitimação e a nossa identidade. Queremos envolver toda a gente, para que sintam que alguma coisa está

acontecer, que a Universidade não adormeceu. A casa está viva e cheia de projectos”, vaticina o Presidente da Comissão de Comemorações. Mais informações:

Todas as informações sobre os eventos integrados no Programa das comemorações do Centenário da Universidade do Porto estão disponíveis no site oficial. Aqui poderás ainda encontrar informação sobre a História da Universidade e dar o teu próprio contributo para as celebrações.

http://centenario.up.pt/


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Intervenção urbana efémera O artista Oliver Bishop-Young esteve no Porto entre 27 e 29 de Novembro para um workshop de intervenção urbana. Entre os participantes na iniciativa estiveram arquitectos e designers que em conjunto “interferiram artisticamente” num contentor de obras, fazendo contrastar “a leveza dos balões com a pesada realidade da reabilitação urbana”. O evento foi promovido pela S.P.O.T..

Hugo Leal

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Modalidade do Mês

Basquetebol adaptado O Basquetebol Adaptado surge na década de 40, com o neurocirurgião germânico Sir Ludwig Guttman a introduzir a actividade física adaptada com fins de reabilitação dos soldados com lesões medulares contraídas na II Guerra Mundial. Em 1948, decorre a primeira competição oficial de basquetebol em cadeira de rodas, nos Jogos de Stoke Mandeville, Inglaterra. Com o passar dos anos, a popularidade daquela que é a modalidade rainha dos desportos para pessoas com deficiência foi crescendo e a função terapêutica que lhe era associada deixou de ser a única. Aos poucos e poucos, o aperfeiçoamento técnico das cadeiras, do material e da sua ergonomia, e a evolução da mentalidade face à deficiência começavam a antever que a alta competição no basquete adaptado não era uma pretensão quimérica. Em Portugal, a modalidade só chega nos anos 70, sem conhecer progressos significativos durante muito tempo. Só em 1996, Portugal se estreou em competições internacionais, no Campeonato da Europa da divisão B, na Eslovénia. Já neste milénio e, sobretudo nos últimos 5 anos, tem-se notado algum desenvolvimento no basquetebol adaptado português. A brilhante carreira do atleta luso Hugo Lourenço, no campeonato espanhol (liga profissional), é prova disso mesmo. Contudo, persistem obstáculos que impedem o país de estar na vanguarda, de que é exemplo a falta de público. João Correia, técnico-adjunto e responsável pelo Departamento de Comunicação da Associação Portuguesa de Deficientes (APD) de Braga, alerta para o quanto é moroso inverter esta tendência e explica como a sua equipa o tem feito. “É um trabalho de “partir pedra” e derrubar preconceitos

ainda associados à pessoa portadora de deficiência”. “É importante estabelecer parcerias com a imprensa, de modo a levar [às pessoas] de forma contínua a existência da modalidade”. O projecto dos bracarenses passa também por sensibilizar os mais jovens e explorar o potencial da Internet. “As iniciativas nas escolas são um excelente veículo de divulgação e desmitificação do que é o Basquetebol em Cadeira de Rodas (BCR)”. “O fenómeno do universo digital permite de forma simplificada que a nossa mensagem chegue a todo um

universo de pessoas que utilizam o computador”. Ainda no capítulo da divulgação, Sílvio Nogueira, atleta do conjunto minhoto, condena o trabalho da comunicação social. “As pessoas com deficiência são lembradas em duas situações: no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência e nos Jogos Paraolímpicos”. Mas a culpa não é apenas dos média. No que respeita à promoção do BCR, João Correia afirma que “o trabalho da ANDDEMOT (Associação Nacional de Desporto para Deficientes Motores) é nulo”, enquanto a captação de atletas é uma tarefa que fica a cargo exclusivo das equipas. “Se não fossem os clubes a

Bruno Almeida Director do Gabinete de Apoio ao Desporto da U.Porto

realizar esse trabalho, a modalidade já há muito tinha terminado. Temos o caso da selecção nacional de Sub23 em que se deixou o projecto em standby”. Além destas dificuldades, o basquetebol adaptado enfrenta o desafio de ser uma modalidade muito dispendiosa. Também aqui o cenário não é animador como ilustram as palavras de João Correia. “A ANDDEMOT nada tem feito para amortizar os investimentos realizados pelos clubes ou pelos próprios atletas”, lamenta. “A inexistência de apoios reflecte-se não só nas prestações dos atletas ao serviço dos clubes, mas também quando representam Portugal em Campeonatos, onde é berrante a disparidade de recursos disponíveis.” Tudo isto se reflecte no patamar competitivo do BCR nacional. Henrique Sousa, jogador da APD Braga, é internacional português e constata disparidades em relação aos atletas estrangeiros . “Faltam competições ao mais alto nível. Temos bons elJosé Guilherme ementos, mas em Campeonatos Europeus, onde há jogadores profissionais, é difícil ganhar um jogo porque eles (os adversários) mantêm o mesmo ritmo de início ao fim”. Para impulsionar o crescimento do basquetebol em cadeira de rodas, modalidade que apaixona e enche pavilhões por essa Europa fora – e não só -, Henrique vê na associação aos clubes de maior reputação e ao basquetebol convencional o caminho a seguir. “Se estivéssemos integrados em equipas como o Porto ou o Benfica e jogássemos nos mesmos locais das ligas profissionais, teríamos a visibilidade que merecemos.” Pedro Bártolo

Promoção de estilos de vida saudáveis nos Campus Universitários 8h20, parque de estacionamento da FEP – quase completo 8h30, parque de estacionamento da FEUP – já só com sorte se encontra alguns lugares 9h00, parques de estacionamento da FEP, FEUP, FADEUP, FLUP, FDUP,… - COMPLETOS 9h20, “que chatice, lá vou eu ter que andar às voltas para encontrar um lugar para estacionar a minha bomba” 9h40, no café da faculdade, “Isto é incrível! Devia haver mais lugares de estacionamento. Assim é impossível chegar a horas…” Não será exagero afirmar que 90% dos condutores da U.Porto já passaram por esta situação. E o mais impressionante é que ainda conseguimos criticar quem planeou “tão poucos lugares de estacionamento”, na realidade, o ideal seria ter sempre um lugarzito para o nosso carro e de preferência à porta da sala de aulas… Quanto menos andarmos a pé, melhor. Entre subir por uma escadaria a pé ou escolher o elevador/escadas rolantes optamos pelas segundas opções. Quando nos queremos deslocar para qualquer lado, os transportes públicos são na maior parte das vezes a nossa última opção. Uma ida ao cinema é quase sempre mais atractiva que um passeio à beira mar. Ou seja, estamos a ficar cada vez mais sedentários e nada fazemos para alterar este estilo de vida. Os nossos antepassados gastavam mais calorias para ser manter vivos num só dia do que nós gastamos em toda a nossa actividade semanal! Pelo que pudemos constatar durante a conferência da ENAS, este é um problema que afecta todas as comunidades académicas

europeias. A grande diferença relativamente a Portugal é que grande parte das Universidades já começou a implementar medidas dentro dos seus Campus que promovem uma vida mais activa. A diminuição dos lugares de estacionamento, a criação de mais zonas pedonais dentro dos Campus e a promoção de actividade desportiva direccionada para públicos-alvo específicos são medidas que têm trazido bons resultados no combate ao sedentarismo. A utilização da bicicleta como meio de transporte é outra das medidas que tem tido bastante adesão por essa Europa fora, havendo mesmo Universidades que no acto da matrícula disponibilizam, mediante o pagamento de uma quantia simbólica, bicicletas para os seus estudantes. Na U.Porto, não temos sido tão ambiciosos como nas nossas congéneres europeias. Continuamos a manter e até a aumentar os parques de estacionamento, não temos promovido a criação de zonas pedonais e mesmo a disponibilização de actividade física para toda a nossa comunidade não tem sido suficiente, apesar das mais de 55.000 utilizações registadas em 2009/10 no programa de Desporto da U.Porto. Se relativamente às medidas estruturais temos a noção que são de difícil execução, não só pela necessária mudança de mentalidades como também pelas verbas envolvidas para colocar em prática, já ao nível da oferta estamos seguros que iremos encontrar estratégias que possibilitem uma prática desportiva cada vez mais generalizada por parte da nossa comunidade, levando à criação de hábitos e à consequente melhoria do estilo de vida.


