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Prosavana –Mudança de estratégia Quem tem vindo a acompanhar as discussões em torno do Programa Prosavana já deve se ter apercebido que existem pelo menos duas percepções, dois discursos que não podiam ser mais diferentes, o do governo, ou melhor dos proponentes do programa e o de algumas organizações da sociedade civil... Para o governo este programa vem resolver quase todos os problemas ligados ao sector no Corredor de Nacala, vai transformar milagrosamente os pequenos e médios agricultores em grandes produtores competitivos orientados para uma agricultura de mercado; vai ainda assegurar que aqueles que não abandonam a agricultura de pousio e se transformam também terão um lugar privilegiado neste programa pois terão toda a sua produção, as culturas a produzir ainda serão definidas, comprada pelos grandes produtores a um preço justo, haverá vias de escoamento para o excedente agrícola, enfim, o programa Prosavana é segundo os proponentes a resposta e solução aos problemas de baixa produtividade agrícola, à agricultura de pousio praticada pelos pequenos agricultores, pobreza, fome, etc... Por vezes foi ainda mencionado pelos mesmos proponentes do programa que o programa vai promover a agricultura orgânica, as sementes nativas, adubos naturais, enfim uma série de conceitos e práticas muito progressistas e muito positivas. No entanto, é preciso ler as entrelinhas, e não ficar apenas pelos discursos bonitos, porque o que tem sido “falado” não corresponde ao que tem sido “escrito”, pelo menos ao pouco a que temos tido acesso. Até há muito pouco tempo o Governo mostravase mudo às preocupações de algumas organizações da sociedade civil, em dois grandes encontros de que já falamos em edições anteriores nomeadamente a Conferência Triangular dos povos – Moçambique, Brasil e Japão e a II Conferência Internacional Camponesa sobre a Terra, organizada pela UNAC. Nestes dois encontros o Prosavana foi largamente questionado e contestado, e os representantes do Governo aí presentes limitavamse a repetir vezes sem conta o mesmo discurso desprovido de dados, factos ou até verdades...
Uma estratégia foi deixarnos falar sem nunca responder às questões de facto, sem nunca passar a informação solicitada mas informando sempre que não estão a recusar, como é o caso das versões preliminares do Plano Director que se diz ainda não existirem...verdade é que mesmo sem a recusa continuamos à espera dos documentos. Recentemente vimos uma mudança de estratégia, sentamos à mesma mesa para dialogar...assim foi...e qual foi o diálogo? O diálogo foi nada mais do que dialogar sobre em que termos poderá ocorrer um diálogo entre a sociedade civil e os proponentes do Prosavana...confuso? com certeza!!!
Foto:D.Ribeiro
Edição # 29: 5 de Dezembro 2013
....com certeza!!! Sem dúvida alguma...mas foi precisamente isto! Acredito que muito brevemente haverá uma grande publicidade a este diálogo entre os proponentes e as organizações da sociedade civil, querendo fazer parecer que já estamos todos juntos, já estamos de acordo porque estamos agora a dialogar! Isto não é verdade... a verdade é que mantemos todas as preocupações e questões já colocadas em diversos pronunciamentos, desde a carta aberta até às várias posições tomadas...é preciso ser claro, continuamos na mesma situação, o Prosavana não é o programa adequado para nós moçambicanos. É preciso ter muita atenção pois é assim que se consegue avançar com estes processos sempre “tão transparentes” e tão “cheios de boas intenções”!!!
Quero acreditar que é possível sentar e dialogar de facto, que é possível participar num processo de construção de um programa dos camponeses para os camponeses, um programa que vise realmente melhorar as condições de vida e trabalho deste tão grande e tão importante sector que é a agricultura familiar, mas o Prosavana não é isso! O Prosavana é uma má experiência importada do Brasil, um exemplo perfeito de abordagem do topo para a base, um processo iniciado e conduzido apenas ao mais alto nível... sem espaço ou interesse pelos “meros mortais”...
