JUP Dezembro 2009

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Destaque 2 || Educação 6 || Sociedade 10 || JUPBOX 13 || U.Porto 14 || FLASH 16 || Desporto 18 || Cultura 22 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29 || Devaneios 31

Tascas à moda do Porto Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Directora Filipa Mora || Director de Fotografia Manuel Ribeiro || Directora de paginação Joana Koch Ferreira Chefe de Redacção Mariana Jacob

sabores e memórias já não são prato do dia


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Entrevista Raúl Simões Pinto

As Tascas na primeira pessoa Procuradas e apreciadas por todos antigamente, as tascas fecham as portas dia após dia. Algumas das que ainda restam, passam despercebidas. O lugar de convívio transformou-se num lugar de passagem. O que antigamente enchia as avenidas, está hoje esquecido nas traseiras…

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ascas, tascos, adegas, tabernas… são muitas as designações atribuídas. Lugares onde se escuta o fado vadio, ao fim da tarde, e onde se apreciam as tripas e os cozidos incomparáveis. Antes, eram centenas, hoje, apenas algumas dezenas. As tascas foram, durante muito tempo, pano de fundo e inspiração ou sugestão de enredos. Reflectiam preconceitos, visões, mentalidades. Eram os locais escolhidos para conviver, comuni-

car, degustar e beber conforme gostos, hábitos e capacidades financeiras. Serviam de ponto de discussão sobre os mais variados assuntos, como política, amores, problemas sociais, questões de honra ou de dinheiro, discussões naturalmente prolongadas em redor de uma espécie de mesa redonda, enquanto se petiscavam alguns acompanhamentos. Uma multiplicidade de valências, refúgio da invicta. Não se limitavam a ser sítios de preenchimento dos ócios, mas reflectiam o verdadeiro clima da cidade. Ambientes densos, restritos e restritivos. Uma vida em comunidade, ao sabor de hábitos genuínos. Falamos de um Porto que já não existe. A mentalidade espontânea criativa foi sucumbida pela vida moderna, onde se destaca o consumismo, a Internet, o poder da TV, centros comerciais… E onde as tascas foram substituídas por

bares, pubs, snacks, restaurantes… Com todas as fraquezas, cedências e abdicações, o negócio das tascas foi completamente extinto ou, pelo menos, reconvertido de uma forma esmagadora. Mas eis que Raúl Simões Pinto, professor e tripeiro assumido, teve a ideia de fazer um tributo ao Porto antigo e popular. Escreveu e publicou o livro “As Tascas do Porto”, um roteiro marginal e até mesmo “boémio”, que pretende ser um verdadeiro elogio do viver e sentimento tripeiros. Raúl Pinto escreve com sensibilidade e simpatia, mas também com uma certa compaixão e tristeza. O seu trabalho é um exercício de dedicação, que sugere um revigoramento da memória contra o esquecimento. As tascas assumem-se como tradição, fantasia, orgulho e, sobretudo, património da cidade. O JUP quis conhecer o ‘escritor’

e saber o que o levou a escrever a obra que é a consagração e celebração da cidade profunda. Foi na Casa Correia, uma tasca tradicional da baixa portuense, situada bem ao lado do Tribunal da Relação (Rua Barbosa de Castro) que entrevistamos Raúl Simões Pinto, autor do livro “As Tascas do Porto”. A meio de um almoço apressado, falamos com o professor sobre as tascas tradicionais portuenses e a sua progressiva desertificação… JUP — As tascas estão espalhadas por todos os cantos da nossa cidade. Na sua opinião, podem ser consideradas património cultural? Raúl Simões Pinto — Eu acho que as tascas deviam ser consideradas património histórico e cultural porque reflectem um tempo em que a cidade era uma cidade de trabalho, o Porto tinha o dobro da população que tem hoje e as tascas eram refúgios onde as pessoas se encontravam quando saiam dos seus traba-


artur costa

artur costa

Casa Correia artur costa

Casa Correia

“As tascas deviam ser consideradas Património histórico e cultural”

lhos, sobretudo os homens. A tasca relativamente às mulheres sempre foi um lugar de preconceito. A mulher nunca entrou muito nas tascas. Era uma sociedade machista, que ainda hoje continua em certa medida. Mas se falarmos por exemplo do princípio da industrialização no Porto, da cidade do Porto como cidade de trabalho dos anos 50, 60, 70 do século XX, podemos considerar que a mulher ficava fora de portas à espera do seu marido ou do seu namorado, enquanto ele bebia um copo ou cavaqueava com os amigos na taberna. Jogavam às cartas, contavam anedotas, discutiam o futebol, discutiam a política. Discutiam coisas, algumas delas proibidas para a época se tivermos em conta que antes do 25 de Abril de 1974 as tabernas eram um bocado centros de discussão política. Populares, muito populares mas onde paravam todas as classes para beber, comer ou mesmo por ser uma questão pontual. O que o levou a escrever o livro ‘As tascas do Porto’? Eu escrevi o livro porque fui praticamente educado numa tasca. O meu falecido pai tinha uma ta-

Se não forem os jovens, as tascas desaparecem daqui a 10/20 anos” berna para os lados de Lordelo do Ouro, para os lados da Foz e eu fui para lá com 5 anos. Saí de lá aos 12, ou seja, vivi praticamente a minha infância e o princípio da minha adolescência numa taberna. A comunicação com aqueles espaços e as cenas que eu assistia deramme azo para escrever. E foi quase como um tributo à memória do meu pai. Aliás, eu dedico o livro à memória do meu falecido pai… Coube a Hélder Pacheco a elaboração do prefácio do seu livro. No início, o autor refere “No Porto chamavam-se, as mais das vezes, corrente e simplesmente

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tascos. Também havia quem os designasse por adegas. Outros diziam tabernas.” Considera que o termo ‘tasca’ tem um sentido pejorativo? Não. Acho que não porque há diferenças… há diferenças entre uma casa de pasto, uma Tasca e uma Adega. A adega pode fazer refeições, tem licença para isso. Mas uma tasca, as casas de pasto mais tradicionais só servem petiscos. Não podem fazer refeições porque estão limitados pelos alvarás. Em termos de senso comum, o tasco ou a tasca é o termo que se utiliza mais no Porto. Há zonas onde é as tabernas, as adegas, os botequins. Há muitas referências para este tipo de estabelecimento. Mas aqui no Porto é os tascos, no masculino, ou as tascas. Por norma, esses dois nomes jogam muito com o Porto. As tascas, as ‘tasquinhas’… mas a tasca tradicional não faz refeições. Só serve petiscos. Algumas actualizaram-se e servem refeições como forma de sobreviver. Sabemos que as tascas são, para si, uma tradição familiar mas sabemos que não deu continuidade ao projecto. Porquê? Eu saí com 12 anos. A zona onde estava a tasca foi remodelada, toda aquela zona foi abaixo e eu com 12 anos tive que mudar para o Bairro da Pasteleira, onde estou hoje ainda a viver com a minha mãe e onde escrevi um livro que é a “Pasteleira City”, que é um livro dedicado à Pasteleira. E não dei continuidade ao projecto porque era muito novo e também nunca tive possibilidade de ter um negócio. Dei aulas, trabalhei nos correios e agora dou aulas aqui na cooperativa (Árvore) e nunca tive, do ponto de vista económico, oportunidade de montar qualquer tipo de negócio. Hoje em dia as tascas são cada vez menos frequentadas. Quais são, na sua opinião, as soluções para contrariar esta tendência? As soluções começam logo pela autarquia, pelos poderes da Câmara a nível cultural e de património que acho que não têm uma política que apoie este sector. E depois, um pouco a guerra comercial. Com a passagem do Porto de cidade de trabalho para cidade de serviços, houve uma modificação. Nós somos o quinto país da Europa com mais centros comerciais. Na área metropolitana do Porto há 46 centros comerciais. Do ponto de vista de mentalidades, isto alterou-se muito. Teria que


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fotos de: artur costa

6 Tascas O verdadeiro Porto não está nas avenidas, está nas traseiras. O Porto bairrista” haver uma política camarária para manter estes lugares e uma política até de roteiro turístico, uma questão popular. Os turistas visitavam aquilo que é mais tradicional na cidade, mas o poder autárquico não tem desenvolvido nem mantido a tradição da cidade. Aliás, as tradições e o bairrismo do Porto estão-se a perder. O S. João não é o S. João tradicional do Porto, está-se a perder muito do bairrismo da cidade. O Porto está a ser uma cidade atravessada pelo metro. Um metro que passa e um metro que leva as pessoas para os dormitórios. O centro da cidade está fantasmagórico e as pessoas só vêm ao Porto para serviços ou para trabalhar e vivem na periferia. O centro histórico do Porto perdeu 50% da população em 20 anos. Não havendo população nos centros históricos, a vida extingue-se. Se não houver um apoio para manter os locais, eles vão-se embora. Até pela idade… a maior parte das pessoas que estão à frente das tascas são pessoas de idade. A segunda geração, os filhos, já não vão pegar no negócio dos pais… ou fazem restaurantes ou então fecham e abrem outras coisas, e perde-se. E têm-se perdido. É uma tendência. Mas a responsabilidade número um eu ponho aos poderes camarários, nomeadamente as áreas de património, cultura e turismo da Câmara. E claro, a ASAE, que com a adaptação das regras europeias às tascas, a ASAE ajudou a “matar” algumas tascas da cidade do Porto. Hoje em dia, os turistas conhecem as tascas e as tradições da nossa cidade? Não. O turismo conhece os locais in: Casa da Música, Serralves, os Clérigos, a Ribeira… os que estão nos roteiros citadinos. E os restaurantes que estão nos roteiros turísticos. Tinha que haver uma alteração. Tinha que se enquadrar nesses

Com a ajuda de Raul Simões Pinto, seleccionamos 6 tascas portuenses. O objectivo é dar a conhecer ou relembrar 6 das casas tradicionais que inundam as ruas desta cidade. Cada uma delas faz parte de um dos percursos definidos pelo autor no livro “As tascas do Porto”. 6 caminhos, 6 histórias, 6 abrigos, 6 tascas que ainda (sobre)vivem… No Centro histórico da cidade, está O Alfredo Portista. Com mais de 70 anos, esta tasca é toda azul. O ambiente familiar e o famoso polvo cozido fazem desta, uma tasca com fama e proveito. A Adega S. Martinho está localizada na Baixa do Porto e está praticamente intacta há mais de 35 anos. Teresinha, a dona da tasca, ainda faz as contas em escudos e queixa-se da situação actual “a clientela baixou e o negócio ressentiu-se”. A Casa Melo está integrada nos Caminhos do Romântico. Recentemente renovada por imposição camarária, esta casa vive essencialmente dos estudantes e do espírito académico. Na Zona Ocidental, a tasca da Badalhoca destaca-se. As famosas sandes de presunto fazem desta, uma das tascas mais conhecidas da cidade. Neste caso concreto, o negócio corre bem e o estabelecimento é frequentado por todo o tipo de pessoas. Na Marginal e Zonas ribeirinhas, podemos encontrar a Adega Rio Douro (ou Tasca da Piedade), conhecida pelas suas tardes de fado vadio. A Adega o Escondidinho integrase na Zona Oriental e Paranhos. Com mais de 120 anos, esta tasca vive veteranos e universitários.

roteiros também as tasquinhas. E acha que isso se consegue fazer? Eu acho que se consegue mas passa também por alguma pressão aos meios de comunicação, às entidades camarárias, aos sectores turísticos… por esta rua (R. Barbosa de Castro) passam dezenas de turistas mas se a Adega Correia não estiver no roteiro, eles não param aqui. Outra coisa que se pode fazer é a


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festa das tasquinhas. Existe a festa da Francesinha, a festa da cerveja… porque é que não fazem a festa das tascas do Porto? Cada tasquinha podia estar aberta, servia os seus pratos, tinha os seus petiscos… é dentro desse aspecto que eu acho que só com campanhas a esse nível, se pode manter o património histórico e cultural do Porto. As tascas fazem parte do seu dia-adia? Frequenta-as com regularidade? Se sim, quais? De vez em quando vou a uma, ou vou a outra… a Adega Correia, venho aqui várias vezes até por uma questão de proximidade com a cooperativa. Também vou muitas vezes à Rua de Trás, a uma adega que se chama Adega Leandro. Às vezes vou, uma ou outra vez, à Badalhoca, por exemplo. Estive também há tempos numa adega que fica junto à Casa da Música, a Adega Soares Marques. Às vezes passo por essas adegas em função da minha vida. Pessoalmente, qual é sua tasca de eleição? Porquê? Há uma tasquinha que eu pessoalmente considero talvez a tasca mais tradicional do Porto. Exactamente porquê? Porque mantém a traça há 40 anos. Só pinta as paredes… é na Rua D. João IV. Chamase a Adega S. Martinho. A senhora que está lá faz contas em escudos e depois passa para euros. Aquilo não é uma adega, é um santuário. Mantém as coisas em madeira, os balcões ainda em mármore… é dos sítios que mantém uma tradição há mais de 40 anos. Não faz refeições, só serve petiscos. Daquilo que eu conheço, é talvez a adega mais tradicional do Porto. Face à mudança de mentalidades, acha que o futuro das tascas passa por… Viver ou sobreviver? Eu acho que nesta altura é sobreviver. O Porto está-se a tornar uma cidade de turismo e serviços. Dentro dessa perspectiva, as tascas podem sobreviver. Podem ser vistas como locais que podem ser visitados pelos turistas. Isto se houver desenvolvimento pela parte de quem gere a cidade. Se houver interesse e se não sobrecarregarem em demasia o comércio, pode ser que em certos lugares se mantenham. Com estes apoios e com roteiros turísticos elas podem-se manter. Agora, se não houver essa política, evidentemente que daqui a 10 anos estaremos reduzidos a meia dúzia de tascas que sobrevivem.

duas das mais carismáticas tascas da cidade SARA SOUSA

As regras impostas pela ASAE foram violentas

TERESA VIANA

Uma tasca com inox tira todas as características das verdadeiras tascas

Casa Melo, os clientes são Badalhoca, o templo sobretudo universitários das sandes de presunto São quase 7 horas da tarde e, para a maioria das pessoas, o dia de trabalho já terminou. Estamos na Casa Melo, situada na freguesia de Vitória. Há alguns anos atrás, por esta hora, era normal ver nas tascas reunidos homens, que vinham petiscar e molhar a garganta depois de um dia de trabalho. Só nas últimas duas, três décadas começou-se a ver o sexo feminino a frequentar estes estabelecimentos, visto não serem considerados apropriados para mulheres sérias. Desde operários fabris, a advogados, professores, intelectuais, estudantes, todos faziam uma pequena paragem por estes locais tão característicos do Porto. Mas, nos últimos anos, tal já não se verifica. As tascas do Porto estão a ficar sem frequentadores. A Casa Melo é bem conhecida entre os universitários. Quase todos já fizeram jantares ou provaram a receita do Sr. Melo, o único proprietário há já 32 anos. Na verdade, a maioria dos alunos da UP, diz o “Sr. Melo”, quando se refere à tasca. Enquanto falamos com o próprio, apenas um cliente, na casa dos 50, está no estabelecimento, a tomar o seu copo de vinho. O Sr. Melo está ao balcão e a esposa, a Sra. Ester Melo, na cozinha, a fazer os pratos do número 54 da Rua de Sá de Noronha. A Casa Melo teve origem numa aposta de Manuel Melo, quando

há 32 anos atrás se encontrava desempregado e viu como única solução, para sair dessa situação, abrir o seu próprio negócio. “Pensei e acertei que a única maneira de ter emprego era a trabalhar por minha conta”, declara. Os que mais visitam a sua casa são universitários, esclarece, e exuniversitários que “continuam a nos visitar”. Ao contrário de outros proprietários de tascas, o Sr. Melo não pensa que a sua tenha vindo a ser menos frequentada, nos últimos anos, porque, em geral, “o meu cliente é universitário e, felizmente, há cada vez mais universitários”. “ Se calhar, noto é alguns com menos disponibilidade económica”, informa-nos. Sem qualquer ajuda da Câmara Municipal do Porto, o Sr. Melo tem conhecimento de estabelecimentos que necessitam do apoio desta. Afirma que não tem pedido ajuda, mas também não tem “queixa”. Quanto à ASAE e às restrições que esta colocou às tascas, pensa que “fez falta, porque veio impor algumas regras, mas, se calhar, entrou muito violenta”. Quando questionado se o futuro da sua tasca é viver ou sobreviver, o Sr. Melo confessa: “enquanto tiver saúde e com algum espírito jovem que colho dos meus clientes, se calhar, passa por viver”.