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Entrevista Filipe Silva | Basquetebol em cadeira de rodas

Perfil Nome: Filipe Silva Idade: 25 anos Faculdade: ISEP Curso: Engenharia Electrotécnica e Computadores Clube em que joga: APD Paredes

“Se for bem praticado consegue ser mais interessante do que o basquete a pé”

Filipe Silva tem 25 anos, é estudante de Engenharia Electrotécnica e de Computadores no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) e trabalha numa clínica em Paredes. Foi atropelado aos 10 anos, depois de um descuido ao atravessar a estrada, e ficou paraplégico. O seu dia-a-dia agitado não o impede de se dedicar com afinco a uma das actividades que mais gosta: jogar basquetebol em cadeira de rodas. Filipe pratica a modalidade há 4 anos na Associação Portuguesa de Deficientes (APD) de Paredes. Hoje, é capitão da equipa e um dos seus elementos preponderantes. De que forma teve conhecimento da possibilidade de praticar basquete em cadeira de rodas? Através do presidente da associação. Ele procurou pessoas com deficiência motora, em Paredes, que quisessem praticar desporto. Ligou-me e fez-me o convite para integrar a equipa que iam criar. Sempre gostei muito de desporto, por isso não hesitei. Comecei a praticar com cadeiras de ferro ainda, que tinham o dobro do peso em relação às actuais (risos) e sem cintos para os atletas se amarrarem à cadeira. Qual a carga horária de treinos? Como consegue conciliar o desporto com o trabalho e o estudo? Três vezes por semana com hora e meia de duração. Gosto de desporto por isso tenho de arranjar sempre tempo. Mas é complicado, ultimamente não tenho vida (risos). O único dia em que posso ir treinar, para além do fim-de-semana, é à segunda-feira. Saio do trabalho, vou a casa trocar de roupa para ir à fisioterapia e a seguir ao treino. Nos outros dias, depois do trabalho, sigo directamente para a faculdade, as aulas terminam às onze e meia e chego a casa à meia-noite e meia. É um ritmo desgastante.

O que é para si mais atraente na modalidade? A forma como se pode fazer jogadas. Os bloqueios com as cadeiras... Se for uma modalidade bem praticada, consegue ser mais interessante do que o basquete a pé, onde um jogador passa por outro com facilidade. No basquete em cadeira de rodas, o espaço da cadeira torna-o mais difícil. Há algum jogador que considere uma referência? O que mais me marcou foi o Aníbal (Aníbal Costa actua na APD Leiria e é internacional português). Gosto muito da maneira como se movimenta e trabalha a cadeira, que é como se fossem pernas para ele. O desconhecimento do basquetebol em cadeira de rodas é o principal entrave ao seu desenvolvimento. Como avalia o trabalho dos clubes e da Associação Nacional de Desporto para Deficientes Motores (Anddemot) na divulgação e promoção da modalidade? Esta época, ao criarem o modelo de primeira e segunda divisão estão, de certo modo, a promover a modalidade. Antes, como o campeonato estava dividido em zona norte e

zona sul havia pouco interesse. Em termos de captação de atletas, não se faz nada. Organizam-se torneios, demonstrações e pouco mais. As equipas deviam preocupar-se em atrair novos praticantes e pessoas para assistirem aos jogos. É preciso divulgar, nem que seja a distribuir panfletos pelas zonas mais próximas.

Andamos sentados em cima de 2000€ Qual é a sua opinião acerca do modo como as pessoas olham o desporto para pessoas com deficiência? Poucas pessoas dão valor ao desporto adaptado. Mas não é só o desporto adaptado que é ignorado. Tirando o futebol, os outros desportos estão numa “prateleirinha” muito pequenina. Basta ver televisão para perceber isso. A RTP 2, ao fim-de-se-

mana transmite outras modalidades como atletismo, basquetebol, hóquei patins e até resumos de provas de desportos adaptados, casos do goalball e do basquetebol em cadeira de rodas, mas é uma excepção. As atenções estão centradas no futebol e se os outros desportos convencionais já são pouco vistos, ainda menos os adaptados. A falta de público torna difícil encontrar patrocinadores. Quais os custos que implica uma equipa de basquetebol adaptado? As cadeiras por si só são um custo muito elevado. Andamos sentados em cima de 2000 euros. O nosso presidente (da APD Paredes) conseguiu fundos para 16 cadeiras, o que é muito bom. Mas as despesas com as cadeiras não ficam por aqui, porque exigem manutenção durante a época e no final. Junte-se os transportes, o alojamento nos jogos fora e a alimentação, sobretudo agora que há situações de jornada dupla. É mesmo preciso andar à procura de patrocínios para se conseguir acabar a época. Esta época, o modelo de competição prevê duas divisões. A APD Paredes integra a 1ª divisão e enfrenta as

melhores equipas. Quais os seus objectivos a nível pessoal e colectivo? Em termos pessoais, quero evoluir, porque faltam-me algumas coisas como cultura táctica e calma nas decisões no jogo, talvez por só este ano ter treinador. A nível colectivo, entrar sempre para ganhar, mas cientes de que as outras equipas jogam há muito mais tempo do que nós. Alguns atletas têm mais anos de basquete do que eu de idade. Por isso, inicialmente, o objectivo é a manutenção na primeira divisão. Acredita vir a ser possível a profissionalização do basquetebol adaptado em Portugal? É difícil, mas gostava que acontecesse tal como noutros países, onde em vez de serem as associações a oferecerem a possibilidade de fazer desporto, são os clubes que investem e criam equipas de modalidades adaptadas. Mas a mentalidade está a evoluir e acredito que um dia possa ser possível. A que prazo? Não sei... Vou ser velhinho e esse dia se calhar não chegou (risos).

Pedro Bártolo


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Entre aulas e treinos

Aulas, treinos, trabalhos, competições e exames. O dia-a-dia de um estudante que é simultaneamente atleta de alta competição é dividido entre estas quatro coisas. Não é uma tarefa fácil, exige muito empenho, determinação e organização, mas o gosto pela prática de desporto e a aposta na formação académica pedem estes sacrifícios a inúmeros estudantes espalhados por todo o país. Maria João Ferreira é um desses casos. Tem vinte anos, é estudante do terceiro ano de Economia na Faculdade de Economia do Porto (FEP) e atleta de pólo aquático do Clube Fluvial Portuense há cerca de quatro anos. A jovem refere que, entre a faculdade e o pólo aquático, tenta sempre “aproveitar todo o tempo livre” que tem. “Habituada a um ritmo alucinante” e a dormir cerca de cinco horas por noite, garante que “não é muito difícil conciliar” as duas actividades. “Quando se quer muito uma coisa, há sempre tempo”, é a

equipa da Universidade do Porto, a atleta de pólo aquático defende que a prática de desporto no ensino superior deveria ser divulgada e cada vez mais incentivada. Para a jovem, este apoio devia partir não “só d parte do Estado, mas também, e sobretudo, d parte das instituições de ensino superior”. O estudante e praticante de hóquei em patins diz que o desporto universitário deveria “ser um exemplo para todos os jovens, visto tratar-se de alunos atletas, mostrando sempre que é possível conciliar as duas coisas com seriedade e responsabilidade, e ao mesmo tempo tirar o prazer e os bons momentos da prática desportiva”.