Para todos os nossos leitores, parceiros, amigos e para todo o Povo Moçambicano Este é o nosso ultimo boletim do ano de 2013, iremos fazer um pequeno descanso de um mês e voltaremos a publicar este boletim a partir de Fevereiro de 2014. Gostaríamos entretanto desejar umas festas felizes a todos, infelizmente este não foi dos melhores anos para Moçambique e para os Moçambicanos e nao temos muitas coisas para comemorar pois aconteceu muita desgraça e infelicidade ao longo de todo o ano! Esperemos que 2014 seja um ano mais próspero, com mais justiça social e menos violência! Estamos Juntos Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos, Ruben Mana e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha / Editor : Ruben Mana
Uma simples meditação ou talvez um recordar de um (in)feliz ano de 2013! Nós humanos gostamos muito de chegar a esta altura, no final do ano e começar a recordar o que foi feito durante o ano que passou, o bom ...o mau...o belo e o horrível...! Pois é amigos, este ano para Moçambique, (sem estar aqui a falar do resto do Mundo) foi um ano que se poderá dizer “para esquecer”, contase pelos dedos as coisas boas que aconteceram ou então são tantas e tão más que as outras ficam esquecidas e perdidas pelo caminho! O ano começou já com uma ameaça de guerra nas nossas cabeças, com discursos belicistas que se estenderam até a Abril e Julho, depois de muitas reuniões para dialogar, debater, pesquisar e analisar todas as políticas discutidas, de nada serviu pois diziase que se queria a paz enquanto que as acções mostravam completamente o contrário....E a coisa piorou neste final do ano de 2013....emboscadas na estrada, mortes e violência! Ao mesmo tempo foram os sequestros e raptos na cidade de Maputo, Beira e Nampula e sempre a piorar de dia para dia, uma pessoa hoje, uma criança amanhã, uma mulher no dia seguinte assim constantemente a toda a hora, crianças, homens e mulheres eram ameaçadas em casa, na rua ou no local de trabalho e levadas como reféns pelos raptores.... e assim o pânico instalouse na sociedade moçambicana! Quando as coisas começaram a piorar de tal forma, os moçambicanos resolveram unirse e dizer BASTA ….e assim aconteceu, uma marcha pacífica com milhares de moçambicanos cansados já de tanta violência, guerra, raptos, prepotência, racismo...e gritaram bem alto a sua insatisfação...o Poder estremeceu nesse dia! Depois vieram as eleições e muita gente pensou e agiu...vou tentar mudar as coisas com o meu voto, não havia grandes alternativas mas valia a pena tentar, pelo menos equilibrar as coisas, tirar um pouco o poder absoluto e dividilos com outros …!Talvez resultasse... Mas mais uma vez a máquina toda poderosa espalhou os seus tentáculos e assim com as artimanhas e fraudes do costume abafou mais uma vez o desejo do Povo! Até quando isto continuará assim? eu pergunto... Pois é este ano de 2013 é para esquecer para a grande maioria dos moçambicanos honestos, trabalhadores, empreendedores... mas muitos mais anos virão ...e o futuro... esse... um dia será de todos nós! A luta continua!
Jatrofa – Onde estão os resultados da cultura
Já se passaram pouco mais de cinco (5) anos desde que tivemos informação de que a província de Niassa seria um dos locais de referência na produção de biocombustivel a partir da cultura de Jatrofa. No âmbito da implementação desta iniciativa, a empresa Luambala Jatrofa Lda foi uma das que esteve encarregue de assegurar o sucesso desta iniciativa através da execução de várias actividades incluindo o estabelecimento de uma indústria de transformação e processamento.
