Conselho Editorial Anabela Lemos, Daniel Ribeiro, Janice Lemos, Ruben Manna, Samuel Mondlane e Vanessa Cabanelas Boletim informativo com a autorização Nr. 17/GABINFO-DEC/2007
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Mau Humor
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O combate à desertificação em Moçambique: Narrativa Vs Acção Assinalou-se a 17 de Junho o Dia Mundial de Combate à Seca e à Desertificação, data que se celebra desde 1994 com o objectivo de consciencializar o público sobre este tema e promover a Convenção das Nações Unidas para o combate à desertificação nos países afectados por seca grave e/ou desertificação, particularmente em África A desertificação é definida como sendo a perda da capacidade de renovação biológica das zonas áridas, semi-áridas e sub-húmidas, causada por variabilidades climáticas determinadas por causas naturais ou pela pressão das actividades humanas sobre os ecossistemas. Este fenómeno constitui uma das principais ameaças à humanidade, afectando cerca de um quinto da população mundial. Em África, cerca de 1 bilhão de hectares – 73% das terras secas do continente – estão moderada ou fortemente afectadas pela desertificação. Este ano, em Moçambique, celebramos esta data cientes de que são cada vez mais claras as evidências das mudanças climáticas no nosso país, e que os seus impactos, particularmente nas zonas áridas e semi-áridas – onde a escassez de água e a degradação do ecossistema são mais flagrantes – se estão a agravar.
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Já em 2013, sobre o cenário da desertificação no nosso país, num artigo cientifico denominado Panorama da Desertificação em Chicualacuala, Moçambique, os académicos Prof. Inocêncio Pereira (UEM) e Prof. Flávio Nascimento (Universidade Federal Fluminense) escreveram o seguinte: “Vastas regiões de Moçambique são susceptíveis à desertificação, dada à ocorrência de climas secos, que se distinguem por abranger áreas de recursos biológicos limitados comparados com a demanda crescente da população por estes recursos, mas principalmente, face à degradação da terra resultante da acção humana que se observou no passado e se regista no presente. (...) Estimativas do MICOA indicam que quase metade da superfície de Moçambique (do total de 799.380 km2 de terra firme) corre risco de desertificação e que a degradação do solo atinge cerca de 48% do País, sendo preocupante principalmente nas províncias de Gaza (que inclui o distrito de Chicualacuala) e Inhambane, no Sul, e de Sofala e Manica, no Centro.” Paradoxalmente, indiferente a este cenário, Moçambique insiste num modelo de desenvolvimento que pouco contribui para prevenção da desertificação e dos efeitos causados pela mesma. Referimo-nos à aposta em modelos de desenvolvimento agrícola focados quase que exclusivamente no agronegócio, na produção intensiva e na comercialização de monoculturas agrícolas – modelo este que implica a remoção da vegetação natural de grandes extensões de terra para dar lugar a commodities agrícolas que requerem, inevitavelmente, quantidades elevadas de água. A conversão da vegetação causa também efeitos devastadores sobre a degradação do solo e a redução do lençol freático, para além de induzir a perda da biodiversidade natural. Referimo-nos igualmente à aposta inconsequente na indústria de plantações de monoculturas de eucaliptos que, para além de contribuir para a usurpação de grandes extensões de terra, acarreta, na maioria dos casos, necessidades hídricas extremas, a conversão de floresta nativa em plantações e a ocupação de terras aráveis usadas por comunidades rurais, expondo-as desse modo a condições de vulnerabilidade, insegurança alimentar e pobreza extrema. Aliás, este modelo de “reflorestamento” baseado em monoculturas de árvores e não na diversidade de espécies arbóreas, sugere uma tendência de conversão de áreas de florestas nativas em Desertos Verdes. Essas “florestas plantadas”, por sua vez, são susceptíveis a incêndios de grande envergadura com efeitos severos e devastadores a nível humano e material. Datas como esta, não podem servir apenas para Moçambique reiterar a sua ratificação da Convenção de Combate a Desertificação, mas sim para fazer valer o compromisso assumido a 26 de Novembro de 1996, através de políticas e acções concretas de prevenção e combate à desertificação no país. Ao cidadão moçambicano em geral, aproveitamos a data para, mais uma vez, exortar cada um a contribuir para o bem-estar comum, optando por práticas sustentáveis para a preservação da natureza e do planeta.