Maria João acredita que o exercício de actividades extra-curriculares, não só relacionadas com o desporto, possui cada vez mais importância no currículo dos estudantes. As entidades empregadoras querem, cada vez mais, trabalhadores que tenham capacidade de fazer sacrifícios, saibam trabalhar em equipa e que tenham espírito empreendedor e de entreajuda. Para além disso, é cada vez mais importante que “as pessoas se dediquem não só à vida académica, mas também a outras áreas”. “É importante que as pessoas não tenham só conhecimento na área em que estão a estudar, que desenvolvam outras actividades”. Diana Ferreira Diana Ferreira

Como se consegue ser estudante universitário e atleta de alta competição ao mesmo tempo?

principal filosofia da jovem atleta. físico e a faculdade ser uma peça inQuanto a tempo para estudar, tegrante de um bom futuro”. Maria João Ferreira aproveita todos os intervalos que tem entre as au- Atletas na faculdade las. A estudante diz que consegue Maria João Ferreira acredita nos organizar-se de modo a não ter que benefícios que a prática de desporfaltar a nenhum treino, “geralmente to lhe traz, quer a nível físico, quer consigo conciliar mais ou menos as a nível psicológico. No entanto, aulas e depois o tempo que vou para considera que há uma clara falta de casa ao fim da noite”. Em altura de apoios por parte do Estado em “toexames é um pouco mais cansativo, dos os desportos que não sejam o “normalmente, é mais intensivo em futebol”. A estudante diz que, apetermos de estudo, mas como não te- sar de não lhe ter sido atribuído esmos aulas, há a possibilidade de pas- tatuto de atleta de alta competição, sar o dia inteiro a estudar e depois a FEP permite algumas facilidades, à noite vir treinar”, explica Maria como a realização de exames na João. A jovem atleta considera que época especial de Setembro (que é, o treino ao final da tarde é muitas geralmente, dedicada a quem tem vezes usado e encarado como forma estatuto). No entanto, o que aconde relaxamento de todo o stress cau- tece muitas vezes é que os próprios sado pela faculdade e por todas as professores tendem a discriminar responsabilidades inerentes. ou a “atirar” a prática de desporTiago Ferro é outro exemplo. Tem to para segundo plano, não tendo vinte e dois anos, é por isso qualquer estudante de Enge- Espírito de sacrifício, condescendênnharia na Faculdacia em relação à vontade e entrega: de de Engenharia data de entrega do Porto (FEUP) e três elementos de trabalhos, ou jogador de hóquei mesmo no que fundamentais para em patins desde os respeita a realizaseis anos. O atleta todos aqueles que ção de exames. do Clube Infante decidem dividir o Já Tiago Ferro de Sagres diz que diz que, mesmo é importante fazer seu dia-a-dia entre detendo o estauma boa gestão a faculdade e uma tuto de atleta de das duas actividaalta competição, actividade física. des e tenta que os não nota que os seus horários de estudo nunca coin- benefícios “sejam muito importancidam com os treinos. “Se por acaso tes”. Aquilo que o jovem acaba por o estudo estiver a correr bem, só ao fazer é “apelar à boa vontade dos final da tarde sou obrigado a fazer professores e até agora não tenho aquela pausa para ir treinar”, afirma. nada a apontar quanto a isso” refeO estudante da FEUP diz ainda re o jovem. que a prática desportiva é algo muiQuando o assunto é o desporto to importante e deve ser conciliada universitário, os dois jovens atletas com a faculdade, “visto o desporto têm uma posição muito semelhanser fundamental para o bem-estar te. Apesar de não integrar nenhuma


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Salomé fonseca

Entrevista Teresa Radamanto

“Existe no nosso país um elitismo gigantesco” Quase ganhou o Chuva de Estrelas. Quase ganhou o Festival da Canção. Quase lançou um CD. Desta vez, Teresa Radamanto, habituada a interpretar grandes êxitos da música nos palcos da televisão nacional, não se deixou ficar pelo quase e criou uma empresa de produção de eventos musicais. Com este novo projecto afirma querer marcar a diferença, mesmo num país onde nem sempre é bem recebida. Como tem sido conciliar as facetas de cantora e empresária? É um processo normal. Ser cantora implica também ser gerente da sua própria pessoa como artista. São características que estão inerentes às de empresário, não estão dissociadas. Mas claro que há coisas diferen-

tes, principalmente no sentido da responsabilidade. Quando apenas estou a exercer a minha função como cantora não tenho que estar preocupada com a produção do evento, pois quando chego já tenho as coisas produzidas e só tenho que executá-las. No caso da empresa, quando tenho de fazer uma produção da qual também faço parte como cantora tenho que ter esses dois lados: a preocupação como cantora e como produtora, que me dá o dobro do trabalho. O “Canções do Mundo” surgiu há pouco tempo associado a uma empresa, mas já existe há algum tempo… Esta empresa - Teresa Radamanto Produções - existe mais ou menos há meio ano, e surge na sequência da criação do grupo “Canções do Mundo”

que tem um ano com esta formação e com este nome. É um grupo de cantores que são amigos e que existe há cerca de quinze anos, quando começámos a cantar num grupo na Nazaré. Este novo grupo surge após termos chegado à conclusão que deveríamos sair do grupo ao qual pertencíamos antes e criar um novo, um pouco sem responsabilidade. Entretanto surgiu a necessidade de termos algo mais sólido, e foi aí que resolvi formar a empresa para poder promover o grupo. Nos vossos concertos interpretam reportório das décadas de 60 até à actualidade. Porquê começar na década de 60? Para já tem a ver com o nível de familiaridade com a música. Se fores

buscar sons dos anos 50 ou 40 talvez tenhas um núcleo muito pequeno de pessoas - umas porque se calhar já são mais velhas, outras porque gostam da música jazz dos anos 40 -, e quando fazes um espectáculo de entretenimento tens que ser versátil, tens de ter estilos que agradem a toda a gente. Do “Canções do Mundo” fazem parte cinco elementos, mas são quatro mulheres e um homem. Isso influencia de alguma forma a selecção que fazem do reportório? Não, porque podemos mudar os tons às canções e transformá-las de modo a que se adaptem a uma voz feminina ou a uma voz masculina, mas a escolha do reportório é mais influenciada pela própria canção e

pela voz de cada um de nós. Existe muita música boa para interpretarmos, apesar de existir também muita que não queremos colocar nos nossos espectáculos porque, mesmo sem ter nada contra, cantála é uma desculpa para não ter que cantar coisas com qualidade e bem. É um facilitismo que se arranja para conseguir ganhar dinheiro de uma maneira fácil e para esconder os defeitos que se tem como cantor. Há muito boa gente que anda a cantar e a trabalhar que pode ser artista, mas artista no sentido em que consegue enganar muita gente, mas não é cantor de maneira alguma. E com essa selecção tão criteriosa do vosso reportório, não têm medo de não criar empatia com o público?