A empresa Luambala Jatrofa Lda operacionaliza as suas actividades no distrito de Majune, posto Administrativo de Malanga que dista cerca de 100 km da capital provincial Lichinga. O investimento conta com capital proveniente a partir da sociedade institucional entre a empresa CHIKWETI FORESTS OF NIASSA SA e SILVESTRIA UTVECKLING AB que na altura, de acordo com o publicado no BR nº 15, III Série, Supl., de 15 de Abril de 2009 pág. 288(13) a 2 contava com cerca de 100.000, 00 MT. É de referir que naquele período o governo moçambicano, através do presidente Armando Guebuza, fez referência ao cultivo da jatrofa como sendo a solução à problemática do aumento frequente do preço dos combustíveis fosseis que se verificava no mercado internacional e consequentemente em Moçambique durante a crise económica mundial. Foram realizadas, por parte do executivo moçambicano, várias acções de sensibilização da população do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo, sobre a suposta importância económica que esta cultura representa para o país, tanto que tal acção criou muita expectativa no seio dos agricultores locais ao ponto de parte deles dedicar grande tempo e esforço no cultivo da jatrofa em detrimento de culturas alimentares. Todavia, falouse dos supostos benefícios da cultura da jatrofa, como sendo uma cultura tolerante à seca e de elevada relevância no combate à erosão para além de ser resistente a doenças e pragas, sem no entanto terse revelado outros aspectos por sinal não menos importantes, como o facto de ter propriedades tóxicas e não só, pois de acordo com o De Rosário (2006), a jatrofa é uma planta que se desenvolve em qualquer agroecossistema e pode tornar se uma espécie invasora com efeitos negativos sobre a biodiversidade natural e o consumo da sua semente pelo homem pode causar efeitos nocivos como vómitos, desidratação, agitação e efeitos negativos no sistema nervoso. Ademais numa análise à jatrofa, protagonizada em 2009 pela JA e UNAC, " Jatropha, uma armadilha?As realidades do cultivo da Jatropha em Moçambiqueo"(I), mostrou que esta cultura, tal como muitas outras, requer cuidados para o seu desenvolvimento e estão susceptíveis a ataques de pragas e outras doenças. Após tanta expectativa criada em volta da cultura da jatrofa, era de se esperar que fosse possível ver resultados positivos, como automóveis a circular com o biocombustível produzido através da jatrofa, ou pelo menos verficar melhorias nas condições de vida das comunidades rurais produtoras da jatrofa. No entanto, o que se verificou foi o contrário, as comunidades afirmam ter sido “ uma lição aprendida para posicionamentos futuros”. Até aos dias de hoje, pelo menos na província de Niassa, há famílias camponesas com frutos da jatrofa em casa à espera dos supostos compradores, até este dia chegar não sabe ao certo o que fazer com a cultura tão divulgada como esperança de um futuro promissor para Moçambique e para as famílias moçambicanas, ou seja, que destino dar a esta “milagrosa” cultura armazenada já à muito tempo nas casas de alguns produtores locais? No local, A Justiça Ambiental constatou que actualmente a Luambala Jatrofa Lda, está a remover toda a plantação de jatrofa estabelecida nos seus campos de cultivo para dar lugar à plantação de soja que se diz ter maior produtividade.
São cerca de 60 trabalhadores espalhados pela plantação dedicandose ao corte e empilhamento dos ramos da jatrofa e segundo um dos representantes de trabalhadores daquela plantação, a jatrofa não está ser útil como se esperava, não está ser adequada para produção de biocombustivel e o rendimento por hectare não atingiu a percentagem esperada.
Facto curioso, é que os que estiveram fortemente envolvidos na mobilização para o cultivo da jatrofa, ainda não voltaram a tocar no assunto para dar a conhecer ao público no geral sobre o actual estágio da iniciativa, reais ganhos ou perdas que se obteve, como forma de se tirar lições aprendidas para iniciativas futuras, aliás seria interessante o pronunciamento das entidades governamentais para esclarecer o que se passou com o grande sonho da indústria da jatrofa.