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Bye bye Paris!
“A Justiça Ambiental e a Amigos da Terra Internacional condenam fortemente este acordo, considerando-o um acordo fraco que não conseguiu atingir a escala de acção necessária para prevenir perigosas mudanças climáticas.” Comunicado da Justiça Ambiental e da Amigos da Terra Internacional, 21 de Abril de 2016
– O Rei vai nu! – gritam agora aqueles que, como nós, chamaram logo à partida a atenção, não só para a mediocridade das metas acordadas em Paris, mas também para o perigoso “cada um dá o que quer” estatuído no acordo pelas denominadas iNDC’s (pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas). Apesar de então a larga maioria dos seres pensantes do planeta estarem longe de imaginar que Trump – assumidamente um céptico quanto às mudanças climáticas e ao aquecimento global – seria eleito presidente dos EUA, o carácter “macio” do acordo de Paris já deixava adivinhar os dissabores e desilusões que, agora, a saída radical de cena dos norte americanos pode desencadear. Ora, se como já aqui foi discutido no passado, alguns criam que o único ponto positivo do Acordo de Paris fora ao menos ter sido celebrado um acordo, a inoportuna retirada dos EUA pouco mais de um ano após ratificá-lo, vem – ao abanar violentamente os alicerces não só deste acordo, mas possivelmente até de quaisquer futuros acordos sobre o tema – provavelmente deitar por terra essa tese. Mas ao menos Trump foi franco. Poderia ter feito uso da natureza quase facultativa do acordo e ter-se deixado estar na corda bamba sem “fazer ondas”, mas não, com a prepotência que o distingue, o Chefe de Estado dos EUA presenteou o planeta com uma decisão tão controversa quão irresponsável e francamente burra (ou “contrária à inteligência humana”, como de forma mais politicamente correcta a rotulou o Ministro do Ambiente do Japão). Agora é esperar para ver quais serão as consequências. Publicamente, já diversos líderes e governos mundo afora pronunciaram o seu ultraje face à aparente insanidade de Trump, mas estamos convictos que dos bastidores políticos de várias nações do globo, outros loucos convenientemente se juntarão a Trump na trincheira da ignorância e da ganância. Mas como também já aqui foi dito no passado, às vezes é preciso um louco para unir o mundo.
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Curso para Activistas de Justiça Ambiental O segundo curso para activistas de Justiça Ambiental teve lugar de 15 a 19 de Maio. No total, teve 38 participantes, na sua maioria jovens, mas também algum pessoal de organizações parceiras. Este curso visava consciencializar e capacitar jovens interessados e envolvidos em trabalhos e causas sociais e ambientais para mais tarde se empenharem na análise e participação activa e monitoria crítica de políticas, projectos, programas e acções públicas no país. Foram vários os temas abordados na semana que decorreu o curso e todos eles muito interessantes e actuais: políticas e teorias de desenvolvimento, relações de poder, maldição de recursos, energia e mudanças climáticas, justiça vs injustiça ambiental, soberania alimentar, direitos e mecanismos de justiça/ activismo, crise planetária e justiça climática, conflitos e usurpação de terra e comunicação e arte para o activismo. Os temas foram apresentados pelos activistas da JA! e, para certas sessões, foram convidados activistas envolvidos nas lutas sociais e ambientais no país. As apresentações geraram importantes discussões, momentos de descontracção com exercícios interactivos onde foram retratados e trabalhados os inúmeros temas discutidos, salientando os valores que nos guiam, a solidariedade, o respeito pela dignidade humana, o nosso compromisso de não discriminação sob qualquer forma e o amor à causa de justiça ambiental e social. A JA! acredita na continuidade destas iniciativas e pretende realizar cursos destes anualmente, promovendo a cidadania, o activismo e a solidariedade.