Quando acabámos o primeiro ensaio em estúdio ele [Eduardo Nascimento] chorou de felicidade. guma coisa mais brejeira, mas não. Nós interpretamos tanto canções de registo lírico como reportório dançável, com muita música brasileira boa, música dos anos 70, disco sound, e registos dos anos 80. Não temos que cantar o “Apita o comboio”. As pessoas acham que esse tipo de diversão garantida é mais fácil porque também lhes foi incutido isso e habituaram-se a achar que é normal. Eu não acho que isso não seja, até é saudável! Nós não temos de agradar a toda a gente, nem é essa a nossa pretensão. É esse cuidado com a selecção do reportório que vos diferencia dos outros grupos que fazem um trabalho semelhante? A nossa escolha de reportório é, de facto, um grande diferencial. Depois também temos a parte da polivalência de língua: cantamos em português, em inglês, em francês, em italiano, em espanhol… Portanto todas essas características fazem um bocado essa diferença. Quase todos os elementos do grupo participaram em programas de televisão, mas neste campo é a Teresa quem conta com uma maior participação. Em que medida é que essa experiência contribui para os vossos espectáculos? Contribui sempre porque quando tens alguém que é do meio artístico e que tem alguma expressão junto do público através da televisão, as

pessoas acham sempre mais piada. Eu comecei a fazer coisas em televisão em 1996. Os meus colegas como por exemplo o Valter, em 1997 participou no Big Show Sic, tal como eu e a minha irmã, e a Beta participou no Chuva de Estrelas. Eu, de facto, fui a pessoa que sempre esteve mais ligada à televisão depois dos concursos. Estive sempre a trabalhar em muitos formatos e, de alguma forma, isso influencia o modo como as pessoas nos tratam. Em todos esses formatos e nos espectáculos do “Canções do Mundo” teve a oportunidade de cantar a solo e de fazer duetos. O que prefere? Ah, depende! Gosto tanto de cantar a solo como de fazer duetos. Logicamente que, como intérprete e cantora sinto muito mais as coisas se estiver a cantar sozinha. No entanto, nos duetos estás a comungar com outra pessoa algo mágico que acontece em cima do palco que não se sabe explicar. Há pessoas com quem gosto realmente de trabalhar nesse sentido. Tive por exemplo oportunidade de fazer um dueto com o Eduardo Nascimento e foi excelente! Não foi tão espectacular certamente a nível técnico, mas o trabalho com ele nos estúdios de ensaio foi excepcional! Quando acabámos o primeiro ensaio ele chorou de felicidade. Porquê? Porque conseguimos criar essa coisa mágica que transcende. Foi muito bonito.

Salomé Fonseca

Há gostos e públicos para tudo, felizmente. A mim não me preocupa essa questão. Por exemplo, uma das facetas que tem a nossa empresa é a animação em casamentos. À partida, pode-se pensar que fazer animação em casamentos terá que ser al-

Cultura

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portuguesa? Queres que diga a verdade ou que seja politicamente correcta? A verdade… Existem vários núcleos que valorizam. O primeiro núcleo são aqueles que nela trabalham. São pessoas que fazem as coisas com verdade, mas também precisam dela para sobreviver. Esse lado existe e não vamos ser hipócritas. Nós que trabalhamos na música precisamos de criar muitas das vezes subterfúgios para que isto ande para a frente, porque se não tivermos uma profissão paralela temos de subsistir desta profissão, e se não conseguirmos o que é que vamos fazer? É muito ingrato. Ainda por cima existe no nosso país um elitismo gigantesco. Às vezes não se tem entrada em muitos lados porque quem lá está tem medo de perder o lugar. Somos um país muito pequeno e esta proporção manifestase neste sentido. Há muita competição como em qualquer outro sector. Mas aqui é pior porque as hipóteses são sempre mais reduzidas. Mas então a música é valorizada pelos portugueses? Existem de facto pequenos grupos que valorizam. Mas na realidade as pessoas não valorizam tanto quanto pensam. Se calhar acham que por gostarem e por serem fãs valorizam. Valorizarão mais os intérpretes do que a música? Também. Isto tem que ver com as modas. Há pessoas no mundo da música, mais a nível internacional, que com tantos anos de carreira que têm, seja lá o que for que cantem agora as pessoas acabam por consumir porque é daquela banda ou daquele cantor. Por exemplo, os U2. “É dos U2 então é excepcional!” e de facto são porque para além da música e do aspecto estético, têm preocupações reais com a humanidade. Agora continuo a achar que as pessoas privilegiam muito mais o que vem de fora.

Essa música que interpretou com o Eduardo Nascimento venceu o Festival da Canção na década de 60. Como é que olha para essas músicas que foram feitas antes de ter nascido? Elas não me são estranhas porque cresci a ouvi-las. No fundo existiram sempre na minha vida. Claro que vejo umas de uma forma e outras de outra. Por exemplo, a nível técnico e musical acho que há músicas que são brilhantes como o “Sol de Inverno”. Depois tens os temas que foram escritos pelo Ary dos Santos, e que a nível de letra são excepcionais. Não se escreve hoje em dia como se escrevia nessa altura, é um facto. Mas também os tempos assim o fazem ser.

Já elogiou a música portuguesa da década de 60, de 70, já elogiou a música estrangeira… Mas não elogiei música portuguesa que se faz agora. (risos)

Como disse há pouco, em Portugal há um certo género de música que tem muita adesão, mas acha que os portugueses valorizam a música

Exacto. Faz-se muita e boa música ligeira em Portugal? Não se faz muita, infelizmente, mas acho que se estão a conseguir

Às vezes não se tem entrada em muitos lados porque quem lá está tem medo de perder o lugar. fazer coisas diferentes, e a diferença é boa porque é sinónimo de qualidade. Quando eu falo em qualidade falo no sentido técnico e de composição. Há coisas que estão muito bem escritas quer a nível de letra, quer a nível musical. Há pessoas que estão a tentar fazer coisas que não existem no país, e realmente temos que entrar por aí. Quando trabalhas na música tens de tentar criar uma coisa tua, diferente de tudo aquilo que existe, e isso às vezes é mau porque as pessoas não estão preparadas. Habituaram-se a consumir um certo estilo e quando vem alguma coisa que foge desses parâ-

metros ficam um bocado abananadas. Mas se as editoras deixarem de editar só aquilo que acham que faz sentido e abrirem as portas ao que aparece de bom pode ser que haja um input e que a música siga um bom caminho. A nível de composição e de artistas eles existem, só que também não os deixam trabalhar. Este período é um bocado mau. Neste momento acho que toda a gente deveria fazer uma introspecção, começar a criar, a semear para poder colher daqui a uns tempos. A Teresa já anda a semear há muito tempo. Quando vai colher isso tudo? Não sei. Eu entrei numa fase de resignação que não é positiva. Vivo as coisas muito intensamente, e fico fisicamente muito mal com isso, portanto achei que devia parar, fazer outras coisas, debruçar-me sobre a empresa e explorar a minha faceta de produção que gosto imenso. Relativamente à Teresa Radamanto como artista singular, como cantora, não sei. Vou tentar ser o mais sincera possível comigo, fazer uma introspecção e ver se consigo chegar até essa resposta. Salomé Fonseca