(I) www.foei.org/en/resources/publications/...jatropha...jatrophain.../view
Portucel – mais um caso de conflitos de terra
Nos últimos 10 anos, em Moçambique, temse denunciado vários casos de conflito de terras entre investidores privados, produtores e camponeses. Estes casos parecem ser ignorados pelas entidades governamentais pois não estão a ser tomadas quaisquer medidas para reverter estas situações e evitar situações futuras.
O investimento, orçado em cerca 1,7 mil milhões de euros equivalentes a 2,3 mil milhões de dólares, que será financiado pelo International Finance Corporation (IFC), membro do Grupo Banco Mundial e prevê o estabelecimento de plantações de eucaliptos, produção de papel e de energia em Moçambique.
Os projectos de plantações florestais têm ganho cada vez mais protagonismo neste processo de aquisição e disputa de terras, e têm entrado em sérios conflitos com as comunidades que chegam ao ponto de incendiar as plantações, como uma das formas de manifestar a sua grande insatisfação e revolta pelas injustiças a que estão sujeitos.
De acordo com o comunicado oficial da empresa “presentemente, estão a ser iniciados os indispensáveis ensaios florestais, que precedem o início da plantação nas áreas concessionárias, de modo a avaliar a viabilidade das plantações de eucalipto”. Esta informação tornase pública após a Justiça Ambiental (JA!), em Julho de 2012, ter efectuado um trabalho no distrito de Ile, província da Zambézia, na comunidade de Socone no Posto Administrativo do mesmo nome, onde a Portucel já se encontra a operar, desde Fevereiro de 2011, segundo as nossas fontes locais (comunidades afectadas).
A Portucel Moçambique, é um projecto pertencente ao grupo português Portucel, proprietário de grandes áreas de plantações e que se dedica ao fabrico e comercialização de papel e outros derivados de madeira. De acordo com informações noticiadas pela Lusa (22 de Outubro), a primeira fase do projecto Portucel em Moçambique consiste em estabelecer novas plantações de eucaliptos nas províncias centrais de Zambézia e Manica numa área de 60 mil hectares, mas a empresa portuguesa tem um plano de reflorestação que pretende cobrir 356 mil hectares até 2026.
Em Socone, foram inquiridas e entrevistadas respectivamente 32 e 47 pessoas, entre elas membros das comunidades afectadas, régulos e líderes comunitários.
Segundo os entrevistados a comunidade rejeitou o projecto porque temiam perder as suas terras, pelo que o chefe do Posto Administrativo de Socone, reuniu os líderes comunitários para que não tomassem nenhuma posição que pudesse influenciar a população local a rejeitar o projecto. “O chefe do Posto proibiu os líderes comunitários de se pronunciarem ou tomarem qualquer decisão sobre a terra e a entrada da Portucel, então eles não falaram mais sobre o assunto e ficaram calados” – revelou um dos membros da comunidade. Segundo os entrevistados, em Fevereiro de 2011, quando a Portucel iniciou as suas actividades aliciou os membros comunitários a vender as suas machambas com promessas de emprego. Emprego este que segundo eles não durava mais do que uma semana e auferiam entre 80 a 100 MT por dia. Fora as terras que lhes “pertenciam” a empresa colocou as máquinas nas machambas da população, removendo as culturas aí existentes para plantarem as mudas de eucalipto e parte deles viram as suas machambas rodeadas de eucaliptos. Foi a quando da visita do governador da província ao local, na altura Francisco Itai Meque, que fizeram a queixa e este disse que iria mandar fazer um levantamento das pessoas afectadas e que perderam as suas terras para solucionar o problema. Enquanto que alguns investidores privados caracterizamse por actuar de forma irresponsável e por diversos casos de violação de direitos das comunidades rurais, que na sua maioria já ocupavam as terras há mais de uma década, existem outras empresas do mesmo ramo com atitudes a louvar. O exemplo disso é a SAPPI (originalmente Indústrias Sul Africanas de Polpa e Papel) que de acordo com o documento apresentado por Simon Norfolk na Conferência Anual do Banco Mundial Sobre Terra e Pobreza em Abril de 2012 em Washington, havia planeado, em 2008, uma plantação de eucalipto de 150 000 ha na província da Zambézia nos distritos de Gurué, AltoMolocuè e Gilé, mas que na reunião de quadros da SAPPI que decorreu em Maio de 2010, foi tomada a decisão que “os riscos relacionados à segurança alimentar, a estabilidade económica e aos impactos ambientais são demasiado complexos e grandes para que o projecto prossiga”, e foi acrescentado que dois dos distritos seleccionados para o desenvolvimento da plantação são áreas com elevado potencial agrícola.