Com o aparecimento de estabelecimentos atractivos com preços acessíveis, o ideal de tasca tem sido progressivamente posto de lado. O que antigamente, era um lugar de culto, convívio e diversão, hoje em dia é apenas um local de acolhimento para os mais antigos ou um ponto de passagem para os mais apressados. Qual património cultural? Qual passagem obrigatória de visitantes e turistas? As tascas de antigamente estão a desaparecer dia após dia… fecham as portas e lá ficam as memórias de quem por lá passou. No entanto, e apesar da tendência de desertificação, ainda há tascas a garantir a sua (sobre)vivência. A “Badalhoca” é uma delas. Com mais de um século de vida, a tasca continua a atrair clientes. Como refere Maria de Lurdes de Jesus Guedes, proprietária da tasca há 45 anos, os fregueses vão “dos juízes, aos advogados, às doutoras, aos doutores, aos arquitectos” Também frequentada por trolhas, pintores e por aqueles a quem o emprego não dá lugar, a fila na “Badalhoca” contempla a diversidade. Segundo a dona, a adesão é positiva uma vez que os clientes “são bem recebidos, de qualquer maneira”

Mas mesmo sobrevivendo à desertificação, esta tasca já teve que ser modificada. Para a D. Lurdes, nome pelo qual é carinhosamente tratada, a Câmara do Porto e a ASAE são responsáveis por algumas alterações físicas ao estabelecimento “Isto já não é nada parecido com uma tasca porque uma tasca com inox tira todas as características das verdadeiras tascas. As tascas de antigamente eram pintadas, escavacadas, com azulejos…” A proprietária acrescenta ainda a importância da preservação destes locais. “Como toda a gente sabe, os grandes escritores e poetas nasceram das tascas. Nunca nasceram dos restaurantes. Eles pernoitavam, ficavam solidários a pensar e daí saíam as grandes obras”, refere. Olhando para o panorama actual, a proprietária sugere ainda que “o nome ‘tasca’ praticamente já não existe” e garante que a “Badalhoca” não vai ter continuidade. E tudo porque “…os meus filhos não querem nada disto”, afirma.

maria joão fernandes, maria freitas, sara sousa, e teresa viana mariajoao.anf@gmail.com, mifreitas_18@ hotmail.com, saraccsousa@gmail.com, teresacastroviana@gmail.com


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Teatro do Oprimido: o mundo que desejamos pedro ferreira

Entram em palco os que participam numa peça de Teatro Fórum. Todos são convidados a intervir assumindo o papel de “espect-actores”. O processo colectivo de criar uma peça de Teatro Fórum para contar a história de uma opressão que faz parte do quotidiano de uma pessoa e que é partilhado por muitas outras. Tal é mais importante do que a performance teatral em si mesma. Ensaiar os problemas que nos afectam como sociedade – a violência sobre as mulheres, a discriminação dos jovens de bairros sociais, o desemprego de longa duração, a falta de acesso ao ensino superior por falta de financiamento –, criando uma atmosfera visualmente forte e de partilha colectiva, com o poder de nos “atirar” para o lugar do oprimido e para a realidade da opressão. A consciência despertada desta forma sobrepõe-se ao sentimento de separação entre o indivíduo e a sua comunidade, que se foi progressivamente instalando na nossa cultura. Depois de representada em palco a história, o público é chamado a participar, tendo a possibilidade de entrar em cena, de substituir o actor (que representa o papel de oprimido) e alterar o rumo da história que tinha inicialmente sido apresentada. O curinga (“joker”) medeia este diálogo entre o público, os actores e a história; é o “provocador de consciências” que utiliza a técnica de TO para estimular a procura de soluções para o problema em discussão e para criar vontade de agir e transformar a realidade a partir do momento em que cada um dos “espect-actores” abandona o local onde assistiu à peça. O objectivo primordial do TO cumpre-se quando a discussão sobre a peça é levada para a rua, se enriquece nas conversas de

café entre amigos e toma forma na acção quotidiana das pessoas.

A Pedagogia da Acção “Aprendemos a sentir, sentindo; a pensar, pensando; a agir, agindo”(Declaração de Princípios da Associação Internacional do TO) Augusto Boal, teatrólogo Brasileiro, é o mentor da metodologia do Teatro do Oprimido que sistematizou um conjunto de exercícios, jogos e técnicas teatrais, permitindo o ensaio de alternativas para situações que se revelem como opressões na vida quotidiana. No TO “os cidadãos agem na ficção do teatro para se tornarem, depois, protagonistas das suas próprias vidas”. O Teatro do Oprimido surgiu no Brasil em 1971, sob a forma de teatro jornal (representar uma notícia ou narrativa escrita), e desenvolveu-se num contexto social e político muito específico, que era o período de ditaduras vivido na América Latina. É influenciado pela Pedagogia do Oprimido criada pelo contemporâneo de Augusto Boal, Paulo Freire. Actualmente a metodologia do TO é praticada em mais de 70 países, em escolas, prisões, centros sociais, associações, bairros, comunidades. É o exemplo pouco ortodoxo de uma metodologia criada no hemisfério sul que está a ser descoberta e aplicada aos problemas sociais dos países mais industrializados.

TO no Porto: Multiplicar o diálogo nos bairros e nas escolas O Núcleo do Teatro do Oprimido do Porto (NTO Porto), sedeado na Asso-

A professora universitária Luisa F. Silva entra em cena e altera o rumo da história

O público é chamado a participar, tendo a possibilidade de entrar em cena, de substituir o actor e alterar o rumo da história

ciação Pele, surgiu há dois anos com o entusiasmo de um colectivo que desejava multiplicar a metodologia do TO nas escolas e nas comunidades, promovendo o desenvolvimento humano através da arte. Hugo Cruz, coordenador do NTO Porto e curinga de TO, estagiário de Augusto Boal no Centro do Teatro do Oprimido do Rio de Janeiro, mentor

de vários projectos de intervenção social e comunitária através desta metodologia, conversou com o JUP sobre a acção que o NTO Porto tem vindo a desenvolver junto de bairros sociais, escolas e na formação de estudantes universitários. Um dos projectos de que se orgulha, denominado “Nem Anjo nem Diabo”, é realizado em parceria com


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o Instituto Profissional do Terço, em que o palco serviu para os jovens institucionalizados fazerem ouvir as suas frustrações. O tema principal foi a discriminação de que são alvo na escola por serem de bairros problemáticos e apresentaram uma peça de Teatro-Fórum em várias escolas da cidade, no Teatro Rivoli e nas estações de metro do Porto. O projecto, inserido no Programa Escolhas, recebeu um Prémio de boas práticas na inclusão através da arte. Os estudantes e recém-licenciados da Universidade do Porto têm aderido em grande número à formação de introdução ao Teatro do Oprimido que o NTO Porto organiza regularmente em conjunto com a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. Hugo Cruz considera “curioso terem aparecido muitos estudantes de Educação Física, mas também estudantes de Medicina, Sociologia, Serviço Social e de Teatro”, para além “dos estudantes de Psicologia e Ciências da Educação”.

Universitários ensaiam Democracia para o palco da Assembleia da república O primeiro projecto de Teatro Legislativo em Portugal iniciou no passado mês de Novembro uma digressão pelas principais escolas de ensino superior do país com o objectivo de apresentar uma peça de Teatro-Fórum intitulada “Estudantes por Empréstimo”. A história retrata uma situação vivida actualmente por muitos estudantes de ensino superior - o “subfinanciamento do ensino superior” e a “insuficiência e critérios desadequados dos apoios da acção social” que têm como resultado o afastamento de estudantes do ensino superior pela ausência de recursos financeiros. “A educação

não é um direito igual para todos?” diz, indignada e em tom desesperado, uma das actrizes da peça a quem uma técnica dos serviços da acção social propõe que faça um empréstimo bancário ou realize trabalho “voluntário” nos serviços da universidade. As sessões pretendem criar um espaço de democratização política em que se ouve a voz dos estudantes e se ensaiam soluções e propostas de alteração à lei em vigor, e que têm como meta final a apresentação na Assembleia da República. José Soeiro, curinga com um universo diversificado de experiências de TO em comunidades e escolas e deputado pelo Bloco de Esquerda, é o impulsionador desta iniciativa. No decorrer da apresentação pública do projecto no Porto, no passado dia 1, o público mostrou inquietude em face desta projecção da realidade das universidades Portuguesas e não quis apenas bater palmas no fim do espectáculo. Multiplicaram-se propostas de acções concretas (fazer reportagens no Jornal Universitário, dialogar e envolver a Reitoria e as Associações de Estudantes) e ensaiou-se a convocatória de uma Assembleia de Estudantes com a participação de membros do público. José Soeiro é a imagem de um deputado pouco habitual. Isto porque, tal como diz em entrevista ao JUP, a política se “distanciou da realidade das pessoas que pretende servir” e porque a “linguagem política está excessivamente institucionalizada”. Por tudo isto, afirmou Boal (1980) que “o teatro pode ser uma arma de libertação, de transformação social e educativa”. Marisa Ramos Gonçalves marisamrg@yahoo.com pedro ferreira

Deputado do BE, José Soeiro, moderador da peça de “Teatro Forum”

“A Internet já é primeiro consumo de Media” Foi no dia 4 de Dezembro que se realizaram, pela segunda vez consecutiva, as Jornadas ObCiber da UP As jornadas, organizadas pelo observatório de ciberjornalismo do CETAC.media, tiveram como principal objectivo criar “um espaço de debate e reflexão sobre a actualidade ciberjornalística”. Com um anfiteatro lotado, António Granado, editor do Público.pt e professor na Universidade Nova de Lisboa, alertou para uma “descredibilização do jornalista” que se deve a “uma mudança brutal que está a transformar radicalmente o jornalismo”. Acredita que as universidades terão um papel essencial na reversão desta situação e que terão de apostar em 10 pontos para melhorar o ensino do jornalismo. Entre os quais, rever totalmente os seus currículos e colocar a tónica no empreendorismo. Num painel pleno de diversidade, Isabel Reis, jornalista da TSF, defendeu que a rádio tem a função de ser “os olhos e os ouvidos do ouvinte”, que através de objectividade e emoção, deve transmitir não só imagens auditivas, mas também visuais. Conclui que a ciber-rádio apresenta um défice muito grande relativamente à criação de um ambiente sonoro, dando primazia à declaração em detrimento de outros aspectos jornalísticos como nas notícias em destaque. Luís Miguel Loureiro, jornalista da RTP, reflectiu sobre as questões ‘Pode o utilizador ser simplesmente espectador?’ e ‘Um dispositivo sem espectador pode continuar a chamar-se televisão?’ utilizando o exemplo do ‘O meu telejornal já não é o nosso’, da RTP online. Mas a pre-

ocupação tem também de abranger o modelo de design do jornal online. Foi a esta questão que Nuno Vargas, responsável pelo design do jn.pt, deu voz. Acredita que tem de existir uma “correspondência entre o mundo real e o sistema”, e, acima de tudo, uma “interacção democrática”, que terá de ser acessível a todos os utilizadores independentemente do seu nível de literacia. Anteriormente, Fernando Zamith, um dos organizadores das Jornadas, havia destacado a importância e as potencialidades da Internet aquando da divulgação do ranking ObCiber 2009 e dos resultados do estudo anual sobre os sites noticiosos portugueses, que reconheceu o Jornal de Notícias Online enquanto dispositivo online com maior grau de aproveitamento das potencialidades acima referidas, na órbita dos 55%. Quem mereceu destaque foi Pedro Araújo e Sá, administrador do grupo Cofina, que acredita que num futuro próximo “haverá um esbatimento de barreiras entre medias”. Os media tradicionais estão a perder monopólio e há um aumento cada vez mais sentido da concorrência. Neste momento, “a Internet já é primeiro consumo de Media em alguns países, como nos EUA”. Além disso, é líder no investimento publicitário. O orador considera que em Portugal há uma “necessidade de alterações culturais profundas” pois “a transição digital implica que os grupos de media encontrem soluções criativas”. Os novos repórteres serão multitasking, terão aptidões a nível

do texto, áudio, imagem e vídeo. Assim, a palavra-chave é formação. Em ciberjornalismo, a produção traduzse em multiprodutoo mesmo conteúdo, mas com menos custos. Ainda assim, a qualidade e costumização do produto não podem ser descuradas. Para Pedro Araújo e Sá o ciberjornalismo em Portugal “ainda é visto como uma área um pouco obscura, um castigo”. Mas “o atraso relativo de Portugal neste processo permitirá a adopção de soluções já testadas e em funcionamento” noutros países. O orador não duvida que os media podem ter um futuro risonho ainda que perante um novo modelo de concorrência. “E passo a citar uma justificação darwiniana: ‘os que vão sobreviver não são os mais fortes, mas os que melhor se adaptam à mudança”, finaliza. Quanto aos prémios de Ciberjornalismo 2009, na categoria “Breaking News” foi premiada a notícia ‘Morreu João Bénard da Costa’ do Público.pt. A reportagem multimédia vencedora pertenceu ao Jornal de Notícias Online, “Entre o dever e o haver”. “Vidas de Silêncio”, da Rádio Renascença, mereceu o prémio de vídeojornalismo e “Póquer: o jogo do momento” também do JN Online, o de melhor infografia digital. Já quanto ao ciberjornalismo académico, foi o Jornalismo Porto Net (JPN), que mereceu destaque com o Dossiê ‘Porto à Deriva’. Estes prémios de Ciberjornalismo, visam reconhecer e premiar o melhor da produção ciberjornalística portuguesa. No fecho desta edição das ObCiber, Javier Diaz Nocí colocou mais uma vez a tónica na ‘multiplataforma’ e na necessidade de integração jornalística nesta nova realidade. Para o ano, esperam-se mais discussões no II Congresso Internacional de Ciberjornalismo que se realizará nos dias 8 e 9 de Dezembro. liliana pinho


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Ensino Superior: estudantes em Luta Estudantes de todo o país mostraram o seu descontentamento e denunciaram os vários problemas do Ensino Superior No passado dia 17 de Novembro, estudantes universitários de todo o país saíram às ruas de Lisboa em protesto contra as políticas seguidas no Ensino Superior. Cerca de quatro mil estudantes marcharam até à porta do ministério de Mariano Gago reivindicando mais financiamento público para as instituições e para a acção social, que dizem ser insuficiente. A estas duas grandes bandeiras, que estavam na convocatória da manifestação pela associação académica de Coimbra, os estudantes juntaram muitos outros problemas que vão vivendo, tais como o elevado valor das propinas, a perda de representatividade dos estudantes nos órgãos de gestão, a implementação de Bolonha que consideram ter sido incompleta e o estatuto do trabalhador-estudante. Levantaram-se ainda outras questões mais específicas de cada realidade, como por exemplo a dos estudante de Letras do Porto, que denunciava as várias barreiras arquitectónicas que vão dificultando a vida aos estudantes de mobilidade reduzida. Presente neste protesto esteve também a questão dos empréstimos bancários que, acusam os estudantes, deriva da falta de meios dados aos serviços da acção social. Segundo os dados mais recentes, seis mil estudantes já tiveram a necessidade de contrair empréstimos de forma a suprir as carências da acção social. O tom bastante plural das reivindicações foi um traço distintivo do protesto, sendo que um dos focos da atenção dos estudantes foi, como seria de esperar, o Ministro Mariano Gago, reconduzido por José Sócrates no final de Outu-

bro para a sua quarta legislatura à frente do ministério, depois de também ter sido por duas vezes a escolha de António Guterres para ocupar o cargo. As críticas ao Ministro foram amplamente exaltadas com cânticos de “Não! Não! Não! À privatização!”, “A propina dói, a propina dói”, “Propina em cima! Bolsas em baixo! E rapa o tacho! E rapa o tacho! E rapa o tacho!”, ou o habitual “estudantes unidos jamais

serão vencidos”. Também por pancartas em denúncia de uma “universidade gourmet” (foto), ou de uma reforma “bolonhesa” para estudantes “sem massa” e outras ainda menos ortodoxas nas referências como uma faixa onde se lia “Se o Gago podia viver sem propinas? Podia… mas não era a mesma coisa!”. Não foram apenas estudantes da capital que marcaram presença: as academias de Coimbra,

O tom bastante plural das reivindicações foi um traço distintivo do protesto, sendo que um dos focos da atenção dos estudantes foi o Ministro Mariano Gago.

de Lisboa, de Trás dos Montes e Alto Douro, do Minho, de Aveiro e de Évora apoiaram oficialmente o protesto, sendo a maioria dos presentes estudante em Lisboa e Coimbra. Já da Universidade do Porto, a maior do país, apenas estiveram presentes alguns estudantes que se deslocaram numa camioneta da associação de Letras, isto após a Federação Académica do Porto não ter apoiado a manifestação. A federação da maior academia do país, que festejou no passado dia 13 de Novembro a dupla década de existência, em assembleia de representantes decidiu não participar no protesto por preferir esperar pela apresentação do novo orçamento de estado. No ministério, onde culminou a manifestação, os representantes dos estudantes foram recebidos pelo Ministro, que prometeu prestar uma atenção redobrada às questões da acção social. O novo orçamento de estado, agendado para meados de Janeiro, é agora o momento chave que todos aguardam. José Miranda Irina Castro