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Japan Week

Porto: a Cidade do Sol Nascente Entre 20 e 25 de Novembro, a Japan Week invadiu o Porto para mostrar aos portugueses o que há de melhor na cultura e nas artes japonesas. Durante cinco dias, o Porto transformou-se na “Cidade do Sol Nascente”, para receber uma onda de cultura nipónica através do evento Japan Week. Organizada anualmente numa cidade do mundo, a primeira Japan Week decorreu em Florença, em 1986. Passou por Lisboa em 2004, mas devido à grande distância entre os vários focos do evento na cidade, ao regressar a Portugal, a organização optou pela Invicta. “Ao visitarem os locais no Porto, perceberam que os participantes se poderiam deslocar a pé de uns para os outros, e concluíram que era mesmo isto que queriam”, explica Inês Ferreira, do Pelouro do Conhecimento e Coesão Social da Câmara Municipal do Porto. A principal razão para este regresso a Portugal é a comemo-

ração dos 150 anos da Assinatura do Tratado de Amizade PortugalJapão. A iniciativa partiu da Embaixada do Japão em Portugal, à qual se associou, naturalmente, a Câmara Municipal do Porto, e também a fundação japonesa International Friendship Foundation (IFF). Cerca de um ano e meio após as primeiras conversações, a Japan Week chegou ao Porto. A organização do evento esperava a adesão de 30 mil pessoas, que estivessem dispostas a abraçar o melhor da cultura japonesa, com entrada livre em qualquer uma das atracções. Desde o Festival de Abertura nos Jardins do Palácio de Cristal aos espectáculos no Rivoli, passando pelo Museu Soares dos Reis e pela Galeria do Palácio, a Japan Week fez-se notar até no Café Concerto

Uma viagem a que, para ser real, só faltou ter acontecido do outro lado do mundo.

da ESMAE, num intercâmbio musical com os alunos da escola. Num início de tarde, o JUP deixou-se levar pela “Artes do Japão”, a Exposição e Demonstração que teve lugar na Galeria do Palácio (Biblioteca Almeida Garrett), entre os dias 21 e 25 de Novembro. Num espaço amplo e cheio de luz, as mesinhas das escolas e associações representadas dispunham-se de forma quase geométrica, por entre as paredes forradas de ilustrações, quadros de poesia, amostras de caligrafia (com frases inteiras convertidas numa só palavra), Arraiolos ao estilo japonês e fotografias da cidade de Nagasaki. Nas bancadas dos workshops, com instrutores de um lado e aprendizes do outro, ensinava-se a minúcia e destreza dos recortes em papel e do Origami, e também a calma e a ponderação exigidas na Ikebana, a arte japonesa dos arranjos florais. Rémi Kesteman, um jovem instrutor de Origami, mostrou-se surpreendido “pelo número de pessoas que entram e

saem da exposição”, e ainda mais “pela curiosidade em aprender este tipo de trabalhos manuais, para depois ensinarem aos filhos e aos netos”. E não eram só adultos que se passeavam pela exposição. Grupos de escolas primárias e secundárias seguiam os guias e professores, que explicavam a história por detrás de cada uma das artes ali expostas. A música chillout japonesa que

servia como pano de fundo à exposição era apenas mais um argumento que chamava para uma tarde cultural. Quem não pôde passar pela Galeria do Palácio, perdeu uma viagem pela requintada cultura do Japão, uma viagem a que, para ser real, só faltou ter acontecido do outro lado do mundo. Nádia Leal Cruz Foto: Christina Branco


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José Ribeiro/Arquivo JUP

Estudantes de Letras dão cartas no mundo literário Marta Portocarrero e Tiago Gonçalves são alguns dos exemplos de estudantes universitários com livros já editados. Os escritores explicam ao JUP como funciona o processo de escrita e edição. A Universidade do Porto (UP) tem sido, ao longo dos anos, uma instituição cujos alunos se distinguem não só a nível académico mas também noutras áreas, que vão desde a pintura à investigação científica. A literatura é uma dessas áreas. Marta Portocarrero, de 19 anos, é aluna de Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras da UP (FLUP). A estudante universitária é já autora de um livro publicado pela editora Mosaico das Palavras. “Um passo à frente e dois atrás” é um romance que, segundo a jovem escritora, demorou “cerca de nove meses a escrever”. A aluna conta ainda que teve de fazer alguma pesquisa, uma vez que “o livro também tem muitas partes que são reais, históricas”. A estudante revela que escreve “desde miúda”. A escrita “é a melhor forma de se expressar” e já

Rui Manuel Amaral já não é estudante da UP, mas foi colaborador do JUP e sempre deu mostras de mérito. Enquanto estudante, fundou a revista literária Águas Furtadas. Tem dois livros publicados: “Caravana”, de 2008, é uma obra de “microficção”, inundada por uma fauna de imagens e pequenas divagações do autor. Segue-se “Doutor Avalanche”, lançado no ano passado. Rui Amaral é ainda co-autor do blogue Dias Felizes.

passou por vários géneros literários como o conto, a poesia e, mais recentemente, a prosa, que exige outro tipo de maturidade literária. Quando questionada sobre a forma como o livro passou da sua gaveta para as livrarias, Marta garante que não encontrou obstáculos. Enviou “o manuscrito para duas editoras e uma aceitou”. Foi um processo “rápido e fácil”, o que nem sempre acontece com os jovens escritores. Outro exemplo é o de Tiago Gonçalves, que se licenciou em Sociologia pela FLUP em 2008 e cujo livro foi lançado em Novembro do ano. passado Tiago diz que o que o levou a escrever “De uma só sorte” foi “um desafio pessoal”, pois “já há muito adiara a escrita do livro, por vários motivos.”. Tal como Marta, Tiago garante que é através da escrita que consegue transmitir o que sente e o que pensa. Não é só um hobby, é também “uma forma de arte”. Tiago escreveu esta obra a pensar no leitor. No livro a história “gira em torno de uma personagem principal, da sua vida, sendo que depois envolve mais personagens. Procuro mexer um pouco com o leitor”. A obra pode ser descrita como de leitura rápida, mas digestão difícil. Ao contrário de Marta, Tiago aponta algumas pequenas dificuldades no processo de publicação. Com a editora, neste caso “Editame”, Tiago garante que é necessária “paciência e saber esperar e

Publicar um livro nem sempre é “rápido e fácil”

É através da escrita que consegue transmitir o que sente e o que pensa. Não é só um hobby, é também “uma forma de arte”.

compreender o lado da editora”. Por exemplo, o autor diz que foi difícil chegar a um consenso em relação à capa, mas que ficou satisfeito com o resultado final. Outra dificuldade encontrada diz respeito ao IGAC (Inspecção Geral das Actividades Culturais). Como o primeiro pedido de registo da obra foi perdido, foi necessário pedir outro, o que atrasou o processo.