Há que salientar que pelo menos até ao ano passado (2012) a Portucel, era a empresa com maior concessão de terras na sua posse. Mas infelizmente estas concessões estão associadas ao fenómeno ¨usurpação de terras¨, pois em muitas das áreas em que se localizam essas terras, as mesmas foram adquiridas e ocupadas sem o consentimento das comunidades e famílias que lá viviam (exproprietários) onde praticavam a agricultura, sua única fonte de rendimento e subsistência, hoje estão marginalizadas como resultados deste investimento, colocando em risco a sua segurança alimentar e soberania.
Sociedade Civil abandona as negociações climáticas em Varsóvia, afirmando que a esperança reside no fortalecimento do poder dos povos A delegação dos Amigos da Terra Internacional, incluindo a Justiça Ambiental (JA! , FoE Moçambique), juntaramse a 800 pessoas de movimentos sociais, ONGs e sindicatos num massivo protesto na forma de abandono das negociações climáticas COP19. As nossas camisetes traziam a mensagem “os poluidores falam, nós saimos” e “estaremos de volta”, na medida em que nos fortalecemos para o COP20 no Peru no próximo ano. Alguns dos comunicados de imprensa produzidos: FoEI press release:http://www.foei.org/en/latestnews ...FoEE press
Financeirização de Àgua exposta no relatório dos (FOEI), que inclui críticas à proposta barragem de Mphanda Knuwa Dia 2 deDezembro, a Friends of the Earth International (FoEI) lançou um novo relatório expondo como as estratégias comerciais e de investimentos, incluindo as negociações da OMC, atuam como motores económicos da financeirização de água.O relatório está disponível online em: www.foei.org/.../publications/.../Economic%20drivers%20of%20water%...
A Justiça Ambiental (JA!, FoE Moçambique) providenciou um caso de estudo, chamado de “Não prejudique a nossa vida” expõe a forma como a proposta barragem de Mphanda Nkuwa irá devastar ainda mais o vale do Zambeze e foi acompanhada por casos da Argentina, Austrália, Colômbia, El Salvador, Inglaterra, México, Palestina, Sri Lanka, Suíça, Estados Unidos e Uruguai. Os casos mostram os crimes de muitas corporações, instituições financeiras, acordos comerciais e estratégias de cooperação que estão a abrir caminho para a privatização da água e financeirização.
Um decisão surpreendente pois a própria Sappi tem já uma péssima fama em termos de impactos ambientais e sociais.
Restanos perguntar: Se a Sappi não tivesse desisitido do projecto por iniciativa própria, quem pagaria o preço de transformar terras ricas para agricultura em plantações? O povo, claro! Que não tem onde remeter as suas preocupações porque os elementos que supostamente deveriam defender os seus direitos, são os mesmos que dizem que em Moçambique há terras aráveis disponíveis e sem nenhuma ocupação.
Um caso de estudo chocante neste relatório expõe as principais injustiças de água enfrentadas pelos Palestinianos nos Territórios Palestinos Ocupados (Cisjordânia e Faixa de Gaza). A distribuição desigual de água e as barreiras estruturais à mesma foram também testemunhadas por Daniel, da JA, que se juntou a uma viagem de solidariedade à Cisjordânia no mês passado. A maior parte dos recursos hídricos estão concentrados nas mãos de Israel e isso está a levar a um racismo ambiental estrutural.