Estudantes universitários juntos contra as medidas realizadas no Ensino Superior


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sara moreira

ana fortuna

Workshops na Universidade do Porto Participar num jornal amador resulta na vontade pessoal

Três vozes do Jornalismo Universitário Os maiores jornais universitários do país respondem ao convite do “Tribuna” para debaterem jornalismo académico Acabaram as mesas verdadeiramente redondas, onde cada ápice do raio era uma pessoa exactamente igual às outras. Os que aceitaram o convite do jornal “Tribuna”, órgão gerido pelos estudantes da FDUP (Faculdade de Direito do Porto), apresentaram-se lado a lado, entregando as memórias das próprias experiências como instrumento de reflexão. Começou Raquel Louçã, Directora do Mundo Universitário (MU). Desde 2004, Raquel é responsável do jornal quinzenal, criado para “atacar” um mercado que vai de Braga até Faro. Raquel contou-nos as dificuldades em trabalhar num órgão profissional que está fora da Universidade e que, portanto, tem menos margens de manobra em comparação com quem está lá dentro. “Mas o empenho e a dedi-

As sete regras de ouro para encarar com a profissão de Jornalismo: sofrer, esperar, ter curiosidade, saber fazer perguntas e transportá-las para o papel, ter sorte e trabalhar cação é sempre a mesma!”, assegura. E não custa acreditar: a redacção do MU conta só com duas pessoas para gerir a grande rede de colaboradores externos. Vasco Baptista foi o representante do coimbrense “A Cabra”. O Director Executivo falou com orgulho de uma redacção histórica compos-

ta por quase 15 elementos de diferentes faculdades. O motivo desse orgulho são também as edições especiais que ao longo dos anos marcaram a vida académica, não só de Coimbra mas do país inteiro. A seguir foi a vez de Carlos Daniel Rêgo, antigo director deste mesmo jornal, o “JUP” (agora Jornal da Academia do Porto). Os testemunhos do mundo jornalístico universitário cruzaram-se com o julgamento e as recordações dos que já contam décadas de militância no mundo da informação. O jornalista e escritor César Príncipe evidenciou as diferenças entre um jornal amador (onde a participação é fruto de uma vontade pessoal e o jornalista tem uma margem de manobra bastante ampla) e um jornal profissional (onde a militância é devida e é sujeita a uma série de condicionantes). Sabiam que, em 2008, as palavras mais publicadas pela imprensa portuguesa foram Benfica e Futebol? Com sabedoria, esta estatística foi entregue por César Príncipe quase como pretexto para rasgar um sorriso, mas dentro do Salão Nobre todos perceberam a ironia amarga contida naquele dado de facto. Dulcis in fundo para a receita pessoal de Paulo Ferreira, Subdirector do “Jornal de Notícias”, que enumera as sete regras de ouro para encarar com a profissão de Jornalismo: sofrer, esperar, ter curiosidade, saber fazer perguntas e transportá-las para o papel, ter sorte e trabalhar. Muito. Edgardo Cecchini

UP organiza uma vez mais um conjunto de workshops. O canto gregoriano, escrita criativa, dança do ventre e Tai-Chi são algumas das actividades que a Reitoria propõe. À semelhança do que tem vindo a acontecer em anos anteriores, a Universidade do Porto volta a proporcionar uma série de diferentes formações. Estes cursos destinam-se não apenas aos alunos da Universidade mas também a toda a comunidade em geral com o intuito de promover a mobilidade dentro da UP aos alunos de diferentes cursos e de várias zonas do país. Além disso, pretende direccionar as atenções para áreas de saberes muito distintos e complementares ao quotidiano. Com várias áreas de interesse, que se adequam à população estudantil mas também a quem pretende ver os seus conhecimentos enriquecidos, é possível encontrar uma variedade de ofertas que se multiplicam em oficinas de canto gregoriano, Workshop de História da percussão no Jazz, Tai-Chi Chuan e o Workshop de análise de ideias de investigação. É um conjunto de actividades que acontece durante o ano todo, alguns até realizam-se duas vezes por semestre, me-

diante a adesão ao workshop em causa. Os cursos facultam aos alunos, funcionários e docentes da Universidade do Porto um pequeno desconto que ronda os 10€ nos vários workshops, numa tentativa de facilitar o acesso dos membros da UP aos serviços. Segundo Ruben Rodrigues, do gabinete dos cursos livres, “existem participantes de vários pontos do país que mostram um feedback muito positivo”, fruto também de um investimento efectuado pela Universidade em equipamentos, nomeadamente em máquinas digitais para assim proporcionar um melhor serviço aos formandos. O responsável refere que “os cursos com mais sucesso são os de escrita criativa, a dança do ventre e os cursos ligados à área da fotografia”. Os workshops contam com formadores externos e alguns em parceria com a Civilização Editora. As propostas são apresentadas ao gabinete dos cursos livres que são analisadas tendo em conta o conteúdo programático, o custo e o próprio formador. Estas são avaliadas e sujeitas a uma aprovação por parte de Manuel Janeiro, o Reitor da Cultura e Lazer, que faz questão de ter uma palavra final em relação às propostas apresentadas.

O JUP Errou Na peça intitulada “E depois da Festa, há vida no Porto?” (Ed. NOV. pág. 2 e 3) o autor é José Miranda. Na peça intitulada “Oito Selecções já confirmaram presença” ( Ed. NOV, pág. 21) a foto devia ter sido credita a “GADUP - Nuno Gonçalves”. Na peça intitulada “Escravos do Preconceito”(Ed. NOV. pág. 26) o autor da foto é Pedro Ferreira. Aos visados, as nossas desculpas.


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Susana Almeida

Alunos preparam o projecto em conjunto

Autismo: apenas mais uma maneira de ser normal Viver com autismo significa conviver com condicionantes cognitivas e emocionais. Contudo, tal condição não implica a separação nas vivências e nos afectos.

Desenvolver competências que possibilitem a abertura à sociedade, com todas as dificuldades e impedimentos, mas sobretudo a procura da aceitação e um tratamento não diferenciado socialmente: estes são os baluartes de um projecto diferente que tentou mudar o modo como a sociedade vê o autismo. No decorrer de um habitual conselho de turma surgiu a ideia de envolvimento com o autismo e a procura de novas soluções para interagir com jovens autistas. O desafio foi aceite por duas professoras que agarraram o projecto de corpo e alma. Assim, no âmbito da disciplina de Área de Projecto, o Externato Pedro Nunes (em Vila Nova de Gaia) estabeleceu um protocolo com a APPDA Norte (Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo). O projecto consistiu na transformação de um dos contos do livro “Contos Soltos”, escrito por André Vilaça, num texto dramático para ser representado por todos em Maio. De Janeiro a Maio de 2009 os alunos


Susana Almeida

Nem sempre é fácil estabelecer comunicação com as crianças autistas. Conseguir, de facto, fazê-lo, é para a terapeuta da fala uma grande conquista pela qual vale a pena lutar. Professora Lígia Santos acompanha a turma, tendo a vista a concretizaçao do projecto final Susana Almeida

Ensaios da peça representada pelos alunos.

da APPDA mantiveram contacto com os alunos de 12º ano de Área de Projecto, no Externato. Participaram em diversas actividades, como pintar, colar, recortar e principalmente conversar. O objectivo era sobretudo “sensibilizar a sociedade sobre o autismo e trabalhar a interacção, sem ser de uma forma preconceituosa”, salienta Lígia Santos, professora do Externato e responsável pela disciplina de Área de Projecto. O resultado prático do processo em Maio foi de extrema importância para o grupo, pois os participantes ficaram orgulhosos de si próprios, o que aumentou a sua motivação para novos desafios. Lígia Santos exalta tal momento, descrevendo-o como “algo de indescritível, porque ultrapassou tudo aquilo que qualquer um de nós pensava ser capaz de fazer”. Natália Correia é professora do Externato Pedro Nunes e colaboradora na área da Educação Física da APPDA. Esta “dupla-personalidade” como a própria assume, tornoua no elo de ligação entre as duas

instituições. A professora percebeu desde cedo o potencial do projecto, já que “uma parceria entre as duas instituições traria benefícios óbvios para todos os intervenientes”. Natália realça a importância do projecto para os seus alunos no Externato: “penso que este projecto os fez crescer como pessoas, passaram a perceber que ser “normal” é só mais uma maneira de ser, entre tantas outras”.

O Autismo visto por dentro Inês Freitas é terapeuta da fala e trabalha directamente com crianças autistas, o que considera uma actividade de “grande emoção e expectativa constante, já que ainda há muito o que descobrir sobre o autismo, o que torna o nosso trabalho ainda mais fascinante”. Tal implica “muita dedicação e calma, respeito e muita força de vontade, não apenas por parte dos terapeutas e, claro está, das próprias crianças”. Fernanda (nome fictício), mãe de uma dessas crianças aponta os problemas que constatava antes do contacto com

A evolução no autismo é feita sem ânsia de resultados imediatos, pois não vale a pena exigir a estas crianças o que nem sempre podem dar. a terapeuta: “O meu filho não me olhava nos olhos, chorava quando lhe pegávamos ao colo, não respondia quando o chamávamos e não dizia uma única palavra. Ele foi para a terapia com cerca de um ano e meio”. Agora com seis anos, as diferenças são evidentes: “o seu desenvolvimento está a ser notório e nós como pais estamos muito satisfeitos com a sua evolução”. Por outro lado, Marta Colim, auxiliar de acção directa da APPDANorte é quem acompanha os jovens (sobretudo durante o período nocturno) que estão institucionalizados e realça a existência de um carácter especial de quem tem autismo porque “não são doentes fáceis, não gostam que se quebrem as rotinas. Facilmente tornam-se obsessivos com algumas das actividades que realizamos”. Inês Freitas concorda com esta especificidade, já que “cada caso é um caso e para cada criança, uma história de vida diferente”, por isso põe em prática um plano terapêutico muito direccionado, pensado para cada criança individualmente. Contudo, nem sempre é fácil estabelecer comunicação com as crianças autistas. Conseguir, de facto, fazê-lo, é para a terapeuta da fala uma grande conquista pela qual vale a pena lutar. Não obstante, a imprevisibilidade nas suas atitudes pode levar a situações de exigente controlo. Marta Colim conta que apesar de estes jovens serem muito medicados, as crises são frequentes e, por vezes,

muito surpreendentes, “já fui agredida por alguns deles durante estas crises”. A responsável justifica os actos mais violentos devido às fortes dores que sentem, mas que, devido ao seu défice de comunicação não conseguem transmitir, reflectindo “um sofrimento retraído e que eles não conseguem explicar devidamente”. Por outro lado, a agressão nem sempre é externa, resultando em auto-agressões que por vezes chegam a provocar a cegueira, já que ferem os olhos constantemente. Pais e técnicos sentem-se impotentes perante esta situação. “Esta é talvez uma das maiores dificuldades no meu trabalho diário, porque não sei como ajudá-los. É frustrante”, lamenta a auxiliar. A evolução no autismo é feita sem ânsia de resultados imediatos, pois não vale a pena exigir a estas crianças o que nem sempre podem dar. Inês Freitas valoriza esta gradação no desenvolvimento, mesmo que seja sentida em pequenos momentos de contacto, “qualquer evolução é significativa e irá ajudá-las a integrarem-se na sociedade”. A importância de uma aposta no desenvolvimento logo nos primeiros anos de vida é essencial para que os resultados sejam mais visíveis e permanentes. Tal implica um auxílio dos técnicos de saúde e de educação em geral de modo a que “mais potencialidades sejam dadas à criança para que esta se possa desenvolver da melhor maneira possível e envolver-se na sociedade”, ressalta Inês Freitas. Mas a pouca capacidade para comunicar e o atraso no desenvolvimento cognitivo não significam necessariamente a completa apatia destes jovens perante a sociedade e o processo de aprendizagem. Marta Colim conclui que estas crianças “são muito inteligentes. Ensinam-nos coisas só com o olhar ou sorriso, pedem beijos. Ninguém pense que um autista é burro, pelo contrário”. A responsável não esquece também a discriminação que por vezes observa em relação aos jovens autistas que acompanha, “durante as saídas que fazemos as pessoas olham muito para eles e também para nós. Olham com desagrado e isso irrita-me profundamente”. Minimizar esta sensação de diferença na sociedade era também um dos objectivos que este projecto con-

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Definição O Autismo é uma perturbação do desenvolvimento global da criança, caracterizada pela presença simultânea de uma tríade de perturbações (tríade de Wing). Revela-se nas dificuldades na interacção social e a nível da comunicação, dificuldade no jogo simbólico (em brincar, jogar ou imaginar) e na aprendizagem. “Alguns são muito afectivos, embora alguns evitam o toque, o que acaba por ser o mais comum”, explica Marta Colim. Podem apresentar estereotipias (movimentos repetitivos) e doenças relacionadas como a epilepsia, a esquizofrenia, a hiperactividade e o síndrome de Asperger (distingue-se do autismo clássico por não influenciar negativamente no desenvolvimento cognitivo ou da linguagem do indivíduo, verificando-se essencialmente um défice na capacidade comunicação) – este é o caso do de André Vilaça. O Autismo manifesta-se precocemente e é mais frequente no sexo masculino. Aliás, a relação homem mulher é de 4 para 1. Na maioria dos casos é possível estabelecer um diagnóstico entre os 18 e os 36 meses. A doença passa por diferentes graus: o completamente autónomo em que as perturbações não são tão fortes, o moderado e o profundo que requer cuidados especiais e muito específicos. A origem do autismo ainda está por esclarecer mas admite-se que o Defeito Básico seja provocado por uma disfunção cerebral, seja ele definido a nível neurosifisiológico, neuro-patológico ou psicológico.

templava. E segundo Lígia Santos, tais objectivos não podiam ter tido resultados mais favoráveis: “Sem presunção, penso que, mesmo pelas opiniões auscultadas no fim, os anseios iniciais foram largamente preenchidos, levando-me ao espanto. Nenhum dos envolvidos continuou a mesma pessoa”. Tatiana Henriques tatehenriques@gmail.com


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publicidade

Gripe A: prevenção ou alarmismo? Divulgação em torno da propagação do virus H1N1 veio reforçar medidas de higiene e prevenção. A pandemia da gripe está aí e já chegou à Academia do Porto. São muitos os cartazes espalhados pelas faculdades que alertam para a lavagem das mãos e outras medidas preventivas. Mas até que ponto isso não passa de alarmismo? O vírus da Gripe A (H1N1) é mais um dos subtipos do grupo Influenza, responsável pela gripe comum. A natureza desse vírus permite-lhe mutações, isto é, formar novos subtipos num determinado período. Acontece que a mutação e a transmissão do H1N1 ocorre com maior rapidez e facilidade do que a de vírus anteriores. São essas as características que têm preocupado a comunidade médica. Por isso, torna-se necessário redobrar os cuidados tão publicitados. Mas é preciso ter atenção, pois não há motivos para alarmismos. A gripe é uma das doenças que anualmente atinge milhões de pessoas, vitimando entre os 250 e 500 mil, um número muito superior ao actualmente verificado para a Gripe A. Segundo as médicas Elsa Calado, do serviço de Microbiologia, e Madalena Alves, do serviço de Cuidados Intensivos, ambas do Hospital Santo António, o mediatismo a que se assiste é exagerado, alcançando as camadas mais jovens, entre os 20 e os 40 anos. As especialistas constataram que, ao menos, as reverberações mediáticas auxiliaram que a prática clínica da frequente lavagem das mãos tenha saído do meio hospitalar para se alargar a toda a comunidade. A verdade é que a divulgação

manuel ribeiro

Em todos os corredores, gel desinfectante para as mão e instruções de prevenção.

A verdade é que a divulgação de medidas preventivas ajudou os mais descuidados.

de medidas preventivas ajudou os mais descuidados e reforçou os comportamentos de higiene. O importante é que essas práticas permaneçam com ou sem a Gripe A. Diogo Carneiro, Filipa Pedrosa, Maria João Silva, Nuno Fonseca e Paola Botelho.


JUPBOX

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Mariana Sobral/ arquivo jup

O que significa para ti esta imagem? Mónica Silva lcinf08050@letras.up.pt

Carla Vilela Auxiliar Administrativa

Paulo Nunes Economista

Helena Lourenço Estudante (secundário)

Vítor Miguel Trabalhador/Estudante

Gostava mais quando tinha o jardim, era mais bonito! Agora baseia-se em “cimento”, basicamente dava mais despesa ter jardim. Para os eventos é sempre mais prático assim!

Isto é um nojo! A construção do metro do Porto não pressupunha que se tinha de acabar com o jardim tão bonito que havia na superfície para construir pedra sobre pedra.

