Newsletter Fevereiro 2013

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Água Abaixo

De acordo com a Agência Lusa subiu para 81 o número de pessoas que morreram devido às presentes cheias em Moçambique e para 150 mil o de refugiados em centros de acomodação, indicou dia 31 de Janeiro o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC). A província de Gaza, no sul de Moçambique, foi a que registou até então o maior número de mortes, com 41 óbitos. Estima­se que mais de 84 mil pessoas poderão necessitar de ajuda na província da Zambézia, se houverem cheias, ciclones ou vendavais nesta época chuvosa, alerta igualmente o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, INGC. Neste contexto, terça­feira passada, dia 29 de Janeiro, uma equipa da JA deslocou­se ao Chokwe com a finalidade de documentar a situação nesta área da Província de Gaza e apurar em que medida poderia ser útil e ajudar. Seis dias após o Rio Limpopo ter galgado as suas margens e inundado a região, e apesar da maioria da água que invadira a cidade já ter escoado para outras paragens, a situação do Chokwe e da sua população parecia estar longe de resolvida. A gravidade, tanto do ocorrido, como dos tempos conturbados que se adivinham, estava estampada na cara dos poucos que decidiram ficar, quer porque não quiseram abandonar os seus pertences, ou porque, pura e simplesmente, não tiveram meios para fugir à fúria das águas.

©Erika Mendes

Estradas debaixo de água, barcos a fazer travessias onde essas estradas existiam, pessoas a viver no telhado das suas casas, comerciantes a lavar à mangueirada o conteúdo dos seus estabelecimentos e a população na margem do rio a fazer o mesmo com os seus haveres, crianças a brincar nas “piscinas” que o rio deixou, lama em todo o lado...

Foto:D.Ribeiro

Edição # 19: 5 de Fevereiro 2013

Um cheiro pestilento a coisa podre e um ar de abandono e de viveiro de doenças em maturação imperam. No meio deste panorama há ainda um outro flagelo, a miséria. Aqui e ali, de barco, de carro ou a pé, as pessoas vão tentando voltar a suas casas para salvaguardar o pouco que restou do pouco que já tinham. Histórias de ladrões oportunistas que aproveitam a debandada para pilhar a casa dos vizinhos são mais uma preocupação para juntar à já longa lista daqueles que tiveram que abandonar as suas casas. Para os que se refugiaram em Chihaquelane, a cerca de 40km de Chokwe, não se pode dizer que a situação esteja muito melhor. Milhares de pessoas acampadas em condições precárias estão dependentes da ajuda de terceiros e numa posição bastante frágil. Em conversa com alguns dos desalojados que lá se encontravam desde domingo, as reclamações em relação à alimentação e demais condições repetiam­se. Às 16h muitos estavam ainda à espera da primeira refeição, entre os quais inúmeras crianças, tradicionalmente as últimas a comer. Na área visitada pela nossa equipa, o acampamento da Cruz Vermelha, circulavam voluntários e funcionários das várias instituições que se fizeram representar, bem como um número significativo de agentes da PRM. Apesar da boa vontade dos que lá estavam, em pouco tempo foi fácil de constatar o assoberbar de trabalho e a falta de condições para acomodar, alimentar e cuidar de tão elevado número de pessoas. Basicamente, mais uma vez a população desta região, que já se sabe ser propensa a cheias, é vítima de uma total falta de preparação, agregada a uma injustificável incapacidade de fazer frente a um flagelo que fustiga Moçambique persistentemente. É que as cheias em Moçambique são cíclicas, ocorrem mais ou menos de 10 em 10 anos. As últimas grandes cheias tiveram lugar em 2000 e aparentemente não aprendemos nada, a catástrofe repete­se de novo. Cheia após cheia, vamos pedindo ajuda humanitária para amparar e resgatar os afectados. Ciclicamente ficamos sem casa e perdemos os nossos familiares e os nossos haveres. Saímos do estado de alerta para o de calamidade, e do de Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos, Jeremias Vunjanhe, Ruben Mama, Sílvia Dolores e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha / Editor : Ruben Mana


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