Mas a parte da edição do manuscrito foi bastante simples. Tiago concordou com a maior parte das correcções propostas. O jovem autor garante que neste processo é necessário estar disposto a colaborar. “É muito importante ter uma visão comum à editora que vai publicar o nosso livro”, garante Tiago Gonçalves. Júlia Rocha e Irina Ribeiro


Críticas

A Rede Social David Fincher The Social Network – A Rede Social foi um dos filmes mais esperados, uma vez que retrata o nascimento do Facebook. E o que seria de nós sem o Facebook? A aventura de dois estudantes de Harvard deu os seus frutos: aquilo que começou por ser um site de comunicação entre os estudantes da universidade americana torna-se o ponto de encontro de todo o mundo. O fundador, Mark Zuckerberg é protagonizado por Jesse Eisenberg, que já havia sido elogiado pelo desempenho em Zombieland. Eisenberg interpreta um Zuckerberg desejoso de popularidade. Uma mente brilhante que juntamente com Eduardo Saverin (interpretado por Andrew Garfield) quer ultrapassar os obstáculos e contrariedades que lhe surgem na vida universitária. Para Zuckerberg o Facebook é uma ferramenta de inclusão, para Saverin, uma oportunidade de negócio. Este filme transpõe de uma forma bastante clara o que são as relações sociais, a amizade e as aparências. Um clássico caso de uma amizade arruinada pelo poder, ambição e dinheiro. Não se entende o papel de Justin Timberlake. Interpreta Sean Parker, um outro génio informático que se aproveita da ingenuidade de Mark contra os conselhos de Eduardo. Um papel de mau da fita um pouco forçado que parece surgir na tela com o único objectivo de arruinar o negócio para Saverin e aproveitar-se do crescente desenvolvimento do Facebook. A clássica má influência. Sem dúvida um dos melhores filmes do ano. Júlia Rocha

D.R./Notícias da Trofa

8/10

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7/10 Macy Gray Hard Club A energia de Macy Gray agitou o Porto. Em dia de greve geral, 24 de Novembro, houve um pretexto para não se ficar em casa e sair para conhecer um pouco mais do trabalho desta grande artista. Numa noite onde imperou o bom ambiente e o groove, o Hard Club recebeu de braços abertos no seu recinto esta imperatriz da música soul. Desde o início houve uma forte componente de interacção com a audiência tornado um espectáculo que à primeira vista parecia mais calmo e descontraído num verdadeiro rebuliço dentro de uma pequena sala fechada. Macy Gray apareceu deslumbrante em palco, entrando desde o primeiro ao último minuto com uma intensidade digna de registo. Numa simbiose perfeita com a banda que a acompanhou, o astro americano deixou que o bom gosto fluísse pela sala, brindando os presentes com diversos êxitos dos seus discos, como “Beauty in the World” ou “I Try”, entre muitos outros. Para complementar, houve ainda a interpretação de covers, como “We Are The Champions”, dos Queen. Macy proporcionou uma noite de muita qualidade aos amantes da soul que desafiaram o frio e entregaram-se ao calor da sua voz, dando o seu tempo como bem empregue, certamente. Ricardo Norton

5/10 Mais respeito que sou tua mãe Joaquim Monchique

8/10 A Casa Biel Paulo Baptista O livro de Paulo Baptista trata da Casa Biel e das suas edições fotográficas. Tem como principal objecto de estudo e reflexão a excepcional publicação de “A Arte e a Natureza em Portugal”, um volume com mais de 350 reproduções fotográficas de superior qualidade e grande dimensão, o presente trabalho segue um percurso pelos meandros da fotografia portuguesa e da edição fotográfica de Oitocentos. Concretamente sobre a actividade dos primeiros fotógrafos nas cidades do Porto e de Lisboa, enquadrando a obra de Biel. Este fotógrafo de origem alemã fixa-se no Porto onde desenvolve um notável trabalho de estúdio a par da produção de grandes edições que tornam a sua casa na mais importante editora de fototipias em Portugal. Esta obra é um estudo que foi realizado no âmbito de uma tese de mestrado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Lisboa. A sua recente publicação é um contributo para a necessidade de se estudarem as edições das casas fotográficas em Portugal. Conta ainda com um anexo em dvd onde podemos encontrar uma vasta bibliografia e também um excelente álbum fotográfico que nos enquadra no trabalho de pesquisa. Pedro Ferreira

Depois do sucesso no Casino do Estoril “Mais respeito que sou tua mãe” chegou ao palco do Teatro Rivoli. Encenada e protagonizada por Joaquim Monchique, a peça promete umas belas risadas a quem a for ver. Mais respeito que sou tua mãe revela os problemas de uma família portuguesa de classe baixa e com alguns problemas, a habitar na Baixa da Banheira. Esmeralda é uma mãe de família, um pouco disparatada que vive as aflições e parvoíces da juventude dos seus filhos. Com um humor apurado, nem sempre inteligente, esta peça faz uma sátira às preocupações de uma mãe e de uma mulher a entrar nos 50. “É possível ser-se moderna quando a nossa filha sabe mais posições sexuais que nós? “Há alguma forma de entrar na velhice quando a nossa sogra de 80 anos é preso por posse ilícita de marijuana? São só algumas das indagações que a protagonista vai fazendo ao longo da peça. O desemprego, as novas tecnologias, as drogas leves, a homossexualidade são alguns dos temas que se sobem a palco. Ao longo da peça Esmeralda consegue transformar todos os problemas em comédia e a comédia numa lição de vida. Daniela Teixeira


Cardápio

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música

teatro

Exposições Vários

24/JAN

Até 28/Jan

Até 18/FEV

27/Jan

Joanna Newsom Casa da Música 30€

O Rapaz do Espelho Teatro da Vilarinha 5€ a 10€ Sáb 16h, 21h30 Dom 16h

Matilde Viegas: Something to remember you by (fotografia) Maria Vai Com As Outras Entrada livre

Serões da Bonjóia - “Cantar e Contar o Amor” Fundação Porto Social 21h15

27 e 28/Jan

19/Fev a 5/Mar

29/Jan

Mostra de trabalhos de alunos da FBAUP Galerias JUP

Flea Market: Flea N’Roll Centro Comercial STOP 15h às 19h

Até 27/Fev

15 a 17/FEV

Prémio Estação Imagem | Mora 2010 Centro Português de Fotografia Entrada Livre

Semana Cultural de Ciências FCUP e Teatro Sá da Bandeira Ter - Entrada Gratuita - 20h Qua - Entrada Gratuita - 14h Qui - €4 a €6 - 22h

29/JAN The Young Gods Hard Club 15€ - 22h00

7/FEV Skunk Anansie Coliseu do Porto 25€ a 35€ - 21h

8/Fev noites do Rivoli: Mafalda Veiga Rivoli Teatro Municipal 15€ a 20€ - 21h45

10/Fev Nashville Pussy + Sons of Misfortune Hard Club 10€-21h

14/Fev Rock’n’Rivoli: Moonspell + Opus Diabolicum Rivoli Teatro Municipal 15€ - 21h45

16/Fev Noites do Rivoli: Camané Rivoli Teatro Municipal 20€ a 25€ - 21h45

18/Fev Noites do Rivoli: José Mário Branco Rivoli Teatro Municipal 20€ a 25€ - 21h45

Stand da Comédia Tertúlia Castelense Qui 22h30 Sex 23h

5 e 6/Fev As lágrimas de Saladino Teatro Nacional São João Sáb 21h30 Dom 16h

5 a 13/Fev Beckett: O Quê - Onde? Teatro Helena Sá e Costa 5€ a 10€ - 21h30

7/Fev Festival de Humor: Herman José - a Solo Rivoli Teatro Municipal 15€ a 20€ - 21h45

17 a 19/Fev Sombras Teatro Nacional São João 10€ A 40€ - 21h30

Até 1/MAR Teixeira gomes. os anos do porto Museu Nacional de Soares dos Reis 5€ (descontos para menores de 14 e maiores de 65, entrada livre aos domingos e feriados até às 14h)