Era mais bonito assim, dava um ar mais saudável á cidade. No Porto a maior parte das pessoas vive em apartamentos e este espaço era bonito e acolhedor para descontrair e estudar!

Neste momento a arquitectura acaba por ser menos bonita, no entanto, o espaço foi melhor aproveitado.


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AGENDA A partir de 12 de Dezembro

17 de Dezembro e 14 de Janeiro

Galeria dos Leões – Reitoria da U.Porto Espaço privilegiado de exposição e de realização de iniciativas dos estudantes e docentes da FBAUP. Segunda a Sexta das 10h às 19h, Entrada Livre.

Diálogos com a Ciência A criação de diálogos entre vários campos do saber é o principal objectivo desta iniciativa que conta sempre com vários especialistas das áreas debatidas. CIÊNCIA E ESOTERISMO 17 Dezembro 2009 - 21h30 Maria Flávia de Monsaraz, Luís Resina e Estela Guedes CIÊNCIA E CIDADANIA 14 Janeiro 2010 - 21h30 Fernando Nobre, Adriano Moreira e Rui Marrana. Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto. Entrada Livre.

14 de Dezembro Sessão de Esclarecimento para programa Erasmus Estudantes da U.Porto que pretendam saber como se candidatar ao programa no próximo ano lectivo. 14h30, Salão Nobre da Reitoria (Praça Gomes Teixeira) Entrada Livre

Loja U.Porto Numa altura em que o Natal se anuncia em grande estilo nas montras das lojas, existem presentes habituais e com lugar garantido numa qualquer lista de compras. Mas, e se a esses mesmos presentes lhe acrescentares um toque diferente, capaz de fazer de cada prenda algo único e especial para quem as recebe? Pois bem, é isso que podes encontrar em plena Baixa do Porto, na exclusiva Loja da Universidade do Porto. A Loja da U.Porto tem conquistado a atenção de toda a comunidade académica e do público em geral que por ali passa. Tudo isto através de uma vasta gama de peças exclusivas e autenticadas com o selo de qualidade Universidade do Porto. E porque numa lista de presentes são muitos os gostos a satisfazer, a oferta da Loja foi pensada para ir de encontro a todas as idades e preços. Assim, para os amantes da moda, a proposta passa por bolsas de todas as cores ou por um conjunto de relógios para homem e mulher. Já quem estiver a equipar a casa, pode optar por adquirir um

serviço de café, para logo pensar na decoração, a qual poderá enriquecer com velas de vários feitios. Entre artigos de papelaria e escritório há ainda espaço para o entretenimento, garantido por um jogo de xadrez cinzento e lilás, um xilofone em forma de “arco-íris” ou por um mikado que promete fazer as delícias dos mais novos. A partir de 12 de Dezembro, será também possível visitar a Galeria dos Leões, espaço concebido pelo arquitecto Manuel Reis numa sala situada no prolongamento da Loja da U.Porto. A Galeria vai procurar ser um espaço privilegiado de exposição e de realização de iniciativas dos estudantes e docentes da FBAUP. Apresenta-se assim uma alternativa válida a todos que, em plena Baixa do Porto, quiserem conhecer os talentos gerados na escola que deu a conhecer ao mundo nomes como Henrique Pousão ou Soares dos Reis. Loja U.Porto Horário de Funcionamento 10h – 19h www.loja.up.pt

“Charles Darwin (1809-2009) Evolução e Biodiversidade” Última oportunidade para viajar pelo legado do cientista inglês e assinalar, assim, o bicentenário do nascimento do cientista. Reitoria da U.Porto 10h às 19h. Entrada livre.

Até 7 de Janeiro EXPOSIÇÃO - DIÁRIO DE UM ESTUDANTE DE BELAS ARTES HENRIQUE POUSÃO (1859 - 1884) Museu Nacional de Soares dos Reis Horário - Terça-feira, das 14h às 18h; de quarta-feira a domingo das 10h às 18h Comissária: Lúcia Matos, professora da Faculdade de Belas Artes da U.Porto.

18 de Dezembro

7 e 8 de Janeiro

I Workshop em Botânica Forense A (FMUP) e a Delegação do Norte do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML) organizam a iniciativa. Inscrição: 30 euros (até 11/12/2009 na Divisão Académica da FMUP). A realizar-se na Delegação do Norte do Instituto Nacional de Medicina Legal sita no Jardim Carrilho Videira, 4050-167 Porto. 8h45 e as 18 h.

Palestra: “Recent research on dynamic effects on railway infrastructure” Palestra de José Maria Goicolea, da Universidade Politécnica de Madrid. 15horas. Sala Nobre do Departamento de Engenharia Civil, G130, FEUP. Entrada Livre. Contactos: Ana Martins - Tel: 220408193 E-mail: anamartins@reit. up.pt;rrodrigues@reit.up.pt

16 de Dezembro

19 de Dezembro

Conferência: “Controlo de Qualidade dos Alimentos” Conferência com três palestras. Entrada Livre com Inscrição Obrigatória. No site: http://sigarra.up.pt/ffup/ noticias_geral.ver_noticia

VII Workshop de Dança Contemporânea da U.Porto Local da inscrição: Gabinete de Cultura, Desporto e Lazer da Reitoria da Universidade do Porto Local do Workshop: Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Horário: 10h às 13h e das 14h30 às 17h Preços: 15€ UP | 25€ fora UP Inscrições até 16 de Dezembro , limitadas a 25 participantes – Ana Martins: anamartins@reit.up.pt ou Ruben Rodrigues: rrodrigues@reit. up.pt; Tlf. 220408193

Workshop e-learning U.PORTO Nos próximos dias 7 e 8 de Janeiro terá lugar, no Anfiteatro Nobre da Faculdade de Letras do Porto o Workshop de e-learning, destinado aos estudantes da Universidade do Porto. O Workshop de e-learning tem como objectivos dinamizar a utilização da NTE, criar uma comunidade académica com interesses comuns, fomentar a utilização dos recursos electrónicos - Internet - no processo de Ensino e Aprendizagem e avaliar o interesse do e-learning na melhoria da qualidade do ensino. Para te inscreveres basta preencheres um formulário on-line no site do e-learning na U.Porto. Entrada Livre.

17 a 19 de Dezembro Workshop de edição em Xilogravura japonesa com Hiroshi Maruyama Taxa de inscrição: 95 euros Comunidade em Geral: 140 euros 17 Dez. 14h - 20h 18 Dez. 9h - 13h / 14h - 20h. (Presença de Mr. Maruyama da parte da tarde). 19 Dez. 9h00 - 13h00 Contactos Prof. Graciela Machado mgmachado@fba.up.pt; Prof Paulo Luís de Almeida palmeida@fba.up.pt Organização e Local: MDTI, mestrado em Desenho e Técnicas de Impressão FBAUP, oficina de técnicas de impressão . Av. Rodrigues de Freitas 265 4049-021 Porto PORTUGAL

Até 31 de Dezembro Natal N’ Uporto – Ateliers de Natal A Universidade do Porto vai organizar de 21 a 30 de Dezembro de 2009, actividades de carácter artístico, lúdico e criativo , orientadas para crianças dos 5 aos 10 anos. O objectivo desta acção é ocupar os tempos livres das crianças durante as férias do Natal, aproximando-os das artes plásticas, do desenho, da expressão musical e da expressão dramática.

Até Março 2010

NOMADIC.0910 – Encontros entre Arte e Ciência Projecto Artístico/Instalação “OPITÓI-RAC” Faculdade de Farmácia. Átrio. Elsa Bronze da Rocha, Faculdade de Farmácia, convidou Acácio de Carvalho e Manuela Bronze, artistas plásticos, a reflectirem sobre o conceito de cariótipo humano e utilizarem-no como ponto de partida para a criação de um projecto artístico. Entrada Livre. Mais informação em: http://nomadic.up.pt


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UPorto

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breves

Universidade do Porto mais internacional A Universidade do Porto recebeu mais estudantes e investigadores estrangeiros em 2008/09 do que em qualquer outro ano da sua história: 2500 estudantes e investigadores de todo o mundo. Este valor traduz um aumento de 7,4% em relação ao registado em 2007/2008 e representa já 8,3% do total de estudantes da UP. Em 2008/2009, foi possível encontrar entre as salas de aula e os laboratórios da Universidade cidadãos de 77 países diferentes, como Bangladesh, Congo, Índia ou Tai-

Os grupos de voluntariado existentes na UP deram-se a conhecer publicamente

Voluntariado na academia U.Porto apresentou o seu mais recente grupo de trabalho: a Comissão de Voluntariado da U.Porto Na véspera do último Dia Internacional do Voluntariado, celebrado a 5 de Dezembro, a Universidade do Porto apresentou publicamente a Comissão de Voluntariado da U.Porto, estrutura que pretende reunir e coordenar num mesmo espaço todos os projectos de voluntariado da Universidade, promovendo simultaneamente uma maior participação de estudantes, docentes e funcionários nos esforços de apoio à comunidade. De facto, a Universidade do Porto está empenhada em contribuir para o desenvolvimento social da comunidade em que se insere, estimulando entre a academia uma maior cultura da participação, através da prática do voluntariado entendida enquanto expressão cívica e de cidadania corporizada em iniciativas que vão desde o desenvolvimento

de processos de inovação até ao suporte e execução de programas. Neste momento, existem já cerca de 10 iniciativas organizadas de voluntariado na Universidade do Porto, dividindo-se pelas várias faculdades da U.Porto e por acções tão díspares como o apoio tutorial a alunos do Ensino Básico e Secundário ou a estudantes universitários estrangeiros e o desenvolvimento de acções de assistência humanitária. A Universidade pretende agora recolher e organizar a experiência adquirida destes grupos autónomos para criar uma estrutura, a Comissão de Voluntariado da U.Porto, capaz de organizar e expandir por toda a academia este espírito de missão.O primeiro passo neste sentido foi dado no dia 4 de Dezembro último, com a realização do I Encontro do Voluntaria-

do da Universidade. No Salão Nobre da Reitoria reuniram-se, pela primeira vez no mesmo local, as várias estruturas de estudantes voluntários já existentes na U.Porto, entidades nacionais de apoio ao voluntariado e organizações de recepção de trabalho voluntário. Representantes do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado, de entidades empregadoras e de organizações não governamentais deram o seu testemunho quanto ao facto do voluntariado ser um apreciável factor de desenvolvimento pessoal, social e educativo no percurso de um estudante universitário. Depois, os grupos de voluntariado existentes na Universidade do Porto, deram-se a conhecer publicamente através dos seus principais responsáveis, que tiveram oportunidade de apresentar os projectos em que se encontram envolvidos. Conhecida a realidade actual, foi tempo de colocar em debate algumas propostas concretas para a promoção e o desenvolvimento do voluntariado na Universidade. Como primeira consequência desta discussão ficou a promessa da criação de uma Bolsa de Voluntários, constituída por funcionários, docentes, estudantes, aposentados e antigos alunos que desejem participar nos projectos de voluntariado organizados pela Universidade. Os interessados podem inscrever-se através do e-mail voluntariado.up@reit.up.pt.

lândia. A ascensão nos principais rankings internacionais de instituições do Ensino Superior acaba por ser o reflexo lógico de uma estratégia que, até 2011 (ano do centenário), visa fixar a U.Porto no top 100 das instituições de Ensino Superior europeias. Um objectivo que ficou mais próximo com as subidas registadas, ao longo do ano passado, nos rankings de investigação: Taiwan (140º na Europa) e Scimago (109º na Europa), e no Webometrics (40º na Europa).

Investigadora do INEB distinguida pela L´Oreal Maria José Oliveira é uma das três jovens cientistas que, este ano, recebeu as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência. A investigadora do INEB (Instituto Nacional de Engenharia Biomédica), associação da qual a U.Porto é uma das entidades fundadoras, recebeu, na Academia das Ciências de Lisboa, a Medalha de Honra e os 20 mil euros de financiamento destinados a cada uma das galardoadas. A investigadora viu assim reconhecida a qualidade e a pertinência

científica do seu actual projecto sobre o cancro, desenvolvido em parceria com o IPATIMUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da U.Porto) e o IBMC (Instituto de Biologia Molecular e Celular). Maria José Oliveira doutorou-se em Ciências Médicas na Universidade de Ghent, na Bélgica, em 2004, e é hoje professora afiliada da Faculdade de Medicina da U.Porto, actividade que desenvolve em paralelo com o seu trabalho no Departamento de Engenharia Biomédica do INEB.

Ganha prémios por ajudar a criar um mundo melhor A maior competição internacional de tecnologia destinada a estudantes do ensino superior passou pela Universidade do Porto no início de Dezembro. A Microsoft levou até ao E-learning Café da U.Porto o seu roadshow de apresentação da “Imagine Cup 2010”. Dividido em três categorias - Design de Software, Desenvolvimento de Jogos e Artes Digitais - a “Imagine Cup” desafia equipas de 4 estudantes a Cria um projecto inovador onde a tecnologia ajuda a resolver

os problemas mais graves da humanidade (definidos pelos 8 Objectivos do Milénio da ONU). Todos os projectos serão analisados e os mais exequíveis serão financiados e postos em prática. Os vencedores da final nacional irão representar Portugal na final mundial a realizar-se na Polónia. Aí, vão habilitar-se a ganhar até 25.000 Euros e muitos outros prémios. Todas as informações sobre a “Imagine Cup” estão disponíveis em www.microsoft.pt/imaginecup.


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“HOPENHAGEN” : Provirá “esperança” de Copenhaga? A conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a decorrer em Copenhaga, vai na 15ª edição e será aquela que muitos designam como “a derradeira oportunidade para salvar o planeta”. O mundo aguarda por um “tratado justo, ambicioso e vinculante”. O 12 de Dezembro de 2009 fica assinalado pelas inúmeras acções de manifestação marcadas a nível planetário através da organização “Avaaz” que significa “voz” em várias línguas. No Porto estavam previstas 3 vigílias em diferentes locais da cidade mas apenas duas tiveram alguma expressão, nos Aliados e na rotunda da Boavista. O JUP esteve lá e mostra-lhe como foi. Manuel Ribeiro - Av. dos Aliados

Igor Gonçalves - Av. dos ALiados


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Igor Gonรงalves - Av. dos ALiados

Igor Gonรงalves - Av. dos ALiados Manuel Ribeiro - boavista

Manuel Ribeiro - Av. dos Aliados

manuel ribeiro e igor gonรงalves jozeribeiro@gmail.com dimitri.igor@gmail.com


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Campeonato amador ainda arrasta adeptos

Jogos Galaico-Durienses: UP termina em 4º Mesmo com mais vitórias na competição, a UP não conseguiu atingir o pódio. Mas o mais importante foi cumprido: espírito de equipa, convívio entre atletas e muito empenho.


francisco ferreira

O cenário não dava espaço para enganos: aquela era mesmo uma competição de desporto universitário.

Classificação 1º – Universidade Santiago Compostela (39 pontos) 2º – Universidade da Corunha (37 pontos) 3º – Universidade de Vigo (30 pontos) 4º – Universidade do Porto (28 pontos) 5º – Universidade Trás-os Montes e Alto Douro (18 pontos) 6º – Universidade do Minho (15 pontos)

Resultados UP Basquetebol – 1º lugar Voleibol – 3º lugar Andebol – 3º lugar Tiro com Arco – 5º lugar Xadrez – 2º lugar Duatlo – 5º lugar Jogos Tradicionais – 5º lugar Ténis de Mesa – 4º lugar

Os Jogos Galaico-Durienses são já um dos pontos altos do Desporto Universitário do Norte de Portugal e da Galiza. Entre 24 e 26 de Novembro, seis Universidades, três do Norte de Portugal e três da Galiza, disputaram a vitória na competição, que é atribuída depois da soma dos pontos de todas as provas realizadas. Este ano, a universidade anfitriã foi a Universidade de Santiago de Compostela, na Galiza. O JUP acompanhou a comitiva da Universidade do Porto durante os três dias da competição, e viu a equipa da casa a subir ao lugar mais alto do pódio. A UP foi a melhor Universidade portuguesa, mas ficou-se pelo quarto lugar.