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Rovuma: mais GÁS para as Alterações Climáticas Nos últimos dias, em Moçambique e não só, ouvimos vários dos nossos governantes reproduzir fielmente em seus altifalantes o mesmo discurso sobre as suas certezas quanto à resolução de quase todos os problemas do país, em virtude dos negócios fechados no sector de exploração de Gás natural – o garante do desenvolvimento, segundo eles, a amputação ambiental da Bacia do Rovuma, dizemos nós. Estas negociatas fazem-se acompanhar por um slogan político que levanta várias questões: “Moçambique está de volta.” De facto, o que os nossos governantes se esforçam por propalar é o hipotético crescimento económico que poderá advir da venda deste recurso, contudo, por exemplo, não falam dos seus reais impactos ambientais, que certamente irão pôr em causa o bem estar não-económico, sobretudo das pessoas directamente afectadas. A verdade é que além das possíveis mais-valias que o negócio do gás pode trazer, pouco se fala. No entanto, no âmbito deste negócio, o verdadeiro papel das avaliações de impacto ambiental volta a ser colocado a nu: legitimar e nada mais. Requisito obrigatório para a implementação de projectos como este, se estas avaliações fossem conduzidas de forma rigorosa, imparcial e como recomendam as regras (e Moçambique fosse um país sério, com governantes de facto comprometidos com um modelo de desenvolvimento sustentável e centrado nas pessoas), só pelos seus impactos ambientais, este projecto jamais seria aprovado. Sobretudo porque, tendo em conta que Moçambique é um dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas, – cujo nível de vulnerabilidade já é exacerbado pela exploração de carvão mineral em Tete – este tipo de empreendimento coloca o país numa situação paradoxal: como se explica que um país altamente vulnerável, ao invés de contribuir para a solução, continue, de forma recorrente e orgulhosa, a contribuir “em nome do desenvolvimento” para agravar o problema? E que desenvolvimento é esse, que contempla apenas o crescimento económico, remetendo para segundo plano o direito dos cidadãos em viver num ambiente são, com dignidade e saúde, entre outros direitos que constituem o bem estar não-económico da população? De que vale crescer economicamente por via da destruição planetária? Uma vez destruído o planeta, onde e como usufruiremos dessa riqueza? Ao longo dos últimos anos, – em virtude da crescente pressão no sentido de se abandonar o uso de combustíveis fósseis e, por essa via, se dar início ao necessário processo de transição energética – várias campanhas foram levadas a cabo para separar gás, de carvão e petróleo. Fazendo uso de falsas narrativas que retratam o gás como uma forma de energia alternativa e limpa, essas campanhas visam apagá-lo da infame lista dos combustíveis fósseis cujos impactos sobre o ambiente e o clima são desastrosos. Aliás, muitos decisores políticos e a
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grande indústria dependente de combustíveis fósseis, promovem o gás natural apelidando-o de “combustível-ponte”: um combustível de transição entre as tradicionais formas de energia (como o carvão) e as energias renováveis, até que estas possam ser implementadas em massa. Contudo, vários estudos expõem essa lógica como falaciosa porque, por um lado, o gás natural poderá estar a agravar a actual situação climática mais significativamente que o próprio carvão; e por outro, porque a possibilidade do gás poder vir a contribuir para a melhoria do acesso à energia eléctrica em Moçambique e/ou no continente é mínima. Quando o gás natural é liquefeito (como se pretende fazer em Moçambique), à enorme quantidade de energia dispendida no processo – pois para ser liquefeito, o gás natural tem de ser arrefecido a temperaturas muito baixas (cerca de -162º Celsius1) e esse processo de liquefacção custa 10% da matéria-prima2 – há que acrescentar ainda os custos ambientais do transporte, que são frequentemente omitidos. E porque o GNL, que precisa de ser mantido frio, é enviado longas distâncias, esses custos são significativos. Todo o processo de extracção, liquefacção, transporte, re-gaseificação e combustão em usinas, é altamente dispendioso, tanto em termos de energia como de carbono. De acordo com um estudo conduzido pelo Departamento de Energia dos EUA (DOE), as emissões de gases de efeito de estufa atribuídas ao 3 GNL são quase o dobro das emissões imputadas ao gás natural convencional. Um outro estudo do DOE estima que o processo de liquefacção, transporte e regaseificação aumenta o ciclo de vida total de emissões de gases de efeito estufa da indústria