Até 11/MAR Sobre Arte, Cultura e Política: Um Arquivo Museu de Serralves Seg a sáb 10h às 18h 5€ (descontos para estudantes, menores de 18 e maiores de 65)

Até 13/MAR Às Artes, Cidadãos! Museu de Serralves 5€ (descontos para estudantes, menores de 18 e maiores de 65)

Até 27/Mar

Bodyspace Au Lait: Blac Koyote + Café Au Lait Entrada Livre - 19h

Gil J Wolman: “Sou imortal e estou vivo” Museu de Serralves 5€ (descontos para estudantes, menores de 18 e maiores de 65)

26/Fev

Até 24/Abr

Peter Hook + Gala Drop + Norberto Lobo + Samuel Úria Casa da Música 10€ - 23h

Artur Loureiro (1853 – 1932) Museu Nacional de Soares dos Reis Ter. 14h às 18h Qua. a Dom. 10h às 18h

26/Fev

21/FEV a 6/Mar 31º Fantasporto - cinema fantástico Rivoli Teatro Municipal €4 (sessão normal)

24/Fev Quintas de Leitura - “…E LIVRAI-NOS DO MEL” Café-Teatro do Teatro do Campo Alegre 7€ a 10€ 22h

25/Fev Festa Bodyspace.net: “Os melhores singles de 2010 e tudo o resto” Café Au Lait 23h


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Tatiana Henriques

Gourmet das tascas

Migalhas 2 Direitos Reservados

“Rápida, boa e barata” é, sem à hora de almoço como de jansombra de dúvidas, o que nós, tar, e os estudantes são sempre estudantes, queremos de uma re- uma constante. “Ao almoço vêm feição. Para quem quer evitar as cheios de pressa porque têm aufilas da cantina e uma aproxima- las a seguir. Mas à noite, gostam ção fiável da comida caseira da de fazer jantares académicos e mãe, tia ou avó, o “Migalhas 2” é pedem-me mousse de chocolate”, diz Beatriz Costa, que considera uma boa escolha. Situado bem perto da Facul- que o restaurante tem sucesso dade de Farmácia, este espaço porque “a comida é muito bem existe há nove anos, altura em servida, e a refeição é mais barata que Luís Araújo, proprietário do do que um maço de tabaco”. Bruna Amaral, estudante do restaurante, decide seguir as pisadas do pai e abrir um segundo Conservatório de Música do Porrestaurante com o mesmo nome. to e cliente assídua do restauranA tradição de 40 anos do “Miga- te, é peremptória: “adoro ir ao lhas” mantém-se: juntar os sabo- “Migalhas”. É um espaço rústico e res da boa comida portuguesa, o senhor Luís sabe sempre o que com uma serventia simpática e nós gostamos. Mesmo quando o restaurante está mais cheio, ele lá um preço bastante acessível. Frequentado por todo o tipo arranja uma mesinha”. Para além de pessoas, o “Migalhas 2” deli- da proximidade do restaurante cia os seus clientes com pratos ao Conservatório, Bruna justifivariados, que vão desde as tripas ca esta escolha por ser “um sítio à moda do Porto, rojões, posta à onde a comida é de confiança” e barrosã, até ao bacalhau à Braga, por ter sugestões do seu agrado. Robalo ou Dourada. “As pessoas “Adoro as bifanas à angolana e as gostam de tudo, mas os estudan- febras ao alho”. E o preço não a tes têm uma queda especial pelos desaponta: “Eu e o meu namorapanados com arroz de feijão”, diz do pagamos, apenas, 7 euros peBeatriz Costa, esposa do proprie- las duas refeições. Como as coitário. Um restaurante onde, para sas andam, acho que vamos fazer além de Luís e Beatriz, trabalham aqui o nosso casamento”. mais duas cozinheiras que se Hernâni Zão ocupam de preparar na hora, os pratos pedidos. Com uma Largo do Priorado, 30 lotação de 45 pessoas, o “Mi- Telefone: 222011204 galhas 2” está http://migalhas2.comportugal.com aberto tanto

conta-me como é...

...ser Presidente da Junta Chama-se Valter Marques, tem 24 cumprimento. Precisam sobretudo anos e é presidente da Junta de Fre- que lhes toquemos no coração com guesia de Penhascoso. Além disso, um gesto”. Afinal, trata-se de uma é também jornalista. O cargo obri- população idosa, que vive sobretudo gou-o a muitas mudanças: “tive que do campo. Valter não estava à espera de abdicar de várias coisas, entre elas o prolongamento do estágio no meio vencer o desafio. Aliás, confessa que de comunicação social onde estava pensou mesmo que “ia levar uma valente derrota”, já a trabalhar, mas o amor à Fregue- “Precisam do contacto que o seu partido não era muito relesia e às origens pessoal, do beijo, do vante no concelho levaram-me a cumprimento. Precisam e em Penhascoso. este desafio”. Contudo, apesar da P e n h a s c o s o sobretudo que lhes pouca experiência situa-se no concelho de Mação, no toquemos no coração e de não ser “um típico candidato à distrito de San- com um gesto”. presidência de uma tarém. É dividida por 6 aldeias e tem perto de 800 ha- Freguesia”, a incerteza passou a conbitantes. Como se trata de um meio fiança no dia das eleições. E, “na hora rural, a campanha não é a habitu- de contar os votos, lá estava o meu al, feita de comícios ou publicidade montante com mais 60 votos que o em diversos meios de comunicação. monte da oposição”, recorda Valter. Para conseguir o resultado, realPelo contrário, o contacto é feito com mais proximidade, já que, como ça “a campanha de proximidade, o realça Valter, as pessoas “precisam facto de ser uma pessoa “popular” do contacto pessoal, do beijo, do e um bom programa para colmatar

as outras lacunas”. O orçamento é reduzido, restringindo-se a cerca de 50 mil euros por ano. “Com isto não podemos fazer muito”, realça Valter. Mas, ainda assim, há que pensar nas obras necessárias para a freguesia, como o alargamento do cemitério, considerada prioritária, já que “o actual está praticamente preenchido”. Além disso, “como há poucos recursos, é fácil encontrarem-me junto ao empregado da Junta a fazer trabalho duro”. Valter considera que os políticos “têm que se preocupar com o interesse comum e não com o seu próprio interesse”. Para demonstrar isso mesmo, cede mensalmente metade do seu “ordenado” para uma família carenciada. Ser presidente de uma Freguesia “é bem mais que elaborar um orçamento e executá-lo”, já que é “o cargo político de maior proximidade”. Afinal, o que verdadeiramente importa é “estar disponível diariamente para os seus fregueses”. Tatiana Henriques


Opinião

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Confusão no Orçamento, Orçamento na confusão Os momentos que vivemos hoje são confusos, portanto, não é de admirar que o Orçamento de Estado (OE) agora apresentado também o seja. Sucessivas medidas, alterações de medidas e alterações de alterações de medidas sucedem-se, tornando inevitavelmente a sua difícil compreensão, no mínimo. Não quero entrar em detalhes sobre os cortes, os aumentos e todas as outras operações aritméticas contidas no OE. Quero sim escrever sobre o que é, o que significa um Orçamento de Estado e sobre as várias perspectivas que se pode ter deste documento tendo em vista a situação actual. Em termos simplistas e irónicos, um Orçamento de Estado é uma

previsão do que se vai gastar num ano, nos vários sectores: Educação, Saúde, Segurança Social, Cultura e afins. Todos dizem (melhor, fazem uma previsão de) o que vão fazer e de quanto precisam. Junta-se tudo, mexe-se como um cocktail, entenda-se, tira-se aqui para meter ali, e no fim temos uma ideia sobre o que se vai fazer e quanto se vai gastar. Usando uma alegoria “à mão”, ainda que simplista, é como uma família que prevê o que vai gastar durante um ano. Uso esta alegoria por uma única razão. Uma família após vários anos utilizando este modo de previsão de gastos anuais o que faz é simples: faz a conta de quanto gastou o ano passado, prevê e decide