Rumo a Santiago A chamada começou bem cedo, pouco passava das 8 horas da manhã. A partida para a Galiza estava marcada para as 8h30, mas os hábitos portugueses falaram mais alto, e a comitiva seguiu apenas por volta das 9h. Em frente à entrada principal da FADEUP, vários amigos foram-se encontrando e cumprimentando. Alguns já se conheciam de outras provas em que representaram a UP, outros eram apenas colegas de Faculdade que repetiam a rotina do “bom dia”, e outros reencontravam amigos de outras Faculdades que já não viam há algum tempo. Ali, no átrio principal da Faculdade de Desporto,

misturavam-se os gigantes do Basquetebol com os representantes do Xadrez, as raparigas do Andebol com os rapazes do Voleibol. Sorridente, Bruno Almeida, director do Gabinete de Desporto da UP, referia que o importante destes jogos é mesmo o convívio. No entanto, não deixava de pensar na parte desportiva. Alguns dias antes do início da competição, o responsável do GADUP adiantava que o “objectivo mínimo” era o 3º lugar. Afinal, a UP é a Universidade que conta com mais vitórias nos Jogos GalaicoDurienses. Os estudantes (naqueles dias desportistas) até estão habituados a alguma pressão, já que muitos competem ao mais alto nível. Mas a ansiedade, no momento da partida, era nula. A boa-disposição e a tranquilidade reinava em quase toda a gente. Menos em Bruno Almeida, que continuava atarefado de um lado para o outro, a tentar perceber por onde andavam os atletas que ainda não tinham chegado. De facto, qualquer baixa seria um duro golpe nas aspirações da UP, já que tinha sido complicado formar todas as equipas e conseguir participantes para todas as modalidades. Alguns, como José Araújo, que ia representar a UP no duatlo (natação e corrida), tinham sido convocados no último minuto. “É uma altura complicada, a maior parte dos alunos estão numa fase de entrega e apresentação de trabalhos”, explicava Ana Carneiro, da FADEUP. “Nesta altura, quase ninguém se pode dar ao luxo de estar 3 dias longe do Porto, ainda por cima com as exigências do Processo de Bolonha”, acrescentava. Apesar destas condicionantes, foram 42 os atletas a responder à chamada da UP, e a representar a Universidade na competição. Antes de a viagem começar, ainda houve tempo para um desafio... curioso. João Costa, Campeão Nacional Universitário de Xadrez, foi desafiado a prestar provas frente aos jogadores da equipa de Basquetebol. Aliás, o desafio inicial seria para uma partida de Xadrez entre João Costa e um dos membros da equipa de Basquetebol, mas o xadrezista atirou: “jogo sozinho contra vocês todos”. A confiança era muita, portanto.

Camioneta serviu para estudar Já na camioneta, ultimam-se os preparativos para a competição. Os Galaico-Durienses têm uma particularidade interessante: todas as equipas são mistas. Cada Universidade deve ter sempre atletas masculinos e femininos em competição ao mesmo tempo, e nalgumas modalidades, as regras são um pouco diferentes. Por exemplo, no Andebol, um golo marcado por uma rapariga vale por dois. Os responsáveis de cada modalidade iam explicando as diferenças, afinando estratégias, e tratavam das questões burocráticas do costume. Enquanto isso, alguns aproveitavam as duas horas e meia de viagem para estudar. O cenário não dava espaço para enganos: aquela era mesmo uma competição de desporto universitário, e todos os presentes eram estudantes e atletas ao mesmo tempo. Estavam representadas praticamente todas as Faculdades da UP. Uma grande fatia dos participantes pertenciam à Faculdade de Desporto, mas também havia estudantes da FLUP, da FEUP, da FEP, do ICBAS ou da FMUP. Alguns minutos antes da chegada, o discurso da praxe. Bruno Almeida apelou ao empenho e esforço de todos. E agradeceu a presença dos estudantes-atletas. “Estão a prestar um serviço à Universidade do Porto”, afirmou. E fechou o discurso com toda a ambição: “Temos que tentar ganhar isto”. Para vencer, a UP tinha que ultrapassar a equipa da casa (Universidade de Santiago de Compostela), a Universidade de Vigo, a Universidade de La Corunha, a Universidade do Minho, e a Universidade dos Trás-os-Montes e Alto Douro. Missão complicada. Ao todo, eram oito as modalidades escolhidas para a edição deste ano: Andebol, Voleibol, Basket, Duatlo, Xadrez, Ténis de Mesa, Tiro com Arco e Jogos Tradicionais Galegos. A UP tinha que ser forte em todas se queria levar a medalha de ouro para o Porto.

Primeiros jogos, primeiras vitórias Depois de uma rápida visita ao confortável hotel reservado para a UP, era hora de entrar em acção. A equipa de Andebol foi a primeira a conquistar pontos

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Os estudantes até estão habituados a alguma pressão, já que muitos competem ao mais alto nível. Mas a ansiedade, no momento da partida, era nula. preciosos para a classificação final, ao bater confortavelmente a UTAD por 42-23, perante uma boa franja de apoio. As palmas, assobios e gritos ecoavam pelo Pavilhão da Universidade de Santiago de Compostela, em claro contraste com o que se ia passando nos jogos de Xadrez. Apesar de vários representantes da UP fazerem questão de ir apoiar os xadrezistas, pouco mais podiam fazer do que olhar atentamente para as peças do tabuleiro. Mas havia motivos para festejar: os portuenses safaram-se bem, e venceram o seu primeiro encontro por 3,5-0,5 (três vitórias e um empate). Um início prometedor. Ao mesmo tempo, três bravos atletas da UP tinham um primeiro contacto com os Jogos Tradicionais Galegos, certamente a modalidade mais estranha destes jogos Galaico-Durienses. Num longo relvado, os participantes ensaiavam o lançamento de um disco, que tinha que derrubar um pino, colocado a uns bons 20 metros de distância. Não havia muito tempo para ensaiar, até porque no dia seguinte, já era a doer, e contava para a classificação final. Mas nem por isso deixava de haver uma grande boa disposição, e até os que não iam participar aproveitaram para verificar o seu jeito para os jogos tradicionais. Com o tempo, todos os atletas foram apanhando o jeito, com maior ou menor dificuldade. No entanto, os galegos estavam em clara vantagem. Nos intervalos dos seus lançamentos, os representantes da UP observavam atentamente os seus adversários espanhóis, e comentavam a superioridade técnica de “nuestros hermanos” no momento de tentar derrubar o pino. Lucas da Silva, “adaptado” do Xadrez para os Jogos Tradicionais face à dificuldade em


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No fim do primeiro dia, as perspectivas eram animadoras. As modalidades entraram a ganhar, e a motivação era grande. recrutar participantes, afirmava que os Jogos Tradicionais tinham um elevado grau de dificuldade. “Estes jogos implicam muita perícia e muita técnica”, dizia, bemdisposto. No fim do primeiro dia, as perspectivas eram animadoras. As modalidades entraram a ganhar, e a motivação era grande. A equipa de Basquetebol teve que ultrapassar uma arbitragem incrivelmente tendenciosa, com más decisões a sucederem-se durante todo o encontro. O adversário? Universidade de Santiago de Compostela... Prevaleceu a garra e a superioridade dos basquetebolistas da UP, que assim ficaram bem lançados para a vitória na prova. A arbitragem dos jogos (e a fraca qualidade das mesmas) acabaram por manchar uma competição animada e com um grande espírito de convívio.

Voleibol e Andebol afastados da final O segundo dia foi um dia de contrastes. Se por um lado a UP festejou os bons resultados no Basquetebol e no Xadrez, os resultados das selecções de Andebol e Voleibol souberam a pouco. Logo a abrir o dia, os basquetebolistas portuenses cumpriram as expectativas, e confirmaram a presença na final da competição. No entanto, as formações de Andebol e Voleibol perderam os seus jogos e acabaram afastadas da Final das respectivas provas. Sobrava a luta pelo 3º e 4º lugar. No duatlo, o cenário também não foi o melhor, mas as expectativas também não eram elevadas, já que os três atletas que representaram a UP eram “adaptações” à modalidade. O azar também bateu à porta de Ana Carneiro, que não conseguiu terminar os 1000 metros de natação devido a problemas físicos. Enquanto os homens do duatlo se davam as braçadas na piscina de Santiago de Compos-

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igor gonçalves

Universidade de Vigo conquistou a 1ª posição no Xadrez derrotando a UP no jogo final

tela, a equipa de Ténis de Mesa entrava em acção. A UP até entrou bem na prova masculina e feminina, mas acabou por ceder perante a superioridade dos espanhóis. No entanto, os portuenses conseguiram qualificar-se para a disputa do 3º e 4º lugar, que se disputava na manhã seguinte. Interessante foi a participação da UP no Tiro com Arco. Perante a indisponibilidade de atletas, foi mesmo Bruno Almeida, do GADUP, e uma atleta do Voleibol a assegurar a presença na modalidade. Apesar da inexperiência, a UP até conseguiu fugir ao último posto, e acabou em 5º. Na mesma posição ficaram os atletas dos Jogos Tradicionais, que lutaram contra a falta de prática nas modalidades. As provas foram marcadas por muitas gargalhadas, e o objectivo principal estava cumprido: a UP não ficou em último. Apesar da sucessão de provas, os atletas não acusavam grande cansaço. O apoio e o espírito de equipa continuavam, o que ajudou a UP a assegurar a 3ª posição na prova de Voleibol e no Andebol. O jogo de atribuição do 3º e 4º lugar na prova de Andebol foi um bom exemplo do espírito que se pretende criar nesta competição: fair-play entre todos os jogadores, animação nas bancadas e boa disposição durante o jogo.

“Até para o ano!” No último dia de competição, muitas modalidades já estavam decididas. No entanto, a UP tinha a oportunidade de conquistar o primeiro lugar no Basquetebol e no Xadrez. A expectativa era grande, até porque a Universidade do Porto ainda não tinha assegurado nenhuma primeira posição nesta edição dos Galaico-Durienses. E os basquetebolistas não desiludiram, e conseguiram bater a Universidade de Santiago de Compostela, e conquistaram o único primeiro lugar para a UP em Santiago. Por outro lado, o Xadrez acabou por não conseguir dar seguimento

Os jogadores de Basket da UP eram os mais satisfeitos, mas no geral, o sentimento era de missão cumprida.


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aos resultados anteriores, e terminou a competição na 2ª posição, depois de não conseguir vencer a Universidade de Vigo. João Costa, xadrezista da UP, lamentou a 2ª posição, e afirmou que a UP tinha “condições para vencer”, até porque a UP contava com 3 Campeões Nacionais Universitários. Feitas as contas, e depois de o Duatlo terminar em 5º e o Ténis de Mesa em 4º, tornava-se óbvio que a UP acabaria em 3º ou 4º lugar. No momento do anúncio dos resultados finais, o pior cenário confirmou-se: os portuenses ficavam fora do pódio, atrás das três Universidades da Galiza. Por uma unha negra, diga-se, já que foram apenas dois pontos a separar a UP da Universidade de Vigo, 3ª classificada. No regresso a casa, depois de um almoço cheio de convívio entre todos os participantes, e depois da despedida de alguns amigos que foram aparecendo na competição, era altura de balanços. Bruno Almeida rejeitava a opinião de que a UP tinha ficado muito abaixo das expectativas. “Apesar de tudo, fomos a melhor Universidade portuguesa, o que é bom”, começou por dizer o responsável do GADUP. Bruno Almeida sublinhou ainda que havia equipas “bastante mais fortes”, mas disse que o objectivo principal foi atingido. “Não ficámos em 3º lugar por muito pouco. Mas o importante era o convívio entre todos os elementos da UP e a interacção com as outras Universidades, e isso foi conseguido. Além disso, foi uma oportunidade para experimentarmos outras coisas, como os Jogos Tradicionais, e foi muito divertido”, afirmou. Já José Araújo, do Duatlo, destacou o “espírito de sacríficio” que todos os atletas tiveram, já que alguns até competiram em mais que uma modalidade. Os jogadores de Basket da UP eram os mais satisfeitos, mas no geral, o sentimento era de missão cumprida. Afinal, a UP não ficou na última posição em nenhuma modalidade (apesar de muitos improvisos). A despedida ficou novamente a cargo de Bruno Almeida, que não podia ser mais claro: “obrigado por terem vindo representar a UP, espero que tenham gostado. Até para o ano!”. Para o ano, nas instalações da UTAD, há mais Galaico-Durienses.

As mais versáteis francisco ferreira

Élia Cipriano (Voleibol) e Inês Caldeira (Basket) foram chamadas à última hora para o Ténis de Mesa e para os Jogos Tradicionais. E cumpriram. Um popular site escreveu há algum tempo que a palavra “desenrascar” é a que mais falta faz ao vocabulário inglês. E escreveu-se que esta característica era típica dos portugueses, que eram os maiores especialistas nesta arte de improvisar no último segundo. A UP, nos jogos Galaico Durienses, não fugiu à regra cultural. Inicialmente, Élia Cipriano e Inês Caldeira estavam convocadas apenas para a selecção de Voleibol e de Basquetebol da UP. No entanto, a falta de atletas obrigaram as duas desportistas a assumir a sua versatilidade, e acabaram por dar

Élia Cipriano preenchou a vaga no Ténis de Mesa feminino

uma ajuda no Ténis de Mesa e nos Jogos Tradicionais. Élia Cipriano, estudante de Medicina no ICBAS, jogou Voleibol no Boavista, e foi chamada para representar a selecção de Voleibol. Mas, no autocarro, os responsáveis pediram-lhe que também marcasse presença no Ténis de Mesa. “Alguém tinha que ir jogar, e não havia mais ninguém... Lá fui eu!”. A futura médica nunca foi federada,

nem se considera uma boa jogadora de ténis de mesa. No entanto, venceu mesmo o seu 2º jogo. “A outra jogadora era muito fraca”, brincou a atleta da UP. A equipa de Ténis de Mesa acabou a competição no 4º lugar, também graças à ajuda da jogadora de voleibol. “Se for para ajudar, eu jogo”, concluiu a estudante madeirense. Já Inês Caldeira, da FEUP, tinha tudo preparado para representar

O segredo foi espírito de equipa A equipa de Basquetebol foi a única a acabar a competição no primeiro lugar.

De todas as 8 modalidades em competição, a UP só conseguiu conquistar a primeira posição no basquetebol. Os jogadores tiveram que superar a equipa de Santiago de Compostela por duas vezes, uma delas na final, e conseguiram sempre levar a melhor. Américo Santos, treinador da equipa de Basket da Uni-

versidade do Porto, mostrou-se satisfeito com os resultados alcançados na competição. “A equipa estava forte, estava bem, e sabíamos que tínhamos equipa para ganhar a competição”. Foi isso que o treinador tentou sempre incutir nos jogadores: já no fim do primeiro jogo, Américo Santos tinha referido ao JUP

a selecção de Basket da UP. Devido à indisponibilidade de outra atleta, acabou por representar a Universidade nos Jogos Tradicionais. “Foi uma experiência nova, e até foi engraçado”, revelou a estudante de Engenharia Civil. No Basket, Inês Caldeira comemorou o 1º lugar, mas nos Jogos Tradicionais, a UP ficou-se pelo 5º posto. “Apesar de tudo, foi positivo”, afirmou a basquetebolista.

que o objectivo era ficar na primeira posição. O técnico afirmou ainda que a vitória na final, apesar de escassa, acabou por ser fácil. “A equipa estava muito motivada, e o resultado surgiu naturalmente”. Mas o responsável pela equipa de Basquetebol da UP destacou que o espírito de equipa e o convívio entre todos os elementos da equipa foram os segredos para a vitória da equipa portuense. “Houve sempre um grande espírito na equipa, e isso foi mesmo o mais importante na competição”, rematou o técnico. francisco ferreira fd.francisco@gmail.com


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A Cidade das Galerias As artes plásticas reclamam cada vez mais território na cidade. De uma ponta a outra, galerias, museus, cooperativas formam um Porto que respira cultura. O JUP foi apanhar o ar fresco da arte. Sem o espaço das galerias consideradas comerciais, muito dos artistas contemporâneos não teriam a projecção e a visibilidade de que hoje gozam. A transformação da Rua Miguel Bombarda em zona pedonal e o patrocínio dado durante dois anos às galerias da zona pela The Famous Grouse veio renovar a ideia de que esta artéria da cidade constitui um grande museu, onde a cada inauguração simultânea se juntam várias dezenas de pessoas, tornando este acontecimento num marco para a cidade do Porto. No entanto, a par deste grande centro cultural, existem não só dezenas de outras galerias espalhadas pela cidade como também bastantes organizações sem fins lucrativos que utilizam as suas sedes para expor artistas das mais variadas áreas. Em conversa com Joana Gomes, representante da galeria Fernando Santos, a diferenciação entre estes espaços “alternativos” e uma galeria deve-se ao trabalho relacionado com o artista: “O nosso trabalho em relação aos artistas é muito mais do que uma exposição, que é a parte mais visível e acessível ao público. Depois, há toda a parte de bastidores, que na maior parte das vezes é a mais importante, no sentido em que a colocação de um artista num mu-

seu, numa fundação, a promoção do artista a todos os níveis é a parte que a galeria faz e que não está visível ao público.” O apoio da The Famous Grouse veio trazer um novo público à “rua das galerias”. “Não sei se criou novos públicos para a arte. Criou uma publicidade à rua Miguel Bombarda. Hoje em dia, se calhar já imensa gente viu uma peça do Pedro Cabrita Reis. Por outro lado, em termos práticos, de consistência, tenho dúvidas de que as galerias tenham ganho alguma coisa. Há muita gente a visitar as galerias, mas, na maioria dos casos, duvido que as pessoas saiam com mais informação do que com aquela que entraram” explica Joana Gomes. Será que toda esta atenção dada a Miguel Bombarda pelo público será apenas uma moda ou será algo permanente? “Moda é. O futuro da baixa é muito imprevisível. Mas há uma coisa que se mantém desde os finais dos anos 90 no território artístico: os espaços independentes tanto aparecem como desaparecem, mas há sempre algo a acontecer, e parece-me que essa vontade das pessoas mostrarem o que fazem não esmorece tão rapidamente como uma moda” sugere José Almeida Pereira, artista em exposição na galeria Fernando Santos. Num circuito alternativo ao conhecido quarteirão, e muitas

vezes com conceitos diferentes, existem diversos espaços. Galerias como a Dama Aflita, na Rua da Picaria, a MCO Arte Contemporânea, na Rua Duque de Palmela, Vera Lúcia, na Avenida da Boavista, Galeria Cordeiros, na Rua António Cardoso, e tantas outras de não somenos importância, fazem parte de um circuito complementar a Miguel Bombarda. Outro centro artístico importante da cidade é a galeria da Cooperativa Árvore. Cooperativa de actividades artísticas, sediada desde 1963 na Rua Azevedo de Albuquerque e responsável por grande parte da renovação cultural do Porto, que incorpora entre os seus fundadores o escultor José Rodrigues, figura proeminente das artes a nível nacional e reconhecido internacionalmente. No panorama artístico da cidade, não podemos deixar de referir a importância da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto “cujas boas relações existentes com as principais galerias do Porto permitem a colaboração destas na divulgação dos jovens artistas que terminam aí os seus estudos”. Foram vários os artistas que adquiriram formação nesta secular instituição: Vieira Portuense, Dordio Gomes, Júlio Resende, Barata-Feyo, Silva Porto, Henrique Pousão, Fernando Lanhas, Júlio Pomar, entre outros.