Mphanda Nkuwa... a pouco e pouco começamos a perceber os porquês
Mphanda Nkwua volta a ser notícia, desta vez num jornal sul africano Mail And Guardian (http://mg.co.za/article/201310 2500zumabloodthickenshydroscheme), o artigo escrito por Lionel Faull, acusa os presidentes Sul Africano e Moçambicano de abuso de poder para assegurar financiamento para a construção da Barragem de Mphanda Nkwua e ainda de conflito de interesses. Segundo o autor o presidente sul africano incumbiu ao seu filho a responsabilidade de pressionar os decisores sul africanos para assegurar o financiamento para a construção e ainda a compra da energia proveniente de Mphanda Nkwua. O autor menciona no seu artigo que têm sido realizados várias reuniões organizadas pelo filho do presidente Zuma com os vários interessados no projecto, nomeadamente o presidente sul africano Jacob Zuma, o presidente moçambicano Armando Guebuza, o presidente do Conselho de Administração do grupo Insitec Celso Correia e o director executivo da Eskom Brian Dames. A Insitec detem 40% do consorcium Mphanda Nkwua, a Camargo Correia 40% e a Electricidade de Moçambique (EDM) os restantes 20%. O artigo traz ainda outras e graves alegações, entre estas a participação oculta de Armando Guebuza na Insitec. O artigo traz várias alegações graves, se serão ou não factos talvez nunca venhamos a saber, mas devem ser investigadas por quem de direito. Mas o que este artigo fez, foi pôr nos a questionar se estarão aqui as respostas às inúmeras questões e preocupações publicamente colocadas por nós durante pelo menos os últimos 12 anos... Serão estas as razões para o silêncio dos nossos governantes?
Questionamos vezes sem conta, e continuamos sem as respostas, quais são as reais necessidades energéticas de Moçambique? Porquê Mphanda Nkuwa? Para quê e para quem? Qual é o propósito de insistir na construção de Mphanda Nkuwa com tantos e tão graves impactos sociais, ambientais e até económicos.
Por ser o mais relevante para os proponentes do projecto, começamos pelos riscos económicos, um destes é a própria Eskom, que tudo indica que será a única compradora da energia de Mphanda Nkuwa, a construção e a compra ficam assim sujeitas a um monopólio da Eskom... Tendo em conta o historial já tão conhecido da Eskom em Moçambique com relação à energia proveniente de Cahora Bassa, que garantias temos que com Mphanda Nkuwa pagarão um preço justo? Como negociar um preço justo se estaremos completamente dependentes para a construção e depois para a compra da energia?
O artigo refere ainda que a Eskom está a tentar minimizar possíveis riscos financeiros, como forma de minimizar esses riscos a Eskom pretende comprar a energia na sua moeda nacional, rands, e na fronteira deixando todos os custos inerentes ao transporte e produção do nosso lado, assim reduzem o risco de flutuação da moeda e até de interrupção de fornecimento no caso de conflitos no país, como uma possível guerra civil, e o actual cenário em que vivemos não garante de forma nenhuma que isso não volte a acontecer.
Sem querer entrar em detalhes, continuamos a querer saber se foi feita alguma análise séria aos impactos das mudanças climáticas na hidrologia do Rio Zambeze e como essas alterações poderão afectar a produção de energia? Não deveria desde logo ser devidamente analisado? Relativamente às questões sociais e ambientais temos vindo ao longo destes anos a partilhar as nossas preocupações e questões, que se fossemos aqui listar, ficariamos perdidos nas perguntas sem fim, vamos sim relembrar algumas destas que julgamos ser inaceitável que permaneçam sem resposta num projecto desta envergadura, tais como: 1. Qual será o regime de fluxo em que a barragem irá operar (base load ou mid merit)? 2. Para onde serão reassentadas as comunidades locais? 3. Que impactos terá no sistema da Bacia do Zambeze o impedimento da passagem dos sedimentos do Rio Luia? 4. Como é possível utilizar uma análise sismológica fraca, sem dados concretos, e com resultados e conclusões bastante divergentes de outros estudos de especialistas de renome para um projecto desta envergadura?