Mudanças na Cultura - TNSJ Com a situação nacional e internacional já conhecida e com as opções orçamentais de cortes generalizados presentes na proposta de Orçamento de Estado, a situação da Cultura em Portugal atingiu uma situação crítica e bastante preocupante. A promessa de 1% no Orçamento de Estado para a Cultura de há 5 anos já foi abandonada e em 2012 esse Orçamento não chegará

aos 0,6%. Esta situação tem, obviamente, um efeito directo e transversal e toda a realidade cultural em Portugal. Após as várias transformações a nível nacional em termos de equipamentos e, nomeadamente no Porto, do Rivoli numa casa de La Feria, chegou novamente a nossa vez. Agora, numa perspectiva puramente economicista, chegou a alFICHA TÉCNICA DIRECÇÃO DIRECÇÃO DO NJAP/JU - PRESIDENTE Ricardo Sá Ferreira VICE-PRESIDENTE Catarina Cruz VOGAIS Nuno Moniz (JUP) || Henrique Guedes (Galerias) DIRECÇÃO DO JUP Aline Flor DIRECTORA DE PAGINAÇÃO Aline Flor DIRECTOR DE FOTOGRAFIA Miguel Lopes Rodrigues Chefe de Redacção Dalila Raquel Teixeira Editores EDUCAÇÃO Teresa Castro Viana SOCIEDADE Leandro Silva DESPORTO Vera Covelo Tavares CULTURA Liliana Pinho OPINIÃO Nuno Moniz

editorial

onde vai gastar mais ou menos, onde vai poupar mais ou menos e aplica sobre a previsão do ano anterior estas decisões. Sensato, senão, todos os anos seriam uma confusão a fazer a elencagem de todas as situações que vão e poderão acontecer num ano. Apesar disso, chega-se sempre uma altura em que se decide pensar novamente sobre como essa família está a gastar o seu dinheiro: Se quer mesmo continuar a pensar em comprar outra casa, se precisa de tanta quantidade de produtos, etc e tal. Neste momento, repensa-se, numa análise de fundo, quer se queira quer não, a sua maneira de vida, de viver e o seu futuro. O mesmo se passa num Orça-

mento de Estado. Tendo por base o OE do ano anterior, pensa-se no que fazer a mais ou a menos, como ajustar as verbas, novos projectos são incluídos, velhos são arrumados na gaveta, aplica-se a inflação, faz-se os ajustes e o “bolo” está pronto a ser repartido. Portanto, agora que entram em vigor todas as “afamadas” medidas, chega a altura de começarmos a olhar e a pensar no Orçamento da família. Menos dinheiro para leite, pão e queijo para se poupar para um carro novo? Menos mesada para os filhos, acabou-se o lanche? A analogia é irrelevante, e as possibilidades são imensas. Interessa é que olhemos para as informações que estão disponíveis para todos verem e que tiremos uma conclusão própria e que tenhamos uma opinião própria. Usem a analogia que melhor calhar desde que se torne mais interessante. Menos confusão sobre o que é o Orçamento de Estado. Obrigado. Nuno Moniz

tura de centralização e de enclausuramento de aspectos decisivos na capital Lisboa. Esta realidade afecta o Teatro Nacional São João (TNSJ) que engloba o Teatro Carlos Alberto e o Mosteiro de São Bento da Vitória. A proposta orçamental em curso é a de extinção do TNSJ e a sua fusão no Organismo de Produção Artística (OPART). Esta solução é pôr um barrete sobre a ideia de diversidade e descentralização de acção cultural. A verdade é que o TNSJ, sendo esta proposta transformada em realidade, perde a sua autonomia. E nem o discurso económico poderá convencer visto que o Orçamento do TNSJ é igual há alguns anos, e desde aí o TNSJ já conta na sua ges-

tão com o TeCA e o Mosteiro de São Bento da Vitória. Para que seja claro o desinvestimento, o financiamento estatal ao TNSJ é cerca de metade do atribuído à Casa da Música e é bastante inferior ao do Teatro Nacional D. Maria II. Perante esta situação, só a simples sobrevivência do TNSJ é um feito importante, tendo em conta obviamente que a limitação orçamental não permite o crescimento em termos de oferta cultural. No dia 24 de Novembro, dia de Greve Geral, cerca de duas mil pessoas “abraçaram” simbolicamente o TNSJ como uma maneira de protestar e de afirmar que estão atentas e que, citando o grito conjunto nessa acção, “O Porto não se vende”. Daniela Vieira

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Aline Flor || Bárbara Abraul || Bruno Almeida || Catarina Medeiros || Christina Branco || Dalila Raquel Teixeira || Daniela Neto || Daniela Teixeira || Daniela Vieira || Diana Ferreira || Eduarda Moreira || Hernâni Zão || Hugo Leal || Irina Ribeiro || Joana Domingues || Júlia Rocha || Liliana Pinho || Luís Mendes || Mariana Catarino || Nádia Leal Cruz || Nuno Moniz || Paulo Pereira || Pedro Bártolo || Pedro Ferreira || Renata Silva || Ricardo Norton || Salomé Fonseca || Tatiana Henriques || Vera Covêlo Tavares

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imagem da capa Sérgio Alves Depósito Legal nº23502/88 Tiragem 10.000 exemplares Design logo JUP Bolos Quentes Design Editorial/Grafismo Joana Koch Ferreira Paginação Aline Flor || Natacha Cunha

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O que falta cumprir Estes são tempos de mudança. Na Tunísia, no Egipto, as pessoas revoltam-se contra injustiças e corrupção. Mesmo sem o devido apoio vindo das democracias com que sonharam, estes povos lutam e reivindicam uma vida melhor, de liberdade e temperança. Mesmo não sabendo para onde caminham ao certo, sabem que o que não querem é estar ali. Num filme popular um professor sussurra aos seus alunos “tornem as vossas vidas extraordinárias”. É preciso fazer coisas extraordinárias, como tunisianos e egípcios propuseram-se fazer. É quando cada um faz a sua quota de coisas extraordinárias que as grandes alterações ocorrem e é possível mudar o mundo. Parece que ainda não aprendemos a ser extraordinários em Portugal. Já Eça de Queirós considerava que “em pequenos, temos todos uma pontinha de génio” mas que acabávamos “erguendo até aos céus o monumento da camelice”. Os que fogem a este fado, infelizmente, não ficam muito tempo por cá. Estes são tempos de mudança. São tempos de, também aqui, abandonar-se o “deixa andar” e passar-se à acção. Com ou sem grandes revoluções, é preciso que cada um faça a sua parte para mudar o rumo do país. Para combater a corrupção que arrastou os rios de dinheiro que por cá correram, aos quais poucos viram a foz. Para acabar com a governação de batata quente, onde se atiram as culpas de uns para outros, enquanto se põe em prática medidas que não são mais do que “nados-mortos”. É preciso acordar e fazer coisas extraordinárias. E querer que, também em Portugal, venham tempos de mudança.


JUP || Janeiro 11

Devaneios

OPINIテグ || 31


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