Existem não só dezenas de outras galerias espalhadas pela cidade como também bastantes organizações sem fins lucrativos.

Já mais recentemente edificado, o Palácio das Artes – Fábrica dos Talentos, inaugurado a 11 de Dezembro deste ano, irá tornar-se num “centro de criatividade e inovação de excelência nacional e internacional”. Este novo pólo, que certamente dinamizará a zona da baixa e colaborará activamente na dinamização do Centro Histórico, terá uma importante função na


Cultura

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pedro Ferreira

Os pioneiros de Miguel Bombarda Inaugurada em 1993, a galeria Fernando Santos foi a primeira a abrir portas naquilo que hoje conhecemos como o quarteirão Miguel Bombarda. Nos seus quase dezassete anos de existência, já acolheu nomes tão interessantes como Antoni Tàpies, Pedro Cabrita Reis ou Rui Sanches, entre muitos outros. “Uma galeria é um projecto comercial, mas mais do que um projecto comercial, é pedagógico e cultural”, diz Fernando Santos.

transição dos artistas entre os estabelecimentos de ensino, a vida prática e o mundo profissional, já que irá proporcionar meios para o desenvolvimento de projectos de inserção do artista no meio cultural, quer pela mostra de trabalhos quer pelo enriquecimento cultural decorrente do contacto com artistas consagrados ou comissários de exposições.

“...parece-me que essa vontade das pessoas mostrarem o que fazem não esmorece tão rapidamente como uma moda”

Apesar deste panorama cultural tão rico, João Fernandes, director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, afirma que no Porto existe “ um paradoxo, com instituições de referência por um lado e, por outro, artistas votados ao abandono”. Não são só os artistas que sofrem este abandono. Lugares e espaços outrora importantes têm lentamente desapare-

cido. Os conhecidos Ateliers da Lada, onde proeminentes figuras nacionais leccionaram workshops e onde decorreram ciclos de cinema e espectáculos musicais, foi votado ao abandono. Será que a cidade tem capacidade para lidar com tantos e diversos artistas plásticos? Será que existem instituições, públicas e privadas, interessadas em apoiar

estes organismos e artistas? Como diz José Almeida Pereira, a vontade das pessoas se expressarem artisticamente não esmorece como uma moda, e conhecemos a vontade e garra dos portuenses: a arte veio para ficar. Catarina Cruz e Mariana Sobral mariana_lsobral@hotmail.com catarinainescruz@gmail.com


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João Gesta escritor e programador do TCA

conta-me como é... Carlos Xochicale

Novas Oportunidades As próximas linhas são da responsabilidade do partido ( muito partido, diga-se) do governo. Informa-se que o executivo do Nosso Sinistro-Primeiro vai propor à Assembleia da República a aprovação de uma linha de crédito para promover a descoberta de novos talentos, preferencialmente nas áreas da literatura, da rapinagem artística e dos bordados. Podem candidatar-se ao referido apoio os seguintes talentos, nascidos em território nacional e/ou na Malveira: - sucateiros - pataniscas (que tenham sido comidas a norte do Mondego) - linces (que exerçam actividade fora da região da Malcata) - engenheiros de papel - poetas com mais de um olho - o Armando Vara

Jovem-coisa: Se és saudável, se tens pelo menos dois dentes do Siza, então NÃO HESITES: envia-nos a tua candidatura, explicitando se gostas de ficar por cima ou por baixo. Só tens de indicar o teu nome completo, a morada da toca abjecta onde te acoitas, o nome do dealer que serve a tua área de sobrevivência e a idade do mânfio que anda a comer a tua irmã, miseravelmente, às escondidas do fisco. Depois, lê em voz alta um poema do Baudelaire e esfrega-o no rabo. Se não tiveres rabo, esfrega-o na alma, que fica mais à direita. Enfia tudo ( a candidatura e o poema devidamente esfregado) num envelope lacrado e envia-o para o presidente do Sporting ou para o Santos Silva. Tanto faz. São ambos patéticos e, como tal, muito competentes. Uma última nota: Se não tiveres em casa um poema do Baudelaire, podes esfregar o rabo num pensamento do Padre António Vieira, num ligamento do Cristiano Ronaldo e por aí fora, até chegares ao útero da Josefa D’ Óbidos ou, mais à frente, ao cruzamento da Carvalhosa. Deixa o resto connosco. Ousa. O país precisa de ti. Nós, também não.

“Se és saudável, se tens pelo menos dois dentes do Siza, então NÃO HESITES: - envia-nos a tua candidatura, explicitando se gostas de ficar por cima ou por baixo.” - rabos de boys - o Armando Vara - pequenos arenques por fumar - enguias da Murtosa, que não tenham inscrição na “Universidade Independente” - jovens casadoiras com sete saias e, pelo menos, um ovário

atenção dos transeuntes, assim como os peixes que se exibem na barraca de Bininha. “Eles passam e perguntam se dá para comer. Doulhes tempo para cozer as percebas, o camarão e sapateira e depois é vê-los na esplanada a acompanhar com as cervejas”.

Destino Erasmus Numa altura em que os locais fogem para a periferia, o Porto cobrese de uma malha que une várias línguas. Alguns dos estudantes estrangeiros ao abrigo de programas de intercâmbio são clientes fiéis dos peixes da Bininha. Vindos de Espanha, Itália, Alemanha ou Polónia encontram no Bolhão a alma de uma cidade diferente dos seus países de origem. Porque é essa a beleza do Bolhão. Não existe franchising pos-

O Bolhão são as pessoas e as amizades que aqui nascem

...ser vendedora do Bolhão Vendedora de peixe no Bolhão desde que se recorda, Bininha criouse “à força” no interior da “bolha grande” do coração da cidade. Entre pescada fresca, robalos e carapau miúdo, esta peixeira foca aquilo que o Bolhão tem de mais precioso: “as pessoas”. Mãos hábeis, olhar vivo e sorriso aberto. Aos 58 anos, Bininha, peixeira por herança mais que por vontade, cresceu no Bolhão. “Brincávamos às peixarias e muitas vezes me sentei naquelas escadas, com um caixote como secretária, a fazer os deveres da escola”, recorda. Hoje os seus herdeiros já não aspiram a ocupar o seu posto na “bolha grande”. Há 50 anos atrás, não houve opção. “Entre o liceu ou o trabalho teve que ser o trabalho, porque na altura os tempos não eram de estudar”. Da escola fica-lhe a secreta vontade de ser professora e o jeito natural para a contabilidade na banca de peixe. Lugar de passagem obrigatória Nunca virou costas à luta. Na vida e pelo mercado do Bolhão. Dá o rosto pelo Bolhão e, nos últimos anos, com muitas lágrimas à mis-

tura. “Já tenho chorado muito pelo Bolhão”. Nestas alturas são as recordações que lhe dão alento. E são muitas as memórias e os rostos. Porque, como diz Bininha, “o Bolhão são as pessoas e as amizades que aqui nascem”. Mas, o Bolhão é também o sol que se refugia nos recantos mais imprevistos, o cheiro a laranja, o colorido das flores, os gestos e os vozeirões projectados que nunca se apagam. Gasto pelo tempo e pela humidade que corrói as entranhas do edifício oitocentista, Bininha ostenta um rol de fotografias que retrata encontros que teima em não esquecer. “Uma senhora israelita deixou-me esta foto que tinha tirado numa outra visita e também um chinês que, após dois anos, veio aqui à minha procura para me entregar uma fotografia que tinha feito comigo”. À medida que se despe da sua própria gente, o Bolhão recebe, ano após ano, um número crescente de turistas. “Eles gostam desta vida só nossa”, lança Bininha. “Aqui comese a sardinha à mão e empurra-se tudo com broa e pimentos”. As poucas convenções à mesa chamam a

sível para um mercado que vive dos pregões e da alma desta gente. Ultrapassada a barreira da língua, Bininha desvenda as amizades com estudantes espanholas, italianas ou incautos uruguaios. “Havia um grupo de estudantes espanholas que vinham cá comprar peixe e comecei a explicar-lhes algumas receitas e criámos uma relação engraçada. Quando regressaram ao Porto, depois do Natal, trouxeramme um vinho lá da terra e, na semana seguinte, surpreendi-as com um raminho de rosas vermelhas. Os pais chegaram a vir cá conhecerme e elas vieram todas despedir-se de mim no final do ano”, conta. Quem também lhe ficou no coração foram umas italianas, que se deixaram encantar pelo sabor das sardinhas molhadas em farinha. Fazem-se muitas amizades, mas “desfazem-se outras tantas pelo caminho, porque as pessoas abandonam a cidade e o hábito de vir ao Bolhão”, observa Bininha. A equação final não engana. “A verdade é que perde-se mais do que aquilo que se ganha”. mariana teixeira santos


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Mestre Joaquim Lopes Crítico, investigador, pintor e professor: notas biográficas de um director da EBAP Colecção Particular

trabalhar com o seu tio materno como pintor decorador de cofres. É este seu tio, José Pinto Jr., que o incentiva a ingressar na Academia de Belas Artes do Porto. Inicia a sua formação na Escola Industrial Passos Manuel, em Vila Nova de Gaia, onde termina o curso em 1906, com a classificação de 20 valores, ingressando nesse ano na Academia Portuense de Belas Artes, tendo como mestres Marques de Oliveira e José de Brito. Termina a formação com média de 17 valores, em 1915. Quatro anos depois, parte para Paris com o objectivo de aperfeiçoar a sua formação ao nível do desenho e da pintura, contactando com obras dos grandes mestres do século XVII e XVIII e com os impressionistas, sendo particularmente marcado pelo tratamento da luz destes últimos.

Ganhou prémios nacionais e internacionais como pintor, pertenceu à Academia Nacional de Belas Artes e a Academias internacionais, …

Fotografia do Mestre Joaquim Lopes no seu atelier

Alguém definiu Joaquim Lopes como “o pintor que sabia desenhar”. É certamente o maior elogio que se pode fazer a um artista que sempre viu no desenho a base de toda a obra de arte, alguém que não concebia a obra final sem muito estudo. Notabilizou-se como pedagogo na Escola de Belas Artes do Porto, ganhou prémios nacionais e inter-

nacionais como pintor, pertenceu à Academia Nacional de Belas Artes e a Academias internacionais, escreveu inúmeros artigos de crítica de arte… trabalhou incessantemente. Joaquim Francisco Lopes nasceu a 23 de Abril de 1886, em Vila Nova de Gaia. Cresceu num ambiente propício ao desenvolvimento da aptidão artística, indo aos 11 anos de idade

De regresso a Portugal, Joaquim Lopes ingressa na carreira docente do ensino técnico o que lhe permite estabelecer um equilíbrio financeiro, compensando a instabilidade da carreira artística. Em 1930 ganha o concurso para o lugar de professor da cadeira de pintura na Escola de Belas Artes do Porto, ocupando o lugar até então de Marques de Oliveira. Joaquim Lopes era um Mestre atento aos seus alunos, ajudandoos sempre que podia, motivandoos para a arte e procurando que a sua formação os preparasse de forma consciente. Gostava de lhes manter a personalidade mas dandolhes meios para revelarem o que de melhor tinham. Queria que fossem homens de cultura, capazes de seguir o caminho com inteligência e intuição para poderem definir o seu

próprio estilo. Por isso funda uma Biblioteca e procura erguer um Museu de estudo na EBAP. O seu interesse pela existência de um museu escolar prende-se com a noção de aprendizagem prática e visual que explorava. O ambiente das aulas seria descontraído, conciliando a prática com a teoria, procurando que percebessem a importância do estudo, do saber e da experiência. Pedagogicamente, Joaquim Lopes deixou boas impressões nos seus alunos e na forma como dirigiu a Escola, que se distinguia a nível nacional pelo seu peculiar ambiente. Enquanto director da EBAP (1945 - 1952), pondera sobre a reforma do ensino, que acha imperiosa para o desenvolvimento da educação artística. Além da alteração dos anos prévios, nas escolas primárias e técnicas, pensa que ao nível superior há também muito a fazer, nomeadamente na alteração do estatuto do curso de arquitectura. Nesse sentido, apoiou a criação das novas cadeiras ligadas ao urbanismo. Procura também dar melhores condições aos alunos, erguendo novos pavilhões nos jardins da Escola — solução intermédia, pois gostava de ter instalações mais condignas, como a Faculdade de Engenharia ou de Farmácia. O percurso académico de Joaquim Lopes foi acompanhado por uma forte actividade como crítico e investigador de arte, estudando os velhos mestres, nacionais e estrangeiros, ocupando-se das questões pedagógicas, entre outros assuntos, dos quais deixou um vasto número de artigos dispersos. Durante a sua carreira recebeu diversos prémios: várias medalhas da SNBA, bem como medalhas em exposições internacionais. Joaquim Lopes é dos poucos artistas que consegue arrecadar medalhas de honra da SNBA em todas as categorias de pintura, demonstrando a sua versatilidade em qualquer técnica. O próprio admitia que como professor devia ensinar de tudo. Joaquim Lopes viria a falecer a 25 de Março de 1956, pouco an-

tes de se jubilar. A notícia é dada com tristeza na sua Escola. Dos depoimentos ressalta sobretudo o seu carácter e a sua generosidade — ajudou os jovens talentos que surgiam na Academia e que não tinham posses, pagando do seu bolso ou arranjando quem o pudesse fazer. João Duarte

Exposição Partindo do espólio da Casa do Douro, o Museu do Douro apresenta uma exposição evocativa deste vulto da história da arte portuguesa. O discurso expositivo propõe uma viagem pelo curso do rio, desde Miranda até à Foz, locais de eleição deste mestre de pintura, cuja leitura actual é bem diversa. Na obra exposta, onde se apresentam diferentes técnicas de desenho e pintura, evidenciam-se múltiplas facetas de um rio Douro da primeira metade do século XX, não só patentes na paisagem natural, agrícola e construída, mas igualmente nos costumes, nos trajos, nos rostos dos seus habitantes. Ao mesmo tempo, é exibida uma descida do rio, o Douro do vinho do Porto, concebida pelo próprio Mestre para o pavilhão da Casa do Douro na I Exposição Colonial Portuguesa, realizada em 1934. A propósito destas obras, o visitante pode conhecer as diferentes etapas da intervenção de conservação e restauro realizada pelos técnicos do Museu. Esta será uma oportunidade para contactar com uma realidade raramente visível mas essencial para a preservação do nosso património. A exposição Mestre Joaquim Lopes – Douro, está patente entre 14 de Dezembro de 2009 e 5 de Abril de 2010, na sede do Museu do Douro, em Peso da Régua.