de gás natural em 15%.4 Um terceiro estudo, da Comissão Europeia, conclui que o GNL é pior para o clima do que o carvão.5 Um outro aspecto importante (e que tem sido igualmente ignorado) relativamente ao gás natural, é o facto do seu principal composto ser o metano, que constitui um poderoso e perigoso gás de efeito estufa. Apesar do poder nocivo do metano, os seus efeitos climáticos não têm sido devidamente contabilizados, o que significa que o impacto do gás natural no aquecimento global tem sido subestimado. Algumas estimativas colocam a taxa de vazamento do metano na fase de produção de petróleo e gás em 17%,6 sendo que ainda mais metano se perde ao transportá-lo, normalmente por meio de gasodutos.7 Essas fugas são omitidas e tratadas de forma leviana como forma de proteger os interesses económicos das grandes multinacionais que controlam o sector. De acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o metano é um gás de efeito estufa 87 vezes mais potente que o dióxido de carbono num período de 20 anos.8 Por força dos interesses em continuar a promover a exploração do gás natural, alguns dos estudos sobre os impactos do metano compreendem um período de 100 anos, o que não é adequado para se avaliarem os reais impactos do metano, nomeadamente quanto ao aquecimento global. O recomendável é que sejam considerados períodos de até 20 anos, pois estes reflectem mais fielmente o forte impacto do metano a curto prazo, uma vez que o seu tempo de vida na atmosfera é de cerca de 12 anos. Assim sendo,
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tendo em conta as exigências da ciência face à necessidade de reduzirmos significativamente a emissão de gases de efeito estufa durante a próxima década – de modo a limitarmos os impactos das mudanças climáticas – é imperativo que tomemos em conta o impacto a curto prazo do metano no aquecimento do planeta. Ainda de acordo com estudos científicos, desta feita realizados pela Universidade de Cornell, num período de 20 anos, tanto o gás de xisto como o gás natural convencional apresentam um maior impacto climático do que o carvão ou o petróleo9 – conclusão que, curiosamente, se baseia no facto do gás natural ser composto, em grande parte, por metano, que é muito mais eficaz na retenção de calor na atmosfera do que o dióxido de carbono. Ou seja, as emissões de metano, ainda que em pequenas quantidades, podem ter uma pegada climática superior às emissões de dióxido de carbono. No caso específico do GNL, porque depois de liquefeito o gás é transportado, regaseificado, e novamente transportado ao seu destino final através de gasodutos ou de outros meios de transporte, o risco de perda de metano é ainda maior. Outro estudo sobre metano e outros gases, realizado no estado do Colorado nos EUA, revela ainda outra problemática. A análise do estudo revelou que as empresas cobaia emitiam três vezes mais do que os seus relatórios mostravam.10 Esta constatação levanta sérias perguntas quanto à idoneidade e à capacidade dos responsáveis por projectos em estimar correctamente e monitorar as emissões nos locais de extracção de gás natural, usinas e infra-estruturas relacionadas, assim como nos terminais de exportação de gás natural liquefeito.11 Resumidamente, mesmo considerando uma baixa taxa de vazamento, qualquer hipotético benefício para o clima, ao substituir o carvão pelo gás natural, acaba por ser contrabalançado, por um lado, pelas fugas de metano e, por outro, pela marginalização das energias renováveis.12 A exploração de gás natural levanta várias questões quanto à genuinidade do interesse manifestado em desenvolver o país com base num modelo sustentável; pois para que o país se possa desenvolver sustentadamente, é fundamental que se dêem passos largos no sentido de abandonar o modelo baseado em combustíveis fósseis, e que se abracem, de uma vez por todas, as energias limpas e renováveis. Até porque a promoção e o investimento em gás natural (como energia limpa), além de fraudulentos, acabam por constranger o financiamento/ promoção/ crescimento das fontes de energia renováveis. Importa ainda mencionar que mesmo quando o gás natural deixa de ser extraído, os locais de extracção podem continuar a libertar metano, de forma significativa, por período indeterminado. Um exemplo recente de alguns dos riscos associados ao gás natural, é o caso do enorme vazamento de gás natural que ocorreu há um ano, num armazenamento perto de Los Angeles, e que resultou na libertação de mais de 97.000 toneladas métricas de metano.13 Durante o auge do vazamento, a quantidade de metano 14 emitida diariamente foi equivalente a adicionar 7.000.000 de carros na estrada.