5. Apesar de ter sido mencionado no Estudo de Impacto Ambiental que foram consideradas as directrizes da Comissão Mundial de Barragens, uma breve análise demonstra que em momento algum estas directrizes foram consideradas neste projecto. É bastante preocupante que continuemos a elaborar projectos desta envergadura com o actual conhecimento técnico e experiência que já existe um pouco por todo o mundo e continuemos a fazer os mesmos erros do passado, particularmente grave no que se refere a direitos e justiça sociais e ambientais; Apesar de tudo isto, o projecto foi aprovado com a preocupante recomendação “O EIA, concluiu que o projecto da HMK é ambientalmente viável, sendo os benefícios que lhe estão associados, maiores que os prejuízos causados, se devidamente minimizados”. Esta recomendação é completamente inaceitável num país em que o governo não consegue controlar a exploração ilegal dos recursos florestais, minerais, o problema da usurpação de terras das comunidades rurais, em que o sistema judicial não funciona de forma imparcial, em que se ouve constantemente dos nossos dirigentes que estes problemas ou não existem com a seriedade e gravidade que alguns mencionam ou então ainda não se resolveram por falta de recursos humanos e financeiros para poder responder adequadamente.
Depois de ler o artigo de Lionel Faull, alguns aspectos poderão fazer agora mais sentido, podemos entender melhor o interesse cego em levar este projecto avante e a intransponível barreira que se coloca entre os proponentes e algumas organizações da sociedade civil que questionam o mesmo... Este projecto não deve avançar, não aceitamos os enormes riscos que o projecto traz, que serão imputados aos moçambicanos e à nossa terra, e em benefício de quê? De quem? Vergonhoso! Onde estão a moral? Integridade? Ética? BASTA
Seminário Responsabilidade Corporativa Decorreu nos passados dias 13 e 14 do mês de Novembro de 2013, em Maputo, um Seminário de advocaciasobre a falta de responsabilidade corporativa, organizado pela KEPA em parceria com a Justiça Ambiental. Este evento, que decorre anualmente e já vai na sua terceira edição (desde 2011), tem como objectivo divulgar e promover a reflexão sobre os principais casos de violação de direitos humanos e abuso corporativo protagonizadas pelas grandes empresas multinacionais, cujos investimentos, projectos e respectivas actividades prejudicam a sociedade, o meio ambiente e acima de tudo as comunidades locais. O encontro de dois dias, contou com mais de quatro dezenas de participantes, entre organizações da Sociedade civil, representantes do Governo, Jornalistas, membros de diferentes comunidades e pessoas individuais.
Como no passado e através dos seus depoimentos, as vozes de membros de algumas comunidades directamente afectadas por estes projectos, foram ouvidas e mais uma vez tivemos conhecimento de crimes sociais, ambientais e de casos de violação de direitos humanos levados a cabo pelas corporações em nome de um desenvolvimento que de certeza não é para os Moçambicanos. Foram ainda apresentados os resultados de um estudo levado a cabo pelo AGIR onde foi objecto de análise o padrão de mudanças e movimentos sociais que têm ocorrido em Moçambique. Uma vez que se tratava de um seminário sobre advocacia, houve também tempo e espaço para debate em grupos, onde foram propostas novas estratégias de advocacia para estes casos. Um dos momentos altos do evento, foi o lançamento do concurso para para eleger a pior empresa a actuar em Moçambique. Esta iniciativa consiste na atribuição de prémios a empresas cujas actividades tem maiores impactos negativos na vida das comunidades de forma particular, no meio mabiente e também na sociedade moçambicana no geral. O mesmo, contará com a participação pública no processo de identificação, nomeação e votação da empresa e, terá início no ano de 2014.
"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro."Indios Cree