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gourmet das tascas

Vera Lopes

É mesmo triste perder um amigo Hoje vi esta frase quando ia a correr para a faculdade. Mesmo estando eu stressada, suada e prestes a ter uma arritmia cardíaca, uma feia parede cinzentona conseguiu captar o meu esquivo olhar e fez-me parar para a ver. E pensar melhor, reflectir naquelas palavras tão banais. Já estou tão habituada às pseudo frases grandiosotrágico-cómico-poéticas, dos novos Che Guevara de boné e calças a escorregar pelo traseiro (embora eu também use as calças assim). “É mesmo triste perder um amigo”. Esta frase não é das típicas, daquelas ditas nas fúteis conversas de autocarro e de “bicha” do supermercado, em que as pessoas falam com o à vontade de quem não tem nada para dar a não ser o próprio vazio. E de quem antes se estava a queixar do preço do bacalhau.

que andam por aí a completar a pintura das casas. “É mesmo triste perder um amigo”. Pois é. Uma pessoa muito minha querida foi morar no estrangeiro. Abençoada Internet que nos liga. Eu não a perdi, apenas perdi os beijos e os abraços e o conforto de um toque. Se calhar quem escreveu a frase tinha acabado de perder um amigo mesmo, para sempre. Mas o que é “perder um amigo”? “Perder um amigo” não é só quando a morte se mete no meio da amizade. E quando um amigo morre só para nós e continua vivo? Ou nós morremos para ele… Ou quando não temos a possibilidade de sentir o abraço, de ter a SMS no telemóvel, de ouvir o riso, de confortar o choro... Ou se calhar eu é que estou hipersensível, e foi um pseudo blá blá blá que escreveu aquilo. E não perdeu ninguém. E estava só a tentar ser “cool” e todo mandado para a “frentex”, olhem-só-para-mim-a-escrevernuma-parede. Para logo já tenho planos. Como todas as noites vou-me recostar em frente ao sagrado monitor e vou tentar abraçar, beijar e confortar virtualmente, até que passe a tempestade e eu sinta que recuperei o meu amigo do lado de lá, porque perder um amigo é mais do que uma frase na parede, é mais do que impotência, é mais do que uma disputa pelo comando, é mais do que um caixão. E já agora, desejo passar por aquela parede desligada e distanciada como quem acena em concordância e segue em frente com desconhecimento de causa.

“E quando um amigo morre só para nós e continua vivo?” Para mim, quando uma frase não é proferida com sentimento, então é como se não tivesse sido proferida. O que saiu da boca e chegou até ao ouvido foi uma amálgama de sons ininteligíveis para o coração. Mas eu olhei para aquela frase e tocou-me. Não é o típico rabisco que costumo ver escrito nas paredes. Apanhou-me de surpresa. Veio de encontro ao meu espírito, infiltrou-se e cá continua, e fazme escrever esta crónica. Aquela frase foi um desabafo. Eu li-a e respondi interiormente “pois é”, não fossem pensar que eu, maluquinha, andava a prestar atenção às baboseiras do “amo-te Di” ou “a Su é porca”

manuel ribeiro

“Tire a foto mas não diga que são tripas, tripas só à quinta-feira!”

Casa Correia Em pleno centro da cidade do Porto, encontramos uma tasca que guarda um segredo há cerca de 40 anos… É quinta-feira e ao chegarmos à Casa Correia apercebemo-nos que estão à porta várias pessoas que aguardam, pacientemente, não para desvendar o segredo mas sim para o saborear. Esta tasca é o recanto mais afamado da arte de bem comer tripas à moda do Porto! A tasca existe há cerca de 40 anos pelo trabalho e dedicação de José Correia e sua mulher, Filomena Conceição Santos Correia. Nesta tasca, de decoração rústica, a cozinha é domínio de Filomena Correia que garante que “é muito exigente na escolha dos produtos que utiliza, tendo sempre preferência pelo peixe fresco, legumes e frutas da época e por carnes de origem nacional ” e que “nos meus tachos ninguém mete uma unha!”. É desta cozinha que saem petiscos variados como cabrito assado, bolinhos de bacalhau com arroz de feijão, iscas de fígado, peixe fresco (às quartasfeiras), as tripas à moda do Porto (às quintas-feiras), entre outros. Há pratos fixos como o peixe e as tripas mas o resto da ementa altera muito, facto que Filomena justifica: “varia-

mos muito de pratos para o cliente não enjoar”. Quando questionamos qual a fonte destes pratos, a cozinheira argumenta: “Nunca precisei de livros para fazer de comer! Bastam-me estas mãos.”. Em relação às famosas tripas, sentados à mesa, apercebemo-nos que elas são servidas em dois momentos: em primeiro lugar deliciamonos com a mão de vaca, a moura e o salpicão; e só depois nos chega à mesa o arroz e uma travessa com as tripas e o feijão a boiar num molho espesso, óptimo de comer com pão! E o preço? A dose fica a 13,50 e três pessoas ficam satisfeitas. A relação qualidade / preço de todos os pratos é boa e mesmo assim Filomena Correia afirma que por vezes “os estudantes, com pouco dinheiro, só pedem meias doses e é para dividir. Eu acabo sempre por lhes encher as travessas pois não quero que passem fome na Casa Correia.”. Ainda em relação às tripas, depois de estarmos “cheios como uns Abades”, quisemos saber a receita. A resposta foi curta e rápida: “Tripas das nossas (conhecidas pela gente do Sul como dobrada), cenouras, a água de cozer os enchidos e, claro, um bom feijão manteiga que faz

toda a diferença para o molho. O resto é segredo que é a alma do negócio mas posso garantir que não leva soda! É tudo ingredientes saudáveis e naturais que até um bebé podia comer.” mariana jacob

História As Tripas à Moda do Porto fazem parte da gastronomia típica desta cidade, chegando mesmo os seus habitantes a serem conhecidos pela alcunha de Tripeiros. A origem deste prato poderá remontar ao período dos Descobrimentos, mais especificamente, com os preparativos para a expedição militar da tomada de Ceuta. Reza a história que em 1415 terá sido pedido aos habitantes do Porto todo o género de alimentos, incluindo todas as carnes, que foram limpas, salgadas e acamadas nas embarcações. Aos portuenses restaram apenas as miudezas para confeccionar, incluindo as tripas. Terá sido neste momento que os habitantes, ao inventarem pratos alternativos, terão criado as Tripas à Moda do Porto. Há quem afirme que este prato é o reflexo do espírito da população do Norte de Portugal: altruísmo e hospitalidade.


Críticas

CULTURA || 27

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9/10

8/10

Breve Sumário da História de Deus gil vicente

Tetro Francis Ford Copolla Para quem conhece os filmes de Copolla, ao ver Tetro reconhece logo as influências de Rumble Fish ou The Outsiders. Na verdade este filme é uma retrospectiva do trabalho do realizador com traços de uma autobiografia. A historia fala-nos da relação de dois irmãos cujo pai é um maestro mundialmente conhecido. A chegada do irmão mais novo, Bennie (Alden Ehrenreich) a La Boca, Buenos Aires, causa em Tetro (Vicent Gallo) uma certa perturbação. O irmão mais velho exilou-se da família e desde que se mudou para a Argentina não quis contactar com os seus parentes. Miranda (Maribel Verdú) é companheira de Tetro que no início do filme acolhe Bennie. A partir daqui desenvolve-se um conflito entre os dois irmãos, acentuado pelos flashbacks em que nos é mostrado um passado de Tetro com o pai Carlo, levando-o a separar-se da família. Tetro foi filmado num preto e branco contrastado para relatar o presente da acção, e a cores velhas e saturadas para nos mostrar o passado. Estilisticamente, o filme é muito bem conseguido. A imagem ampla preenche-nos a visão e a fotografia do filme poderia ser analisada plano a plano. La Boca é um local bastante vivo mas em Tetro vemos, até nos momentos de humor, um bairro carregado de drama e tensão. Depois de Youth Without Youth, Copolla volta em melhor forma e mais convicto dos seus filmes. Já não vamos ver um filme deste realizador à espera de um Apocalipse Now ou de mais um Padrinho, agora entramos no mundo de Francis Ford Copolla, cada vez mais fundo. João Pedro Cruz

9/10 The Fall Norah Jones A nova-iorquina Norah Jones lançou no dia 17 de Novembro o seu quarto álbum de originais, The Fall. Este disco vem alterar o seu cânone. A menina que começou a dar os primeiros passos da música no coro da igreja, rapidamente se tornou uma referência no jazz. De cabelo curto, batom vermelho nos lábios e vestidos justos, é assim que Norah, com um novo look, reaparece neste álbum. “Chasing Pirates” é o single de apresentação e a primeira das 13 faixas que dele fazem parte. A cantora de 30 anos cresceu num ambiente ligado ao jazz, mas neste trabalho afastou-se dessas raízes e misturou rock, folk, country e blues. Assim, em The Fall, podemos ouvir ritmos mais vivos que vão de encontro à personalidade de Norah. Ainda se assumindo como sendo tímida, a menina do famoso single “Sunrise”, arruma o piano e entrega-se à guitarra. Este álbum tem ainda a particularidade de contar com a contribuição de vários compositores: Ryan Adams, Will Sheff, Okkervil River, e ainda com o produtor Jacquire King, dos Kings of Leon e dos Modest House. Norah Jones não lança nada de inédito desde o seu terceiro disco, Not Too Late, de 2007. The Fall exibe uma nova faceta da cantora, na qual até ao momento não estávamos habituados da parte dela. Mas esta mudança não é absoluta, neste álbum podemos ainda ver a calma e a vivacidade de Jones de mão juntas. Com 236 milhões de discos vendidos em sete anos de carreira e nove Grammys, a cantora traça este álbum como «um novo caminho», provavelmente bem galardoado. Susana Correia

9/10 Últimos Poemas Nuno Rocha Morais São quase sempre poemas de uma única estância, os presentes em Últimos Poemas (2009) de Nuno Rocha Morais, de uma unidade avassaladora até na forma. E, todavia, são a obra de um poeta múltiplo de manifestações e temas que tanto passeia por um ultra-realismo de uma Odisseia moderna «Sentir-te-ás velho e também isto é um regresso» (pág. 90) – como nos surpreende com um surrealismo sarcástico de «peixes humoristas / Que, espontaneamente, saltam da água, / Se escamam, se amanham e se comem por nós» (pág. 97); tanto é crua - «Ser nada mais do que este relevo / De veias e ossos, / E o odor senil da urina» (pág. 57) – como distante: «Nuno Morais é um projecto / No bico partido de um lápis / Quando já ninguém pega num lápis» (pág. 79). As páginas de Últimos Poemas estão pejadas de vocábulos pouco comuns. «Adolescer» parece ser um dos verbos preferidos do poeta, que funciona dialécticamente com a sua obra amadurecida. Este diálogo é estendido à infância, representada por mais do que uma vez como um período de inocência efémera: «A infância começava a ser uma impostura, / Não sabíamos ainda, não ainda / Que já tínhamos sido expulsos do paraíso» (pág. 37). A triste realidade que enquadra a publicação deste livro (publicado postumamente, depois da morte do autor em 2008), é, também, trágica para a Literatura, que vê em Últimos Poemas o registo único de um poeta maior, simultaneamente tese, antítese e síntese. Tiago Sousa Garcia

Um título desconhecido para a maior parte dos espectadores. Primeiro mérito deste espectáculo: trazer a cena um auto de moralidade de Gil Vicente raramente encenado, mas de grande dignidade literária. Breve Sumário da História de Deus percorre algumas das passagens bíblicas que marcam o imaginário judaico-cristão: a queda do Paraíso, a morte de Abel, as lamentações de Job, as tentações de Cristo no deserto, a Crucifixão e Ressurreição. Após um prelúdio em que as personagens percorrem, como que alienadas, o palco e uma corda desliza misteriosamente do céu, as figuras bíblicas caminham, umas atrás das outras, para a morte e para os três demónios, que as retêm no inferno e que asseguram o cómico ao longo do auto: Lúcifer, o maioral do inferno, Satanás, o fazedor, e Belial, o incompetente. Diga-se que as curtas incursões das personagens começam e acabam numa espécie de beliches em madeira, nítida colagem das camaratas dos campos de concentração. A leitura parece clara. Segundo mérito desta encenação: projectar, através de recursos cénicos, um texto do século XVI para os nossos tempos. Outro aspecto positivo a destacar é o respeito exemplar pelo texto vicentino: sem cortes, bem declamado, aparentemente bem interiorizado pelos actores. Como se não bastasse, Carinhas convocou mais três belíssimos textos: o Salmo 139, e dois poemas, um de Ruy Belo e outro de Else Lasker-Schüler. Nota ainda para o final surpreendente, ao som de Haydn, que nos deixa a pensar: será que a Ressurreição foi luz? Maria Inês Marques


Cardápio

The Legendary Tigerman vai actuar no Plano B

JUP || DEZEMBRO 09

música

teatro

Eventos

Vários

15 de dezembro

Até 20 de Dezembro

17 de Dezembro

Até 19 de Dezembro

Exército Russo Casa da Música Scout Niblett + Long Way to Alaska Passos Manuel

Comunidade de Leitores Biblioteca Almeida Garrett, 21h Quintas de Leitura: “Cerco Voluntário” de Vasco Gato Teatro Campo Alegre, 22h

18 de dezembro

18 de DEZEMBRO

Gotta Dance Casa da Música Alèmu Aga Culturgest Andrew Thorn Tertúlia Castelense Teengirl Fantasy Plano B CROOKERS Clash Club Teatro Sá da Bandeira

19 de dezembro Susana Santos Silva Quinteto Casa da Música SickSin + Phist Fábrica de Som Noiserv CDGO

O Avarento Teatro Carlos Alberto Breve Sumário da História de Deus Teatro Nacional São João

21, 22 e 23 de Dezembro Teatro de Sombras - A Prenda de Natal de Henrique Semprespera Biblioteca Pública Municipal do Porto, 10h30 às 11h30 Um Lobo Quase Bem-Comportado - Teatro de Fantoches Biblioteca Municipal Almeida Garrett, 15h às 16h

LEITURAs: Quando o poema se cumpre Maria Vai Com as Outras, 22h30

19 de DEZEMBRO Artesanato Urbano Rua Galeria de Paris, 13h-24h

“Lassa” de António Quadros Ferreira AMIarte

12 a 19 de Dezembro

Até 20 de Dezembro Vicente [Exposição]: pinturas de Ilda David Teatro Nacional São João

Até 22 de Dezembro FaMa - Feira de Artesanato de Matosinhos Parque Basílio Teles

Até 27 de Dezembro

Até 23 de Dezembro

26 de dezembro

“Querida Televisão” Teatro Rivoli

Artesanatus’09 Praça D. João I

The Legendary Tigerman Plano B

até 31 de janeiro

Até 31 de Dezembro

30 de dezembro

A Casa do Lago Rivoli Teatro Municipal

Jacinta Casa da Música

Até 28 de Fevereiro

XI PortoCartoon-World Festival “As Crises” Museu Nacional da Imprensa

31 de dezembro Andamento + CosmiClub + Uma Naper + Rui Maia + Mr. Mitsuhirato Plano B

Natal Feito à Mão Rua Cândido dos Reis, 30 (Plano B), 14h-21h30

20 de DEZEMBRO

R4 em Exposição: Peças de design e instalações de arte Av. dos Aliados

Desfile de Pais Natal Avenida dos Aliados, 14h30

Até 7 de janeiro

3 de janeiro

14 a 20 de Dezembro

Raul Peixoto da Costa Casa da Música

Festival de Sorrisos Avenida dos Aliados

6 de janeiro Mississippi Gospel Choir Coliseu

16 de janeiro Erol Alkan (Clash Club) Teatro Sá da Bandeira

28 de janeiro The Black Dahlia Murder + The Faceless + Carnifex + Ingested (Bonecrusher Fest) Cine-Teatro Júlio Diniz

O Feiticeiro de OZ Rivoli Teatro Municipal

até 31 de janeiro ReBista à Moda do Porto Teatro Sá Bandeira

Até 3 de janeiro

18 a 24 de Dezembro

Diário de um Estudante de Belas-Artes - Henrique Pousão Museu Nacional de Soares dos Reis

Eléctrico de Natal - Viagens com animação durante o dia na Linha 22 e viagens à noite, num eléctrico chamado… Natal Partidas do Carmo e percurso no centro histórico e Baixa do Porto

Até 10 de janeiro

Até 29 de Dezembro

Até 31 de janeiro

Natal com Cultura em Gaia Vários Locais

Augusto Alves da Silva “Sem Saída / Ensaio sobre o Optimismo” Museu de Serralves

Até 30 de Dezembro Animação D’Ouro Avenida dos Aliados, 14h-17h

Circo Cardinalli Arena Super Bock (antigo queimódromo), Parque da Cidade Serralves 2009 “A Colecção” Museu de Serralves


Opinião

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Palavras leva-as o vento pedro ferreira

Acabada de regressar à cidade e ao país, agrada-me ver que o Porto antigo “sacudiu o pó” e abriu finalmente as portas de armazéns e prédios ao abandono, revelando alguns dos seus melhores segredos. A oferta de espaços multifacetados de arte, cultura e entretenimento multiplicou-se na cidade. As pessoas voltaram a ocupar as ruas do coração do Porto que estiveram, nos últimos anos, esquecidas por habitantes e lojistas fascinados por edifícios modernos e centros comerciais em contínuo desenvolvimento noutras áreas e nos arredores da cidade. O meu primeiro regresso ao Porto foi em 2000, depois de um ano como estudante Erasmus na Alemanha e três anos a estudar na Universidade do Minho em Braga. Em viagem pela Europa, Berlim e Budapeste passaram a ser as minhas referências de cultura artística que se vive na rua, no bairro em que se habita e onde sair para ver uma exposição ou ir ao cinema era sinónimo de ir parar ao terraço de uma casa do início do século onde existiam também um bar, concertos e performances e se respirava a história de um sítio

De Jornalista a Atleta

Os “maus hábitos” do Porto e de uma cidade. O mais inspirador desses sítios foi a Arthouse Tacheles em Berlim Oriental, um edifício parcialmente destruído durante a II Guerra Mundial e ocupado desde 1990 por artistas de várias nacionalidades. De volta ao Porto, no ano de preparação para a Capital Europeia da Cultura, a cidade estava irreconhecível com tantas obras de requalificação em espaços emblemáticos como a Praça da Batalha, a Avenida dos Aliados, a Praça da Cordoaria e os Jardins do Palácio de Cristal. A cidade boémia e vanguardista era já outra, afastada dos conhecidos bares da Ribeira e da Foz, que marcaram várias gerações.