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Esse único vazamento de gás foi a maior contribuição da Califórnia para as mudanças climáticas.15 Além do seu impacto no clima, o vazamento também representou um risco de segurança grave, obrigando milhares de famílias próximas a serem evacuadas de suas casas, e levando o governador da Califórnia 16 a declarar Estado de Emergência. Se este tipo de incidentes ocorre em países como os EUA, munidos de recursos, e profissionais experientes e competentes em todos os ramos, que garantias existem que não ocorrerão em países em desenvolvimento como Moçambique? Entre outros aspectos, a fragilidade que caracteriza as nossas instituições, bem como a nossa limitada capacidade técnico-profissional, logística e financeira para monitorar adequadamente projectos dessa magnitude, aliada ainda à complexidade do sector e às jogadas neoliberais dos barões do grande capital que o caracterizam, certamente não oferecem garantia alguma. Mas, independentemente desta problemática socio-ambiental, será a exploração de gás natural um investimento inteligente? A verdade é que, num período em que o uso de carbono tem de ser limitado, projectos de grande capital como estes acarretam cada vez mais o risco de se tornarem em activos ociosos caso as suas emissões se tornem incompatíveis com os requisitos de redução de emissões estipulados. Até 2035, projecções indicam que 379 bilhões de dólares em novos investimentos em GNL tornar-se-ão incompatíveis com as reduções necessárias para evitarmos um aumento de temperatura média global de 2º Celsius – uma meta já perigosamente alta,17 uma vez que a larga maioria da comunidade científica defende que esse aumento deveria ser mantido abaixo de 1,5º Celsius. Ou seja, um investimento em gás natural em Moçambique não só contribuiria para o agravamento das mudanças climáticas – um problema que promete vir a assolar-nos violentamente, mas também constituiria um investimento de risco face à actual conjuntura política em torno desta questão da redução de emissões. 1 Joe Romm, Exporting Liquefied Natural Gas Is A Dreadful Idea For The Climate, THINK PROGRESS, Mar. 12, 2014 2 U.S. ENERGY INFORMATION AGENCY, EFFECT OF INCREASED LEVELS OF LIQUEFIED NATURAL GAS EXPORTS ON U.S. ENERGY MARKETS (2014); GWYNNE TARASKA & DARRYL BANKS, THE CLIMATE IMPLICATIONS OF U.S. LIQUEFIED NATURAL GAS, OR LNG, EXPORTS (2014) 3 TIMOTHY J. SKONE, ROLE OF ALTERNATIVE ENERGY SOURCES: NATURAL GAS TECHNOLOGY ASSESSMENT, DOE/NETL-2012/1539 (2012); ANTHONY ZAMMERILLI ET AL., ENVIRONMENTAL IMPACTS OF UNCONVENTIONAL NATURAL GAS DEVELOPMENT AND PRODUCTION, DOE/NETL-2014/1651 (2014) 4 TIMOTHY J. SKONE ET AL., LIFE CYCLE GREENHOUSE GAS PERSPECTIVE ON EXPORTING LIQUEFIED NATURAL GAS FROM THE UNITED STATES, DOE/ NETL-2014/1649 (2014) 5 B. KAVALOV, H. PETRI´C, & A. GEORGAKAKI, LIQUEFIED NATURAL GAS FOR EUROPE – ROME IMPORTANT ISSUES FOR CONSIDERATION (2009) 6 Oliver Schneising et al., Remote Sensing of Fugitive Methane Emissions from Oil and Gas Production in North American Tight Geologic Formations, 2 EARTH’S FUTURE 548 (2014) 7 Kathryn McKaina et al., Methane Emissions from Natural Gas Infrastructure and Use in the Urban Region of Boston, Massachusetts, 112 PROC. NATURAL ACAD. SCI. 1,941 (2015) 8 IPCC, WORKING GROUP I CONTRIBUTION TO THE IPCC FIFTH ASSESSMENT REPORT CLIMATE CHANGE 2013: THE PHYSICAL SCIENCE BASIS (2013) 9 Robert W. Howarth, A Bridge to Nowhere: Methane Emissions and the Greenhouse Gas Footprint of Natural Gas, ENERGY SCI. & ENG’G (2014); Robert W. Howarth, Renee Santoro & Anthony Ingraffea, Methane and the Greenhouse-Gas Footprint of Natural Gas from Shale Formations, CLIMACTIC CHANGE (2011) 10 Gabrielle Pétron et al., A New Look at Methane and Nonmethane Hydrocarbon Emissions from Oil and Natural Gas Operations in the Colorado Denver-Julesburg Basin, 119 J. GEOPHYSICAL RES.: ATMOSPHERES 6,836 (2014) 11 Estas medições provavelmente nem sequer refletem adequadamente a extensão do vazamento de metano porque estes estudos são muitas vezes realizados com a cooperação da indústria, o que significa que eles são muitas vezes os locais com as mais baixas taxas de vazamento. .E.g., Press Release, Robert Howarth, Cornell University, Allen et al., Paper in the Proceedings of the National Academy of Sciences, Sept. 11, 2013 12 Christine Shearer et al., The Effect of Natural Gas Supply on US Renewable Energy and CO2 Emissions, 9 ENVTL. RES. LETTERS 1; Steven J. Davis & Christine Shearer, Climate Change: A Crack in the Natural-Gas Bridge, 514 NATURE 436 (2014); Haewon McJeon, Limited Impact on Decadal-Scale Climate Change from Increased Use of Natural Gas, 514 NATURE 482 (2014) 13 S. Conley et al., Methane Emissions from the 2015 Aliso Canyon Blowout in Los Angeles, CA, SCI. (2016) 14 Suzanne Goldenberg, A Single Gas Well Leak is California’s Biggest Contributor to Climate Change, THE GUARDIAN, Jan. 5, 2016 15 Id. 16 Haya El Nasser, California Governor Declares State of Emergency at Gas Leak Site, AL JAZEERA AM., Jan. 6, 2016 17 JAMES LEATON ET AL., CARBON SUPPLY COST CURVES: EVALUATING FINANCIAL RISK TO GAS CAPITAL EXPENDITURES 9 (2015)
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Notícias Internacionais Incêndios florestais em Portugal: resultado da indústria da madeira Os incêndios florestais em Portugal vêm sendo chamados de “o pior desastre desse tipo na história recente”. Dezenas de pessoas morreram em seus carros enquanto tentavam escapar do fogo. Mas essa tragédia terrível foi causada pela acção humana. Um quarto da paisagem florestal de Portugal (mais de 812 mil hectares ou 2 milhões de acres) foi substituída por plantações de eucalipto não nativas. Além disso, há imensas plantações de pínus (pinheiro). Oliver Munnion, codiretor da Biofuelwatch, mora na região dos incêndios florestais de Portugal. “Nós passamos a noite em uma escola local depois que cerca de 30 aldeias foram evacuadas na nossa região. As notícias dizem que um quarto do município foi queimado. Até agora nós tivemos sorte, e ainda temos a nossa casa, mas muita gente perdeu tanta coisa”. “É hora de encarar a realidade de que as vastas plantações de eucalipto e pínus de Portugal, e a corrupção e o lucro que vêm com elas, são o principal motivo pelo qual o país queima todos os anos. Juntem-se a isso os impactos das mudanças climáticas, que trazem temperaturas mais altas e a seca, e a nossa área tem pouca chance. E o verão apenas começou”, acrescentou. Assim como os que devastaram partes do Chile em janeiro – os piores da história do país – os incêndios em Portugal foram o resultado de uma indústria madeireira imprudente e mal regulada, bem como de políticas internacionais que chamam equivocadamente as plantações industriais de árvores de “florestas”. [1] “Nos incêndios do Chile e de Portugal, o culpado foi o lobby da indústria por subsídios estatais para plantações de madeira”, afirmou Felipe Grez, membro da OLCA no Chile. “Plantações de eucalipto inflamáveis e que consomem muita água têm se expandido por toda a paisagem, graças a esses perigosos esquemas de subsídio estatal que, no caso do Chile, surgiram durante o regime de Pinochet. As plantações chegam até os limites das estradas e das cidades, tornando inevitáveis os incêndios desastrosos. Nós não apenas condenamos esse flagrante desrespeito pela vida, mas também o futuro desejo da indústria de usar árvores geneticamente modificadas – o que vai piorar ainda mais esses problemas”. [2] A Campanha para deter árvores transgênicas [3] adverte que uma nova ameaça está surgindo das plantações de eucalipto geneticamente modificadas. Os eucaliptos transgênicos estão sendo desenvolvidos para crescer mais rápido, resistir a herbicidas tóxicos e/ou tolerar temperaturas abaixo de zero. Essas características agravariam os impactos das plantações e as espalhariam para novas regiões que atualmente são muito frias para que o eucalipto cresça. Os eucaliptos transgênicos foram aprovados no Brasil em 2015, e agora o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos está aceitando comentários públicos sobre um projeto de Declaração de Impacto Ambiental que recomenda a aprovação da liberação em grande escala de plantações de eucalipto transgênico em todo o Sul do país. “Ambas as tragédias, no Chile e em Portugal, devem fazer soar o alarme com relação aos planos para plantações de eucaliptos transgênicos no Sudeste dos