A oferta de espaços multifacetados de arte, cultura e entretenimento multiplicou-se na cidade. As pessoas voltaram a ocupar as ruas do coração do Porto... Reconheci alguma da originalidade e vocação para a reinvenção dos espaços abandonados de Berlim e Budapeste na nova cidade “subterrânea” Portuense, com locais de referência como os Maus

Hábitos, Gesto e Contagiarte. Lembro-me bem de correr a palavra que existia um sítio em frente ao Coliseu… Subi de elevador até ao 4º andar, bati à porta e tive de irromper com convicção num ensaio de teatro para poder conhecer o novo espaço de que todos falavam! A cidade ganhava, então, estes maus hábitos… A criatividade, a informalidade e a programação alternativa destes bares / associações culturais recriam, em cada novo olhar que visita a cidade, o seu carácter de “ser distinto”. Marisa Ramos Gonçalves marisamrg@yahoo.com

Todos os adeptos de futebol alimentam o sonho secreto de, um dia, durante um jogo, serem chamados a jogar pela sua equipa porque um jogador se lesionou e não há mais ninguém. Os jornalistas nem pensam nisso. Duvido que um comentador de rádio pense que, um dia, vai faltar algum atleta e ele vai acabar a jogar futebol, enquanto faz o relato. Acho que ninguém se acredita que isso possa acontecer realmente. Mas a verdade é que pode. Não nestes moldes, claro, mas quase. Quando foi convidado para acompanhar a comitiva da Universidade do Porto nos Jogos Galaico-Durienses, em Santiago de Compostela, para fazer a cobertura da competição para o JUP, estava muito longe de imaginar que ia acabar por ser transformado de jornalista em jornalista-atleta. Sim, além de ir acompanhando as provas da competição, sempre de bloco e gravador na mão, também corri e nadei como gente grande. Vou voltar um pouco atrás no tempo, para a história ficar bem explicada. Alguns dias antes do início da competição, aproveitei para passar uns minutos pelo Gabinete de Desporto, não só para confirmar a minha deslocação a Santiago para fazer a reportagem para o JUP, mas também para fazer umas perguntas ao Bruno Almeida, Director do GADUP, para começar a recolher mais inforamação para a reportagem. Nesse dia, o Bruno desabafou que não estava a ser fácil arranjar atletas para todas as modalidades, porque estávamos numa altura de entregas e apresentação de trabalhos. Nesse pequeno encontro, ficou no ar a possibilidade de, caso não se arranjasse ninguém, eu poder competir nos Jogos Tradicionais. Ora, nada de complicado: uma prova que não exigia qualquer preparação física, e que acabava por estar longe do clima competitivo das restantes

provas. No entanto, essa possibilidade não se concretizou. Não se concretizou porque, no dia anterior à partida para Santiago, o mesmo Bruno Almeida me telefonou com um pedido sério e urgente: a UP não estava a conseguir encontrar ninguém para competir no... Duatlo. “Francisco, achas que consegues nadar 1000m e correr 5km?”. Bom, a meio acho que não ficava. Fiz natação de competição durante muitos anos, mas já não treino com regularidade há mais de três anos. De qualquer maneira, estava perante um grande dilema: por um lado, eu ia a Santiago ao serviço do JUP, e não era suposto (nem estava planeado) participar na Competição. Por outro lado, era complicado saber que já estava confirmado na comitiva da UP, e acabava por ser a resposta à necessidade urgente da Universidade para a dita prova. Uma falta nessa modalidade resultaria numa penalização pontual para a Universidade. Perante isto, acedi ao pedido. E, por isso, transformei-me em jornalista-atleta. E acabei por competir numa prova muito dura, que exige muita preparação. Lá nadei os 1000 metros, e lá corri os 5 km. Com muito esforço, claro, reflexo da minha péssima forma física. Para a história, fica uma participação medíocre mas honrosa: não fiquei em último em nenhuma das provas. Na natação, acho que até fiquei em antepenúltimo. Nada mau, para um jornalista-atleta, que no dia anterior soube que, além do computador, bloco de notas e gravador, também tinha que guardar na mala uns calções-de-banho, touca e sapatilhas. Para os jornalistas que vão cobrir o Mundial 2010, fica o conselho (do alto da minha inexperiência): não se esqueçam das chuteiras.. francisco ferreira fd.francisco@gmail.com


30 || OPINIÃO

JUP || DEZEMBRO 09

‘Alexis, há um ano atrás’: sobre a revolta na Grécia Yiannis Bournous

Jovem casal rodeado pela policia grega durante os tumultos que se fizeram sentir nas ruas de Atenas

Poucas horas após o homicídio a sangue-frio do estudante de 15 anos, Alexandros Grigoropoulos, por um homem pertencente ao Corpo “Guardas Especiais” da Polícia Grega, no dia 6 de Dezembro de 2008, em Exarhia, Atenas, as reacções públicas foram demonstradas de duas maneiras: manifestações massivas e revoltas violentas. Ambos os tipos de reacções tiveram três características em comum: foram organizadas espontâneamente, a nível nacional e caracterizadas por uma atmosfera anti-repressiva, expressa tanto pela radicalização de slogans de manifestantes pacíficos ou pela subida de tom de actos violentos por parte de um largo número de pessoas, não apenas o “tradicional” black block. Existe uma solidariedade “entre classes” nas pessoas que participaram nas várias formas de manifestação e mobilização organizadas em todo o país. Isto aconteceu por duas razões: 1)O efeito simbólico e poderoso

do homicídio. As manifestações tiveram a participação - fora os tradicionais actores de mobilização – de um largo espectro de pessoas, desde os pais sensibilizados pela homicídio, até aos ultras de claques futebolísticas, tradicionalmente anti-repressão. 2)A precarização da sociedade grega, com maior reflexo nas gerações jovens, levou a novos problemas sociais, afectando desde os extremos das estruturas sociais até à classe média urbana. Analistas dizem que nós já experienciámos revoltas sociais através das quais “os jovens dos guetos dos subúrbios” revoltaram-se devido às suas condições de vida serem antagónicas ao estilo de vida provocadora dos jovens da classe média urbana. Neste caso específico, os jovens das classes altas foram para a rua, lado a lado com os imigrantes e jovens “sem-voz” vindos das classes mais baixas, não apenas porque demonstraram admiração face às imagens

FICHA TÉCNICA DIRECÇÃO DIRECÇÃO DO NJAP/JUP - PRESIDENTE Sara Moreira VICE-PRESIDENTE Rita Falcão TESOURARIA Rita Bastos VOGAIS Pedro Ferreira (JUP) || Filipa Mora (aguasfurtadas) || Bárbara Rêgo (espaçosJUP) || Manaíra Athayde (galerias) DIRECÇÃO DO JUP Filipa Mora DIRECTORA DE PAGINAÇÃO Joana Koch Ferreira DIRECTOR DE FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro chefe de redacção Mariana Jacob EDITORES E SUB-EDITORES EDUCAÇÃO Filipa Mora SOCIEDADE Manaíra Athayde CULTURA Filipa Mora e Tiago Sousa Garcia OPINIÃO Pedro Ferreira DESPORTO Francisco Ferreira COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

chocantes da revolta, mas também devido ao facto da “geração dos setecentos euros” poder ser localizada, hoje em dia, quase em todo o lado, seja qual for a origem social dos pais desses jovens. O homicídio do Alexis não é um evento isolado, como o Governo Grego, o partido da extrema-direita (LAOS), os responsáveis da Polícia Grega e a maioria dos meios de comunicação corporativos tentaram fazer parecer. É baseado num diacrónico conceito de repressão que caracteriza a estrutura da Polícia Grega. Vejamos : O agente da Polícia que assassinou o Alexandros pertence ao corpo “Guardas Especiais”. Este corpo foi inicialmente criado aquando dos Jogos Olímpicos de 2004, para formar seguranças desarmados para os edifícios, após providenciar um treino de três meses. As pessoas que desejem entrar para este corpo policial são contratadas através de um simples processo, enquanto a Academia de Polícia é um curso universitário de quatro anos, pertencente ao Sistema do Ensino Superior Grego. Com a Reforma Legal há alguns anos, o Governo de direita mudou o âmbito dos “Guardas Especiais” permitindo a sua participação em patrulhas, confronto com manifestantes nas ruas e porte de arma. Lembrança: Após três meses de treino apenas … Fora esta situação, existe uma extensa lista de casos de impunidade em situações de extrema brutalidade policial (especialmente contra imigrantes e manifestantes),

chegando mesmo a homicídios, que começaram a aumentar com os Jogos Olímpicos de 2004, sob a desculpa de “aumento de medidas de segurança”. O papel de protagonista da revolta, sem dúvida, pertence ao estudantes do ensino secundário de quinze anos, cuja identidade social e política foi para sempre marcada, durante os primeiros dias após o homicídio do seu colega. As reacções dos estudantes do secundário foram profundamente rápidas e massivas (alguns analistas sugerem que se tenha excedido os números da histórica revolta em 1990-91, quando um membro duma Juventude da direita assassinou um professor conotado com a esquerda, Nikos Temponeras). Eles utilizaram todas as recentes formas de comunicação, ocuparam centenas de escolas secundárias por todo o país e executaram múltiplas acções, desde as mais violentas às não violentas, actuações simbólicas fora do Parlamento ou frente às linhas policiais. A criatividade dos estudantes, de certo modo, contra-balançou as imagens projectadas nos media, que constantemente reproduziam videos de destruição, apedrejamento e fogo. Eles conseguiram tornar-se no instrumento para a larga legitimação da revolta, enquanto a liderança política e operacional da Polícia Grega e os media manipuladores fizeram o seu melhor para obter o contrário... Excerto de texto de

Ana Fortuna || Agripina Roxo || Artur Costa || Catarina Cruz || Carlos Xochicale || Diogo Carneiro || João Duarte || João Pedro Cruz || Edgardo Cecchini || Filipa Pedrosa || Igor Gonçalves || Liliana Pinho || Luísa Catita || José Ferreira || José Miranda || Maria Freitas || Maria Inês Marques || Maria João Fernandes || Maria João Silva || Mariana Sobral || Mariana Teixeira Santos || Marisa Ramos Gonçalves || Mónica Silva || Nuno Fonseca || Nuno Moniz || Paola Botelho || Sara Sousa || Susana Correia || Teresa Viana || Vera Lopes || Yiannis Bournous

Printer - Indústria Gráfica do Norte, S.A. Propriedade Núcleo de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário Redacção e Administração Rua Miguel Bombarda, 187 - R/C e Cave 4050-381 Porto, Portugal || Telefone 222039041 || Fax 222082375 || E-mail jup@jup.pt

imagem da capa Manuel Ribeiro Depósito Legal nº23502/88 Tiragem 10.000 exemplares Design logo JUP Bolos Quentes Design Editorial/Grafismo Joana Koch Ferreira Paginação Joana Koch Ferreira Pré-Impressão Jornal de Notícias, S.A Impressão Nave-

Yiannis Bournous e Tradução de Nuno Moniz

Apoios Reitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção Social da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude.

editorial As características singulares do centro histórico do Porto fizeram com que a UNESCO o classificasse de Património Cultural da Humanidade, em 1996. Passados 13 anos, sentimos que cada vez que uma das tascas típicas fecha as portas, o património que elas encerram se perde para sempre. As tascas são detentoras de património material mas, sobretudo, imaterial de grande valor, pois surgiram e desenvolveramse com a industrialização e com o movimento operário de finais do século XIX. As tascas que se perdem marcaram o desenho arquitectónico da cidade, foram sítios de tertúlias; conspirações e luta na época da implantação da República; de excessos de álcool e violência; de cumplicidades quando se ouviam, através dos rádios, os emissores clandestinos durante a ditadura; de receitas com segredos; de vinho servido das pipas; do fado vadio; do manguito do Zé Povinho; expressões típicas como “traçadinho”, “chamar pelo Gregório”. Hoje, as Tascas esvanecem no meio da desertificação do centro historio, dos centros comerciais, do MacDonalds, dos novos hábitos, da avaliação da ASAE, do tráfico, das novas gerações que já não as reconhecem como suas. O final de um ano é sempre tempo de fazer balanços e tempo de pensar em novos desafios. É neste contexto que a equipa do JUP vem apresentar uma nova rubrica, na editoria de cultura - Gourmet das Tascas. O objectivo é dar a conheceras as tascas da cidade, as estórias e memórias, os pratos típicos que oferecem. O que propomos, para este novo ano de 2010, é que trilhem a cidade em busca das tascas que vos damos a conhecer, entrem, sentem-se e saboreiem, calmamente, a cultura que vos servem à mesa. A equipa do JUP deseja-vos em bom Natal, dando garantias que em 2010 nos voltamos a encontrar e reforçamos o convite, aos nossos leitores, para se juntarem ao mais antigo órgão de informação estudantil do país. mariana jacob


JUP || DEZEMBRO 09

OPINIÃO || 31 Luisa Catita

Devaneios “Ele segurou-me a mão. Passou ao de leve os dedos pelo rosado da minha cara e sorriu. Tem um sorriso bonito ele. Um sorriso grande e umas mãos doces, mas não é quente. Não é o meu mar, nem o meu fogo. É só ele. E por isso choro”. Trocam-se os personagens, muda-se o capítulo anterior para que fique mais de acordo com o seguinte e (re)começa-se o exercício da escrita. Com algumas alterações, pois claro. O era uma vez não se repete, e o príncipe também não. O que mais dói de doer, é chegar ao décimo capítulo ou qualquer coisa por aí, com uma constante repetição de regras. Ajustar o capítulo anterior não é difícil, mas palavras para começar um novo exercício de escrita começam a rarear. Os dedos, esses, passam a sofrer de uma gaguez convulsa. E demora. Demora muito mais tempo. A experiência atrapalha o ofício e o cansaço de quem sente em demasia reflecte-se na ausência das palavras. O príncipe fica cada vez mais longe e o era uma vez esquecido, até ao dia da derradeira amnésia, o dia em que o escritor decide começar um novo livro ao invés de um novo capítulo. Era uma vez um príncipe encantado de um reino distante. Tinha um sorriso grande e umas mãos doces. Gostava das cores dos dias e dos cheiros. Sabia falar do Outono, e até sorrir. Sonhava sonhos distantes e sorria com o sorriso grande de quem sonhava os sonhos. Gostava de ter uma família e um cão. Gostava dela e para ela. Gostava de uma vida para viver e para amar. Um dia, de um dos seus muitos dias [1], o príncipe segurou-lhe a mão. Passou ao de leve os dedos pelo rosado da sua cara e sorriu. Só que os príncipes não existem e ela sabia e por muitas histórias que se reescrevam, não adianta começar livros sem passar pela derradeira amnésia. O ofício não pode ser manipulado. E sim, esta é uma história triste. “Ele segurou-me a mão. Passou ao de leve os dedos pelo rosado da minha cara e sorriu. Tem um sorriso bonito ele. Um sorriso grande e umas mãos doces, mas não é quente. Não é o meu mar, nem o meu fogo. É só ele. Por isso choro”. Agripina Roxo

[1]

Os príncipes vivem sempre muitos dias. E, de preferência felizes.


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