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Estados Unidos”, acrescentou Anne Petermann, Diretora Executiva do Global Justice Ecology Project, com sede naquele país, e Coordenadora Internacional da Campanha para Deter as Árvores Transgênicas. “Esta região já sofre com secas repetidas devido às mudanças climáticas. A proposta de plantar um milhão de acres de eucaliptos transgênicos inflamáveis, invasivos e que drenam a água na região é uma receita clara para incêndios desastrosos”. NOTAS [1] A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estabelece a definição internacional legal de florestas. Essa definição é vaga (terra com cobertura de copa ou nível de estoque equivalente de mais de 10% e área de mais de 0,5 hectare (ha). As árvores devem atingir uma altura mínima de 5 metros (m) na maturidade in situ.) e permite a destruição das florestas e sua substituição por monoculturas de árvores. No entanto, isso não é considerado desmatamento, embora toda a biodiversidade tenha desaparecido. Há um abaixo assinado global exigindo que a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação altere sua definição de floresta para excluir as plantações de árvores. O documento tem mais de 130.000 assinaturas, mas a FAO se recusa a tomar qualquer atitude. [2] Em março de 2017, o OLCA (Observatório Latino-Americano de Conflitos Ambientais) organizou uma delegação da Campanha para Deter as Árvores Transgênicas cujo objetivo era examinar os impactos das plantações industriais de árvores no Chile. O grupo inclusive percorreu a região queimada pelos incêndios florestais. Eles também falaram com organizações locais, membros da comunidade e representantes mapuches sobre esses impactos e sobre as consequências futuras do uso de plantações de eucaliptos ou pinheiros geneticamente modificados. No início deste mês, o OLCA ajudou a organizar manifestações e eventos paralelos para protestar contra a Conferência de Biotecnologia de Árvores da União Internacional das Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO), em Concepción, no coração da região dos incêndios florestais.[3] A Campanha para Deter as Árvores Transgênicas é uma coalizão global de organizações e redes dedicadas à proteção de florestas, biodiversidade e comunidades dependentes da floresta, através da rejeição global de todas as árvores geneticamente modificadas. Ela inclui geneticistas, silvicultores, ecologistas, biólogos, cientistas de plantas, povos indígenas e outros especialistas nos impactos das plantações de monocultivos para produzir madeira. Esses especialistas têm trabalhado sobre o problema das árvores transgênicas e dessas plantações de monocultivos há décadas. As organizações na Campanha incluem Biofuelwatch (EUA e Reino Unido), Canadian Biotechnology Action Network, Movimento de Libertação de Campo (Bélgica), Friends of the Earth Melbourne (Austrália), GE Free New Zealand, Global Justice Ecology Project (EUA), Indigenous Environmental Network ( América do Norte), OLCA: Observatório Latinoamericano de Conflitos Ambientales (Chile) e Movimento Mundial de Floresta Tropical (Brasil e Uruguai). O geneticista Dr. Ricarda Steinbrecher da EcoNexus e a Federação dos Cientistas Alemães é o assessor científico da Campanha. Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ivonete Gonçalves. Site: racismoambiental.net.br/2017/06/23/incendios-florestais-em-portugal-resultadoda-industria-da-madeira/
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